Revista Giropop - Edição 61

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Editorial

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este mês, a palavra de ordem é: paixão. Afinal, este sentimento move montanhas. Foi ele, inclusive, que motivou um grupo de amigos a deixar Itapoá e viver a vida em Portugal. É este sentimento que motiva milhares famílias a batalharem contra o câncer infantil. É a paixão que inspira o desejo, pela música, pela educação, pelas viagens ou pelas águas de Iemanjá. Portanto, dedicamos esta edição aqueles apaixonados e apaixonantes, que têm anseios, histórias e motivos de sobra para sorrir. Ah, e se você ainda não encontrou o que lhe faz um apaixonado pela vida, já é um bom motivo para dar início à leitura dessa edição.

ÍNDICE Guarda-vidas itapoaenses realizam intercâmbio de salvamento aquático Japão: uma aula de cidadania e de como viver em sociedade Gees: Nova turma para ensino médio Desafios e superações da jornada contra o câncer infantil Câncer infantil: conscientizar-se é preciso Quem é? Mestre Piazetta - Entre caixas, pratos, surdos e bumbos Arte Solidária - Do biscuit ao universo infinito do artesanato Mar de Iemanjá: peça licença ao entrar e agradeça ao sair

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CULTURA portugal

Os itapoaenses e ex-guarda-vidas Wellington, Rodrigo, Ozias Juninho (que realizaram o intercâmbio) e José Masteck, que partiu para Portugal ao exemplo dos amigos.

Guarda-vidas itapoaenses realizam intercâmbio de salvamento aquático Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

A cada verão, dezenas de guarda-vidas civis evitam situações de perigo e guardam as vidas nas praias itapoaenses. Através da profissão, quatro nomes deixaram o município litorâneo do norte catarinense e três deles viveram um intercâmbio de salvamento aquático em Portugal. Eles são Wellington Weiss Correa (24), Rodrigo Felipe Quintana (30), Ozias de Oliveira Freitas Junior (29), mais conhecido como Juninho, e José Masteck (23). Em entrevista à revista Giropop, contam sobre o processo seletivo de intercâmbio e a experiência de trabalhar como nadador-salvador (como são chamados os guarda-vidas em Portugal). Ainda, falam sobre as vantagens, descobertas e desafios de viver na nação mais a ocidente do continente europeu, e afirmam: “Itapoá vive dentro de nossos corações e de nossas melhores memórias”.

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ascidos e criados juntos na pequena Itapoá, Wellington, Rodrigo e Juninho enxergaram na atividade de guarda-vidas mais que uma fonte de renda durante a alta temporada, mas, também, uma forma de estar em contato com a natureza e de poder contribuir com o município. Os primos Rodrigo, formado em Geografia, e Wellington, formado em Comércio Exterior, confessam que já tinham o desejo de morar no exterior. A oportunidade ideal surgiu no verão de 2015/16, quando

a Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (SOBRASA), em parceria com o Instituto de Socorros a Náufragos (ISN), divulgou um intercâmbio em salvamento aquático, que ocorria todos os anos entre Brasil e Portugal. “Quando publicaram o edital, ficamos muito empolgados com a ideia de vivenciar outra cultura e, ao mesmo tempo, dar continuidade à missão de guardas vidas, pela qual temos tanto respeito”, fala Juninho, que já havia tido a experiência de morar no Chile com sua família.

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O itapoaense Rodrigo “turistando” por Sines, cidade onde nasceu Vasco da Gama.

Processo seletivo Recolhendo informações junto ao Corpo de Bombeiros Militar de Itapoá, os guarda-vidas passaram por diversas etapas antes da aprovação, todas demandando muito esforço para deixar em dia a parte burocrática. Rodrigo explica: “Este processo foi um pouco cansativo, pois tivemos de reunir documentos pessoais e profissionais, autenticar papéis, criar o passaporte, realizar consultas médicas, visitas ao consulado, etc. Também, realizamos um teste físico e teórico, este último, de alto nível de dificuldade, com termos que desconhecíamos. Felizmente, estudamos bastante e nossas condições físicas já estavam em dia”.

Nadador-salvador Wellington em seu primeiro dia de trabalho em Portugal, na Praia do Farol.

Em meio a quase uma centena de inscritos de todos os cantos do Brasil (a maioria do estado de Santa Catarina), apenas 20 guarda-vidas foram aprovados, entre eles os itapoaenses Wellington, Juninho e Rodrigo. “Ficamos irradiantes com a notícia. Era a porta de entrada para um novo país e uma nova cultura. Além disso, trocaríamos experiências com pessoas da mesma profissão. No entanto, o intercâmbio incluía alojamento, transporte e alimentação. A passagem aérea e o dinheiro para manter-se no primeiro mês estavam ao nosso encargo. E, para quem vem de família humilde, aquela era uma viagem caríssima. Portanto, pensamos em ações para arrecadar di-

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Catalina, Juninho e o pequeno Caíque: passeio em família pelo bairro Chiado, centro de Lisboa.

José desbravando a Praia de São Rafael, Albufeira, no Algarve.


Visual da praia de Zambujeira do Mar, pelo olhar de Wellington.

nheiro”, relata Wellington. Como forma de cobrir parte dos gastos já gerados e receber auxílio durante o período de adaptação ao intercâmbio, Juninho vendeu seu carro, enquanto Wellington e Rodrigo organizaram um jantar árabe em Itapoá, na Toca da Raposa, com a presença de amigos, familiares e simpatizantes da causa. “Foi incrível, pois os munícipes e comerciantes fortaleceram a iniciativa, e o evento foi um sucesso. Somos eternamente gratos a todos aqueles que nos incentivaram, especialmente ao Valdecir de Oliveira, pai do nosso amigo José Pozzer, e ao Edinho Agostinho, proprietário da Toca da Raposa”, dizem os primos.

Enfim, Portugal O ttrio embarcou em meados do mês de junho, com destino à cidade litorânea de Sines, onde nasceu Vasco da Gama, ao sul do país. Lá, trabalharam como nadadores-salvadores até o final do verão europeu. Como Juninho foi a Portugal com a intenção de viver com sua esposa, a chilena Catalina Paz Navarro Cruz (28), e seu filho, Caíque de Oliveira Navarro (3), tomou caminhos diferentes dos amigos. Mais tarde, reencontraram-se durante uma temporada de trabalho na cidade de Faro, localizada na região de Algarve, também ao sul de Portugal, conhecida por suas

praias paradisíacas, cavernas e grutas de calcário. Entusiasmado com os convites e relatos dos amigos, José Masteck, que trabalhava como guarda-vidas civil e instrutor do Projeto Golfinho há algum tempo no município, concluiu a temporada de trabalho de 2016/17 e seguiu seus passos. “Sob incentivo da rapaziada que já vivia por lá e em busca de novas experiências, eu e meus amigos guarda-vidas Luan, Alcemar (mais conhecido como Binho), Hiago e Daniel (mais conhecido como Danica) deixamos Itapoá para conhecer, trabalhar e, quem sabe, morar em Portugal”, conta José, que acabou, de fato, ficando por lá.

Contrastes culturais Desde o primeiro momento em que pisaram no velho continente, os brasileiros ficaram impressionados com as belezas e as peculiaridades de Portugal. Segundo Rodrigo, uma das características mais interessantes é a arquitetura portuguesa, marcada pela história do país e dos vários povos que por lá se instalaram: “o povo português sempre remete-se ao passado, e isso é percebido facilmente andando pelas ruas e conhecendo seus castelos, fortalezas e monumentos religiosos”. Ele também ressalta o turismo do país, que está cada vez mais em evidência no continente europeu, recebendo estrangeiros de todos os cantos do mundo.

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De acordo com os brasileiros, em Portugal, a maioria dos serviços públicos é bom. “Aqui, o básico, como educação, saúde, mobilidade (com destaque para os ‘autocarros’, como são conhecidos os ônibus) e segurança, funciona. Acho que foi, inclusive, por conta dessa qualidade de vida elevada que trouxe minha família para cá”, conta Juninho. Já para Wellington, a principal diferença entre os dois países, é que o europeu consegue fazer muito ganhando pouco: “Não importa se você é empresário de uma multinacional ou empregado de mesa (como é conhecido o garçom), pois será tratado da mesma forma e terá oportunidades iguais. O poder de compra favorece até aqueles que ganham menos, e isso

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pude notar logo em minha primeira ida a um mercado local, quando consegui comprar mais itens do que imaginava”. Ele ainda complementa que Portugal tem, sim, alguns problemas, mas que estes não chegam a interferir na qualidade de vida da população. A cultura também está intrínseca no local, desde artistas de rua, teatros, shows, festivais, piscinas municipais, parques e galerias de arte ao livre, até lugares com vida noturna agitada, como o Bairro Alto ou a Pink Street, onde é possível conhecer o tradicional Fado (estilo musical português). Sobre o povo local, contam que são muito mais reservados e introvertidos que os brasileiros. Contudo, educados e receptivos se um


José Masteck, das praias itapoaenses para a Praia de São Rafael, Albufeira, Algarve.

estrangeiro tiver dificuldade com algo, como, por exemplo, a língua. Falando nisso, diferente do que muitos imaginam, o português de Portugal difere, ainda que pouco, do português do Brasil. Além de pequenas diferenças na pronúncia e escrita, algumas palavras têm significados diferentes. Por exemplo: em Portugal, o celular é chamado de “telemóvel”, a faixa de pedestres de “passadeira”, o cafezinho de “bica”, o pedágio de “portagem”, o gramado de “relvado” e as águas-vivas de “alforrecas”. Mas os itapoaenses garantem: essa dificuldade de assimilar algumas palavras é resolvida em questão de semanas.

Nadador-salvador O principal objetivo do intercâmbio foi atuar como nadador-salvador em uma zona de Portugal chamada Alentejana e contribuir para a segurança na região da Costa que, até então, apresentava carência de profissionais da área. No Brasil, chama-se guarda-vidas e em Portugal chama-se nadador-salvador. No país europeu, ser um nadador-salvador é considerado uma profissão; este profissional trabalha 8 horas por dia e é contratado por associações locais. Como a população de veranistas nas praias portuguesas é muito menor em relação ao Brasil, seus índices de ocorrências são baixíssimos,

especialmente nas praias ao sul, onde as águas são mais tranquilas (diferente do norte, onde está situada Nazaré, famosa por suas ondas gigantes que atraem surfistas do mundo todo). Em Portugal, prevalece o trabalho de prevenção, através de orientações na areia da praia. Outra vantagem citada pelos brasileiros é que, no exterior, os banhistas costumam ter mais respeito aos salvadores e às sinalizações das bandeiras. Em contrapartida, afirmam que a preparação física dos guarda-vidas é muito melhor: “nada se compara aos testes físicos do Corpo de Bombeiros Militar”.

