ed. 7 - ano 2 - R$ 14,90
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Felipe Ortiz, enólogo-chefe da Casa Donoso
Por que beber vinho faz bem à saúde? Visitas a Uruguai, Chile e Argentina Diego Arrebola, o melhor sommelier do Brasil Bulgária e sua rica história vitivinícola
EDITORIAL
Graus para baixo, taças para cima
C
hega a temporada mais esperada do ano pelos amantes de vinho. O inverno vem baixando em vários graus a temperatura apontada nos termômetros, mas aumentando mais e mais o prazer de degustar bons rótulos. Felizmente, aqui na Evino nos preparamos bem para a estação fria, e abastecemos nossos estoques com uma seleção para tirá-lo de baixo das cobertas. E, se o frio é acentuado, é bom você separar um agasalho para viajar conosco pelo mundo do vinho. A jornada começa em ótima companhia com a Head Sommelière da Evino, Jessica Marinzeck. Ela nos traz o relato de sua viagem pelo Uruguai e sua passagem pela Antigua Bodega Stagnari – produtora do Cantharus Tannat Merlot que importamos com exclusividade para o Clube Evino Red. Do Uruguai alçamos voo aos Andes com Raphael Pugliesi, um dos redatores do time de conteúdo, que conta-nos como foi sua visita a alguns dos grandes produtores chilenos e argentinos. Entre eles estão Los Vascos, Achaval Ferrer e Doña Paula. Escala cumprida, seguimos para a remota Bulgária, país de origem do Stambolovo Syrah-Merlot, que recentemente passou por nosso clube, e berço de uma rica história vitivinícola que desvendamos em primeira mão para você. Se está preocupado com o impacto dessa maratona, fique tranquilo, pois provamos que um bom vinho ajudará seu organismo a se recompor. Na seção Vinifique-se elencamos os efeitos da bebida ao corpo humano e explicamos como o seu consumo – regular e moderado sempre – pode ter incontáveis benefícios à saúde. Ainda neste número, conversamos com nosso amigo Diego Arrebola, eleito pela segunda vez melhor sommelier do Brasil, e recebemos Felipe Ortiz, enólogo-chefe da Casa Donoso, para uma descontraída e interessante entrevista. E, falando em bons profissionais do vinho, contamos um pouco da história das três sommelières que compõem nosso time implacável de curadoria: Jessica Marinzeck, Jô Barros e Andrea Godoy. Claro que nem só de vinhos tintos é feito o inverno, e é por isso que fechamos esta edição com um belíssimo Champagne como Favorito do mês. Temos imensa satisfação em anunciar que Nicolas Feuillatte, a marca número 1 de Champagne na França e uma das maiores no mundo, acaba de desembarcar em terras tupiniquins pelas mãos da Evino. E esperamos que muito em breve ela esteja em sua taça. É isso aí. Garanta que vai aproveitar ao máximo esta temporada de baixas temperaturas, com uma boa leitura e ótimas degustações. Um grande abraço, Ari Gorenstein Editor Giuliano Agmont
PUBLISHERS
Ari Gorenstein e Marcos Leal
CMO
Patrícia Komura
Coordenadora de Conteúdo Lana Ruff
Diretor de Arte Ricardo Torquetto
Foto de capa Luna Garcia
Colaboradores Danilo Marcondes, Gianni Tartari , Jessica Marinzeck, Jussara Martins, Larissa Mayra, Luciana Ferreira, Mayara Moraes e Raphael Pugliesi
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ATENDIMENTO AO LEITOR leitor@evino.com.br
Impressão Prol Gráfica
A Revista Evino é uma publicação da INNER Editora sob licenciamento da Evino
SUMÁRIO
14 SEÇÕES 06 ABRE ASPAS
Leitores da Revista Evino em destaque
07 COM ELA, A PALAVRA
Jessica Marinzeck no Uruguai
08 ALÉM DAS TAÇAS
Acessórios que dão vida à degustação
10 VITI & CULTURA
Bate-papo com Diego Arrebola
12 ESPAÇO DO SÓCIO
O Clube Evino e seus benefícios
44 PARA BRINDAR
Sugestões para curtir o inverno
50 COM ELE, A PALAVRA
20
Gianni Tartari e a cultura do vinho
30
24 REPORTAGENS 14 VOZES DO VINHO
Enólogo-chefe da Casa Donoso, no Chile
20 LARES DO VINHO
Os encantos da Antigua Bodega Stagnari
24 EM ROTA
Uma viagem de Santiago até Mendoza
30 COMES SE BEBES
Pratos dos restaurantes Tordesilhas e Vino!
34 VINIFIQUE-SE
Os benefícios do vinho à saúde
36 TERROIRS
Bulgária, um berço vitivinicultor
40 ENQUANTO ISSO, NA EVINO
As três sommelières da Evino
42 O FAVORITO
Champagne Nicolas Feuillatte
36
ABRE ASPAS
o seu espaço na Revista Evino
MEU MOMENTO EVINO VALE PONTOS Pouco menos de 30 dias, muito mais de 3 mil curtidas. Essa foi a marca do primeiro mês da campanha #MEUMOMENTOEVINO no Instagram. De abril a junho, os enofãs de todos os cantos do Brasil puderam compartilhar seus momentos de descontração, em que o protagonista era, claro, o vinho. E o modo que encontramos de participar desses brindes foi garantir que cada foto – e cada um de seus likes – valesse pontos, e que esses pontos rendessem descontos em nosso site.
A @gabilevorato deu asas às suas taças, brindou ao ar livre e deu aquela invejinha em muitos dos seus amigos no Insta.
@_ricardo_gomess seguiu a mesma ideia e resolveu mesclar os aromas do campo com os de seu vinho.
Essa do @alexbraga46, então... Chega a dar água na boca.
Desta vez, a @gabilevorato harmonizou um de nossos rótulos exclusivos. Haja acidez. Perfeito.
Falando em enogastronomia, @ddpastore caprichou na foto e no prato. Quem acha que ele deveria passar a receita?
“O vinho melhora com o tempo. Eu melhoro com o vinho”. E nossa campanha melhorou com sua foto, @instaricardo12
Isso é o que chamamos de notas florais. Um foto simples, bela e singela da @naty.cadeo
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COM ELA, A PALAVRA...
