Revista de informação ANO VI— Nº 95 OMNI EDITORA
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1 519953 389005
ISSN 1519-9533 OMNIEDITORA
E SP ECIAL EDUCAÇÃO
ENTREVISTA PROFESSOR TEODORO SOARES ARTIGO CRISTOVAM BUARQUE
ÍCONE. NELSON M ANDELA 1918 † 2013
TalkingHeads, 4 Brasil, 34 OnlineTECH, 7 Mandela, 30 Redes, 10 Artigo, 50
A INCLUSÃO PELA EDUCAÇÃO
UMA REPORTAGEM ESPECIAL SOBRE O GRANDE DESAFIO
O presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Ceará deputado Professor Teodoro vem pautando sua atuação parlamentar a favor do aumento dos recursos federais para a educação. A meta: investimentos correspondentes a 10% do PIB. PÁGINA13
Neste artigo Cristovam Buarque afirma que fica impossível imaginar uma sociedade do conhecimento sem centros de pesquisa e sem um amplo sistema universitário com qualidade. PÁGINA20
A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo. NELSON MANDELA
EDITOR&PUBLISHER Luís-Sérgio Santos REDAÇÃO E PUBLICIDADE Omni Editora Associados Ltda. Rua Joaquim Sá, 746 Fones: (85) 3247.6101
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“Para nós brasileiros e para mim, pessoalmente, sua atuação foi além da luta por uma África do Sul livre. Ela ilustrou a luta pela libertação dos seres humanos dos grilhões do racismo e da vingança. “ FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
“A DEMOCRACIA DE VOCÊS É SÓ EM FAVOR DE VOCÊS. A LIBERDADE QUE VOCÊS PREGAM PRA VOCÊS, VOCÊS NÃO PRATICAM PRA NÓS. EU CANSEI, E QUERIA QUE VOCÊS DEIXASSEM O CONDOMÍNIO E FIQUEM LÁ NA PRAÇA. AQUI EU NÃO QUERO MAIS”. ROBERTO JEFFERSON, que denunciou o mensalão, despachando os jornalistas que vigiam todos os seus passos
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PAPA FRANCISCO e suas falas originais
“Pra mim é fundamental a proximidade da Igreja. Porque a Igreja é mãe, e nem você nem eu conhecemos uma mãe por correspondência. A mãe dá carinho, toca, beija, ama. Quando a Igreja, ocupada com mil coisas, se descuida dessa proximidade, se descuida disso e só se comunica com documentos, é como uma mãe que se comunica com seu filho por carta. Não sei se foi isso o que aconteceu no Brasil. Não sei, mas sei que em alguns lugares da Argentina isso aconteceu.” PAPA FRANCISCO, sobre a perda de fiéis pela Igreja Católica
“Não existe corrupção do PT, do PSDB ou do PMDB. Existe corrupção. Não há corrupção melhor ou pior, dos ‘nossos’ ou dos ‘deles’. Não há corrupção do bem. A corrupção é um mal em si e não deve ser politizada.” LUIS ROBERTO BARROSO, ministro
do STF
“DEUS É BRASILEIRO E VOCÊS QUERIAM UM PAPA?” Papa Francisco, no voo para o Brasil, brincando com jornalistas “O futuro exige hoje reabilitar a política, uma das formas mais altas de caridade.” Durante discurso feito à sociedade civil no Theatro Municipal do Rio de Janeiro
“Não é deixando livre o uso das drogas, como se discute em várias partes da América Latina, que se conseguirá reduzir a difusão e a influência da dependência química.” www.revistafale.com.br | DEZEMBRO de 2013 | Fale!
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“HABEMUS PAPAM” (TEMOS PAPA, EM PORTUGUÊS)
“Esse Papa será pelos pobres. Em termos de riqueza e pobreza, eu acho que ele vai surpreender o mundo”, afirma o historiador católico Thomas Cahill.” THOMAS CAHILL, historiador católico, dobre o argentino Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, anunciado no dia 13 de março de 2013
“O fato de ele ter ido para o balcão vestido com uma cruz que não era bordada, e sim uma cruz antiga que ele já usava há tempos, mostra que ele não será um Papa pomposo.” THOMAS CAHILL, historiador católico, dobre o Papa Francisco
“Vocês sabem que o dever do conclave era dar um bispo a Roma e parece que meus irmãos cardeais foram buscá-lo quase no fim do mundo.” PAPA FRANCISCO em sua primeira aparição pública, na sacada da Basílica de São Pedro, na cidade do Caticano
“Não se pode pertencer a essa ordem sem um trabalho intelectual. É uma ordem que cultiva a ciência e a técnica. O caso do papa Francisco ilustra bem esse fato: primeiro, ele se 6 | Fale! | DEZEMBRO de 2013 | www.revistafale.com.br
formou em química, então, sentindo essa adequação com a ordem jesuítica, foi ser um deles. Muitos são médicos, físicos, matemáticos, teólogos, filósofos. Dedicam-se a um diálogo com o mundo científico, tecnológico e político.” ROBERTO ROMANO, professor de ética e filosofia na Unicamp e doutor em filosofia pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, sobre o perfil do novo Papa
“É muito difícil encontrar um jesuíta estrela. Eles são avessos a esse brilhareco tão comum no meio acadêmico.” ROBERTO ROMANO
“Igreja é tecido que se rasga e sempre se recompõe.” MARIEFRANÇOISE BASLEZ, é professora de história da religião na Universidade de Paris-Sorbonne
nline
TECH
PATENTES
Ação contra Face
COMUNICAÇÃO
Câmera policial A empresa Taser, a mesma que fabrica pistolas incapacitantes lançou a filmadora Axon Flex, acoplada a óculos, que produz áudio e vídeo compatível com smartphones como iPhones e outros aparelhos com sistema android. A ideia original é servir o aparato policial já que em alguns países é comum filmar o procedimento de abordagem para dar transparência e evitar versões que não a da polícia. FONTE www.taser.com/flex PRODUTO
Axon Flex
A empresa Rembrandt IP Management anunciou um processo contra o Facebook, alegando que a maior rede social do mundo utiliza indevidamente patentes registradas pelo holandês Joannes Jozef Everardus Van Der Meer, já falecido. As patentes estão associadas à empresa de tecnologia Aduna, criada pelo holandês (também chamado de Jos van der Meer). O processo contra o Facebook foi aberto no estado da Virgínia, EUA. COMPUTAÇÃO
Sinta o jogo O PlayStation Vita é o console portátil da Sony que traduz a tentativa da empresa de liderar o mercado de jogos para equipamentos portáteis, que explodiu com a popularidade de aplicações para smartphones e tablets. O console portátil tátil e com sensores de movimento é considerado o sucessor do PlayStation Portátil. Os jogadores podem se conectar por meio de redes celulares ou redes Wi-Fi, além do produto ser equipado com a tecnologia de GPS. FONTE br.playstation.com/psvita/ PRODUTO
PS Vita
PREÇO
US$ 300
Na América Latina apenas uma em oito pessoas tem acesso à banda larga, um serviço lento e caro na região, revelou o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno. “Estamos ficando para trás nesta corrida”, disse Moreno, ao comentar estatísticas recentes durante a 54ª reunião anual de governadores do BID, realizado no Panamá. “Pagamos caro demais por um serviço ruim de banda larga”.
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+CONTEÚDO
NAS REDES
NOVO G FLEX PHONE
FLEXÍVEL E DOBRÁVEL
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LULA, SARNEY EA IMPRENSA O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu a importância da atuação do senador José Sarney (PMDBAP) na convocação da Assembleia Nacional Constituinte, ao receber a Medalha Ulysses Guimarães durante a solenidade em comemoração aos 25 anos da Constituição de 1988, no Senado em 29 de outubro.
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A LG, fabricante sul-coreana de eletrônicos, revelou oficialmente seu novo telefone G Flex que possui um novo recurso: um revestimento “selfhealing” na tampa traseira. Finalmente um telefone que pode ir para o bolso com as suas chaves, se arranhar, e, como o super-herói mutante Wolverine, retornar para o que era antes. PREÇO Não informado MAIS INFORMAÇÕES www.lgnewsroom.com/newsroom/contents/63988
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“NÃO CONCORDAMOS COM SAQUES E ATAQUES A ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS” ANONYMOUSU O grupo Anonymous RJ é um dos principais promotores dos atos no Rio, criando eventos e divulgando informações, fotos e vídeos sobre os protestos. www.revistafale.com.br/ blog/falebrasilia/
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GOOGLE GLASS
A PRIMEIRA CIRURGIA A primeira cirurgia com Google Glass — retirada do intestino grosso seguindo o método da videolaparoscopia — no Brasil foi realizada pelo médico Miguel Pedroso, da equipe do Instituto Lubeck de Itu. A primeira cirurgia com Google Glass realizada no mundo foi feita em Ohio, Estados Unidos, no mês de agosto.
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EDUCAÇÃO
A INCLUS ATRAVÉS DA
O presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa parlamentar a favor do aumento dos recursos federais para a educa N A S PÁG I N A S S E G U I N T E S O S N Ú M E R O S E A S S U G
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HOJE O BRASIL GASTA 5,5% DO PIB COM EDUCAÇÃO. TEM QUE SE UNIVERSALIZAR A EDUCAÇÃO INFANTIL. NA EDUCAÇÃO BÁSICA, JÁ SE COLOCARAM JOVENS DE 7 A 14 ANOS NA ESCOLA, MAS VOCÊ TEM QUE LEVAR ATÉ O FIM. E O GRANDE PONTO DE ESTRANGULAMENTO É O ENSINO MÉDIO. APENAS METADE DOS ALUNOS FORA DA IDADE CERTA CONSEGUE TERMINAR.
SÃO A EDUCAÇÃO
va do Ceará deputado Professor Teodoro vem pautando sua atuação ação tendo como meta investimentos correspondentes a 10% do PIB G E S T Õ E S PA R A U M A R E VO L U Ç ÃO P E L A E D U C AÇ ÃO www.revistafale.com.br | DEZEMBRO de 2013 | Fale!
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EDUCAÇÃO
O investimento total em educação em todos os níveis de ensino, abrangendo a União, os estados e municípios, passou de 4,8% do PIB em 2001 para 6,1% do PIB em 2011. mas números do relatório de Desenvolvimento Humano 2013, lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) apontam, em 2012, que a escolaridade esperada para as crianças brasileiras é 14,2 anos, o mesmo índice registrado em 2000. “Nesse período, os anos de escolaridade esperados evoluíram de 14,2 para 16,7. Com isso, o Brasil subiria 20 posições no IDH.” Na prática, o aumento do investimento público não teria impactado os indicadores. Mas é fato que resultou não só na ampliação do acesso a todos os níveis de ensino, mas também na melhoria da qualidade, assegugra o Governo. O ministro ministro da Educação, Aloizio Mercadante, critica fato de o relatório registrar apenas 26 mil crianças a partir dos cinco anos na escola. “Hoje nos temos 4,6 milhões. Se o Pnud quiser, nós podemos informar o nome e a escola de cada uma delas”. Os números referentes à média de anos de escolaridade para a população com mais de 25 anos escolaridade, de acordo com Mercadante, também estão desatualizados. O relatório registra 7,2 anos, ante 7,4, na conta do ministro. Nos últimos anos, o acesso à educação no Brasil vem crescendo de forma consistente em todos os níveis de ensino. Destaque FONTE INEP/MEC para a universalização do ensino fundamental (6 a 14 anos), com 98,3%* das crianças nessa faixa etária frequentando a escola em 2011. Mas é preciso investir, qualificar professores, e chegar a 10% do PIB em investimento em Educação, bradam educadores. O Brasil, com uma população em idade escolar de 45.364.276 (2010) tem esta taxa de analfabetismo: na faixa de 10 a 14 anos: 1,9 % e na faixa de 15 ou mais: 8,6 %, segundo o IBGE. A faixa etária de 50 anos ou mais concentra, em 2011, 63,7% dos analfabetos; a faixa de 15 a 19 anos representa 1,6%; e a faixa de 20 a 29 anos, 5,9% dos analfabetos. O senador Cristovam Buarque critica: “Ao não fazer a universalização da educação completa o país tapa poços de conhecimento.” 14 | Fale! | DEZEMBRO de 2013 | www.revistafale.com.br
Professores protestam na Esplanada dos Ministérios por ensino de qualidade e para reivindicar a implantação efetiva do piso salarial do magistério em todo o país, e por 10% do PIB para a Educação FOTO MARCELLO CASAL JR._ABR
BRASIL
milhões nos anos finais.
em rede pública
Número de escolas 194.939 estabelecimentos de ensino básico
Alunos matriculados no ensino básico (2010) 51,5 milhões, sendo que 43,9 milhões estudam nas redes públicas (85,4%) e 7,5 milhões em escolas particulares (14,6%).
Internet 47,4 mil escolas conectadas à Internet por meio do programa ProInfo até setembro de 2010
Alunos matriculados no ensino médio (2010) 8.357.675. A rede estadual é responsável por 85,9% das matrículas, enquanto a rede privada tem 11,8%. Alunos matriculados no ensino fundamental (2010) 31 milhões de alunos, sendo 16,7 milhões nos anos iniciais e 14,2
Alunos matriculados no Ensino Profissional (2010) 1,1 milhão
Acesso à internet no ensino fundamental Cobertura em 39% das escolas de anos iniciais e em 70% das escolas dos anos finais.