Ainda, contam que os equipamentos de salvamento – como nadadeiras, life belt (equipamento flutuador), jet sky e helicópteros – e as condições básicas de trabalho – como posto de guarda-vidas, banheiros e chuveiros – são muito mais estruturadas no país verde e amarelo. Ou seja, o trabalho possui pontos positivos e negativos em ambos os países. Nas palavras de Wellington: “Nada invalida o intercâmbio de salvamento aquático em Portugal, que possui praias paradisíacas, particulares e com cenários exuberantes. Ao final das contas, o que vale é desenvolver um bom serviço e trocar experiências”.

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Crescimento pessoal Com transportes públicos baratos e interligados, estar em Portugal facilita bastante quando pretende-se viajar gastando pouco. “Em menos de dois anos, tivemos a oportunidade de realizar grandes viagens, inclusive, para a Espanha. Ter fácil acesso aos países europeus, fazer amizade com pessoas do mundo todo diariamente, aprender outras línguas, tudo isso é ampliar o repertório cultural”, fala Wellington. A localização privilegiada também atrai Juninho, que adora viajar e considera-se uma pessoa desapegada. Dar mais valor à vida, às coisas simples, cuidar mais do corpo, da mente e da alma foram algumas lições que o intercâmbio ensina a Rodrigo: “Gosto muito da energia do país e me sinto muito bem aqui, onde até as pessoas mais ricas e bem-sucedidas não costumam dar tanta importância para status ou bens materiais”. Com amigos de diferentes nacionalidades e o sonho realizado de conhecer um estádio de futebol europeu, José também reconhece que a vivência está sendo de grande valia. Atualmente, todos os quatro residem em Lisboa: Juninho vive com a família, enquanto Rodrigo, Wellington e José moram juntos. “Está sendo uma experiência incrível, pois vie-

mos do mesmo lugar, com o mesmo propósito e somos amigos há muito tempo, o que, de certa forma, acaba confortando o fato de estarmos longe da família”, diz Wellington. Na baixa temporada, trabalham em outras áreas, cumprindo o horário comercial. Ainda assim, têm qualidade de vida de sobra: “Graças ao tamanho territorial dos países, a relação de distância para os portugueses é muito diferente do que é para nós, brasileiros. Então, achamos tudo muito próximo por aqui, e adoramos fazer as coisas caminhando”. Palavra de incentivo Àqueles que desejam fazer como Rodrigo, Wellington, Juninho e José, eles aconselham: “Defina isso como uma prioridade, dedique-se e tenha coragem, pois trabalho não falta. É um processo um pouco demorado, mas vale a pena, pois o custo de vida aqui é um dos mais baratos de toda a Europa”. Se os gastos financeiros forem empecilhos, comece a se planejar o quanto antes e organize um evento solidário, ao exemplo de Wellington e Rodrigo. Há muitos brasileiros tentando a vida em Portugal e ainda há espaço para mais deles. Mas, é bom lembrar: é preciso atitude, afinal de contas, nenhum lugar é fácil para quem

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Os primos Rodrigo e Wellington durante um treino na Praia do Malhão.


não tem determinação de correr atrás dos sonhos. Se alguém desejar trabalhar como nadador-salvador ou simplesmente conhecer Portugal, os itapoaenses estão à disposição para dicas e conselhos. Por fim, acrescentam: “Agradecemos ao Corpo de Bombeiros Militar de Itapoá por todos os aprendizados durante nossas temporadas como guarda-vidas civis, especialmente ao Sargento Paulo Baptista e ao Cabo Odair Greffin, profissionais que nos inspiram todos os dias”.

Mensagem final Hoje, a saudade da família é, para todos eles, o fator mais difícil de lidar. Há quase dois anos longe de casa, Wellington, que sempre morou com a mãe, fala: “está sendo doloroso, mas estou focado em meus objetivos”. Para encurtar os 8.298 quilômetros que separam Itapoá de Lisboa, fazem bom uso da tecnologia. Dentre os planos dos brasileiros, visitar Itapoá é um desejo que pretendem realizar a curto prazo. “Sinto falta de Escritório de trabalho do itapoaense Rodrigo, em Porto Covo, na Costa Alentejana.

Rodrigo e Wellington em meio ao grupo, quando os brasileiros deram início às operações de nadador-salvador na Costa Alentejana.

dar boas risadas com os amigos, seja em cima da Terceira Pedra, em um barzinho, na esquina de casa ou jogando futevôlei na praia”, fala Rodrigo. Já José, também acrescenta à lista a comida boa: “Aqui, os portugueses comem muito mal. Sinto a falta da comida da minha mãe”. Para Juninho, curtir música local, andar pelas ruas itapoaenses e conhecer todas as pessoas também são motivos de saudade. “Uma vida simples, sem esbanjar muito, mas de qualidade e oportunidades”: assim, José, Wellington, Rodrigo e Juninho definem o momento atual. Ademais, deixam os sinceros

agradecimentos a todos aqueles que deram seu empurrãozinho para que este sonho se tornasse realidade, desde um conselho até um valor simbólico. Vivendo um dia de cada vez, finalizam: “Sem dúvidas, este intercâmbio está mudando nossas vidas. São tantos pontos positivos que impressionam qualquer pessoa que venha de uma realidade diferente. Obrigado, itapoaenses, por serem sempre solícitos e solidários à cultura do município, desde um campeonato de surfe ou skate até um jantar beneficente. Levamos vocês em nossos corações e em nossas melhores memórias. Até breve!”.

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POR AÍ

Japão: uma aula de cidadania e de como viver em sociedade

Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

Há um clichê para lá de batido para descrever o Japão: a terra do sol nascente, onde tradições milenares convivem com a mais alta tecnologia. Não que não seja verdade, mas é uma visão um pouco simplista. Recentemente, o casal Melliça Carvalho e Henrique Aguiar, de Itapoá (SC), esteve pelo Japão, junto dos filhos Valentina (6) e Caetano (3). Lá, descobriram que a terceira maior economia do mundo tem muito mais a oferecer do que robôs, sushis e samurais. Tóquio é a super-megalópole mais limpa e organizada do planeta, e a cultura japonesa impressiona com a quantidade de detalhes, costumes e boas maneiras.

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elliça e Henrique sempre apreciaram conhecer o mundo. Depois do nascimento dos filhos, viajar – uma tradição, até então, em casal – tornou-se uma tradição em família. Em junho de 2017 encontraram uma promoção de passagens aéreas para o Japão: a oportunidade ideal para conhecer o país que já despertava-lhes interesse. Cinco meses depois, em novembro, Melliça, Henrique, Valentina e Caetano partiram para uma experiência de cerca de 25 dias no Japão e Canadá, onde aproveitaram um voo de conexão. No roteiro, as cidades de Tóquio, Quioto, Nara, Takayama e Kawaguchiko, próxima ao Monte Fuji, no Japão, e Vancouver e Whistler, no Canadá.

De Itapoá para Tóquio: casal Melliça Carvalho e Henrique Aguiar, com os filhos Valentina e Caetano.

Pisando na terra do sol nascente, a família sentiu dificuldade para adaptar-se ao fuso horário. O Japão está 12 horas mais adiantado que o Brasil, mas como a viagem aconteceu durante a vigência do horário de verão, os brasileiros estiveram 11 horas à frente. Outro fato que lhes causou estranheza foi a língua: o inglês não é uma prioridade no Japão, ele é

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o quarto idioma mais falado no país, perdendo para o chinês e coreano. “Foi difícil encontrar japoneses que falassem inglês e, quando isto acontecia, era um inglês com sotaque difícil de compreender”, contam. Por exemplo, milk os japoneses pronunciam miruku, taxi é takushi e box é bokuzu. Sim, é possível encontrar placas, panfletos e indicações em

inglês, mas como toda regra, há exceções. No caso de conteúdos disponíveis apenas em japonês, as figuras ilustrativas costumam livrar os turistas. Também, o país não aceita a Permissão Internacional para guiar seu próprio veículo, portanto, não dá para dirigir no Japão sendo estrangeiro. Sendo assim, a família andou de trem e metrô, como boa parte da população local. “Os japoneses, em sua maioria, utilizam trens e metrôs para tudo, sejam ricos, pobres, donas de casa, executivos, crianças ou jovens. É um meio de transporte tão eficiente e pontual que muitos deles nem têm carro. Se precisarem carregar bagagens, há um serviço específico com motorista para transportar suas malas até o hotel da cidade desejada”, conta o casal. As estações de metrô também são um desfile de moda à parte, abrigando lojas de grifes famosas, como Louis Vuitton. Apesar de ser a maior cidade do mundo, Tóquio não tem forte cultura de aviação. Por lá, fazem poucos voos internos, uma vez que o Shinkansen, como é popularmente conhecido o

Vestimenta e maquiagem tradicional de gueixa, Quioto / Floresta de bambu em Arashiyama, Quioto / Máquina de ramém, onde o cliente faz o pedido e paga na máquina. Depois, a comida é servida na mesa marcada.