Uruguai, o 48º país Nesta pequena porção de terra ao sul do Brasil há muito o que conhecer – e degustar
Jessica Marinzeck
Passaram num piscar de olhos os últimos meses, que para mim significaram o que mais amo na vida: viagens. Uma delas, em especial, é o tema desta coluna. Às vezes, gastamos tanto tempo e dinheiro nos planejando para conhecer os lugares mais longínquos, e relegamos aqueles que estão aqui ao lado. Minha vontade de ir ao Uruguai, porém, não é recente. Talvez por isso já premeditasse que uma visita ao país renderia uma das melhores experiências que eu poderia ter. Meu primeiro dia em Montevidéu resumiu-se a fazer longas caminhadas. A capital, que tem uma arquitetura mundialmente reconhecida, não carece de bons restaurantes, bares ou cafés, e tem uma gama larga de coisas para se fazer. Mas o que, de fato, me levou ao Uruguai foram os vinhos, não tenho como mentir. Todo o resto - pessoas, cultura, gastronomia - são agregadores que fizeram essa viagem ainda mais fantástica. O Uruguai é hoje o quarto maior país produtor de vinhos na América do Sul, logo depois de Argentina, Chile e Brasil. Quase 50% da plantação está focada na casta tinta Tannat, que tem origem na fronteira entre França e Espanha. Seu nome tem ligação direta com a palavra tanino, portanto pode esperar vinhos encorpados produzidos a partir dela. A Tannat, por conta de sua característica adstringente, tem boa afinidade com madeira, e muitos de seus vinhos passam por barrica para serem amacia-
dos antes da comercialização. Não se engane: tudo no mundo do vinho tem um porém. Existem hoje produtores que fogem à regra e fabricam vinhos com pouca extração, sem madeira e, portanto, mais frutados e fáceis de beber. Uma das vinícolas que visitei, da qual compramos nosso Cantharus Tannat Merlot para o Clube Evino Red, é a Antigua Bodega Stagnari. Fui muito bem recepcionada pelos próprios donos com conversas agradáveis e degustações deliciosas, inclusive dos rótulos produzidos pela Mari, filha da dona e enóloga da vinícola. Um fato muito interessante sobre a produção de vinhos no Uruguai são as safras. Diferentemente de muitas regiões ao redor do mundo que dependem de irrigação no trato das vinhas, o que leva a certa linearidade das safras, a produção local sofre – ou não – com as mudanças climáticas, tornando cada safra muito diferente da outra. Alguns produtores me relataram que, inesperadamente, 2015 e 2016 foram algumas das melhores, e que estão bastante satisfeitos com os últimos resultados. Um país pequeno, mas com muito a apresentar. O Uruguai não se resume só à Tannat. Não por acaso, brancos produzidos com a uva Albariño e tintos com Petit Verdot foram alguns dos meus preferidos. E tudo isso está logo ali. Fiquei muito feliz por ter o Uruguai na posição de número 48 na lista de países que visitei. Agora é correr para chegar logo ao 50. Dicas? revista evino | 7
ALÉM DAS TAÇAS
AO ALCANCE DAS MÃOS As garrafas ao alcance das mãos na temperatura certa. Essa é a ideia do refrigerador de balcão Open Wine, da Cavanova, com capacidade para duas garrafas. Seu desenho mantém os vinhos na posição vertical para evitar que se derrame acidentalmente a bebida. Segundo o fabricante, a tecnologia termoelétrica de refrigeração opera silenciosamente e com pouca vibração, e o ajuste de temperatura é feito por meio de um painel de controle digital. € 158 | loja.beversys.pt (entrega no Brasil)
VINHO PRESERVADO
SACA-ROLHA ELÉTRICO Fabricado em aço, o saca-rolhas elétrico Cuisinart WC400 bivolt abre até 50 garrafas com a carga completa. Possui corta-cápsulas e duas rolhas de vinho, além de preservador que remove o ar das garrafas abertas apertando apenas um botão, mantendo o vinho fresco. R$ 305 | www.pontofrio.com.br
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Fabricada pela Francesa L´ Atelier Du Vin, esta bomba para vinho extrai o ar contido na garrafa já aberta, preservando as propriedades da bebida por mais tempo. R$ 169 | www.spicy.com.br
MAIS AROMA E SABOR Parte da linha Zinco Rabbit da norteamericana Metrokane, este aerador revela o buquê e o sabor dos vinhos ao favorecer o contato da bebida com o oxigênio durante o serviço. R$ 99 | www.camicado.com.br
VINHOS NA BAGAGEM Com capacidade para 12 garrafas de vinho, esta mala de viagem da Wine Fit Store ainda conta com compartimento para tablet e itens de higiene. Sua estruturada em alumínio com tecnologia anti-impacto protege seus vinhos de eventuais choques e ameniza as oscilações de temperatura recorrentes em viagens. R$ 2.580 | www.winefitstore.com.br
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VITI & CULTURA
FRASES
“O vinho é o medicamento que rejuvenesce os velhos, cura os enfermos e enriquece os pobres”
“Convém tratar a amizade como os vinhos, desconfiando das misturas” Sidonie-Gabrielle Colette
Platão
SAÚDE
Proteção para o cérebro O consumo moderado de vinho tem efeito protetor ao cérebro. É o que aponta um longo estudo intitulado “Wine Safety, Consumer Preference and Human Health”. Nele os pesquisadores citam quase 100 trabalhos que demonstram os efeitos benéficos da bebida em relação às atividades cerebrais, atuando contra o comprometimento cognitivo e doenças. Publicado em livro por pesquisadoras da Universidade de Madrid, o trabalho registra que o consumo de vinho tinto e Champagne mostrou-se bom para neutralizar o envelhecimento do cérebro, melhorar a memória e proteger contra doenças neurodegenerativas, incluindo Alzheimer, doença de Parkinson e demência. A melhor hipótese apontada pelos cientistas é a de que a resposta está na ação dos flavonoides, ainda que o mecanismo não esteja 100% compreendido.
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“Ao provar o vinho, vislumbramos, na iminência da noite, os nossos sonhos” D. H. Lawrence
BATE-PAPO
O melhor sommelier do Brasil O sommelier bicampeão brasileiro descobriu a paixão por vinhos nos livros. Sem tradição familiar no universo vitivinícola, Diego Arrebola começou a se interessar pela bebida folheando publicações sobre enologia e gastronomia. Decidiu estudar mais a fundo e teve a oportunidade de aplicar seus conhecimentos em bares e restaurantes de São José dos Campos (SP), sua cidade natal. Em 2008, assumiu a carta do restaurante Olivetto, em Campinas, também no interior de São Paulo. “Iniciamos com 302 rótulos e chegamos a mais de 800 quando saí, em 2012, ano em que nossa carta foi reconhecida como uma das melhores do Brasil”, lembra o hoje consultor. Nesta entrevista, além das curiosidades sobre as competições de sommelier, Diego Arrebola fala sobre a boa relação que se pode ter com o vinho. Qual é o papel do vinho na vida das pessoas?
Vinho é alegria! Uma boa bebida para acompanhar comida, ou um bom bate-papo. Qual o segredo de uma boa harmonização?
Respeitar o peso do que se pretende harmonizar: comida leve com bebida leve, comida encorpada com bebida encorpada. Não funciona um tinto do novo mundo, encorpado, tânico, com muita madeira, acompanhando uma saladinha de alface e tomate, assim como um delicado e fresco vinho branco não vai encarar um corte de carne grelhada, gordurosa e suculenta. O próximo passo é pensar nas características do prato e do vinho, e como eles ‘conversam’ entre si: ‘untuosidade x acidez’, ‘acidez x acidez’, ‘gordura x tanino’, ‘doçura x doçura’, ‘picância x doçura’ e por aí vai. No terceiro passo, temos o ajuste fino. O prato tem um tostadinho ou defumado a mais? Pode ser uma boa com vinhos com madeira. Muita manteiga? Que tal um vinho que tenha essas notas cremosas e amanteigadas?
Diego Arrebola
É possível beber bem sem gastar muito?
Claro! Temos vinhos corretos por 15/16 reais. É tudo uma questão de expectativa. Não espere de um vinho baratinho a complexidade de um grande vinho. Vinho simples não é sinônimo de ruim, muito pelo contrário... Como se portar diante de um sommelier?
O bom sommelier está ali para entender o seu gosto e recomendar novas experiências. Confie nele, deixe-se surpreender. Conte curiosidades sobre as competições de sommelier
Temos provas escritas, degustação e identificação às cegas, escritas e orais, e provas de serviço, simulando o dia a dia de um restaurante. A preparação parece a de uma competição olímpica. Numa delas, na prova de decantação, quando, bem no meio da decantação, com o vinho já caindo da garrafa, o apresentador batia no ombro do candidato e dizia: ‘O senhor quer uma caipirinha’. O objetivo era verificar se o candidato continuaria a decantação ou interromperia para responder, o que estaria errado. Nas questões teóricas já tive de responder sobre uvas da Etiópia e regiões produtoras da Bélgica. Nas degustações tivemos de reconhecer bebidas pouco usuais, como vinho branco indiano ou licor japonês de tomate. revista evino | 11
ESPAÇO DO SÓCIO
VINHOS DE LOTES ANTERIORES Aproveite para comprar os que mais fizeram sucesso BICENTENARIO DE CHILE GRAN RESERVA CARMÉNÈRE 2013
Tinto • Chile • Vale do Maule • Carménère, Cabernet Sauvignon e Malbec
Casa Donoso Lomo saltado
60% do vinho envelheceu em barricas americanas por 12 meses
17°C 2020
Medalha de ouro Berliner Wine Trophy 2015
Em homenagem aos 200 anos de independência do Chile, a Casa Donoso concebeu a linha Bicentenario - e, com ela, um Carménère extremamente complexo que mostrou ter vindo ao mundo para fazer história. Com enorme lista de prêmios e boas avaliações na Wine Spectator, oferece uma bela interpretação da evino.com.br/bice especial safra 2013 no Vale do Maule.
