Revista Jornalismo e Cidadania nº 23/2018

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Revista Eletrônica do Grupo de Pesquisa Jornalismo e Contemporaneidade - PPGCOM/UFPE | 1

Jornalismo e cidadania nº 23 | MAIO 2018

| ISSN 2526-2440 |

Revista Eletrônica do Grupo de Pesquisa Jornalismo e Contemporaneidade | PPGCOM/UFPE

OPINIÁO

Petróleo e Relações Trabalhistas

OPINIÃO

O direito à cidade

E mais...


JORNALISMO E CIDADANIA | 2

Expediente

Arte da Capa: Designed by Freepik.com

Editor Geral | Heitor Rocha professor PPGCOM/UFPE

Alunos Voluntários | Lucyanna Maria de Souza Melo Yago de Oliveira Mendes José Tarisson Costa da Silva

Editor Executivo | Ivo Henrique Dantas doutorando PPGCOM/UFPE

Colaboradores |

Editor Internacional | Marcos Costa Lima Pós-Graduação em Ciência Política/UFPE

Alfredo Vizeu Professor PPGCOM - UFPE

Revisão | Laís Ferreira Mestre em Comunicação

Túlio Velho Barreto Fundação Joaquim Nabuco

Articulistas |

Gustavo Ferreira da Costa Lima Pós-Graduação em Sociologia/UFPB

PROSA REAL Alexandre Zarate Maciel doutorando PPGCOM/UFPE

Luiz Lorenzo Núcleo de Rádios e TV Universitárias/UFPE Ada Cristina Machado Silveira Professora da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM

MÍDIA ALTERNATIVA Xenya Bucchioni doutoranda PPGCOM/UFPE

Antonio Jucá Filho Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco – FUNDAJ

NO BALANÇO DA REDE Ivo Henrique Dantas doutorando PPGCOM/UFPE

Auríbio Farias Conceição Professor do Departamento de Letras e Humanidades – DLH/ UEPB

JORNALISMO E POLÍTICA Laís Ferreira Mestre em comunicação

Leonardo Souza Ramos Professor do Departamento de Relações Internacionais da PUC –Minas Gerais e coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Potências Médias (GPPM)

JORNALISMO AMBIENTAL Robério Daniel da Silva Coutinho mestre em Comunicação UFPE

CIDADANIA EM REDE Nataly Queiroz doutoranda PPGCOM/UFPE JORNALISMO INDEPENDENTE Karolina Calado doutoranda PPGCOM/UFPE MÍDIA FORA DO ARMÁRIO Rui Caeiro mestre em Comunicação UFPE MUDE O CANAL Ticianne Perdigão doutoranda PPGCOM/UFPE

Índice

PODER PLURAL Rakel de Castro doutoranda PPGCOM/UFPE e UBI

Rubens Pinto Lyra Professor do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos, Cidadania e Políticas Públicas da UFPB

Editorial

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Prosa Real

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Comunicação na Web

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Opinião | Rômulo Almeida

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Opinião | Ana Polessa, Rafaella Rabello

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Opinião | Juliana Esteves, Thiago Cavalcanti | 12 Opinião | Rodrigo de Lima

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Opinião | Rubens Pinto Lyra

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Opinião | Márcia da Silva

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Opinião |Roberto Santos

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Opinião | Francis Lacerda

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COMUNICAÇÃO NA WEB Ana Célia de Sá Doutoranda em Comunicação UFPE NA TELA DA TV Mariana Banja mestranda em Comunicação UFPE

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Editorial Por Heitor Rocha

N

o atual conflito estabelecido entre o juiz Sérgio Moro e o Tribunal de Contas da União sobre a possibilidade de restituição dos cerca de 150 bilhões de reais desviados do Tesouro Nacional evidencia-se, mais uma vez, quem efetivamente exerce o mando no País: os donos do dinheiro. Por um lado, o Tribunal de Contas da União pretende que as corporações envolvidas nos casos de corrupção ativa, ou seja, corruptoras, sejam responsabilizadas pelo prejuízo causado ao País. Por outro lado, o juiz Sérgio Moro quer limitar a devolução dos recursos roubados por essas empresas a menos de dez por cento, além de restringir o uso de provas contra os delatores, o que foi classificado como “carteirada” pelo ministro Bruno Dantas do TCU. Numa flagrante posição em favor dos donos do dinheiro, recente editorial do jornal O Globo saiu em defesa dos acordos de leniência realizados pelo juiz Sérgio Moro considerando-os “lógicos”, uma vez que “não faz mesmo sentido estrangular a empresa”, pois, assim, “destroem-se empregos e perde-se tecnologia. Além de impedir que a companhia funcione, fature e tenha lucro para pagar as multas”. Para o jornal O Globo, deve haver “bom senso” para evitar que as empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez, responsáveis pelas obras superfaturadas em Angra 3, sofram uma punição “de forma desmedida”. No afã de justificar o faturamento e o lucro das empresas que superfaturaram obras públicas, o editorial do veículo chega a até mesmo a argumentar em defesa de empregos, sem demonstrar nenhuma preocupação com o prejuízo causado a um País que possui metade da população vivendo fora do sistema produtivo da economia, sem carteira assinada (número que tem aumentado depois da “reforma” trabalhista) e vivendo de migalhas por não ter condições de se constituir em consumidor efetivo dos produtos colocados à venda no mercado brasileiro. É importante lembrar que o ex-chefe da Advocacia Geral da União Osório Medina foi demitido pelo presidente Temer exatamente por pretender que as corporações corruptoras tivessem que restituir aos cofres públicos os recursos desviados. Quando coagido pelo ministro Eliseu Padilha a parar com esta intenção, para os “despachantes de luxo” empregados pelos donos do dinheiro, sem lógica e desmedida, o ex-chefe da AGU respondeu, de forma admiravelmente republicana, que não podia porque esta ação fazia parte imperiosa de suas atribuições no cargo. Assim, foi sumariamente demitido pelo próprio presidente da República. A análise dos propósitos do recente golpe parlamentar-midiático não pode deixar de associá-los aos que motivaram o golpe de 1964, quando também foram frustradas reformas que verdadeiramente contribuiriam para o desenvolvimento do País e de sua população para satisfazer os interesses particulares do grande capital, especialmente multinacional, os mesmos donos do dinheiro e do poder que impuseram o modelo agrário-exportador há mais de 500 anos. No golpe atual verificam-se também as intenções de

precarizar o salário e as condições de trabalho, sob o pretexto de desonerar a folha de pagamento, para ampliar a margem de lucro das empresas. Neste sentido, é espantosa a alienação, não só dos pequenos e médios, mas também dos grandes, empresários que vivem do mercado interno brasileiro, pois a diminuição do poder aquisitivo da população vai, matematicamente, diminuir a sua capacidade de lucro. Quanto às pessoas que acreditam ter algum fundamento moral contrário à corrupção a sua pretensão de um retorno aos tempos da ditadura militar, convictos de que o silêncio dos veículos de comunicação censurados e da oposição cassada na época significa que não havia desvios de recursos públicos, é preciso uma pesquisa rápida para avaliar a fraude do chamado “milagre econômico brasileiro” na década de 1970, subsidiado por inversões de capitais dos Estados Unidos que financiavam o consumo da classe média no Brasil e em outras ditaduras sanguinárias por toda a América Latina para manter esses países em sua órbita no confronto da “guerra fria”. Essas pessoas que atualmente manifestam intenção de voto em Bolsonaro poderão verificar que, quando acabaram as inversões de capitais dos Estados Unidos e a dívida externa continuou aumentando exclusivamente com a elevação unilateral das taxas de juros, a corrupção decorrente da política de financiamento do Estado através da hiperinflação implantada pelo então ministro Delfin Neto generalizou-se. O Estado recebia em Ordens Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTN), atualizadas todo dia, e pagava em cruzeiros, sempre com os tradicionais atrasos de meses, semestres e/ou anos. Assim, surgiram os compradores de dívidas do Estado, geralmente parentes dos presidentes, governadores e prefeitos, que chantageavam os credores a repassarem “lavados” 30 a 40% dos seus créditos, para evitar vê-los reduzidos a 10 ou 20% do seu valor inicial. Isso sem contar com as “obras faraônicas”, quando as empreiteiras generalizaram a tradição do superfaturamento nas obras públicas. Sobre o financiamento de campanhas dos seus despachantes de luxo no Congresso Nacional com recursos desviados das obras públicas superfaturadas, Emílio Odebrecht revelou que essa prática vem sendo realizada desde aqueles tempos imaginados hoje como exemplo de austeridade e moralidade no trato da coisa pública, quando se constituíram exatamente no período em que o silêncio da imprensa censurada e da oposição cassada propiciou a disseminação endêmica da corrupção no País. Heitor Costa Lima da Rocha, Editor Geral da Revista Jornalismo e Cidadania, é professor do Departamento de Comunicação Social e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE.


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Prosa Real

Livro-reportagem, jornalismo e contexto Por Alexandre Zarate Maciel

A

o elaborar um livro-reportagem, cada jornalista toma por base o seu arsenal de recursos narrativos, muitas vezes lapidados na experiência do jornalismo diário, para dar forma atraente e consistente a todo material que apurou de forma exaustiva. Informar e seduzir o leitor o tempo inteiro é a meta declarada de Fernando Morais em entrevista ao autor desta coluna: “Se eu fosse recomeçar a minha carreira de autor eu escreveria livros de aventuras para jovens. Você pega, por exemplo, um Corações sujos, a abertura, os quatro caras atravessando a cidade, à noite, com espada na mão, e aquilo é real, tem foto, sabe?” Outro exemplo de abertura impactante citado por Fernando é o de Olga, que lembra um thriller, descrevendo a “menina bonitinha que entra na cadeia com um revólver escondido na bolsa e bota na cabeça do guarda para poder tirar o namorado da prisão”. A intenção é que o leitor, que está concluindo um capítulo antes de dormir, fique tão curioso para seguir em frente “que vai perder mais duas horas de sono lendo”. As Seis propostas para o próximo milênio (1990), sugeridas por Ítalo Calvino - leveza, consistência, visibilidade, velocidade, precisão e multiplicidade -, por sua vez, representam para o jornalista e escritor Lira Neto “uma Bíblia para qualquer pessoa que tente viver de escrever”. O jornalista afirma que, a princípio, parecem antagônicas as duas primeiras categorias, mas que, no livro-reportagem, “você tem que ser denso ao mesmo tempo em que tem que ser leve”, algo que ele diz buscar de forma constante. Já a questão da visibilidade na narrativa é entendida por Lira Neto como a técnica de “levar o leitor para dentro da cena a partir de certas sugestões visuais no texto”, fruto de muita pesquisa iconográfica. Velocidade pode ser

mais bem traduzida, no caso do livro-reportagem, pela necessidade de criar um ritmo interno nas formas de narrar, como explica Lira Neto: “Se você olhar os capítulos de todos os meus livros, todos eles têm mais ou menos o mesmo número de páginas. Todos têm certa lógica interna, todos eles começam com uma cena visual”. O escritor se diz obsessivo pela precisão, lançando mão constantemente de dicionários de época para encontrar “aquela palavra que quando você troca uma pela outra ilumina o texto”. Por fim, a última característica, a da multiplicidade, é entendida por Lira Neto como a necessidade de buscar várias vozes a partir do mesmo objeto. Ele conclui que, a cada livro, tenta aperfeiçoar seu estilo tendo esses princípios como norte.