Alunos matriculados no Ensino Superior (2009) 5,95 milhões, sendo 4,43 milhões em rede privada e 1,52 milhões
Acesso à internet no ensino médio Cobertura de 94,3% das escolas
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EDUCAÇÃO
UM NOVO OLHAR PARA A EDUCAÇÃO Nesta entrevista com o professor Teodoro Soares, deputado, presidente da Comissão de Educação do parlamento estadual no Ceará, ideias para dar forma real às intenções e projetos políticos para o setor Por Larissa Sousa
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atural de Reriutaba, José Teodoro Soares, o deputado Professor Teodoro (PSD) assume o segundo mandato como presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Ceará. Autor de vários livros sobre Educação, e ex-gestor e reitor de Universidade pública, o Deputado Professor Teodoro continua pautando sua atuação parlamentar em prol da destinação de recursos federais adicionais para a educação. Compete a sua função na Casa cobrar melhorias no sistema educacional, fortalecer a política para a alfabetização na idade certa e fiscalizar as ações do poder público. A seguir a Fale! conversa com o deputado estadual, reitor da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) por 16 anos, sobre as ações na Assembleia, experiências no ensino e expectativas para a educação cearense. Fale! Bom dia, deputado! Para entender melhor o seu posicionamento na Assembleia, qual sua formação acadêmica e profissional? Teodoro Soares. Eu sou do interior de Reriutaba, perto de Sobral. Estudei no Seminário São José, de Sobral, de 1954 a 1959. Naquela época, quem dirigia a diocese de Sobral era Dom José, que é a grande referência da zona Norte. Ele foi considerado o patriarca, tudo que tem em Sobral, pode dizer que foi ele quem fez. Ele está presente em todos os recantos da cidade, porque ele pensou, sobretudo, a educação para os padres, um seminário de referência, um colégio em tempo integral com os padres, muitos deles formados em Roma. Quando ele morreu, eu estava terminando o meu seminário. Aí eu vim para Fortaleza, onde fiz o primeiro ano de Filosofia no Seminário da Prainha. Depois um grupo de 25 seminaristas se reuniu, e nós fomos estudar no recémcriado Seminário de Olinda e Recife. Eu terminei o segundo e o terceiro ano de Filosofia em Olinda. Aí o bispo tinha prometido me mandar para estudar em Roma. Eu fui estudar lá os quatro anos de Teologia. Quando eu terminei, deixei o seminário e fui estudar Ciências Políticas
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em Paris. Onde eu fiz também um curso de Estudos Sociais. Fale! Como o Sr. recebeu o relatório do movimento Todos pela Educação em que se revela a fraqueza do Ensino Médio no Brasil. Apenas 10% dos alunos terminam o curso dominando o conteúdo de Matemática. Em Português, 30% dos estudantes aprendem adequadamente a disciplina. O que o senhor acha desse relatório? Teodoro Soares. O relatório veio de certa forma comprovar algo que nós já sabemos que acontece no país. Eu não sei se é displicência, mas há um medo dos estudantes com relação a essas matérias. E também não tem professor adequado. Ainda temos professores leigos nessas áreas de Matemática, Química, Física, Biologia. Falta professor qualificado para saber ensinar. E tem também esse ponto de estrangulamento em que o aluno começa o curso e não consegue terminar o terceiro ano, porque o currículo deveria ser adequado e atualizado, mas não é. Existe muito “decoreba” quando vai fazer o vestibular. É um adestramento. O aluno passa e depois esquece. As escolas não apelam para o raciocínio, enquanto que outros países já fizeram isso. Existe uma porção de matéria desnecessária. Poderia ter um currículo mais enxuto,
como nos Estamos Unidos. Você aprende e você domina. E isso vai dar condições para que essa pessoa possa aprender. Há uma falha muito grande no que diz respeito à Matemática e ao Português. Em Português há um desleixo, falta seriedade em dar um curso de qualidade. Eu sempre dizia para os estudantes: aqui na universidade [UVA] basta vocês serem bons em Português! Se vocês souberem escrever, vocês vencem na vida. Não é mesmo? Outra falha é que os alunos não lêem! Tem que ler. Só aprende lendo. Um problema também é que a direção das escolas, às vezes, não é capacitada para dirigir. Eles não sabem gerir e não têm qualificação administrativa. Há uma evasão muito grande, professores leigos, sem universalização em todos os níveis. Um bom exemplo é a Alemanha, que não tem mais analfabeto. No Brasil tem analfabeto. Existe ainda 10% ou 20% dependendo da região. Conseguiu-se colocar na escola cerca de 97% dos alunos do primeiro grau, mas quando chega no nível médio, há o ponto de estrangulamento. O governo investiu, mas não melhorou o quanto deveria. Fale! Como foi a experiência da implantação do Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic) em Sobral? Teodoro Soares. Bem, o Paic está sendo usado em todo o estado do Ceará e agora também no Brasil, por conta da ideia que o Cid Gomes teve quando foi prefeito de Sobral em colocar a educação em primeiro lugar. O secretário Ivo Gomes, quando à frente da Secretaria do Desenvolvimento da Educação de Sobral, implantou o Paic. O
O relatório da ONG Todos pela Educação veio comprovar algo que nós já sabemos que acontece no país. Eu não sei se é displicência, mas há um medo dos estudantes com relação a essas matérias. E também não tem professor adequado.
que foi feito lá foi transferido para Fortaleza e cada vez mais estamos vendo que esse é o caminho certo. Foi feito todo um trabalho de capacitação dos professores. Depois de um esforço de três anos, hoje, em Sobral, quando o aluno chega aos sete anos, pelo menos 87 a 90% já sabe ler e escrever. Recentemente a presidente assinou um acordo com o governador Cid Gomes para que este programa [Paic] se transforme num pacto, onde aos oito anos, os alunos aprendam a ler e a escrever. O estado todinho do Ceará adotou a metodologia feita em Sobral. Sobral está na frente de todas as cidades do Nordeste. E no Brasil, está entre as mais avançadas no que diz respeito à educação. Quer dizer, deu educação de qualidade, sobretudo educação básica. Hoje Sobral tem cerca de 14 a 16 mil alunos da universidade. Uma cidade universitária. A educação é
que transforma o homem. Fora da educação, não tem salvação. Você tem que realmente investir cada vez mais. Essa tem sido a luta que eu tenho feito depois que eu saí de lá e vim para cá, de lutar para que o Governo Federal gaste 10% do PIB em educação e transforme o país, gastando fortemente na educação. Fale! Como a experiência de ser reitor da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) por 16 anos (19902006) lhe ajudou a pensar a educação cearense? Teodoro Soares. Fiquei 16 anos na UVA para fazer o seu reconhecimento enquanto universidade e consegui o reconhecimento do governo Ciro Gomes em 1994. O meu projeto foi depois resultado de uma tese: A inclusão pela Educação. Consistia em levar para o interior os cursos que eram dados na capital, ou seja, a interiorização do ensino superior. A conjuntura foi tão boa que o projeto foi um sucesso. A UVA, a arquidiocese de Sobral e o prefeito, nós fizemos um trabalho muito bom na formação de professores. Eu levei a UVA para toda a região Norte. Hoje nós estamos em 140 municípios formando todos os professores, sobretudo profissionais para ensinar nos cursos de Pedagogia. Existiam 50 mil professores leigos, não-capacitados. Então eu bolei uma operação chamada ‘operação-guerra’, envolvendo o conselho de reitores, que eu era o presidente das universidades cearenses, a Uece, a UVA e a URCA com apoio da UFC, que deu grande aporte para que nós pudéssemos levar cursos superiores para Sobral. E então nós fomos criando novos cursos, www.revistafale.com.br | DEZEMBRO de 2013 | Fale!
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EDUCAÇÃO no total de 18. O êxito foi tão grande que os estados pediram para que a gente fizesse a mesma coisa. Então eu levei para outros estados: Maranhão, Pará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Recife, Sergipe, Goiás, Amapá e também alguns cursos de especialização para o Piauí. No meu mandato eu devo ter formado, só aqui no Ceará, em torno de 60 mil professores. Fale! Com relação à aplicação de recursos adicionais na educação, dez por cento do PIB é um valor adequado para se destinar? Teodoro Soares. Pelo menos para poder recuperar. Os deputados estão querendo aprovar os 10%. Hoje o Brasil gasta 5,5% do PIB com educação. Tem que se universalizar a educação infantil. Na educação básica, já se colocaram jovens de 7 a 14 anos na escola, mas você tem que levar até o fim. E o grande ponto de estrangulamento é o ensino médio. Apenas metade dos alunos fora da idade certa consegue terminar. E isso é o problema que saiu recentemente nas estatísticas. O Brasil tem que colocar pelo menos 33% dos jovens de 18 a 24 anos na universidade, quando na realidade hoje, no Primeiro Plano Nacional de Educação, só conseguiu colocar em torno de 13 a 14%. A meta foi relançada para o segundo PNE, para que em 2020, possa se chegar a 33%, para poder aproximarse da Argentina, do Chile. E mais na frente aproximar-se dos países europeus. Esses países já chegaram lá porque investiram na educação. O Brasil tem que investir mais e seriamente enfrentar esse problema do investimento. Tudo 18 | Fale! | DEZEMBRO de 2013 | www.revistafale.com.br
A família é importante para dar o suporte ao aluno mas também para cobrar dos professores que a escola cumpra o seu dever de transmitir um serviço educacional de qualidade.
que você investe na educação vem em dobro. Se você termina a universidade, você vai ter um lugar ao Sol, um lugar satisfatório na sociedade, porque você tem conhecimento. Hoje nós estamos vivendo a Sociedade do Conhecimento. Fale! Quais as linhas da Comissão da Educação? O trabalho é pautado sob quais referências e prioridades? Teodoro Soares. Na Comissão, nós estamos trabalhando e dando continuidade já à integração entre a Comissão da Assembleia com a Comissão da Câmara dos Deputados para aprovação do segundo Plano Nacional de Educação (PNE), que visa colocar 10% do PIB para a educação. Essa luta eu acho que a gente ganha. E também lutamos por alguns temas privilegiados, como a escola em tempo integral.
Eu estudei em uma escola de tempo integral, oito horas por dia. Um expediente só é pouco demais, você não tem condições de aprender. E depois do horário de aula a criança vai para a rua. Existem poucas escolas de tempo integral no Brasil. Mais recentemente eu também estou lutando para que haja mais prática, ou seja, que o sujeito que entre na universidade vá imediatamente fazer um estágio. Porque eu defendo que toda disciplina merece uma prática. Porque tem uma teoria, e essa teoria precisa ser testada na prática. Nós estamos fazendo isso com o projeto Rondon, onde os universitários aprendem e dão dimensão social à escola, quer dizer, inclusão pela educação. Esse estudante vai dar o contributo dele. Tem gente que está em uma situação pior que a dele, nem sabe ler nem escrever. Então temos lutado para que os alunos dêem seu contributo pelo assistencialismo àqueles que estão à margem da margem. Apresentei também projeto de capacitação de pessoas com deficiência, porque tem fundo. As pessoas podem ser mais capacitadas e os recursos não são empregados. Fale! Outra questão também é a profissão professor. Hoje ela não é uma profissão tão atraente. O que o senhor acha que pode ser feito para melhorar a imagem do professor? Teodoro Soares. Primeiro você teria que remunerar bem. Na Finlândia, o sujeito vai atrás de ser professor porque é a profissão mais procurada. É reconhecida pela sociedade. Eu aprovei aqui [na Assembleia] uma Semana Estadual de Valorização do
Educador. Esse profissional tem que ser valorizado, remunerado e reconhecido pela sociedade como a profissão das profissões. Ela que dá a oportunidade da pessoa progredir na vida. Fale! Se o senhor pudesse elencar os fatores que empacam a qualidade do ensino brasileiro, qual ocuparia o primeiro lugar? Teodoro Soares. Como eu disse, eu acho que tem que prestigiar o professor. Prestigiar não só a sua formação adequada como também a remuneração conveniente. O professor é mal remunerado, continua mal-remunerado e não é considerado pela sociedade. Isso é fundamental. Outro ponto é a falta de equipamentos. No caso, as escolas devem ser bem equipadas, com equipamentos audiovisuais, toda essa parte de internet, além do envolvimento do professor, do aluno e da família, além da formação dos diretores. A família é importante para dar o suporte e também cobrar dos professores que a escola cumpra o seu dever de transmitir um serviço de qualidade. Fale! [interrompendo] Então o senhor acredita nessa aliança entre novas tecnologias e livros... Teodoro Soares. Acredito. Eu tenho até um projeto para usar essas novas tecnologias no ensino. E também quero chamar a atenção para colocar uma placa com as notas que a escola recebe do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) na frente da escola. Porque aí chama a atenção da sociedade onde está localizada a escola. E os alunos vão começar a insistir para que
Tem muito ‘decoreba’ quando se estuda para fazer o vestibular. É um adestramento. O aluno é aprovado no exame e depois esquece absolutamente tudo.
