EVF
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ANO 1 | EDIÇÃO 2 | NOV/ DEZ 2014
AS RUAS AOS OLHOS DAS
MULHERES
Há quase 100 anos elas marcam presença na fotografia de rua. Conheça as fotógrafas que mais se destacaram por seus trabalhos
Berenice Abbott: Uma das pioneiras na fotografia de rua
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SALVE!
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ntes de começar a falar sobre esta edição, gostaria de dizer que todos nós da redação ficamos imensamente felizes com o sucesso da EVF#1, e é um prazer ter você novamente ‘folheando’ estas páginas. Mas se é sua primeira vez por aqui, seja mais que bem-vindo! Hoje é muito comum vermos mulheres praticando fotografia de rua. Mas nem sempre foi assim. Há um século, para uma mulher se dedicar à fotografia ela tinha que enfrentar
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Bruno Schuveizer
muitos desafios. E para ter seu trabalho reconhecido, então, uma tarefa dificílima. Ao longo dos anos, cada vez mais fotógrafas surgiram, e, na matéria de capa, você vai conhecer mais sobre cinco das que mais se destacaram na fotografia de rua. E o que falar de um verdadeiro mestre da fotografia? O fundador do Fotocultura, Yuri Bittar, é o perfilado da edição e contou como se aventurou nesse mundo e como conquistou tantos seguidores.
EVF Edição 2 | Novembro/ Dezembro 2014 Redação Diretor de redação e editor Bruno Schuveizer Repórter Rodrigo Cruz Redatora Ana Luiza Aragão Colaborador especial Yuri Bittar Colaborador Foto Fábio Uehara Foto de capa Man Ray, 1925. Collection Hank O’Neal, New York. © Man Ray Trust / ADAGP Paris 2011/ Div. Projeto gráfico Bruno Schuveizer EVF TV Direção e produção Rodrigo Cruz
Equipamento fotógrafico é um capítulo importante para todos que querem evoluir na fotografia, mas é preciso levar em consideração o que se pretende nesse campo. Por isso preparamos uma matéria especial sobre qual câmera usar para cada estágio de interesse. Esta edição também marca a estreia da coluna Fotocultua, escrita pelo Yuri Bittar, e da seção ‘Curso prático na rua”, resultado de uma parceria com a Rua 33 - Espaço de Fotografia. Boa leitura! Bruno Schuveizer Editor
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Conteúdo
Nova Iorque, 1970. Foto de Helen Levitt.
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As melhores fotos enviadas pelos leitores
A redação entrou no clima de Noel Rosa para escolher o melhor equipamento
Confira 5 mulheres que se destacaram na fotografia de rua ao longo dos anos
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As principais notícias, boatos, discussões e tendências
Um dia de aprendizado na Rua 33-Espaço de Fotografia
O fotógrafo fundador do Fotocultura fala sobre street, Miksang e carreira
35mm
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com que câmera eu vou
curso prático na rua
capa: MUlheres
Perfil: Yuri Bittar
Helen Levitt/ Divulgação
SUA FOTO
Roubar tempo para fotografar é o lema do perfilado da edição, Yuri Bittar.
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Desenvolva seu próprio estilo
Confira 6 fatores que você deve levar em consideração
60 Yuri Bittar
cartão de memória
Confira análise de uma das fotos mais famosas de Bruce Gilden
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cultura
Documentário sobre Vivian Maier e 2 dicas de leitura
coluna fotocultura
Sem tempo para fotografar? Veja como resolver esse impasse de forma simples
crônica
Um diálogo inexperado entre dois fotógrafos em São Paulo
mutante
Nesta edição, fuscas e cores em Copacabana nos anos 70.
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SUA FOTO #omundoéláfora
Bianca Fernandes
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iz essa foto na exposição Made By... Feito por Brasileiros. Estava em uma das salas da exposição, onde o tema principal era funk carioca e, enquanto algumas pessoas fotografavam as imagens, me deparei com esse moço. A sala era repleta de projeções de fotos sobre o tema, mas ele foi o único do espaço a entrar na frente da projeção pra fazer uma foto, e foi isso que deixou o efeito tão incrível. É como se ele mesmo estivesse dentro da projeção, mas na verdade não está. Uma das
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coisas mais bacanas dessa imagem é que, olhando de primeira, você jamais advinharia sobre o que a foto do fundo fala. Os “canos” se tornaram linhas que seguem logo ao topo da cabeça e o movimento dos braços, dando um ar mais natural para a foto. Acho que é pela combinação desses fatores que gosto tanto dela. Dados técnicos: Nikon D7100 Objetiva 18-105mm, a 18 mm f/5.6 | 1/8s | ISO 4000
Louis Orosa
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foto foi feita em Santiago de Compostela (Galiza, Espanha) numa típica saída noturna com uns amigos e a minha pequena Ricoh GR. Olhei para trás, e vi o rapaz da foto caminhando e falando muito animado com um amigo. Chamou a minha atenção, liguei o flash e me acerquei rápidamente. O individuo viu o meu movimento, e levantou a mão até o rosto para evitar
ser fotografado. Eu pedi desculpas, mostrei a foto a ele e gostou tanto que me permitiu ficar com ela. Aprendizagem desse dia: melhor pedir perdão que permissão. Dados Técnicos: Ricoh GR Objetiva 18.3mm f/3.5 | 1/40s | 400 Flash disparado
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SUA FOTO
Junior Ribeiro
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ssa foto foi feita na estação da Luz em um domingo. Da passarela, estava observando a plataforma e aguardei vários trens passarem para, finalmente, conseguir o resultado que queria.
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Dados técnicos: Canon 60D Objetiva 18-135mm , a 25mm f/4 | 1/20s | ISO 320
SUA FOTO
Esta foto foi postada no Instagram com a Hashtag #omundoéláfora
Bruno Inácio
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u sempre estou andando pela Avenida Presidente Vargas no Centro do RJ. Após a reforma da biblioteca Parque Estadual, toda fachada recebeu este destaque imponente em branco. A minha in-
tenção nesta foto foi mostrar o contraste entre o branco e as vidraças da biblioteca. Utilizei a localização (Placa) e o hidrante no corte, para uma melhor composição da imagem. Dados técnicos: Smartphone Sony Z1. Envie sua foto! Para ter sua foto aqui, basta postar nas redes sociais utilizando a hashtag #omundoéláfora. Ou mande um e-mail para: redacao@revistaevf.com.br EVF_Novembro
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Destaques/ Tendências/ Discusões Nesta edição 1 Disco 1 Curso 1 Perfil 1 Documentário 5 Mulheres 6 Fatores
Tempo gasto pela redação #NoFacebook #TentandoentenderoEllo #VoltandoparaoFacebook #OuvindoNoelRosa
Frase de destaque “Parem as máquinas!” -- Mesmo na era da internet um jornalista pode ter esse prazer e evitar o pior...
Destaque
Os números do Smartphone Aparelhos já superaram todas as outras câmeras em redes sociais de fotografia, como o Flickr
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ocê já parou para pensar em quantas fotos novas são colocadas nos perfis do facebook por mês? Em média, a rede social recebe 6 bilhões de imagens nesse período. Um número assustador. E já parou para pensar qual a ferramenta que é mais usada pelos seus usuários para fazer o upload dessas imagens? Pois bem, se você pensou no smartphone, está correto. Graças ao avanço da tecnologia nesses pequenos aparelhos, antes fabricados apenas para a comunicação por voz, a produção de fotos tem aumentado significativamente, o que faz do Facebook o maior acervo de
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imagens do mundo, com mais de 140 bilhões de fotos. No Flickr, rede conhecida por todos os fotógrafos, os smartphones já bateram as câmeras grandes. As cinco câmeras mais populares na rede são smartphones. Com o Iphone 5s, líder de postagens, já foram mais de 311 mil imagens, seguido de perto pelo Iphone 5, com mais de 305 mil postagens feitas por ele. Entre as cinco marcas mais utilizadas, três são fabricantes de smartphnes, sendo a Apple a líder. Apenas Canon e Nikon aparecem no páreo, em segundo e terceiro lugar respectivamente.
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Comendo poeira Grandes frabricantes de câmeras ficam para trás e entre as cinco marcas mais usadas, 3 fabricam smartphones
Líderes de cada marca no Flickr Câmera IPhone 5s Canon T3i Nikon D7000 Samsung Galaxy 4 Sony Xperia Z1
N° de postagens 311.407 124.537 78.575 55.084 6.439
N° de usuários 11.361 4.164 2.615 5.076 537
< Esmagadores Hoje, os smartphones reinam soberanos no Flickr, umas das principais redes sociais de fotografia do mundo Hoje, todos somos produtores de imagens e cada vez mais temos meios de fazê-lo. E onde será que vamos chegar com tudo isso? Se você acompanha o trabalho de grandes fotógrafos, pode observar que boa parte deles também se rendeu a essa onda e muitos estão postando fotos, seja do making of ou mesmo das suas produções, feitas a partir de um smartphone.
E isso desperta em nós, apaixonados por fotografia, no mínimo um misto de curiosidade e preocupação, já que a facilidade em se fazer “boas imagens” também traz consigo a banalização do que pode ser considerado uma “boa fotografia”. Rodrigo Cruz
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Reprodução Proibida Há como evitar, com eficiência, a reprodução de fotos hoje?