NOTRE DAME DE COUSIGNAC VENTOUX AOC 2013 Tinto • França • Vale do Rhône • Grenache Noir e Syrah
Ogier - Notre Dame de Cousignac
Ratatouille Não há
16°C 2018
Agricultura sustentável
O respeito à identidade bruta do terroir e o cuidado com a fauna e flora regionais caracterizam a produção vitivinícola em Ventoux, que leva o título “Reserva da Biosfera” da UNESCO e oferece ao mercado de vinhos de grande tipicidade. Elaborado a partir de Grenache Noir e Syrah, Notre Dame de Cousignac Ventoux é uma revelação impecável desta tradição.
evino.com.br/toux
AMATORE ROSSO VERONA 2014
Tinto • Itália • Vêneto • Merlot e Corvina Veronese Cielo e Terra Vini Massas com pancetta Breve passagem em barricas de carvalho
16°C
2020
Não há
12 | revista evino
Uma das principais províncias do Vêneto no que diz respeito à produção de tintos elaborados com uvas locais como a Corvina Veronese, a região vinícola ao redor de Verona está na mesma latitude que Bordeaux.Talvez por isso, os produtores responsáveis pelo Amatore tenham decidido agregar à receita, que traz ainda o método Appassimento, uma dose da uva francesa Merlot. O fato é que deu muito certo.
evino.com.br/more
BORDEAUX BELLEVIE PAVILLON 2014
Tinto • França • Bordeaux • Merlot, Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon Grupo Castel Filé Mignon ao molho bordalês (deglaceado com vinho) Não há
16°C 2020
Não há
Situados próximos ao estuário do Gironde e do Oceano Atlântico, os vinhedos que deram origem ao Bellevie Pavillon oferecem a mais pura expressão do terroir milenarmente prestigiado, que caracteriza a região de Bordeaux. É graças à grande presença da água que este vinho agrega ao tradicional corte bordalês uma personalidade fresca e aprazível - tal como a brisa do mar.
evino.com.br/llon
SAN ANTOLIN RESERVA NAVARRA D.O. 2005
Tinto • Espanha • Navarra • Merlot, Cabernet Sauvignon e Graciano San Antolin Chili con carne 24 meses em barricas francesas e americanas + 12 em garrafa
18°C 2018
Não há
O ano de 2005 foi especial no norte da Espanha.Tórrida e seca, a safra viu prosperarem os vinhedos de regiões como Navarra, que aparece aqui no inusitado e muito bem executado assemblage de Merlot, Cabernet Sauvignon e Graciano. Já com 11 anos de história, este espanhol barricado revela uma interessante faceta da dualidade entre identidade do terroir e intervenção humana.
evino.com.br/nava
VIÑA MAYOR ROBLE D.O. RIBERA DEL DUERO 2013 Tinto • Espanha • Ribera del Duero • Tempranillo
Bodegas Viña Mayor Lasanha à bolonhesa
3 meses em barricas de carvalho americano 16°C 2019
91 pontos Guia Repsol
Medalha de prata no International Wine Challenge
Não só Ribera del Duero foi eleita Região do Ano 2012 pela Wine Enthusiast, como hoje se destaca entre a grande crítica mundial. Foi nesse espaço que as Bodegas Viña Mayor plantaram seus vinhedos de Tempranillo e deram início a um ofício que ano após ano colhe bons frutos - literalmente. Viña Mayor Roble leva a complexidade de seu tempo em barricas e a credibilidade de suas premiações à sua taça.
evino.com.br/vmrd
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VOZES DO VINHO
Lana Ruff
Os segredos do Vale do Maule Felipe Ortiz, enólogo-chefe da vinícola Casa Donoso, desvenda uma região com diferentes terroirs e vinhos que ajudam a entender por que o Chile faz sucesso no Brasil
14 | revista evino
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P
aixão pelo solo, entendimento de clima, atenção ao desenvolvimento das vinhas. Parece o tripé orientador de um enólogo num château tradicional do Velho Mundo – e, com a ressalva de um oceano de distância, não está longe disso. O veterano Felipe Ortiz traz a premência do comprometimento ao seu ofício, e deixa na vitivinicultura chilena, há 15 anos, a marca do fascínio pela terra.
Com quantas safras você já trabalhou ao todo? O que muda de uma para outra?
Como é a sua rotina?
Você tem feito um trabalho interessante levando em conta os microterroirs do Vale do Maule. O que cada um tem de especial? Que fatores explicam essa diversidade?
Minha rotina começa sempre degustando vinhos. Depois, muito trabalho nos vinhedos e na bodega. É a única forma de assegurar e de cuidar da qualidade no dia a dia da bodega e dos vinhos. E tem também a terceira etapa, que é o trabalho comercial e de divulgação. Como você começou sua carreira?
Minha carreira começou quando eu tinha 15 anos, antes da universidade, quando me interessei por enologia. Quando entrei na universidade, cursei Enologia no Chile. E também fui à França, trabalhei nos Estados Unidos e visitei a Austrália. Hoje em dia, o enólogo tem que estar aberto para vários tipos de vinhos e vários tipos de produção. 16 | revista evino
Já trabalhei com 15 safras. É muito variável, cada safra é diferente, a estratégia de safra depende de um fator que não dominamos: o clima.Tem safras que são mais frias, outras que são quentes, cada safra tem uma estratégia enológica... Por exemplo, a safra 2015 foi muito quente, e as estratégias de vinificação tiveram de ser diferentes.
Estou trabalhando há oito anos no Vale do Maule, testando diferentes terroirs. Creio que o Vale do Maule é um dos vales mais antigos do Chile. As primeiras plantações vitivinícolas foram feitas lá, e a diversidade dos vários estilos de uva é imensa. Estamos na pré-cordilheira, a 500 m do nível do mar, onde a terra possui muitos minerais. Logo, passamos para o centro do Maule, com vinhos de taninos muito redondos. E finalmente, em Granitos, na costa do Maule, são vinhas com mais restrições nutricionais. As diferenças de terroir dependem de cada cepa, o
Vale do Maule é muito mais que Carménère. Estamos com grandes Sauvignon Blancs, Malbecs, é um vale muito rico enologicamente.
Cabernet Sauvignon, ainda que o ponto forte seja mesmo a Carménère, que dá orgulho ao Chile. Nós somos Carménère.
Qual uva você destacaria como uma grande revelação?
E a uva País?
Focalizando no Vale do Maule, a mais conhecida é Carménère, por todos os vinhos no Chile. Creio que é uma cepa que tem muito ainda para se conhecer e que também se identifica com o Chile, como país, diferente da França. Cada país tem sua identidade com uma cepa, por exemplo, o Uruguai com a Tannat. O Chile, então, está muito catalogado por Carménère, mas creio que existem outras que também dão muitos vinhos bons, como
Sim, a uva País também é uma uva muito antiga, durante muitos anos se misturava a País com outras uvas, como Carbenet Sauvignon. Porém, depois começamos a vinificá-la separada de outras cepas e a mostramos para o mundo. Creio que a País é uma cepa, pessoalmente falando, sem muita elegância. No Chile, ela demorou muitos anos para crescer em grandes volumes, hoje em dia estamos fazendo um trabalho personalizado com essa uva. É muito interessante. revista evino | 17
Qual você diria que é a principal missão da Casa Donoso? O que é que define a personalidade e o ofício da vinícola?
do Chile. São vinhos de estilos diferentes, são tintos, e da costa do Maule.
Ter relação com o potencial e conhecer o Vale do Maule como um todo. Somos a única vinícola, atualmente, a atuar em todo o Vale do Maule. Estamos na Cordilheira dos Andes com a Sauvignon Blanc, no centro, com Carménère, e na costa, com Malbec e Cabernet Suavignon. A Casa Donoso está focada em potencializar toda a região do Vale do Maule. Por isso nossa camiseta mostra somente o Vale do Maule, estamos há mais de cinco anos trabalhando no Vale do Maule e somos uma das primeiras bodegas boutique do Vale do Maule.
A história vinícola do Chile é relativamente recente. Que rumos você vê o país tomando?
E quais são os projetos mais interessantes da Casa Donoso neste momento?
Temos no momento uma linha que está saindo de nossas linhas clássicas, que se chama Sucessor. São dois vinhos, um à base de Carignan e outro à base de Carménère. É uma linha que ressalta o clássico 18 | revista evino
Vivemos uma época de mudanças. Estamos saindo daquele clássico que pertencia ao Chile, que era Cabernet Suavignon e Carménère, e hoje em dia estamos com uma coisa mais distinta, uma coisa mais artesanal e cepas diferentes como Carignan, País. Mudamos o setor do mercado, as pessoas gostam de tinto. Hoje possuímos vinhos amigáveis. Então, a mudança de qualidade de vinhos, estratégias de vinhos, foram para nós muito boas porque passamos a ser o número um em vendas no Brasil. O consumidor brasileiro também entendeu a mudança. Você tem um mentor, um ídolo, uma referência forte na sua vida pessoal e profissional?
Sim, no Chile temos grandes enólogos, Mario Geisse, Pablo Morandé... São muitos enólogos
que sabem muito sobre o Chile, e são mentores de bons vinhos. Não posso escolher apenas um. O que você busca nos seus vinhos?
