Revista empoderar n01

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emPODERar

Discutindo as relações étnico-raciais

QUEBRANDO TABUS:

“SOU MULHER, NEGRA E ACADÊMICA” UMA ENTREVISTA COM: KATUCHA BENTO E CLÁUDIA REGINA

LARISSA CRISTINA

UM ENSAIO FOTOGRÁFICO DA ALUNA DO 2ºD COM MUITA ATITUDE.

SOCIEDADE GLOBAL E PRECONCEITO: OS DESAFIOS PARA O SÉCULO XXI

FILME: “NA QUEBRADA”

CO-DIRETOR DO FILME, PAULO EDUARDO VISITA O NEWTON COM DIREITO A PALESTRA E FILME

E MAIS:

VEJA NOSSAS DICAS DE LIVROS, FILMES, MÚSICA E O QUE ESTÁ ACONTECENDO DE INTERESSANTE NA ESCOLA.

1 01 EDIÇÃO:


Sumário

emPODERar

Discutindo as relações étnico-raciais.

3. Editorial 4. Entrevista - Quebrando Tabus 10. Ensaio: Larissa Cristina:

Colaboradores: Paulo Eduardo, Gustavo Barros

14. Sociedade Global e Preconceito:

Alunos colaboradores: Larissa 2 D, Gabriel Neves 1 F, Nathaly Ventura 1F, Daniel Elias 1F, Aline 2F e Samuel Salles 3D

17. Newton, “Na Quebrada” - Filme

Fotografia editorial de moda: Dalila Cruz

Influência da moda africana para juventude de São Paulo.

Desafios para o século XXI

19. Aconteceu no Newton 20. Tatuagem na pele negra 21. Dicas: Filmes e Livros 22. O Candomblé: indivíduo à Natureza.

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Conselho editorial: Ivo D. Alves, Vânia Santos e Renato S. Lima

A religião que conecta o

Modelo: Larissa Cristina - 2D (noturno) Figurinista: Gil Santos Produção de moda: Vânia Santos Designer Gráfico: Denis Atico

EDITORIAL

Assumi a responsabilidade de escrever um editorial para a primeira edição da Revista emPODERar produzida pelos professores e alunos da E.E. PROF NEWTON ESPÍRITO SANTO AYRES, durante o ano letivo de 2015. Seguindo orientação da Diretoria de Ensino da Região de Osasco para que se trabalha se a Lei 10.639/03 publicada em março de 2003 na qual o mote e a “Consciência Negra” comemorada no dia 20 de novembro, data da morte de Zumbi dos Palmares. O trabalho pedagógico proposto, cujo resultado é esta revista apresentada na data símbolo de uma reflexão que sempre estará em pauta. Foi construído e conduzido de maneira que todos tivessem uma parcela de ensino e aprendizado em processo contínuo. A revista será eletrônica para que todos tenham acesso livre e democraticamente imperfeito que queremos perfeito. Isabel Isabel De Fátima Do Carmo Gutierres Diretora da E.E. Professor Newton Espirito Santo Ayres

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entrevista Quebrando tabus: “Sou mulher, negra e acadêmica” Matéria de: Ivo D. Alves

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pós se tornar a primeira negra a ganhar o Emmy de melhor atriz em série dramática em 67 anos Viola Davis deu visibilidade a uma questão que cerca o mercado de trabalho (aqui o televisivo americano) a falta de oportunidade para mulheres negras. Em seu emocionante discurso, na premiação ela citou a ativista negra Harriet Tubman (1822 — 1913), conhecida como Black Mose: — “Em meus sonhos e visões, eu via uma linha, e do outro lado da linha estavam campos verdes e floridos e lindas e belas mulheres brancas,

que estendiam os braços para mim ao longo da linha, mas eu não poderia alcançá-las”. Deixem-me dizer uma coisa: a única coisa que separa as mulheres negras qualquer outra pessoa é oportunidade. Nessas entrevistas feita por alunos do período noturno do colégio Newton vamos apresentar mulheres que através de muito trabalho tiveram oportunidade e ter pessoas que acreditaram em seus trabalhos, assim vem se destacando em suas áreas de atuação no meio acadêmico um lugar elitista, machista e eugenista mostrando que competência, não tem gênero, classe social

ou cor. As entrevistadas são Katucha Bento, socióloga formada pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Mestra em pela Universidade de Barcelona (Espanha) e doutoranda em Sociology and Social Polices University of Leeds (Inglaterra) e Claudia Regina Vieira, pedagoga pela Universidade Estadual de São Paulo, Mestra em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutoranda em Educação Especial pela Universidade de São Paulo, professora na Universidade Federal de São Carlos.