prestigiado. No meu colégio, era obrigado a ler de tarde e à noite. Você fazia teatro, fazia música. Outro ponto é esse: Nas escolas, deveria ter a disciplina de Artes, porque aí você trabalharia o homem integral, com uma parte de arte, uma parte de música. Houve uma mudança sem dúvida do governo nesses últimos 20 anos, mas a mudança tem que ser acelerada para provocar o que o país realmente precisa e recuperar o tempo perdido com relação a outros países. Fale! Quais as expectativas com relação à educação cearense?
eles cumpram o dever deles, de dar uma boa escola, de dar um ensino de qualidade para a sociedade. Existe a média do Estado e também a média da escola. Portanto pode se comparar as médias e saber se ela [média da escola] está abaixo ou acima. É uma forma de a sociedade cobrar melhoria na educação. Fale! De um lado esses números alarmantes. Do outro lado, a fama dos cearenses em universidades de outros estados, escolas militares e institutos tecnológicos. Como explicar esse paradoxo? É resultado da boa educação para um número pequeno? Teodoro Soares. Isso é a elite, que de certa forma, até impõe das escolas. Estas cobram caro e cooptam alunos de outras escolas. Dão bolsa, porque lá é
Teodoro Soares. Houve um avanço muito grande, principalmente com relação à experiência em Sobral, que foi muito exitosa em todos os sentidos. Eu cheguei até a escrever alguns artigos chamando Sobral de “A Cidade da Educação”. Houve uma confluência de vários atores e que produziu resultados a tal ponto que isso que foi feito lá [em Sobral] foi oferecido para outros municípios. Os municípios fizeram e deu resultado. E agora nacionalmente. Eu acho que isso é um resultado positivo, mas requer tempo. Os melhores resultados dessa pesquisa que foi citada estão nas séries iniciais, que é quando esse trabalho está sendo feito agora. Só vamos ver resultado no ensino médio daqui a uns quatro ou seis anos. Depois que houve o Paic lá em Sobral, só agora a cidade atingiu a média sete. É uma das 100 melhores cidades do Brasil em termos de desempenho da educação do Ideb. Aí o Cid agora jogou o Paic para todo o Ceará. Se o Paic der resultado, as notas boas também serão no ensino médio daqui a alguns anos. n www.revistafale.com.br | DEZEMBRO de 2013 | Fale!
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EDUCAÇÃO
PROVA DO ATRASO Neste artigo o autor afirma que fica impossível imaginar uma sociedade do conhecimento sem centros de pesquisa e sem um amplo sistema universitário com qualidade Por Por Cristovam Buarque
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m 1961, os EUA definiram a meta de enviar um homem à lua no prazo de dez anos. Cinquenta e dois anos depois, o governo brasileiro definiu a meta de alfabetizar suas crianças de oito anos até 2022. Talvez nada demonstre mais o nosso atraso do que a diferença entre essas duas metas. E o governo comemora com fanfarras, ao invés de pedir desculpas pelo atraso do Brasil. Nesta segunda década do século XXI, os países que desejam estar sintonizados com o futuro têm como metas, entre outras, a conquista do espaço, o entendimento das ciências biológicas, o desenvolvimento de técnicas nas telecomunicações, a implantação de sistemas industriais sintonizados com os avanços técnicos. Fica impossível imaginar uma sociedade do conhecimento sem centros de pesquisa e um amplo sistema universitário com qualidade. Isto só é possível se a educação de base for de alta qualidade para todos. E isto é impossível sem a alfabetização universal e completa em idades precoces, que garantam não apenas o controle dos códigos alfabéticos, mas também leituração e domínio das bases da matemática. Na economia do conhecimento, nenhuma sociedade pode deixar de desenvolver o potencial do cérebro de cada um de seus habitantes desde os primeiros anos, desde a alfabetização. Mas não é isso o que vem acontecendo com o Brasil. Ao não fazer a universalização da educação completa o país tapa poços de conhecimento. Igualmente atrasado é o caminho usado para enfrentar o problema da deseducação, com o velho truque publicitário: um pacto entre partes incapazes de levar a meta adiante. Imagine os EUA fazendo um pacto entre seus estados para ver qual deles chegaria à lua, ao invés de usar a NASA federal. Se o Brasil deseja recuperar seu atraso, deve definir metas nacionais ambiciosas: todas as crianças na escola em horário integral, com professores muito bem preparados e dedicados, o que exige elevados salários, em escolas com os mais modernos
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equipamentos pedagógicos, em todo o território nacional, desde os mais ricos aos mais pobres municípios, atendendo igualmente as crianças mais ricas e as mais pobres. Isto não se consegue por meio de pactos ilusórios, assinados sem qualquer compromisso real das partes, especialmente entre partes tão desiguais, que levam os pactos a parecer caricaturais. A única maneira de recuperar os séculos perdidos no passado para dar o salto que o Brasil precisa no futuro é envolver diretamente a União na implantação de um novo sistema educacional para, ao longo de poucos anos, substituir o atual sistema estadual e municipal por um sistema federal. Isto exige mais do que um pacto ilusório. Exige uma espécie de federalização da responsabilidade e da construção do novo sistema educacional. O Brasil não dará o salto educacional, e sem este não haverá os outros, sem um governo federal que empolgue o país com a meta de, em 20 ou 30 anos, ter uma educação de qualidade comparável à dos países mais educados do mundo. Isto é possível e é preciso. n Cristovam Buarque é professor da Universidade de Brasília e senador pelo PDT-DF
META: INVESTIR MAIS DINHEIRO O Brasil investe 5,3% do PIB em educação, considerando os recursos investidos nas redes e instituições públicas — o chamado investimento público direto, que não inclui na conta repasses ao setor privado
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á quase dois anos e meio, o Executivo enviou ao Congresso Nacional o projeto de lei que cria o Plano Nacional de Educação (PNE). O documento é um conjunto de 20 metas que determinam quais devem ser as políticas prioritárias na área em um prazo de dez anos. O plano anterior venceu em 2010, mas em função das polêmicas para aprovar o novo PNE, o projeto continua em tramitação no Senado. O principal ponto de conf lito é a meta que estabelece um percentual mínimo do Produto Interno Bruto (PIB) que deve ser investido na área. O dado mais recente indica que o Brasil investe 5,3% do PIB em educação, considerando os recursos investidos nas redes e instituições públicas — o chamado investimento público direto, que não inclui na conta repasses ao setor privado (saiba mais na infografia abaixo). Na Câmara, o texto aprovado incluiu uma meta de investimento público direto de 10% do PIB, atendendo a uma forte mobilização social comandada por entidades do setor. Já na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, o relator José Pimentel (PT-CE) propôs uma nova meta de investimento: o patamar continua sendo de 10% do PIB, mas considera agora o investimento total, o que inclui recursos que não são aplicados diretamente na rede pública – como por exemplo bolsas de estudo do Programa Universidade para Todos (ProUni). Outra diferença entre o texto aprovado na Câmara foi a exclusão de uma meta intermediária – os deputados tinham determinado que nos cinco primeiros anos de vigência do PNE, o patamar de investimento deveria chegar a 7%. A mudança contou com o apoio do Ministério da Educação (MEC), mas provocou reação das entidades da sociedade civil que
pedem a manutenção do texto aprovado na Câmara. A votação do relatório do senador Pimentel foi suspensa após um pedido de vista. HISTÓRICO. O texto do PNE enviado pelo Executivo ao Congresso Nacional previa uma meta de investimento em educação de 7% do PIB – abaixo do que era esperado pela entidades e movimentos do setor, que defendem a meta de 10% do PIB para a área. Ao longo da tramitação na Câmara, o projeto recebeu quase 3 mil emendas, a maioria pedindo o aumento da meta de investimento. Após muitas negociações com o governo, o relator Angelo Vanhoni fechou uma meta de 8% do PIB. Após 18 meses de tramitação, em junho de 2012, a Câmara aprovou o texto final com a meta de investimento de 10% do Produto Interno Bruto (PIB). A mudança do texto se deu após forte mobilização de entidades da área que ocuparam o plenário, entre elas a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Além do investimento em educação, o PNE inclui outras metas como o aumento de vagas em creches, a ampliação de escolas em tempo integral e a expansão das matrículas em cursos técnicos e de nível superior. n www.revistafale.com.br | DEZEMBRO de 2013 | Fale!
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EDUCAÇÃO
JUVENTUDE QUE CONTA Neste artigo, o autor afirma que fica impossível imaginar uma sociedade do conhecimento sem centros de pesquisa e sem um amplo sistema universitário com qualidade Por Marcelo Neri
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a visão da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR), não há melhor preditor disponível do futuro do país que o universo das crianças e dos jovens de hoje. Aí incluindo as suas respectivas tendências demográficas tratadas em detalhe na presente pesquisa. A SAE acaba de assumir a presidência da Comissão Nacional de População e Desenvolvimento (CNPD), indicando Ricardo Paes de Barros para liderar os trabalhos. A pesquisa aqui apresentada é a primeira realizada pela SAE após a criação da CNPD, tratando, não por coincidência, de demografia e escolhendo o que talvez seja o tema populacional mais intrigante de nosso tempo: a chamada onda jovem. Pororoca Jovem. A pesquisa revela que o tamanho da população jovem brasileira nunca foi, e nunca será, tão grande quanto o de hoje, correspondendo a cerca de 50 milhões de pessoas na faixa entre 15 e 29 anos de idade, cerca de 26% de nossa população, proporção muito próxima à média mundial. Na verdade, estes 50 milhões de jovens brasileiros em ação correspondem a um “platô populacional” que começou em 2003 e, por força de mudanças demográficas diversas atuando em direções opostas, prolongará a onda até 2022, em formato de pororoca jovem. Depois de celebrarmos o bicentenário de nossa independência, o processo ref luirá e a população jovem no Brasil cairá a uma velocidade mais alta que a dos demais países, com exceção da China. O Brasil precisa aproveitar ao máximo a longa duração da pororoca jovem para impulsionar suas transformações sociais e econômicas nas direções desejadas. Mas quais são as direções desejadas?
