EDITORIAL Com muito prazer e alegria apresentamos o primeiro número da Revista Espirales, cujo dossiê Integração latinoamericana:caminhos, perspectivas e possibilidades está composto por dez artigos que discutem e transitam pelo tema a partir de visões e dimensões múltiplas, artigos estes escritos por autoras e autores provenientes de variadas disciplinas, tais como História, Economia, Relações Internacionais, Literatura e Comunicação. O primeiro deles, intitulado Sistema-mundo moderno, colonialidade e Estados nacionais na América Latina, a partir de uma preocupação contemporânea a respeito do lugar que os sujeitos subalternos têm ocupado à raiz das mudanças políticas que se dão no Cone Sul nos últimos anos, a autora Tania Rodríguez se propõe a tarefa de entender a construção das diferentes alteridades na América Latina e também algumas ferramentas de controle social ao longo da história do continente desde o momento da invasão europeia em 1942. A seguir, pode-se ler o trabalho de Danillo Avellar Bragança, O horizonte das relações México-Estados Unidos sobre o tema do narcotráfico internacional, onde o autor apresenta um breve panorama das relações bilaterais entre os dois países, no que diz respeitos
às questões econômicas e de combate ao narcotráfico, buscando compreender o momento atual mexicano e alguns horizontes possíveis, a partir de análise de cenários futuros em relação à integração mexicana a outras iniciativas multilaterais. Nícollas Cayann, em seu artigo intitulado O mito da “Ilha Brasil”: a estrutura do mito e a ideia de Brasil Latino, busca apresentar a relação entre a construção de mitos na formação histórica de nosso continente, com enfoque especial ao mito da “Ilha Brasil” e o impacto que este promove no árduo processo de construção de um Brasil que se reconhece latino e se identifica com a parte do continente de colonização hispânica. Na sequência, Cauê Almeida Galvão, em Ressignificação histórica e historiográfica na América Latina, analisa e debate os processos de construção e consolidação dos Estados nacionais bem como os das identidades nacionais no que chama de “zona latino-americana” a partir de uma perspectiva crítica e decolonial. Seu trabalho apresenta uma crítica contundente à historiografia latino-americana tradicional e ao sistema educacional por compreendê-los como eurocêntricos e colaboradores na manutenção das estruturas coloniais e colonizadoras. O autor propõe
Integración latinoamericana y caribeña: caminos, perspectivas y posibilidades
a desconstrução historiográfica como uma ferramenta para a construção, elaboração e difusão de conhecimento desde os de baixo e que se encontre atravessado por debates sobre as diversidades culturais e rompa a hegemonia estabelecida historicamente pelos Estados Nacionais. O trabalho de Mishell Pavón, A dolarização equatoriana: hegemonia, autonomia e desenvolvimento, nos apresenta uma discussão teórica sobre as implicações a respeito do fato do padrão internacional dólar ser a moeda nacional no Equador, entre elas, a questão da autonomia político-econômica do país irmão. A autora nos convida a recorrer o processo prévio marcado pela consolidação da hegemonia estadunidense, a passagem do padrão dólar-ouro ao dólar flexível e a crise dos anos 70 nos EUA. Elementos que repercutem diretamente na dívida externa dos países latino-americanos, e especialmente como este fato começa a afetar a economia equatoriana, junto do processo de neoliberalização, para chegar à dolarização como resultado. A estudante de Relações Internacionais, Gabriela Ramos Sarmet dos Santos, lança uma leitura sobre o processo de paz na Colômbia. O trabalho Olhos na Colômbia, coração na América Latina parte de uma análise
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Espirales, v. 1, n. 1., Dez. 2017
Integração latino-americana e caribenha: caminhos, perspectivas e possibilidades relacional, expondo o que o processo significa para o contexto regional. A autora traz uma revisão do conflito entre governo colombiano e as FARC, que a partir de uma breve revisão histórica projeta um acordo que pode influenciar a resolução de crises de representação, estabilidade regional e fortalecimento da democracia na América Latina. Nas páginas seguintes, se pode ler o trabalho de Luciano Wexell Severo, A construção do sul-americanismo, no qual se apresenta um debate contemporâneo acerca da concepção da América do Sul como espaço estratégico para o fortalecimento dos Estados da região. O autor defende o sul-americanismo como ideia integracionista que foi resgatada e favorecida pelas conjunturas governamentais de alguns países durante a primeira década do século XXI, orientadas às noções de desenvolvimento e política externa independente. Por meio de um panorama histórico, elementos importantes são fornecidos para a análise do contexto da integração sul-americana na atualidade, contribuindo para a identificação de seus desafios e suas possibilidades em meio às intensas modificações dos cenários internos. No artigo Paradoxos do governo de Evo Morales na Bolívia: a reserva ambiental Tipnis e os interesses de grupos econômicos nacionais e estrangeiros (2009 – 2015), Klauss Hermann Heringer faz uma análise das contradições do governo de Evo
Morales (2009-2015) no que concerne às políticas econômicas adotadas desde a refundação do Estado boliviano com a nova Carta Política. Neste sentido, são apresentados os dilemas entre o que está presente na Constituição, como o Vivir Bien, e as reais posturas econômicas e de desenvolvimento adotadas pelo governo de Evo Morales no país, contradizendo princípios constitucionais. Para exemplificar essa problemática, o autor utiliza o conflito da reserva ambiental TIPNIS e a construção de uma estrada que afetaria as populações do respectivo território, e expõe alguns interesses de grupos brasileiros na construção da mesma. Por fim, apresentam-se as transformações da sociedade boliviana desde o governo de Evo Morales, igualmente destacando as suas contradições e a luta dos povos indígenas (apoiadores e contestadores) pelo atendimento do governo às suas demandas. Alan Milhomem da Silva e Domingos Alves de Almeida em A diversidade cultural latinoamericana na cobertura da rede de comunicação Telesur partem da ideia de que, ao longo da história, a América Latina passou por diferentes momentos de construção política, econômica, social e cultural. A invasão, os saques das riquezas e a inserção de grandes contingentes de africanos na condição de escravizados e de europeus que parasitavam o patrimônio encontrado no novo continente são fatores que provocaram mudanças profundas nas características da região, reconfigurando a geografia latino-
americana com bases centradas na diversidade. Nesse sentido, este trabalho se propõe a investigar se a TeleSUR divulga e/ou promove, em algum aspecto, e com qual profundidade, a diversidade cultural latino-americana na programação televisiva que realiza, no sentido de romper com o paradigma homogeneizante do Estado Nacional através dos programas informativos-culturais. Por último, pode-se ler o artigo A integração que buscamos: olhar do Brasil sobre a América do Sul de Lucas Eduardo Silveira de Souza. Nele, o autor se centra nas visões do Estado brasileiro acerca da integração regional. Um panorama geral e histórico sobre a perspectiva da diplomacia brasileira sobre a América do Sul é realizado, perpassando desde a política externa de Rio Branco até a promoção da União de Nações Sul-americanas, já no início do século XXI, destacando a estratégia brasileira de cooperação para a autonomia e a agenda Sul-Sul. O artigo conclui que a política externa brasileira instrumentaliza a identidade regional da América do Sul para a projeção de seu poder em âmbito extrarregional. Desta maneira, fechamos o primeiro dossiê da Revista Espirales, esperando que os debates propostos pelos diferentes aportes sejam um ponto de partida para novas discussões e questionamentos.
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