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plo, contato, até podem ser úteis em determinadas situações. Outras, por escolha do autor, são apenas um charme a mais na foto. Bom, claro, também podem servir caso quem queira reproduzir a foto não saiba ou não queira retirar a marca d’água, esse é um ponto positivo. E quando o fotógrafo sobe a foto em seu site, ou flickr, ou 500px, e habilita a opção para proibir que seja feito o download da imagem? Estratégia furada! Se a intenção do ‘ladrão’ for reproduzir a foto em meios digitais, um simples print de tela já é o suficiente para ter êxito. O que fazer, então? Correr para as colinas? Não. Parar de postar? Claro que não. Se quiserem pegar sua foto, pegarão. No entanto, há como encontrá-la de forma mais fácil por meio dos metadados da foto, onde você pode adicionar direitos autorais e informações de contato, por exemplo. Essa sim continua sendo uma das principais ferramentas do fotógrafo na hora de proteger suas fotos. EVF Concorda? Discorda? Dê sua opnião:
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comum ver fotos na redes sociais com a seguinte frase: “Reprodução Proibida. Todos os Direitos Reservados”. Tá, então o fulano não quer que ninguém saia usando a sua foto a torta e a direita sem, ao menos, receber por isso. Correto. Não quer deixar, não deixe. Mas, aí a foto do fulano é ruim... nunca ninguém ia querer usar. Então, a cena ‘vergonha-alheia’ está armada. E, se a foto for boa, o problema é que quem quiser usar essa foto, usará. Na maioria das vezes, infelizmente, sem permissão. Simples assim. E, dificilmente, o autor descobrirá, só se der sorte e visitar a página ou algum amigo ver, lembrar que a foto é dele, e o avisar. Fica a pergunta: Se esse método não funciona, por que usar? E as famosas marcas d’água, o que dizer delas? Elas funcionam? Sinto em dizer, aos que usam, que não – mesmo aquelas gigantescas dos bancos de imagem podem ser, com um pouco mais de trabalho, retiradas. E seu uso, não raras as vezes, prejudicam a leitura da foto, por menor que sejam. Se bem feitas, com as informações corretas, como, por exem-
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Autorização, Pedir ou não?
Na rua muitos ficam na dúvida, mas o que é melhor? Você decide.
Reprodução
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ocê pede ou não autorização para as pessoas que fotografa na rua? Sim, não, depende? Essa é uma uma questão um tanto polêmica, e tem os que defendem ferrenhamente uma ou outra posição. Proponho nesse texto algo como um tribunal, em que você será o juiz, os que defendem que se peça permissão, a defesa, e os que consideram melhor não pedir, a acusação. Declaro esta sessão aberta. Com a palavra, a acusação. Ao não pedir autorização, o fotógrafo garante total naturalidade à foto, sem interferir na forma como seu assunto se portará ao ser fotografado. Essa atitude também aumenta as chances de ficar com a foto, pois o fotografado, caso não tenha visto ou tenha ficado na dúvida se foi de fato fotografado, dificilmente pedirá para apagar a foto, ou, por incrível que possa parecer, pedir para refazer a foto. Quem é um pouco mais tímido também pode se beneficiar a não ter que pedir autorização, e pode continuar praticando sua paixão por fotografia de rua. Agora, com a palavra, a defesa. Ao pedir autorização, o fotógrafo se certifica que não causará nenhum ressentimento à pessoa fotografada e
que não haverá problema para publicar a foto na internet ou mesmo para usar a foto para fins comerciais, desde que a pessoa tenha assinado a autorização. Pedir autorização também pode oferecer retratos de rua muito interessantes, e alguns, inclusive, que simulam ou exploram espontaneidade na cena. Cada uma tem vantagens e desvantagens, não há certo ou errado. E você decide o que mais combina com o seu estilo. Bruno S. Concorda? Discorda? Dê sua opnião:
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odo mundo que gosta de um bom sambinha já deve ter ouvido a música “Com que roupa?”, de um dos mais importantes artistas da música brasileira, Noel Rosa. Na letra, o “cabra trapaceiro” se coloca em dúvida sobre qual roupa ele deve usar para ir ao samba a qual é convidado. (Agora vou mudar minha conduta/ Eu vou pra luta pois eu quero me aprumar/ Vou tratar você com a força bruta/ Pra poder me reabilitar/ Pois esta vida não está sopa e eu
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pergunto: com que roupa?). Mas não vamos entrar na discussão da letra desta bela música e sim no dilema que atormenta muito fotógrafo iniciante por aí: qual câmera devo comprar? Nessa matéria vamos tentar acabar com essa dúvida e explicar qual a melhor câmera pra você que decidiu se aventurar na fotografia. Ao final, você confere um vídeo com teste em campo de cada uma das categorias apresentadas.
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Por Rodrigo Cruz
Qual é a sua? A primeira dica, antes de mais nada, é tentar descobrir o seu objetivo com a fotografia. Essa é, sem dúvida, a pergunta mais difícil de se responder para quem está iniciando. Procurar referências, ver portfólio de grandes fotógrafos e mais do que tudo, colocar a mão na massa é o melhor caminho para descobrir. Como tudo na vida, a fotografia deve ser feita com gosto, para que sempre possa ser bem feita. Vamos começar por etapas.
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O caminho para os iniciantes Para muitos que estão começando nos dias de hoje, o primeiro contato com a fotografia acontece com uma câmera compacta e até mesmo com celulares. Com valor de mercado geralmente entre R$250,00 e R$2.500,00, eles pipocam no mercado e você terá diversas opções interessantes. Porém, com excessão das compactas avançadas, eles não oferecem o controle da cena que se está fotografando. Você não vai conseguir controlar com precisão a velocidade, abertura e ISO, por exemplo, o que pode te atrapalhar um pouco na hora de conseguir o resultado desejado. Um fator limitante para quem deseja dar um toque criativo a mais em suas imagens. Outro fator que deve ser levado em consideração é o tamanho do sensor, que é bem pequeno na compactas e ainda menor nos celulares. Uma boa saída é usá-los para treinar o seu olhar, procurando aprender mais sobre enquadramento e composições.
Compactas e celulares podem ser boas ferramentas no começo para desenvolver o olhar EVF_Novembro
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Com que câmera eu vou?
Tomando gosto pela coisa Uma categoria que figura entre o mundo das compactas e das profissionais são as câmeras chamadas bridge ou superzoom, justamente por servirem de ‘ponte’ entre uma e outra. Maiores que as compactas e se assemelhando bastante às câmeras profissionais, elas permitem que o fotógrafo tenha alguns recursos interessantes, como o controle sobre velocidade de obturador, abertura, ISO, além de uma lente que vai de grande angular a super-tele, o que, no começo, pode ser interessante. Porém seu sensor é do mesmo tamanho do que o de uma compacta. O valor médio de mercado gira entre R$800,00 e R$1250,00.
Se a sua ideia é se aventurar e levar a fotografia um pouco mais a sério, já sabendo que ela não é um hobby passageiro ou mesmo que deseja viver disso, indicamos as câmeras profissionais. Muito se discute sobre quais são as câmeras profissionais e existe uma grande confusão sobre o assunto. Para facilitar sua vida, uma câmera profissional são as câmeras conhecidas por DSLR (Digital Single Lens Reflex) ou SLR e os seus principais aspectos são: lentes intercambiáveis, sensor grande e controle máximo da cena (você pode ajustar ISO, abertura, velocidade, foco etc).
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Levando a fotografia mais a sério
com que câmera eu vou
As DSLRs (digital single-lens reflex) O mundo da fotografia profissional se refere às DSLR com sensor Full Frame como as profissionais e as DSLR com sensor cropado como as semi profissionais. Porém, uma vez que você tem uma câmera como uma Canon T5i, ou 70D, ou uma Nikon D5100, ou D7100, pode ficar tranquilo que ela pode, sim, ser considerada profissional, visto que você tem qualidade máxima de imagem além do que já comentamos sobre sensor e troca de lentes.
O grande barato dessas câmeras é que elas tem uma vida útil maior que as outras, uma vez que a sua qualidade é superior e elas são pensadas para o público que deseja investir pesado. Você pode trocar de lentes, escolhendo a melhor para cada ocasião, deixando seu equipamento ainda mais turbinado, ampliando muito o alcance da fotografia que você deseja fazer.
Câmeras de entrada x Cameras avancadas
Divulgação / Reprodução
Na categoria das profissionais, podemos dividir o cenário em câmeras de entrada e câmeras avançadas. As câmeras de entrada tem por característica o sensor cropado (APS-C) que resulta em um tamanho menor da cena captada. Já as câmeras avançadas tem o sensor Full Fra-
me, no mesmo tamanho do filme 35mm, o que resulta em um maior enquadramento da imagem gerada. Como pode observar na imagem ao lado, a área total captada por cada tipo de câmera é bem distinta e isso tem relação direta com a qualidade da imagem final. Quanto maior o sensor e a área coberta pela câmera, maior sua qualidade Por isso, se você já é um profissional da área ou já definiu que deseja fazer um grande investimento, pode ter certeza que ter uma câmera full frame é uma excelente opção. Mas lembre-se, elas são caras e pesadas, por isso seu investimento tem que ser muito bem planejado.