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Não basta contar os mais jovens. Temos de fazer com que os jovens contem mais. É necessário que a juventude nos conte o que pensa e o que quer. A fim de empoderar na prática a juventude, ouvir é preciso. Não só para atender os anseios da juventude de hoje, mas a fim de decifrar os principais desafios ainda por vir do país. Os jovens são a principal porta de entrada de inovações nos valores e nas aspirações de cada sociedade, permitindo antecipar no tempo a formação do pensamento geral da nação. Exploro aqui um pouco as mensagens dos jovens brasileiros através de trailer de pesquisa sobre aspirações e valores da juventude. Prioridades. Deciframos as principais prioridades em pesquisa domiciliar do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que foi a campo em maio de 2013, consultando mais de 10 mil pessoas numa amostra representativa do país como um todo, e pediu para cada entrevistado escolher, entre 16 temas, quais são suas seis – e apenas seis – maiores prioridades. O modelo de perguntas utilizado vem da pesquisa Meu Mundo (My World), levada a cabo por agência das Nações Unidas em diversas partes do globo, o que permite
comparabilidade internacional dos nossos resultados. O objetivo é subsidiar a definição das novas Metas do Milênio (Post-2015 Development Goals). A mais alta prioridade dos jovens brasileiros é a educação de qualidade: 85,2% dos brasileiros de 15 a 29 anos elencaram esta opção entre as seis mais importantes dos 16 temas apresentados. Serviços de saúde (82,7%) foram a segunda opção mais apontada. Na população adulta não jovem, isto é, aqueles como 30 anos ou mais de idade, as duas maiores prioridades são as mesmas, mas em ordem invertida: saúde (86,6%), seguida de educação (80,5%). Na pesquisa mundial feita na internet pelas Nações Unidas, a ordem de prioridades se conforma com a dos jovens brasileiros. Na sequência dos jovens, temos alimentação de qualidade (70,1%) como terceira menção mais frequente, fechando o pódio das prioridades da juventude brasileira. Incidentalmente, esses três elementos representam, no campo das políticas públicas, os três componentes do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU. Governo honesto e atuante aparece como a quarta prioridade dos jovens no Brasil, com 63,5%. Na população global consultada na internet, esta é a terceira prioridade, seguida de oportunidades de trabalho, que, num certo sentido, desempenha a função de renda do IDH – no sentido de geração de renda, ao passo que alimentação de qualidade representa a prioridade de gasto da mesma renda. Agenda Jovem. No fundo,
as agendas jovem e não jovem do país não estão tão desconectadas na escolha de prioridades. Utilizamos a pesquisa para contrastar quais são as prioridades dos jovens brasileiros vis-à-vis os adultos não jovens da sociedade. A chamada agenda jovem se refere àqueles elementos que são relativamente mais importantes para eles do que para aqueles com 30 anos ou mais. Notese que não falamos do que é prioridade para os jovens, o que será tratado mais adiante, mas da dissonância entre a agenda elencada pelos jovens em relação à dos adultos não jovens. Esse contraste nos permite identificar possíveis conflitos de gerações e, portanto, possíveis razões para protestos juvenis. Vamos à análise dos números: a maior diferença está na importância dada à educação de qualidade (4,7% mais naqueles entre 15 e 29 anos vis-à-vis aqueles com 30 anos ou mais), eliminação do preconceito e da discriminação (3,6 p.p. mais), melhoria nos transportes e estradas (3 p.p. mais), melhores oportunidades de trabalho (3 p.p. mais), liberdades políticas (2,4 p.p. mais), acesso a telefone e internet (1,8 p.p. mais) e proteção a florestas, rios e oceanos (0,9 p.p. mais). A maior importância atribuída pelos jovens à educação e às oportunidades de trabalho é natural nessa fase do ciclo de vida. Estudo, desemprego e busca de liberdade política são elementos marcantes dos jovens de muitas gerações. Elementos da nova geração – isto é, dos jovens de hoje, mas não necessariamente dos jovens de
décadas passadas – são combate à discriminação, defesa do meio ambiente e acesso à internet. A ênfase dada a este último elemento, de conectividade digital, e à mobilidade urbana coincidem com o meio e o fim a partir dos quais os protestos de junho no Brasil inicialmente eclodiram. Agenda Antiga. Similarmente, podemos elencar os principais pontos da agenda não jovem, isto é, elementos que pesam relativamente mais nas prioridades daqueles com 30 anos ou mais. Nesse caso, a agenda é acesso a alimentos de qualidade (6 p.p. menos para os jovens), melhoria dos serviços de saúde (4,7 p.p. menos), proteção contra o crime e a violência (3,4 p.p. menos), apoio às pessoas que não podem trabalhar (2,8 p.p. menos), governo honesto e atuante (2,2 p.p. menos), acesso à água potável e ao saneamento (1,2 p.p. menos) e igualdade entre homens e mulheres (0.8 p.p. menos). Como diz a música dos Titãs, jovens não querem só comida, ao passo que saúde e aposentadoria são questões que afligem mais os mais velhos. Igualdade de gênero se destaca mais nas faixas etárias mais avançadas, em que a população feminina, mais longeva, supera especialmente a masculina. Outros integrantes da agenda mais antiga, talvez pela incapacidade de sucessivos governos endereçálas, são violência, corrupção e saneamento básico. n Marcelo Neri é economista da Fundação Getúlio Vargas — FGV
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EDUCAÇÃO
O RANKING
GLOBAL
O Brasil continua em posição deconfortável na lista global da Educação de acordo com dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos — Pisa
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m 2012, o desempenho dos estudantes brasileiros em leitura piorou em relação a 2009. De acordo com dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos — Pisa, o Brasil somou 410 pontos em leitura, dois a menos do que a sua pontuação na última avaliação e 86 pontos abaixo da média dos países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Com isso, o país ficou com a 55ª posição do ranking de leitura, abaixo de países como Chile, Uruguai, Romênia e Tailândia. Segundo o relatório da OCDE, parte do mau desempenho do país pode ser explicado pela expansão de alunos de 15 anos na rede em séries defasadas. Quase metade (49,2%) dos alunos brasileiros não alcança o nível 2 de desempenho na avaliação que tem o nível 6 como teto. Isso significa que eles não são capazes de deduzir informações do texto, de estabelecer relações entre diferentes partes do texto e não conseguem compreender nuances da linguagem. Em ciências, o Brasil obteve o 59° lugar do ranking com 65 países. Apesar de ter mantido a pontuação (405), o país perdeu seis postos desde o 53° lugar em 2009. Nessa disciplina, a média dos países de OCDE foi de 501 pontos.
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ALGUMAS POSIÇÕES NO PISA Brasil continua em desvantagem 1º) China-Xangai 613 570 580 2º) Cingapura 573 542 551 3º) Hong Kong-China 561 545 555 4º) Taiwan 560 523 523 5º) Coreia do Sul 554 536 538 6º) Macau-China 538 509 521 7º) Japão 536 538 547 8º) Liechtenstein 535 516 525 9º) Suíça 531 509 515 10º) Holanda 523 511 522 11º) Estônia 521 516 541 12º) Finlândia 519 524 545 13º) Canadá 518 523 525 14º) Polônia 518 518 526 15º) Bélgica 515 509 505 16º) Alemanha 514 508 524 17º) Vietnan 511 508 528 18º) Áustria 506 490 506 19º) Austrália 504 512 521 20º) Irlanda 501 523 522 25º) França 495 505 499 31º) Portugal 487 488 489 36º) Estados Unidos 481 498 497 41º) Israel 466 486 470 51º) Chile 423 441 445 58º) BRASIL 391 410 405 62º) Colômbia 376 403 399 FONTE: OCDE. — A condição socioeconômica no PISA é medida por meio do Índice de situação econômica, social e cultural do PISA (ESCS). Este índice combina as respostas dos estudantes a respeito da ocupação e nível de escolaridade de seus pais e seus relatos sobre as aquisições culturais e recursos educacionais disponíveis em seus lares.
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O MAIOR INVESTIMENTO EM EDUCAÇÃO DA HISTÓRIA DE FORTALEZA. Com melhorias nas áreas de infraestrutura, equipamentos e material escolar, entre outros, o Plano de Ações 2013-2015 tem investimento de R$ 600 milhões, o maior da história de Fortaleza, para ser o ponto de virada em busca da excelência na qualidade da educação. Os recursos próprios da Prefeitura, somados aos recursos do Governo do Estado e do Governo Federal, possibilitarão a reforma e adequação das escolas a um novo padrão de qualidade, a implantação de 91 Centros de Educação Infantil, 35 escolas de tempo integral, aquisição de 40 novos ônibus, construção de 49 quadras poliesportivas, criação do departamento de segurança escolar municipal, instalação de internet banda larga em toda a rede pública, além da entrega de novo fardamento completo e material escolar de alto nível, só para citar algumas conquistas alcançadas com esses recursos, que se somam a reivindicações antigas finalmente atendidas, como a regularização do calendário letivo e a seleção pública dos diretores escolares e dos coordenadores distritais de educação. Tudo isso coloca Fortaleza definitivamente no caminho da educação de alta qualidade para todos.
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NELSON MANDELA
despedida do ícone à liberdade 18 DE JULHO DE 1918 05 DE DEZEMBRO DE 2013
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IMAGEM REUTERS--PAUL MCERLANE
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ORRE AOS 95 ANOS EM SUA CASA, na cidade de Johanesburgo o ex-presidente sul-africano Nelson Mandela. Foi na quinta-feira, 5 de dezembro de 2013, depois de uma sofrida infecção pulmonar.
Mandela, primeiro presidente negro do país e um ícone antiapartheid, emergiu após 27 anos das prisões do regime racista e ajudou a guiar o país na superação do derramamento de sangue rumo à democracia. “Companheiros sul-africanos, nosso amado Nelson Rohlihla Mandela, o presidente fundador da nossa nação democrática, partiu”, anunciou o presidente África do Sul, Jacob Zuma. Zuma. “Nosso povo perdeu um pai. A marca registrada da missão Embora soubéssemos que esse de Mandela foi a Comissão dia chegaria, nada pode diminuir Verdade e Reconciliação, que a nossa sensação de uma perda julgou crimes do apartheid de profunda e duradoura. Sua luta ambos os lados da luta e tentou incansável pela liberdade ganhou o curar as feridas do país. Também respeito do mundo”, acrescentou. serviu de modelo para outros Mandela terá um funeral de países dilacerados por guerras Estado completo, disse Zuma, civis. ordenando que as bandeiras fossem Em 1999, Mandela entregou hasteadas a meio mastro. o poder a líderes mais jovens Mandela saiu da obscuridade e melhor preparados para rural para desafiar o poder do administrar uma economia governo da minoria branca, uma moderna, uma rara saída luta que deu ao século 20 uma das voluntária do poder citada como figuras mais respeitadas e amadas. um exemplo aos líderes africanos. Ele foi um dos primeiros a Uma vez aposentado, mudou defender a resistência armada ao seu foco para combater a Aids na apartheid em 1960, mas foi rápido África do Sul e a luta se tornou em pregar a reconciliação e o pessoal, quando perdeu seu único perdão quando a minoria branca filho sobrevivente para a doença do país começou relaxar o controle em 2005. após mais de 30 anos no poder. A última grande aparição de Mandela foi eleito presidente em Mandela no cenário mundial eleições multirraciais em 1994 e se ocorreu em 2010, quando aposentou em 1999. participou da cerimônia da Copa Ele foi agraciado com o Prêmio do Mundo de futebol, sendo Nobel da Paz em 1993, uma honra ovacionado por 90 mil pessoas no que dividiu com F.W. de Klerk, estádio em Soweto, bairro onde se o líder africâner branco que tornou líder da resistência. libertou da prisão o mais famoso Acusado de crimes capitais prisioneiro político do mundo. no infame Julgamento Rivonia Como presidente, Mandela de 1963, sua declaração foi seu enfrentou a tarefa monumental testemunho político. de forjar uma nova nação a partir “Durante toda a minha vida profundas injustiças raciais tenho me dedicado a esta luta do profundas da época do apartheid, povo africano. Eu lutei contra a tornando a reconciliação o lema de dominação branca, e eu lutei contra seu mandato. a dominação negra”. — POR ED CROPLEY n
MANDELA FALA
N
“
inguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.
”
“Tudo é considerado IMPOSSÍVEL até acontecer.” “Não existe revelação mais nítida da alma de uma sociedade do que a forma como esta trata as suas crianças.” “Aprendi que a coragem não é a ausência do medo mas o triunfo sobre ele.” “A educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo.” “A grande glória da vida não está em nunca cair, mas em se levantar a cada vez que caímos.” “Democracia com Fome, sem Educação e Saúde para a maioria, é uma concha vazia.” “Sonho com o dia em que todos se levantarão e compreenderão que fomos feitos para vivermos como irmãos.” “Não há nada como regressar a um lugar que está igual para descobrir o quanto a gente mudou.” www.revistafale.com.br | DEZEMBRO de 2013 | Fale!
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Homenagem latino-americana
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íderes mundiais homenageiam Nelson Mandela como campeão da liberdade e reconciliação, ele foi saudado dia 05 de dezembro como um “herói do nosso tempo”, conforme homenagens chegavam de líderes mundiais sobre a morte do homem que liderou a luta vitoriosa contra o regime de segregação racial na África do Sul e se tornou o primeiro presidente negro do país. “Personalidade maior do século 20, Mandela conduziu com paixão e inteligência um dos mais importantes processos de emancipação do ser humano da história contemporânea - o fim do apartheid na África do Sul”, disse a presidente Dilma Rousseff em nota. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também comentou a morte de Mandela, classificou o líder sul-africano como “uma das figuras mais extraordinárias que conheci”. “Nelson Mandela foi uma das mais importantes lideranças políticas do nos-
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so planeta. Sua história de Em Maputo, hanesburgo depois de lutar Moçambique, em lutas é inigualável, um exemcontra uma infecção pulmoplo de determinação, de 16 de Outubro nar prolongada, disse: “Nosperseverança e de quanto é de 2008, o exso povo perdeu um pai.” importante a disposição para presidente da “Embora soubéssemos África do Sul o diálogo entre os homens”, que esse dia chegaria, nada Nelson Mandela afirmou Lula. pode diminuir a nossa senrecebe o então O primeiro-ministro britâ- presidente Lula sação de uma perda pronico, David Cameron, escreveu RICARDO STUCKERT_PR funda e duradoura. Sua luta no Twitter que “uma grande incansável pela liberdade luz se apagou em todo o mundo... Nelson ganhou o respeito do mundo”. Mandela foi um herói do nosso tempo.” Mandela emergiu após 27 anos das O primeiro presidente negro dos Es- prisões do regime para ajudar a guiar o tados Unidos, Barack Obama disse que país a superar o derramamento de sanMandela “conseguiu mais do que se po- gue e alcançar a democracia, tornandoderia esperar de qualquer homem”. -se uma das figuras políticas mais respei“Hoje ele foi para casa, e nós per- tadas e amadas do mundo. demos um dos seres humanos mais Ele foi eleito presidente em um pleiinfluentes, corajosos e profundamente to multirracial em 1994 e se aposentou bons com o qual qualquer um de nós em 1999. F.W. de Klerk, último presidente conviverá nesta Terra”, disse Obama em branco da África do Sul, que dividiu o Prêpronunciamento na Casa Branca. mio Nobel da Paz com Mandela em 1993, O presidente sul-africano, Jacob elogiou-o como “um grande unificador e Zuma, anunciando que Mandela morreu um homem muito, muito especial a este em sua casa nesta quinta-feira em Jo- respeito, além de tudo o que ele fez”.
“Esta ênfase na reconciliação é o seu maior legado”, disse De Klerk à emissora norte-americana CNN. Bill Clinton, que foi presidente dos Estados Unidos durante a época em que Mandela era presidente, disse que a história irá se lembrar do ex-líder sul-africano como “um campeão da dignidade humana e da liberdade, da paz e da reconciliação”.