Divulgação

Sedução e densidade são essenciais na linguagem do livro-reportagem


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Autor do mês: Alberto Dines como biógrafo Na sua configuração de gênero jornalístico, a biografia tinha sido explorada de forma descontínua em livro-reportagem no Brasil até Alberto Dines (1932-2018), já veterano na imprensa, retomar e fortalecer uma tendência que se tornaria uma das mais interessantes para o mercado editorial brasileiro. Morte no paraíso: a tragédia de Stefan Zweig, que teve a sua primeira edição garantida pela editora Nova Fronteira, em 1981, também consolida uma atitude nova por parte dos profissionais de imprensa de encamparem produções exclusivas para serem publicadas em livros. No epílogo de sua primeira obra, Alberto Dines (1981, p. 157) considera que “transgredir é essencial na arte biográfica”. E acrescenta que, mais do que gênero literário, “a biografia é um desacato”, já que se configura em “insubordinação contra a morte, fixação na vida, exercício de suscitação, ressuscitação dos finados e esquecidos”. Dines, que também escreveu Vínculos do fogo – Antônio José da Silva, o Judeu, e outras histórias da Inquisição em Portugal e no Brasil, lançada em 1992, conclui com uma obser vação curiosa: “O relato que se segue contém duas rebeldias: o biografado recusa a desaparecer e o biógrafo transpõe o ponto final que colocou há duas décadas”. Iluminando conceitos: Berger e Luckmann, poder da linguagem e livro-reportagem O jornalismo trabalha com a organização de discursos e hierarquizações de visões de mundo em processos de objetivação. Berger e Luckmann (2007, p. 60) afirmam que “a linguagem é capaz de tornar presente uma grande variedade de objetos que estão espacial, temporal e socialmente ausentes do aqui e agora”. Ou seja, por meio da linguagem “um mundo inteiro pode ser atualizado a qualquer momento”, definição que se encaixa na descrição do modo de operação do jornalismo. Entre outras instituições que receberam legitimação social histórica para interpretar a realidade, o jornalismo é uma das que apresentam fatores de convencimento mais evidentes. Ainda sobre o poder da linguagem, B erger e Luckmann (2007, p. 67) ponderam que ela é capaz de “tornar o repositório objetivo de acumulações de significados e experi-

ências, que pode então preser var no tempo e transmitir para gerações seguintes”. Pode-se considerar que esse atributo, no campo do jornalismo como instituição, tem mais condições de ser desenvolvido pelo jornalista escritor de livros-reportagem. Esse produto, resultado de anos de pesquisa, está centrado em um arco temático e de tempo mais amplo, assim como apresenta uma visão contextual dos acontecimentos e personagens relatados que vai além do mero registro fugaz do cotidiano. O livro, diferente dos jornais e revistas – em uma vantagem com relação às grandes reportagens experimentadas nestes veículos -, ganha um status de relevo nas bibliotecas dos leitores, permitindo consultas constantes. As informações ali organizadas e apresentadas parecem ter um potencial de perenidade bem maior, embora nunca incontestável. O trabalho do autor de livros-reportagem se aproxima daquele do historiador, guardadas as várias diferenças entre esses olhares profissionais, pois lida com o conceito de contemporaneidade dos acontecimentos. Quando trata de períodos históricos que não viveu, ou mesmo de grupos humanos que compartilham modos de convivência incomuns, ele precisa fazer um esforço de interpretação para compreender como se organizam as visões de mundo naquela época ou comunidade. Referências: BERGER, Peter & LUCKMANN, Tho¬¬mas. A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes, 2007. CALVINO, Ítalo. Seis propostas para o próximo milênio. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. DINES, Alberto. Morte no paraíso: a tragédia de Stefan Zweig. 3. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2004. ________. Vínculos de fogo: Antônio José da Silva, o Judeu, e outras histórias da Inquisição em Portugal e no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

Elaborada pelo professor doutor do curso de Jornalismo da UFMA, campus de Imperatriz, Alexandre Zarate Maciel, a coluna Prosa Real traz, todos os meses, uma perspectiva dos estudos acadêmicos sobre a área do livro-reportagem e também um olhar sobre o mercado editorial para esse tipo de produto, os principais autores, títulos e a visão do leitor.


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Comunicação na Web Jornalismo, Sociedade e Internet

Pixabay

Por Ana Célia de Sá

Considerações sobre o virtual

A

discussão sobre o ciberespaço remete à virtualidade, a qual vai além da mera oposição ao real, da simples ausência de existência, conforme teoriza Lévy (1996). O autor expõe uma perspectiva filosófica na qual “[...] o virtual não se opõe ao real mas ao atual: virtualidade e atualidade são apenas duas maneiras de ser diferentes” (LÉVY, 1996, p. 15). Ainda sobre este tema, ele explica: “[...] o virtual é como o complexo problemático, o nó de tendências ou de forças que acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resolução: a atualização. Esse complexo problemático pertence à entidade considerada e constitui inclusive uma de suas dimensões maiores” (LÉVY, 1996, p. 16). A atualização remete à criação, à invenção de formas, ideias e qualidades não previstas na realidade possível, a qual é caracterizada pela predetermi-

nação. A atualização apresenta novas propostas ao virtual, reconfigura um objeto e mostra-se como a solução de um problema que não estava contida no enunciado. “A virtualização não é uma desrealização (a transformação de uma realidade num conjunto de possíveis), mas uma mutação de identidade, um deslocamento do centro de gravidade ontológico do objeto considerado: em vez de se definir principalmente por sua atualidade (uma ‘solução’), a entidade passa a encontrar sua consistência essencial num campo problemático. Virtualizar uma entidade qualquer consiste em descobrir uma questão geral à qual ela se relaciona, em fazer mutar a entidade em direção a essa interrogação e em redefinir a atualidade de partida como resposta a uma questão particular” (LÉVY, 1996, p. 17, 18). Ainda assim, a generalização do virtual como algo intangível alude à questão da não presença. Lévy (1996) exemplifica essa característica numa empresa virtual: nela, os funcionários não dividem um espaço fixo e presencial, nem a temporalidade do relógio. A atuação é extraterritorial e dá-se por meio de uma rede de comunicação eletrônica e do


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uso de recursos cooperativos. “Assim, a virtualização da empresa consiste sobretudo em fazer das coordenadas espaçotemporais do trabalho um problema sempre repensado e não uma solução estável. O centro de gravidade da organização não é mais um conjunto de departamentos, de postos de trabalho e de livros de ponto, mas um processo de coordenação que redistribui sempre diferentemente as coordenadas espaçotemporais da coletividade de trabalho e de cada um de seus membros em função de diversas exigências” (LÉVY, 1996, p. 18). Esta lógica também é válida para a atividade jornalística associada ao ciberespaço, definido por Prado (2011) como a combinação de pessoas, espaço e softwares. No contexto virtual, jornalistas podem atuar em diferentes localizações geográficas com fusos horários distintos, produzindo e enviando conteúdos noticiosos às redações de maneira rápida e com qualidade técnica, auxiliados pelas ferramentas digitais on-line, destacadamente as tecnologias móveis. O ciberespaço reconfigura distâncias e emprega a ideia de posições simbólicas, sem localização física para a informação. Tanto o produto on-line quanto o profissional atuante neste meio passam por um processo de desterritorialização, numa relação que valoriza o tempo e redimensiona espaços (SCOLARI, 2008). Por conseguinte, o consumo informacional deixa de vincular-se ao local ou ao tempo de produção da notícia e passa a interatuar diretamente com o ambiente cibernético. O virtual é capaz de promover novas relações espaciais e cronológicas da narrativa clássica. A subjetividade, significação e pertinência possibilitam a existência de vários tipos de espacialidade e duração culturais, isto é, construídas pelos seres humanos. Do transporte e da comunicação aos sistemas de registro e transmissão, é possível configurar inúmeros ritmos, durações e ambientes que interagem, opõem-se ou respondem-se. Cada rede ou sistema metamorfoseia o espaço e o tempo sociais, inventando novas velocidades e ambientes mutantes (LÉVY, 1996). Na perspectiva da sociedade em rede, cujas práticas sociais acontecem no chamado espaço de fluxos, Castells (1999) aponta a ideia de “virtualidade real”, a qual significa a não separação entre realidade e representação simbólica, uma vez que a humanidade sempre existe e atua em um ambiente simbólico. “Portanto, o que é historicamente específico ao novo sistema de comunicação organizado pela integração eletrônica de todos os modos de comunicação, do tipográfico ao sensorial, não é a indução à realidade virtual, mas a construção da realidade virtual” (CASTELLS, 1999, p. 459). O autor argumenta que o virtual representa o que existe na prática, mas não nominalmente, enquanto o real é o que existe de fato.

Desta maneira, a realidade sempre foi virtual porque é percebida por meio de símbolos formadores da prática com sentidos externos à definição semântica. A polissemia discursiva difere as expressões culturais do raciocínio lógico. São as variações culturais dos significados das mensagens, viabilizadas pela codificação da linguagem, que permitem a interação mútua entre pessoas em dimensões explícitas e implícitas diversas. Assim, é possível vincular o ambiente simbólico da mídia eletrônica, tanto quanto dos demais meios, a uma representação da realidade. “Todas as realidades são comunicadas por intermédio de símbolos. E na comunicação interativa humana, independentemente do meio, todos os símbolos são, de certa forma, deslocados em relação ao sentido semântico que lhes são atribuídos. De certo modo, toda realidade é percebida de maneira virtual” (CASTELLS, 1999, p. 459). A cultura da “virtualidade real” transforma o tecido social dentro do sistema de comunicação integrado e digitalizado. Espacialmente, formata-se o espaço de fluxos, mediado pela tecnologia, em substituição ao espaço de lugares – este último, embora ainda existente, distancia-se das decisões dominantes e enfraquece-se em seu papel social. No campo do tempo, a simultaneidade e a intemporalidade subjugam a noção cronológica e histórica das relações humanas. A rede digitalizada integra a experiência comunicativa, mas deixa lacunas para o mundo fora do fluxo informacional e tecnológico, algo que merece reflexão no que diz respeito ao acesso (ou à falta dele) à tecnologia. Referências: CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. Tradução de Roneide Venâncio Majer. Atualização para 6ª edição de Jussara Simões. 7. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999. (A era da informação: economia, sociedade e cultura. v. 1) LÉVY, Pierre. O que é o virtual? Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Ed. 34, 1996. (Coleção TRANS) PRADO, Magaly. Webjornalismo. Rio de Janeiro: LTC, 2011. SCOLARI, Carlos. Hipermediaciones: Elementos para una Teoría de la Comunicación Digital Interactiva. Barcelona: Gedisa, 2008.

Ana Célia de Sá é jornalista e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (PPGCOM-UFPE).