Busco vinhos com muito caráter, e que não sejam apenas bons para os enólogos, mas também para todas as pessoas, mesmo sendo muito difícil agradar a todos. Pretende pelo menos alcançar 80% de aprovação das pessoas. Possuímos uma linha de vinhos que não é tão agressiva como antigamente, e usamos carvalhos que foram usados mais de quatro vezes. E o carvalho para nós é mais uma forma de misturar a madeira no vinho. Não fazemos vinhos mais fortes para homens ou vinhos mais suaves para mulheres, nossos vinhos têm estilo. São basicamente vinhos com caráter e com influência de terroir 100%, pois só plantamos no Maule, somos a primeira vinícola que atua em todo o Vale do Maule. Então nos diferenciamos por sermos os primeiros, por termos um vinho com terroir e possuímos muita paixão por estar no Vale do Maule.
Vivemos uma época de mudanças. Estamos saindo daquele clássico que pertencia ao Chile, que era Cabernet Suavignon e Carménère, e hoje em dia estamos com uma coisa mais distinta, uma coisa mais artesanal e cepas diferentes como Carignan” revista evino | 19
LARES DO VINHO
Jessica Marinzeck
URUGUAIOS COM
ALMA ITALIANA A vinícola Antigua Bodega Stagnari preserva não só o meio ambiente, mas também as tradições locais, produzindo vinhos surpreendentes com a uva Tannat
O
s italianos imigrantes que se instalaram nas regiões temperadas da América do Sul trouxeram na mala não somente a vontade de uma vida nova, mas toda a sua cultura gastronômica e o conhecimento na produção de vinhos. Foram eles que deram o pontapé inicial no cultivo da vinha e posteriormente na fermentação da uva no Brasil, na Argentina e no Uruguai. E é do Uruguai a vinícola escolhida para ilustrar esta nossa seção “Lares do Vinho”. Mas essa escolha não foi à toa. Da Antigua Bodega Stagnari veio nossa primeira importação do país de Mujica, e estamos muito orgulhosos com o produto que escolhemos. A vinícola está hoje em sua quinta e sexta gerações (e caminhando para a sétima, já que logo haverá um bebê na família). Mas a história toda começa em 1898, com a chegada a Montevidéu de Pablo Stagnari Casari, italiano nascido em Loreto, região central da Itália. Ainda em seu país de origem, Pablo aprendeu com o pai, Vicente Stagnari, o cul-
tivo da vinha e as técnicas de vinificação. Esse conhecimento foi colocado em prática quando Pablo pisou em terras sul-americanas. A região onde a vinícola está localizada é a famosa Canelones, a alguns minutos de distância da capital. É lá que boa parte dos vinhedos uruguaios também se encontra. O local é, em sua maior parte, plano, com elevação média de 25 m a 50 m acima do mar. O clima é tipicamente marítimo, as variações entre inverno e verão, pequenas, e o período de maturação das uvas, longo. É em Canelones também que são encontradas as maiores plantações mundiais da casta tinta Tannat. Esta é uma uva de origem francesa, comumente encontrada na região de Madiran, no sudoeste do país europeu. PINK GRANITE
A maioria das vinícolas próximas a Montevidéu reside sobre solos argilosos, enquanto os vinhedos da Antigua Bodega Stagnari estão localizados em solos conhecidos como “granito de la Paz” ou pink
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granite. Esse solo tem uma idade média de 500 a 600 milhões de anos e é também encontrado em regiões como Beaujolais, na França. Tipicamente com pouca fertilidade e boa drenagem (fatores essenciais para a obtenção de uvas de qualidade), o pink granite ainda pode contribuir com acidez para os vinhos. Além das vinhas estarem situadas numa região privilegiada, a preocupação com uma vitivinicultura sustentável é um dos mandamentos da casa. E esse parece ser um levante local: em um relatório americano publicado no Fórum Econômico Mundial de 2004, o Uruguai se destacou como o terceiro país mais ambientalmente sustentável no mundo, depois de Finlândia e Noruega. Toda a coleta das uvas na Antigua Bodega Stagnari é realizada à mão entre fevereiro e abril. Depois, as uvas são selecionadas e aquelas que não são consideradas de boa qualidade acabam descartadas. A fermentação acontece separadamente por parcelas, e cada levedura é inoculada e usada de acordo com a característica de cada uva. A intenção é sempre interferir o mínimo possível no resultado final. É claro que o foco na produção da Antigua Bodega Stagnari é a casta Tannat, e 60% dos seus vinhedos são dedicados a essa uva. Mas podemos também encontrar por lá: Sangiovese, Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Syrah, Chardonnay e Sauvignon Blanc. Destaque para a qualidade do Sauvignon Blanc, que tem se mostrado fresco e agradável a cada safra. Aliás, diferentemente de muitos países do Novo Mundo (Austrália, Chile e Argentina, por exemplo), que dependem de irrigação para manterem suas vinhas vivas, o Uruguai está muito mais suscetível às intempéries do clima. Por conta da relativa alta pluviosidade e da proximidade com o oceano, o ambiente em muitas das regiões uruguaias é bastante comparado ao de Bordeaux, por exemplo. VINHOS PREMIADOS
Tanto esmero e dedicação para um resultado final impecável fez com que a Antigua Bodega Stagnari 22 | revista evino
tivesse seu trabalho reconhecido por meio de alguns prêmios, como por exemplo uma medalha de prata para o vinho Del Pedregal Tannat Merlot 2011, no Concurso Tannat al Mundo em 2013. No mesmo ano, o rótulo Prima Donna Tannat 2011 recebeu uma medalha de ouro no Selections Mondiales des Vins Canada. A lista de prêmios é longa, e esses são apenas dois casos de sucesso. Nada disso teria acontecido se não fossem as mãos e as cabeças por trás de cada um dos processos dentro da propriedade. Afinal, falamos de uma vinícola familiar – como boa parte das bodegas uruguaias –, e isso implica num afeto diferenciado no momento da produção. Não é difícil encontrar Vírginia, quem hoje administra o local, ou sua filha Mariana, uma das enólogas, perambulando pelos armazéns e atentas a todos os detalhes. A paixão na fala de todos eles e a dedicação com que realizam seu trabalho estão expressas na qualidade de seus vinhos e no resultado das vendas. A Antigua Bodega Stagnari está presente em países como Espanha, China, Peru, Colômbia e Brasil, mesmo encontrando algumas barreiras. É como explica o gerente de Exportação da vinícola, Fabian Houjeije: “Às vezes, as pessoas nem sabem onde fica o Uruguai, que somos um país ou que se produz vinho por aqui. Antes de iniciar uma venda, é preciso também educar o comprador”. Se, por acaso, você conhecer alguém que já tenha visitado a Antigua Bodega Stagnari, não ouvirá outra coisa a não ser elogios. Promessa! Serão não somente louvações à qualidade dos vinhos, mas também ao modo como todos ali recebem seus visitantes: sempre de forma acolhedora e amável. Dizem que é no detalhe que somos pegos, e de fato essa frase tem muita relevância. O diferencial da Antigua Bodega Stagnari é que o detalhe não é um esforço diário, mas uma prática enraizada desde as vinhas até os corações de quem por lá passa.
O foco na produção é a Tannat: 60% dos vinhedos são dedicados a essa uva
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EM ROTA
Raphael Pugliesi
AOS Pร S DA CORDILHEIRA Os encantos dos vales entre o Chile e a Argentina que inspiram poetas e enรณlogos
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RAPHAEL PUGLIESI
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RAPHAEL PUGLIESI FOTOS: DIVULGAÇÃO
Viña Los Vascos: pedido de visitação com antecedência
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aisagens inesquecíveis, culinária autêntica, clima temperado e uma consistente viticultura. Por muito tempo, o brasileiro acreditou que o único lugar do mundo capaz de oferecer tudo isso era a Europa. Porém, os ventos mudaram de direção e, desta vez, apontam para o sudoeste do continente sul-americano, onde fica uma cordilheira com características inimitáveis: os Andes, a maior cadeia montanhosa do mundo. Não bastasse o cenário bucólico da região Santiago-Mendoza, a sensação de estarmos sendo abraçados pela cordilheira enquanto temos em mãos taças cheias de sua essência torna a visita ao local ainda mais poética.
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“O vinho move a primavera cresce como uma planta de alegria caem muros, penhascos, se fecham os abismos, nasce o canto.” (Ode ao Vinho - NERUDA, Pablo)
É de grandes poetas que lembramos quando, já na estrada, assistimos à transformação do agito da capital chilena nos vinhedos do Vale do Maipo. Não são necessários muitos quilômetros para que todo aquele concreto – ainda que bastante charmoso – dê lugar a uma vizinhança de solos ricos de história, e vinícolas cheias de talento. Um dos
Estatuetas fazem menção aos Chemamules
Foi daí que surgiu o projeto Aliwen (algo sagrado, em português). A promessa é ajudar a floresta da Patagônia a cada rótulo Aliwen vendido.