“A meritocracia é uma falácia, não existe para todos e é muito facilitada de acordo com a classe social, raça, gênero e nacionalidade de uma pessoa.” Katucha Bento

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Gabriel 1 F – Quais foram suas dificuldades enfrentadas em seu caminho para conseguir chegar na posição que você está hoje? Katucha Bento - Gosto de ver as dificuldades como algo positivo em nossas vidas. As dificuldades nos fortalece e ajuda a crescer. Muitas vezes as dificuldades também envolve os nossos próprios medos. Citarei 3 dificuldades: Ser uma mulher negra proveniente da América Latina é um simbolo hiperssexualizado às vistas do povo europeu. A minha experiência na Espanha, onde estudei o mestrado, me fez viver momentos em que fui aliciada para prostituição, sofrer assédio físico e verbal na rua e ser insultada por colegas em um grupo de pesquisa que sugeriam que eu seria uma profissional do sexo (ou puta, como preferirem). O ponto mais importante sobre isso não está em ser considerada puta, mas sim da imagem negativa que a sociedade faz deste tipo de profissionais, sobretudo a partir da raça e nacionalidade. Esta dificuldade leva ao segundo item: Dificuldade em encontrar trabalho. Em quase três anos vivendo na Espanha, onde a maior parte do tempo vivi em Barcelona, não encontrei trabalho fixo em nenhum momento. Isso dificultou no andamento dos meus estudos, já que tinha que pagar a matrícula do mestrado na Universidade de Barcelona além dos custos de vida (alimentação e transporte, por ex-

emplo). Aos poucos encontrei trabalhos pontuais através de amigos e professores. Gosto de acreditar que fiz mais do que 12 trabalhos de Hércules, uma das histórias que me inspira para falarmos de como alcançar os objetivos com a força interior. Tive mais de 20 trabalhos diferentes na minha estadia na Espanha, sendo que dois deles acrescentaram muitas coisas positivas em meu currículo acadêmico: participei como pesquisadora em um estudo internacional sobre migração na Europa e outro sobre mulheres transsexuais na Espanha. Xenofobia. A atitude negativa e violenta para com pessoas fora da Espanha, sobretudo fora da Europa Ocidental foi um desafio que encarei no meu dia a dia. Não apenas diretamente à mim, como contei no tópico 1, mas ver e conviver com a xenofobia direcionada aos nossos amigos é também um sofrimento uma vez que, como também imigrante, pouco eu podia ajudar naquelas situações. Uma das situações que mais me marcou foi ver um amigo negro senegalês, o Rahou, sendo violentamente abordado pela polícia sem que nada tivesse feito - ele trabalhava comigo repartindo flyers de baladas em uma zona turística da cidade. Foi uma cena horrível e eu não podia intervir naquele momento. Nessa noite esse amigo foi revistado mais de 5 vezes pela polícia, com o mesmo tom ameaçador e violento. Horas mais tarde o mesmo policial da primeira abordagem volta

e diz “sinto muito pela forma de abordagem, mas você sabe que temos que fazer isso porque a gente da tua cor é mais violenta, né?”. Lembrar disso me corta o coração até hoje. Todas essas dificuldades foram um impacto negativo na minha produtividade acadêmica, já que sempre precisei dividir minha atenção dos estudos e nunca pude estar imersa completamente na minha carreira acadêmica. Por outro lado, as dificuldades me ensinaram a conhecer mais o mundo e a perseverar para alcançar meus objetivos. Valorizo cada vez mais o fato de ser uma das poucas mulheres negras que hoje recebe bolsa integral do governo brasileiro para estudar o doutorado na Inglaterra e tenho a convicção que sempre lutarei contra o racismo que até hoje fecha tantas portas de oportunidades para a população negra no mundo todo. Nathaly 1F – Mesmo que o mundo tenha mudado, vocês acham que o papel da mulher negra na sociedade ainda é destinado à escravidão, pobreza entre outros preconceitos? Katucha - Acho que o papel da mulher negra está ainda muito relacionado aos esteriótipos da escravidão, dentro das expectativas sociais da empregada doméstica (sobretudo aquelas que vivem dentro da casa dos patrões, dando um novo contexto de escravização, por ter um servente individual ao seu dispor), cozinheira (e não

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chefs!), cuidadoras (e não enfermeiras ou médicas). Entretanto, o feminismo negro vem há anos denunciando essas visões como algo reducionista que essencializa a mulher negra como algo menor do que ela realmente é. Acredito que essas reivindicações irão contribuir muito para trazer um novo olhar à representação da mulher negra na sociedade. Daniel 1F - O que vocês acham das emissoras e programas de televisão e a relação com a comunidade negra? Katucha - Os programas de televisão brasileiros não se comprometem a ser educativos ou passar uma mensagem positiva sobre a participação cidadã da comunidade negra no Brasil. Infelizmente reproduzem a imagem que mencionava anteriormente: “essencializada e reduzida” que localiza o negro sempre na favela, fazendo ações ilícitas e violentas. Quando finalmente estão presentes na trama de uma novela, seus papéis são pequenos, pontuais e relacionados à algum estereótipo negativo endereçado à população negra. Isso fragiliza a os processos de socialização, auto-estima e opiniões em relação aos negros, sobretudo porque sabemos da influência que a televisão exerce sobre nossas formas de agir e pensar. Por enquanto temos muito caminho pela frente para que tenhamos um canal aberto que mostre formas diferentes e positivas em que o negro pode atuar.