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Opinião

O direito à cidade como exercício democrático Por Rômulo Almeida

O

direto à cidade constitui um dos elementos primordiais de democratização do espaço urbano nos dias atuais. A necessidade de construir novos projetos alternativos de reforma urbana, melhoria do serviço público e valorização dos espaços de interação ainda é central para a convivência nas cidades brasileiras. Entretanto, no entender de Harvey (2013, p.32-33), esse direito não pode ser concebido simplesmente como um direito individual, pois demanda um esforço coletivo que implica na formação de direitos políticos ao redor de solidariedades sociais. A criação de novos espaços urbanos comuns e de uma esfera pública de participação democrática exige o combate contra a enorme onda privatizante do neoliberalismo, que não permite o florescimento de novas práticas político-econômicas que façam da cidade um espaço de maior inclusão (1). Para Castells (2000, p.42), desde o seu surgimento, a cidade era pensada de um ponto de vista residencial, adotada pelos membros da sociedade cuja presença direta nos locais rurais de produção agrícola não era necessária. Jacques Le Goff (1992) tem uma opinião semelhante. Segundo ele, a cidade representa o local onde há a valorização do trabalho e este passa a ser o elemento fundamental na composição da própria cidade. Nessa concepção, toda e qualquer cidade sempre terá o trabalho como elemento essencial às suas atividades e finalidades. Essa tendência se acentua com o advento da modernidade, quando se assiste, na visão de Lefebvre (2001, p.109), a crise da cidade tradicional e da civilização agrária, cabendo a nós resolver essa dupla crise: fomentar a criação de uma nova vida e de uma nova cidade. Todavia, ainda hoje existem muitas dificuldades de acesso aos recursos da infraestrutura urbana. Tomando como exemplo a nossa realidade social, foram construídos nas últimas décadas verdadeiros muros urbanos que tornam impermeáveis a convivência saudável entre as pessoas. De acordo com Alba Zaluar (2000), é possível observar nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro uma articulação entre a política, o crime e o surgimento do medo, que reorienta as práticas políticas realizadas no espaço urbano e o uso deste pela população. Isso tem levado a uma significativa modificação da vida de seus habitantes, como a mudança de certas práticas cotidianas e a adoção de um novo tipo de arquitetura caracterizada por construções cercadas de muros. As casas e condomínios passam a contar com

sofisticados dispositivos de segurança, tendo mesmo a feição de “fortalezas”. O esvaziamento dos espaços públicos e um crescente comportamento segregacionista têm sido justificados pelo medo, o que contribui para o aumento da “segregação espacial”, ou seja, a intensificação dos espaços vazios dentro da cidade e a ausência de estímulos para a interação e convivência. Há quase um século, o Brasil começava a passar por um rápido processo de industrialização e urbanização, acumulando sérios problemas de infraestrutura urbana que se combinavam com uma cultura política autoritária, própria do histórico dos países de condição dependente. O medo de ocupar o espaço público se engendrou na descrença dos processos democráticos, configurando um modelo de segregação expresso nos muros altos e demais aparatos de segurança nas residências (CALDEIRA, 2000). Com efeito, “as cidades, hoje, têm suas imagens tomadas pela deterioração da qualidade de vida urbana, em que o temor da vitimização, tanto quanto a experiência direta dela, desmonta os operadores simbólicos com os quais se praticam os jogos sociais” (ZALUAR, 1998, p.252). O problema da segregação e da violência urbana não é, contudo, característico apenas das grandes metrópoles brasileiras, mas também de outros países da América Latina e do terceiro mundo. Como adverte Manuel Castells: “A América Latina possui uma singularidade teoricamente significativa, além de enormes diferenças internas e algumas semelhanças com outras regiões ditas do terceiro mundo, é justamente por que as sociedades que a compõem apresentam certa identidade na estruturação de sua situação de dependência” (CASTELLS, 2000, p.89). Coadunando com o trecho acima, os problemas do espaço urbano no Brasil devem ser pensados sem perder de vista sua especificidade e relação com outras realidades. É necessário superar o sentimento de medo e repulsa ao “outro”, fundamentando-se em regras de convívio baseadas em valores humanos, possíveis de engendrar o uso cidadão do espaço urbano. Para Zygmunt Bauman (2008, 2009), as cidades contemporâneas produziram um tipo específico de sociabilidade que acabou privando o convívio entre as pessoas, muitas das quais preferem uma vida segura e segregada a uma vida social ativa, característica sintomática de uma sociedade cada vez mais individualizada. De acordo com o autor:


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“Poderíamos dizer que a insegurança moderna, em suas várias manifestações, é caracterizada pelo medo dos crimes e dos criminosos. Suspeitamos dos outros e de suas intenções, nos recusamos a confiar (ou não conseguimos fazê-lo) na constância e na regularidade da solidariedade humana” (BAUMAN, 2009, p.16). As cidades contemporâneas operam, em grande medida, seguindo a lógica descrita acima, transformando-se numa espécie de “zona fantasma”, formada de prédios e casas, cujos locais de construção e sua imensa área acabam segregando seus moradores do resto do espaço urbano. Contra o medo do “outro”, multiplicam-se o número de guardas pessoais e câmeras de segurança e restringe-se o convívio ao âmbito da “comunidade” de pertencimento. Zygmunt Bauman (2003) acredita que este fenômeno constitui um dos paradoxos da sociedade contemporânea. Trocamos a suposta “liberdade” da sociedade global pela “segurança” da comunidade local. Os estrangeiros, isto é, aqueles que estão fora ou à margem da nossa comunidade, passam a ser vistos como pessoas más e perigosas, pessoas diferentes de “nós” (termo que não tem um sentido amplo em uma sociedade individualizada) que ameaçam acabar com aquele último reduto de resistência que possuímos, ou seja, a nossa comunidade. Desenvolve-se a partir disso um sentimento de “mixofobia” ou “medo de misturar-se”, cujos alvos preferenciais são os desempregados e os criminosos. É no intuito de nos livrarmos dessa gente “supérflua” ou dessas “classes perigosas” que criamos uma morada e uma comunidade segregada. Torna-se imprescindível, porém, que ao invés de estimularmos a “mixofobia” estimulemos a “mixofilia”, ou seja, “o gosto de relacionar-se e de misturar-se com os outros”. Algumas pessoas ainda praticam essa ideia, que deve ser alimentada se quisermos construir laços mais duradouros. Esta tensão, todavia, constitui uma das principais características das cidades contemporâneas. Nas palavras de Zygmunt Bauman: Mixofobia e mixofilia coexistem não apenas em cada cidade, mas também em cada cidadão. Trata-se claramente de uma coexistência incômoda, cheia de som e fúria, mas mesmo assim muito significativa para as pessoas que sofrem a ambivalência da modernidade líquida (BAUMAN, 2009, p.48). Embora a criminalidade e a segregação urbana existam e sejam realmente entraves concretos ao convívio e à democratização do espaço urbano, a reclusão e o abandono das ruas, praças e parques constitui a pior maneira de evitar o problema. O planejamento com inteligência, a criação de mecanismos que propiciem a utilização democrática do espaço urbano e a necessidade de transformação da cidade por parte dos cidadãos continuam sendo as melhores alternativas. Sabe-se, contudo, que muitos desses problemas não serão resolvidos em curto prazo, pois a complexidade dos arranjos urbanos evolue

e junto com eles aparecem novos desafios. Nota 1 Maricato (2013, p.23-24) alega que só em São Paulo o preço dos imóveis sofreu um aumento de 153% entre 2009 e 2012. No Rio de Janeiro, o aumento foi de 184%, tornando a terra urbana refém dos interesses do capital imobiliário. A disputa por terras entre o capital imobiliário e a força de trabalho na semiperiferia levou a fronteira da expansão urbana para ainda mais longe, com a expulsão dos pobres para a periferia da periferia. Referências: BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2003. ______. A sociedade individualizada: vidas contadas e histórias vividas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2008. ______. Confiança e medo na cidade. Rio de Janeiro: Zahar. 2009. CALDEIRA, Teresa. Cidade dos Muros: Crime, medo e segregação na cidade de São Paulo. São Paulo: Edusp. 2000. CASTELLS, Manuel. A questão Urbana. São Paulo: Paz e terra. 2000. HARVEY, David. A liberdade da cidade. In: Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo: Boitempo: Carta Maior, 2013. LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2001. LE GOFF, Jacques. O apogeu da cidade medieval. São Paulo: Martins Fontes,1992. MARICATO, Ermínia. É a questão urbana, estúpido! In: Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo: Boitempo: Carta Maior, 2013. ZALUAR, Alba. Para não dizer que não falei de samba: os enigmas da violência no Brasil. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz (org.). História da vida privada no Brasil. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1998. ______. Crime, medo e política. In: Um século de favela. Rio de Janeiro: Brasiliense, 2000. Rômulo Almeida é sociólogo e mestre em Sociologia pela UFPE.


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Opinião

Até mentira vira like: viralizações de fake news nas redes sociais

Comunique-se

Por Ana Carolina Estorani Polessa e Rafaella Prata Rabello

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e acordo com Joanna Burkhardt (2017), o termo fake news não é novidade, remetendo-se a uma lógica de que controlar uma informação dava poder a uma pessoa ou grupo em relação a outro. Uma informação correta poderia ser decisiva em uma eventual batalha, reforçando ou enfraquecendo as habilidades de um líder, por exemplo. Para a autora, é notável que a criação da imprensa permitisse que a informação fosse difundida mais rapidamente, reforçando a importância de que jornalistas passassem a assumir a posição de verificar frequentemente a veracidade de matérias, tornando credíveis as notícias. No entanto, nada se compara à rápida disseminação da informação entre fontes variáveis que estamos presenciando, acompanhando o crescimento vertiginoso de internautas desde a década de 1990, tensionando o poder dos meios de comunicação tradicionais como principal fonte de informação. S. Mo Jang (2017) destaca que, após os impactos destas notícias nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, o interesse e a atenção em relação à veracidade destas informações em busca de ganhos ideológicos e econômicos, passaram a demonstrar uma preocupação real dos efeitos de tal fenômeno em uma escala ainda maior, visto que podem gerar um cenário de incertezas, minando a cidadania informada. Em maio de 2018, o Facebook anunciou um programa de controle das fake news e, segundo o

Jornal do Brasil, causou reação de grupos como Movimento Brasil Livre (MBL) e de extrema direita pela acusação de “censura” e de propagar ideias “esquerdistas”, ameaçando jornalistas e agências de verificação de notícias, como a Lupa. No Brasil, diversos pesquisadores apontam que a polarização política após as eleições de 2014 teriam intensificado a disseminação das fake news. Pelo menos esta é a posição do professor e filósofo Pablo Ortellado, da Universidade de São Paulo (USP), que gerencia o projeto do Monitor do Debate Político no Meio Digital. Em entrevista ao jornal El Pais (2018), ele descreve: “o que acontece no país é uma guerra de informação travestida de Jornalismo” entre uma “imprensa dita alternativa ultra engajada disputando o espaço com a grande imprensa”. Na mesma matéria, Fábio Malini, coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), destaca que boa parte dos veículos que disseminam tais notícias possui uma grande habilidade de replicação por meio de um forte viés ideológico. A jornalista estadunidense Claire Wardle destaca o alto uso de aplicativos de mensagem, em especial do WhatsApp, principal fonte de disseminação da desinformação. Não podemos esquecer que, com a chamada criptografia de ponta-a-ponta, adotada pelo WhatsApp desde 2016, garantindo a privacidade de seus usuários, o real alcance destas informações é incerto.


