Jurema digital 3 2013

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ReVISTA

JUREMA SETEMBRO 2013 Nº 03 | ANO I | PERNAMBUCO

LITERATURA

ARTIGO

TADEU ALENCAR SECRETÁRIO DA CASA CIVIL DE PERNAMBUCO

LEI Debora

Albuquerque

DIREITO DO CONSUMIDOR

ENTREVISTA

HQB Jo Fevereiro

ARTISTA DO TRAÇO JORNAL O PAPA–FIGO

30

“QUASE” anos

ENSAIO

Flora de Lima

MODA, PEOPLE

&ARTS R$ 7,00

HUMOR




Índice

SETEMBRO 2013 Nº 03 | ANO I | PERNAMBUCO

05 CARTA DA EDITORA

08 MODA & ARTE por Luciana Araújo

CAPA: Fotografia: Roberto Portella Modelo: Mirian Suzy (Amazing Model) Veste Flora de Lima Produção: Studio Jurema Styling: Rafael Cietto: Beleza: Gedson Moreno

62 JORNAL O PAPA–FIGO por Luciana Araújo

64

O QUE DIZ A LEI DIREITO DO(A) CONSUMIDOR(A) por Luciana Araújo

68 VIDA EMBALADA PELA MÚSICA por Luciana Araújo

72 22

38

A ARTE MULTIFACETADA DE PLÍNIO PALHANO por Paulo Azevedo Chaves

COMEDORIA POPULAR por Luciana Araújo

42

26

MELK, GENTE & BICHOS

UM ESCRITÓRIO PÚBLICO PARA EMPREENDIMENTOS CRIATIVOS por Roberto Azoubel

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O AMOR SEM PALAVRAS por Tadeu Alencar

48 ROTEIRO DE UM QUADRINISTA por Jo Fevereiro

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MADONNA por Luciana Araújo

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Fotos: Divulgação

PERNAMBUCO NA SELEÇÃO BRASILEIRA por Allan Reinhard

A MODA SUSTENTAVEL DE GUSTAVO SILVESTRE por Adhemar Juan

32 CRUSTACEUS DUO por Jorge Ferraz Modesto

74 40 ANOS SEM BRUCE LEE

58

6

UM TOQUE FEMININO NO AUTOMÓVEL Por Tarcisio Dias

78 CENTRO DO RECIFE

16 SOLVI STRIFELDT

JUREMA

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INSENSIBILIDADES por Fernando Portela


“O belo artístico é sempre superior ao belo

natural, sendo ele uma produção do espírito, e o espírito “sendo superior a natureza, sua superioridade se comunica igualmente aos seus produtos, e por consequência, à arte”

CARTA DA EDITORA

A

—hegel

revista jurema, na intenção de partilhar saberes e manter a qualidade na formatação visual, em sua 3ª edição, opta mais uma vez pela atualidade dos assuntos contidos em seus artigos, suas entrevistas e colunas, não somente reafirmando o princípio da diversidade cultural pernambucana, mas, sobretudo, proporcionando múltiplos olhares sobre o belo. Nesse sentido, a presente edição segue tradicionalmente a intenção em contemplar diferentes assuntos, estabelecendo quando possível, o salutar diálogo entre Moda, Arte, Literatura e Gente. No Editorial de Moda, as formas artísticas, na medida em que forem decifradas, dão ao espírito a consciência de si próprio. Essas relações se apresentam de três formas: na arte simbólica, na arte clássica e na arte romântica. No universo da Literatura, abordamos temas que começa com Economia Criativa e passeia pela Comedoria Popular, Defesa do Consumidor, Quadrinhos, Música, Carro e Arte, muita arte! Ainda nessa edição, a revista apresenta um excelente artigo sobre a história do futebol espetáculo e a elaboração da identidade brasileira na escolha dos seus personagens; posicionado o debate sobre o sentimento de pertencimento de um povo numa instância dialógica, capaz de problematizar aspectos variados da nação e sua construção cultural. Finalmente, esperamos contribuir para o registro e a divulgação dos saberes artísticos e culturais, lembrando aos leitores, colaboradores e demais parceiros que a revista JUREMA, está sempre aberta a colaborações, desde que pautadas pelo compromisso da literatura e da arte.  Luciana Araújo

“O BELO, A BELEZA E A ARTE...”

Luciana Araújo

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REVISTA

JUREMA DIREÇÃO E COORDENAÇÃO EDITORIAL Luciana Araújo JORNALISTA RESPONSÁVEL Paulo Azevedo Chaves DIRETORA DE COMUNICAÇÃO/MARKETING Maria Beatriz Portugal Vidal PROJETO GRÁFICO & DIREÇÃO DE ARTE Roberto Portella REVISÃO Affonso Rique COLUNISTAS Tadeu Alencar, Fernando Portela, Sovi Strifield, Tarcisio Dias e Roberto Azoubel COLABORADORES DA EDIÇÃO FOTOGRAFIA: Studio Jurema, Solvi Strifeldt e Roberto Portella TEXTO: Luciana Araújo, Adhemar Juan, Allan Reinhard e Jorge Ferraz Modesto PRODUÇÃO DE MODA: Studio Jurema CORRESPONDÊNCIA CEL — Casa dos Escritores, Livros e Editora LTDA. CNPJ. 13.044.894/0001–63 Av. Gov. Agamenon de Magalhães, 90 — Apto 19 — Espinheiro — Recife/PE – CEP 52021–170 CONTATO–PE revistajurema@gmail.com (81) 3127 2968 / 9686 9299 Impressão: Gráfica CCS Tiragem 3.000 exemplares

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A revista JUREMA é uma publicação trimestral da Editora CEL Os textos e artigos assinados não refletem necessáriamente a opinião da revista JUREMA. É proibida a reprodução de textos e fotos sem autorização expressa.

JUREMA


JUREMA,

a árvore sagrada

S

egundo Mário de Andrade, no século XVII, em Portugal, os feiticeiros curadores eram chamados de mestres. Nas cerimônias da jurema, também se denomina mestre o dirigente de uma sessão. Os mestres vivos incorporam os mestres mortos que habitam as cidades sagradas da jurema, ligando esses dois mundos por meio do transe. Os mestres seriam espíritos curadores que, em vida, conheceram os segredos das plantas curativas e que são convocados para trabalharem em uma sessão, a fim de aliviar os sofrimentos humanos. Cada um tem uma linha, que é representada pelo cântico entoado pelo dirigente da sessão e que precede sua visita a terra. O canto é uníssono e acompanhado pelo maracá. A linha resume a ação sobrenatural, as excelências do poder e a sua especialidade técnica. Com fisionomia própria, gestos, voz, manias, predileções, cada mestre narra as suas aventuras, conta o seu nome e a sua vida. Ele possui a semente, o sinal de sua legitimidade e autenticidade, eficácia e poder sobrenatural. Uma outra explicação mitológica apresenta uma visão cristã quanto às origens do culto ao afirmar que, antes do nascimento de Deus, a jurema era tida como uma árvore comum, mas, quando a virgem, fugindo de Herodes, no seu êxodo para o Egito, escondeu o menino Jesus num pé de jurema, que fez com que os soldados romanos não o vissem, imediatamente, a árvore encheu–se de poderes sagrados, justificando, assim, que a força da jurema não é material, mas espiritual, dos espíritos que passaram a habitá–la. A prática da jurema continua vivenciando processos de reelaborações, adquirindo outros elementos simbólicos, como na fase atual da umbandização do culto, o que significa, nessa dinâmica, a sua permanência enquanto expressão de grupos sociais subalternos. Mais que isso, no plano ritualístico significa resistência aos modelos de opressão socioeconômica, contribuindo em última instância para a manutenção de um referencial étnico e identitário, sejam nas comunidades indígenas ou nas religiões afro–brasileiras. 