Undurraga é uma das mais antigas vinícolas do Chile
destinos mais procurados nesse percurso é a Viña Undurraga, que recebe, em média, 100 visitantes por dia. É claro que 50% desses turistas são brasileiros, que, como crianças, animam-se sempre com um novo brinquedo ou descoberta. Fundada em 1885, a Undurraga é uma das vinícolas mais antigas do Chile, com cerca de 1.800 hectares de vinhedos espalhados por diversas regiões do país, como Vale do Maipo, Vale do Colchágua e San Antonio. Então, não é de se estranhar que seja uma grande anfitriã, cheia de histórias para contar e brindes para propor. Além disso, a caminhada por seus vinhedos revela muito sobre o folclore da região.Várias estatuetas fazem menção aos Chemamules, responsáveis pela preservação da natureza.
Em contraste com o solo rochoso do Vale do Maipo, em pouco mais de duas horas de estrada, mais ao norte é possível encontrar o Vale do Leyda. Já extremamente rural e bem mais escassa no que diz respeito ao turismo, a região possui algumas das vinhas mais antigas do país, com até 70 anos de idade. Parte delas habita os campos da Viña Los Vascos, cujas portas estão abertas apenas para convidados e clientes que fazem um pedido de visitação com bastante antecedência. Isso porque não há hotéis por perto, e ela precisa ceder seus luxuosos cômodos, construídos e decorados nos moldes da França do século XIX. Aliás, a influência francesa não se detém somente à sua arquitetura, afinal a vinícola é uma propriedade da lendária família Rothschild. Com uma pluralidade de estilos garantida por seus 12 diferentes tipos de solo, a propriedade entre as mais visadas pela crítica mundial. Se existe uma unanimidade entre seus visitantes, ela está na percepção do equilíbrio entre a elegância francesa e a ousadia inata ao terroir dos Andes. Depois de conhecer a proposta única da Viña Los Vascos – e talvez trocar algumas reflexões acerca da vida e da obra Desiderata (Max Ehrmann) com Claudio, o diretor da companhia – qualquer alma se sente pronta para cruzar os Andes novamente, seja pelo céu ou pelas cinco horas de estrada que separam Santiago da capital vinícola argentina. revista evino | 27
Achaval Ferrer: banquete ao ar livre e degustação de vinhos
O lirismo chileno vai se transformando, a cada quilômetro, em uma eterna nostalgia. Em uma saudade do que nem se foi. Numa falta daquilo que nem imaginávamos que existia. Mas, como em tudo na vida, o tempo traz algo novo. E ele trouxe Mendoza. TERRA DA MALBEC
Do outro lado da Cordilheira, os solos hermanos vangloriam-se pela uva Malbec. Seja nas vinhas, nas lojas ou nos restaurantes argentinos, a cepa protagoniza a novela do amor local pela viticultura. Definitivamente, a Malbec reina sobre Mendoza. Até mesmo as fontes do centro da cidade trocam sua água cristalina por algo que mais parece um vinho tinto. O comércio não se cansa de 28 | revista evino
mencionar vinho, incentivar vinho e até personalizar vinho – sim, não é difícil encontrar lojas que escrevem nomes em rótulos para presente. E isso não é de se estranhar, afinal ela é responsável por cerca de 80% da produção vinícola do país. Porém, engana-se quem pensa que ela é uma coisa só, dona de um tipo só de vinho. Mendoza possui sub-regiões que podem ter desde 650 até 1.700 metros de altitude. Logo, é impossível dizer que todos os seus rótulos possuem as mesmas características. O mais interessante nisso tudo é que a quantidade de vinícolas preparadas para a visitação é bem grande, o que permite a melhor compreensão acerca dos métodos de vinificação e da pluralidade da viticultura hermana.
No sentido horário, pôr do sol em Mendoza, uva Malbec e vinhedos da Achaval Ferrer
Um bom lugar para conhecer é a Achaval Ferrer, que, apesar de ter sido fundada em 1998, possui uma reputação invejável no cenário vinícola. Aos que têm o prazer de conhecer as modernas, porém bem familiares, acomodações da Achaval em Luján de Cuyo, não restam dúvidas de que eles sabem muito bem o que estão fazendo. Além de garantir um banquete ao ar livre, durante a visitação é possível degustar o vinho em suas diferentes etapas de produção: antes, durante e após a fermentação; antes, durante e após o envelhecimento em barricas. Com uma produção bem reduzida, fica nítido o olhar de seus produtores para a qualidade da bebida. Aliás, o que não faltam são provas de tal qualidade, pois nenhum rótulo produzido por eles deixou de receber pelo menos 90 pontos em alguma grande publicação da crítica mundial. Em contrapartida, ainda em Luján de Cuyo, a vinícola Doña Paula abre um leque de possibilidades aos turistas. Seu time de marketing não deixa ninguém
sair de lá com curiosidades, e garante uma visita completa, que se estende desde seus vinhedos com 1.050 metros de altitude até os mais requisitados, em Tupungato, localizados a 1.300 metros acima do nível do mar. Essa é a chance de poupar seus sapatos e topar um passeio a cavalo pelos vinhedos. Essa é a chance de deixar de lado, por alguns minutos, as preocupações da cidade grande e, enfim, degustar a experiência completa da capital do vinho argentino. Jantares harmonizados fazem parte do roteiro. Neles, vinhos Sauvignon Blanc e blends protagonizados pela Malbec brilham ao lado dos pratos típicos da culinária andina. Empanadas de tudo quanto é cor e sabor, carnes vermelhas e de caça levemente apimentadas e frutos do mar deliciosos recheiam o cardápio. No mais, não restam dúvidas. Acima de qualquer experiência enogastronômica, os Andes surpreendem em muito mais aspectos do que no paladar. Seus cenários bucólicos e povo anfitrião provam que é a vida que imita a arte. revista evino | 29
COMES SE BEBES
Para ESQUENTAR sua TARDE Duas receitas suculentas para o friozinho do almoço de sábado, uma do Tordesilhas e outra do Restaurante Vino!
Medaglione di filetto al Pepe verde accompagna la pasta fatto a mano crema di Parmegiano Ingredientes
Fábio Denardi, chef do restaurante Vino!
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820 g de filé medalhão 120 g de fettuccine fresco 50 g de creme de leite fresco 5 g de manteiga 3 g de sal
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3 g de pimenta preta moída 1 kg de farinha de trigo 15 ovos 5 g de sal
Modo de Preparo
Grelhar o filé em frigideira até ficar dourado. Para chegar ao ponto desejado, levar ao forno em alta temperatura. Aqueça o creme de leite fresco, entre com a manteiga, o sal, a pimenta. Incorporar a massa ao molho já pronto.
A harmonização
Edgar Oliveira, sommelier do Vino! 30 | revista evino
O Marques de Altillo Rioja é um vinho de corpo médio na boca e potente, mas com tanino intenso, macio e elegante. Combinação fantástica com a carne e a massa ao molho de parmesão. Ele limpa as papilas gustativas e combina com a leveza do prato.
O vinho
Marques de Altillo Rioja DOCa 2014 Produtor: Marques de Altillo Região: Rioja País: Espanha
Fotos: Luna Garcia/EstĂşdio GastronĂ´mico
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Carne seca, baião de dois e vinagrete de maxixe Ingredientes • • • • •
2 kg de carne seca ½ kg de feijão de corda ½ kg de arroz agulhinha tipo A 300 g de queijo de coalho ½ maço de coentro
• • • • •
250 ml de manteiga de garrafa 1 cebola roxa 6 maxixes 1 limão Salsinha, azeite e sal
Modo de Preparo Carne seca
chef Mara Salles, do Tordesilhas
Dessalgue de véspera a carne seca, deixando-a na água (na geladeira) de um dia para o outro. Cozinhe por 4 horas em três águas (descarte as duas primeiras) para tirar bem o sal. Corte a carne em lâminas ou cubos e salteie em manteiga de garrafa. Baião de dois
Cozinhe o feijão com pele de bacon (ou pé de porco), folha de louro e raiz de coentro; tempere com o alho puxado na banha de porco. Cozinhe o arroz à parte de maneira tradicional. Misture o arroz, o feijão, o queijo e, por último, o coentro. Vinagrete de maxixe
Corte os maxixes em lâminas finas. Corte as cebolas em meia-lua. Tempere com sal, limão, azeite e acrescente folhas de salsinha. Sommelier Agilson Gavioli, membro da Confraria Taninos no Tucupi, que se reúne no Restaurante Tordesilhas
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A harmonização
A harmonização com a carne seca, que tem a presença da manteiga de garrafa em seu preparo, revela um perfil aromático do vinho bem interessante e característico. O preparo elaborado do prato, que tem uma suculência bem presente, proporciona que os finos taninos do vinho teçam uma trama de sensações que é percebida pelo paladar como algo saboroso e equilibrado. As cebolas caramelizadas que acompanham o prato evidenciam o lado aromático e gustativo do vinho repleto de frutas maduras, compotas e doces, além de trazer vivacidade ao conjunto devido a sua acidez, que complementa de maneira bastante harmoniosa as sensações de boca, finalizando com elegância e deixando uma gostosa sensação no paladar. Uma experiência deliciosa!