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Uma pesquisa inédita do Monitor de Debate Político no Meio Digital, órgão da Universidade de São Paulo (USP), revelou que grupos de família costumam ser o principal vetor para a multiplicação de notícias falsas dentro do WhatsApp. Para chegar a essa conclusão, o grupo distribuiu um formulário online e analisou as respostas de 1.145 internautas que haviam recebido fake news a respeito da vereadora Marielle Franco (PSOL), que foi assassinada no dia 14 de março de 2018. O boato dominante afirma que a professora e socióloga era ex-namorada do traficante Marcinho VP, tendo engravidado do próprio aos 16 anos de idade. O estudo também revelou que a forma mais disseminada dos boatos foi em texto, e não vídeo, fotos ou áudios. O WhatsApp é um aplicativo de compartilhamento privado, sendo difícil rastrear as mensagens espalhadas e avaliar o alcance. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua de 2016, do IBGE, mostram que a atividade mais popular entre os brasileiros, ao usar a internet, é trocar mensagens por meio de aplicativos - 94,5% dos brasileiros responderam que usam a internet para fazer isso. A falta de uma consulta em veículos jornalísticos com credibilidade de apurações pode ter impactos sociais relevantes, como por exemplo: nas falsas informações sobre o Zika vírus na época de epidemia em 2015 em contradição aos informes oficiais de instituições de renome, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Outra preocupação latente são as eleições brasileiras no final de 2018. A manipulação de dados e a facilidade de circulação das notícias tendem a potencializar preocupações em torno da inabilidade dos leitores de perceber as mentiras que envolvem a construção de histórias amplamente divulgadas. Percebemos, então, a necessidade de uma alfabetização digital em conjunto com estratégias que favoreçam a interpretação analítica e crítica por parte das pessoas, das mais variadas idades, classes e níveis acadêmicos para evitar a disseminação de fake news nas redes sociais, dentro ou fora da internet. A maioria delas apresenta forte viés ideológico, com potencial de enfraquecer até mesmo a democracia. É preciso desenvolver uma consciência da importância do questionamento sobre a veracidade da informação antes de repassar as notícias pelas redes sociais digitais. Existem, inclusive, sites de grandes veículos de mídias no Brasil que vêm se propondo a verificar a informação, por meio de fact checking, qualificando o debate público por meio da apuração jornalís-

tica, como o caso dos sites do Truco (Agencia Pública) ou “Fake ou News’ – É falso ou é notícia?”. Esses sim, valem a pena ser compartilhados nos seus grupos de Whatsapp.

Referências BBC BRASIL. Pesquisa inédita identifica grupos de família como principal vetor de notícias falsas no WhatsApp. 2018. Disponível em < https://goo.gl/ ajqmqh > Acessado em 29 de maio de 2018 BURKHARDT, Joanna M. Combating fake news in the digital age. ALA TechSource, 2017. EL PAÍS. ‘Fake News’: a guerra informativa que já contamina as eleições no Brasil. 2018. Disponível em < https://goo.gl/Bdsvf5 > Acessado em 29 de maio de 2018. ESTADÃO. Senso crítico é arma para combater ‘fake news’. 2018. Disponível em < https://goo.gl/5waeyC > Acessado em 29 de maio de 2018 ICICT; FIOCRUZ. Febre amarela: entre fake news e pós-verdades . 2018. Disponível em: < https://goo.gl/ uy32kY > Acessado em: 29 de maio de 2018. JANG, S. Mo; KIM, Joon K. Third person effects of fake news: Fake news regulation and media literacy interventions. Computers in Human Behavior, v. 80, p. 295-302, 2018. JORNAL DO BRASIL. Programa do Facebook contra ‘fake news’ no Brasil irrita extrema direita. Disponível em < https://goo.gl/7uF8UN > Acessado em 29 de maio de 2018. O GLOBO.Dono de site que amplificou notícias falsas sobre Marielle revela identidade ediz que atua para ‘guerra política’. 2018. < https://goo.gl/YmJxQk > Acessado em 29 de maio de 2018. VEJA. Me engana que eu posto. 2018 . Disponível em < https://goo.gl/SPbepr > Acessado em 29 de maio de 2018

Ana Carolina Estorani Polessa é socióloga, especialista em História do Brasil e Diversidade Cultural pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) e mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Rafaella Prata Rabello é jornalista, licenciada em Letras e doutoranda em Comunicação pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).


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Opinião

A Greve dos Petroleiros e o Lawfare Trabalhista Por Juliana Teixeira Esteves e Tiago Muniz Cavalcanti

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ma de cis ão p ol ít ic a cont r a uma g re ve qu e s e presume p ol ít ic a. É assim que p o d e s e r des cr it a a l im inar profer i d a p el a mi n ist ra Mar i a de Assis C a lsing , d o Tr ibu na l Sup e r i or do Tr ab a l ho, que proibiu a p ara lis a ç ão d as at iv id ades no âmbito d a Pe t robras e d e su as subsidi ár i as e f i xou mu lt a di ár i a no va l or de quin hentos m i l re ais p or e ve ntu a l des c umpr imento. A de cis ão, qu e faz us o d e inter pret açõ es distorc i d as d a l e i, é mais um exempl o do L aw fare que tomou cont a do s t r ibunais br asi l eiros : a man ipu l aç ã o e st r atég ic a do sistema lega l p ar a f i ns p olít i co s.

A proibi ç ão tem mot ivaç ão ú ni c a : o “c aráter p olít i co” d a g re ve. D e a c ord o com s eus f und amentos , o mov i me nto p are d ist a d os p et rolei ros não p o ssu i uma “p aut a d e reiv i nd i c aç õ es qu e t r ate d as cond i ç õ es d e t rab a l ho”, re veste -s e d e “c un ho ess enci a lmente p olít i co” e “nã o te m sustent aç ão na jur ispr ud ênci a d om i nante” d o Tr ibuna l. A d e cis ão p ar te, no ent anto, d e uma premiss a e quivo c ad a, p ois não s e e st á d i ante d e uma g re ve at ípi c a com i nte re ss e s est r it amente p olít i cos que foge m p or completo d a rel aç ão d e t rab a l ho. E m b o a verd ad e, a p aut a d os g re v ist as tem, si m , o


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prop ós ito d e re iv indic ar mel hores c ondiçõ es d e v i d a e d e t r ab a l ho p ar a a c ategor i a, mu ito e mb ora a p ar a l is aç ão pro duza efe itos re f l exos no contexto p ol ít ico atu a l. S e os g re v ist as exigem a re du ç ão d o s pre ços dos combust íveis e do gás d e c oz in ha , s e de mand am a manutenç ão d os e mpre gos e a re tomad a d a pro duç ão inter na d e combust ível, s e p o stu l am o f im d as i mp or t a çõ e s d a gas ol ina e out ro s der iv a d os d o p e t róle o e s e denunci am a pr iv at iza ç ão e o de smonte do Sistema Pet robr as – re iv ind i c a çõ e s t id as como de c un ho p ol ít i co p el a mi n ist ra – , não é pre c is o fazer g r and e e s forço i ntele c tu a l p ar a p erceb er que as me di d as a lme j a d as s ão c ap azes de inter fer i r d i re t ame nte no g r au de est abi l id ad e prof issi ona l, na hig ide z f inanceir a e p at r i mon i a l d a empres a e, com efeito, na v i abi li d a de e conômic a p at rona l p ar a hon rar o c u mpr i me nto do ac ordo c ol et ivo em v i gênci a f i r mad o com a c ategor i a. Aind a que d e f ato haj a i nteress es p ol ít icos ac aç ap ad os , é v is ível e i nd e ne de dúv id as su a c onjuga ç ão c om i nte re ss e s e conôm icos, o que não p o d e r i a s e r d e s con he cido p el a ju l gadora. A de cis ão fere de mor te o ar t igo 9 º , c aput, d a C onst ituiç ão Fe der a l que ass egura o d i re ito d e g re ve ao s t r ab a l hadores, a quem c omp e te “d e ci dir s obre a op or tunid ad e d e e xe rcê - lo e s obre o s interess es que d e vam p or me io del e defender”. O texto c onst itu ci ona l não p o der i a s er mais i ne qu ívo co a o est ab el e cer exclusiv amente à cl ass e t rab a l hador a a dis c r icionar ie d ad e d o s i nte re ss e s defendidos, não s end o p o ssível have r qu a l quer t ip o de ingerê nci a e st at a l c ap az de rest r ing ir os mot ivo s d a d e f l ag ra ç ão. Por t anto, c u mpre exclusiv amente aos t r ab a l ha dore s ( e s omente a el es), at ravés d e su a e xpre ss ão col et iv a, de c idir s obre o obj e t ivo d a g re ve e os interess es p or este i nst r u me nto tutel ado s, s ej am de nature z a prof issi ona l, e conôm ic a, ambient a l, p olít i c a ou s o ci a l. Ne ss e s ent ido, até mesmo as g re ve s e st r it amente p ol ít ic as, def l ag r ad as c omo me c an ismo de press ão em face d o E st ado – o qu e não é o c as o, repit a-s e –, e nc ont ram amp aro l ega l e const ituciona l, s endo d e p ossível o cor rênci a pr át ic a. D e cl arar a abusiv id ade de mov ime ntos p are dist as com interess es p ol ít ic os diretos ou ind i re tos é des c on he c er p or inteiro a or i ge m e a h istór i a do mov imento c ol et ivo d o s t rab a l had ores, que enc ont r a na g re ve

su a g rand e express ão d e lut a. Não é d e hoj e que a li n ha d e p e s qu is a em Direito do Trab a l ho e Te or i a S o ci a l Cr ít ic a d o Prog rama d e Pós - Gradu aç ão em Di re ito d a Un ivers i d ad e Fe d era l d e Per nambu c o, d a qu a l os autores comp õ em o cor p o d o c e nte e d is cente – um na qu a li d ad e d e profe ss or, e out ro d e a luno d e d outoramento –, p o ssu i como pre o c up açõ es ac ad êmi c as o e stu d o aprof und ad o d o i nst ituto d a g re ve. D e d i c ad a ao estud o d o te ma , a Profess ora Fer nand a B ar reto L i r a en f at i z a que, no a lvore cer d a R e volu ç ã o Indust r i a l, a g re ve era d ef l ag rad a p ar a atend er a d ois obj et ivos : d enunc i ar as b arb ár i es d e cor rentes d a explora ç ã o d o t rab a l ho humano prop ond o mel hor i as nas cond i ç õ es d e v i d a d a cl ass e op erár i a ; e, d e for ma me d i at a, sup erar o própr i o E st a d o L ib era l. A g re ve s e re vest i a, p or t anto, d e c aráter p olít i co- re voluci onár i o d i r i g i d o à emancip aç ão d a cl ass e opr i mi d a . No ent anto, como o E st ad o L ib era l p e rc eb e u su a i mp oss ibi li d ad e d e i nterd it ar e ss e s mov i mentos e repr i mi r o s eu mo del o d e organ i z aç ão – os s i nd i c atos –, p ass ou a emoldurá- los e rest r i ng i - los : a g re ve v ai, a o s p oucos , p erd end o s eu c aráter emancip atór i o e gan hand o uma i d i oss i nc r asi a pre d omi nantemente reiv i nd i c at iva. E ss e b a li z amento i d e ológ i co s e re f l e te exat amente no entend i mento maj or it ár i o d o Tr ibuna l Sup er i or d o Trab a l ho no s e nt i d o d e i nad mit i r a g re ve p olít i c a e, a p ar t i r d a d e cis ão li mi nar profer i d a em f a c e d a p ara lis aç ão d os p et rolei ros , t amb ém a g re ve e conômi c a com efeitos p olít i cos presu m i d o s. C om a d e cis ão, a mi n ist ra assu me o prot agon is mo d o j ogo p olít i co e de i x a d e fora os atores que d ele d e ver i am p ar t i c ip ar d i ret amente: os mov i mentos s i nd i c ais. Em p ouc as p a l av ras , a d e cis ão res er va a p ol ít i c a s omente aos p olít i cos . E aos juí z es .

