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JORNALISMO E CIDADANIA | 14 Comunicação

Jornalismo, Sociedade e Internet

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Por Ana Célia de Sá

na Web

Ciberjornalismo e suas principais características

O jornalismo tem passado por grandes modificações e ajustes desde o surgimento e a consolidação da internet. Sem determinismo tecnológico, a rede e os seus recursos digitais viabilizaram novas formas de produzir e circular notícias. Cita-se também o estímulo a uma relação mais participativa com o público para alcançar audiências ativas, diversificadas e fragmentadas no ciberespaço.

Pavlik (2020) avalia quatro das mais importantes diferenças do ciberjornalismo em comparação ao jornalismo convencional. A primeira delas refere-se ao trabalho prático e aos métodos de produção com impactos na apuração e na apresentação da notícia. No ciberespaço, foram incluídas novas ferramentas e técnicas, como pesquisas e relatórios on-line, tecnologias móveis (smartphones e tablets), drones e sensores em rede (como a Internet das Coisas), além da maior automação da notícia por meio de algoritmos, bancos de dados e inteligência artificial. Tudo isso torna as rotinas produtivas mais velozes e dinâmicas. Ao mesmo tempo, o novo cenário pode diminuir o número de vagas de trabalho, devido à automação, ou associar novas funções à produção noticiosa, como os cientistas de dados.

A segunda diferença diz respeito às mudanças na estrutura, no sistema e na natureza organizacional da indústria da notícia em aspectos econômicos, regulatórios e legais. Na economia, o clássico modelo financeiro do jornalismo, baseado em patrocínio ou publicidade, perde sua estabilidade no ciberespaço devido à disseminação de notícias on-line, à tecnologia móvel e à forma de atuação de gigantes como Google, Facebook e Twitter, que abocanham as receitas de marketing e publicidade em suas próprias plataformas. Já os quesitos de regulação e legalidade encontram desafios relacionados à globalização da difusão noticiosa e do acesso ao público, numa lógica em rede do ciberjornalismo, de modo a aten

Revista Eletrônica do Grupo de Pesquisa Jornalismo e Contemporaneidade - PPGCOM/UFPE | 15 der requisitos de privacidade e proteção de dados não indicam, contudo, uma total ruptura com os de países diferentes (PAVLIK, 2020). princípios do jornalismo tradicional, particular

A terceira diferença analisada por Pavlik (2020) mente, quanto à qualidade do trabalho. O movié a mudança de relacionamento entre mídia e públimento é majoritariamente evolutivo e acompanha co na internet com destaque para as mídias sociais o ritmo da vida em sociedade, sem perder de vista e o jornalismo cidadão. Em geral, os ambientes reo compromisso de informar e estimular processos lacionais conectados, como as plataformas de redes democráticos. sociais, têm encorajado um maior envolvimento dos usuários em relação aos conteúdos jornalísticos, além de incentivar os cidadãos a produzirem seus próprios materiais informativos. Segundo PaReferências: vlik (2020), esta relação mais próxima entre jornalismo e público é oportuna quando os conteúdos FERREIRA, Gil Baptista. Sociologia dos Novos Media. Covilhã: LabCom – Universidade da Beira são legítimos, mas o resultado é oposto quando esInterior, 2018. [e-book]. Disponível em: <http://www. ses produtos são falsos ou promovem a desinformação, prejudicando a democracia e reforçando a crise de confiança pela qual passa o jornalismo. labcom-ifp.ubi.pt/ficheiros/201809251220-201805_ transformacoessociaisnm_gbferreira.pdf>. Acesso em: 26 set. 2018.

Por fim, esse autor explica a quarta diferença: o PAVLIK, John V. Ciberjornalismo: muito mais do surgimento da mídia experimental – plataformas que notícias no formato digital. Tradução de Marcos digitais em que os usuários experimentam virtualmente fenômenos reais ou imaginários – origina formas novas e mais envolventes de construção de conteúdos e de narrativas. Suas formas incluem a rePaulo da Silva. Esferas, Brasília, ano 10, n. 17, p. 18- 26, 2020. Disponível em: <https://portalrevistas.ucb. br/index.php/esf/article/view/11708/6895>. Acesso em: 15 jun. 2020. alidade aumentada e a realidade virtual. A realidade mista e outras plataformas, como os alto-falantes inteligentes, também podem ser incorporadas. No jornalismo, as experiências com reportagens imersivas têm aumentado a compreensão e aproximado o público das histórias. Conteúdos interativos de alto-falantes inteligentes, como Google Home e Amazon Echo, também podem ser usados pelo ciberjornalismo e contribuem para envolver o público de modo intuitivo e agradável, apesar de ressalvas quanto à privacidade e à segurança dos usuários (PAVLIK, 2020).

No ambiente dinâmico e ubíquo do ciberespaço, o jornalismo tem vivenciado novas possibilidades sociais e técnicas. Convergência, multimidialidade, hipertextualidade, difusão multidirecional, instantaneidade, liberdade espaço-temporal e automação são atributos da rede que passam a fazer parte também da rotina jornalística, renovando narrativas, formatos e linguagens. Junto a isso, um relacionamento mais aberto com o público contribui para estimular a colaboração, enriquecer experiências e aumentar o engajamento, especialmente nas redes sociais conectadas.

Para Ferreira (2018), as novas formas de jornalismo têm como palco a internet e a sociedade em rede. “Temos, pois, que considerar todo um novo paradigma de informação e comunicação, que coloca os indivíduos numa situação inédita no que respeita ao acesso à informação mediatizada, com o duplo papel de agentes de produção e de consumo Ana Célia de Sá é jornalista e doutoranda no Programa de mensagens” (FERREIRA, 2018, p. 133). de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade

As mudanças observadas no jornalismo on-line Federal de Pernambuco (PPGCOM-UFPE).

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