O vinho
Piantaferro Primitivo di Puglia 2014 Produtor: Piantaferro Região: Puglia País: Itália
Foto: Luna Garcia/EstĂşdio GastronĂ´mico
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VINIFIQUE-SE
Larissa Mayra
OS BENEFÍCIOS DO VINHO À SAÚDE Afinal, por que esta inebriante bebida faz tão bem ao corpo e à mente?
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E
stamos na estação mais fria do ano e, como não poderia ser diferente, nem o cobertor, tampouco o aquecedor, são os responsáveis por esquentar nossas extremidades em dias gelados. Na verdade, é o vinho, e seu organismo agradece – e vai continuar agradecendo, ao que tudo indica. O interesse pelo universo vinícola tem aumentado ano após ano. Lideram o ranking de países que mais consumiram a bebida no ano passado, segundo a Organização Internacional da Vinha e do Vinho, os Estados Unidos, seguidos por França, Itália, Alemanha e China. Embora ainda esteja um pouco distante das grandes potências mundiais, o Brasil aparece na 15ª colocação e mostra que o vinho está caindo no gosto de sua população.
DESDE OS PRIMÓRDIOS
Essa pode ser considerada uma boa notícia, uma vez que, além do óbvio prazer inerente à degustação, o consumo moderado da bebida ainda pode trazer inúmeros benefícios à saúde. Sim, há séculos, Hipócrates, considerado “pai da medicina” e também uma das personalidades mais importantes da história da literatura medicinal, já conhecia os benefícios do vinho ao utilizá-lo como remédio. Hoje, a rotina de se apreciar uma taça por dia é recomendada (e adotada) por médicos de todo o mundo, uma vez que rende bons frutos ao corpo e também à mente. Ricas em nutrientes e substâncias benéficas, as uvas utilizadas na vinificação possuem flavonoides, que são compostos químicos com propriedade antioxidante. Isto é: eles são responsáveis por proteger o organismo da
ação dos famigerados radicais livres e, assim, desintoxicá-lo para melhor aproveitar seus nutrientes. Com suas particularidades únicas, o vinho ainda atua como protetor solar natural. Impedindo que reações indesejadas ocasionadas pelo sol ocorram na pele, seu consumo ajuda tanto na prevenção do câncer como, também, no combate ao envelhecimento precoce. Além disso, graças ao resveratrol, um polifenol encontrado nas sementes das uvas, o vinho tem potencial para (1) queimar calorias, (2) aumentar o condicionamento físico, (3) auxiliar no rejuvenescimento, (4) combater inflamações, (5) prevenir alguns tipos de câncer e – ufa! – (6) melhorar a saúde do coração.Vale lembrar que a ingestão da bebida ainda ajuda no fortalecimento dos ossos, prevenindo a osteoporose; no tratamento contra algumas doenças cardiovasculares e neurodegenerativas, como o Alzheimer; e na diminuição da circulação de glicose e triglicérides no sangue, protegendo o corpo contra o diabetes. Ao melhorar a circulação sanguínea, já que o álcool é um ótimo vasodilatador, degustar um vinho também estimula a memória. Na prática, não é exatamente um remédio, como considerava Hipócrates, mas, sim, um poderoso aliado na prevenção de diferentes males. Pois bem, motivos não faltam para que você vá agora mesmo até sua adega, abra uma garrafa e aprecie bem o líquido dentro dela. Só não se esqueça de que cada corpo é único e, portanto, reage de forma particular após a ingestão de uma, duas, três ou quatro taças de vinho. Ou seja, divirta-se, mas com moderação.
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TERROIRS
Luciana Ferreira
Permita-se degustar a
Bulgária Onde os Balcãs se unem ao Mar Negro, e a história anda de mãos dadas com a vitivinicultura
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Catedral de St. Alexander Nevsky
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oderíamos estar em qualquer época do ano, e os tintos continuariam a ser unanimidade entre os brasileiros. Ainda que as proporções do país impeçam o frio de se instalar em todas as regiões, no inverno cresce a busca dos brasileiros por vinhos mais vigorosos como os bordaleses, os blends lusitanos e os Malbecs argentinos. E não poderia haver melhor momento para apresentarmos a você um país que vem impressionando com a potência de seus rótulos, a Bulgária. A Bulgária escreveu algumas das primeiras páginas da história vitivinícola mundial. Tudo começou com o povo trácio, que cultuava o deus do vinho, Dionísio, e cultivou as primeiras vinhas dos Balcãs. Entre 1393 e 1878, porém, o território passou por um período de estagnação durante a ocupação pelo Império Otomano, cuja religião proibia o consumo de bebidas alcoólicas. Importante fornecedor de vinhos para os membros da União Soviética, especialmente na década de 1980, e separado da Romênia pelo rio Danúbio, o país seguiu na direção oposta à da nação vizinha após a dissolução do regime comunista. Enquanto os produtores romenos contaram com investimentos estrangeiros expressivos e ganharam visibilidade no mercado externo, os búlgaros consideravam fundamental que o recomeço fosse feito com as próprias mãos, então foram deixados um pouco para trás. Mas não por muito tempo.
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EXEMPLARES ROBUSTOS
Talvez como uma dádiva tardia de Dionísio para os trácios, no final dos anos 1990, a vitivinicultura búlgara começa a ser mais notada no cenário vinícola internacional com seus exemplares mais robustos feitos a partir das uvas Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah, e também com rótulos das castas tintas balcânicas Mavrud e Melnik, bastante tânicas e de coloração forte. No leste, as brancas roubam a cena. Lá, variedades como Dimiat e Muscat Ottonel desenvolvem todo seu potencial. Já no famoso Vale das Rosas, localizado no centro do país, quem mais se destaca é a Misket Cherven, que tem casca rosada e grande resistência ao frio. Com estações bem definidas, o país tem uma geografia que favorece a existência de diversos terroirs. No leste, a presença do Mar Morto tem efeito moderador sobre o clima, enquanto no norte as
influências mais relevantes vêm do rio Danúbio. A Bulgária é atravessada de oeste a leste pela Cordilheira dos Balcãs, que tem seu ponto mais alto na montanha de Musala. Este é, aliás, um dos melhores lugares para apreciar a paisagem belíssima, cheia de verde em épocas de temperaturas amenas e coberta de neve durante os períodos mais frios. Nas planícies da Trácia, região do sudeste que compreende também a fronteira com a Turquia e a Grécia, estão vários dos principais produtores do país, alguns deles mais jovens, com espírito inovador, outros mais tradicionais e já consagrados, como a Stambolovo Winery, que ultrapassou os 80 anos de existência. Independentemente da idade, as vinícolas têm conquistado a admiração da crítica especializada e conquistado o paladar dos consumidores, mesmo chegando a outros países em pequenas quantidades.