Ensaio

MODA &ARTE

FLORA DE LIMA

Flora de Lima

D

Por Luciana Araújo

écada de oitenta, final dos anos setenta, explosão do pronto para vestir. A moda da roupa comprada de fábricas brasileiras e não mais feita por costureiras e copiadas de figurinos vindos da Europa. Já na década de sessenta, sob a influência dos beatniks, roupa tinha passado a ser instrumento de expressão e rebeldia. Começaria aí um movimento que diferentemente da alta costura, seria absorvido pelas classes jovens e de poder aquisitivo médio. Nessa época não havia aqui no Brasil escolas de moda e muitas pessoas começaram de forma autodidata, visando dar os primeiros passos para a formação do que hoje conhecemos como moda. Nesse período, Flora de Lima volta seu olhar para o setor e descobre então sua vocação, seu dom, sua arte. Começando com lojas onde vendia multimarcas, foi aí também o caminho que encontrou para por meio da observação e sua habilidade a fazer escolhas, determinar o publico alvo do seu trabalho. Do contato com peças de criadores do eixo Rio/São Paulo, ela começa a entender de modelagem e montagem industrial. O passo seguinte naturalmente seria a criação de sua “Conhecimento retido é própria marca. Nasce então a Beautiful People. conhecimento inútil”, e, A princípio comercializada nas lojas, logo se expande para outros estados numa trajetória de sucesso. pela evolução natural A esta altura, Flora começa a fazer pesquisas fora do país e a abrir showroom em outros da vida, este será estados como São Paulo, Minas e Rio de Janeiro, para onde eram enviadas as coleções. A partir daí, novos pontos de venda foram surgindo no Brasil. provavelmente seu Isto teve como consequência o aumento de funcionários e ampliação da fábrica, que nessa próximo passo” época funcionava na Av. Mal Mascarenhas de Morais, na Imbiribeira, chegando a ter 70 costureiras todas treinadas e capacitadas por Flora. Também como resultado da demanda excessiva, foi necessário um alto investimento por parte da marca. Depois de anos no mercado, mesmo com toda sorte de turbulências que o país passou e passa, Flora de Lima consegue manter intacto o princípio do que foi o caminho escolhido lá atrás: fazer de suas 10 peças verdadeiras obras de arte, pois antes de tudo pulsa em seu sangue a arte. Foi sempre vendo dessa forma que criou, nunca se deixando levar por modismo nem tendências, mas fazendo uma roupa atemporal e tendo como meta a atemporalidade do que fazia. Hoje, seu acervo em termos de conhecimento é o ponto de equilíbrio do que faz. Seu conhecimento veio através da experiência do fazer com as próprias mãos, do exaustivo trabalho de laboratório e do acompanhamento de todos os processos da criação até chegar ao consumidor final. Flora tem o chamado conhecimento de primeira mão, pois nunca se deixou levar por experiências alheias, sabe por que vivenciou, viu, viveu e atestou. Com a falta de profissionais com que vive a moda atualmente, sua experiência é certamente de grande valia para nova geração dos que pretendem se dedicar ao setor. É chegado o momento em que o conhecimento tem que ser passado, pois muito se perderia se assim não o fosse. 

JUREMA



Conceitual

ACERVO MODA PEOPLE & ARTS

Flora  de Lima O editorial com o acervo da Moda People & Arts, ganhou um olhar futurista do fotográfo e image maker Roberto Portella, ambientando as imagens em cenários de maquinário futurístico em tons de cinza. “Simplicidade é a chave da verdadeira elegância”, proclamou Flora. Liberando o básico do seu acervo e pedindo a não interferência de outras marcas e acessórios nas composições do styling. “Quero que criem no mais discreto possível”, finalizou a estilista.



Modelos: Isadora Vilarim (EP Models) Veste Flora de Lima Coordenação de Produção: Studio Jurema Styling: Rafael Cietto Beleza: Gedson Moreno


Rua Novo Horizonte, N° 63, Areias | Cep: 50.780 — 310 www.epmodelsagency.com.br | info@epmodelsagency.com.br

+55 81 3455 5810


TADEU ALENCAR é Procurador da Fazenda Nacional e Secretário da Casa Civil. tadeualencar2010@gmail.com

A r ti g o

O AMOR SEM PALAVRAS

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bom o calor das multidões. Nas romarias de Juazeiro gostava de serpentear entre os nordestinos de chapéu de palha, que acorriam à meca de desassistidos e aventureiros em busca de um milagre. Menino curto gostava de ver os tipos, pois sempre entendi que as savanas são savanas porque existem os leões e as zebras. Não apenas porque são bonita paisagem. Homens de rosto curtido de sol, marcados pelos anos de estio, a barba hirta, olhos transidos de uma fé impotente. Roupas de algodão e de brim, alpercatas de couro curtido, como se o homem não fosse mais que um mero produto do seu meio. Também se viam muitas mulheres, austeras, mas sempre em bando, cobertas de pano, feito batinas femininas, como na Judéia, o lenço na cabeça vindo até o meio da testa, escondendo a metade das orelhas. Olhava em torno, os olhos batendo no umbigo das pessoas e pensava que o mundo era aquela coleção de pernas de todas as cores e suas mãos crestadas. Juazeiro era uma espécie de promessa para muitos, desde o tempo em que o Levita, com uma rara habilidade para extasiar multidões, pregava da janela de casa — privado que fora do púlpito —, para legiões de sertanejos que lhe acorriam, ávidos por uma bênção, qualquer bênção, nem que fosse tocar os panos sacrílegos de Maria de Araújo. Como não havia hotéis populares, as famílias alugavam suas casas aos romeiros. Era uma festa para o meu espanto de menino, ver aconfusão ordenada, aquela profusão de sacolas, toalhas penduradas nos punhos das redes, comida feita em caldeirões, redes em cima dos paus–de–arara, embaixo deles, por toda a parte. Quando raiava a madrugada ouvia–se o crepitar do fogo sobre as pedras frias do quintal. Com as horas, iam os romeiros girando a conta do rosário, a tagarelar nas feiras, em busca de quinquilharias, de modelos de terço, imagens de santos, utensílios de flandres e barracas de comida. Para os olhos do menino de curiosidade infinita, aquela mistura de sotaques, de harmônicos dialetos, aquela entrega ao momento e a uma crença difusaem um mito escondido, fazia–me pensar que a vida se passa do mesmo jeito, em toda parte. Os comerciantes, babando de ganância, onerando as tabuletas, explorando a sede e a fome dos penitentes forasteiros, chegando ao cúmulo de vender–lhes água. Os vivaldinos, prontos a exercitar os seus finos bigodes contra a honra e a economia populares. Os crédulos, dando alpiste à esperança. Uns, por fé mesmo, por não suportar o escuro, as névoas da grande pergunta. Outros, esperançosos, por sentirem que o amor existe e é universal. O amor é a conta de todas as coisas. Assim também ocorrera com as procissões, em dias de fervor religioso; gostava de ver as beatas passarem, contritas, velas e terço na mão, cantando benditos, críveis, por quanto é sagrado, que pagavam a prestação de diminuto lote no céu. Em uma das procissões, lembro que era domingo e que por cima da multidão a santa balançava no andor, com um ar piedoso e uma ponta de medo. Subi o nível dos olhos para o céu à minha frente. O azul do céu era um azul desmaiado, celeste, levemente escandaloso, um azul que dormiu e que, desperto, tem prazer em ver decorrer o dia e a vida seguir o seu curso inexorável. Enquanto passa a procissão, vejo crescer o meu corpo e meus pensamentos. Olho fixo como quem despe a coisa que se vê e vejo que a tarde cai e verte um cicio irresoluto. Gosto das multidões porque elas se falam sem palavras, feito os amantes que se amam mesmo quando lhes cortam a língua. A multidão é o amor sem palavras.