Juliana Teixeira Esteves é professora da Universidade Federal de Pernambuco, Mestre em Ciência Política e Doutora em Direito. Tiago Muniz Cavalcanti é Procurador do Trabalho, Mestre e doutorando em Direito.


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Opinião

Problemática Socioambiental: a necessidade de uma práxis solidária e coletiva Por Rodrigo Correia de Lima

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tualmente, a problemática ambiental é cada vez mais debatida em busca de soluções para as degradações que provêm da forma como o ser humano está presente no planeta Terra. Sem querer generalizar, pois existem casos específicos em que a comunidade humana consegue ter uma relação de simbiose, de troca com a natureza como, por exemplo, os povos originais do continente americano. Cabe salientar que as degradações provocadas pelo modo de produção ancorado na economia voltada para atender as demandas do mercado capitalista historicamente vêm devorando todos os recursos da natureza e enxerga o ser humano como um objeto que pode ser utilizado e descartado. Uma característica marcante do processo de produção no modelo capitalista é a reificação, no qual os seres vivos, incluindo o ser humano, são transformados em coisas, sendo considerados, assim, mercadorias que podem ser comercializadas e/ou rejeitadas, incluindo até mesmo as relações sociais que se tornam artificiais e descartáveis. Essa visão utilitarista da natureza provocou o afastamento entre ser humano e o ambiente, como se o ser humano pudesse viver sem a natureza e, sobretudo, pudesse controlá-la. Essa visão dicotômica é extremamente nociva para a inter-relação da sociedade com a natureza, pois vem causando uma série de efeitos danosos ao meio ambiente, como poluição atmosférica, desmatamento, poluição das águas, queimadas de florestas, extinção de animais, perda da biodiversidade, empobrecimento de milhões de seres humanos, etc.. Diante desta realidade, de tamanha degradação socioambiental, o Papa Francisco trouxe a palavra da Igreja sobre a questão ambiental com a Carta Encíclica Laudato si’ (Louvado Seja) – Sobre o Cuidado da Casa Comum (2015). Foi a primeira vez que um Papa escreveu uma encíclica inteiramente voltada para as questões ambientais, a qual, mesmo sendo uma novidade, não foi feita de maneira tímida e reducionista, muito pelo contrário, a visão ambiental passada no documento foi muito profunda, enxergando o Planeta Terra como o lar comum a todos os seres vivos de forma integrada.

A Laudato si’ (2015) apresenta uma visão profunda da problemática ambiental. Primeiro trazendo a Terra como nossa irmã e mãe, a qual, assim exalta São Francisco de Assis, como grande exemplo da relação com a natureza: “Louvado sejas, meu Senhor, cantava São Francisco de Assis. Neste gracioso cântico, recordava-nos que a nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços” (FRANCISCO, 2015, p. 1). Com estas palavras, o Papa Francisco segue exemplificando que a grande mãe e irmã, a Terra, sofre com o mal que a sociedade humana provoca em nome do acúmulo de riqueza, consumismo e individualismo. Lembra-nos, ainda, que o ser humano faz parte desse planeta a partir dos elementos que o constitui como o solo, o ar e a água. Todos e todas somos filhos e filhas da Terra. Nessa direção, a partir do Papa Francisco, a relação entre ser humano e natureza é percebida, na Igreja Católica, à luz da palavra de Deus e constrói uma visão crítica frente às raízes da crise ecológica, a qual tem como base o modelo de desenvolvimento excludente, acumulador de riqueza que despreza os ciclos da natureza, propondo um crescimento ilimitado. Em um cenário de desvalorização da vida em detrimento do crescimento econômico e do acúmulo ilimitado, é necessário fazer a critica à técnica e à ciência sob a ordem de dominação pelo capital. É inegável a contribuição da tecnociência, visto os tantos benefícios que trazem à humanidade. Contudo, foram surrupiadas pelo sistema dominante e colocadas inteiramente ao seu serviço, já não sendo as demandas que controlam o mercado e sim as ofertas que, a partir da criação de falsas necessidades, fazem com que a sociedade consuma cada vez mais bens supérfluos. Essa sociedade, frente ao consumismo exacerbado, traz como consequência a exclusão de milhares de pessoas que, não podendo consumir como os mais ricos, são marginalizadas. Cria-se, com isso, o culto à cultura do TER sobre o SER e os bens materiais se sobrepõem à solidariedade e o espírito coletivo. A exclusão provocada pelo modelo de desen-


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volvimento do capital está intimamente ligada à degradação ambiental. A maioria empobrecida do mundo é a que mais sofre com os males feitos à natureza, pois são estas pessoas que mais dependem do meio ambiente para viver e para produzir e reproduzir o seu modo de vida. Neste contexto, são as mulheres que mais padecem, devido ao fato de serem as que mais se utilizam dos recursos da natureza nas tarefas do dia a dia. Segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano de 2011, uma quantidade significativa de países aponta que as mulheres dependem geralmente mais das florestas do que os homens. Isto porque costumam ter menos opções profissionais, menos mobilidade e suportam a maioria da responsabilidade pela recolha de madeira para cozinhar. Num universo de aproximadamente 45 milhões de pescadores artesanais no mundo, pelo menos seis milhões são mulheres que dependem da pesca artesanal como modo de vida e estão ameaçadas pela sobrepesca e pelas alterações climáticas. Para enfrentar esta crise socioambiental é imprescindível apontar, como alguns dos mais diversos caminhos, para a educação ambiental e para a participação comunitária. A Educação ambiental precisa ser entendida como um veículo que leve à conversão ecológica, para que homens e mulheres possam sentir-se parte integrante desta grande casa comum a fim de contemplar e cuidar da criação divina, nos reconciliando com a natureza e uns com os outros, quebrando as barreiras do individualismo e respeitando as diversidades das formas de vida humana e não humana. A participação comunitária vem da necessidade de agir em conjunto, pois os problemas estão na estrutura da sociedade e nas ações isoladas. Ações estas que, muitas vezes, apesar de bem intencionadas, não vão ser suficientes para promover a reconciliação da humanidade com o restante da criação. É proposto, portanto, o fortalecimento de uma espiritualidade experimentada na convivência comunitária e na contemplação de toda a criação, características básicas da vida cristã. Dentro deste contexto, a partir da animação acarretada pela Laudato si’ e da necessidade cristã de participar da transformação social, um grupo de leigos da Igreja Católica da Arquidiocese Olinda e Recife (AOR) funda, em 16 de setembro de 2017, a Pastoral Ambiental, com a intensão de colocar em prática o amor e o cuidado com a casa comum. A Pastoral Ambiental da AOR tem como missão o respeito e o cuidado a todas as formas de vida, tendo como valores essenciais a opção preferencial pelos pobres, a luta pela justiça ambiental, o ecumenismo no diálogo e na ação, o res-

peito à diversidade socioambiental e cultural, a preservação e conservação da biodiversidade, o compromisso com um projeto societário voltado aos valores de mobilização e a participação social à luz do evangelho e da emancipação humana. Para tanto, foram propostas três linhas de ação: educação ambiental crítica e sensibilização política socioambiental; comunicação ambiental e redes plurinstitucionais; e governança ambiental e práxis comunitárias. A educação ambiental crítica anseia sensibilizar às pessoas para as causas dos problemas socioambientais, enxergado o meio ambiente não somente como os elementos da natureza de maneira reducionista, mas procurando ter uma visão de totalidade, analisando a inter-relação entre os seres vivos, incluindo o ser humano e o meio abiótico, buscando com isso fazer uma análise crítica do modelo societário dominante. A comunicação ambiental e redes plurinstitucionais têm como objetivo fazer com que os problemas ambientais sejam evidenciados de maneira crítica e profunda pela mídia, expondo tanto as denúncias, quanto as ações positivas em relação à temática socioambiental. A governança ambiental e práxis comunitária pretende realizar a organização comunitária de modo que esta viabilize a mobilização popular para articular e exigir do poder público ações voltadas às comunidades para mitigar ou resolver problemas socioambientais. Essas três linhas de ação pretendem ser os elos de uma práxis socioambiental transformadora que contribua com a construção de uma nova sociedade em que a criação de Deus seja respeitada e que o cuidado com a vida faça parte da centralidade da prática e do discurso da humanidade. Por fim, fica o desejo de que com a contribuição de todos e todas de forma solidária e coletiva possa ser efetivada a grande conversão ecológica em que a humanidade se reconcilie com a natureza e se “tenha vida e vida em abundância” (Jo 10, 10). Amém, Axé, Auerê e Aleluia.

Rodrigo Correia de Lima é mestre em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável pela Universidade de Pernambuco, especialista em Gestão Ambiental pela FAFIRE, professor de Geografia e Agente da Pastoral Ambiental da Arquidiocese de Olinda e Recife. Email: rodrigocorreialima@gmail.com


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Opinião

A primavera libertária de 1968 e sua repercussão no Século XXI Por Rubens Pinto Lyra

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aio de 1968 na França: “Sejam realistas, exijam o impossível”; “É proibido proibir’; “As paredes têm ouvidos, seus ouvidos têm paredes” e “O patrão precisa de ti, tu não precisas dele”; “A mercadoria é o ópio do povo”. Essas boutades traduzem o espírito irredentista daqueles que um dia acreditaram ser possível derrubar, de uma hora para a outra, as muralhas de ferro do capitalismo, com sua superestrutura autoritária, e iniciar a trajetória para uma sociedade nova, fundada sobre a ausência de qualquer egolatria. “O nosso caminho”, diziam, “será uma longa marcha da fraternidade”. Eles se pretendiam arquitetos de uma revolução, não apenas social e política, mas também erótica, onde a emoção conta mais do que verdades “toutes faites”: “quanto mais faço amor, mais vontade tenho de fazer a revolução. Quanto mais revolução faço, maior vontade tenho de fazer amor”. A controvérsia é infinita no que se refere à concepção dessa explosão de insatisfação com o establishment, que não foi “a segunda revolução francesa”, conforme estampou em maio de 1988 prestigiosa revista brasileira, e sim uma revolta que viveu momentos insurrecionais, quase derrubando o governo De Gaulle. Com efeito, a Revolução Francesa de 1789 destruiu as estruturas econômicas, sociais e políticas do feudalismo e pôs em seu lugar novas, ancoradas no modo capitalista de produção. Porém, mesmo quando não tão profundo, o processo revolucionário gera rupturas importantes e refaz as bases da convivência social e política de um país, como ocorreu com a revolução anti-colonialista americana. A revolta de 1968 não produziu revoluções, nem “explosivas”, com mudanças da noite para o dia, nem “processuais”, com transformações que se prolongam por um longo período. Mas os contestadores de maio de 1968, se não tinham o projeto de uma “nova sociedade”, sabiam o que não queriam e tiveram êxito em mandar para a lata do lixo da historia, na França, comportamentos que materializavam uma sociedade repressiva, machista e preconceituosa. Além disso, o seu ethos libertário influenciou, à jamais, muitos outros países, que fize-