“Vamos lembrar dele como um homem de graça incomum e compaixão, para quem abandonar a amargura e abraçar adversários não era apenas uma estratégia política, mas um modo de vida”, disse. O ex-presidente norte-americano George H.W. Bush, que estava no cargo quando Mandela foi libertado da prisão em 1990, disse: “Como presidente, eu observava com espanto como Nelson Mandela tinha a notável capacidade de perdoar seus carcereiros após 26 anos de prisão injusta — a criação de um poderoso exemplo de redenção e graça para todos nós.”
“LUTA PELA LIBERDADE” O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) estava em sessão quando os embaixadores receberam a notícia da morte de Mandela. Eles pararam a reunião e fizeram um minuto de silêncio.“Nelson Mandela foi um gigante para a justiça e uma inspiração
humana na Terra”, disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a jornalistas. “Nelson Mandela nos mostrou o que é possível para o nosso mundo e dentro de cada um de nós se acreditarmos, sonharmos e trabalharmos juntos para a justiça e a humanidade.” O presidente da França, François Hollande, afirmou: “Nelson Mandela fez história. Essa (história) da África do Sul e do mundo inteiro”. “A mensagem de Nelson Mandela não vai desaparecer. Ele continuará a inspirar os combatentes pela liberdade, e para dar confiança para os povos na defesa de causas justas e direitos universais”, disse o presidente francês em comunicado. Mesmo tendo A chefe de perdido três política externa décadas da União Euro(1962-1990) peia (UE), Cathenuma prisão rine Ashton, disse o Líder Sulque “mais do que africano lutou pelo fim ninguém, Nelson Mandela inspirou do apartheid minha geração e nosso mundo”. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou que Mandela foi “uma das figuras mais ilustres do nosso tempo... um homem de visão, um combatente da liberdade que rejeitou a violência”. “Hoje morreu um grande lutador pela liberdade, Nelson Mandela, um dos símbolos mais importantes da liberdade do mundo”, disse Moussa Abu Marzouk, um alto funcionário do grupo islâmico palestino Hamas, chamando Mandela de “um dos maiores apoiadores da nossa causa”.
Mandela destruiu o apartheid, diz historiador POR CRISTINA ÍNDIO DO BRASIL _ ABR
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apartheid foi destruído por Nelson Mandela. A avaliação é do historiador, escritor e ex-professor de filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Joel Rufino dos Santos, para quem o ex-presidente da África do Sul foi mais que um herói para o país africano. “Mandela foi o maior de todos. Foi ele quem destruiu o apartheid. Ele é um dos melhores homens de toda a humanidade”, disse. O historiador, que é também doutor em comunicação e cultura, destacou que Mandela não pode ser classificado apenas como um líder para os negros sul-africanos, mas também para os brancos do país, porque lutou por questões além da liberdade. Uma prova disso é que recebeu o Prêmio Nobel da Paz ao lado de Frederik de Klerk que foi o último presidente branco do sistema de segregação racial da África do Sul. “Ele representou mais. Ele representou uma luta anti-sistêmica mesmo para quem não acredita em uma revolução anticapitalista, mesmo para quem não tenha implantado um sistema socialista”, disse. Para Joel Rufino, apesar de ter usado armas em determinado momento da luta contra o sistema de segregação racial sul-africano, a atuação de Mandela foi marcada pelo pacifismo. “Quando ele saiu da prisão aceitou a luta pacífica. Ele primeiro foi um pacifista, depois um revolucionário armado e depois novamente um pacifista”, completou declarando que foi assim que conduziu a África do Sul ao se tornar presidente.
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ADEUS
CRONOLOGIA A trajetória de Nelson Mandela 18 de julho de 1918 Nasce Nelson Rolihlahla Mandela, perto de Qunu, no Transkei (agora Cabo do Leste), o filho mais novo de um conselheiro do chefe de seu clã, o Thembu.
1936
1939
Escola Primaria e Morte do pai.
Seu pai se envolve em questão judicial.
Ritual de Circuncisão, Internato de Clarkebury
1925
1919
Internato de Headtown.
1934 1964
Enquanto cumpre a pena, Mandela é acusado de conspiração e sabotagem.
Em 12 de junho Mandela e sete outros são sentenciados à prisão perpétua na ilha de Robben, na costa da Cidade do Cabo.
1938
1972
Transferido para Pollsmoor.
1960
1968
Morte de Tembi.
1969
Mandela parte secretamente para treinamento militar no Marrocos e Etiópia. Ao retornar à África do Sul, ele é capturado e sentenciado a cinco anos de prisão por incitamento e por ter deixado o país de modo ilegal.
1962 Clandestinidade. Início da “Lança de uma Nação” - conhecido pela sigla “MK”, criado em 1961 como braço armado do CNA, tendo Mandela como primeiro comandante em chefe. Era a resposta do movimento ao Massacre de Sharpeville, no entendimento de que o apartheid não mais poderia ser combatido com a não-violência.
1961 34 | Fale! | DEZEMBRO de 2013 | www.revistafale.com.br
2007 18 de julho - Lança um grupo
2001 Cancêr na Prostata.
internacional de estadistas idosos para combater a mudança climática, HIV/Aids, pobreza e outros problemas mundiais.
2000
Massacre de manifestantes negros em Sharpeville pela polícia.
1940
1982
Tentam assassiná-lo na prisão.
1970 Morte da Mãe.
Expulso de Fort Hare.
1980
1963
1960 PINTURA DO MASSACRE
Casamento arranjado. Fuga para Johanesburgo.
1940
Ingressa na Faculdade de Fort Hare.
1930
1920
Colégio de Headtown concluído precocemente.
1941
6 de janeiro - Anuncia
que o único filho homem que sobreviveu, Makgatho Mandela, morreu de Aids aos 54 anos.
2005
26 de junho -
Congressistas dos EUA eliminam dos bancos de dados nacionais as referências a Mandela como um terrorista.
2008
FONTE: REUTERS/WIKIPÉDIA
1950
1947 Nasce sua filha que morre. Mandela se torna secretário-geral da ANCYL.
1944 Funda a Liga da Juventude do Congresso Nacional Africano (CNA), com Oliver Tambo e Walter Sisulu. Casa-se pela primeira vez com Evelyn.
Nasce o segundo filho, Makgatho.
1952
1957
Tem início a Campanha de Desafio, com o Dia do Protesto e Mandela torna-se seu porta-voz e chefe nacional. Mandela e outros são presos e acusados com base no Ato de Supressão do Comunismo. Pena de prisão é suspensa. É escolhido como vice-presidente nacional do CNA.
1950
Nasce sua filha Zenani.
Casa-se com Winnie Madikizela. Os dois se separam em abril de 1992 e se divorciam cerca de quatro anos depois.
Nasce o primeiro filho, Tembi.
Implantação do Apartheid.
Presidente da ANCYL.
Surge a luta armada.
1943
1945
1948
1951
1953 1955
1985
Carta da Liberdade.
1990 Em 2 de fevereiro, F.W. de Klerk, o último presidente branco da África do Sul, retira o banimento do CNA e de outros movimentos de libertação. Em 11 de fevereiro, Mandela é libertado da prisão.
1958 Se divorcia de Evelyn. Em 5 de dezembro sua casa é invadida pela polícia, revistando-a por 45 minutos e apreendendo papéis; o líder é levado preso, na frente da mulher e dos filhos; outras 144 pessoas foram detidas no mesmo dia.
1956 1997 Dezembro - Passa a liderança do CNA para o vice-presidente Thabo Mbeki, na primeira etapa da transferência paulatina de poder.
1999
1990
Negociação com governo Botha.
Transferido para Victor Verster.
2010
1989
11 de julho - Vai à final da Copa do Mundo entre Espanha e Holanda.
2012
16 de junho - Aposenta-se e entrega o poder a Mbeki. É eleito presidente do CNA.
1991
Em Outubro ganha o Prêmio Nobel da Paz, com De Klerk. Se separa de Winnie e se divorcia em 1996.
1993
2010 Começo da infecção pulmonar.
Nasce Makaziwe. Forma-se a Aliança do Congresso.
Tem início a tramitação do Julgamento por Traição, Mandela é um advogado bem sucedido e divorciado. Conhece a enfermeira Winifred Zanyiwe Madikizela que apareceu no escritório, para tratar de uma causa.
1959
Estuda Direito em Witwatersrand
(até 1948)
1954
27-29 de abril - Primeira eleição multirracial na África do Sul. 10 de maio, toma posse como primeiro presidente negro da África do Sul.
18 de julho - elebra o 80º aniversário se casando com Graça Machel, viúva do presidente moçambicano Samora Machel.
1998
1994
8 de junho - Hospitalizado por infecção pulmonar recorrente. 18 de julho - Sul-africanos celebram o Dia de Mandela, com 67 minutos de
serviço público para homenagear os 67 anos que Mandela serviu à humanidade.
1 de setembro - Mandela tem alta e retorna para casa, após 87 dias num hospital de Pretória.
5 de dezembro - Morre pacificamente em sua casa.
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ADEUS
À ESPERA DE MANDELA POR CRISTOVAM BUARQUE
n
SOCIÓLOGO E SENADOR
O
sentimento universal de simpatia por Mandela tem algumas explicações: seu heroísmo de 27 anos de isolamento sem se deixar abater; a integridade física, mental e política ao sair do isolamento; seu espírito de bondade que permitiu tratar com respeito até os carcereiros; a lucidez como decidia e falava; seu apego absoluto ao que era legítimo, mesmo quando a legalidade permitisse fazer diferente; e sua empatia capaz de atrair o respeito de quem o ouvisse por rádio, apertasse sua mão ou o visse, mesmo pela televisão. Foram as comunicações modernas que o universalizaram, mas suas características pessoais o imortalizaram. Apesar de todas estas qualidades, o Nelson não seria o Mandela se não tivesse tido a competência e a oportunidade de abolir as leis do apartheid na África do Sul. Se não tivesse sido vitorioso nesta luta, não teria adquirido o imenso tamanho que lhe está assegurado na história. Mandela é Mandela por ter feito o que parecia impossível: assegurar ao negro acesso aos espaços e serviços reservados aos brancos. Acesso às mesmas calçadas, banheiros públicos, hospitais, mesmas escolas e mesmos empregos. Foi a abolição do apartheid que elevou Mandela às alturas para as quais ele estava preparado. Ele saiu da prisão inteiro e grande, mas fez-se imenso quando conseguiu com que os brancos e negros se dessem as mãos como partes de um mesmo país. Depois de Mandela, a África do Sul é um país completamente diferente do ponto de vista das relações raciais. Ele cumpriu seu papel. Cabe aos seus sucessores fazer o avanço nas relações sociais, garantindo o mesmo direito de acesso entre ricos e pobres aos serviços sociais, especialmente na saúde e na educação. Com sua força e legitimidade, ele conseguiu abolir o apartheid, agora é de outros a tarefa de abolir a “apartação” ao longo dos próximos anos. E tudo indica que a África do Sul está fazendo seu esforço ao investir na educação de suas crianças, independentemente da raça. Porque, como ele mesmo disse: “A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.” Para tanto, a África do Sul tem um programa nacional e um ministério exclusivo para a educação básica. Lamentavelmente, não é o que estamos vendo no Brasil. O nosso apartheid terminou quando a nobreza cedeu e aboliu a escravidão, 36 | Fale! | DEZEMBRO de 2013 | www.revistafale.com.br
Na África do Sul, graças a Mandela, o filho do negro adquiriu acesso à mesma escola do filho branco.” C RISTOVAM BUARQUE
mas em 125 anos de República não demos os passos necessários para abolir a “apartação”, negando aos pobres o acesso à escola com a mesma qualidade daquela dos ricos. Continuamos carimbando, desde o nascimento, a criança que terá ou não uma boa educação, dependendo da renda dos pais, como na África do Sul antes de Mandela, quando o carimbo estava na cor da pele da criança. Na África do Sul, graças a Mandela, o filho do negro adquiriu acesso à mesma escola do filho branco; no Brasil, o fim da “apartação” consiste em assegurar ao filho do mais pobre brasileiro acesso a uma escola tão boa quanto a do filho do mais rico. Mas, aqui, ainda estamos à espera de Mandela. n
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CULTURA
ACERVO
LARGADO A deplorável condição da Biblioteca Pública do Ceará A vida útil da hemeroteca está totalmente comprometida. O acervo, sem climatização e exposto a ação do vento, no terceiro andar, exala um pesado odor de decomposição
E
m Paris, um dos orgulhos da cidade são as mais de sessenta bibliotecas públicas, com catalogação online e acerco conservado dentro de padrões rigorosos de climatização. Nos Estados Unidos, a Biblioteca do Congresso, em Washington DC, dispensa qualquer comentário considerando-se sua excelência mundial. E ela é apenas a pérola da coroa dentre centenas de
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bibliotecas públicas exemplares naquele país, MIT incluso. Em São Paulo, a biblioteca Mário de Andrade, no começo da rua Consolação, no Centro, é um santuário espiritual que resguarda peças que fazem o deleite e o orgulho mesmo de quem não é bibliófilo. Some-se a isso as dezenas de bibliotecas setorias da Universidade de São Paulo, como, por
DUAS IMAGENS Detalhe da fachada da Biblioteca Pública do Ceará e, acima, parte da hemeroteca desprotegida exemplo, a Biblioteca da Escola de Comunicação e Artes. E agora, a fenomenal Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, com o acervo deste que foi talvez o maior bibliófilo do Brasil. Além do acervo físico da Brasiliana, com exemplares arqueológicos, a digitalização tem levado para a Internet uma verdadeira avalanche iluminista para o prazer de pesquisadores e leitores — uma injeção de adrenalina na auto estima da cultura nacional. E no Ceará, o que temos? Excetuando-se as bibliotecas da Universidade de Fortaleza, a biblioteca central da Universidade Federal do Ceará, no campus do Pici, e a Biblioteca da UFC no campus do Benfica, estamos muito mal. Nossa maior biblioteca pública, a Governador Menezes Pimentel, ligada a Secretaria
da Cultura do Estado do Ceará, é retrato acabado de como a Cultura baseada em acervos bibliográficos neste Estado é tratada: totalmente largada e se deteriorando no tempo. O prédio da Biblioteca, de 1975, inaugurado ainda pelo presidente Geisel, é funcional e de bela arquitetura, mas definha a olhos vistos, largado à sua própria sorte. O acervo, meu Deus, que sacrilégio. Não há climatização, está defasado, não há uma política de preservação e aquisição de, pelo menos, autores cearenses. Só para dar um exemplo, fui buscar os livros do escritor Airton Monte, encontrei duas obras, em petição de miséria. E a Hemeroteca. Sua vida útil está totalmente comprometida. No terceiro andar, onde fica, as janelas estão todas abertas, pois não há refrigeração. O tempo e o
vento são a fórmula perfeita para acelerar o fim do ciclo de vida do papel jornal, certamente o tipo de papel mais vulnerável que existe. Fiquei 40 minutos na hemeroteca da Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel. Saí de lá por não tolerar mais o ar rarefeito e pesado, com o cheiro forte de decomposição. Isto mesmo. E fiquei pensando se aquelas pessoas que trabalham ali, dentre as quais uma jovem recepcionista, recebem insalubridade. O lugar é altamente insalubre. Se um turista pesquisador, nacional ou não, se der ao trabalho, mesmo que acidentalmente, de medir a qualidade do Ceará tendo como objeto nossa Biblioteca Pública facilmente concluirá que o conceito de Cultura do Estado relegou ao livro e aos produtos culturais com suporte em papel a condição de sarjeta. n www.revistafale.com.br | DEZEMBRO de 2013 | Fale!