< Diferença entre os sensores A zona demarcada representa o tamanho APS-C, enquanto o quadro cheio representa o Full Frame EVF_Novembro
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Com que câmera eu vou?
A sensação do momento: MIrrorless Um dos pontos que deixam muitos fotógrafos desencorajados a sair para fotografar por aí é o valor do investimento que precisam fazer se desejarem realmente levar a fotografia mais a sério. Além disso, as câmeras profissionais são grandes demais e são pesadas. Pensando nisso, um fenômeno surgiu no mercado nos últimos anos e tem, cada vez mais, conquistado o gosto dos apaixonados por fotografia: as câmeras mirrorless. Como o próprio nome sugere, essas cameras não tem espelhos e são bem menores que as DSLRs, além de oferecem qualidade similar a diversos modelos por aí. Com sensores maiores, APS-C ou mesmo Full Frame, algumas dessas câmeras ainda tem como gran-
de atrativo seu visual retrô. Marcas como Fuji e Olympus se reinventaram e entraram com tudo nesse mercado, apostando na tendência de que o charme e a praticidade andam lado a lado com a qualidade, suprindo a necessidade de muitos fotógrafos mundo afora.
Fotografia de rua
Fujifilm x100s
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A linha X, da Fuji, possui diversos modelos para quem gosta das ruas. E a X100s oferece qualidade de imagem e uma lente fixa equivalente a 35mm que faz qualquer um se apaixonar, e todos os recursos de uma câmera grande.
Olympus OM-D
A Olympus também entrou na disputa pelos fotógrafos de rua com a OM-D. O visual retrô, a alta resistência e a troca de lentes são os grandes atrativos desse modelo, além de todos recursos avançados para praticar fotografia com o que há de melhor.
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Confira duas boas opções para fotografia de rua:
com que câmera eu vou
Fotografia documental E duas boas (e caras) opções para fotografia documental:
Canon 5D MarkIII
A Canon 5D, desde quando foi lançada, é umas das queridinhas para quem busca uma Full Frame. Hoje, a 5D MarkIII mantém o reinado. Quem busca qualidade máxima de imagem e funções avançadas, mas não quer investir em uma top de linha, como a 1Dx, estará com um alto poder de fogo nas mãos.
Nikon D810
E os nikonzeiros de plantão também tem uma grande e potente màquina à disposição. Na mesma faixa de preço da Canon 5D MarkIII, a Nikon D810, um upgrade da D800. É uma ótima opção para quem quer resultados surpreendentes.
MAIS EVF TV
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Testamos em campo todas essas categorias. Clique no disco ao lado, veja os prós e contras de cada uma e descubra qual é a melhor opção para você:
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Curso prático na rua Perdendo o medo das ruas na Rua 33 Fotos: Michele Chioccola Neto
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uitos quando começam a se interessar por fotografia de rua sentem medo ou receio ao se aventurar nesse estilo, por conta de inúmeros fatores. Vergonha de fotografar desconhecidos e medo de suas reações muitas vezes fazem com que quem está começando perca ‘aquela’
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Ganhe um curso
Toda edição, a EVF e a Rua 33 convidam um leitor para um curso gratuito de um dia em São Paulo. Envie um e-mail para redacao@revistaevf.com.br
foto perfeita. Esse é o caso de Michele, fotógrafo amador, descendente de italianos, que resolveu acabar com esse medo e se desenvolver de vez como fotógrafo de rua. A Rua 33 - Espaço de Fotografia, escola especializada em fotografia de rua, ofereceu
O aluno Ganhou sua primeira câmera de seu pai em 1969, desde então tem se dedicado com grande paixão à fotografia. SemMichele pre preferiu foChioccola tografia em P&B, Neto é amante de fotografar nas ruas e se interessou pelo curso para vencer sua grande dificuldade de fotografar pessoas.
O professor Simpatizante da fotografia desde muito jovem, foi apenas em 2009 que a fotografia de rua tornou-se sua paixão e desejou tê-la como Glauco parte de sua hisTavares tória. Motivado pela fundação de sua Organização Humanitária, aprofundou seus estudos e criou projetos em parceria com a SHSF e, em 2014, fundou o espaço de fotografia RUA 33 com foco em fotografia de rua.
Poucas horas já foram suficientes para Michele arriscar suas primeiras fotos de pessoas no curso EVF_Novembro
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curso prático na rua
todo o conheciento teórico e prático para ajudar Michele nesse desafio. O curso começa cedo. Às 9hrs, o professor Glauco inicia a aula falando sobre história da fotografia de rua, apresenta referências importantes do passado e da atualidade. Às 11hrs, uma saída prática para o professor sentir quais são as principais dificuldades do aluno. Na sequência, pausa para o almoço. Michele já possuia algumas referências no assunto e pega rápido as dicas. Uma série de questões são abordadas na segunda parte do curso: técnicas, onde fotografar, o que
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fotografar, o que pode ou não na fotografia de rua, como usar suas fotos para se divulgar, pb ou colorido, como perder o medo de fotografar pessoas, entre outros. Na sequência, as fotos são analisadas e os erros e acertos são apontados. Às 16:30, uma nova saída. Agora Michele, já mais preparado, sabendo o que buscar e sem tanto medo, se orgulha ao fotografar pessoas em situações espontâneas do dia-a-dia. De volta à sala, novas experiências são trocadas entre aluno e professor e as fotos são novamante analisadas.
curso prático na rua O aluno comenta o curso
“Logo no primeiro contato com o Glauco comecei a derrubar algumas barreiras. Durante o curso entendi que a diferença está no respeito ao fotografado. Até o curso tinha a impressão de estar invadindo algo da intimidade das pessoas. Eu não fotografava pessoas. O Glauco é apaixonado pelo tema, assim traz para o curso essa paixão, traz ainda com ele grandes nomes da fotografia mundial. Exemplos para conhecer e comentar.”
O curso termina. Michele conta que não vê a hora de sair novamente às ruas e praticar o que mais ama na fotografia. Mas, desta vez, sozinho. Conheça mais sobre a Rua 33:
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Vaidosa
Vivian Maier, considerada umas das maiores fot贸grafas de rua, adorava se incluir na cena em belos e criativos autorretratos
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DAMAS das RUAS
Conheça mais sobre 5 fotógrafas de rua que fizeram história e são referências para todos que praticam street
Texto: Bruno Schuveizer EVF_Novembro
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á 100 anos, era praticamente impensável que as mulheres chegariam onde chegaram: Mulheres, hoje, votam, tem média de escolaridade maior que a dos homens, governam países e estão inseridas amplamente no mercado de trabalho. No entanto, sabemos que há ainda muito o que avançar para alcançar a igualdade de direitos entre homens e mulheres. Salários mais baixos do que os dos homens na mesma posição é um exemplo bem comum disso por aqui.
Mas, sim, há quase 100 anos uma mulher enfrentou todos esses desafios impostos pela sociedade e decidiu se dedicar à fotografia. E à fotografia de rua, sua maior paixão. Berenice Abbott pode ser considerada uma das primeiras fotógrafas de rua da história, se não a primeira. E seu trabalho é referência até hoje, além de ter influenciado grandes nomes da fotografia mundial. Depois dela, surgiram muitas outras. Gostaríamos de falar sobre todas. Mas, como não há espaço para isso, selecionamos 5 das que mais se destacaram por seu trabalho voltado à foto-
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grafia de rua.