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Gisele 1 Eja – Nesse período em que vocês estudaram, se formaram e hoje exercendo suas profissões, qual foi a maior atitude preconceituosa qe tiveram contra vocês? Como vocês reagiram? Katucha - A maior atitude preconceituosa contra mim foi enquanto vivia na Espanha e trabalhava distribuindo flyers com o Rahou e em uma das minhas voltas pelo quarteirão da praça principal de onde trabalhávamos, um jovem de cerca de 25 anos me aborda com um copo de cerveja na mão e pergunta de onde eu sou. Eu falo que sou brasileira, e como já estava acostumada com o ambiente de festas da região não temi em nenhum momento. De repente ele agarra o meu bumbum e diz “hummm negrita!”. Pela invasão do meu corpo, por ver meu corpo como um objeto e por fazer tudo isso com base na cor da minha pele, tenho essa experiência como algo muito grave, não apenas para a minha vida, mas a de todas as mulheres negras, cujas potencialidades são negligenciadas em nome do tamanho de seus bumbuns, seios, quadril etc. A minha reação foi de gritar porque eu sabia que havia muitos vendedores ambulantes por perto que logo apareceram e amedrontaram esse tarado, que saiu rapidamente. Esse evento não me impediu e não me impede em sair sozinha à noite porque estou consciente que a população precisa ser educada com a informação de que mulher

sozinha, com a roupa que for, não significa convites para que os homens venham desfrutar e saciar seus desejos. Aline 2F – O que vocês pensam sobre os dias 13 de maio e 20 de novembro? Katucha - O dia 13 de maio de 1888 foi um dia muito importante que comemoramos a “Lei Áurea” ou seja, a abolição da escravatura. Uma data que tem muito a ver com as relações de mercado entre Portugal e Inglaterra, posicionamento político internacional, entre outros fatores que mudaram a forma de produzir e de se socializar no Brasil. Sabemos que é uma data que simbolicamente representa a nossa luta constante contra a escravidão dos povos não brancos no Brasil, sobretudo do povo negro. Digo isso porque o dia 13 de maio ajuda a lembrar que a escravidão não pode ser repetida, mas infelizmente encontra-se grupos de pessoas que tem sido escravizadas de forma sistemática em todo o Brasil. Atualmente isso tem se tornado um problema que vem de mãos dadas com o racismo, que é a xenofobia contra os povos vizinhos da América Latina. Um exemplo disso é o grupo de bolivianos sendo escravizados na região do Brás, em São Paulo. Seus traços indígenas e suas condições de imigrantes, muitas vezes irregulares, “justifica” o racismo e a xenofobia que é tão perversa e corrói a sustentabilidade de qualquer sociedade. Portanto, essa data é

de extrema importância para a memória do povo brasileiro: para não repetir, para superar e para nunca esquecer o que a escravatura foi e como prejudica a nossa nação. No caso do dia 20 de novembro, trata-se também de uma data relacionada à memória da população negra. No ano de 1695 Zumbi dos Palmares foi violentamente assassinado, degolado e sua cabeça foi exposta na praça pública de Olinda para servir de exemplo aos escravos “fujões”. Zumbi foi um grande líder político, escravizado, que fugiu dos seus senhores para formar uma grande comunidade quilombola sustentável, de pessoas escravizadas livres do Brasil. Além de produzir o que consumiam, também tinham uma forte técnica de segurança e organização baseadas na cultura africana (sobretudo Bantu - uma das etnias africanas que foram sequestradas e escravizadas durante o período colonial). Celebrar essa data é celebrar a importância de resistir e persistir na luta contra o racismo e a todas as formas de exclusão social determinada pela raça. 20 de novembro é dia do Zumbi que vive dentro de cada um de nós: negros, brancos, amarelos, vermelhos que acreditam na justiça social a partir do fim do racismo. Samuel 3D – Vocês com todo o seu esforço para entrar na universidade e se solidificar no mercado de trabalho sentem - se