ram tabula rasa das proibições e interditos referentes ao relacionamento entre moças e rapazes, notadamente nas residências universitárias e nas instituições de ensino da França. Também contribuiu decisivamente para democratizar a gestão universitária, até então restrita praticamente ao corpo docente. A partir dessas mudanças, todo o relacionamento vertical, excessivamente formalista, visceralmente autoritário, prevalecente nas universidades francesas, deu lugar a uma convivência mais aberta, crítica e propositiva. É verdade que, mesmo sem projeto de mudança para a sociedade, muitos participantes das Jornadas de Maio imaginavam, como vimos, poder derrubar o capitalismo. Apoiavam as lutas contra o colonialismo, por exemplo, denunciando o imperialismo americano no Vietnam, associadas a seu ideário socialista, mas se opunham energicamente ao modelo de sociedade que lhes ofereciam os comunistas. Ocorre que, naquele período histórico, o sistema capitalista só tinha um opositor com força e credibilidade: os comunistas, a despeito das rachaduras, notadamente as provocadas a partir da violenta repressão à Primavera de Praga, na Tcheco-eslováquia. As veleidades libertárias de Maio não tinham, portanto, como ir além da “superestrutura”, isto é, da renovação dos costumes, da valorização da liberdade e do exercício efetivo da cidadania. Mas nenhum projeto político mudancista, nas democracias consolidadas, na atualidade, poderá vingar, se não tiver incorporado essa herança de Maio, decisiva para o regime democrático, consubstanciada na abertura permanente da política ao cidadão e no seu direito à plena participação na vida da pólis. As repercussões de Maio de 1968 no século XXI. A revolta de Maio de 1968 gerou expectativas que ela não podia, por definição, satisfazer, relativas à sua suposta capacidade de implodir o sistema político francês, abrindo caminho para o socialismo. Os resultados das eleições convocadas por De Gaulle, após enfrentar a maior greve operária da história da França, dificilmente poderiam ser favoráveis aos contestadores universitários, tendo em vista o perfil conservador da maioria do eleitora-


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do francês. No entanto, até hoje, existem os que acreditam que teria sido factível a perspectiva de transformar a revolta em revolução, gerando uma alternativa política socialista nova, democrática e libertária. Ledo engano! Ela teria, provavelmente, resultado em uma guerra civil na qual as veleidades revolucionárias seriam esmagadas, resultando num grave retrocesso para a democracia. Com efeito, não é suficiente, para se abrir caminho ao socialismo democrático, a combinação da mobilização social com a contestação ideológica à sociedade de consumo, ambas exemplarmente presentes no entusiasmo contagiante dos estudantes franceses de 1968. O socialismo, para ser construído, necessita de apoio da ampla maioria dos trabalhadores, como lembra Marx no Manifesto Comunista. A queda do Muro de Berlim demonstrou que revoluções conduzidas por vanguardas podem inicialmente suscitar considerável apoio popular, mas resultam, regra geral, na recusa dessas minorias, pretensamente iluminadas, em legitimar o seu poder mediante a soberania do voto popular. Além do mais, na década de 1960, a vida política na Europa se nutria da polarização política e ideológica entre o bloco soviético e o chamado “mundo livre”, liderado pelos Estados Unidos, não havendo espaço para uma “terceira via” democrática. A expressiva votação, na França, do candidato comunista Jacques Duclos à Presidência da República, em 1969, obtendo mais de vinte por cento dos votos, mesmo após o imenso desgaste provocado pela invasão da Tcheco-eslováquia pela União Soviética, demonstra a veracidade dessa interpretação. Foi necessário esperar 1981 para que triunfasse uma alternativa socialista democrática, com a eleição de François Mitterrand à Presidência da França, para a qual concorreu, entre outros fatores, a renovação democrática produzida pela Primavera de 1968. Mas a vitória do neoliberalismo, com sua política voltada para a sacralização do mercado e do individualismo exacerbado, produziu a sensação de que as ideias libertárias propagadas em 1968 se haviam tornado demodées. Ao contrário. São justamente os temas mais inovadores, introduzidos nos costumes e nas propostas políticas surgidas na revolta estudantil francesa, que têm servido de combustível para a atual renovação de setores expressivos da esquerda europeia. Mas somente com a débâcle dos regimes ditos comunistas na Europa eles puderam voltar à tona. Assim, a primavera li-

bertária de Maio, chamando a atenção para a importância da questão ecológica, foi precursora das propostas atuais na matéria, de caráter mais abrangente, como a do ecossocialismo de La France Insoumisse, partido fundado pelo líder esquerdista Jean Luc Mélenchon. Quase cinquenta anos após, Mélenchon repetiu, nas eleições presidenciais de 2017, os vinte por cento obtidos por Jacques Duclos, assumindo, com o apoio dos comunistas, consideravelmente enfraquecidos, a liderança das esquerdas de corte mais radical. Da mesma forma, na Espanha, um movimento transformado em partido, o Podemos, alcança posição destacada na vida política desse país, em detrimento dos comunistas e dos socialistas. Suas bandeiras são as defendidas pelo movimento de Maio: crítica ao establishment (no caso, ao poder e aos privilégios do que chama de casta), igualdade de direitos entre homens e mulheres, feminismo e, especialmente, a ênfase na participação direta do cidadão na vida política, quebrando a rigidez das antigas estruturas partidárias. A metáfora utilizada pelos cidadãos “indignados” da Espanha também lembra fortemente as de Maio: acreditam ser possível “asaltar los cielos”. Para o líder do Podemos, o jovem professor universitário Pablo Iglesias, “se tu quieres acertar, no hagas lo que la izquierda haria”. Trata-se, evidentemente, de uma boutade, porque Pablo Iglesias é notoriamente de esquerda. Mas sua crítica dirige-se à esquerda hegemônica, esclerosada por concepções e práticas dogmáticas. Processos semelhantes, em vários aspectos, também ocorreram na Inglaterra, sob a liderança de Jeremy Corbyn, que empreende a modernização democrática do Labour Party, abrindo o partido trabalhista à participação de milhares de jovens não militantes. Portanto, o ideário gauchiste de Maio tem funcionado como contraponto à hegemonia econômica e política incontestável do neoliberalismo, inspirando novas formas de organização partidária e de sociabilidade, caracterizadas pelo pluralismo, ampla participação cidadã e contestação às políticas e valores que servem de sustentáculo à ordem do capital.

Rubens Pinto Lyra é Doutor em Direito Público e Ciência Política.


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Opinião

Plantas medicinais da Caatinga Por Márcia Vanusa da Silva

Entrevistas nas comunidades Tradicionais do Semiárido Brasileiro mediadas pela Profa, Dra. Márcia Vanusa da Silva-Coordenadora do NBIOCaat

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a at i ng a (do tupi: c aa (mat a) + t i nga ( branc a) = mat a br anc a) é o úni co bi oma exclusiv amente br asi l eiro, o qu e si g n i f i c a que g r ande p ar te do s eu p at r i môn i o bi ológ ic o não p o de s er enc ont ra d o e m ne n hu m out ro lugar do pl anet a. E l a é c omp ost a p or oito e cor reg iõ es e v ár io s t ip os d e ve ge t a ç ão d e s av ana e f l orest ais. É um bi oma a d apt a do às condiçõ es s em i ár id as e s e l o c a li za e m oito est ados do Nordeste e no nor te de Mi nas G er ais, o c up ando 11% d o te r r itór i o naci ona l (844.453 k m ²). É o mais f r ag i li za do d os biomas br asi l eiros. C erc a d e 2 8 mi l hõ e s de p ess o as habit am ess a re g i ã o, tor nand o- a uma d as mais dens amente p ovo a d as e nt re aquel as de c ar ac ter íst i c as cl i mát i c as si mi l ares no mundo. Par te d ess e c ont i nge nte v ive s ob g r ande v u l ner abi li d a d e s o ci a l e e conômic a. O el e v ado nível d e d e s i nfor maç ã o s obre a C aat inga faz com que e ss e bi oma não ten ha o mesmo ap el o que a Amazôn i a e a Mat a At l ânt ic a p o ssuem den t ro e fora do p aís. E nt re as d ivers as esp é cies d a C aat inga, vár i as pl ant as s ão notor i amente consi d era d as como me dic amento s as de us o p opu l ar, s e nd o ut i li zad as fol has, c as c as e r aí z es . Há uma g rande r ique za de con he cimentos e pr át i c as t rad i cionais que s ão t r ansmit i d as

ora lmente, d e geraç ão a geraç ão. A mai or i a d ess es s ab eres ancest rais res i d e na me mór i a d as p ess o as mais i d os as e, p ouc as ve z e s, s ã o reg ist rad os ou s a lvagu ard ad os . S em re g ist ro e v is ibi li d ad e, b o a p ar te d ess es con he c i me n tos cor re o r is co d e d es ap are cer, j á qu e su a cont i nui d ad e d ep end e d a t rans miss ã o d o s s ab eres d os mais vel hos aos j ovens . Por iss o mes mo, uma d as c arac ter íst i c as mais i mp or t antes d o Pat r i môn i o Imater i a l de p e nd e d i ret amente d o va lor e d o re con he c i me nto que l he at r ibuí mos : um s ab er ora l s ó é p e rp etu ad o qu and o d e d i c amos temp o p ar a ouv i r o que os mest res d os s ab eres têm a no s ens i nar. O us o d as pl ant as me d i ci nais no S e m i á r i d o est á d iss emi nad o ent re as p opu l a ç õ e s lo c ais , em p ar te d e v i d o aos f atores s o c i o econômi cos e, muit as ve z es , p or não p o ssu í rem ass istênci a mé d i c a, ess as p opu l a ç õ e s remetem- s e ao us o d os re c urs os vege t ais na prep araç ão d e s eus remé d i os . A vast a d ive rs i d ad e d e t rad i çõ es a el a ass o ci ad as é ap e nas mais um ref lexo d este i mens o p ote nc i a l, a lém d e uma va li os a fer rament a no e stu d o e exploraç ão d e s eus re c urs os . D es d e 2 0 0 2 , a OM S vem est i mu l and o p es quis as d e v a l i d a ç ão d e pl ant as us ad as há s é c u los , i nclusive as d e or i gem Amer í nd i a. O ut rora mu ito r i c a