Berenice
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m 1921, uma jovem americana, com apenas 23 anos, resolve trocar a vida cultural de Nova York por Paris. Berenice Abbott, nasceu em Springfield, Ohio, em 1898, e, aos 20 anos, se mudou para Nova York para estudar escultura. Durante esse período, conheceu Man Ray, um grande nome da fotografia na época e um dos fundadores do dadaísmo, movimento que surgiu como protesto à falta de sentimentos a todo sofrimento causado na pri-
meira guerra mundial. Por conta de sua relação com o fotógrafo, Berenice começou um trabalho como assistente de Man Ray em seu estúdio em Paris em 1923. Sua função era revelar fotos, e, enquanto manipulava os negativos de seu mentor, Berenice começou a pegar gosto pela fotografia e descobriu seu verdadeiro talento e vocação. Em 1926, a jovem fotógrafa montou seu próprio estúdio e, no mesmo ano, conseguiu sua primeira exposição solo em uma galeria parisiense: Expôs retratos que havia feito de personalidades ligadas às artes e ao mundo intelectual. Nessa época, Berenice começou a demostrar um crescente interesse pelo trabalho de Eugène Atget, fotógrafo parisiense e um dos pioneiros da fotografia de rua. Em 1929, decide voltar para Nova York e dá inicio a um dos seus maiores projetos. Durante a década de 30, baseada no que Atget havia feito em Paris, Berenice documentou a transformação pela qual a cidade estava passando para se tornar uma grande metrópole. Seu interesse nesse projeto era registrar as mudanças na arquitetura da cidade, a modernização dos bairros, a construção de arranha-
Na página dupla anterior: Vivian Maier/ Divulgação
Capa: damas das ruas
Capa: damas das ruas
Berenice Abbott: Autorretrato/ Divulgação. Berenice Abbott/ Divulgação
Acima, à esquerda, Berenice Abbott. Acima e ao lado, fotos de seu livro Changing New York, projeto em que ela documentou a mudança pela qual a cidade estava passando para se tornar uma grande metrópole. -céus. Ao final, ela publicou as fotos em um livro intitulado Changing New York, uma das publicações mais importantes para a fotografia de rua e documental até hoje. Possuidora de uma personalidade forte, ela dava a seus clicks dinamismo e gostava de contrastes e imagens mais dramáticas. Como ela dizia: “A fotografia nunca pode crescer se ela imitar outros meios, ela tem de andar sozinha, tem de ser ela mesma”. Berenice tinha uma ha-
“A fotografia nunca pode crescer se ela imitar outros meios. ela tem de andar sozinha, tem de ser ela mesma”, - Berenice Abbott bilidade única para fotografia, que conseguiu por meio de experiências em diversos campos, desde retratos, fotografia de rua, até fotografia cientifica. Sua maneira de ver era clara e realista, com principal objetivo de documentar. Na década de 40, se tornou editora de fotografia da re-
vista Science Illustrated, onde ficou até meados da década de 60. A partir dessa experência, ela também passou a incluir imagens científicas em seu repertório. Berenice nunca deixou de fotografar nas ruas ou fora delas, até sua morte, em 1991, deixando um grande legado imagético. EVF_Novembro
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Capa: damas das ruas
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Berenice desenvolveu um grande portfólio de fotografia de rua, além de fazer também retratos e até fotografia cientifica.
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ustraliana, Elise Felice Amélie Seybert, a Lisette Model, se mudou para – adivinha? – Paris com 21 anos. Ficou na capital francesa até 1937, quando foi viver em Nova Iorque. Durante esse período na França, começou a ganhar certo destaque ao fotografar turistas na Riviera Francesa, também conhecida como Costa Azul, um dos lugares mais luxuosos do mundo. Ao se mudar para os Estados Unidos, começou a desenvolver alguns trabalhos comercias na fotografia e a participar de algumas exposições. Mas demorou um tempo para que ela se acostumasse ao seu novo país. “Por um ano eu não tirei fotos. Eu estava cega porque tudo era muito diferente”, disse. É muito conhecida por retratos espontâneos na rua, ou, como muitos devem conhecer no termo em inglês, candid portraits. Sempre em preto e branco. Outra característica presente em muitas fotos de Lisette é o enquadramento ligeiramente torto ou deslocado. Buscava uma iluminação
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Ao lado, Lisette Model. Fotógrafa ficou conhecida por retratos espontâneos de pessoas nas ruas
que proporcionasse alto contraste às suas imagens. Um de seus lugares preferidos para fotografar era em Coney Island, península localizada no distrito do Brooklyn, em Nova Iorque. Trabalhou como fotógrafa freelancer para diversas publicações nos EUA, como Harper Bazaar, PM Weekly e Ladies Home Journal.
A partir de 1950, ela se tornou professora de fotografia na New School for Social Research, em Nova Iorque. Entre seus alunos, estão nada mais nada menos que Robert Frank, Diane Arbus (também presente nesse especial) e Larry Fink. Sua primeira exposição solo aconteceu na Photo League, em 1941. Também teve sua
Na página anterior: Berenice Abbott/ Divulgação Lisette Model: Autorretrato/ Divulgação Lisette Model/ Divulgação
Lisette
Lisette Model/ Divulação
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obra exposta no Museu de Arte Moderna, ainda em 1941. O então diretor do MoMA comentou sobre a fotógrafa: “Lisette Model é uma das fotógrafas mais importantes do nosso tempo. Suas impressões registram uma implacável sondagem e busca por realidades nas pessoas, suas fraquezas, insesatez, sofrimentos e grandezas. As ima-
gens resultantes são com frequência equivalentes a uma língua amarga. Ela finaliza rápida, dura e afiada, então chega a um ponto morto, pois seu
trabalho é desprovido de relações externas ou exageros”. Lisette nunca parou e lecionou fotografia até sua morte, em 1983.
“A fotografia é a arte mais fácil, o que, talvez, a torne a mais difícil” - Lisette Model
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Helen
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Apenas alguns anos depois de Helen começar a fotografar, o Museu de Arte Moderna selecionou seu trabalho para integrar a exposição inaugural do espaço, em 1940. Em 1943, ela veria novamente sua obra exposta no MoMA, mas desta vez em uma exposição individual. Esse evento confirmou a sua
ascensão no campo da fotografia, que aconteceu de forma extremamente rápida. Outra grande paixão era o cinema. E seu interesse a levou a fazer dois documentários no final da década de 40: Na Rua e The Quiot One, ambos de 1948. Helen foi indicada ao Oscar de melhor roteiro por esse segundo. Ela
Helen Levitt: Estate of Helen Levitt/ Laurence Miller Gallery/ Divulgação. Helen Levitt/ Divulgação
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nde a vida nas ruas realmente acontece? Para Helen Levitt, a resposta seria: nos bairros pobres. Por quê? Porque, para ela, em lugares assim há pessoas e interação entre elas. A fotógrafa, nascida em Nova York em 1913, fez inúmeras fotos nos bairros pobres da cidade. Começou a fotografar no inicio da década de 40. Um fato curioso é que ela não tinha intenção de contar alguma história com sua foto ou mesmo documentar aquela época, gostava apenas de clicar a vida nesses lugares. Não fotografava cenas incomuns, pelo contrário. Gostava de clicar cenas simples do cotidiano, principalmente crianças brincando. E nisso se baseia boa parte de sua obra, mostrar por meio de suas imagens o quanto a vida é bonita e gostosa, mesmo nos momentos mais simples. Para muitas pessoas, imagens assim não seriam interessantes, mas para Helen, com seu senso de verdade, era. E muito.
Capa: damas das ruas
Helen Levitt/ Divulgação
Na página ao lado, à esquerda, Helen Levitt. A fotógrafa começou com o P&B, mas também fotografou em filme colorido. Gostava de bairros pobres e, principalmente, de crianças.
teve uma participação bastante ativa no cinema por cerca de 25 anos, com diversos filmes e documentárisos. Ela voltou de vez para fotografia em 1959, quando ganhou uma bolsa da Fundação Guggenheim para fazer fotos coloridas de Nova York. Em 1960, ganhou a segunda bolsa da Fundação para continu-
ar seu trabalho colorido. Entre seus principais trabalhos estão o seu primeiro livro, A way of Seeing, e Slide Show, com suas fotos coloridas.
Permaneceu ativa na fotografia por quase 70 anos. Morreu em 2009, em Nova Iorque, cidade em que passou toda a sua vida
“POR SER INARTICULADA, EU ME EXPRESSO através DE MINHAS IMAGENS” - Helen Levitt
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Acima, à esquerda, Diane Arbus. Fotógrafa desenvolveu um trabalho que foi de fotografia de moda à fotografias polêmicas de pessoas, passando também por fotografias de casais e famílias nas ruas.
zar e The Sunday Times Magazine. No entanto, parte de seus trabalhos eram recusados e não atraiam interesse das publicações, pois sua fotos com frequência tratavam de temas subversivos para a época. Isso a fez confessar certa vez que temia ser reconhecida como “fotógrafa de aberrações”. Durante sua carreira como fotógrafa, foi responsável por fazer algumas reconsi-
derações sobre como a fotografia era praticada na época e seu trabalho se afastou dos objetivos da geração anterior. Como é possível encontrar em diversos textos, ela valorizava a questão psicológica acima de precisão, o permanente acima do acidental e coragem acima de sutileza. Por conta disso, até mesmo seus assuntos sentiam confiança em seu trabalho, e em não raras ocasiões, eles próprios se interessavam por
Diane Arbus: Allan Arbus/ The Estate of Diane Arbus, LLC/ Divulgação Diane Arbus/ Divulgação
Pouco mais de 20 anos. Esse foi o tempo dedicado à fotografia necessário para Diane Arbus criar um dos mais admirados portfólios e se tornar uma das maiores fotógrafas da história. Diane nasceu em Nova Iorque, em 1923, e começou a praticar fotografia já no começou da vida adulta, com seu marido, Allan Arbus. Os dois criaram uma agência de fotografia de moda, a Diane & Allan Arbus, em 1946. Mas ela demostrava grande interesse por fotografar pessoas na rua, em grande parte influenciada por fotógrafos como Bill Brandt e Eugène Atget. E, em 1956, por conta do cansaço pela fotografia de moda que Diane apresentava e pelo começo de sua depressão, o casal fechou a agência e ela se jogou em seu próprio negócio na fotografia. No mesmo ano havia começado a ter aulas com Lisette Model e também já havia estudado com Berenice Abbott. Nos primeiros meses em carreira própria, chegou a ter fotos publicadas em grandes revistas como Esquire, Harper’s Baa-
Diane Arbus/ Divulgação
Capa: damas das ruas
ela. Em1963, Diane recebeu uma bolsa da Fundação Guggenhein, que foi renovada em 1966. Em 1965, uma foto sua de travestis foi exposta no MoMA, o que causou grande revolta na época, por conta do tema então polêmico e porque os Estados Unidos passava por uma onda de repressão à comunidade LGBTS. Andy Warhol chegou a comentar o fato posteriormente. “Drag queens não eram aceitas nem
em circos de aberrações até 1967”, disse. Em 1967, Diane teve novamente seus trabalhos expostos no Museu de Arte Moderna, desta vez junto com os trabalhos dos fotógrafos Garry Winogrand e Lee Friedlan-
der. Durante toda sua vida, a fotógrafa enfrentou diversos casos de depressão. Em 1971, com 48 anos de idade, suicidou-se ingerindo barbitúrico e cortando os pulsos.