confortável com o sistema de cotas? Katucha - Sim. O fato de eu ser uma mulher negra, estudante de doutorado com bolsa de estudos que lutei para chegar até aqui não significa que basta lutar para conseguir. A meritocracia é uma falácia, não existe para todos e é muito facilitada de acordo com a classe social, raça, gênero e nacionalidade de uma pessoa. Dito isso, explico um pouco o que é o sistema de cotas para que eu possa explicar o motivo pelo qual sou a favor. O sistema de cotas é um dos projetos de lei que compõe as AÇÕES AFIRMATIVAS, ou seja, é apenas uma lei das várias que procuram ser medidas compensatórias pelo racismo que a população negra sofreu e sofre até hoje. As propostas de Ação Afirmativas são: estabelecer cursos de história sobre a cultura e história afro-brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio de todo o país, que resultou na lei 10.639/03; reconhecimento de terras quilombolas; livre atividade de religiões afro-brasileiras como a Umbanda e o Candomblé; políticas de saúde pública para a população negra, por exemplo a facilitação do processo de diagnóstico da anemia falciforme que em sua maioria aparece na população negra; cotas laborais para negros, ou seja, ajudar na inserção de negros no mercado de trabalho; cotas raciais nas universidades. Estes

tópicos estão presentes no projeto de lei apresentado na Câmara dos Deputados para estabelecer leis de Ações Afirmativas no Brasil. Há muitas críticas positivas e negativas sobre a redação do documento, mas é preciso ver como parte de uma vitória da longa luta do movimento negro no Brasil. Não interpreto como projetos que irão acabar com o racismo. Isso depende das pessoas fazerem sua parte, mas minimiza as diferenças sociais em que o negro é inferiorizado e cria oportunidades para que alcance uma maior mobilidade social. As cotas raciais nada mais são do que parte de um projeto de compensação para a população negra que luta para o reconhecimento da exclusão social promovida com base em raça no Brasil. Apoio todas as políticas sociais que reconheçam o racismo como uma grave “doença” no nosso país. Uma forma de tratar é a lei de cotas raciais na universidade. Precisamos reconhecer o problema, precisamos procurar saídas para que todos tenham oportunidades de viver em parâmetros de igualdade, justiça e qualidade de vida. A entrada na universidade por todas as pessoas é uma forma de promover isso afinal de contas, todos tem o direito de ser diferente sem precisar pagar o preço da discriminação e exclusão social todos os dias.

¹ Mestre em Educação e Saúde, Sociólogo e cursando licenciatura em geografia Professor de sociologia. Alunos colaboradores Gabriel Neves 1 F, Nathaly Ventura 1F, Daniel Elias 1F, Aline 2F e Samuel Salles 3D

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“Vivemos num país preconceituoso e a maioria da população negra é a pobre então as pessoas já pressupõem nossos lugares sociais” Claudia Regina Vieira

Gabriel 1 F – Quais foram suas dificuldades enfrentadas em seu caminho para conseguir chegar na posição que você está hoje? Claudia Regina - Acredito que as dificuldades são as enfrentadas pela maioria das pessoas, a econômica principalmente porque como nunca tive muito dinheiro sempre precisei trabalhar para conseguir o que desejava, algumas

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vezes foi difícil pagar cursos de especialização, bancar viagens para aperfeiçoamento, mas comecei a trabalhar com 15 anos e estudava a noite, enfim foi preciso muita perseverança para continuar. Muitas vezes a vontade foi de desistir mas sempre pude contar com a presença da minha família, principalmente na figura da minha mãe que sempre acreditou em mim. Nathaly 1F – Mesmo que

o mundo tenha mudado, vocês acham que o papel da mulher negra na sociedade ainda é destinado à escravidão, pobreza entre outros preconceitos? Claudia Regina - A mulher negra ainda é vista como “menos”. Nossa imagem está ligada diretamente a limpeza de casa, cuidado dos filhos e submissão, quando não é o corpo perfeito da mulata que samba. No meio acadêmico onde estou vejo pequenas conquistas, mas ainda é pequena, a gente precisa provar a todo momento que somos tão capazes como qualquer outra pessoa, o olhar para a gente é sempre de desconfiança ou as vezes como de necessidade de uma prova para saber se realmente somos capazes. Vivemos num país preconceituoso e a maioria da população negra é a pobre

então as pessoas já pressupõe nossos lugares sociais. Outro dia no elevador do prédio onde moro, um morador que estava no elevador onde entrei me deu um cartão para entregar para minha patroa, quando eu disse a ele que eu morava no prédio e não trabalhava nele ele ficou muito sem graça e me deu o cartão mesmo assim, me dizendo que se precisasse era só ligar para ele (corretor de imóveis), mas ficou muito desconfortável. Daniel 1F - O que vocês acham das emissoras e programas de televisão e a relação com a comunidade negra? Claudia Regina: Acho que na maioria dos programas a imagem do negro é estereotipada, estamos nos mesmos lugares (empregadas, serviçais, gostosas) os homens são (os bem dotados, garanhões, ladrões, malandros, rappers ou sambistas) quando aparecemos como empresários, ricos, ou recebemos herança de algum patrão bonzinho ou a ideia é passar a “superação”, como se estivesse unicamente nas nossas mãos uma mudança sem depender da mudança do nosso entorno e das ideias criadas ao nosso respeito. Os lugares ainda estão muito pré-definidos e a representatividade é muito pequena. Em alguns anúncios aparecemos como cota, mas não somos os bebês limpinhos, mas os com assadura, não somos os sadios, mas os pobres e doentes dos programas governamen-