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e m pl ant as me dicinais, a C aat inga te ve su a f l ora drast i c amente re duzid a ao l ongo d os ano s, qu e cont r ibuír am p ar a uma intens a e ro s ão ge né t i c a e c u ltur a l de su as pl ant as nat ivas ( G UA RIN NETO, 2006). Ass i m, tor na -s e e v idente a ne cessid ad e d e s e e mpre e nder esforços p ar a v a l or ar as pl ant as e va lor izar o s eu us o t r adiciona l, promove nd o su a cons er v aç ão e aproveit amento a de qu ad o. Pes quis adores do Núcle o d e Bi oprosp e cç ão e C ons er v aç ão d a C aa t i nga /NBIO C a at el ab or ar am um c at á l ogo c om pl ant as me dicinais nat iv as d a C aat i nga e s e us re sp e c t ivos us os, resgat ando o s ab er p opu l ar e ass e g ur ando a c or ret a ident if i c aç ã o t a xonômi c a d as pl ant as ut i l izad as p el as c omun i d a de s t radic ionais. C erc a de 100 d ife rente s e sp é ci e s de pl ant as d a C aat inga fo ram cit a d as p elo s 240 infor mantes. O p o d er me di ci na l d as pl ant as est á s endo comprovad o c i e nt i f i c ame nte. D e s de o ano de 2013, Inst ituto Na ci ona l do S e mi ár i do (INSA/ MCTIC) e a Univers i d a d e Fe d e ra l de Per nambuc o/ UF PE , vem c ons oli d and o o Núcl e o de Biopro sp e c ç ão d a C a at i ng a - NBi oC aat c o ordenado p el a Pro f ª D ra . Márci a Vanus a d a Si lv a, c om o obj et ivo d e promover maior integ r aç ão ent re a a c ad e mi a e as c omunid ades t r adic ionais . Ass i m, bus c amo s ident if ic ar e av a l i ar re c u rs os ge né t i cos d a bio diversid ade do Bi o ma C a at i ng a, au xi l i ando na cons er v aç ão d as e sp é ci e s d o S e mi ár ido br asi l eiro. O Núcle o, c omp osto p or vár ios g r up o s de p es quis a v i nc u l a dos a i nst ituiçõ es br asi l eir as, re a li z a c ol e t as e i de nt i f ic aç ão de pl ant as, s ep ar aç ão d e biomolé c u l as e ens aios de at iv id ades bi ol ó g i c as , qu e i nclui ant ibiót ic a, ant ip ar as it ár i a , ant ibi of i lme, ant iprol ifer at iv a, ant i ox i d ante, i ns e t i cid a, l ar v ic id as, deter rentes c ont ra o mos quito d a dengue, c ont rol e d e e nfe r mi d ad e s i n fe c ios as e toxicol óg ic as, ve te r i nár i as , i mu nomol dur a, fotoprote c tora, ant i -i n f l amatór i a e c ic at r izante. A ini ci a t iv a ve m re su lt ando numa nov a conc ep ç ão a lter nat iva d e cons er v aç ão e us o sustent ável d a C a at i ng a, e m c ont r ap onto à for te supress ã o ve ge t a l a qu a l vem s endo submet ido este Bi oma . Atu a lme nte, 60% do merc ado far ma c ê ut i co mu ndi a l pro duz me dic amento s d e b as e bi ológ i c a , mov iment ando bi l hõ es d e d ól are s . C om o con he cimento s obre as propr i e d ad e s te rap êut ic as d as pl ant as d a C aat i nga s e rá p ossível ger ar rend a e emprego c om a const itu i ç ão de uma c adei a pro dut i-

va a p ar t i r d ess as esp é ci es . O Mi n isté r i o d a S aúd e apres entou há a lguns anos a Pol ít i c a Naci ona l d e Prát i c as Integ rat ivas e C om plement ares ( PN PIC ) no SU S , c uj a i mpl e ment aç ão envolve just i f i c at ivas d e natu re z a p olít i c a, té cn i c a, e conômi c a, s o ci a l e c u ltu ra l. E st a p olít i c a atend e, s obretud o, à ne c e ss i d ad e d e s e con he cer, ap oi ar, i ncor p or ar e i mplement ar exp er i ênci as que j á vê m s e nd o d es envolv i d as na re d e públi c a d e mu ito s mun i cípi os e est ad os , ent re as qu ais d e st a c am- s e aquel as no âmbito d a Fitoter api a . Ampli ar a ofer t a d e f itoterápic o s d er ivad os d a f lora d a C aat i nga, p or i nte r méd i o d e f ar máci as públi c as com man ipu l a ç ã o d e f itoterápi cos , p o d er i a atend er a d e mand a e as ne cess i d ad es lo c ais , resp eit ando a l eg isl aç ão p er t i nente às ne cess i d ad es d o SU S na áre a, a lém d e res gat ar e va lor i z ar o c o n he ci mento t rad i ci ona l e promover a t ro c a d e i n for maçõ es ent re g r up os d e usu ár i o s, d etentores d e con he ci mento t rad i c i ona l, p es quis ad ores , té cn i cos , t rab a l had ore s e m s aúd e e repres ent antes d a c ad ei a pro dut iv a d e pl ant as me d i ci nais e f itoterápi cos . C ompre end er o us o d e pl ant as c om f i ns me d i ci nais p or comun i d ad es p o d e c on t r ibui r com estud os f ar macológ i co s, b e m como p ara a pres er vaç ão d a c u ltur a e d o mei o ambi ent a l at ravés d a e duc aç ão e v a l o r i z aç ão d os s ab eres t rad i ci onais com v ist as à geraç ão d e emprego e rend a.

Referências: FORZZA, R.C. et al. Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2012. Disponível em:< http:// floradobrasil.jbrj.gov.br/2012/>. Acesso em: 10 abr. 2012. GUARIN NETO G. O saber tradicional pantaneiro: as plantas medicinais e a educação ambiental. Revista Eletrônica Mestr. Educação Ambiental, 17: 71-89. 2006. O.M.S - Organização Mundial da Saúde. Classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde. 10. ed. 2013. Disponível em: <http://www.cid10.com. br/> Acesso em: 24 Ago. 2017.

Márcia Vanusa da Silva é professora do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenadora do Núcleo de Bioprospecção da Caatinga- NBioCaat.


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Opinião Eleições em Pernambuco Por Roberto Ramos Santos

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m outubro de 2018, serão eleitos os novos representantes do país para os cargos de presidente da República, governadores de Estado, senadores e deputados federais e estaduais. Sobre o jogo de disputa política que haverá nos estados, para se entender melhor a dinâmica da competição eleitoral, é sempre válido perceber antes quais são as características de cada subsistema partidário. Nesse sentido, chamo a atenção para duas teses que se tornaram dominantes na literatura política sobre Pernambuco. A primeira delas é que as eleições para o governo estadual têm formato bipartidário, e a segunda salienta a clivagem ideológica que marca este pleito. Segundo especialistas como Azevedo (1990), Pandolfi (1984) e Reis (1982), ao contrário de outras unidades da Federação, como São Paulo e Rio Grande do Sul, onde o pluripartidarismo é predominante, Pernambuco é marcado por uma tradição política bipolar, pois suas eleições para o governo estadual ocorrem frequentemente entre dois partidos políticos com reais chances de poder que polarizam o jogo eleitoral. Esse perfil, por sua vez, é também visto marcando um confronto ideológico nítido entre um bloco à esquerda e outro à direita. O confronto bipartidário é apontado como um fenômeno que surgiu em 1945, quando o país ingressou na sua fase de redemocratização. Nesse período, o confronto ocorreu entre o PSD e a UDN, partidos que representavam claramente interesses oligárquicos. Consequentemente, essa variável continuou presente na história pernambucana após o fim do regime militar. Em 1982, a disputa partidária foi polarizada entre PMDB e PDS; em 1986 e 1990, entre PMDB e PFL; em 1994, entre PSB e PFL; em 1998, entre PMDB e PSB; em 2002, entre PMDB e PT; em 2006, entre PFL e PSB (nessa eleição, um terceiro partido, o PT, tornou-se também competitivo, levando a decisão eleitoral para o segundo turno, sendo essa a única eleição do período ocorrida em dois turnos); em 2010, entre PSB e PMDB; e em 2014, entre PSB e PTB. Com relação à clivagem ideológica, segundo Azevedo (1990, p. 2), ela se encontra presente “na competição democrática regional desde o final da década de 50, quando o estado passa por um período político e socialmente agitado com a emergência dos movimentos camponeses e a inclusão, na agenda po-

lítica, da questão desenvolvimentista, nacionalista e reformista”. Nessa fase, que antecede o golpe militar de 1964, Pernambuco viveu um clima de efervescência política com as manifestações das classes trabalhadoras. Além da presença das Ligas Camponesas, que representavam a luta dos foreiros, rendeiros e sitiantes contra os donos de terras canavieiras, ficou notória a participação, na conjuntura política, das associações de moradores com suas reivindicações, de caráter imediato, exigindo dos governantes melhorias nas condições de vida da população, e dos sindicatos urbanos e rurais que incorporaram com bastante intensidade as manifestações e reivindicações trabalhistas. Pernambuco, nesse período, também foi palco de atuação da “Frente do Recife”, um movimento de esquerda que fora capaz de eleger por três vezes consecutivas (1955, 1959 e 1963), em disputas contra as oligarquias locais, o prefeito da capital e, em 1962, o governador do estado, Miguel Arraes (Soares, 1982). A partir desses acontecimentos, principalmente com as sucessivas vitórias alcançadas pela Frente do Recife, cujos alicerces de fundação encontram-se na atuação do movimento operário associado às lutas do Partido Comunista Brasileiro nos anos 1930, ficou entranhada na cultura política pernambucana a ideia de confronto ideológico entre “esquerda” e “direita”, cultivada na época por intelectuais como Barros (1965), Callado (1979) e Cavalcanti (1980). Todos alimentando a imagem de crescimento e fortalecimento das “esquerdas” que se opunham, política e eleitoralmente, aos métodos de cunho clientelístico praticados pela “direita”. Findo o regime militar, apesar das modificações que ocorreram na história política brasileira e de Pernambuco, a ideia do confronto ideológico persistiu, polarizando nas eleições a governador do estado as candidaturas de Marcos Freire e Roberto Magalhães, em 1982, Miguel Arraes e José Múcio, em 1986; Jarbas Vasconcelos e Joaquim Francisco, em 1990; Miguel Arraes e Gustavo Krause, em 1994; Arraes e Jarbas Vasconcelos, em 1998; Humberto Costa e Jarbas Vasconcelos, em 2002; Eduardo Campos e Mendonça Filho, em 2006; Eduardo Campos e Jarbas Vasconcelos, em 2010; e Paulo Câmara e Armando Monteiro Neto, em 2014.


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De modo geral, desde a criação dos partidos nacionais em 1945 até os dias atuais, o formato partidário pernambucano se configura realmente em um quadro caracterizado pela presença eleitoral mais efetiva de apenas duas agremiações, que obrigam as demais nos embates eleitorais a gravitarem em torno delas. Diante disso, vejo que não faz muito sentido opor-se à tese de bipartidarismo apontada pelos analistas. No que se refere à tese de confronto ideológico, considero que essa identificação nem sempre correspondeu aos fatos políticos, embora em campanhas eleitorais geralmente possam existir elementos como o discurso político que identificam a postura ideológica de determinados candidatos. Um reexame do jogo político estadual de Pernambuco mostraria que os campos ideológicos “esquerda x direita” nunca foram tão claros quando se trata de fazer alianças e coligações eleitorais. Do ponto de vista das alianças articuladas pelos candidatos e partidos, não é possível sustentar a ideia de divisão ideológica entre “esquerda” e “direita” no estado, mas, talvez, uma lógica de confronto entre governo e oposição, em que a luta política reside no enfrentamento entre os que controlam a máquina do Estado e os que estão fora do poder, articulando apoio para derrubar o “bloco” dominante. Segundo Sartori (1982, p. 221), o que vai dar equilíbrio e oscilação às forças políticas em disputa dessa natureza é a tática da competição partidária, que transforma os partidos em agências agregativas, “que mantém sua quase igualdade competitiva pela fusão do maior número possível de grupos, interesses e reivindicações”. Pernambuco tem um formato bipartidário porque obedece a essa lógica de competição política marcada pela existência de apenas dois “polos de atração” a despeito da presença de outras agremiações partidárias. Sobre as alianças e coligações eleitorais que enfraquecem a tese de divisão ideológica em Pernambuco, em uma rápida descrição, destaco o apoio do PCB, em 1954, à candidatura do latifundiário João Cleofas, que, em 1948, votou no Congresso pela cassação do Partido Comunista da cena eleitoral brasileira; os acordos realizados pela Frente do Recife com a UDN, em 1958, e com os chefes rurais pessedistas, em 1962; a aliança, em 1982, do candidato das esquerdas, Marcos Freire, com o usineiro Cid Sampaio, que disputou pelo PMDB a vaga de Pernambuco para o Senado; a política de alianças de Miguel Arraes à direita, em 1986, envolvendo parte da burguesia açucareira, liderada por Antônio Farias (PMB), que votou em Paulo Maluf para presidente da República no Colégio Eleitoral, e com ruralistas de famílias tradicionais pernambucanas, como Fernando Bezerra Coelho, com forte poder econômico no Sertão; a continuação, em 1994, da aliança conservadora de