“O amor envolve uma combinação peculiar insondável de compreensão e incompreensão” - Diane Arbus
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Acima, à esquerda, Vivian Maier. Nunca mostrou suas fotos para ninguém e seu trabalho foi descoberto acidentalmente em 2007, por um historiador ocasional.
fotografava. Na verdade, até hoje não se sabe muito mais que isso sobre a vida de Vivian. O trabalho de Vivian como fotógrafa de rua só começou a ser divulgado em 2009 e chamou atenção. À medida que John Maloof ia divulgando novas imagens, novas emoções surgiam.
Em janeiro de 2011, o merecido reconhecimento veio com um artigo publicado no The New York Times sobre sua primeira exposição solo. Com o título “Nova fotografia de rua, feita há 60 anos” David W. Dunlap é só elogios à fotografa. “A divulgação na web de cada nova imagem cau-
Vivian Maier: Autorretrato/ Divulgação Vivian Maier/ Divulgação
m dos maiores tesouros descobertos no campo da fotografia de rua, sem dúvida foi o que Vivian Maier deixou. Durante toda sua vida, fez mais de 150 mil imagens. Mas elas só foram descobertas em 2007 – dois anos antes de sua morte, em 2009 – por John Maloof, um corretor de imóveis e historiador ocasional. Vivian nasceu em Nova Iorque em 1926, mas passou sua infância em Paris. Quando voltou para sua cidade natal, começou sua carreira como babá, profissão que a sustentou por mais de 40 anos. Mas a sua grande paixão era a fotografia de rua. Sempre em suas folgas, pegava sua Rolleiflex e saía para fotografar. Nunca mostrou suas fotos para ninguém, apenas as crianças de quem cuidava a viam fotografar. Revelava milhares de rolos de filme no banheiro, que ela havia o transformado em câmara escura. Além de guardar para si todas as fotografias e negativos, também guardava áudios de algumas entrevistas feitas com as pessoas que
Vivian Maier/ Divulgação
Capa: damas das ruas
sa sensação entre sua crescente legião de admiradores. (Reconheço que estamos nos juntando tarde a essa mesa). As paisagens urbanas da Srta. Maier conseguem captar ao mesmo tempo a forte marca local e os momentos paradoxais que dão à cidade o seu pulso. As pessoas em seus frames são vulneráveis,
nobres, derrotadas, orgulhosas, frágeis, tenras e não raro bastante cômicas. A recepção na noite de abertura da exposição no Chicago Cultural Center começará às 17h30. Infelizmente, a Srta. Maier não poderá comparecer. Ela morreu dois anos atrás, aos 83”, disse Dunlap em seu artigo.
Na velhice, Vivian viveu grandes dificuldades financeiras e chegou a morar em asilos pagos pela previdência, até que amigos juntaram-se para comprar um apartamento em Chicago para ela e também passaram a pagar suas contas. Entre esses amigos, alguns foram cuidados por Vivian na infância. EVF_Novembro
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O olhar contemplativo do Mestre Com inúmeros seguidores, Yuri Bittar, o fundador do Fotocultura, coleciona boas fotos e histórias para contar
Texto: Bruno Schuveizer Foto: Fábio Uehara
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Perfil > Yuri Bittar
Sua paixão por fotografia começou ainda no inicio da década de 90, e com dia marcado para sempre em sua memória. “Eu me lembro bem do dia em que comecei a gostar de fotografia”, conta, empolgado. “Eu lembro porque fiz uma viagem de aventura, tinha uns 16 anos. Íamos a pé de São Paulo a Itanhaém, dois dias andando. Então fomos ver uma piscina natural, e ninguém tinha câmera. Naquele dia eu me amaldiçoei por não ter uma câmera (risos)”. E assim, com direito a um dia inesquecível em
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um lugar lindo, descobriu uma de suas maiores paixões, mas de forma um tanto frustrante. A primeira atitude a ser tomada depois dessa experiência, como haveria de ser, foi comprar uma câmera. “Eu adquiri uma Kodak, daquelas bem simples, você só precisava apertar o botão, ela avançava o filme, tudo automático. Com ela fiz muitas fotos e me vi realmente interessado”. Em sua pequena sala há um mural com fotos feitas por ele. A mesa organizada e a
Yuri Bittar
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o segundo andar do prédio da Unifesp, na capital paulista, Yuri Bittar pensa sobre seus futuros projetos no campo da fotografia em sua sala, enquanto dá conta de seu trabalho como designer na universidade. Nos últimos anos, o fotógrafo se destacou e atraiu inúmeros seguidores ao criar o que no começo era chamado de Fotografia e Cultura Visual, e que logo veio a se tornar o Fotocultura, famoso grupo que reúne fotógrafos profissionais e amadores para saídas fotográficas e troca de experiências.
Perfil > Yuri Bittar música baixa ao fundo, provavelmente um rock da década de 80, completam o ambiente. Enquanto conversamos, Yuri tenta mostrar a importância das coisas comuns em nosso dia-a-dia. Com 19 anos, entrou para a faculdade de
começou a se tornar algo cada vez mais distante em sua vida. “Até como hobby a fotografia acabou ficando um pouco para trás, porque era uma prática cara na época do filme”, lembra. “Isso no começo dos anos 2000”, completa.
“"Naquela época era mais difícil começar, não havia internet, então você tinha que comprar revista na banca, ou livro, ou fazer curso" ” design, mas não sem antes conferir se fotografia estava na grade. “Naquela época era mais difícil começar, não havia internet, então você tinha que comprar revista na banca, ou livro, ou fazer curso. Não tinha outro jeito. Por isso aproveitei ao máximo as aulas de fotografia na faculdade”. Ainda na faculdade, conseguiu um emprego como fotógrafo em uma pequena revista. Yuri lembra que não foi um trabalho muito interessante -- mas que serviu para que ele entrasse de vez no mundo da fotografia – e que o legal mesmo era a correria, pois a publicação era semanal e os prazos eram bem apertados. Ficou por cerca de seis meses nessa revista. Depois começou a expandir o repertório e fazer um pouco de tudo na fotografia. Mas isso não estava sendo o suficiente para completar a renda, então teve que adotar a prática de fotógrafo apenas como um bico, enquanto tinha outro emprego fixo. Fez casamentos, eventos empresariais entre outras coisas nesse período. omeçou então sua carreira como designer. Yuri, ao falar sobre isso, desvia o olhar. Num movimento quase imperceptível, olha para seu mural de fotos e revela que nessa época a fotografia
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Entre esse período cursou desenho industrial e depois história na USP. Mas conta que quase não fotografou mais até 2007, até que surgiu uma oportunidade de trazer novamente à tona seu conhecimento no campo visual. No final do curso de história, Yuri conta que os alunos precisaram fazer um documentário em grupo. Com o nome “No chão da cidade, descartáveis e descartados”, o grupo conseguiu dar um novo e interessante viés ao clichê das fotos de moradores de rua. A proposta era compará-los ao lixo reciclável, como forma de denúncia, com a intenção de mostrar que não só esses materiais poderiam ser reciclados, mas que também poderíamos repensar a forma como tratamos os moradores de rua. “Durante as filmagens fotografei bastante, com filme ainda, e daí em diante não parei mais. No começo continuei buscando imagens com tema ligado ao chão da cidade.” Mas já não fotografava apenas moradores de rua, como também engraxates, pedestres, enfim, qualquer assunto que tivesse esse apelo. Esse trabalho resultou em uma exposição em 2009 na reitoria da Unesp. “Depois disso não queria mais fazer fotos assim, costumo dizer que essa foi minha cota de miséria (risos), até mesmo porque esse não deixa de ser um assunto bastante batido na fotografia. Então EVF_Novembro
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Perfil > Yuri Bittar comecei a entender que, na verdade, o grande desafio é fazer fotos bonitas a partir de coisas mais comuns”, diz. Em 2008 foi convidado pela Unifesp para dar um curso de extensão de fotografia para funcionários da universidade e parentes. Encarou essa nova experiência.