tais. Gisele 1 Eja – Nesse período em que vocês estudaram, se formaram e hoje exercendo suas profissões, qual foi a maior atitude preconceituosa qe tiveram contra vocês? Como vocês reagiram? Claudia Regina: No meu ambiente de trabalho acredito que a maior atitude preconceituosa foi desacreditarem da minha capacidade, mas sempre tenho uma atitude muito positiva e realizo o meu trabalho com garra. Gosto demais do que faço e ensinar é muito bom, eu aprendo todos os dias sobre várias coisas. Não consigo me lembrar de algo muito pontual, mas em congressos, seminários importantes, às vezes vejo a cara de espanto de algumas pessoas. Aline 2F – O que vocês pensam sobre os dias 13 de maio e 20 de novembro? Claudia Regina: Apenas datas, parece que ser negro é permitido nestes dois dias. As pessoas “discutem” preconceito, oportunidades, pensam sobre a história nestes dois dias e apagam o que acontece nos outros 363 dias do ano, quando oprimimos alguns alunos pela cor da pele, pelo cabelo, nestes dois dias as pessoas acham lindo os cabelos, elogiam a comunidade e depois voltam a vida hipócrita de sempre, fazendo as mesmas coisas. Samuel 3D – Vocês com todo o seu esforço para entrar na universidade e

se solidificar no mercado de trabalho sentem - se confortável com o sistema de cotas? Claudia Regina: Eu acredito que as cotas são necessárias e penso como um sistema provisório, porque a população negra tem sim mais dificuldades para continuar os estudos e empreender esforços para isso, não se trata de esforço pessoal, mas condições. Socialmente falando as cotas são necessárias para que as pessoas possam acessar o ensino superior e conseguir organizar uma maneira para mudar a condição, penso que em alguns muitos anos isso pode mudar, quando os negros tiverem de fato uma condição de igualdade, já vivi muitas discussões em torno deste tema e algumas pessoas dizem que as cotas deveriam ser para os pobres, eu acredito que deve ser para os negros mesmo porque é uma reparação histórica, as perguntas que vocês me fizeram até agora prova o quanto nossa sociedade ainda discrimina a população negra e isso é uma herança histórica que precisa ser revista, as cotas são uma das soluções encontradas para que isso seja realmente reparado.

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Ensaio: Influテェncia da moda africana para juventude de Sテ」o Paulo.

LARISSA CRISTINA UM ENSAIO FOTOGRテ:ICO DA ALUNA COM MUITA ATITUDE.

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Ensaio: InfluĂŞncia da moda africana para juventude de SĂŁo Paulo.

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Sociedade Global e Preconceito: Desafios para o Século XXI Por: Renato Silva Lima

V Vivemos em uma sociedade com ampla difusão de informações, inúmeros canais virtuais de relacionamento, uma variação cada vez maior de ferramentas digitais que nos levam por uma miríade de visões diferentes de um mesmo tema. Nunca na história de humanidade nos aproximamos tanto da dimensão global de fatos, acontecimentos, opiniões, visões de mundo e profusão de ideias. Um mundo que já foi encoberto de fantasias e impressões fantásticas sobre povos e territórios distantes pela geografia e cultura, hoje é descrito com novos termos, como: aldeia global, socie-

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dade digital, mundo global, entre outros. O século XXI não apenas carrega a herança da diversidade histórica e cultural de povos, culturas,

entre um universo vasto de informações e a formação do conhecimento. Existe um abismo que tem dimensões históricas e sociais que demandam para o século XXI um papel cada vez mais importante para educação como mediação e superação de problemas que estão postos. A informação massificada, monopolizada e que superficializa os fenômenos sociais em apenas fatos midiáticos, leituras rasas da nações e nacionalidades, realidade, descrições molcomo integra, através de uma dadas em valores imutáveis, rede online de interações em verdades absolutas, em durante 24 horas por dia. impressões carregadas de Porém este “Novo Mundo” estereótipos acabam fazendo não se concretiza na didos meios de interação um mensão social da forma que transmissor de discursos e se põe, vivemos com grandes visões de mundo carregados desafios, como transitar de preconceitos, intolerância,