Noite iluminada em Shinjuku, Tóquio / A foto ao meio é no Canadá, clima de natal em Vancouver / Caminho de lanternas de pedra, em Nara

trem-bala, pode atingir velocidades de até 300 quilômetros por hora e possui horários flexíveis. Melliça e Henrique também destacam que os taxistas do Japão costumam dirigir de terno, gravata e luvas brancas. Na cosmopolita e moderna Tóquio, a família explorou restaurantes, hotéis, meios de transporte, passeou pelas ruas e se divertiu na Tokyo Disneyland. Em Quioto, eles visitaram templos e santuários e, apesar de não avistarem as verdadeiras gueixas (mulheres japonesas que estudam a tradição milenar da arte, dança e canto, caracterizadas pelos trajes e maquiagens tradicionais), que ainda existem em minoria por lá, puderam ver muitas turistas japonesas com a vestimenta tradicional, que alugam os trajes para serem fotografadas nesse cenário tão tradicional. Em Nara, observaram os veados (sagrados na região e detentores do título de Tesouro Nacional Natural desde 1957) e visitaram o templo

Todaiji (um dos templos budistas mais famosos do país, pela sua importância, tamanho e por abrigar a maior estátua de Buda do Japão e a maior em bronze do mundo). Na pequena e tradicional cidade de Takayama, se deleitaram com os picos dos Alpes Japoneses. Já em Kawaguchiko, Henrique participou da Fujisan Marathon (Maratona de Monte Fuji) – corrida que considerou bem organizada e silenciosa. Mas, entre um destino e outro, os brasileiros constataram que a cultura japonesa oferece outras tantas singularidades. Peculiaridades da cultura No Brasil, os sushis foram adaptando-se ao paladar brasileiro, enquanto no Japão utilizam maior variedade de peixes e existem regras de etiquetas para seu consumo. Banhar a peça toda no molho shoyu, por exemplo, não é bem visto por lá, uma vez que disfarça todo o sabor do peixe. É bom lembrar: no Japão, o correto é colocar

Valentina na entrada do Onsen, com o tradicional Noren / Caetano conhecendo os toriis do templo Fushimi Inari , em Quioto

Ryokan em Takayama / Buda do templo Todaiji, em Nara

uma pequena quantidade de shoyu apenas sobre o peixe, nunca sobre o arroz. Por lá, a profissão de sushiman é muito renomada e existem cursos em faculdades para tornar-se um deles. No entanto, o prato principal da culinária japonesa não é o sushi, e sim o rámen – um tipo de macarrão, com uma sopa com caldo à base de ossos de porco, peixe ou frango, ao molho tarê. O saquê é a bebida tradicional e o matchá (um chá verde pulverizado) faz sucesso enquanto chá, sabor de sorvete, de bolacha ou até de chocolate Kit Kat (também há Kit Kat com sabor de wasabi). Sobre casas, hotéis e restaurantes, quase tudo no país acontece em um espaço reduzido. “O tamanho do estabelecimento não desmerece sua qualidade, muito pelo contrário. O melhor restaurante que visitamos no Japão tinha até premiações, era minúsculo e ficava dentro da estação de metrô”, conta Melliça. Devido a capacidade de aproveitar e economizar espaços, os am-

bientes japoneses são referências em design de interiores. Desde o século 8, abaixar o corpo é a forma de cumprimento mais tradicional do Japão. Pode parecer simples, mas o ato de curvar-se em reverência, chamado de ojigi (arco), é cheio de significados, como pedido de desculpas, agradecimento, respeito aos deuses e animais, em resposta aos aplausos e, até mesmo, em respeito aos clientes. Na porta de muitos estabelecimentos está o noren, uma cortina japonesa. Este tecido possui a função de fazer todos que adentram o estabelecimento, independente de quem seja, curvarem-se em sinal de respeito. Outras peculiaridades do país são os ryokans e os onsens. Os primeiros são hospedarias tradicionais, para conhecer de perto a cultura japonesa. Melliça, que hospedou-se em ryokans com a família, conta: “A principal característica desses estabelecimentos é possuir quartos tipicamente japoneses. Isso quer dizer que o chão é

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forrado com tatame (os calçados devem ficar do lado de fora), o piso é feito com palha de arroz prensado, as mesas e cadeiras são baixas e dorme-se em futons (conjunto composto por um colchão bem fino e edredon). Nós dormimos em ryokans por dois dias e concluímos que é uma experiência bastante rica e interessante, mas pouco confortável”. Já onsen significa “água termal” e é o nome utilizado para as casas de banho quente, naturais ou artificiais, espalhadas pelo país. Quando se tratam de fontes naturais, esses complexos ficam em lugares mais afastados do centro das cidades, em meio à natureza. Para os japoneses, um simples banho é uma espécie de religião popular e o país é repleto de templos e santuários dedicados à crença relaxante. De acordo com Melliça, que visitou onsens de hotéis na companhia da filha Valentina, por via de regra, estes são divididos em alas masculinas e femininas, e as pessoas entram sem qualquer peça de roupa ou acessório. Mas é importante saber: como uma forma de boicote a Yakuza (máfia japonesa, que tem como tradição tatuar o corpo de seus integrantes), nos onsens não é permitida a entrada de pessoas com tatuagens. Muita coisa chamou a atenção da família de brasileiros: as árvores de ginko e maple, que no outono colorem a cidades com suas folhas amarelas e vermelhas, as referências ao Godzilla (o monstro mais famoso dos cinemas, retratado em um filme japonês de 1954), a cultura do Cosplay (cuja característica principal é fantasiar-se como personagens de mangás, animes, games ou desenhos animados), o K-Pop (gênero musical originado na Coréia do Sul, que caracteriza-se por uma grande variedade de elementos audiovisuais e vem ganhando força no Japão), e os hábitos tradicionais, como não dar o dinheiro de mão em mão ou tirar os sapatos para entrar em certos estabelecimentos e residências. Melliça também encantou-se com a filosofia japonesa wabisabi, que promove a beleza das coisas impermanentes,

so artístico sugerindo que os municípios pintassem suas próprias tampas de bueiros a fim de sensibilizar a população sobre a importância de projetos de esgotos.

Henrique e um pouco da Maratona do Monte Fuji.

incompletas e imperfeitas. Segundo o blog Peach no Japão, a filosofia wabisabi aprecia as imperfeições que surgem com a passagem do tempo, afinal, nada é permanente, tudo muda o tempo todo. Na cultura japonesa, este conceito é aplicado em diversas tradições, como no kintsugi, técnica de restauração de cerâmicas quebradas, que permite um resultado impressionante. “Os japoneses têm muitas técnicas artesanais e preocupam-se com o resultado estético e o capricho nos

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mínimos detalhes – chamam isso de kawaii, termo que que designa as coisas adoráveis, encantadoras e fofas. Uma das técnicas que mais me fascinou foi o furoshiki, a arte tradicional de embrulho japonês, através da utilização de um tecido quadrado que possibilita embrulhar qualquer objeto, seja uma marmita ou um presente”, fala Melliça. Exemplo do conceito wabisabi são os bueiros do Japão, que levam belos desenhos artísticos. Isso acontece porque em 1985 foi criado um concur-

Espírito coletivo Rompendo mitos e estereótipos, Melliça e Henrique contam que não, os japoneses não são todos iguais, tampouco são obcecados por fotografias como a maioria imagina. É um povo tímido, educado, silencioso e respeitoso com o espaço do próximo. Seja nas ruas, nos metrôs ou em uma corrida, como a de Henrique, o silêncio impera. Para os japoneses, falar alto, gargalhar ou atender o telefone dentro do metrô é sinônimo de falta de educação, pois creem que respeitar o espaço alheio é a chave para viver em sociedade. Por isso, têm o costume de falar em tons quase inaudíveis e manter os celulares no modo silencioso. A capital japonesa é uma das cidades mais limpas do mundo e, mesmo considerando que a população consome muito, são raras as latas de lixo nas ruas. O lixo é problema de cada cidadão e desfazer-se dele adequadamente é lei. O certo, portanto, é levá-lo para casa e separá-lo para a coleta. “No começo, estranhamos a falta de lixeira pelas ruas, mas, automaticamente, nos policiamos e nos tornamos responsáveis pelo nosso próprio lixo, também”, diz Melliça. Sob pena de multa, os habitantes também

Tampo de bueiro em Nara. / Detalhes que encantam. / Sugidama, bola feita de galhos de cedro. Ficam penduradas na frente das fábricas de saquê. Assim que o saquê acaba de ser filtrado, uma bola de cedro verde é pendurada. Quando a bola está seca, significa que é o momento ideal para entrar e apreciar uma dose.


Caetano e os veados, em Nara.

são proibidos de andar e fumar nas ruas centrais e grandes cidades. Nas calçadas da cidade, existem os fumódromos – áreas isoladas e delimitadas para este fim. Em contrapartida, a prática é liberada em certos locais fechados, como bares e restaurantes. O país tem índices de criminalidade baixíssimos (em 2016, somente 6 pessoas em todo o país foram mortas por armas de fogo) e, de acordo com Melliça, qualquer ocorrido vira notícia principal nos telejornais japoneses, como, por exemplo, um lutador de sumô que discutiu em um karaokê ou um homem que disparou uma bala de festim contra um gato. No Japão, é comum crianças pequenas pegarem o metrô sozinhas para irem à escola, pois são consideradas responsabilidade de toda a sociedade, bem como as pessoas dormirem com as janelas abertas, porque acreditam na segurança do país. O que o Japão ensina Apesar de Tóquio ser a maior cidade do mundo e receber diariamente pessoas de todos os cantos, tudo lá é organizado. Pontualidade é essencial e sinal de respeito. Burocracias como visitas técnicas, por exemplo, muito raramente são adiadas ou atrasadas. Aniversários, shows e festas começam exatamente no horário combinado, assim como os metrôs e trens, que são muito pontuais. Do mesmo modo, quando acontece o contrário, ou seja, não é resolvido com rapidez e eficácia, os japoneses consideram desrespeitoso.

Família ao lado da estátua de Hachiko, cão do filme “Sempre ao seu Lado”.