Fotografia e Cultura Visual, a Fotocultura A ideia principal para o curso era ampliar o repertório visual e cultural dos alunos, e não apenas ensinar como mexer em uma câmera. Para deixar o curso mais dinâmico, Yuri preparava uma saída fotográfica com os alunos, a fim de que eles colocassem em prática o que tinham visto em sala. “Depois de algumas saídas, os alunos co-
meçaram a perguntar se podiam levar amigos junto, eu deixei e divulgaram na internet. E vi que muita gente que não era aluno começou a participar. Então, comecei a fazer duas saídas: uma para os alunos e uma aberta para quem quisesse participar. As pessoas divulga-
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vam pelo Flickr, e assim as saídas começaram a ganhar vida.” Em 2013, o Fotocultura alcançou o impressionante número de 460 fotógrafos profissionais e amadores em uma única saída. Yuri viu que não era mais possível continuar am-
Yuri Bittar
“"Depois de algumas saídas, os alunos começaram a perguntar se podiam levar amigos junto, eu deixei e divulgaram na internet. E vi que muita gente que não era aluno começou a participar. Assim as saídas começaram a ganhar vida" ”
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O fotógrafo se dedica principalmente à fotografia de rua e Miksang, além de organizar cursos e saídas sobre esses temas
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Perfil > Yuri Bittar
Yuri Bittar
Roubar tempo para fotografar é a melhor solução para não parar de praticar, diz Yuri. Veja mais na página 66.
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Perfil > Yuri Bittar pliando, até mesmo por uma questão de responsabilidade com quem participava. Mas as saídas continuam fortes, sempre atraindo um grande número de apaixonados por fotografia. Com o sucesso crescente das saídas Fotocultura, Yuri resolveu experimentar o mesmo formato, mas para dar aula. Um único dia de curso, explorando ao máximo a prática, com temas específicos e exercícios. “Eu percebi que era bem legal, porque, apesar de ter a limitação de um dia, o aluno não falta no meio, não perde conteúdo.”
Fotografia de rua A paixão pela fotografia de rua, como ele conta, na verdade começou por volta de 1997. Na época, ainda com câmera de filme, Yuri não podia desperdiçar fotos. “Eu saía num dia para usar meio filme (risos)”. No entanto, ele revela que não tinha muita ideia do que fotografar nas ruas, conta que tinha vergonha de fotografar as pessoas e acabava fazendo algumas fotos de paisagem. E, com a rotina do trabalho à partir de 1998, a prática de street teve que esperar 10 anos. Só em 2008, com os cursos Fotocultura, Yuri sentiu novamente a vontade de sair às ruas com – e sem – alunos. Comprou uma câmera bridge e voltou definitivamente para a fotografia de rua. O fato de ele ter organizado os cursos o ajudou, Yuri já sabia o que procurar quando ia para a rua.
Fotografia Miksang Por volta de 2011, enquanto realizava seus cursos de fotografia de rua, acabou conhecendo sem querer a fotografia miksang. “Eu postei uma foto minha no Flickr e uma amiga comentou perguntando se era miksang. Entrei no Google e comecei a pesquisar sobre o
tema. Gostei e logo comecei a praticar e me aprofundar cada vez mais”, lembra. Decidiu incluir o tema em seus cursos. No primeiro, Yuri mesclou fotografia de rua e Miksang para testar a aceitação de seus alunos. E muita gente procurou, o curso superlotou. Resolveu abrir uma nova turma 15 dias depois. “Mais ou menos um mês antes de eu organizar esses dois cursos, fiquei sabendo de uma oficina que ia ter do Andy Karr, um americano que é um dos grandes mestres nisso. A oficina acabou sendo no fim de semana entre esses dois cursos. Uma sorte!” Outro episódio que também o aproximou desse estilo foi quando surgiu a oportunidade de um amigo trazer dos EUA para ele o único livro sobre miksang lançado até hoje. A publicação é relativamente nova, de 2009, e muito completa. Em pouco tempo, o tema ganharia um cur-
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Fotos: Yuri Bittar
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Miksang A fotografia contemplativa Como é possível encontrar no site da Fotucultura: “Miksang (termo tibetano que significa o bom olho), ou Fotografia Contemplativa, é a experiência visual direta, não conceitual, ou seja, a pura percepção. É uma prática ligada à meditação que, buscando ver a realidade sem pré-conceitos, fórmulas, definições, ansiedades, objetivos, apenas ver, visa trazer nossa visão para o presente, para o real, abrindo nossos olhos e permitindo ver o “novo” no cotidiano, ver beleza e criar arte. Antes de uma técnica fotográfica é uma forma de ver o mundo e de viver. Essa prática causa forte impacto na forma de se ver o mundo e até de se viver. O bom olho aqui significa relaxado e aberto, sem preocupações!”
Definições pertinentes: Yuri, desde quanto teve conhecimento sobre Miksang, tem praticado com dedicação e vem desenvolvendo um trabalho de destaque
Meditar: é a experiência em que o fazer se reduz a apenas ser, e tudo se simplifica, se aquieta, repousa e silencia nessa presença incondicional. Contemplar: é o ato de identificar-se completamente com a noção de espaço e com a natureza estética e generosa do presente.
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Perfil > Yuri Bittar
As saídas Fotocultura ao longo dos anos
Yuri Bittar
Desde o começo, em 2008, já são 41 saídas fotográficas, 3 estados, 6 cidades e milhares de participantes
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Perfil > Yuri Bittar
“"A ideia das práticas contemplativas é usufruir do momento, então o objetivo da fotografia contemplativa é fotografar aquele momento com o que há para fotografar, não buscar imagens espetaculares. Você fotografa o que chamou a atenção da sua visão, da sua percepção" ” so próprio. E o sucesso foi imediato. Yuri é um dos precursores do estilo no Brasil, e talvez o único a realizar cursos específicos sobre o tema por aqui. A fotografia contemplativa busca treinar o olhar, fazer nós desenvolvermos nossa percepção acima de tudo. Por isso, miksang é fotografarmos exatamente aquilo que vemos, da forma que vemos. “A ideia das práticas contemplativas é usufruir do momento, então o objetivo da fotografia contemplativa é fotografar aquele mo-
mento com o que há para fotografar, não buscar imagens espetaculares. Você fotografa o que chamou a atenção da visão, da sua percepção” Ao final da conversa, Yuri é categórico: “Quando alguém entra em minha sala, não pode sair sem uma selfie!”. Ele se levanta e pega uma lente fisheye para smartphone. “Essa é nova, troquei a pouco tempo, é mais fácil de acoplar ao celular”, diz sorrindo. Como sempre, Yuri estava, como ele diz, roubando tempo para fotografar. EVF_Novembro
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Ter estilo
Uma das etapas mais importantes na carreira de um fot贸grafo 茅 definir seu pr贸prio estilo
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Desenvolva o seu próprio estilo na Fotografia de RUA
Todo bom fotógrafo tem seu estilo, veja 6 fatores que você precisa levar em consideração para definir o seu Texto: Bruno Schuveizer Todos os grandes nomes da fotografia destacaram-se por terem um estilo próprio. Não é difícil reconhecer uma foto de Bresson, ou de Willian Klein, ou de qualquer grande fotógrafo. Isso porque suas fotos traziam consigo suas marcas registradas, por assim dizer. Existem alguns fatores para se levar em consideração nesse campo. Por exemplo, um deles pode ser a distância focal da objetiva. Bresson usava apenas uma objetiva 50mm em sua Leica. Bom, ainda muito amplo, né? Afinal, muitos outros fotógrafos de rua também só utilizam objetivas 50mm. Precisamos afunilar mais à partir de outras preferências. Basicamente, são 6 os fatores iniciais que podem te ajudar a encontrar o seu próprio estilo na rua: Distância focal, assunto, processamento, composição, referências e mensagem. Identificar cada um é um primeiro e grande passo. Mas, para que as pessoas associem seu trabalho a você, é preciso muita dedicação e persistência para deixar as suas marcas em suas fotos. Para isso, é importante adotar um estilo e evitar variá-lo. Vire a página e entenda mais sobre como cada um desses fatores é importante para ajudar a tornar seu trabalho único.
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Desenvolva seu estilo
Distância Focal
Assunto
Edição
Qual a sua preferida?
O que você gosta de fotografar? Pb ou colorido?
Adotar uma única distância focal para suas fotos pode ser difícil no começo, principalmente distâncias menores, grande angulares. E essa não é uma escolha que se faz da noite para o dia. Cada uma tem uma finalidade diferente, e é preciso levar em consideração qual distância focal oferece os resultados que mais te agradam, e também as distâncias que te deixem confortável com o tempo. Conforme o fotógrafo de rua se desenvolve, é comum que ele prefira as normais ou as grandes angulares, mas isso não deve ser regra.
Nas ruas o que não falta é assunto. Pra qualquer lado que olhamos lá está uma cena interessante. Mas cuidado, é preciso desenvolver critérios para não sair fotografando tudo o que se vê. Identificar assuntos que você mais gosta de fotografar é uma etapa importante. Isso também leva um tempo para descobrirmos, e também demanda muita prática. Só assim é possível identificar com consciência os assuntos que mais gostamos de clicar, pessoas andando, cenários urbanos, olhares, cenas espontânes, entre inúmeros outros.