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CULTURA
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VINÍ
NÍCIUS, ANO 100 A MUSICALIDADE DE UM POETA
O
POETINHA, COMO VINÍCIUS DE MORAES GOSTAVA DE SER CHAMADO, FOI UM DOS MAIS VERSÁTEIS INTELECTUAIS DO PAÍS . Diplomata
de carreira, Vinícius dedicou a vida à cultura. Autor de peças teatrais, cronista, crítico de cinema e compositor, ele inspira gerações com frases como “que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”, da poesia Soneto de Fidelidade. Uma das personalidades da cultura brasileira de maior projeção popular, Vinicius de Moraes, cujo centenário o país celebra neste sábado, foi muito mais do que o poeta de primeira linha e o letrista de músicas que há cinco décadas são executadas e regravadas em todo o mundo. O Poetinha, como ele mesmo — que cultivava os diminutivos como forma de carinho — gostava de ser chamado, foi um intelectual de múltiplas facetas. Formado em direito e diplomata de carreira até ser aposentado compulsoriamente em 1969, pela
ditadura militar, Vinicius foi também cronista e escreveu para jornais e revistas reportagens cheias de lirismo sobre as cidades onde viveu. Exerceu a crítica de cinema, com análises aprofundadas sobre filmes e cineastas dos anos 40 e 50, e foi um importante autor teatral. Foi exatamente essa última faceta — a de dramaturgo - que motivou a aproximação do poeta, para quem a vida era “a arte do encontro”, com Antonio Carlos Jobim, em 1956. O encontro, fundamental na trajetória de ambos e um marco na cultura brasileira,
aconteceu porque Vinicius estava à procura de um compositor para as músicas de sua peça Orfeu da Conceição, que pretendia encenar no Theatro Municipal do Rio. Definida pelo autor como “tragédia carioca em três atos”, a peça é uma transposição da história do mito grego de Orfeu para uma favela do Rio de Janeiro. Escrito em 1954, o texto também estava sendo adaptado para o cinema, com o título de Orfeu Negro, pelo cineasta francês Marcel Camus. O filme, que ficou pronto em 1959, ganhou – como produção francesa – a Palma de Ouro do Festival de Cannes e o Oscar de melhor filme estrangeiro. A parceria com Tom, iniciada com as canções para a peça – as mais conhecidas são Se Todos Fossem Iguais a Você e Lamento no Morro, deu início a um movimento de renovação da música popular brasileira. Dois anos depois, em 1958, com João Gilberto www.revistafale.com.br | DEZEMBRO de 2013 | Fale!
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CULTURA e a sua inovadora batida no violão, e o lançamento do LP Canção do Amor Demais, com Elizeth Cardoso interpretando composições da dupla, esse movimento, que começava a ganhar forma, logo iria ser chamado de Bossa Nova. “Vinicius de Moraes foi um divisor de águas na história da música popular brasileira. Um poeta de livro que de repente se torna letrista e traz para as letras da música brasileira uma grande densidade poética”, define o crítico musical Tárik de Souza. Mais do que parceiros, Vinicius de Moraes colecionou amigos, companheiros de boemia e da vida cotidiana. A troca ia muito além das rimas e notas musicais. Para Tárik, que apresenta na Rádio MEC FM o programa Bossamoderna, Vinicius exerceu um papel de catalisador na música popular, estimulando o surgimento de novos compositores. “Ele foi o primeiro parceiro do Edu Lobo, o primeiro parceiro do João B osco, incentivou o Francis Hime e vários outros artistas a se dedicarem realmente à música, a partir de parcerias com ele. Vinicius tinha essa generosidade de lançar artistas e de abrir novas frentes, como ele fez com Toquinho, que foi o seu último grande parceiro” É grande a lista. Além dos já citados, inclui Carlos Lyra, Baden Powell (que formavam, juntamente com Tom, o que o poeta chamava de sua “santíssima trindade”), Chico Buarque e muitos outros. Lyra, um dos integrantes da “trindade” de Vinicius, conta como foi seu primeiro contato com o poeta. “Liguei para a casa dele: ‘Vinicius de Moraes? Aqui é o Carlos Lyra”... e ele, com aquela mania de diminutivos, respondeu: ‘Ah, Carlinhos, ouvi muito falar de você. O que você quer de mim?’ E eu: ‘quero umas letrinhas...’. E ele:’então venha já pra minha casa’. E aí começou a amizade e a parceria”. 42 | Fale! | DEZEMBRO de 2013 | www.revistafale.com.br
ACERVO WWW.CARLOSLYRA.COM
Carlos Lyra em Ipanema, seu primeiro contato com Vinicius foi por telefone onde teve início uma grande amizade
‘Vinicius de Moraes? Aqui é o Carlos Lyra”... — Ah, Carlinhos... O que você quer de mim?’ ‘Quero umas letrinhas...’ — ’Então venha já pra minha
casa’.
Vinicius fez letras também para o clássico choro Odeon, de Ernesto Nazareth (1863-1934), e para duas composições de Pixinguinha (Lamentos e Mundo Melhor). Na área da música erudita, Cláudio Santoro e Edino Krieger tiveram versos de Vinicius para composições suas. A obra do Poetinha inclui ainda canções em que ele foi autor de letra e música, dispensando as parcerias, como Pela Luz dos Olhos Teus, Serenata do Adeus e Rancho das Flores. E poemas seus, publicados anteriormente em livros, ganharam música, como os sonetos da Separação, musicados por Tom Jobim, e da Fidelidade, pelo pernambucano Capiba. O poema Rosa de Hiroxima ganhou nos anos 70 música de Gerson Conrad, líder da banda Secos e Molhados, de estrondoso sucesso na época em que lançou o cantor Ney Matogrosso.
O lado menos conhecido de Vinícius
AGÊNCIA BRASIL
C
rítico de primeira e grande conhecedor de cinema, o Poetinha que o Brasil admira e cultua pelo lirismo de seus versos era também um cinéfilo de carteirinha. Ao longo de toda a década de 40 e na primeira metade dos anos 50, Vinicius de Moraes exerceu, paralelamente à carreira de diplomata, intensa atividade como crítico de cinema para os jornais A Manhã e Última Hora e para as revistas Diretrizes e Sombra. “Creio no cinema, meio de expressão total em seu poder transmissor e capacidade de emoção, possuidor de uma forma própria que lhe é imanente (conceito religioso e metafísico que defende a existência de um ser supremo e divino (ou força) dentro do mundo físico) e que, contendo todas as outras, nada lhes deve”, escreveu Vinicius, em artigo publicado em agosto de
O Poetinha era um cinéfilo de carteirinha e também critico de cinema para jornais 1941 no jornal A Manhã. Parte do acervo literário de Vinicius, sob a guarda da Fundação Casa de Rui Barbosa, os escritos revelam que o poeta produziu análises aprofundadas sobre os grandes mestres do cinema da época, como Orson Welles, Charles Chaplin, Alfred Hitchcock, René Clair, Fritz Lang, Sergei Eisenstein, Vittorio de Sica e o brasileiro Alberto Cavalcanti. Os rumos do cinema brasileiro e o resgate da obra de nossos primeiros cineastas também estavam nas preocupações do poeta. “Vinicius de Moraes foi importante não só como crítico de cinema, mas também como cineclubista. Foi por meio do Vinicius e das pessoas que integravam a turma dele, de cinéfilos, que o público tomou
conhecimento da existência de Limite, o filme de Mário Peixoto que estava perdido há anos”, disse Fabiano Canosa, um dos curadores do Festival do Rio. Entre 1946 e 1950, período em que foi vice-cônsul do Brasil em Los Angeles, Vinicius estudou cinema com Welles e teve uma convivência muito grande com o meio cinematográfico de Hollywood. “Ele frequentava muito a casa de Carmen Miranda e promoveu a aproximação de muitos nomes da cultura brasileira com Hollywood nos anos posteriores à 2ª Guerra Mundial, como por exemplo o escritor Érico Veríssimo”, declarou Canosa, ex-programador da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e do Public Theatre de Nova York. Atualmente apresentador do programa Kinoscope, da Rádio MEC FM, Fabiano Canosa lembra ainda que Vinicius teve uma antológica contribuição, juntamente com Pixinguinha, na criação da trilha sonora do filme Sol sobre a Lama, de Alex Viany. Com relação ao filme Orfeu Negro, do diretor francês Marcel Camus, adaptado de sua peça Orfeu da Conceição, Vinicius não teve uma participação direta na produção. “É interessante o fato de que a peça, que estreou em 1956, três anos depois, em 1959, já era um filme que ganhou o Festival de Cannes e o Oscar de melhor filme estrangeiro daquele ano. Normalmente, se leva de cinco a seis anos para que uma peça ganhe sua versão para o cinema”, destacou Canosa. www.revistafale.com.br | DEZEMBRO de 2013 | Fale!
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CULTURA
CRONOLOGIA A vida do poeta Vinícius de Moraes
1913
1916
1917
1919
1920
1929
1930
1931
1932
1933
1941
1942
1943
1944
1945
1913 - Nasce no dia 19 de outubro, na Rua Lopes Quintas nº114, no bairro do Jardim Botânico, Rio de Janeiro. Com o nome de batismo Marcus Vinitius da Cruz de Melo Moraes (apenas aos nove anos registra o Vinicius de Moraes), é filho de Lydia Cruz de Moraes e de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes.
1928 - Compõe as primeiras canções. Com Haroldo Tapajós faz “Loura ou Morena” e, com Paulo Tapajós, “Canção da noite” (um “fox-trot brasileiro” e uma “berceuse”, segundo a definição do próprio Vinicius).
1916 - Muda-se para a Rua Voluntários da Pátria, nº 192. É o início de uma longa relação de Vinicius e sua família com o bairro de Botafogo. Passa a morar com os pais e a irmã Lygia na casa dos avós paternos, Maria Conceição de Mello Moraes e Anthero Pereira da Silva Moraes.
1929 - Torna-se Bacharel em Letras pelo Colégio Santo Inácio. Depois de passar sete anos entre Botafogo e Ilha do Governador, muda-se mais uma vez com a família: volta ao Jardim Botânico. Instalam-se na Rua Lopes Quintas, em uma casa contígua àquela em que Vinicius nascera.
1917 - Mais uma mudança, dessa vez para a Rua da Passagem nº 100, em Botafogo. É nesse endereço que nasce seu irmão Helius. Entra para a Escola Primária Afrânio Peixoto, na Rua da Matriz, em Botafogo.
1930 - Com apenas 17 anos e seguindo o caminho natural de muitos jovens que aspiravam as letras, entra na Faculdade de Direito da Rua do Catete, no Rio de Janeiro. Lá, conhece um grupo de intelectuais que marcaria definitivamente sua vida. No Caju, o Centro Acadêmico de Estudos Jurídicos e Sociais, Vinicius convive com mestres como Otávio de Faria e San Thiago Dantas, além de companheiros como Américo Lacombe, Hélio Viana, Plinio Doyle, Chermont de Miranda e Antonio Galloti.