As lindas folhas de outono

Valentina e Caetano em Vancouver, no Canadá

Responsáveis, seguem leis e regras à risca. “Um fato que nos chamou muito a atenção: se o sinal está vermelho e não há carros por perto, os pedestres recusam-se a cruzar a rua, até que o sinal fique verde”, conta Henrique. As regras de trânsito também contrastam com o Brasil. No Japão, dirige-se de acordo com a mão inglesa, ou seja, a circulação de carros é feita pela esquerda (volante do lado direito), e os veículos que vêm na direção oposta estão à direita – costume que estende-se desde a época dos samurais. Comprovando sua segurança, existem mais de 5 milhões de máquinas automáticas (conhecidas por hanbaiki) espalhadas pelas ruas, estações de trem e outros locais do país. Além dos produtos tradicionais como bebidas, salgadinhos e doces, algumas delas vendem arroz de todos os tipos, produtos de beleza, guarda-chuvas, baterias e até gravatas. Não podemos deixar de mencionar as máquinas automáticas que vendem bilhetes para trens, cobram estacionamentos, tiram fotos para documentos e as máquinas de câmbio, que trocam moedas, como dólar ou euro, por ienes (moeda japonesa). Quando tratam-se de culturas tão diferentes como a brasileira e japonesa, algumas barreiras podem atrapalhar a intera-

ção, como o idioma, educação e costumes. Melliça explica: “Quando um turista faz algo que foge à regra do país ou está perdido, os japoneses prestam auxílio e, ainda assim, pedem desculpas, pois colocam-se no lugar do estrangeiro e entendem que ele não está inserido naquele contexto”. Por isso, a última lição do Japão é: não há barreiras para a empatia. Viagem obrigatória No caminho de volta ao Brasil, os turistas passaram alguns dias em Vancouver e Whistler, no Canadá, onde divertiram-se em estações de esqui e brincaram na neve. “Depois de semanas convivendo com o silêncio do Japão, cheguei ao Canadá e vi um grupo de jovens dando gargalhadas; aquilo deu uma sensação de alívio”, recorda Melliça. Afinal, apesar das impressionantes convenções sociais japonesas, os brasileiros não são nada silenciosos e sérios: gostam de falar alto, tocar na pessoa enquanto conversam, gargalhar, vibrar e não têm problema algum em expressar indignação. Esta experiência de aproximadamente 25 dias marcou e uniu ainda mais a família de Melliça, Henrique, Valentina e Caetano. Muito mais que tecnologia de ponta e carros luxuosos, o país e sua rica cultura impressionaram pela educação, respeito e boas maneiras. Por fim, Henrique conclui: “gostaria que todo brasileiro tivesse a oportunidade de, um dia, conhecer o Japão, para retornar um cidadão melhor, mais honesto, educado e empático com os seus”.

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EMPREENDEDOR DO MÊS | Escola Gees

GEES oportuniza Ensino Médio em Itapoá Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

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om o objetivo de fazer parte do processo de crescimento e transformação de uma nova geração, a Escola GEES chegou a Itapoá, em 2012, tornando-se uma escola modelo e agregando valores primordiais na consolidação do cidadão, como família, educação e princípios éticos. Todavia, o espaço que restringia-se às classes do maternal ao Ensino Fundamental, neste ano de 2018, passou a abranger o Ensino Médio, entre outras novidades, que dão novo rumo à história da educação no município. À frente da GEES está o casal de sócios Isabel Cristina Zarpelon Trevizan e Lucio Flavo Trevizan. Além dos gestores, equipe pedagógica, equipe administrativa, professores, equipe da cozinha, atendentes e estagiários integram o quadro de, aproximadamente, 40 funcionários. Todos, engajados em uma só missão: construir um futuro em excelência para crianças e adolescentes de Itapoá. Tendo como principais diferenciais o funcionamento em período integral (das 7h20 às 18h) e a Colônia de Férias (que acontece semestralmente), a instituição conquistou boa parcela de famílias que dispõem de pouco tempo livre e confiam seus filhos a um ensino moderno, lúdico e responsável. Na dinâmica da GEES, outra característica é que, além das disciplinas obrigatórias na grade curricular de educação, estão aulas complementares, como música, informática, robótica e empreendedorismo. Já as atividades extracurriculares (não inclusas na mensalidade) contam com escolas de futebol e volei-

Equipe da Escola Gees, ao lado direito o casal de sócios Lucio e Isabel. bol, aulas de natação (em con- coordenadora pedagógica da vênio com a Fisiopilates), ballet, GEES, há uma boa parceria com os familiares dos alunos, percepjazz e o programa bilíngue. Unindo educação às novas tível nos eventos presentes no demandas do mundo globa- calendário escolar, como o Piquelizado, a escola conta com o nique de Dia das Mães, o Passeio material do Sistema COC, que Ciclístico do Dia dos Pais, a FEoferece aos alunos maior inte- CIARTE (Feira de Ciências, Arte e ratividade e aproveitamento do Tecnologia), entre outros projetos conteúdo. Lousa digital, jogos sociais e recreativos. Com seriedade, compromeeducativos, matérias online, agenda eletrônica e livro ele- timento e métodos inovadores, trônico são algumas das van- a instituição apresenta bons tagens tecnológicas do COC índices de alfabetização e aproEducação, cujo acesso também vação de seus alunos. Sempre pode ser feito na residência dos pensando nas famílias, oferece pacotes diferenciados para iralunos. De 2012 para cá, a esco- mãos e possui convênios com la vem ampliando seu espaço descontos especiais para funfísico. Hoje, dispõe de um am- cionários do Porto Itapoá, APM biente amplo e confortável, Terminals, Centro Logístico Intecom pátio, ginásio de esportes, grado Fastcargo (CLIF) e Câmahorta, cancha de areia, parque, ra de Dirigentes Lojistas (CDL). sala do bilíngue, biblioteca, canNovidades tina, refeitório, laboratório de Recentemente, a Escola informática e laboratório de Ciências, com equipamentos mo- GEES tornou-se licenciada do dernos e facilitadores do apren- Sistema COC de Ensino. Com dizado. Ainda, a escola recebe isso, aderiu ao Programa de Exvisita mensal de uma nutricio- celência (PEX), que objetiva um nista, que elabora o cardápio, padrão de qualidade e realizará fiscaliza a cozinha e realiza um pesquisas de satisfação com balanceamento da saúde dos funcionários, pais, alunos e empresas terceirizadas. Outra noalunos. A interação com os pais tam- vidade é a Academia COC, que bém faz toda a diferença. Con- permite aos professores uma forme Suely de Pauli de Almeida, formação continuada online e

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consultorias presenciais, melhorando, assim, a qualidade de ensino. No entanto, a principal conquista da escola foi a aprovação do Ensino Médio. Neste ano de 2018, será aberta uma turma de 1º ano do Ensino Médio, enquanto no ano que vem iniciará o 2º ano e, gradativamente, o 3º ano em 2020. Tatiane Canestraro, diretora pedagógica da GEES, explica a importância desta conquista: “Isso representa um marco na história da instituição e da educação no município. Agora, os jovens itapoaenses terão mais uma opção para concluir seus estudos rumo ao futuro”. No Ensino Médio, a peculiaridade estará no material voltado aos vestibulares e no trabalho vocacional diferenciado, através de feiras de profissões e escolhas que façam dos alunos adultos mais conscientes e responsáveis. Vale frisar que o Ensino Médio terá carga horária diferenciada: durante cinco dias da semana as aulas acontecerão no período matutino, e durante um dia da semana as aulas serão também em período integral. A cada ano, a Escola GEES evolui, forma cidadãos e ganha mais confiança e parceria dos pais e comunidade. Agora, atendendo do maternal ao Ensino Médio, abre ainda mais caminhos no município de Itapoá. Matrículas abertas Ainda há tempo de matricular seu filho na Escola GEES! As aulas do 1º ano do Ensino Médio iniciam no dia 19 de fevereiro, enquanto as demais turmas iniciam no dia 7 de fevereiro. A GEES está situada na Rua III, n. 102, no Loteamento Príncipe. Para maiores informações, ligue para 47 3443-2279 ou acesse a página “Escola Gees”, no Facebook.





SAÚDE

Desafios e superações da jornada contra o câncer infantil

Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), todos os anos cerca de 11 mil crianças e adolescentes de 1 a 19 anos de idade são diagnosticados com câncer no Brasil. Entre eles, está a pequena Eloá da Luz Alves Fernandes (7), filha de Suellen Soares da Luz e de Jurandir Alves Fernandes. Moradora de Itapoá (SC), a família batalha há sete anos contra um tumor cerebral da menina. Oportunizando o dia 15 de fevereiro, Dia Internacional de Luta contra o Câncer Infantil, contamos a história desta família, a fim de despertar a conscientização da população sobre o assunto e valorizar a luta de todas estas crianças que batalham para superar a doença.

A

O casal Suellen e Jurandir e sua filha Eloá, de Itapoá.

pós cinco anos de casados, Suellen e Jurandir seriam pais pela primeira vez. O ano era 2010 e, depois de uma gravidez tranquila, nasceu Eloá, forte e saudável. Quando completou 1 ano e 11 meses, começou a ter súbitos vômitos em jato. “Levei-a para a Unidade do Pronto

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Atendimento, onde ouvi que tratava-se de uma virose. Mais tarde, novos sintomas apareceram: as roupinhas não entravam mais em sua cabecinha (que aparentava maior que o normal) e ela estava perdendo a visão, tropeçando nos móveis. Mesmo retornando à unidade, o médico pediatra insistiu que era apenas uma virose”, recor-

Tão pequena e, ao mesmo tempo, tão forte: Eloá na luta contra um tumor cerebral.

da Suellen. Passaram-se três meses e o casal levou a filha para consultar-se em um posto de saúde de Rio Negrinho (SC). Lá, o pediatra mediu sua cabeça com uma fita métrica e, imediatamente, acionou uma


Dias intensos de intenso tratamento, mas muito amor e união entre a família.

ambulância para transferir Eloá para Joinville (SC). A menina foi diagnosticada com ependimoma grau II, um tumor na base do cérebro, em uma área chamada de fossa posterior. Como uma forma de defesa do organismo, o tumor, que ocupava metade da área de seu cérebro, também desenvolveu hidrocefalia, o que resultou em uma cirurgia de emergência. Jurandir recorda: “Após o tratamento cirúrgico contra a hidrocefalia, ela ficou internada durante um mês, tomando soro, sem entender muito o que estava acontecendo. Como tratava-se de um tumor agressivo, a equipe médica recusou-se a realizar a cirurgia para retirada do tumor, pois acreditava que esta não teria sucesso”. Por isso, os pais venceram uma série de bu-

rocracias e transferiram a filha, já bastante debilitada, para o Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba (PR). Felizmente, Eloá caiu nas mãos do renomado Dr. Paulo Carboni Junior (hoje, já falecido), a quem os pais creditam muita gratidão pelo bom atendimento e trabalho. Dias de luta Segundo Suellen e Jurandir, sua filha entrou no centro cirúrgico sorrindo e saiu de lá em coma, após a cirurgia de retirada de 70% do tumor – e assim permaneceu durante um longo mês. “Aquele foi um período muito delicado, pois revezávamos os turnos para cuidar dela, que já não respirava sem ajuda dos aparelhos. Também, descobrimos que seu tumor era maligno e não reagiria à quimioterapia. Mas, ainda as-

Registros do casamento de Suellen e Jurandir na APACN, na companhia de outras crianças da instituição.