JUREMA


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SOLVI STRIFELDT é Visagist / Make-Up / artista da Noruega Artista premiada. Sua clientela é formada de pessoas famosas na Noruega e no exterior, trabalha com maquiagem em vídeos, musicais, comerciais, produção de televisão e fotografia de moda. Tabalhou com: Shontelle, Omer Bhatti, Bring Me the Horizon, Ms. Lauryn Hill, Kris Dewitte e Per Heimly. (+47) 45 23 16 70. strifeldt@ gmail.com http:www.strifeldt.daportfolio.com

Vis a g ista

OLVI STRIFELDT Fotos/Make Up Solvi Strifeldt

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JUREMA


Solvi Strifeldt MAKE UP

Está na moda usar creme maquiagem em qualquer temporada. Pode–se usar tudo, até corretivo de batom para um tom diferente de sua pele. Você pode trabalhar com cores claras ou escuras. Com relação ao rouge, para quem tem uma pele clara pode ser bom para mantê–la leve. As cores estão na moda neste verão amarelo. Azul brilhante, vários tons frios e quentes de tons verdes, marrons e vermelhos. Sobrancelhas devem ser naturais, e muitas vezes mais brilhantes, ampla e ser muito mais reta.


HAIR

O cabelo foi inspirado em tribos africanas, feito como “scalpe braids”, uma jóia para o resto do cabelo, e trabalhado com formas arredondadas. A cor adicionada torna o cabelo mais atual, o que poderá ser visto na passarela, temos a cor “dip dye. Foi usado um pouco de spray nas extremidades para obter uma sensação de mais frieza no visual final, a intensão era dar uma sensação de mistério. Produtos de mousse para volume, cera e uma grande quantidade de spray de cabelo para obter a consistência correta, desordenada na parte de trás para as formas arredondadas, e para as tranças terem um visual clean e perfeita e dar uma sensação um pouco mais brilhante do que o resto do cabelo. “Estou ansiosa para ver alguns dos leitores de meu trabalho de Jurema usando as sugestões.”




Modelos: Elizabeth Normann @ STARLET (fotos 1, 2) Berit Einemo Frøysland @ Pholk (fotos 3, 4, 5) Cabeleireiro: Jens J Wiker @Tony & Guy Styling: Maria Klem Assistentes: Ada Linnea Karlsen, Alva Larenas


Personagem

PLÍNIO PALHANO

A ARTE

MULTIFACETADA

DE

P

LÍNIO

ALHANO

Artista Plínio Palhano

Por Paulo Azevedo Chaves

Foto:Daniela Nader

“Por isso a lição de Plínio Palhano em todas as séries que ele já pintou — inclusive nesta em que usou o couro em vez do pincel — é demonstrar que a pintura não é só figuração ou abstração, mas principalmente o domínio da cor que, envolvendo os céus e a terra, remete continuamente para a memória da luz”. ( Ângelo Monteiro, poeta e ensaísta, junho de 2009)

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Série Nus

JUREMA


Fotos:Paulo Fonseca

Série Mare Nostrum

A

lguns artistas transmitem em suas obras uniformidade estilística e temática, mostrando–se centrados numa determinada visão do mundo a par de um estilo que evolui sem se diversificar. Veja–se, por exemplo, aqui mesmo em Pernambuco, Montez Magno, com uma pintura geométrico–abstrata que mantém uma coerente visualidade dentro da multiplicidade de informações que alimentam sua produção artística. Embora ao longo de sua carreira de cerca de 40 anos ele tenha feito desenhos, aquarelas, cerâmica, é como pintor que Palhano marca mais fortemente sua presença no cenário local. Um artista também marcantemente figurativo, apesar de um breve namoro com o abstracionismo na recente série MEMÓRIAS DA PELE. “O que une todos os trabalhos é a luz. Cada série tem uma abordagem diferente. Como um escritor que escreve um livro de contos e cada conto tem uma abordagem. É assim que comparo. Sou muito inquieto e impaciente e não conseguiria pintar sempre as mesmas coisas”. O depoimento é dele próprio no catálogo de uma recente retrospectiva no Centro Cultural Correios, no Recife. Neste sentido ele é a antítese de Montez Magno, com sua pintura cerebral e erudita. Palhano, ao contrário, é quase sempre pura emoção, numa gestualidade às vezes compulsiva que se traduz em traços fortes e passagens ricas em matéria dos pincéis e espátula. Já nos anos 70, ele pintou uma série de nus

Série Partes de Corpo Animal

femininos, com anatomias delineadas em traços fortes, poucas variações de cores: mais uma homenagem ao universo feminino do que ambição de reproduzir a aparência real do corpo da mulher em suas linhas, volumes, detalhes anatômicos. Na série PARTES DO CORPO ANIMAL o expressionismo renovado do artista encontra no tema — animais esquartejados e suas vísceras — um feliz encontro com a pintura de Chaim Soutine, que também pintou vários quadros tendo como assunto carcaças de animais e com predomínio dos vermelhos, assim como acontece em PARTES DO CORPO ANIMAL. Soutine chegou a horrorizar seus vizinhos mantendo em seu estúdio uma carcaça de animal para melhor estudá–la. Plinio Palhano não chegou a tanto: apenas visitou um matadouro para melhor captar a natureza das carnes retalhadas suspensas por ganchos no local. Essas pinturas têm predomínio de tons terra e vermelhos e lhe valeram um prêmio no Salão Nacional de Montes Claros, em Minas Gerais, na década de 80. Muitos artistas usam/usaram o peixe — ser de nossa fauna aquática e também elemento simbólico e arquetípico — em suas pinturas, desenhos, gravuras, esculturas e cerâmica. Na obra plástica do artista Aldemir Martins, por exemplo, o peixe é um tema recorrente, porém transmudado nas formas e cores de seu estilo e linguagem pictórica característicos. Diferentemente, Plinio Palhano o pinta respeitando sua anatomia natural, seja isoladamente ou agrupados nas composições. A Série MARE NOSTRUM teve o peixe como assunto exclusivo. Com curadoria do crítico Raul Córdula, as trinta e oito pinturas em tinta


Foto:Paulo Fonseca

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acrílica sobre tela e algumas cerâmicas foram expostas no Centro Cultural Correios, no Bairro do Recife, em 2010. Já a série FLORES DE FOGO foi realizada por Plinio Palhano em 1985 e os painéis, pintados em tinta acrílica, foram exibidos no Palácio dos Governadores, sede da Prefeitura de Olinda. O título não importa muito na verdade. Caso o artista tivesse batizado o conjunto de telas de ANJOS DE FOGO, por exemplo, o título também teria sido perfeitamente condizente com essas composições multicoloridas e vibrantes de um mundo incendiado de fogo e paixão em que figuras aladas as vezes se insinuam, dançantes e etéreas, num cenário de luz e caos. Seja como for, FLORES DE FOGO foi uma etapa importante na evolução da pintura Série Flores de Fogo de Plinio Palhano. Com efeito, nela ele abandona a representação da realidade Foto:Raul Kawamura concreta das séries NUS, PARTES DO CORPO ANIMAL, MARE NOSTRUM, para mergulhar na pura criação mental, temperada pela emoção e delírio de formas e cores. Afinal, segundo a frase de Leonardo da Vinci tantas vezes repetida ao longo dos séculos e gerações, “A pintura é coisa mental”. Mas a meu ver, a série mais instigante e criativamente marcante de Plínio Palhano é a de pinturas sob o título genérico de MEMÓRIAS DA PELE. Nessas pinturas ele se desvincula de vez de qualquer reprodução explícita da realidade concreta e mergulha na abstração. A pintura é então matéria, forma, cor e traz signos e sinais como Série Memórias da Pele referências presentes ou arcaicas à vida humana. Ou seja, a “pele” ou superfície de rochas, cimento, argila, metais ou edificações — onde quer que seja possível ao indivíduo como Série assunto figuras de gente ou animais, além de deixar o rastro e marcas de sua passagem pelos roteiros paisagens urbanas ou naturais. humanos. E explica o crítico Raul Córdula no catálogo da Plinio Palhano se inscreve na linha de frente da melhor exposição, montada no Museu do Estado de Pernambuco, arte praticada hoje em Pernambuco, sobretudo no âmbito em 2009: “São manifestações rupestres, as mesmas que da pintura, onde se movimenta à vontade entre diferentes nossos ancestrais pré-históricos faziam para se comunica- temas e enfoques. Às vezes ele é um enamorado do mundo rem, como a carimbada da mão melada de sangue sobre a à sua volta, que capta em retalhos da realidade circundante; parede rochosa da caverna ou o bisão pintado com carvão noutras, mergulha fundo em suas visões , emoções, angúse ocre”. Essas pinturas, densas em significado, registram tias, quando se sente, talvez, como o próprio Dante, que a memória do que foi visto, lido e vivido ao longo da escreve em A DIVINA COMÉDIA: “Para onde quer que trajetória existencial de Plínio Palhano. Um acervo pessoal eu voe é o Inferno; eu sou o Inferno”. Ou seja, um artista de conhecimentos teóricos e impressões visuais que sina- múltiplo que faz dessa multiplicidade e diversificação crializam um artista inquieto que não desdenha se expressar tiva sua força e sua presença afirmativa entre os melhores também, vez por outra, em convencionais pinturas tendo de nossa arte atual.