1919 - Com apenas seis anos, Vinicius e a família mudam-se pela quarta vez para outro endereço em Botafogo. Passam a morar na Rua 19 de Fevereiro, nº 127. 1920 - No ano em que a família se muda novamente, dessa vez para a Rua Real Grandeza nº130, Vinicius é batizado na maçonaria atendendo a um desejo do avô materno, Antônio Burlamaqui dos Santos Cruz. 1922 - No ano da Semana de Arte Moderna em São Paulo, do Centenário da Independência comemorado no Rio de Janeiro e do levante dos 18 do Forte de Copacabana, Vinicius já escreve os primeiros versos e poemas no colégio. 1923 - Aos 10 anos, faz a primeira comunhão na Igreja da Matriz, em Botafogo. 1924 - Início do Curso Secundário no Colégio Santo Inácio, na Rua São Clemente, que fica em Botafogo. A partir de agora, durante a semana mora com os avós paternos na Voluntários da Pátria e passa férias e fins de semana com os pais, na Ilha do Governador. 1927 - Através da amizade com os irmãos Paulo, Haroldo e Oswaldo Tapajós, compõe as primeiras canções. Com amigos do Santo Inácio, forma um pequeno conjunto musical para tocar em festinhas. Além de Paulo e Haroldo Tapajós, também faziam parte colegas como Maurício Joppert e Moacir Veloso Cardoso de Oliveira.
44 | Fale!44 | DEZEMBRO | Fale! | Dde EZEMBRO 2013 | www.revistafale.com.br de 2013 | www.revistafale.com.br
1931 - Entra para o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR). Nunca participaria, porém, da vida militar. 1932 - Publica pela primeira vez um poema de sua autoria na revista A Ordem, edição de outubro. A publicação, editada pelo intelectual católico e crítico literário Tristão de Athayde, apresenta um jovem e conservador Vinicius, com um poema bíblico de 152 versos intitulado “A transfiguração da montanha”. Os irmãos Tapajós gravam “Loura e morena” e “Canção da noite”, composta quatro anos antes com Vinicius. 1933 - Forma-se em Direito e termina o curso no CPOR. Estimulado pelo escritor Otávio de Faria consegue publicar pela Schmidt Editora (de propriedade do poeta Augusto Frederico Schmidt) seu primeiro livro de poemas: O caminho para a distância. 1935 - Publica pela editora Irmãos Pongetti seu segundo livro, Forma e exegese. Com o destacado avanço em relação ao primeiro livro, é reconhecido pela crítica e ganha o prestigioso prêmio Filipe d’Oliveira. O livro recebe, na época, comentários positivos de Manuel Bandeira. 1936 - Novamente pela editora Irmãos Pongetti, Vinicius lança o terceiro livro, uma separata que traz o longo e único poema intitulado Ariana, a mulher.
1923
1924
1927
1928
1935
1936
1938
1939
1940
1946
1947
1949
1950
1951
1938 - Publica pela concorrida editora José Olympio os Novos poemas, seu quarto livro. A maturação formal e temática de seus versos fazem com que a poesia de Vinicius se consolide como uma das principais da chamada “Geração de 30”. Contemporâneos e nomes já de peso como Mário de Andrade (a quem o poeta dedica o poema “A máscara da noite”) elogiam publicamente o livro. 1939 - Com a Segunda Guerra Mundial, retorna ao Brasil por Portugal. Acompanhado de Tati, passa um período em Lisboa, em companhia de Oswald de Andrade, amigo de sua mulher e a quem conhece naquela ocasião. Em Estoril, aguardando a partida do navio de volta ao Brasil, escreve o “Soneto de fidelidade”. 1940 - Volta ao Rio de Janeiro e vai morar com Tati em um apartamento na Rua das Acácias, na Gávea. É lá que nasce a primeira filha, Susana. Logo depois, a família se instala numa casa na esquina da Rua Carlos Góes e Avenida General San Martin, no Leblon. Passa uma longa temporada em São Paulo, se aproximando de Mário de Andrade e do grupo de jovens intelectuais que fundariam no ano seguinte a revista Clima, como Antonio Candido e Paulo Emílio de Salles Gomes. 1941 - Sem emprego fixo, estudando para ingressar na carreira diplomática através do concurso para o Itamaraty, faz o caminho natural dos escritores de sua geração (e de muitas outras no Brasil) ao começar a trabalhar como crítico cinematográfico no jornal A Manhã, dirigido por Múcio Leão e Cassiano Ricardo. Sua participação como crítico foi fundamental para o cinema brasileiro que, nessa época, renovava sua crítica com nomes como o próprio Vinicius e, em São Paulo, Paulo Emilio Sales Gomes. 1942 - Nasce o segundo filho (e único homem), Pedro. Após ser reprovado na primeira tentativa de ingressar na carreira diplomática, passa a estudar com o amigo Lauro Escorel para uma nova tentativa que, dessa vez, será bem-sucedida. 1943 - Publica novamente pela editora Irmãos Pongetti o quinto livro, Cinco elegias, dessa vez com a colaboração luxuosa e decisiva dos amigos Manuel Bandeira (que, além de ser um dos que financiam o volume, colabora com o projeto gráfico), Aníbal Machado e Otávio de Faria. 1944 - Trabalha nos serviços burocráticos do Itamaraty e, ao mesmo tempo, segue a carreira jornalística ao dirigir o até então revolucionário suplemento literário de O Jornal. Sua atuação será
marcante pelo time de colabores que reúne, muitos deles futuros grandes nomes ainda inéditos para o público. 1945 - O fim da Segunda Guerra Mundial e do Estado Novo de Getúlio Vargas é também o ano da morte de Mário de Andrade. A perda é precedida por um pesadelo de Vinicius, em que amigos morriam em um acidente de avião. Essa história deixa marcas no poeta e viram versos famosos em “A manhã do morto”, poema dedicado ao seu grande amigo paulista. 1946 - Assume seu primeiro posto diplomático, como vice-cônsul em Los Angeles, Estados Unidos. Viaja em junho na companhia do amigo Fernando Sabino. Mora em Hollywood com Tati e os filhos Susana e Pedro. Já no primeiro ano de uma temporada que dura cinco anos sem retorno ao Brasil, Vinicius se aproxima dos músicos brasileiros que habitavam a América, como Carmem Miranda e seu Bando da Lua. 1947 - Período em que mergulha no cinema e no Jazz norte-americanos. Por morar perto dos estúdios de Hollywood e frequentar assiduamente a casa de Carmem Miranda e Alex Vianny (crítico cinematográfico brasileiro que morava na mesma cidade durante o período), vive entre músicos, atores, cineastas, executivos e críticos de cinema. Faz um curso de cinema com Gregg Toland e Orson Welles, de quem se torna amigo pessoal. 1949 - Através da iniciativa de seu amigo e também funcionário do Itamaraty, João Cabral de Melo Neto, vê seu poema Pátria minha ganhar uma tiragem especial de cinquenta exemplares, feitos na prensa pessoal do poeta pernambucano. A prensa foi batizada por ele de O Livro Inconsútil. 1950 - No ano da morte de seu pai, viaja até o México para visitar seu amigo e Cônsul-geral do Chile no país, Pablo Neruda. Foi um período em que Neruda, que se encontrava doente, lançava também no México o seu aclamado Canto geral. Ainda no país, conhece o pintor David Siqueiros e reencontra o amigo de juventude, e também pintor, Di Cavalcanti. 1951 - Na sua volta ao Brasil, passa a viver com Lila Maria Esquerdo Bôscoli. Os dois mudam-se para o Arpoador. Volta a trabalhar em jornal, dessa vez no Última Hora, fundado por Samuel Wainer. Vinicius assina crônicas sobre temas variados e permanece durante um ano exercendo também a crítica de cinema. Suas amizades incorporam novos parceiros como o boêmio, cronista e letrista Antonio Maria e o diretor de cinema Alberto Cavalcanti. www.revistafale.com.br www.revistafale.com.br| D |D EZEMBRO EZEMBRO dede2013 2013 | Fale | Fale ! ! | |45 45
IMAGENS: WWW.VINICIUSDEMORAES.COM.BR
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CULTURA
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1974
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1952 - Ano de muitas viagens ao redor de sua relação cada vez maior com o cinema. Sua amizade com Alberto Cavalcanti rende o convite para a realização do roteiro de seu próximo filme, sobre Aleijadinho. Com os primos Humberto e José Franceschi, viaja durante um mês pelas cidades históricas de Minas Gerais para registrar e fotografar a obra do artista mineiro. 1953 - No ano em que nasce sua terceira filha, Georgiana, Vinicius passa a assinar o correio sentimental do semanário Flan, de Samuel Wainer. Dirigido por Joel Silveira, editado à cores e revolucionário na proposta, o semanário durou apenas nove meses em meio à intensa campanha de Carlos Lacerda contra o dono do jornal. O poeta assinava as colunas de sua seção intitulada “Abra o coração” como Helenice. 1954 - É lançada no Brasil, pela editora A Noite, sua Antologia poética. O conjunto de poemas foi organizado pelo próprio autor, com ajuda de amigos como Manuel Bandeira. Sua peça Orfeu da Conceição é premiada no concurso de teatro do IV Centenário do Estado de São Paulo e publicada na revista Anhembi. Era o começo de um ciclo de trabalhos ao redor de Orfeu nos anos seguintes. 1955 - Através de Mary Manson, diretora da Cinemateca francesa, conhece o produtor Sacha Gordine. Juntos desenvolvem o projeto de realizar um filme a partir de sua peça Orfeu da Conceição. Vinicius desenvolve o roteiro e viaja com o produtor ao Brasil para levantar financiamento, mas retornam a França sem sucesso. No mesmo ano, porém, já se iniciam os planos para a apresentação da peça no seu formato original, isto é, o teatro. 1956 - No ano em que nasce sua quarta filha, Luciana, consegue uma licença-prêmio do Itamaraty e retorna ao Brasil por breve período para encenar sua peça Orfeu da Conceição. No mesmo período, Sacha Gordine fica em Paris produzindo o filme que resultaria no premiado Orfeu Negro. 1957 - Passa o ano em Paris, divido entre os afazeres da Diplomacia na UNESCO e a música popular. No final do ano é transferido para a Embaixada Brasileira no Uruguai e passa um breve período no Brasil até seguir para Montevidéu. Publica a primeira edição do seu Livro de sonetos pela editora carioca Livros de Portugal. 1958 - Sofre um grave acidente de automóvel em Petrópolis, porém sem maiores consequências. 1959 - Seguem os lançamentos discográficos com as composições de Vinicius e Tom. João Gilberto, que batiza seu próprio disco de estreia de Chega de Saudade, apresenta uma interpretação inovadora e transforma a canção da dupla em uma das mais importantes da história brasileira. Após esse
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disco, que ainda contava com “Brigas, nunca mais”, outra composição dos dois, os três nomes serão sempre lembrados como os fundadores da Bossa Nova. A cantora Lenita Bruno contribui para a fama ao gravar o LP Por toda minha vida, apenas com canções da dupla Vinicius e Tom. 1960 - Em meio à explosão da Bossa Nova que começava no Brasil, retorna definitivamente do Uruguai para servir na Secretaria de Relações Exteriores e tem um ano dedicado aos lançamentos literários. Publica, pela Editora do Autor (dos seus amigos Fernando Sabino e Ruben Braga), a segunda edição da sua Antologia poética, com acréscimo e revisões de poemas. 1961 - Inicia novas parcerias ao começar a compor com o jovem Carlos Lyra. Publica pela Nuova Academia Editrice, em Milão, a tradução italiana de Orfeu Negro, feita por P. A. Jannini. É lançado o disco Brasília – Sinfonia da Alvorada, feito em parceria com Tom Jobim. 1962 - Em um período intenso de sua vida artística, conhece e começa a compor com Baden Powell. Após três meses morando – e bebendo – juntos no Parque Guinle, produzem um dos cancioneiros mais definitivos da música popular brasileira. Desse encontro, cujas canções serão lançadas aos poucos durante os anos seguintes, surgem todos os Afrosambas da dupla, cujo disco só é gravado quatro anos depois. 1963 - Em uma temporada na casa de Lúcia Proença, em Petrópolis (projetada por Oscar Niemeyer), continua a expandir seus parceiros, dessa vez com a novíssima geração de músicos do período. Faz, com Edu Lobo, uma série de canções bem sucedidas como “Arrastão” e “Zambi”. Compõe também com os jovens Francis Hime (de quem continuaria parceiro ao longo da vida) e Jards Macalé. 1964 - Regressa ao Brasil depois do golpe militar de 31 de março. Volta a exercer regularmente o jornalismo ao assinar crônicas semanais para a revista Fatos e Fotos e textos sobre música popular para o Diário Carioca. 1965 - Inaugurando a era dos Festivais na música brasileira, “Arrastão”, canção composta com seu jovem parceiro Edu Lobo e interpretada por uma bombástica Elis Regina, é eleita a melhor música do I Festival Nacional de Música Popular Brasileira da TV Excelsior. Vinícius também leva o segundo prêmio com “Valsa do amor que não vem”, composta com Baden Powell e interpretada por Elizeth Cardoso. 1966 - É lançado pela gravadora Forma os Afrosambas, disco de Vinicius e Baden Powell. Reunindo músicas que vinham sendo feitas nos últimos anos, a dupla cria um marco na música
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popular brasileira pela sua fusão entre o violão de Baden, as letras de Vinicius e os ritmos e temas do Candomblé baiano.