Miguel Arraes com o ex-deputado Nilson Gibson (PMN), que pertenceu aos quadros da Arena, PDS e PMDB e foi, no estado, durante o regime militar, um dos maiores colaboradores do autoritarismo; a União de partidos, em 2010, em torno da reeleição do governador Eduardo Campos na Frente Popular de Pernambuco formada pelo PSB, PCdoB, PT, PTdoB, PDT, PTB, PHS, PTC, PSL, PSC, PSDC, PRP, PR, PRB e PP; e a junção política do PT, em 2006 e 2014, com o industrial Armando Monteiro Neto (PTB), ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe) e da Confederação Nacional das Indústrias (CNI). Em 2016, Armando Monteiro Neto, no Senado, votou em favor da PEC do teto dos gastos públicos, reduzindo investimentos sociais, e, em 2017, pela reforma trabalhista de Michel Temer. A esquerda pernambucana, que, em termos do discurso, sempre se colocou em oposição aberta às oligarquias locais, que historicamente as acusavam de ser, no estado, responsáveis pelos atrasos econômicos e sociais, foi, contudo, capaz de atrelar, por diversos períodos eleitorais, seu projeto político de governo aos interesses de políticos conservadores, de uma burguesia açucareira e industrial e dos velhos setores agrários ainda dominantes na infraestrutura econômica do estado.

Referências: AZEVEDO, Fernando A. A dinâmica política e a competição partidária em Pernambuco, 1945-1989. São Paulo: Idesp, 1990. Mimeografado. BARROS, Adirson de. Ascensão e queda de Miguel Arraes. Rio de Janeiro: Equador, 1965. CALLADO, Antônio. Tempos de Arraes. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. CAVALCANTI, Paulo. O caso eu conto como o caso foi. Recife: Guararapes, 1980. v. 2. PANDOLFI, Dulce. Pernambuco de Agamenon Magalhães. Recife: Massangana, 1984. REIS, Antônio C. Palhares. A realidade eleitoral brasileira. Recife: LTB, 1982. SARTORI, Giovanni. Partidos e sistemas partidários. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. SOARES, José Arlindo. A Frente do Recife e o governo de Arraes: nacionalismo em crise, 1955-1964. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. Roberto Ramos Santos é Doutor em Ciência Política pela USP. Email: roberto.ramos@ufrr.br


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Opinião Viveiros Ecolume Por Francis Lacerda

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s Viveiros Ecolume são uma estratégia para o comprometimento e a proatividade relacionada à adaptação para as mudanças climáticas, em nível de recaatingamento, para as seguranças energética, alimentar e hídrica. Trata-se de espaços educativos que abordam não somente as questões práticas da produção de mudas de espécies nativas e ameaçadas, mas também do alto potencial alimentar e econômico que perpassam questões ecopedagógicas voltadas ao empoderamento e à colaboratividade das soluções sustentáveis. Os Viveiros Ecolume são uma opção à preser vação das fontes de água, energia, alimentos, biodiversidade, solos, enfim, de toda a teia e ciclos de vida correlata. A produção de mudas de espécies perenes tem por objetivo fortalecer a estratégia de adaptação às mudanças climáticas, pois são espécies que proporcionam ser viços ambientais estratégicos: alimentos, recursos hídricos, conforto climático, barreiras eólicas, artesanato indígena, produção de tecidos, construção tradicional, medicamentos, óleos vegetais, recursos de alimentação e proteção da fauna nativa, entre outros. Os impactos das mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global, dentre os quais pode ser exemplificada a aridização (LACERDA et al., 2015) no semiárido do Nordeste do Brasil, bem como o aumento da temperatura e a redução de chuva, que têm provocado inúmeras discussões levando-nos a reflexão quanto ao nosso estilo de vida, frente ao caos anunciado às futuras gerações, impõem-nos pensar que o ser humano é o causador do que está acontecendo. O desmatamento associado às atividades agrícolas e pecuárias, de maneira predatória e antiecológica, tem levado a uma situação que coloca em mira a sobrevivência do ser humano no planeta Terra. Os avanços na produção de alimentos possibilitaram aumento da oferta de produtos e proporcionaram o aumento do consumo, pela humanidade, de mais bens e alimentos, criando um ciclo de consumismo desenfreado. A presença do homem no planeta, no passado, era algo irrelevante e indiscutível, por isso

tudo partia do indivíduo e do seu dever e conduta (JONAS, 2006). Atualmente, essa questão da presença e atuação do ser humano no planeta tornou-se objeto do dever de conser var e preser var o mundo. O progresso humano baseado no crescimento econômico tem sido notável em quase todas as áreas nos últimos 100 anos. Entretanto, surgem dúvidas sobre a continuidade e a extensão deste avanço. O crescimento econômico tem repousado no uso insustentável de recursos não renováveis, na destruição da diversidade biológica e na emissão de gases de efeito estufa que aceleraram as crises ambientais globais, além de ter gerado abismos cada vez maiores entre ricos e pobres (LACERDA e LOPES, 2016/2017). Com o enraizamento da globalização, avistam-se graves problemas ecológicos, econômicos e sociais que exigem repensar os sistemas convencionais de produção e desenvolvimento à luz dos limites impostos pela própria natureza (MARTINE E ALVES, 2015). Além disso, os estudos já denunciam o alto nível de consumo de agrotóxicos no Brasil. Anualmente, desde 2012, o país se encontra na lista dos que mais fazem uso de agrotóxico na agricultura e pecuária. Relatórios denunciam o consumo de 5,4 litros de agrotóxico habitante/ano (ANVISA, 2013, 2015). As políticas públicas atuais têm se mostrado não eficientes e não adequadas às novas realidades pautadas nas alterações climáticas. A educação atual é cosmopolita e tem se distanciado da realidade do campo e, por vezes, completamente ausente nas comunidades mais interioranas, provocando um efeito alienante sem desejo de compromisso e habilidade para tratar os velhos e atuais problemas ambientais, gerando uma economia local sem lastro, sem qualidade de vida, sem geração de trabalho e perpetuando um quadro característico do paradigma da escassez, tão presente nos velhos programas de combate a seca no semiárido do Nordeste brasileiro. Assim, os Viveiros Ecolume são, efetivamente, uma proposta de preservação das fontes de água, energia, alimentos, biodiversidade, solos, enfim, de toda a teia e ciclos de vida correlata.


Revista Eletrônica do Grupo de Pesquisa Jornalismo e Contemporaneidade - PPGCOM/UFPE | 23

A agricultura familiar representa a maior parte da produção de alimentos na América Latina. Somente no Nordeste brasileiro a agricultura familiar inclui 1,5 milhão de estabelecimentos rurais com mais de 16,9 milhões de hectares. Apesar dessa realidade, milhares de pequenos agricultores são responsáveis por um importante fluxo de matérias-primas para alimentos, vestuário, suprimentos médicos e construção, atendendo às necessidades crescentes da população. Também fornece meios de subsistência para pessoas que, de outra forma, não teriam alternativa senão migrar para as cidades. Um conjunto importante de recursos representados pela coleta e preser vação das sementes crioulas, práticas tradicionais de uso da terra e tradições campesinas, em geral, está sob a ameaça de desaparecimento, que implicará em menor resiliência para o enfrentamento das consequências das mudanças climáticas. Um novo paradigma – paradigma da abundância - é necessário e visa a permitir que os agricultores familiares, em regiões semiáridas, usem e conser vem variedades de plantas tradicionais e nativas, levando ao aumento da produtividade e renda agrícola, para uma maior segurança alimentar, energética, hídrica e redução dos impactos adversos ao meio ambiente e do potencial adaptativo às mudanças climáticas. Especial atenção é dada ao papel central das mulheres no processo de salvaguardar a biodiversidade de sementes na região, envolvendo programas de treinamento em gestão colaborativa de bancos comunitários de sementes e aprimoramento das redes de comunicação de agricultores existentes. Tal meta deve ser alcançada por meio da construção dos viveiros de plantas e bancos de sementes crioulas para espécies adaptadas e nativas, que contemplem alimentos, água e energia em face dos desafios impostos pelas mudanças climáticas globais. A implantação dos Viveiros Ecolume completa um conjunto de boas práticas visando ao estabelecimento de critérios de sustentabilidade para o bioma Caatinga. O Viveiro Ecolume é uma ação experimental do projeto “Socioeconomia Verde no Bioma Caatinga frente às Mudanças Climáticas”, financiado pelo CNPq, e visa ao domínio e ao empoderamento das pessoas que habitam o semiárido, almejando a preser vação e a ampliação da biodiversidade do bioma Caatinga. A atividade de gerar mudas nativas e tradicionais adaptadas estimula e educa os agri-

cultores familiares, combinando práticas comprovadas de produção de sementes e mudas, e fortalece as redes de agricultores existentes que trabalham na proteção ambiental. Uma base de dados de sementes de plantas nativas do semiárido com potencial de adaptação às mudanças climáticas para a região semiárida e o tripé água-energia-alimentos são alternativas necessárias para implantação de uma agricultura de baixo carbono. Ressalta-se, nesse contexto, a importância dos bancos de sementes crioulas, extremamente necessários à proteção do patrimônio genético e a biodiversidade da Caatinga, bem como, à manutenção e à independência das comunidades tradicionais. O uso das tecnologias de reuso de água pode ser incorporado de acordo com o contexto local e são altamente relevantes à criação de um sistema à prova de clima para a geração de plantas adaptadas e nativas.

Referências: ANVISA. Agrotóxicos. Disponível em: Acesso em: 17 maio 2018 JONAS, H. O princípio responsabilidade - ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio de Janeiro: PUC, 2006. 353p. LACERDA, F. F.; NOBRE, P.; SOBRAL, M. C.; LOPES, G. M. B.; CHAN, C. S. BRITO, E. Long term climate trends over Nordeste Brazil and Cape Verde. J Earth Science Climate Change 2015, 6:8 http://dx.doi.org/10.4172/2157-7617.1000296 LACERDA, F. F.; LOPES, G. M. B.; E. Descontrole Climático e o irreversível progresso desenvolvimentista. Anais da Academia Pernambucana de Ciência Agronômica, Recife, vols. 13/14, p.77-84, 2016/2017. MARTINE, George; ALVES, José Eustáquio Diniz. Economy, s society and environment in the 21st century: three pillars or trilemma of sustainability?. Rev. bras. estud. popul., São Paulo , v. 32, n. 3, p. 433-460, dez. 2015 . Disponível em http:// www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010230982015000300433&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 17 maio 2018. Epub 13-Nov-2015. http://dx.doi.org/10.1590/ S0102-3098201500000027. Francis Lacerda é graduada e mestre em Meteorologia pelo Departamento de Ciências Atmosféricas (DCA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), doutora em Engenharia Ambiental e Recursos Hídricos pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pesquisadora do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA).


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