JUREMA



ROBERTO AZOUBEL é antropólogo/pesquisador e atualmente trabalha como assessor técnico da Representação Regional Nordeste do Ministério da Cultura (RRNE/MinC).

Eco n o m ia C r iati va

Um escritório público para

EMPREENDIMENTOS

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CRIATIVOS

ocê já imaginou um escritório na sua cidade onde estivessem disponibilizadas informações acerca das oportunidades de formação e fomento voltados para os setores artístico–culturais? Um local que oferecesse capacitação em gestão e em áreas técnicas relacionadas às cadeias produtivas dos setores criativos? Que proporcionasse fácil acesso às fontes de financiamento para profissionais e empreendimentos ligados a esses setores? Um cantinho em que se realizassem trocas de experiências e se desenvolvessem novos modelos de negócios e tecnologias sociais entre empreendimentos criativos? E se tudo isso fosse disponível de forma gratuita à população, você acreditaria? Pois bem, a ideia é justamente essa! E ela existe e tem nome: Criativa Birô. Iniciativa da Secretaria de Economia Criativa do Ministério da Cultura (SEC–MinC), o Criativa, de acordo com a definição desse próprio órgão, será um escritório público de atendimento e suporte a profissionais e empreendedores que atuam nos setores criativos brasileiros, por meio da oferta de informação, capacitação, consultorias e assessorias técnicas, entre outros serviços voltados para a qualificação da gestão de projetos, produtos e negócios de micro e pequenos empreendimentos criativos. Estão previstos inicialmente a implantação de 13 Criativas Birôs, distribuídos nas cinco regiões do Brasil, contemplando doze estados (Acre, Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Paraná, Pará e Pernambuco) e o Distrito Federal. Todos eles serão criados em convênios com os governos estaduais e terão a contribuição de parceiros públicos e privados, tais como o sistema “S” (SEBRAE/SENAC/SESC/SENAI/SESI), o Sistema Nacional de Empregos (SINE) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), prefeituras, entre outros. Sobre a estrutura básica dos CBs, o MinC propõe aos estados conveniados a instalação dos escritórios dentro de equipamentos culturais próprios do governos estaduais (preferencialmente), onde ofereçam espaços que poderão ser utilizados para a realização das atividades previstas (auditório, salas multiuso, estações para acesso à internet etc.), atraindo assim um fluxo natural e contínuo de profissionais criativos. O tamanho de cada escritório não será padronizado, mas deverá contar com uma área suficiente para o desenvolvimento das ações da iniciativa. A estrutura mínima proposta pede a disponibilização de uma área em boas condições de uso, que envolva baixo custo de adequação (reforma) e que garanta a seguinte estrutura de funcionamento: — Área com balcão de informações para atendimento do público em geral; — Sala(s) para as coordenações técnicas e apoio administrativo; — Sala(s) para atendimento individualizado (consultorias e assessorias); — Sala(s) ou salão multiuso para reuniões, cursos etc; — Banheiros (masculino e feminino); — Área com computadores com acesso à internet disponível ao público; — Área de convivência/café (opcional). No que se refere aos equipamentos e mobiliários necessários, o MinC sugere também um mínimo que garantirá o desenvolvimento das atividades dos escritórios, tais como computadores com acesso a internet e impressão, telefones (fixo e móvel), data show, equipamento de som e vídeo, mesas, cadeiras, armários, sofás etc. Os planos de trabalho dos Criativas Birôs serão construídos singularmente (e com autonomia) por cada estado parceiro e deverão conter a descrição de todas as etapas do processo de implantação, incluindo os processos de aquisição de equipamentos e mobiliário, de contratação da equipe e da oferta de serviços. E então criativas, gostaram da ideia? 

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2º FESTival nacional do livr LIVRO, LEITURA E LITERATURA “VOCÊ TEM FOME DE QUE?” seg ur an ça

CENTRO DE CONVENÇÕES (OLINDA–PE)

al im en li t ta er at r

u r

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e d a d ili

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dezembro

2013

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Filosofia de Vida

Madonna MADONNA (MORADORA DE RUA)

“Minha casa, minha vida é outra história!”

Por Luciana Araújo Fotografias Roberto Portella


“Foi o tempo em que os diferentes eram trancados nos hospícios”

O

ser humano possui capacidade de adaptar–se a qualquer ambiente e com os moradores de rua não acontece diferente. Adequam–se a qualquer lugar sem o menor conforto e higiene, possuem a capacidade biológica de resistir a doenças, a fome, ao frio e a muitas outras adversidades. Na realidade, nem todos que dormem nas ruas são moradores de rua; a maioria tem casa, família ou algum tipo de vínculo com parentes ou conhecidos, alguns casos até possuem fontes de renda. logo a pobreza e falta de moradia não são as principais causas do problema. A Rua da Moeda, no Bairro do Recife é um lugar onde podemos encontrar muitas pessoas dormindo durante a noite. No entanto, nem todos são moradores de rua, a maioria tem casa e família, como é o caso de “Madonna” nome artístico de Priscila. Cabelos curtos, ótima contadora de histórias e corajosa,

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Madonna não teme a nada, e enfrenta até “visagem” segundo ela, que anda de um lado pra outro, cercada de cachorros. Seu nome completo não quis falar (não gosta de falar sobre sua vida), tem aproximadamente 50 anos. Segundo informações de frequentadores da Rua da Moeda, fala–se que ela tem família e que foi adotada, mas, só veio a descobrir em idade adulta, provocando revolta e daí resolveu sair e viver nas ruas. — Foi tempo em que os diferentes eram trancados nos hospícios, “para o bem deles”. Foi–se o tempo da camisa de força. Hoje ela pode decidir. Que irônico ver Madonna dizendo que queria ir embora, “tava bom de fotos,” e que eu era feia por ficar fazendo perguntas que ela não queria responder; contrariando todo o tom da matéria que planejei fazer. Queria contar uma história que emocionasse pela situação em si. Mas como contar uma história que é triste aos olhos quando na verdade não passa de uma decisão pessoal e intransponível, ela prefere ficar na rua, no momento. A ordem, para Madonna, é outra. O normal não existe. Ele desmente o nosso paradigma do que é normal. Por que morar na rua é contra a ordem? Por que é contra as normas sociais? Será que os políticos que inventaram o choque de ordem já se perguntaram isso? Se você for a Índia, verá pessoas que fizeram a opção pela pobreza, pela rua, numa caminhada de libertação de um mundo ordinário, tão ordenado quanto bárbaro. Um elefante andando pela rua não seria estranho lá. É falsa a nossa ilusão de civilização, de ordem, de normalidade. Foi contra isso que o Legião Urbana cantou em tantas canções: é tudo isso em vão. E é isso que denunciam todos os artistas, poetas, profetas e loucos de todos os tempos. A normalidade do mundo é uma falsidade. Pobre da matéria que não entende nada. Confundiu–se e confundiu tudo, invertendo o sentido da poesia. E pobres de nós que não sabemos incluir. Continuamos no paradigma da normalidade, nós, normóticos, na tentativa desesperada de dar sentido a um mundo que não tem um sentido dogmático como querem os totalitaristas de todo espectro político. Viva aos poetas, loucos, profetas, artistas de todos os tempos. Não são eles que precisam de tratamento. Nem de cruzes, venenos ou fogueiras. Precisamos de um mundo novo. 