xenofobia e diversas formas de discriminação. Isto se dá porque ao mesmo tempo em que vivemos numa “aldeia global” de informações e interações não superamos graves problemas históricos que se normatizaram ao longo do tempo como naturais. Uma sociedade que deveria aliar a diversidade nos canais de informação com a diversidade étnica, cultural ou religiosa, acaba segregando, através de padrões detentores de uma única verdade, que se mantêm apenas pelo discurso que padroniza e separa. Vejamos as raízes históricas dos problemas que precisamos enfrentar no Brasil: O Brasil chegou ao século XXI como uma nação construída por uma diversidade racial formada principalmente por três matrizes étnicas: Índios, Negros e Europeus. Esta integração sempre foi conflituosa, durante grande parte de sua história índios e negros foram dominados, explorados, subjugados pelo colonizador dominante. Mais de 80% dos grupos indígenas nativos foram exterminados, negros advindos de diversas partes do continente africano foram escravizados e tiveram sua cultura e forma de vida afetadas pela imposição do colonizador. Durante todo o período colonial a formação jesuítica impôs sua crença. Os negros foram inferiorizados e os índios romantizados pela literatura do século XIX. Durante todo estes períodos existiram formas de re-

sistência destes grupos que deixavam clara a tensão de uma sociedade permeada de contradições. Chegamos ao período republicano com valores de Nação exportados da Europa e arraigados de ideologias de raça e interiorização do negro na sociedade. O preconceito tinha embasamento cientifico e também uma posição histórica que herdada da escravidão. Teoria de embranquecimento, darwinismo social, Eugênia e o mito da democracia racial. A posição em serviços subalternos levava a inferiorização econômica e social afastando este grupo das oportunidades advindas com a formação da República. A perseguição da cultura afro-brasileira era caso de polícia: o samba, a capoeira e as religiões de matrizes africanas como a Umbanda e o Candomblé eram perseguidos e criminalizados. Durante todo este período os movimentos negros se organizaram para lutar contra o preconceito e a posição social que lhe eram impostas, mesmo após a Proclamação da República em 1889, estes movimentos organizados criaram uma imprensa representativa e combativa com jornais como: O Mulato, O Menelick, A Rua, A Liberdade. Em 1930 foi criada a FNB ( Frente Negra Brasileira) com mais de 20 mil membros, em 1940 foi criado o Teatro Experimental Negro; terreiro de Umbanda tinha seu papel crucial na manutenção, rep-

resentação e difusão cultural, religiosa e simbólica da cultura afro-brasileira e artistas com seus talentos ampliavam sua posição no protagonismo da cultura nacional ( Cartola, Ismael Silva, Pixinguinha, entre outros.). Chegamos ao século XXI diante de uma sociedade com diversos instrumentos de interação. Em uma sociedade construída a partir de sua diversidade, porém uma situação que abarca a maioria de sua população e não podem ser ignorada ou harmonizada por discursos de condições de igualdade, meritocracia, ou mito do racismo. Existe uma história que precisa a condição da população negro na sociedade atual e a contínua posição de luta por igualdade de condições. O ensino da cultura afro-brasileira e africana na maioria das vezes é lembrada nas aulas de História com o tema da escravidão negra africana, a escravidão esta vinculada a uma condição de trabalho. Nos equivocamos, pois ninguém é escravo, as pessoas foram e são escravizadas, este termo acaba naturalizando uma condição. É condição fundamental de formação do conhecimento do cidadão que as informações se tornem conhecimento, que se tornem conceitos contextualizados para que se criem instrumentos de leitura da realidade, que mesmo diante de conquistas é a maioria negra e jovem que mais são vítimas

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de morte por arma de fogo no Brasil, que ainda existe um abismo salarial e de oportunidade de empregos entre negros e brancos, que os bancos das faculdades do Brasil é representado por uma minoria negra e que busca cada vez mais mudar este quadro nos últimos tempos, que entendam a importância da Lei de Cotas Raciais como direito de equiparação histórica para condições igualitárias, que as religiões de matrizes africanas cotidianamente são vestidas por estereótipos preconceituosos e persegui-

das, que existe Racismo e ele é muitas vezes violento e segregador, e que o conhecimento é o maior combate ao que nos impede de vivermos em um mundo estreitado pela intolerância. A lei 10.639/09 ( advinda das lutas e pressão politica dos movimentos negros no Brasil) propõe novas diretrizes curriculares para o estudo da história e cultura afrobrasileira; valorizando o pensamento de importantes intelectuais negros brasileiros, a cultura e as religiões de matrizes africanas. É fundamental que a educação se ponha como

protagonista formativa do conhecimento que valoriza a diversidade, porém que diferencie a condição de cada um com sua especificidade histórica, cultural, social e individual, só assim estaremos preparados para esta “Aldeia Global”.

Newton,

“Na Quebrada”.