A cultura local é uma joia que foi lapidada com o passar dos séculos, somando os traços de cada geração. Os búlgaros parecem sempre exaltar o que sua história, natureza e seus antepassados deixaram de herança, seja por meio das danças típicas ou de sua culinária inconfundível, que traz as carnes, sempre muito saborosas, como os pilares dos pratos clássicos. Outros itens que dão sustentação à sua identidade gastronômica são os temperos que tornam as receitas ideais para os vinhos intensos do país. A Kebapche, por exemplo, é um bolinho de carne comprido e bastante condimentado que combina muito bem com tintos de personalidade picante, como os da uva Syrah. Com um caráter que beira o excêntrico, os vinhos búlgaros são difíceis de comparar com rótulos de outros países. O que se pode afirmar é que eles só precisam de uma chance para arrebatar seu paladar. revista evino | 39
ENQUANTO ISSO, NA EVINO…
Deixe as taças para as mulheres De vinho nossas sommelières cuidam
T
rês sommelières, diferentes vivências, repertórios agregados. Entre uma artista visual com mais de 40 carimbos diferentes no passaporte, uma fã de cinema espanhol eleita a melhor sommelière do Brasil e uma expert em destilados, charutos e, claro, vinhos... nossa equipe especializada não está nada mal. Dedicadas a garimpar bons rótulos e garantir os melhores negócios, são elas as culpadas pelos momentos divertidos que você passa com nossos vinhos. Conheça as mulheres boas de taça da Evino. JESSICA MARINZECK
“Poucos sabem, mas minha trajetória profissional começa numa faculdade de Artes Visuais. Já naquela época, em 2005, o interesse por vinhos existia, e o dito cujo já marcava presença na minha vida em algumas ocasiões por meio dos chilenos simples e de outros mais acessíveis. A vontade de conhecer o mundo me levou aos céus – literalmente – quando me tornei comissária de bordo da Emirates e fui morar em Dubai. Aproveitei a chance e as incontáveis viagens para visitar algumas regiões da Austrália, África do Sul e outros países com forte cultura vinícola. Assim, a paixão pelo tema, crescente a cada experiência no universo, me levou a largar os ares para morar na Europa, estudar e me dedicar de vez aos vinhos. Lá trabalhei como sommelière e gerente de Vendas B2B em uma importadora, fiz cursos em Londres e tratei de enriquecer meu repertório. Hoje estudo o diploma da WSET e estou na estrada para me tornar Master Sommelier. Na Evino, sou Head Sommelière e Head of Global Sourcing, e estou há quase dois anos conciliando (e somando) vivências de trabalho e aspirações pessoais” 40 | revista evino
Na Evino, estou há quase dois anos conciliando (e somando) vivências de trabalho e aspirações pessoais
ANDREA GODOY
“Há mais ou menos sete anos, começava a me relacionar com vinhos. Cursava Relações Internacionais e, para pagar a faculdade, passei a trabalhar numa grande importadora, onde conheci mais do mercado, de suas pessoas e, é claro, dos detalhes que compõem a bebida. Na época, achava que todos os aromas do vinho eram colocados separadamente, como numa receita e, conforme fazia novas descobertas, me deslumbrava mais e mais com esse universo. Acabei me formando, mas a paixão pelo vinho não me largou. Estava fadada a seguir com ele! Então continuei na área, fiz cursos com grandes nomes do mercado durante dois anos e não pensei em outra profissão. Hoje sommelière formada, conquistei bons diplomas, como o de Vinhos WSET 3 e Destilados WSET 1, me aventuro no mundo dos charutos, com certificado por Cesar Adames, e proponho tratar de cultura enogastronômica de forma descomplicada no meu blog, o Diário do Vinho. Como gerente de Vendas do departamento Evino Expert, procuro atender a meus clientes da maneira mais imparcial possível, indicando cada rótulo em sua verdadeira essência. Para mim, o vinho é como a vida e a dança: é preciso sentir em todos os detalhes”
Para mim, o vinho é como a vida e a dança: é preciso sentir em todos os detalhes
JÔ BARROS
No Brasil, tive a honra de trabalhar com alguns dos maiores nomes da cozinha, como Alex Atala e Bel Coelho
“Hoje sou Head of Local Sourcing e Sommelière na Evino, mas minha história com o vinho e a boa gastronomia vem de 2003. Comecei como sommelière a bordo de um navio de cruzeiros e lá fiquei durante cinco anos, viajando mundo afora, conhecendo vinícolas e colecionando as melhores experiências da minha vida. Aprender sobre vinhos com produtores locais, ouvir suas histórias e acompanhar seus métodos foi, definitivamente, minha melhor escola. Já aqui no Brasil, tive a honra de trabalhar com alguns dos maiores nomes da cozinha brasileira, como o chef Alex Atala, quando atuei nos restaurantes D.O.M. e Dalva e Dito, e a chef Bel Coelho, enquanto trabalhei no restaurante Dui. Foi nessa época, em 2011, que fui eleita Melhor Sommelière do Brasil pela revista Prazeres da Mesa. Desnecessário dizer que sou apaixonada pelo vinho, mas minhas paixões vão além. Adoro cozinhar e testar novas receitas, sou grande fã do diretor de cinema espanhol Pedro Almodóvar (tenho a coleção completa dos filmes) e, nos últimos meses, tenho nutrido um grande fascínio pelo hábito de correr” revista evino | 41
O FAVORITO
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SOBRE BRUTS, BORBULHAS
E BRIOCHES Nicolas Feuillatte é a marca número 1 de Champagne na França e agora chega à Evino. Se depender de nós, ela pode começar a ser nº1 no Brasil também
S
abemos que o que não pode faltar em adega nenhuma no inverno são bons tintos. Que os Malbecs, Tempranillos e Syrahs por aí são excelentes companheiros para os dias gelados. Que a estrutura tânica dos encorpados ajuda o álcool na tarefa de esquentar o corpo, e tudo mais. Porém, queremos que saiba também: se o vinho tinto aquece as extremidades, um bom Champagne é capaz de aquecer os ânimos, a vida. CHAMPAGNE NICOLAS FEUILLATTE · Espumante branco · França · Champagne · Várias uvas
Nicolas Feuillatte Queijos de média cura, culinária asiática e sobremesas com cremes
Dois anos em garrafa
8°C 2020
Nicolas Feuillatte, ao ser pronunciado em qualquer ruela próxima às margens do Rio Sena, ressoa emoldurado pelos conceitos de tradição, excelência e presença. Quatro fatos sobre ele: - Teve mais de 10 milhões de garrafas vendidas em 2014; - Está presente nas prateleiras ao redor do mundo, em mais de 90 países; - É a marca nº1 de Champagne na França; - É a marca nº3 de Champagne no mundo.* Cerca de 1.000 garrafas com um líquido efervescente, aromas de brioche, mel e flores brancas, e borbulhas cremosas e extravagantes atracaram no Brasil em maio. Elas são fruto de um trabalho obstinado de negociação, de uma vontade antiga de levar um dos terroirs mais célebres da história vitivinícola mundial à sua taça. Conheça em:www.evino.com.br/champagne-o-favorito
12% Amarelo pálido com borbulhas muito finas e delicadas, dispostas em fio. Buquê intenso e exuberante, com notas de brioche, flores e frutas brancas, mel e frutas cítricas cristalizadas Delicado, fino e amplo, com textura cremosa, perlage envolvente, belo frescor e sabor intensamente frutado.
*Shanken’s Impact Newsletter 06/2015
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PARA BRINDAR 1
TAVERNELLO SPUMANTE WHITE SPARKLING WINE Espumante branco · Itália · Emilia-Romagna ·Trebbiano
Aconchegue-se
Bem-vindo, inverno. Sabemos que sua visita não levará muito tempo, mas sinta-se em casa. Tire os sapatos, tire do armário um cobertor, estenda as pernas no sofá. Pode convidar amigos para brindar às madrugadas geladas. Não se acanhe, pode cozinhar a massa, caprichar no risoto, escolher os queijos da noite. A adega é sua também. Pode abri-la e deliciar-se com a escolha entre um Negroamaro di Puglia, um Syrah chileno ou um bom e velho Bordeaux. Fique à vontade. Temos certeza de que será uma companhia ótima nos próximos meses, e que teremos inúmeras desculpas para abrir muitas garrafas. Seja bem-vindo, inverno.
Apresenta aromas ricos de pera, maçãverde e pêssego. É sedoso e frutado no paladar, fresco e com perlage persistente.
Caviro Canapés Não há 9°C 2016
evino.com.br/tave
1
Legenda Produtor Harmonização
7
Envelhecimento
Temperatura
Consumir até
Fotos: Jussara Martins
7
VIEILLE CAVE ·Tinto · Europa · Várias regiões · Várias uvas
Confira estes e outros vinhos em WWW.EVINO.COM.BR
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Fiée des Lois
Queijos macios Não há 15°C 2016
Revela aromas pronunciados de frutas vermelhas. No paladar, é descomplicado, fresco e versátil. evino.com.br/vica
2
3
PIENOSUD ROSATO PUGLIA 2012
·Tinto · Europa · Várias regiões · Várias uvas
·Rosé · Itália · Puglia · Negroamaro
MGM Mondo del Vino
Frutos do mar
Não há
11°C 2016
ROYALYS CUVÉE RÉSERVÉE
Com aromas de frutas vermelhas e flor de laranjeira, revela sutileza e sabor frutado em boca, proporcionando agradável frescor.
Advini Alcatra assada Não há 15°C 2016
evino.com.br/pien
Mostra profusão de frutas vermelhas, destacando amoras, ameixas e framboesas. Em boca, tem corpo médio e taninos redondos. evino.com.br/cure
2 4
LES VIGNES DU PRINCE PRINCIPAUTÉ D’ORANGE 2014 ·Tinto · França · Provence · Grenache, Syrah, Caladoc e Carignan
3
4
Cellier des Princes
Tábua de queijos curados
Não há
16°C 2017
Traz buquê intenso com destaque para fruta madura, e tem ataque vigoroso e sabor frutado em boca.