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Editorial

DE QUE SERVEM SUAS GARRAS, SE NÃO ME AGARRAS?

CRUSTACEUS

Duo Fotografias Roberto Portella

Textos Jorge Ferraz Modesto

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Rispidez de carinho cativante Roçando–me selvagem, em descoberta De seus trincados dentes — gozo adiante! Esqueço–me à vida, errada ou certa.

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Ardendo–me em pleno pelo e polvo, Sigo assim, mole, mas aceso... Em chamas! Nos ais todos viscosos, mexo e morro Abraço pernas, braços...



Que invada–me o seu sabor insano Destroce o juízo, torça a mente Até que luzes e frescor de abano Toque–nos a alma, leve tenuamente.


Penetra–me assim, que só me encanta Calando por milênio, este tesão Percorre coração, torna–o víscera Do amor que invade e vira paixão.

Modelo: Amanda Nascimento (EP Models) Coordenação de Produção: Studio Jurema Styling: Rafael Cietto Beleza: Diógenes Coelho


Arte/Imagem: Studio Jurema

Rua da Moeda, 88 — Recife Antigo | Cep 50030–040 | Recife–Pe | Brasil — +55 (81) 7338 0000


ANA CLAÚDIA FRAZÃO

P O A I P R O

AR UL

COMED

GASTRONOMIA

A Por Luciana Araújo

gastronomia é referencial no registro histórico–cultural das cidades em todas as partes do mundo. As feiras e mercados públicos são ambientes que se entrecruzam dentro desse processo cultural. A partir de uma pesquisa gastronômica Ana Claudia Frazão, apresenta ‘Comedoria Popular — receitas, feiras e mercados do Recife’. Com 55 receitas preparadas e fotografadas especialmente para o livro, Ana Claudia emprega um refinamento estético, tornando as preparações ainda mais atrativas. A obra contempla além de uma escala cromática nutricional, dicas, curiosidades históricas, ilustrações e registros fotográficos. O Recife que hoje desponta entre os maiores pólos gastronômicos do país foi escolhido como primeiro laboratório, especificamente por seus emblemáticos e pitorescos mercados públicos e feiras livres, para o surgimento do primeiro volume de um projeto que pretende se desdobrar. 

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Livro — Comedoria Popular Autora — Ana Claudia Frazão

REVISTA JUREMA: Como e quando começou sua paixão pela gastronomia? ANA CLÁUDIA FRAZÃO: faz parte do meu DNA familiar, contempla toda minha história de vida, a decisão veio como decorrência. RJ: Porque Comedoria Popular? ACF: Comedoria é uma palavra retirada de um antigo dicionário de português em desuso e o Popular, refere-se ao acesso, divulgação e popularização da cultura. RJ: Quais são suas referências na cozinha? ACF: Minhas tias avós, família materna. RJ: Qual o melhor prato já degustado? ACF: O que mantém os sabores em padrão. RJ: E o melhor que você já fez? ACF: Particularmente gosto trabalhar com frutos do mar, mas sarapatel é uma especialidade. RJ: Rupturas ou tradição na cozinha? ACF: Rupturas criativas e tradições protegidas. RJ: O que não pode faltar em uma cozinha? ACF: Boas panelas e facas. RJ: E na sua geladeira? ACF: Manteiga. RJ: A cena gastronômica em PE tem crescido muito, já figuramos entre os melhores do Brasil? ACF: Quantitativamente sim, qualitativamente estamos avançando. RJ: Quando a cozinha se torna um ambiente chato e estressante? ACF: Quando a competitividade e egos superam o espírito coletivo. RJ: O que a emociona na cozinha? ACF: A atmosfera laboratorial. RJ: E o que a decepciona? ACF: Cozinhas povoadas por indivíduos de baixa qualificação. RJ: O que Ana Cláudia Frazão não come de jeito nenhum? ACF: Qualquer comida que não obedeça às boas práticas de manipulação e higiene. RJ: Muita gente, quando pensa em trocar de carreira e em começar uma nova vida vai direto pra cozinha. Qual conselho você daria a elas? ACF: Uma reflexão mais apurada e compreesão das práticas culinárias e gastrônomicas. RJ: Como surgem as ideias dos seus novos pratos? ACF: Não costumo lançar novos pratos, os novos sabores ficam consignados ao ambiente privado entre amigos ou através de pesquisas quando se destinam a uma consultoria específica para assinatura de cardápio. 

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RECEITA CASQUINHO DE CARANGUEJO Modo de preparo

Em uma panela aquecida, disponha o azeite, o colorífico e refogue a cebola, o alho, o pimentão e o tomate, acrescente a carne de caranguejo (limpa). Em seguida, junte o leite de coco e a pimenta–do–reino, corrija o sal. Corte finamente as azeitonas a pimenta–dedo–de–­moça, o coentro e a cebolinha, acrescente ao preparo. Em fogo brando, deixe cozinhar para incorporar os sabores, desligue e reserve o preparado com a panela tampada. Em uma frigideira aquecida, junte a farinha, a manteiga, o sal e mexa até que a farofa esteja levemente tostada. Tome cuidado para não queimar. Em seguida, recheie cada casquinha, polvilhe com a farofa e leve ao forno preaquecido por aproximadamente 10 minutos e sirva imediatamente.

CASQUINHO DE CARANGUEJO

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Ingredientes

100ml de azeite colorífico 100 g de cebola 2 dentes de alho 200 g de pimentão amarelo 100 g de tomate 500 g de carne de caranguejo 200 ml de leite de coco pimenta–do–reino sal azeitona verde sem caroço pimenta–dedo–de–moça coentro/cebolinha farinha de mandioca amarela manteiga

Dica

Se desejar servir de forma original, use as próprias casquinhas de caranguejo, lave–as em água corrente, escove levemente para retirar as sujidades e em seguida deixe–as em imersão de água e hipoclorito de sódio por 24 horas. Por fim, lave novamente em água corrente e abundante.

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Editorial

BICHO MULHER

Fotografia /CG Roberto Portella

MELK, & Gente

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Bichos

Sendo a moda, inegavelmente, uma forma de expressão artística/cultural, a moda denominada conceitual ou autoral seria a máxima expressão do artista, livre de pudores, amarras e padrões. Assim, a moda conceitual é um exercício de criatividade


Melk ZDa

A máscara oculta a escuridão do olhar de uma mulher quando a maldade lasciva está presente em seus pensamentos. Na mitologia grega, Circe transformava os homens em porcos. O porco está, associado a todas as formas de obscurantismo, tais como a ignorância, a luxúria, o egoísmo e a gula. Como dizia Heraclito “o porco prazenteia–­se na lama e no esterco” e, prosseguia ele, “a utilização das suas carnes está reservada aos que vivem na sensualidade”.


Modelos: Isadora Vilarim (EP Models) Mirian Suzy (Amazing Models) Ricardo Salazar (Amazing Models) Vestem Melk Z–Da Coordenação de Produção: Meire Anne Styling: Rafael Cietto Beleza: Gedson Moreno

As mulheres confidenciam seus mais íntimos desejos aos seres alados, emblema da espiritualidade e da alma humana. São considerados “mensageiros dos deuses”, intermediários capazes de estabelecer uma ponte entre o céu e a terra.


O homem perdido frente a emancipação da mulher e seu poder de escolha, ela é jovem e bem sucedida, cuja ascensão profissional fez seu marido se sentir inferior a ponto de desenvolver uma doença psiquiátrica rara chamada “Licantropia Clínica”, onde o enfermo se acredita um animal — no caso em questão, um cachorro.


Mulheres borboletas um símbolo de renascimento transformação e de um novo começo. Não há outro animal que passe por uma metamorfose tão intensa e completa. Os tipos de mulheres borboletas são tão diversos quanto os desenhos de suas asas. Essas mulheres podem ser criativas, encantadoras, pacientes, atentas, inteligentes e em sintonia com a natureza.