sim, optamos por tentar”, fala o casal. Durante um ano a família viveu em uma ala do hospital, compartilhada por 25 crianças. “Lá, descobrimos que o câncer infantil é muito diferente do que retratam em filmes ou novelas: as crianças estão perdendo seu cabelo, vomitando sem parar e até morrendo. Em um dia uma criança está na cama ao lado, no outro já não está mais. E, então, ouve-se o grito de dor da mãe que recebeu a temida notícia”, recorda Suellen, que chegou a perder 18 quilos neste período. No hospital, Eloá utilizou uma cadeira de rodas para movimentar-se, perdeu seu cabelo e viveu à base de aparelhos, sondas e cateteres. Depois de submeter-se a uma cirurgia

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gástrica (pois afogava-se ao ingerir alimentos), passou a ingerir apenas leite. Sua mãe conta: “Esse, para mim, foi o momento mais difícil de todos. Minha filha comia bem e, de repente, não podia dar a ela água ou qualquer alimento. Aquilo me doía muito, pois ela via as outras crianças do quarto comerem e dizia ‘mamãe, estou com fome’. Então, eu molhava um algodão com água para passar em sua boquinha”. Entre idas e vindas, a família ausentava-se cada vez mais de Itapoá para dedicar-se aos dias intensos no hospital. Moraram em Penha (SC) e algum tempo em Curitiba, na casa de familiares. Mas, por conta da baixa imunidade de Eloá, o ambiente no qual residiria tinha de estar devidamente higienizad. Muito mais que higiene, foi na Instituição APACN (Associação Paranaense de Apoio à Criança com Neoplasia) que encontraram amparo, amigos, resultados e um ambiente acolhedor. Instituição APACN Sendo a primeira instituição a amparar crianças e adolescentes com câncer no Brasil, a APACN acolhe e ampara dignamente famílias carentes que chegam a Curitiba desprovidas de condições financeiras, moradia, hospedagem ou meio de locomoção, para tratar de suas

crianças diagnosticadas com tumores, do início ao final do tratamento. “A APACN disponibiliza quartos compartilhados, alimentação, professores, psicólogos, enfermeiros, nutricionistas, van para levar e buscar ao hospital e todo o suporte necessário à criança e um adulto responsável por ela. Em troca, este responsável contribui com as tarefas domésticas”, explica Suellen, que viveu na instituição com a filha. Lá, fez amizades com funcionários, colaboradores, voluntários e mães de todo o Brasil. Ela complementa: “São pessoas solidárias, que me transmitiram muita força e levo para a vida toda”. Tamanho era o espírito coletivo da equipe da APACN que, lá, na capela da instituição, Suellen e Jurandir realizaram o sonho de casar no religioso. O casamento teve chá de panela surpresa, presentes, dia de noiva, madrinhas, vestido branco, padre, daminha e pajem, bolo, decoração, valsa e pétalas de rosas. Desde os adultos às crianças, já carequinhas, todo mundo contribuiu para proporcionar um dia memorável ao casal. Durante os dois anos em que mãe e filha viveram na instituição, Eloá andou com a ajuda de um andador e sondas, realizou tratamento de quimioterapia e 31 sessões

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Os pais contam que Eloá é muito inteligente, carinhosa e vaidosa.

de radioterapia. Na época, Jurandir desdobrava-se entre o trabalho, em Itapoá, e os cuidados à filha, em Curitiba. Apesar de estar longe do município litorâneo, da casa e do marido, Suellen afirma que desapegar nunca foi um problema: “sempre coloquei minha filha em primeiro lugar e me mudaria para onde quer que fosse para vê-la bem”. De volta à casa Com 3 anos de idade, a menina retornou, definitivamente, a Itapoá, quando teve pequenos internamentos e duas paradas respiratórias – uma delas quase fatal. Recentemente, os exames acusaram uma hemorragia dentro de seu tumor

que, se comprimir determinada região do crânio, pode interromper sua respiração a qualquer momento. “Os médicos disseram-nos que o corpo de nossa filha não suporta mais quimioterapias e radioterapias. Portanto, sugeriram-nos uma cirurgia para prolongar sua vida por mais alguns meses. Mas, como esta cirurgia não teria nem 1% de sucesso garantido e seria de alto risco, optamos por não fazê-la. Escolhemos dar a ela um caminho que julgamos melhor: sem internamentos, sem dores, sem mais cortes e junto da família”, falam os pais, que receberam uma carta de sobreaviso para casos emergenciais. A criança, que já consultou-


humanos. Por último, mas não menos importante, Suellen e Jurandir agradecem um ao outro, pela força e parceria cada vez em que precisaram dormir dentro do carro, oferecer o ombro amigo ou secar as lágrimas um do outro.

A pequena Eloá concentrada em suas habilidades artísticas, durante a escola.

-se com fonoaudiólogo, psicólogo e fisioterapeuta, hoje realiza ressonâncias a cada semestre, além de consultas trimestrais com neurologista, dentista (uma vez que a radioterapia prejudica a dentição), entre outros profissionais. Para proteger sua imunidade, em sua residência, tudo é higienizado com álcool. Sua mãe, inclusive, frequentou o psicólogo durante certo tempo por ter ficado com mania de limpeza. “Nunca tomei medicamentos controlados ou entrei em depressão, pois não tenho tempo para isso, preciso cuidar dela. Tenho motivos de sobra para estar forte, sorrindo e ao seu lado”, fala Suellen, que até hoje mantém amizade com as

mães do hospital e da casa de apoio. Hoje, Eloá está em tratamento paliativo, ou seja, que melhora a qualidade de vida e alivia o seu sofrimento, mas não é capaz de curar a enfermidade. Em busca de ajuda, o casal, que tem fé em Deus, recorreu a diferentes crenças e simpatias: “acreditamos em tudo aquilo que venha para o bem”. Ainda, agradecem aos familiares e colegas de trabalho, que já realizaram bingos e campanhas a fim de contribuir com o tratamento de Eloá, a toda a equipe da Instituição APACN e do Hospital Pequeno Príncipe, que foram muito profissionais e, ao mesmo tempo,

Os aprendizados Não fosse o desequilíbrio de um lado do corpo, o retardo de crescimento, algumas cicatrizes e o inchaço do tumor que, volta e meia, provoca alterações de humor, Eloá não difere-se de uma criança saudável. Prestes a completar 8 anos de idade no dia 22 de fevereiro, neste ano de 2018 vai para o 3º ano do Ensino Fundamental, na Escola Municipal Claiton Almir Hermes, onde recebe os cuidados de uma professora auxiliar. Também, é uma criança bem resolvida, muito inteligente, vaidosa e apaixonada pelos animais. Sobre o que mais gosta de fazer, Eloá responde: “ir à praia, comer feijão, brincar com minhas primas, brincar de massinha e de Barbie”. Vale ressaltar que o câncer infantil é uma doença que tem grandes chances de cura quando diagnosticada precocemente. Conforme Dra. Mara Albonei Pianovski, cancerologista responsável pelo ambulatório da APACN: “quanto mais tempo perde-se para iniciar o

tratamento, mais tempo o organismo é agredido pela doença. Porém, quando o diagnóstico é feito a tempo, mais de 70% das crianças são curadas”. Assim, Jurandir e Suellen, aconselham: “Com base em nossa experiência, esperamos que outras famílias não sejam vítimas de um erro médico. Portanto, não espere que seu filho apresente outros sintomas para, então, levá-lo a outro médico. Façam consultas em diferentes lugares e informem-se sobre a competência do profissional que está responsabilizando-se pela saúde de sua criança”. Juntos há 12 anos, Suellen e Jurandir contam que a descoberta do câncer da filha uniu-os ainda mais enquanto casal e família. “Sempre que os médicos reencontram nossa filha, começam a chorar, pois acreditaram que ela não chegaria até aqui. Seu histórico hospitalar comprova que ela é um milagre”, dizem. Olhando a vida por novas perspectivas e vivendo um dia de cada vez, o casal conclui: “enquanto nossa Eloá estiver respirando, continuaremos lutando”. Deseja saber mais sobre a Instituição APACN (Associação Paranaense de Apoio à Criança com Neoplasia), de Curitiba? Acesse www.apacn. com.br ou ligue para 41 30247475.

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SAÚDE

Câncer infantil: conscientizar-se é preciso

Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

Para conscientizar sobre o câncer infantil e valorizar a luta destas fortes crianças, contamos a história da pequena Julia Beatriz Dresch Martins, de Curitiba (PR). Filha de Regina Aparecida Dresch e enteada de Paulo Sérgio Kowaleski, foi diagnosticada com um tumor ósseo bastante raro. Hoje, a família coleciona memórias, emoções e superações.

H

á três anos, Regina e Paulo conheceram-se. Naquela mesma noite, contaram um ao outro que tinham filhos de outros casamentos: Regina era mãe de Julia (na época, com 7 anos) e Paulo era pai de Murilo Brime Kowaleski (na época, com 2 anos). Intensa foi a paixão que, em quatro me-

ses, optaram por morar juntos, tornando-se, assim, uma família de quatro membros. Felizmente, as crianças aprovaram a decisão e ficaram, inclusive, grandes amigas. Pouco tempo depois, o casal descobriu uma coincidência: “temos primos em comum e já estivemos nos mesmos lugares por diversas vezes”. Mas, acreditam que era para ser assim, tudo no seu tempo. Afinal de contas, três meses depois, constataram que seriam pais novamente. Dessa vez, de Isabela Dresch Kowaleski, que trouxe ainda mais alegria à família. Dos sintomas ao diagnóstico Aos 10 anos de idade, Julia, sempre mais alta do que as meninas da sua idade, passou a reclamar de dores, especialmente quando praticava exercícios físicos. Sua mãe, farmacêutica, detalha: “As dores eram passageiras, mas foram aumentando, até que levamos para o médico. Ele acreditava que era uma dor ocasionada

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Família reunida: o casal Paulo e Regina, junto dos filhos Murilo, Isabela e Julia (ao fundo).


um reumatologista, até que um exame de sangue apresentou alterações. Em junho de 2017, durante uma crise de dores, Julia foi levada ao hospital, onde ficou internada, tomando morfina – e por lá ficou. No dia seguinte, com o resultado de uma de suas ressonâncias, a hematologista do hospital olhou para Regina e disse: “é grave”. Em seguida, a profissional pediu uma punção da medula (para identificar qual o tipo do tumor) e a mãe, por conta da sua experiência na área da saúde, entendeu que tratava-se de câncer.