Aluna Jaqueline

No dia 08 de outubro de 2015, nós alunos da escola E.E Newton Espirito Santo Ayres fomos surpreendidos

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com uma visita ilustre em nossa escola, Paulo Eduardo codiretor do filme “Na Quebrada”. Ele foi passar o filme

para nós assistirmos e também ministrar uma palestra para nós. O filme é baseado em fatos reais e mostra a trajetória de um grupo de jovens que moram na periferia, como Junior que é talentoso em consertar televisões, Zeca que presenciou uma chacina, Gerson cujo pai esta preso desde de que nasceu, Mônica que tinha seus pais e irmão cegos e Joana que sonha com a mãe desconhecida. Todos esses jovens partilham de sonhos mas não sonhos iguais como Zeca que queria ser um cineasta, Gerson queria ter uma confecção de roupas etc. O filme foca nos sonhos desses jovens e como o local, seu passado e a vida de seus pais podem influenciar seu futuro. Na palestra que Paulo ministrou ele contou sobre como foi feito o filme, como foi a escolha dos atores etc., mas o que todos não sabíamos era que a historia dele foi representada no filme e é muito interessante. O mais legal de toda a palestra é que quando ele estava contando sua história muitas pessoas se identificaram com ela, como por exemplo ele

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tirar notas baixas e morar na periferia. Particularmente a ida dele até nossa escola foi muito importante, pois partilho do mesmo sonho que ele, que é ser uma cineasta, e

ver quantas dificuldades ele enfrentou mas não desistiu, hoje seu sonho foi realizado me inspirou muito. Agradeço a Professora Vânia Santos que o levou até nossa escola para ministrar

essa palestra e agradeço ao Paulo Eduardo por me mostrar que devemos acreditar e nunca desistir de nossos sonhos.

Aconteceu

no Newton

Atividade desenvolvida na aula de Arte da Professora Vânia Santos,2D/E/G. com a proposta de pesquisar as diversas manifestações da Cultura afro brasileira e africana. A apresentação contou ainda com a participação do educador convidado Nitiren Queiroz Castro.

Palestra com o Co-diretor do filme “Na Quebrada” Paulo Eduardo com a turma do ensino médio matutino no dia 8 de Outubro de 2015.

Foto: com o co-diretor Paulo Eduardo do filme e alunos do Newton.

Nas aulas de Geografia Prof. Maria Euda Barros, trabalho :Revelar toda luta do povo negro para garantir seu espaço na sociedade ,revista Criada por alunos do 1°, 2° e 3°Ano Foto com o co-diretor Paulo Eduardo, professora Vânia, de Artes e alunos do colégio Newton.

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TATUAGEM NA PELE NEGRA.

DICAS

Foto: MC Soffia, rapper Paulista, 11 anos. A jovem rapper vem chamando a atenção para as músicas com temas atuais da juventude negra, a música: “ Menina Pretinha” é um ótimo exemplo.

A tatuagem em pele negra é um pouco mais difícil de pigmentar, mas não é impossível. A pele negra contém mais melanina e a pele age como se fosse um “filtro” escondendo alguns pigmentos mais claros que a pele. Não é toda a cor que fica boa na pele negra. Dependendo do seu tom de pele, algumas cores podem ficar boas, outras não. Recomenda-se cores mais fortes como: Vermelho, azuis, violeta e o preto. Cores mais claras podem até ficar boas dependendo da tonalidade de sua pele. Você deve pesquisar se na sua família já houve algum caso de quelóides, pois a pele negra pode ser bem propensa a ter essa pequena complicação. Uma visita ao dermatologista sempre é legal nestes casos de dúvidas. Essas dicas são do Tatuador Denis Ático, que trabalha no estúdio Art Empire Tattoo em Osasco. Para maiores informações, entre em contato com o estúdio:

ART EMPIRE Avenida dos Autonomistas, n 500, fone 11-3447-3070 (Dentro do Top Shop - Terminal de ônibus da Vila Yara/Osasco-SP - setor das lojas) FACEBOOK: www.facebook.com/artempiretattoostudio

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Livro Cd. Tributo a Nina Simone, vários interpretes cantando músicas que ficaram famosas na voz dessa grande cantora, atenção para a música Feeling Good cantada pela Ms. Lauryn Hill.

Filme

Filme “Na Quebrada” baseado em fatos reais, o filme segue a trajetória de um grupo de jovens de classe baixa, como Júnior, talentoso no conserto de televisões, Zeca, que testemunhou uma chacina, Joana, garota que sonha com a mãe desconhecida e Gerson, cujo pai está na prisão desde que nasceu. Entre histórias de perdas e violência, eles descobrem uma nova maneira de expressar as suas ideias e as suas emoções

Um livro da autora Chimamanda Ngozi Adichie que parte de uma história de amor para debater questões prementes e universais como imigração, preconceito racial e desigualdade de gênero.