6
evino.com.br/lvdp
5 5
TASÀRI NERO D’AVOLA MERLOT 2014 ·Tinto · Itália · Sicília · Nero d’Avola e Merlot
6
BORDEAUX CHÂTEAU LA LANDE 2014 ·Tinto · França · Bordeaux · Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc
Château La Lande
Queijos salgados Não há 16°C 2017
Frutas vermelhas e groselha revelam um vinho limpo, que em boca apresenta bons taninos, boa acidez e duradoura elegância.
Caruso & Minini
Lasanha
Não há
16 °C 2018
Grande variedade de aromas, especialmente alcaçuz e framboesa, com acidez pungente e final elegante. evino.com.br/tnam
evino.com.br/lala
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PARA BRINDAR 1
ALPHA ESTATE SYRAH 2015 ·Tinto · Chile · Vale do Curicó · Syrah
Agroverdi Carré de cordeiro Não há 17°C 2019
1
2
Rubi com reflexos violáceos, traz aromas de frutas negras e especiarias, além de taninos elegantes e notas defumadas em boca. evino.com.br/aesh
2
BODEGA MAULE MERLOT VALE DE CURICÓ D.O. 2015 ·Tinto · Chile · Vale do Curicó · Merlot 3
Agroverdi Canapés com cremes Não há 16°C 2019
4
Revela notas de morango, framboesa e cacau. Em boca é frutado e harmônico, com final persistente. evino.com.br/maul
3
BORDEAUX BATISTE DE VIGNAC 2014
·Tinto · França · Bordeaux · Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc
4
PIANTAFERRO PRIMITIVO DI PUGLIA 2014
Pizza de calabresa
Não há
17ºC 2018
Espaguete à bolonhesa
Grupo Castel
No nariz mostra frutas vermelhas e traços de especiarias. O paladar tem álcool e acidez em equilíbrio, além de taninos redondos. evino.com.br/gnac
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·Tinto · Itália · Puglia · Primitivo
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de calabresa Não há 17°C 2019
É maduro no olfato, com destaque para compota de frutas vermelhas e algo de canela. No paladar, é tânico, intenso e saboroso. evino.com.br/pipp
7
REPÚBLICA DEL VINO MAYOR ESTATE CARMÉNÈRE 2015 · Tinto · Chile · Vale do Curicó · Carménère No nariz é intenso, com toques de frutas vermelhas, avelãs e especiarias. Em boca, tem corpo médio e bom equilíbrio.
Agroverdi
7
Risoto de queijos
Não há
17°C 2019
evino.com.br/repu
SELVA VOLPINA MERLOT UMBRIA 2014
6
· Tinto · Itália · Úmbria · Merlot 6
Alibrianza
Risoto de funghi
Não há
17°C 2018
Os aromas são delicadamente frutados e persistentes. Em boca, é equilibrado e harmônico. evino.com.br/svmu
5
5
PIANTAFERRO NEGROAMARO DI PUGLIA 2014 ·Tinto · Itália · Puglia · Negroamaro
47 Anno Domini
Massa integral com molho de tomate Não há 17°C 2018 Fino, revela geleia de amora e violeta seguidas de notas de café e canela. Com taninos sedosos, oferece persistência prazerosa. evino.com.br/pinp
revista evino | 47
PARA BRINDAR
1
PRINCE 2013 ·Tinto · França · Várias regiões · Grenache, Merlot, Syrah e Carignan
Cellier des Princes
Queijos curados
Não há
15°C 2017
1 2
Caráter bem frutado no olfato e no paladar, em que a acidez se mostra vibrante, e o final, fresco. evino.com.br/prin
2
BELLAMICO AGLIANICO BENEVENTANO 2014 ·Tinto · Itália · Campania · Aglianico
Angelo Rocca & Figli Picanha de cordeiro Não há 17°C 2018
3
4
Aromas de frutas maduras em destaque. Em boca, é encorpado, com taninos firmes e acidez marcante. evino.com.br/babv
3
MAVIDA CABERNET SAUVIGNON 2013
·Tinto · Chile · Vale Central · Cabernet Sauvignon
TerraMater
Churrasco
Não há
16ºC 2018
Buquê complexo de frutas negras e vermelhas, somadas a notas picantes. Tem taninos sedosos e final prazeroso. evino.com.br/mvdc
48 | revista evino
4
MARQUES DE ALTILLO RIOJA DOCA ·Tinto · Espanha · Rioja · Tempranillo
Bodega de la Rioja
Embutidos Não há 17°C 2019
Aromas vigorosos de frutas vermelhas e sutis notas florais. O sabor é fresco e suave, com caráter frutado e retrogosto prolongado. evino.com.br/mdar
CAÑO TEMPRANILLOGARNACHA D.O. TORO 2014
7
·Tinto · Espanha · Toro · Tempranillo e Garnacha
7
Embutidos
Bodega de Toro
Não há
18°C 2019
Possui um bouquet alegre e vívido, com frutas negras. No paladar, é harmonioso, com taninos sutis e boa acidez. evino.com.br/ctgt
6
6
CAMPERO CARMÉNÈRE 2013 ·Tinto · Chile · Vale do Curicó · Carménère Millaman Golden Condor Carnes magras ao molho madeira
Não há
17°C 2017
Olfato interessante, com fruta, toques terrosos e de cacau, bem como notas terciárias de tabaco. É saboroso e aveludado, com bom volume.
5
evino.com.br/caca
5
BARON DE LIRONDEAU WHITE ·Branco · Europa · Várias regiões · Airén
Grupo Castel
Saladas com frutas Não há 9°C 2016
Aromas remetem a frutas de polpa branca como maçãs e peras seguidos de toques florais. Tem sabor frutado e proporciona deliciosa sensação de frescor. evino.com.br/bdlw
revista evino | 49
COM ELE, A PALAVRA...
Vamos beber um vinho? Aproveite as refeições para provar diferentes rótulos e começar a formar seu paladar, seu gosto pessoal Gianni Tartari
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Trabalho com vinho há muito tempo e desde sempre ouço que o consumo de vinho, no Brasil, é muito baixo. Desde sempre, também, tento encontrar soluções para fazer com que o vinho chegue ao maior número de pessoas, criando, assim, a tal cultura do vinho. Já fiz inúmeras palestras nos quatro cantos do país para públicos diversos, um meio que considero muito interessante para criar o interesse e, melhor ainda, a curiosidade a respeito desse vasto universo que é o vinho. Fazendo um comparativo com a Europa, berço da civilização e do vinho, onde o consumo já alcançou números invejáveis, nosso país está a milhões de garrafas de distância. Desconsiderando o fator preço, que é muito importante, ainda mais nesse momento de transição que vivemos, lá é impensável qualquer refeição, mesmo a mais frugal, ser acompanhada por um suco de fruta – e aqui temos várias opções – ou um refrigerante (?) gaseificado. O vinho está sempre presente. Desde um delicioso sanduíche de pão francês – aquela baguette que passeia pelas ruas debaixo dos braços parisienses –, presunto cru, mozzarela de búfala e uma folhinha de rúcula a um belo prato de massa, como um fettuccine all’Alfredo, o acompanhamento natural é o vinho, seja uma taça, um pichet ou uma garrafa inteira. Inúmeras 50 | revista evino
vezes estive na Vinitaly – feira de vinhos italianos, realizada anualmente em Verona, na Itália, há 50 anos – onde, nos corredores próximos aos restaurantes, são servidos sanduíches de pão italiano e mortadella, escoltados por uma taça de vinho frisante, o Lambrusco.
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O que precisamos para alcançar o tão desejado aumento do consumo de vinhos no Brasil é, tão somente, esse pensamento de que o melhor escudeiro para a refeição é o vinho. Podemos deixar os rótulos, preços estratosféricos e filosofias – orgânicos, biodinâmicos, naturais – de lado e escolher o vinho básico, bem feito, simples, sem grandes pretensões de envelhecimento ou de harmonizar perfeitamente com o alimento. Tudo isso afasta o consumidor, pois, para beber uma garrafa, é preciso entender de vinho! Graças aos wine bars, que vêm se multiplicando pelo menos em São Paulo, a oferta de vinhos em taça é o caminho para que consumidor prove um, dois ou três vinhos diferentes e possa começar a formar seu paladar, seu gosto pessoal. Esse deve ser o primeiro passo, o primeiro contato do consumidor com o vinho e, a partir daí, buscar mais informação para descobrir o que mais o agrada em termos de aroma e paladar.
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