STUDIO | PHOTOGRAPHER | FASHION RETOUCHER +55 81 9985 8777 | 8813 4894 | robertoportella.imagemaker@gmail.com


HQB

JO FEVEREIRO

Q

ROTEIRO DE UM

UADRI

NISTA

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Jo Fevereiro

S

“Decorando uma bola para ser sorteada no final de uma noite de autógrafos de amigos, na livraria HQMix”

ua relação com o mundo dos quadrinhos, segundo Jo, começou muitos anos antes dele nascer, quando o seu futuro pai, ainda adolescente, foi estudar no Liceu de Artes e Ofícios SP. A sua paixão pelo cinema acabou por levá–lo à profissão de letrista na oficina de uma rede de salas de exibição, que funcionava no piso superior do Cine República, ao lado da cabine de projeção. “Foi nesse ambiente que vivi a minha primeira infância, mais ou menos como o garoto do “Cinema Paradiso”, do Tornatore. Enchia as paredes com os meus rabiscos, feitos com os pedaços de carvão que sobravam das câmeras de projeção e que eram os “lápis” oficiais da oficina. Quando entrei na escola primária, aos seis anos e meio, fiquei muito impressionado com as ilustrações da cartilha, que copiava compulsivamente nas laterais das folhas do caderno. Felizmente a minha professora, em vez de censurar, elogiava os desenhos e me nomeou o ilustrador oficial da classe. Aquele que fazia os cartazes para as festinhas e outros eventos escolares. Com a evolução escolar, fui descobrindo mais e melhores ilustradores nos livros das várias matérias que surgiam a cada ano. Lembro-me especialmente de Percy Lau, João Gargiulli, Oswaldo Storni e José Lanzellotti, que eram os que eu mais copiava.” 


Cópia feita a partir de duas referências enviadas pela editora Ática, para o livro paradidático “As Guerras Napoleônicas”. Não havia crédito dos autores das telas e nem consegui encontrá–lo pela internet, só posso dizer que a cena geral é cópia de um, e a figura em primeiro plano é cópia do outro. Lápis e Ecoline em papel Fabriano

No período do curso primário, o contato que teve com os quadrinhos foi meio desinteressado. Seu pai colecionava as revistas da Disney e era muito cuidadoso com elas. Só podíam folheá–las na sua presença, sem fazer vincos nas folhas. Mas, na realidade, ele não se interessava por histórias e desenhos infantis. Desde bem pequeno gostava de rabiscar índios, cowboys, cavaleiros medievais e bichos de todos os tipos. Os primeiros gi­­bis que despertaram a sua atenção foram álbums do Príncipe Valente, do Flash Gordon, do Tarzan e do Fantasma, que o seu pai começou a comprar para ele. Nunca gostou dos super–heróis e seus superpoderes, também não curte nada aquela anatomia e proporções exageradas... “ — O único super–herói que cheguei a colecionar duas séries, por causa dos roteiros e dos desenhos, foi o Batman que apesar de ser desenhado naquele padrão anatômico que não me agrada, é um herói humano. Enfim, a minha preferência sempre foi pelos heróis humanos, com seus talentos, fraquezas e aparência humanas. Mas o meu batismo na execução dos quadrinhos propriamente dita foi em 1965, quando o professor Nico me convidou para ser seu assistente, colaborando nas histórias de terror, combate e faroeste, nas quais ele era magistral.” Já próximo dos 18 anos começaram as pressões familiares para que ele fosse atrás de um emprego que garantisse a sua autonomia. Começou a sondar editoras e algumas outras empresas onde pudesse encaixar o seu trabalho, mas ainda não tinha um portfolio de nivel profissional. Certo dia, voltando de mais uma visita frustrada, resolveu passar na oficina do Cine República e lá

Sketch a lápis, também baseado em uma tela não creditada, para a capa do livro “As Guerras Napoleônicas” da editora Ática. O intermediário solicitante impôs que eu fizesse outra, glorificando o grande imperador. Saiu uma das piores capas que fiz

encontrou um ex–colega do seu pai, da época do Liceu de Artes e Ofícios, fotógrafo de publicidade, que o levou à Mccann Erickson, onde tinha reunião marcada com um dos diretores de arte, que também era colega deles de Liceu. O tal diretor de arte estava em processo de mudança para outra agência, mas gostou do seu trabalho e disse que o levaria para ser seu assistente no novo emprego. Era um profissional experiente, e foi outro grande mestre que teve por mais uns cinco anos. 

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trilhas sonoras, enquadramentos, atuações, locações, cenários, enfim, o cinema em sua totalidade. Com o tempo, já quase adolescente, comecei a esboçar num caderno as cenas que mais me inspiravam, apoiado numa das aberturas livres da parede da cabine, por onde eu assistia todos os filmes que quisesse, sem nenhuma censura. Era um exercício estimulante, pois eu me obrigava a registrar com muita rapidez e economia as cenas em movimento. Quando completei 14 anos fui matriculado na Escola Panamericana de Arte, onde tive a sorte imensa de ter como professor o grande artista Nico Rosso, de quem fui assistente dos 15 aos 18 anos, quando entrei para a publicidade. Já como assistente de direção Sketch a lápis para ilustração de um livro de História Geral, editado pela AJS. A imagem foi finalizada com lápis e Ecoline em papel Fabriano, mas perdi o original e o arquivo digital

“Página de abertura para adaptação em quadrinhos do texto de Shakespeare, com roteiro de Ronaldo Antonelli. Lápis e Photoshop”

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A FORMAÇÃO ARTÍSTICA

Na oficina do Cine República ele teve dois mestres: o decorador e o projecionista. O decorador pintava aquelas imensas figuras, recortadas em madeira compensada, que promoviam o filme nas fachadas dos cinemas e eram copiadas dos cartazes enviados pelas distribuidoras. — “Foi ele quem me incentivou a colorir as garatujas que eu fazia na parede, emprestando seus pincéis velhos e as latinhas com o resto das tintas que usava em seu trabalho. O projecionista me ensinou a trocar os rolos de filme, a ajustar os bastões de carvão nas velhas câmeras de projeção conforme se gastavam, a fazer emendas com acetona quando as fitas se rompiam e, principalmente, a apreciar os roteiros, as aberturas, as

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de arte, na KSB Propaganda, sob a orientação de Sadamu Tokunaga, o ex–colega do meu pai no Liceu de Artes e Ofícios. Com ele, em cinco anos, aprendi tudo o que era relativo às artes gráficas. Quando essa agência fechou, fui para a Harding Gimenez Publicidade, como diretor de arte junior, fazendo dupla com o diretor de criação Juvenal Azevedo, um dos sócios. Nessa agência, algum tempo depois, apareceu um rapaz de cabeça raspada que iniciava o curso de comunicação na FAAP, à procura de estágio. Chamava–se Washington Olivetto e trazia um envelope com uns poeminhas para que eu e o Juvenal lêssemos. Assim que saiu, dividimos ao meio o conteúdo do envelope e lemos os textos avidamente, deslumbrados com a criatividade