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A maioria dos fotógrafos de rua preferem pb, principalmente no começo. Mas as fotos coloridas vem ganhando cada vez mais adeptos. Escolher entre uma ou outra é tarefa difícil, e deve ser feita com consciência. Nada daquela história de escolher pb para salvar a foto. Hoje, com o formato Raw, que permite processar posteriormente a foto, a escolha pode ser feita depois do click, de acordo com o que mais te agrada. Independente do que você escolher, é recomendável sempre fotografar em Raw e guardar o arquivo.
Na página anterior: Reprodução
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desenvolva seu estilo
Composição
Referências
Mensagem
O que levar em conta?
Quais são as suas?
O que você quer passar?
Com o tempo, a forma como compomos as fotos também evoluem, baseada em nossas experiências e também em nossas referências (veja ao lado). O que incluir no quadro? Poucos ou vários elementos? Formato retrato ou paisagem? Ao fotografar pessoas, que plano usar? São diversas questões que podem ser feitas na hora de reconhecer quais composições são suas preferidas ao fotografar na rua. Isso também ajudará a definir melhor o seu assunto. Aliás, todos esses 6 fatores estão interligados.
Ter referências é essencial para qualquer fotógrafo que deseja crescer e fazer seu trabalho evoluir. Quanto mais referências tivermos, melhor. E não só referências de fotografia, mas também de músicas, filmes, livros, artes plásticas, enfim tudo o que você gosta. A partir disso, você começa a identificar quais são suas principais referências. Como disse, esses seis fatores estão interligados, e identificar suas referências irá te ajudar e muito a identificar outros fatores, mencionados ou não aqui. A palavra aqui é aprofundar.
Todos os fotógrafos de rua esperam transimitir algo em suas fotos. Emoções, questinamentos, diferenças sociais, ou mesmo apenas documentar a vida e a condição humana. Independentemente de qual mensagem você queira passar, é importante investir nela para que as pessoas lembrem-se de você. Reflita sobre o que suas fotos falam, procure focar em determinada mensagem de tempos em tempos, trabalhos assim podem render projetos interessantímos que com certeza se destacarão.
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Cartão de Memória A cada edição uma foto que ficou para a história
Bruce Gilden
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fotografia acima revela muito do estilo de um fotógrafo americano que faz parte da maior agência de fotógrafos do mundo, a Magnum, mas que talvez não seja muito conhecido pelos entusiastas da fotografia. Estamos falando de Bruce Gilden, que notabilizou-se por um estilo bastante marcante, sendo conhecido por grandes trabalhos que fez nas ruas de Nova York e mundo afora. Ele próprio se define assim: “Para mim, fotografia de rua é onde você pode sentir o cheiro da rua, sentir a sujeira. Talvez essa seja uma definição um pouco injusta, mas é assim que eu sinto.” Esta imagem, realizada no Haiti, revela a
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maneira até um pouco exagerada do confronto que o fotógrafo faz entre câmera e fotografado, num jogo que nem sempre é muito bem aceito por quem é clicado por ele. A ousadia, a grande angular, a aproximação com as pessoas retratadas, tudo isso evidencia a maneira como ele gosta de se portar na rua. Podemos observar traços característicos dele: o posicionamento bem próximo à situação e a preocupação com a estética de seu enquadramento. Bruce gosta de dizer que é um apaixonado por pessoas, vê beleza em tudo e se sente inspirado em captar o “espírito” de cada um quando está com uma camêra na mão. Rodrigo Cruz
Bruce Gilden/ Divulgação
HAITI. Porto Príncipe. Estádio de futebol, começo da noite. 1990.
*imagem ilustrativa. O inseto possui de 2 a 3 mm de comprimento.
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ares h l i m e d o a vida d n a ç a e cruel á am o t ã s ç e u l e o u s q é uma oença d a i s a á m n u a t é u e aniose nos. A o d s u e s ença. A Leishm o e d d a d m é o b ã tam eminaç s s i d a de cães e r e ra cont a p z a c fi e e in
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Cultura
Amplie suas referências DOCUMENTÁRIO Finding Vivian Maier Documentário/ Cor/ 83’ Estados Unidos - 2013 Direção, roteiro e produção: JOHN MALOOF, CHARLIE SISKEL
Paradoxal. Corajosa. Misteriosa. Excêntrica.
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om estes adjetivos o documentário ‘A Fotografia Oculta de Vivian Maier’(Finding Vivian Maier, 2013) de John Maloof, tem seu início. Relatos de amigos, parentes e adultos que foram criados por esta mulher quando crianças, proporcionam ao espectador a intensidade e relevância de toda sua obra, que foi preservada ao longo de sua vida com mais de 150 mil negativos intactos e não revelados. Vivian Dorothea Maier nasceu em 1926 em Nova Iorque, nos Estados Unidos, e trabalhava oficialmente como babá.
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Para os íntimos, a pessoa de Vivian Maier era uma incógnita: não era casada, não tinha filhos, nem parentes próximos. Era uma mulher reclusa, que tornava a fotografia de rua sua válvula de escape para a falta de fé no homem. Seu mundo particular era retratado pelas lentes de sua câmera Rolleiflex 2.8F TLR, onde a obsessão pelo registro do momento era o que a motivava. Maier era uma Street Photographer nata. Suas fotografias, por décadas ocultas, foram descobertas por um mero acaso em 2007, quando o americano John Maloof, na época corretor imobiliário e historiador ocasional participava de um leilão para arrecadar o maior número de arquivos possíveis para escrever um livro sobre a história do seu bairro. E eis que as fotografias (até então anônimas) após um longo tempo foram reveladas e postadas em seu blog pessoal, tendo uma boa recep-
Ravine Pictures/ Divulgação
Por Ana Luiza Aragão
Vivian Maier/ Divulgação
ção do público, se mostrando de grande valor artístico. A partir deste instante, John iniciou uma vigorosa pesquisa sobre os arquivos para descobrir suas origens, percorrendo países, comprando fotos de Vivian que foram vendidas a antigos compradores e participando de conversas com pessoas que conheceram a fotógrafa . John Maloof adentrou-se de tal forma no mundo da mulher, do ser humano Vivian que adquiriu o maior número de objetos pessoais possíveis, além das fotografias: roupas, sapatos, chapéus, bilhetes. Todas estas partes compunham a personalidade dela. Com árduas tentativas, os retratos foram catalogados e, em 2011, veio o reconhecimento da obra de Maier com a 1ª exposição no Centro Cultural de Chicago. Anteriormente, houve uma tentativa de solicitação de patrocínio ao Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, porém sem sucesso. Desde então, três livros sobre ela foram publicados: ViEVF_Novembro
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Vivian Maier/ Divulgação
vian Maier – Street Photographer (2011), Vivian Maier – Self-Portraits(2014) e Vivian Maier – A Photographer Found (2014). Até o momento, somente o primeiro citado é comercializado em português, com o título ‘Vivian Maier: Uma Fotógrafa de Rua’(Editora Autêntica). Restringir a vida de Vivian é um equívoco: acumuladora de memórias, nostálgica, dona de belos enquadramentos cotidianos que captavam a emoção dos indivíduos seria uma definição exata. Profissionais do ramo, como Joel Meyerowitz afirmam que a fotografia de Vivian Maier ‘’foi um tipo de prazer que surpreende e vem ao seu caminho(...)Era autêntica, uma fotógrafa genuína que captava as emoções da rua ’’. Já Mary Ellen Mark afirma que a fotógrafa era ‘’autêntica e dispõe de senso de humor e tragédia. Possuía um ótimo enquadramento e era uma artista completa’’. A indagação, presente no entendimento individual, que ansiamos saber é que por qual razão a sociedade foi privada de um trabalho tão extenso e de tanta profundidade que nunca foi revelado? Infelizmente a resposta exata não nos será fornecida. A fonte já se esvaiu. Apenas deduções baseadas em sua biografia poderão indicar o caminho para possíveis reflexões conclusivas. O retrato das ruas era seu mundo particular.
LIVRO Lançamento
The World Atlas of Street Photography
D Editor: Jackie Higgins Colaborador: Max Kozloff Edição: ilustrada Editora: Yale University Press, 2014 Num. págs: 400 páginas
Yale University Press/ Divulgação Cosac Naify/ Divulgação
LIVRO Leitura obrigatória
Autor: Robert Capa Tradução: José Rubens Siqueira Prefácio: Cornell Capa Introdução: Richard Whelan Quarta capa: Hélio Campos Mello Idioma: Português Eidtora: Cosac Naify
esde o começo da fotografia, no século 19, as metrópoles atraem fotógrafos querendo registrar o cotidiano da vida urbana. O World Atlas of Photography Street centra-se justamente na abundância de imagens desse estilo. 12 obras especialmente encomendadas são apresentadas, além de um ampla seleção de imagens. O livro compila expressões de um gênero vibrante e é o primeiro a correr o mundo, como a própria editora faz questão de frisar. È ilustrado com mais de 700 imagens apresentadas por centenas de fotógrafos contemporâneos estabelecidos, entre eles Nikki S. Lee, Lise Sarfati, Jeff Wall, Daido Moriyama, Alexey Titarenko, Christo e Jeanne-Claude, David Goldblatt, Julio Bittencourt e muito outros.