A guerreira Julia, pronta para mais uma sessão de quimioterapia.

pela dança, já que ela praticava Jazz. Então, retornou à rotina normal, até que sentiu dores ainda mais intensas, especialmente nas pernas”. Retornando ao médico, foi realizado um Raio-X que nada acusou. Com a possibilidade de ser Sinovite

transitória, uma inflamação, iniciou um tratamento anti-inflamatório. Porém, já incapaz de fazer as atividades diárias, os sintomas persistiram. No Hospital Pequeno Príncipe, a menina consultou-se com um pediatra, um ortopedista e

Sarcoma de Ewing Com o resultado da punção da medula, o diagnóstico acusou Sarcoma de Ewing, um tumor ósseo bastante raro, que atinge principalmente crianças até os 10 anos. A notícia foi um baque para o casal: “Quando recebemos o diagnóstico, o mundo desabou. Sempre que pensamos em câncer, imaginamos o pior. Até porque o Paulo já havia perdido a primeira mulher para esta doença. Entre tantos pensamentos, nosso maior medo era perder a nossa Juju (como costumam chamá-la carinhosamente)”. O próximo passo foi realizar uma série de exames para saber se havia metástase (quando o câncer se espalha para outras partes do corpo). Os

diagnósticos indicaram que o tumor foi identificado, inicialmente, na pelve. Como as dores mais intensas estavam nas pernas, os médicos acreditavam que, provavelmente, o tumor já havia se espalhado para outra área. Assim, comprovaram a cintilografia e a ressonância: Julia estava com metástase na coluna, quase por todas as suas vértebras, no fêmur e em parte da calota craniana. Segundo os profissionais, o Sarcoma de Ewing é facilmente confundido com osteomielite e, muitas vezes, descoberto em estágios avançados, quando o paciente já apresenta problemas respiratórios, por conta da metástase pulmonar. Felizmente, as médicas em questão já tinham experiência com casos parecidos e, por isso, o tumor foi rapidamente identificado. Tratamento Desde as crises intensas de dores, passando pela bateria de exames, a descoberta do câncer e o início do tratamento, Julia e a família completaram 21 dias vivendo no hospital. Quando soube que o tratamento seria feito com quimioterapia, o casal conversou com a menina: “Utilizando termos mais lúdicos, nunca escondemos nada a ela. Contamos que seu cabelo iria cair, que teria de deixar a escola para estudar em casa, que teria de ficar

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isolada (por conta da baixa imunidade) e que este tratamento duraria, em média, de 9 meses a 1 ano”. A pequena Julia, já debilitada, perdeu 9 quilos e não podia andar sozinha, pois corria risco de fraturas, uma vez que seus ossos estavam muito frágeis. Vale citar que, geralmente, o tratamento do Sarcoma de Ewing é realizado com quimioterapia, radioterapia e cirurgia, para amputação do membro. No entanto, como o tumor de Julia atingiu a pelve, a possibilidade de cirurgia foi descartada. Para dar início ao tratamento e dedicar-se à filha no hospital, Regina teve de deixar o emprego: “Nesse período, recebi muito apoio emocional e até financeiro de toda a família”. A primeira etapa consistia em 14 sessões de quimioterapia, para que a doença não se espalhasse ainda mais. Já a segunda etapa do tratamento aconteceu no Oncoville, não mais internada, mas via ambulatório. Lá, receberam a feliz notícia de que o tumor havia diminuído consideravelmente. A partir daí, o tratamento consistiu em quimioterapia (a cada 21 dias) associada à (25 sessões diárias) radioterapia. Apesar de ser do desconhecimento de muitos, a quimioterapia oferece restrições ao paciente, como, por exemplo, alimentares. “Seus alimentos

devem estar frescos, cozidos, só podem ser abertos para consumo imediato e, em sua maioria, industrializados”, explica Regina. Como as veias de uma criança ainda são fracas, Julia também só pôde receber os medicamentos – por sinal, bastante tóxicos – via cateter. Momentos marcantes Além do estado debilitado e das crises de dor e choro, a queda de cabelo também marcou a jornada de mãe e filha: “Duas semanas depois que iniciamos o tratamento Um dos momentos em família. Voltando aos estudos em casa. de quimioterapia, seu cabelo começou a cair. Ela chegou para mim e disse: peruca, apenas uma boina na ganizou um projeto, aprovado ‘Olha, mãe, o meu cabelo está cabeça. Depois que Paulo e Re- pela Secretaria de Educação de caindo! Você pode entrar no gina explicaram a Murilo o que Curitiba, com o intuito de que a banho comigo para me ajudar estava acontecendo, sempre colega desse continuidade aos a tirá-lo?’. Então, debaixo do que alguma criança fizesse um estudos dentro de casa. “Paschuveiro, eu passava a mão comentário ofensivo a respeito sei a ministrar os conteúdos em seus cabelos e os fios caí- de Julia, seu irmão tornava a para ela em casa, enquanto a am, um a um. Depois daquele defendê-la. professora sanavas suas dúvibanho, ela ficou praticamente Com a alta do hospital, o das pela webcan. Seus colegas careca. Aquele foi um momento tratamento continuou em casa. de classe também foram muito que me marcou profundamen- Para isso, Julia recebeu apoio especiais, pois lhe enviaram te”. de toda a equipe do colégio cartinhas, fotografias e presenA menina decidiu não usar católico no qual estuda, que or- tes”, recorda Regina.

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As irmãs do colégio católico rezaram missas e fizeram correntes de oração. Também muito religiosa, a família de Julia fez novenas e orações – todos empenhados em uma só causa: vê-la feliz e saudável. Bagagem Durante a experiência, Paulo e Regina, que viveram este frenesi de emoções com três filhos crianças, conheceram outras famílias que passam por situações parecidas. “Vimos que não é, de fato, um caso isolado, e que o câncer infantil é mais comum do que imaginamos”, dizem, “a luta é incessante e cansativa, mas é preciso apegar-se ao pensamento de que tudo vai melhorar”. Para Regina, o apoio de Paulo foi seu principal suporte: “Ele já passou por essa situação e me explicou como aconteceria. Também me disse que, um dia, tudo iria passar e eu conseguiria conversar sobre o assunto, como parte natural de nossa rotina. E foi exatamente o que aconteceu. Acredito que as coisas acontecem como devem acontecer e que as pessoas entram em nossas vidas por alguma razão que, mais tarde, passamos a entender”. Enquanto mãe, Regina ela fala que chorou muitas vezes escondida, mas sempre manteve-se forte perto da pequena: “ela é a criança, e eu o seu por-

Em uma festinha organizada pelos amigos da escola.

to seguro”. A história foi uma lição para todos os familiares que – bem como todos aqueles que convivem ou já conviveram com o câncer – passam a enxergar a vida com outros olhos. Um dia de cada vez Neste ano, Julia cursa o 5º ano do Ensino Fundamental, em Curitiba. Restam apenas três sessões de quimioterapia para encerrar o período mais intenso de tratamento. Se os exames apresentarem bons resultados,

ela poderá, enfim, voltar a frequentar a escola, reencontrar os amigos e realizar a tão almejada viagem em família. Somente então, receberá a manutenção de uma quimioterapia menos agressiva durante um ano. Aos 10 anos de idade, a menina está respondendo ao tratamento, disposta, alimentando-se bem e brincando. Além do mais, recebe carinhos e cuidados de todos os lados: dos professores e amigos da escola, dos tios, primos e avós,

das amigas, das famílias das amigas, de conhecidos, de desconhecidos, dos pais e dos irmãos Murilo (hoje, com 5 anos) e Isabela (com 1 ano e 8 meses), que a amam muito. Hoje, na família de Juju, muitas coisas mudaram. Palavras como “problema” e “tempo” receberam significados diferentes. Afinal de contas, o que vale mesmo é agradecer pela saúde do dia de hoje e aproveitar a vida junto daqueles que amamos.

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quem é? mestre piazetta

Entre caixas, pratos, surdos e bumbos

Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

Se os instrumentos do título acima recebessem um nome, este seria Luiz Antonio Piazzetta ou, simplesmente, Piazzetta. Conhecido no município de Itapoá (SC) por fundar e reger a Fanfarra Municipal, o Mestre detém um currículo extenso, que passa por escolas de samba, bandas, orquestra, artistas renomados, entre outros projetos, que fazem dele um verdadeiro amante da música.

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ascido em 14 de novembro de 1938, na cidade de Curitiba (PR), Piazzetta não conheceu o avô, pianista, mas acredita que herdou dele o gosto por música. Sua carreira musical iniciou aos 9 anos, tocando caixa em escolas de samba de Curitiba. Ele recorda um episódio que marcou sua infância: “Meu tio, José Santiago de Oliveira, era diretor da Caprichosos de Pilares, no Rio de Janeiro. Aos 12 anos, fui ao Rio com meus pais e tive o prazer de tocar repinique no ensaio da escola de samba. Meu tio desejou que eu morasse por lá, para estudar música, mas eu era filho único, muito apegado à mãe, e não quis”. Com 14 anos de idade, o jovem Luiz Antonio começou a tocar bateria e, até mesmo, tocou em boates, acompanhando o cantor Miltinho, autor do sucesso “Palhaçada”, de 1961. Aos 18 anos, foi convocado para servir ao Exército. Em seguida, se casou com Mirlete

Centenas de alunos da rede municipal fizeram parte da história da Fanfarra Municipal de Itapoá, sob regência do Mestre Piazzetta.

Muller Piazzetta: “com uma mulher bonita como aquela, foi impossível não me apaixonar”. Logo, aos 21 anos de idade, entrou para a Polícia Militar do Paraná (PMPR) e, inevitavelmente, para a Banda de Música da PMPR, onde tocou tímpano, caixa clara e prato bongo, e dedicou boa parte de sua trajetória. Nesse período, estudou música na Academia de Belas Artes, para se formar como Cabo Músico. O apaixonado por música destaca suas principais contribuições durante os 30 anos à frente da Banda de Música da

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PMPR: “participei da gravação de oito discos; vencemos o concurso nacional de bandas, em 1964; tocamos ao lado do rei Roberto Carlos, na época da Jovem Guarda e, por fim, atuei como Sargenteante da banda”. Concluindo uma trajetória de muitas histórias e melodias, aos 50 anos de idade, Piazzetta se aposentou como Sargento da Polícia Militar do Paraná. Segundo Mirtes: “ele (Piazzetta) sempre foi muito trabalhador e, mesmo depois de aposentado, continuou se envolvendo com projetos musicais”. Ainda em Curitiba, iniciou

mais de 50 fanfarras escolares e atuou como professor de percussão musical na Escolinha de Arte do Colégio Estadual do Paraná. Posteriormente, trabalhou como empresário musical nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, gerenciando o início da carreira de grandes nomes do cenário musical, como a dupla Gyan & Giovani, Martinho da Vila, Gretchen e o falecido Cauby Peixoto. Contudo, acredita que seu maior legado à capital paranaense foi enquanto maestro e fundador de uma orquestra, a Status Band Musical Show:


Piazetta recebeu medalha de honra ao mérito pelos serviços prestados à comunidade no ano de 2015. (Foto arquivo)

Luiz Antonio Piazetta com sua esposa Mirlete Muller Piazzetta.