Fotos: Divulgação

Ilustração feita a lápis e meios–tons em Photoshop, para matéria de Dagomir Marquezi na revista VIP. O tema era a “TV esgoto” da época, mais ou menos no ano 2000

e sua fluidez. Ao final da leitura, falei para o patrão que ele havia perdido a minha parceria, pois eu queria fazer dupla com aquele “calouro” de qualquer jeito. Foi quase um ano de grandes resultados para nós e para a agência. Um período curto e inesquecível, repleto de aprendizado mútuo. Em seguida fomos cada um para o seu lado, mudando periodicamente de agência, até que em 1973 resolvi dar um tempo na publicidade e fui trabalhar no atelier do escultor Letão, radicado no Brasil, Tao Sigulda. REVISTA JUREMA: E depois? JO FEVEREIRO: A última agência onde eu tinha trabalhado, e para a qual fiz bons freelances nesse período de afastamento, me chamou de volta e eu aceitei pois, se a satisfação e o aprendizado eram imensos no atelier, eu também teria muita dificuldade para me reequilibrar economicamente se insistisse naquela atividade. Fiquei na agência por aguns meses, mas passava por um momento complicado de revisão da minha trajetória e concluí que precisava me afastar de São Paulo para ter o necessário sossego. Fui para Salvador, onde morei por um tempo fazendo freelances e exercendo o cargo de editor de arte da revista “Viver–Bahia”, editada pela Bahiatursa (Empresa de Turismo da Bahia). A editoria onde eu trabalhei ficava na ladeira do Pelourinho, no último andar do prédio da hoje “Fundação Casa de Jorge Amado” — na época, do Banco da Bahia. A vista que tinha da minha janela de trabalho e a vivência soteropolitana, me puseram no eixo em pouco tempo. Retornei a São Paulo e à antiga agência, que faliu no mesmo ano, o que obrigou eu e mais dois

colegas de trabalho a abrirmos um estúdio de criação para atender uns clientes, e várias agências que frequentemente nos solicitavam. No começo de 1978, entrei num curso de roteirização de quadrinhos, que era dado aos sábados na sede da AGRAF (Associação dos Artistas Gráficos). Estimulado pelo curso recomecei a fazer quadrinhos à noite, em casa. Com dois ex–colegas de colégio, Gerson Marins e Ronaldo Antonelli, fazíamos coletivamente roteiros visando a publicação nas editoras Vecchi, que tinha vários títulos na linha do terror, e Grafipar, que apostava na linha erótica (para adultos). Cheguei a publicar com certa regularidade nas duas editoras. Menos na Vecchi, que fechou antes, e mais na Grafipar, que se segurou em pé ainda por algum tempo. Cheguei também a fazer histórias do “Zorro — Capa e Espada” para a Ebal, com roteiros do Franco de Rosa e várias colaborações para a revista “Inter Quadrinhos” da editora Ondas, produzida pelos amigos e colegas Francisco Vilachã e Ronaldo Antonelli. Toda essa produção foi feita nas horas vagas, pois eu precisava cumprir o meu expediente normal no estúdio de criação, juntamente com meus sócios. Afinal, o trabalho comercial é que patrocinava a minha disposição de continuar a fazer quadrinhos mais por prazer do que por dinheiro, o qual nunca foi suficiente nessa área. Mas, junto com os anos 1980, vieram a abertura e a inflação, abalando bastante o mercado publicitário e atingindo mais fortemente empresas pequenas como a nossa, que fechou logo em seguida. Como o emprego estava difícil resolvi abrir uma agência com meu irmão, para atendermos os clientes que ainda se utilizavam dos meus serviços. Estávamos sobrevivendo mas a inflação participava cada vez mais do nossa mesa, até que recebi um convite para chefiar o departamento de arte da IMESP—Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. Fui sem pestanejar. Se havia uma lacuna na minha formação, era a falta de contato com o ambiente industrial de uma gráfica. Coisa que nas agências era atribuição do produtor, e não do diretor de arte. Deixei o escritório nas mãos do meu irmão e do meu assistente, e só passava por lá de manhã e no final da tarde para acompanhar o andamento e dar instruções. Durante um ano mergulhei no mundo da composição tipográfica, dos fotolitos, das

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Ilustração para matéria de Ailin Aleixo na revista VIP em 1997. Falava sobre a reação adversa dos homens, quando as mulheres resolvem agir como eles. Lápis e Ecoline em papel Fabriano, +­ Photoshop

máquinas impressoras, do acabamento. E chefiei um grupo de funcionários muito bem formados nessa área, pois na sua maioria eram oriundos do cursos gráficos e editoriais do SENAI, o melhor da América Latina. Findo esse ano de intenso aprendizado gráfico, mudei a minha micro agência para um escritório na Av. Paulista, que aluguei em parceria com um amigo e ex–colega da IMESP e do curso de roteirização. Esse foi um período rico de experiências e mudanças, porque o amigo com quem eu dividia o aluguel era do ramo gráfico e editorial. Então, através dele, comecei a fazer o que mais me motivou na infância... ilustrações para livros didáticos e paradidáticos. Começamos fazendo em parceria livros que ele pegava onde tinha contato e, após alguns

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trabalhos publicados, as editoras passaram a fazer pedidos individualmente, de acordo com o estilo de cada um. A partir daí, a minha atividade se dirigiu majoritariamente à ilustração editorial, o que me garantiu muita satisfação, pois eu tinha a confiança dos editores que me davam toda a liberdade conceitual necessária para desenvolver as imagens. Após alguns anos de intensa produção editorial, eu e o meu parceiro nos desentendemos, ele saiu do ecritório, e eu continuei lá, sozinho. Mas incorporei em seguida um novo sócio, que tinha bons contatos e trouxe novos clientes comerciais. Com essa alta no faturamento, mudamos logo depois para Moema, onde alugamos um sobrado. Mas a inflação continuou aumentando mais do que o faturamento e, quando o Collor anunciou que ia se candidatar à presidência, decidi que era a hora de sair do Brasil. RJ: qual o destino escolhido, a sequência dessa emigração? JF: Expus essa decisão a vários amigos e colegas, que foram unânimes em me indicar Portugal como o lugar mais adequado para a minha situação. Sabiam de pessoas da nossa área que tinham ido para lá pouco antes, e que estavam bem colocados em agências ou mesmo trabalhando como freelancers. O mercado estava aquecido, porque a “ainda” CEE (Comunidade Econômica Europeia), estava injetando capital nos países membros com mais problemas financeiros. Portanto cheguei em uma ocasião bastante propícia para me instalar em um novo país. Entre 1988 e 1995, período em que lá morei, vivi o meu melhor momento profissional de sempre. Exerci a minha função em todas as áreas de atividade que eu domino... para publicidade fiz layouts, storyboards, ilustrações de anúncios e outdoors, para editorial fiz ilustrações, vinhetas e até criei com o meu parceiro Liber Matteucci, uma personagem que tinha página mensal de quadrinhos em uma revista da editora Abril/Morumby, braço da Abril brasileira em Portugal. Após quase sete anos de excelente


Coleção de quatro capas para cadernos escolares, premiadas como melhores capas infantis do ano. Ecoline e lápis de cor, sobre papel Schoeller. Personagem criado para um blog coletivo chamado Pink Vader, produzido só por meninas. Uma sexta–feira a cada mês, elas propunham um tema para quem quisesse colaborar. Nesta em questão, o tema era “Horror Friday”. Nanquim a pincel em sulfite, e Photoshop

acolhimento na terrinha querida, problemas familiares me trouxeram de volta ao Brasil, onde continuei a viver e trabalhar até hoje. RJ: E o retorno foi tranquilo? JF: Mais ou menos. Cheguei aqui com o Real dolarizado, o que reduziu bastante o valor das economias que trouxe de lá. Os aluguéis no Brasil estavam um absurdo em relação à Europa. Depois de muito procurar, optei por um belo chalé em um condomínio isolado perto de Cotia, onde residi por dois anos. Era muito mais confortável e barato do que um apartamento minúsculo nos bairros centrais de S. Paulo. RJ: E quanto ao trabalho? JF: Encontrei tudo mudado em comparação à época que fui embora. A maioria dos contatos que eu tinha e solicitavam os meus serviços, ou haviam se aposentado, ou mudado de emprego, de estado, etc. Nas editoras, o acesso direto aos editores, que antes fazia parte de uma relação de trabalho produtiva e eficiente, foi travado por uma figura fria e impessoal agora chamada de “art buyer”, cuja principal função é pedir aos ilustradores que desenhem alunos sentados em suas carteiras, olhando o professor no quadro negro. As imagens prediletas dos autores de livros didáticos, e as mais desestimulantes tanto para os alunos, quanto para os ilustradores. Em consequência disso, desisti de ilustrar didáticos e retomei os paradidáticos que têm temas mais variados e estimulantes para se trabalhar. RJ: Em algum momento fez algo diferente? O quê? JF: Sim, fiz muitas ilustrações para dois ex–­colegas e parceiros da Imprensa Oficial, que haviam mudado para o ramo de design