1973 - Vinicius e Toquinho fazem a trilha sonora da novela O Bem Amado (Som Livre), da Rede Globo de Televisão.
1967 - Devido a um pedido seu, aprofunda sua histórica ligação com Minas Gerais após ser posto, pelo Itamaraty, à disposição do Governo de Minas Gerais e da Fundação Ouro Preto (na época dirigida pelo escritor Murilo Rubião) para estudar a realização anual de um Festival de Arte. Passa a frequentar intensamente a cidade histórica, entre casas de amigos e bares da noite mineira. Ainda ligado a Festivais, participa como jurado no I Festival de Música Jovem da Bahia.
1974 - Vinicius e Toquinho trabalham em mais uma (e derradeira) trilha sonora para novela. Dessa vez é Fogo sobre terra (Som Livre), novamente da Rede Globo de Televisão. Ainda lançam Vinicius e Toquinho (Philips) e Toquinho, Vinicius & amigos (RGE). Viaja com seu vizinho e amigo Calazans Neto para Londres. Depois, segue para breve temporada na Itália.
1968 - No ano em que o Brasil conhece o início do momento mais obscuro da ditadura militar, Vinicius perde no dia 25 de fevereiro sua mãe, Lydia de Moraes. Em dezembro, mês da instauração do Ato Institucional nº 5, realiza, ao lado de Baden Powell e da cantora Márcia, uma série de shows em Portugal. No dia 13, data da publicação do Ato, Vinicius faz no palco, como forma de protesto, uma leitura de seu poema “Pátria minha”. 1969 - Após um ordem direta do Presidente Arthur Costa Silva, Vinicius é exonerado do Itamaraty em meio a um expurgo oficial de funcionários não alinhados com o governo ditatorial do período. Vive uma intensa agenda de shows que levaram Vinicius a Salvador, Buenos Aires, Montevidéu e Lisboa. Também na cidade portuguesa, realiza e grava ao vivo na Livraria Quadrante um recital de poesia. O mesmo torna-se, no ano seguinte, um disco lançado pelo selo Festa. 1970 - Nasce Maria, quinta filha de Vinicius. Inicia longa e frutífera parceira de canções, discos e shows com Toquinho. A primeira canção que compõe juntos é “Como dizia o poeta”. Ela é apresentada em setembro, em show feito no Teatro Castro Alves.
1975 - Entre excursões europeias, com uma série de shows, grava dois discos com Toquinho na Itália: Toquinho, Vinicius de Moraes e Ornella Vanoni e O Poeta e o Violão(RGE). Grava também mais um álbum da dupla, novamente intitulado Vinicius e Toquinho (Philips). 1976 - Em um ano sem trabalhos com Toquinho, faz, com o antigo parceiro Edu Lobo, a trilha sonora do musical Deus lhe pague. Passa a viver com Marta Rodrigues Santamaria e se divide entre Rio de Janeiro e Buenos Aires. 1977 - Participa, ao lado de Tom Jobim, Miúcha e Toquinho, do marcante show Tom, Vinicius, Toquinho e Miúcha, um sucesso que ficou sete meses em cartaz na casa de shows carioca Canecão. O disco, lançado pela Philips no mesmo ano, torna-se fundamental na música popular brasileira. O show ainda tem breves excursões para São Paulo e para outros países. 1978 - São lançados os livros O falso mendigo, poemas de Vinicius de Moraes, edição numerada de 200 exemplares com xilogravuras de Luis Ventura, feita pela editora Fontana; e Amor total, livro dedicado a um soneto famoso do autor, editado pela Record. É lançado o filme-documentário Vinicius, um rapaz de família, dirigido pela sua filha Susana Moraes. Passa a viver com Gilda de Queirós Mattoso, sua última mulher.
1971 - Com intensa agenda de shows ao lado de Toquinho e outras cantoras, são lançados, no mesmo ano, vários discos com Vinicius. O primeiro é Como dizia o poeta, com Maria Medalha e Toquinho (RGE), baseado no show de grande sucesso no ano anterior.
1979 - Vinicius e Toquinho comemoram sua bem sucedida parceria com o disco 10 anos de Toquinho e Vinicius(Philips). A convite do então líder sindical do ABC paulista, Luís Inácio Lula da Silva, lê, em uma assembleia, seus poemas no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Dentre os poemas, uma aclamada récita de “O operário em construção”.
1972 - Novamente um ano ocupado por shows e gravações no Brasil e em outros países. Com Toquinho, lança São demais os perigos dessa vida. A dupla também lança, ainda com Maria Creusa, o álbum Eu sei que vou te amar, versão brasileira do show do trio, feito no ano anterior, na boate argentina La Fusa (RGE). Com Maria Medalha, lança o disco Marília e Vinicius – encontros e desencontros (RGE).
1980 - Mesmo passando por dificuldades com sua saúde, lança, com Toquinho, pela gravadora Ariola, seu derradeiro disco, Um pouco de ilusão. Morre de edema pulmonar no dia 9 de julho em sua casa na Gávea, ao lado de seu parceiro Toquinho e de Gilda Mattoso.
C R O N O L O G I A A v i d a d o p o e t a V i n í c i u www.revistafale.com.br s de Moraes
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IMAGENS: WWW.VINICIUSDEMORAES.COM.BR
1957
ÉTICA E POLÍTICA POR CARLOS ROBERTO MARTINS RODRIGUES ADVOGADO
A
Política, para guardar coerência com as origens da expressão, deve traduzir a arte de bem conduzir os negócios públicos. A arte de bem conduzir o Estado, direcionando suas posturas para a realização do chamado bem comum, que consiste, fundamentalmente, na repartição dos bens sociais de forma igual com os partícipes do grupamento societário. As posturas da condução estatal tanto podem ser assumidas pelos que dirigem e atuam nos núcleos mais importantes, hierarquicamente falando, do Poder, como em sua periferia, através dos instrumentos que a ordem social põe à disposição da cidadania. Além da adequação dos comportamentos aos princípios e regras que se contêm na ordem jurídica presidente da convivência social, a começar da Constituição, é indispensável que princípios como o da eficiência e o da finalidade sejam obedecidos para que se cumpra o desígnio maior do Poder, que é a satisfação do bem estar geral. Por outro lado, há, ainda, como importante referência, o princípio da moralidade, que obriga a que o detentor do poder público se conduza de modo a por, em primeiro plano, e de forma indisponível, o atendimento do chamado interesse público primário (realização do bem comum), muitas vezes conflitante com o denominado interesse público secundário, que diz com as necessidades do aparato estatal. As condutas do Poder público devem, ainda, ser efetivadas segundo regras éticas, informadoras, em última análise, dos comportamentos dos que convivem numa dada medida social. O que são tais regras éticas ? São regras que dizem ao exercente do Poder Público como deve agir, que procedimentos pode adotar, para cumprir um outro importante princípio do atuar estatal, que é o da funcionalidade. Ou seja, procedimentos ajustados às finalidades perseguidas pelo Poder, a fim de, com eficiência e legitimidade, alcançar o bem comum, efetivando-o. Tudo isso é repetido, todo dia, na mídia, na comunicação em geral, nos discursos elei48 | Fale! | DEZEMBRO de 2013 | www.revistafale.com.br
torais, nos papos da cidadania, nas ruas, em casa. Lamentavelmente, na prática, passa-se, no Brasil, uma idéia de que pode haver uma ética toda particular na arte de conduzir os negócios da coletividade, bem distante daquela que a Constituição estipula em seus princípios fundamentais, quando define que tipo de ordem jurídica quer, que tipo de Poder Público, que tipo de comportamento político determina, em benefício da realização do bem estar de todos, que tipo de convivência impõe, para que todos saiamos ganhando. Os que alcançam o Poder embriagam-se na ilusão da propriedade e da posse da parcela do domínio eminente, que lhes é outorgada , julgando-o de exercício eterno. E haja atentados à liberdade, aos direitos fundamentais, à cidadania, de um modo geral, ao direito do outro, aliados a um descaso pelo cumprimento dos deveres mais elementares que envolvem os que o Povo selecionou para o exercício do Poder. Confunde-se “paz do cemitério” com paz social, “acomodação com o status quo” com tranquilidade coletiva, eliminando-se, teoricamente, os riscos da convivência social com o pretexto da necessidade de segurança... Esquece-se a advertência de Tácito: “Malo periculosam libertatem quam quietam servitutem” (é preferível a liberdade cheia de perigos a uma servidão pacífica”).
O ano que acaba de terminar mostra, em termos de Brasil, exemplarmente, como se deve fazer a Política distanciada da Ética, determinante de feliz convivência entre o Poder e a Liberdade. O que aconteceu — e ainda acontece — , em nosso país, é uma clara demonstração de que, mais do que retirar da escuridão do analfabetismo grande parcela da população, mais que colocar na escola a criança de rua, estamos a precisar, urgente, de um movimento cívico de educação da própria elite, assim auto-denominada, por Ter nas mãos não apenas o mando político, mas a fonte primeira e preponderante de tal mando, que é a força econômica. As reformas propostas pelo Governo, preocupadíssimo com a viabilização da reeleição do tuchaua maior, na verdade, passaram ao largo de outras, certamente essenciais, que passam, necessariamente, pela reforma do Homem brasileiro, principalmente o dirigente, nos vários níveis e tipos de poder social, pleno de egoísmo, de pragmatismo conflitante com as boas regras da convivência social, contaminado por uma propaganda que desestrutura a formação de uma plena cidadania. A palavra chave continua sendo educação, em todos os quadrantes conceituais em que possa ser ob-
servada. Não se trata, apenas, de redimir a imagem dos que conduzem a Política ou dos que imprimem as normas que devem subordinar as ações de todos no diálogo cada vez mais áspero e difícil do Poder com a Liberdade, ou desta com aquele. Mas de abrir novos caminhos, formando a cultura da Constituição e da Justiça Social. O sacrifício imposto à Nação, aparentemente para salvar a maioria da miséria, não tem correspondência com a melhoria de vida da população. Joga-se a classe média para escanteio, mantém-se uma filosofia de sucateamento do serviço público, tornando-se definitiva a eleição do funcionário público como o grande bode expiatório da nação. n Publicado originalmente na revista Inside Brasil, em fevereiro de 1998 www.revistafale.com.br | DEZEMBRO de 2013 | Fale!
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ATRAÇÃO DAS MELHORIAS URBANAS POR JOAQUIM CARTAXO
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ARQUITETO
A
urbanização da humanidade consolidou-se como movimento permanente e irreversível. Da população mundial, cerca de 50% concentramse em cidades no presente e eram 14% em 1900. Estudos apontam probabilidade de, a cada dez pessoas, sete ocuparem áreas urbanas em 2050. Movimento global em que as cidades hegemonizam crescimento econômico, desenvolvimento social e cultural, marcado pela atração de capital financeiro e capital humano; produção de riqueza; criação e propagação de ideias; desenvolvimento de infraestrutura e serviços para atender as comunidades aglomeradas em pequenas, médias cidades, metrópoles e megalópoles. 50 | Fale! | DEZEMBRO de 2013 | www.revistafale.com.br
Advêm dessa hegemonia, por exemplo: cidadesproblema e cidades com problemas; cidades mais preservacionistas e menos preservacionistas socioambientalmente; cidades com economias mais dinâmicas do que o país a que pertencem. Cada circunstância dessa porta potencialidades e fatores restritivos ao desenvolvimento cujo porte, natureza e soluções resultam das peculiaridades de cada lugar. Observado assim, qualquer cidade, bem como município e região a que pertence, requer indicadores de suas vantagens competitivas quanto a outros territórios. Daí aponta-se que melhores requisitos de gestão de recursos e autonomia na tomada de decisões pelo governos municipais podem
ser utilizados em relação à dependência do governo nacional. Qual o proveito dessa autonomia? Maior governabilidade sobre resoluções quanto à melhoria das condições de vida e trabalho das pessoas, circunstância básica para ampliar potencial de atração de empreendimentos, impulsionar crescimento econômico, aumentar riqueza, gerar emprego e distribuir renda. Todavia, grife-se: o crescimento crescente dessa melhoria atrai mais atividades e população que demandam por mais, novos e melhores serviços. Consequentemente, isso pede mais orçamento para atender necessidades e interesses dos habitantes da cidade. n
A revista de informação do Ceará.
CEARÁ: MODA PRAIA E SURF, UM SUCESSO Revista de informação ANO VI — Nº 69 OMNI EDITORA
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Francisco Pinheiro, vice-governador do Ceará
O HOMEM DO PT NO GOVERNO CID
Os leitores da revista Fale! são decisores, pessoas que não abrem mão de informação de qualidade. Política e Economia são os principais temas da revista de informação. Fale! Quem decide, lê.
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