“Nós tocávamos em bailes, boates, eventos militares, festas particulares e nos clubes mais renomados do país. Para dimensionar a qualidade de meus músicos, gosto de citar Dironil (hoje, já falecido) que, mais tarde, se tornou saxofonista do rei Roberto. Infelizmente, os melhores integrantes vieram a falecer o projeto foi interrompido. Mas a orquestra sempre foi e sempre será, para mim, sinônimo de muito orgulho”. Trajetória em Itapoá Por conta da Associação de Subtenentes e Sargentos da PMPR, localizada na região do Pontal, Piazzetta já frequentava as praias itapoaenses desde 1959. Mas foi em meados dos anos 2000 que encontrou a oportunidade ideal para residir no município litorâneo junto à família. Em um primeiro momento, ministrou aulas de dança na Associação dos Idosos Maria Izabel. Já em 2001, foi convidado para criar a famosa Fanfarra Municipal de Itapoá. “Naquele tempo, Ervino Sperandio e Márcia Regina Eggert Soares (prefeito e secretária de educação da época), a quem agradeço até hoje, souberam que eu tocava em uma igreja e desejaram conhecer minha trajetória musical. No início da fanfarra,

Um de seus maiores orgulhos foi ter participado, há 3 anos, da harmonização da nova versão do Hino de Itapoá, com banda e coral.

foram comprados alguns instrumentos musicais, outros foram doados de Curitiba”, recorda o Mestre. Sob sua regência, a fanfarra fez a alegria de centenas de alunos da rede municipal, ensinando cerca de 40 instrumentos e trabalhando ritmos, como samba, olodum, timbalada e anos 60. Saudoso, lembra: “A Fanfarra Municipal de Itapoá foi muito aplaudida na cidade de Itapema (SC) e ficou entre

Alunos das Escolas João Monteiro Cabral e Alberto Speck juntamente com um grupo de alunos participantes da Fanfara, prestaram homenagem em 2016 ao mestre, em sua residência.

as 33 melhores no V Festival Nacional de Verão de Bandas e Fanfarras”. Anos mais tarde, a banda passou a integrar uma das disciplinas do extinto Projeto Ampliação de Jornada Escolar (AJE). Ao todo, foram 15 anos de grandes feitos pela Fanfarra Municipal de Itapoá. Também no município, Piazzetta organizou Carnavais de Rua, fundou o Bloco das Baianas (do Clube Céu Azul da Terceira Idade, do Pontal) e foi campeão como Mestre do Bloco do Brasão por dois anos consecutivos. Mas um de seus maiores orgulhos foi ter participado, há 3 anos, da harmonização da nova versão do Hino de Itapoá, com banda e coral: “Foi um projeto trabalhoso, mas o resultado me rendeu muitas alegrias. Quando assisti à apresentação do hino, com a banda do 62º Batalhão de Infantaria do Exército, em Joinville (SC), não contive a emoção”. Segundo o Mestre, esse é um legado que pretende deixar para todos os seus familiares e munícipes. Porém, Piazzetta lamenta: “muitos lugares ainda não se atualizaram e apresentam a antiga versão do Hino de Itapoá como oficial”. O sonho continua Há 61 anos casado com Mirlete, é pai de quatro filhos:

Ogimar Natal Piazzetta, Margareth de Fátima Piazzetta Antunes, Sirlete do Rocio Piazzetta e Paulo Roberto Piazzetta – este último, segue seus passos, está estudando para cursar Música e se tornar Mestre. De geração em geração, os netos e bisnetos também têm afinidade com os ritmos e as notas musicais. Recentemente, nas festividades de Natal de 2017, Piazzetta e o filho Paulo reviveram a Fanfarra Municipal de Itapoá por alguns meses, o que rendeu, inclusive, uma homenagem da banda do 62º Batalhão de Infantaria. “Foi uma alegria viver isso novamente. Desde que a fanfarra acabou, tive depressão e adoeci. Se Deus quiser, esse projeto voltará à ativa e terei a honra de retomá-lo, dessa vez, na companhia de meu filho Paulo”, fala. Além da fanfarra, Piazzetta também sonha em fundar uma Banda Marcial de Itapoá, apenas com metais. Aos 79 anos de idade e dono de um extenso currículo no meio musical, depois de algum tempo de conversa, tentamos questionar Piazzetta sobre sua vida pessoal, algo que não fosse relacionado à música, mas não teve jeito. Como ele mesmo diz: “A música é minha verdadeira paixão. Eu vivo a percussão musical”.

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ARTE SOLIDÁRIA

Do biscuit ao universo infinito do artesanato Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

Apaixonada por artesanato, a entrevistada desta edição tem habilidade para as mais variadas técnicas manuais, desde belos arranjos de flores a bonecos personalizados de biscuit.Para a artesã Eliete Bittencourt, de Itapoá (SC), o momento de criação é sinônimo de terapia e a peça mais interessante é aquela que ainda não foi criada.

Q

uando residia em Curitiba (PR), Eliete e suas irmãs frequentavam as tradicionais feirinhas do Largo da Ordem e se apaixonavam pelas diferentes técnicas de artesanato. “Ficávamos fascinadas com os infinitos caminhos e possibilidades de criar algo com as próprias mãos”, recorda. Em 2003, já morando no município de Ita-

A artesã Eliete Bittencourt, de Itapoá (SC), com algumas de suas criações no Ateliê Criart.

poá, mergulharam no universo do artesanato. Juntas, realizaram pequenos cursos e aprenderam a criar pinturas em cerâmica, confeccionar arranjos de flores, costurar bonecos de

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pano, criar objetos decorativos para a casa, fazer decoupage (técnica que consiste em colar papéis sobre a superfície de objetos), entre outros. Contudo, Eliete foi autodi-

data e encontrou-se no biscuit, uma massa utilizada para criar artesanato, também conhecida como porcelana fria (pois não precisa ir ao forno e sua secagem é natural). “Há 15 anos o


Feitos com massa de biscuit, os noivinhos personalizados dão charme e identidade ao topo de bolo.

artesanato de biscuit era uma novidade em Itapoá, então, vi nessa atividade uma oportunidade de renda extra”, comenta. A princípio, uma das irmãs cedeu um espaço criativo em sua casa, onde pudessem confeccionar as peças e vendê-las. Quando esta se mudou, Eliete sentiu a necessidade de abrir um cantinho em sua residência. E, assim, nasceu o Ateliê Criart. Organizado e decorado até nos mínimos detalhes, o ateliê mostra as versatilidades da artesã que, como diz a expressão popular, “pinta e borda” (literalmente). Entre suas habilidades manuais estão arranjos de flores artificiais, peças com decoupage, quadros personalizados para o quarto de crianças e bebês, caixas e nichos decorativos, prendedores de cortina, bonecas de pano, casinhas em miniatura, sabonetes

aromatizantes, sais de banho, terrários e peças de decoração com temas de Páscoa e Natal. Mas sua marca registrada é o biscuit, que utiliza para fazer noivinhos personalizados para topo de bolo, personagens de filmes e desenhos animados, caricaturas e até bolos fake

(bolos não comestíveis, somente decorativos, a nova tendência dos casamentos). Suas encomendas demandam, principalmente, para servir de lembrancinhas em casamentos, aniversários infantis, festas de 15 anos e eventos em geral. Em meio a tantas peças

já encomendadas ou disponíveis a pronta-entrega, as favoritas da artesã são: “aquelas que ainda não criei, pois sempre penso que posso melhorar um detalhe ou outro”. Incenso aceso e música e ligada. É assim que Eliete busca inspiração para dar vida às

Os porta-lembretes criativos também são boas opções para presentes e lembrancinhas.

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No Ateliê Criart, bonecos, arranjos de flores e bolo fake em biscuit.

peças. “Cheguei a parar com o artesanato durante certo tempo e, somente então, percebi o quão poderosa é essa atividade, pois fiquei deprimida. Quando estou criando alguma coisa, não vejo as horas passando. É o meu momento de relaxar e colocar os pensamentos em ordem”, conta. Ainda, a artesã deseja que todas as pessoas saibam o poder da atividade manual, seja para ocupar o tempo ocioso, ter uma fonte de renda extra, recuperar a autoestima ou o bem-estar. Durante o processo de criação de Eliete, toda a família se envolve: o esposo, Lauro Bittencourt, contribui com os trabalhos mais braçais; a filha mais velha, Juliane Bittencourt, estu-

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Com a massa de biscuit, os personagens infantis Xerife Woody e Marinheiro Popeye.

dante de Design de Interiores, também tem aptidão para as artes (pinta telas com aquarela e personaliza pranchas de surfe) e dá o toque final nos acabamentos; já a filha mais nova, Fernanda Bittencourt, estudante de Arquitetura e Urbanismo, também contribui com boas ideias e incentiva o trabalho da mãe. O tempo médio para confecção de uma peça de biscuit varia de acordo com seu tamanho e complexidade. Enquanto peças comuns costumam levar, em média, uma semana, as personalizadas, como as caricaturas, podem chegar a quatro semanas – isso acontece porque a secagem é natural e a artesã realiza um estudo mi-

nucioso das características e detalhes. “Quando os clientes me pedem para fazer suas caricaturas, costumo pedir fotos de seus rostos, corpos, vestimentas e poses que desejam reproduzir. O mesmo acontece quando vou confeccionar um elemento de outra cultura, por exemplo, a japonesa. Para me aproximar da realidade, estudo o tema. E, então, sei qual tecido utilizar no quimono da boneca, qual maquiagem fazer, a postura correta e afins”, explica Eliete. Hoje, com a popularização da internet, o artesanato tornou-se ainda mais acessível. Porém, a artesã prefere deixar o processo de criação fluir do que seguir receitas prontas.