Robert Capa Ligeiramente fora de foco
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este livro autobiográfico, Robert Capa (1913-1954), o fotógrafo que produziu incríveis imagens de guerra mostra que também é um contador de histórias nato. Em seus relatos, ele fala de sua vida privada e profissional, das suas experiências como correspondente de guerra, da convivência com seus amigos John Steinbeck e Ernest Hemingway, e de sua namorada, a atriz Ingrid Bergman. Capa, que dizia que suas imagens eram “ligeiramente fora de foco, um pouco sub-expostas e a composição não é nenhuma obra de arte”, cativa o leitor numa narrativa fluente e hipnótica, com simplicidade e humor, compondo um rico relato histórico.
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COLUNA FOTOCULTURA
Roubando tempo para fotografar
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Yuri Bittar
Por Yuri Bittar* Esta coluna pretende trazer reflexões sobre a fotografia dentro do nosso cotidiano, como meio de expressão, qualidade de vida e percepção do mundo. Você também pode ver outros artigos no site: www.fotocultura.net. *Yuri Bittar é designer, fotógrafo e historiador. Atua como designer gráfico, e desenvolve cursos de fotografia, exposições, as Saídas Fotocultura e o Projeto FotoculturaParaTodos, além de pesquisas sobre humanização no ensino da saúde. Através da história oral, da fotografia, da literatura e outros recursos, tem buscado criar projetos mais próximos ao humano e que contribuam para a melhora da qualidade de vida. Contato e mais informações: www.yuribittar.com
a corrida vida pós-moderna praticamente não temos tempo para as cosias que realmente importam. Entre as obrigações e as futilidades praticamente não fazemos o que achamos mais importante para nós mesmos, o que no fundo nos toca, vamos adiando, deixando pra depois. Sempre escuto pessoas, amantes da fotografia, falando “ah, mas eu não tenho tempo para fotografar...” ou coisas do gênero. Então penso, a vida é muito corrida mesmo, temos muitas obrigações, compromissos, trabalhar, estudar, cuidar da família, etc. É com essas pessoas que quero falar, as que não têm tempo para fazer o que gostam, como fotografar, fazer música, escrever, desenhar, etc. Mas então, como resolver esse problema? A prática da fotografia exige, acima de tudo, experiência e treinamento do olhar. Não há bom fotógrafo sem muitos “quilômetros rodados”. O que fazer então, se você gosta de fotografia, mas não consegue tempo para praticar? As obrigações parecem tomar todo o tempo que temos. Então resolvi esse problema simplesmente roubando tempo para fotografar! É isso mesmo, eu roubo tempo. Roubo tempo da hora do almoço, dos deslocamentos pela cidade, de quando tenho que ficar em algum lugar esperando algo por uns minutos, e assim por diante. Sempre podemos “roubar” um tempinho para outras coisas. E o tempo que “roubamos” para fazer o que nos dá prazer, o que desenvolve o ser, a nossa criatividade, a nossa paixão pela vida, é na verdade um tempo que dilata o tempo da vida, é um roubo “do bem,” pois no final apenas acrescenta.
Em todo lugar é possível encontrar novos e interessantes pontos de vistas. É importante estar sempre atento.
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É por isso que penso que o tempo para fotografar (ou para ler, pintar, amar, enfim, fazer o que gostamos) não só pode, mas tem que ser um tempo “roubado”. Afinal, as coisas mais gostosas da vida normalmente acontecem assim, na hora delas, de surpresa, e não no momento planejado. Essas coisas, as melhores, não são as biologicamente necessárias, mas são essenciais para viver, para sermos felizes e realizados. Daniel Pennac, escritor romancista francês, falando sobre a leitura (mas podemos aplicar a ideia à fotografia), explica isso muito bem: O tempo para ler é sempre um tempo roubado. (Tanto como o tempo para escrever, aliás, ou o tempo para amar.) Roubado a quê? Digamos, à obrigação de viver. [...]
O tempo para ler, como o tempo para amar, dilata o tempo para viver. Se tivéssemos que olhar o amor do ponto de vista de nosso tempo disponível, quem se arriscaria? Quem é que tem tempo para se enamorar? E, no entanto, alguém já viu um enamorado que não tenha tempo para amar? Eu nunca tive tempo para ler, mas nada, jamais, pôde me impedir de terminar um romance de que eu gostasse. A leitura não depende da organização do tempo social, ela é, como o amor, uma maneira de ser. Para Platão “o belo é o esplendor da verdade” e “o que mais vale não é viver, mas viver bem”. Portanto é preciso não apenas resolver nossos problemas do dia-a-dia, mas buscar também tornar nossa rotina mais bela, melhor, mais feliz. No fundo, não é questão de ter tem-
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po para fotografar, mas sim de se apaixonar pela fotografia, deixar que ela ocupe um espaço no seu dia. Assim a fotografia fará parte de seu estilo de vida, e você trará a arte para a vida cotidiana, e levará a vida cotidiana para a arte! E dessa forma você fará com que o seu tempo se expanda, cada vez mais coisas caberão no seu dia, e as coisas que você gosta arranjarão espaço na sua rotina, como a arte e a fotografia! Algo que tem me ajudado a melhorar a qualidade do meu olhar, e consequentemente da minha vida em geral, é a Fotografia Contemplativa, ou apenas Miksang, que, mais que uma técnica, é uma forma de ver o mundo, derivada da meditação e do budismo, e que é basicamente um meio de deixar olhos e mente mais abertos para ver a realidade como ela é, perceber a beleza das coisas comuns e desenvolver a criatividade. Em breve falarei mais sobre este tema. Resumindo, aconselho a quem gosta de fotografia que faça um esforço e “roube” um tempinho para fotografar e “ver” o mundo com mais frequência! Use a beleza da arte fotográfica para tornar sua vida maior. A seguir vejam algumas fotos que fiz em “momentos roubados”.
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Crônica E por Diários de um fotógrafo anônimo
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ostumo dizer que nada como um bom café para começar bem o dia. Aliás, não só eu costumo dizer isso, mas quase todos que conheço... E por isso estava a tomar meu cafezinho na padaria. Gosto de café preto, forte. Escrevo esta crônica para esta revista, e por isso estava com minha câmera na bolsa. Quem sabe uma boa foto, logo pela manhã, que me rendesse assunto? Terminado meu café, iniciado meu dia. É assim que digo! É assim que funciona... Mas ainda me restava a tal da crônica. Tiro a câmera da bolsa e saio da padaria,
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que, perdoe não ter dito antes, fica bem perto da praça da República. O centro de São Paulo até que é mesmo meio clichê para fotos de rua, e por isso escolhi esse lugar para buscar assunto para minha crônica. Caminho pelas estreitas ruas do centro velho, faço algumas fotos, mas, até aqui, nada de interessante. Continuo caminhando e logo chego ao Páteo do Colégio. Não o fotografo. Na verdade, nem espero para que algo que chamasse minha atenção surgisse. Sigo caminho. O sol já açoitava as calçadas brancas de cimento, o desgaste começa a incomodar. Resolvo parar e descansar um pouco sob a sombra de uma árvore. Fiquei lá por poucos minutos, mas o suficiente para um senhor puxar assunto. “Bonita sua câmera, parece antiga”, disse o desconhecido. Explico que, pelo contrário, é bem moderna e que o jeitão retrô é só por fora.
rônica Começamos a conversar. Ele me diz que, em “seu tempo de mocidade”, tinha uma Nikon FM e que fotografar era o seu maior hobby. Fico intrigado e quero saber mais sobre o senhorzinho que tentava impressionar. “O que eu gostava, rapaz, era sair e fotografar pessoas”, conta, despertando ainda mais o meu interesse. “Saía todo fim de semana! Adorava! Mas com o tempo fui perdendo o hábito...” Diz. Contou sobre diversas fotos que ele fez e que ele se orgulha de ter feito. O papo se estendeu repleto de lembranças. Mas ele não ficou só na falação, queria ouvir um pouco do que eu tinha a dizer também. Ao falar sobre a EVF e de explicar um pouco sobre a revista, ele fica empolgado: “Eu quero ver essa revista! Se é sobre o que eu mais gostava na fotografia, eu quero ler, tem
na banca? Vou comprar!”. Conto que só dá pra ler em computadores ou em tablets, que é uma publicação digital. “De graça? Melhor ainda!”, me surpreende o senhor. Passo o site e digo que assino as crônicas da revista. E que, claro, essa é uma das melhores seções. Pergunto então o motivo pelo qual a fotografia não continuou a ser o seu maior hobby. Ele apenas diz que a vida o tirou isso dele, mas que adoraria voltar a fotografar um dia. Me apresento e pergunto o seu nome, “é Ademar, rapaz”, me diz. Peço uma foto, e ele é categórico: “Gosto de ficar atrás das lentes, rapaz, não na frente”. Ele explica que tem que ir. Me despeço e continuo por mais um tempo ali. Faço mais algumas fotos, nada muito interessante. A bateria da câmera acaba. É hora de voltar ao café. Preto, forte.
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MUTANTE
A cada edição algo diferente
Ricardo Botto/ Reprodução
Que beleza! Sol, Copacabana... e nenhum carro prata ou preto. Pelo menos nos anos 70 os carros eram mais coloridos. Já o Bruno ficaria maluco com tanto fusca junto assim.
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