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O CANDOMBLÉ:

A religião que conecta o indivíduo à Natureza.

POR: GUSTAVO BARROS

“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.” (N. Mandela) O candomblé é uma religião Natureza. Com objetivo de libertar seus irmãos de cor, de resistência, em sua inum negro juntava dinheiro e tegralidade, isso porque já nasceu no afã de acolher o povo negro, em forma de sociedade, para tirálo da vilania imposta pela sociedade cristã e branca que governava o Brasil. Vindos de sua terra natal, a África, os escravizados encontraram um locus diferenciado, com cultura diferenciada e, consigo mesmo, traziam apenas, porém muito significante, a sabedoria. Em meio ao sofrimento, torturas físicas e emocionais e, à sucessivas tentativas de deletar o Pintura da aluna Rosilene do 1B seu cerne, o Negro construiu uma cultura, que em terreno diferenciado ganha novas formas e bancava a compra de outro, assim, se redescobre nos no- formavam assim uma socievos domínios. É por volta de dade que, em cadeia, pagava 200 anos após sua chegada pela liberdade sucessiva de, que nasce o Candomblé, uma cada vez mais, irmãos. Dessa religião cujo principal objeti- forma, percebemos que os vo é reconectar os indivíduafricanos e seus descendentes jamais foram subos aos seus ancestrais e à

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metidos intelectualmente e aceitaram sua condição de escravizados, como a história insiste em nos mostrar nas escolas. Assim, com o crescimento sucessivo da união de libertos, Iyá Nassò Oká, princesa de Oyó funda a religião no Brasil, junto com Iyá Adetá e Iya Akalá, nos fundos da Igreja da Barroquinha (hoje extinta). Nasce assim o terreiro de candomblé, cujo nome exemplifica o lugar (um terreno de fundo), pois, a sociedade cristã não poderia perceber as manifestações da religiosidade negra exercidas, ou seriam mortos por crimes de bruxaria, ou presos, pois o exercício da macumba foi apenas legalizado após o Governo de Vargas no Brasil. O fato de nascer nos fundos de uma igreja, revela o fruto do sincretismo religioso tão evidente dentro dos Ilês (terreiros) e também a plural-

idade de crença que o brasileiro tem. Por questões militares, invasão da polícia, problemáticas cristãs e sociais, por causa ódio aos negros e prenoção às suas tradições, o terreiro da Barroquinha fora desconstituído. Iyá Nassò retorna à África, porém deixa sua filha brasileira Marcelina de Jesus, conhecida no meio religioso como Obatossiy, que funda, com apoio legal e proteção de toda uma comunidade Negra, o primeiro terreiro oficial de Candomblé de nome Ilê Axé Iya Nassô Oká, ou simplesmente, Casa Branca do Engenho Velho. Até hoje, no mesmo lugar e uma das mais respeitadas instituições da religiosidade negra no mundo. Obviamente, a luta negra foi árdua, houveram assassinatos, incriminações e toda a demanda de processos possíveis para que não se desenvolvesse a cultura no país, historiadores chegavam a admitir biologicamente que, logo o país se embranqueceria. Que a questão da negritude seria temporária, pensamento este que minou no mundo inteiro, com objetivo de deslustrar a capacidade dos africanos e seus descendentes. Mas, apesar de toda contraposição, o tempo mostrou que a sabedoria do africano e dos afro-brasileiros se construía de modo sem igual, a ponto de enaltecer-se aqui o que há de mais bril-

hante nas tradições, que hoje atraem brancos, amarelos e toda a gama de populações. O candomblé (casa de refugiados) hoje é a casa da ligação do homem consigo mesmo. O fogo, a água, o vento, a terra são energias que vivem dentro de cada indivíduo. A folha, a flor, a árvore, os rios e os mares são magnificas formações da natureza Divina que estabelecem conexão com todos os seres viventes. A natureza, a mata, a pedreira, são exemplos de espaços sagrados dos Orixás. Orixá não é um espíritos, ou demônios, como sonha a vã filosofia por ai a fora. Orixá é o próprio vento, trovão, paz, equilíbrio, amor, busca de prosperidade. Não há demônios, não há adoração ao que não é divino. O candomblé não tem espaço para o que não encanta, sublima e eleva, não é religião de conflitos e maniqueísmos, esses aspectos são cristãos, assim como não há pecado e culpa. O candomblé é o paraíso da paz interior, da conexão do homem consigo mesmo e com o espaço que está em sua volta. Os orixás são os deuses, criados por Deus (ao qual denominamos Oba N’la – Senhor dos Altos). Os orixás são nossos pais, irmãos, amigos e conselheiros. São acima de tudo os braços que nos acolhem.

Festa do Pilão de Oxalá - desenho de Carybé da série Iconografia dos Deuses Africanos.

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