Prendedores de cortina, bonecas de biscuit, objetos decorativos de Natal, casas em miniatura são opções que você encontra no Ateliê.

Desse modo, seus produtos são sempre exclusivos e carregam consigo identidade. Os materiais também vêm de lugares diferentes: são comprados em lojas de artesanato e aviamentos ou, simplesmente, achados na beira do bar, como conchas, gravetos e madeiras – afinal de contas, no universo criativo, não existem limites. Apaixonada por atividades manuais, Eliete, do Ateliê Criart, também tem boas mãos para culinária e trabalha com doces e salgados por encomenda. Seja um novo bolo ou uma técnica de artesanato ainda não explorada, ela nunca diz que não consegue fazer algo, pois, em sua terapia diária, está sempre se descobrindo.

Campanha Arte Solidária

N

esta edição de fevereiro, foi a vez da artesã Eliete Bittencourt doar uma peça de sua autoria para a nossa campanha Arte Solidária, em parceria com a Associação Mãos do Bem, de Itapoá. Para indicar artistas e artesãos locais que também queiram contribuir, envie um e-mail para redacao@giropop.com.br com um breve resumo sobre tal trabalho artístico, foto e telefone para contato. O Ateliê Criart está situado na Av. Zilda Arns, 1198, no Balneário Paese. Para saber mais, ligue para 47 99966-5561, acesse facebook.com/ateliecriartitapoa) ou @eliete.criart, no Instagram.

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Mar de Iemanjá: peça licença ao entrar e agradeça ao sair Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

No dia 2 de fevereiro é celebrado o Dia de Iemanjá, a divindade de origem africana mais cultuada no Brasil. A Rainha do Mar, como é popularmente conhecida, possui muitos filhos e adoradores que pedem por fertilidade, proteção e principalmente pelos pescadores, de quem ela é padroeira. Para desmistificar a importância daquela que é considerada a mãe de todos os orixás, conversamos com Carmem Castro, de Itapoá (SC). Fundadora do Terreiro Oxóssi Guerreiro, Mãe Carmem, como é conhecida na Umbanda, conta o porquê dessa força da natureza exercer papel importante em nossas vidas.

Também conhecida como Sereia do Mar ou Janaína, Iemanjá protege o destino daqueles que adentram o seu domínio.

O

nome Iemanjá, derivado do idioma iorubá, significa “mãe cujos filhos são peixes”. Existem muitas lendas acerca desse orixá, mas é certo que tem sua origem nos rios. Contudo, no Brasil, passou a ser

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associada ao mar e cultuada nas águas salgadas. Por ser considerada a mãe de todos os orixás (que não são santos ou deuses, mas manifestações espirituais da natureza), representa a fecundidade e conforta aqueles em desespero. Não é preciso viver a Um-

As oferendas acontecem para agradecer ou realizar pedidos ao orixá.

banda para saber que a água do mar exerce grande poder de cura sobre nós. Limpar o intestino grosso, dar energias, melhorar as defesas e desintoxicar o organismo são apenas alguns de seus benefícios. Carmem nos explica que, por isso, muitos fazem pedidos à beira do mar:


No terreiro Oxóssi Guerreiro, Mãe Carmem e Maria dançam e cantam sobre a Rainha das Águas.

“Iemanjá dá a seus filhos tudo o que lhes é pedido. E como boa mãe, sempre estará lá, à disposição daqueles que a procuram. Assim como as águas, essa divindade representa constância, trazendo vida, proteção e mudança quando necessário”. Sincretizada com as santas católicas Nossa Senhora dos Navegantes e Nossa Senhora das Graças, Iemanjá recebe comemoração no dia 2 de fevereiro, quando pessoas de todo o Brasil se vestem de azul e branco (as cores da divindade) para levar rosas brancas e oferendas para o mar. No Terreiro Oxóssi Guerreiro, a entrega para o orixá aconteceu

Mãe Carmem explicando a respeito dessa poderosa divindade.

no dia 13 de janeiro, pois, nas palavras de Mãe Carmem: “dia de Iemanjá são todos os dias”. Mesmo com a quantidade de informações nos dias atuais, é bom ressaltar que apoiamos as oferendas biodegradáveis ou, simplesmente, em forma de oração. Porque, cá entre nós, a Mãe dos Peixes deve estar cansada de ver seus filhos sufocados com tanta poluição. Iemanjá também é venerada e respeitada por pescadores e aqueles que vivem no mar, pois a vida dessas pessoas estão em suas mãos. Reza a lenda que é ela quem protege e decide o destino daqueles que entram em seu império: praias,

Maria, filha de Iemanjá, saúda a sua mãe e mãe de todos os peixes.

enseadas, golfos e baías. Portanto, assim como os índios que, ao entrar em uma floresta, pedem licença às árvores e agradecem ao sair, os filhos de Umbanda também pedem licença ao adentrar o mar, para que a Rainha das Águas abra os seus caminhos. Mãe Carmem lembra que, antes mesmo de qualquer parede levantada, havia apenas a natureza abundante e sagrada. Então, questiona: “por que não voltar a se conectar a ela?”. Assim como pedimos permissão para entrar na casa de alguém, em um templo ou igreja, a natureza também quer permissão. Afinal de contas, nos “apropria-

mos” dela por alguns momentos, nos esquecendo que, antes mesmo de nós, ela estava lá. Independentemente se você acredita em Janaína ou Sereia do Mar (outros nomes pelos quais Iemanjá atende), todos concordamos que a natureza é sábia e o mar poderoso. Pedir licença ao entrar e agradecer ao sair, em um domínio que não o nosso, é sinal de respeito e pode ser feito à sua maneira: uma reverência, um sinal ou um pensamento. Cercados de ondas e águas abundantes que estamos, essa força capaz de curar e revigorar recebe o nome que preferir, mas espera respeito e gratidão.

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Itapoá e sua história (parte XVI)

História não é o que passou, mas o que ficou do que passou.

A

persistência em não se deixar abater pelas dificuldades foi a grande marca registrada nos quilômetros finais da difícil empreitada que foi a conclusão da estrada da Serrinha nos quais afloraram todos os tipos de obstáculos imagináveis. Primeiro o agigantamento das intempéries colocando-se a frente com chuvas torrenciais que tornavam inviáveis qualquer atividade de campo, especialmente a abertura de uma via. Com índices fluviométricos tão elevados, no ano de 1957, a natureza evidenciava sinais claros de que não queria a sua preciosa Itapoá desnuda. Diante da persistência dos sócios da S.I.A.P., incentivados pelo seu líder Dórico Paese, a natureza fez emergir um novo expediente, a malária ou maleita, caracterizada pela febre alta e o tremor, que retirava do fronte dedicados trabalhadores. Recuperados voltavam a lida, porém paulatinamente outros eram acometidos. E, não fazia mistério em relação a sua força, revelando-se ainda mais desafiadora ao erguer no trecho dois ícones de barro grudento que até para andar a pé era difícil, as serrinhas do Carrapato e da Tiririca. Dificultou tanto o andamento das obras usando o favor intempérie para atrasar o cronograma estabelecido que os recursos se esvaíram, antes da obra estar concluída. Diante de tanto pesado ônus imposto pela implacável natureza só lhes restavam as famosas alternativas do custo/ benefício: Parar onde chegaram e ver o custo subir as nuvens transformando os investimentos em gastos sem resultados

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ou prosseguir, mesmo cambaleando, para manter o empreendimento na condição de investimento. Nem mesmo o socorro que poderia ter vindo do Governo do Estado, principal incentivador do empreendimento, na pessoa do combativo Jorge Lacerda foi possível contar, pois a queda do avião em que viajava com sua comitiva, tirou-lhe a vida. O sucessor Heriberto Hulse, por sua vez, simplesmente desconheceu toda e qualquer possibilidade de auxílio acenada pelo mandatário anterior. Todavia, dada a formação genética dos desbravadores, herdada dos destemidos antepassados que soprados pelo vento batido nas velas das embarcações que os trouxeram para a esperança chamada Brasil, os impulsionaram a prosseguir. Assim, as custas das calejadas mãos que manejaram pás, enxadas, picaretas e sofríveis máquinas, o ano de 1958 via na estrada concluída o definitivo início de uma nova fase para Itapoá, fora do anonimato e carregada pela esperança de uma vida melhor para todos aqueles que nela viviam, praticamente isolados. “Via est vita”, o caminho é vida, a vereda é necessária para a vida, diziam os romanos. Para Isael do Nascimento, o conhecido Lelé, figura lendária da pesca no rincão itapoaense, “Estrada da Salvação”, pois antes dela os doentes que necessitassem ser deslocados para tratamento dependiam do humor do mar ou uma “pajelança” que os curasse. Ao seu final, o imponente Oceano Atlântico a presenteou com a magnífica praia de Itapoá, bem como as suas demandas que

passaram a requerer atitudes firmes e práticas e... muita criatividade. Nesse novo cenário de entusiasmo marcante representado pela artéria integradora que possibilitava o livre deslocamento, a empresa S.I.A.P. implantou um programa de vendas de áreas às margens da via e de lotes no Loteamento denominado Balneário Itapoá localizado ao término da estrada pioneira e também o primeiro loteamento. A referida e bem sucedida iniciativa secundada por um suporte de mídia que incluía rádio, jornal e a insipiente TV passou a consolidar o empreendimento. Os recursos gerados possibilitavam o mantenimento da estrutura básica, como a conservação da estrada e a luz de gerador das 19 às 21 horas. Já as áreas, às margens da estrada, repassadas a preços simbólicos para pessoas afeitas ao trabalho do campo, principalmente do Oeste de Santa Catarina, muito ajudaram na conservação da via, pois na medida em que suprimiam a vegetação, mais sol e vento recebia para consolidação de sua base primária.

Opinião Muito escrevemos em relação ao pas-

sado da nossa potencialmente rica localidade tendo como objetivo valorizar as pessoas que desprendidamente em sua maioria, doaram parte de suas vidas por uma Itapoá saudável, capaz de oferecer vida e oportunidade aos vindouros. Tal atitude não busca, de forma alguma, com muito passado atrasar o futuro, mas pensando para que sirva de base para projetar a Itapoá de 2050.




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