de embalagens. Um outro amigo que fôra meu estagiário em uma agência havia muitos anos, e também abrira uma empresa de embalagens, me pediu muitas ilustrações e criação de brindes para os produtos com que trabalhava. Um dos ex–colegas da Imprensa me apresentou ao saudoso Tide Hellmeister, excelente artista gráfico, que estava precisando de alguém com desenho mais realista para um projeto seu. Foi o início de uma longa parceria em inúmeros e diferentes trabalhos muito divertidos e gratificantes. Sem dúvida, o melhor parceiro com quem trabalhei. Recentemente tenho feito capas de livros e ilustrações, para amigos escritores, e reencontrei um velho amigo, dramaturgo, diretor, coreógrafo, filósofo, para quem faço flyers, cartazes e banners de promoção para as apresentações que faz em vários estados. RJ: Teve dissabores com clientes por algum motivo? Qual? JF: Em diversas ocasiões ocorreram problemas corriqueiros, inerentes à nossa atividade, como prazos muito apertados que comprometem a qualidade, falta de clareza no pedido do serviço, alterações a mais por insegurança do solicitante, etc. Mas o maior problema, que chegou ao patamar dos dissabores, estou tendo agora, com a editora para a qual fiz quatro adaptações de contos clássicos da nossa literatura, para quadrinhos. Uma editora brasileira que, desde 2006, me fez repasses semestrais referentes aos direitos autorais. Por uns três anos não houve problema algum, os pagamentos eram feitos em dia. Mas, a partir do momento que uma editora francesa assumiu a “nossa”, nunca mais recebi na data estabelecida no contrato e, pior, o atraso foi ficando cada vez maior. Neste ano de 2013, por exemplo, do repasse que deveria por contrato ter sido feito em 25 de fevereiro, até agora nem sinal. O mesmo acontece com colegas que também colaboram na mesma coleção. Saudade de Portugal! 

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Estilo

GUSTAVO SILVESTRE

MODA

sustentรกvel de

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GUSTAVO SILVESTRE Por Adhemar Juan

JUREMA


O

“A sustentabilidade deve estar presente em todos os aspectos da vida de quem deseja seguir esse conceito, inclusive na moda. Isso é o que pensa o designer pernambucano Gustavo Silvestre”

designer começou a desfilar suas peças na Casa dos Criadores, em 2004, mesmo ano em que se mudou para São Paulo e montou o seu ateliê. Alguns anos mais tarde, a partir de 2011, Silvestre começou a incorporar o “ecologicamente correto” em suas criações. O estilista usa lona de caminhão reaproveitada, PET reciclado e tinturaria natural na composição de suas malhas e jeans. Ele produz através de três sistemas sustentáveis: reaproveitamento, reciclagem e upcycling. O reaproveitamento consiste em usar materiais que seriam jogados fora, como jeans antigos que ele guarda em estoque. A reciclagem é a transformação de materiais para a utilização e, por último, o upcycling usa materiais descartáveis para criar itens de valor agregado maior do que o produto original. Um bom exemplo é o uso dos tecidos de paraquedas para criar vestidos. Se a sustentabilidade é um conceito do qual, agora, Gustavo Silvestre não abre mão, outro elemento que começou a fazer parte de suas criações é o crochê. Desde o ano passado, o designer vem lançando coleções utilizando a técnica. Trabalhos artesanais, como o bordado, por exemplo, sempre agradaram Silvestre. O crochê, inclusive, é algo que ele aprendeu com a família, já que desde criança observava a mãe e a avó utilizando a tradicional técnica. Além das peças de roupa, ele também utiliza o crochê em acessórios, como pulseiras e maxicolares. 

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Fotos: A

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sanal hê arte % Croc

Vestido 100% Crochê artesanal

Foto: Divulga ção

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Além das peças de roupa, ele também utiliza o crochê em acessórios,  como pulseiras e maxicolares

Desfile — SP (Escola São Pa ECOER A ulo). Gustavo Silvestre apre sentou a mod a sustentável e artesanal por meio do croc hê

Fotos: Di vu lga

ção

SERVIÇO: O trabalho de Gustavo está mais interessante do que nunca. “O que as meninas mais pedem hoje são vestidos curtos e largos”, ele conta no backstage, mostrando que existe espaço pra moda que usa do artesanato, e acima de tudo existe mercado pra isso. promete uma loja on–line até o final do ano. Por enquanto, atende com hora marcada em seu ateliê, no centro, e aceita pedidos em sua página pessoal no facebook. https://www.facebook.com/gustavo.silvestre http://gustavosilvestre.tumblr.com/

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ADHEMAR JUAN NETTO BRAGA DE SOUZA, paulistano, formou-se em jornalismo em 2011, pela Universidade São Judas Tadeu e atuou em agências de comunicação como redator. Atualmente exerce

Vestido 100% Crochê artesanal

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essa função na Société Perrier, através agência Avant G

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TARCISIO DIAS é Profissional e Técnico em Mecânica, além de Engenheiro Mecatrônico e Radialista, é gerente de conteúdo do Portal Mecânica Online® (www.mecanicaonline.com.br) e desenvolve a Coleção AutoMecânica. E-mail: redacao@mecanicaonline.com.br

Carro

Feminino um toque

no automóvel

“A mulher se preocupa com itens funcionais e objetivos, como o consumo do combustível quantidade de porta–objetos ou até mesmo a presença de luz no espelho da pala de sol”

S

inônimo de conforto, independência e praticidade, os automóveis estão na lista de itens indispensáveis para muitos brasileiros. Um público consumidor que tem obtido destaque é o feminino. Pesquisas recentes destacam que quase 50% dos automóveis comercializados hoje no Brasil são adquiridos pelo sexo feminino. E, se antes elas dependiam dos homens para explicações sobre as melhores opções e os detalhes, hoje a história é outra. As pesquisas de mercado também deixam claras as diferenças entre homens e mulheres quanto à relação com seu veículo. Enquanto eles focam na potência, ronco do motor, rodas de liga leve e outros detalhes que se referem à parte exterior, a mulher se preocupa com itens funcionais e objetivos, como o consumo do combustível, quantidade de porta–objetos ou até mesmo a presença de luz no espelho da pala de sol. O que realmente fica claro é que a mulher compra o carro de dentro pra fora, priorizando elementos internos, algo que muitos homens não levam muito em consideração. Enquanto a mulher busca o conforto e segurança em primeiro lugar, eles já estão mais interessados no desempenho do motor e na parte externa do automóvel. 

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Fotos: Divulgação

Foto: Divulgação


Mesmo com o surgimento dessas diferenças, as mulheres não querem um carro cor–de–rosa, cheio de enfeites e delicado. Elas procuram um carro “parceiro”, que seja sinônimo de liberdade e autonomia e que auxilie nas suas tarefas do dia a dia. Os tempos mudaram e a mulher evoluiu. Ainda assim, já imaginou ligar seu automóvel e o GPS surgir com uma mensagem: “Nossa, você está linda hoje. Você emagreceu?”. Muitos itens de série e mesmo opcionais chegam como acessórios que as mulheres consideram bastante interessante ter sua presença no veículo. O próprio GPS é um deles, pois facilita encontrar ruas e lugares interessantes, quer seja um restaurante, um show ou mesmo uma clínica médica. Os artigos mais vendidos para as mulheres são aqueles que não exigem adaptações estruturais, como manoplas de câmbio e freio de mão, capas para volantes e pedaleiras. Além de darem um ar mais especial, essas peças proporcionam mais conforto e melhoram o design dos acessórios de acordo com as particularidades femininas. Há também outras tendências no mercado. É possível encontrar um protetor de step superfashion, combinando estilo e funcionalidade, permitindo conservar e proteger o pneu da chuva e do sol. Os adesivos externos podem dar um charme no carro. Além de deixá–lo ainda mais feminino.É possível também conseguir capas de assentos coloridos e jogo de tapetes que super estilosos. Normalmente na internet diversos sites oferecem opções de personalização.

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GCaravan

JUREMA

Auto Console RNG

Não poderia ficar de fora o perfume, algo tão característico do do público feminino que pode ter sua continuidade dentro do automóvel. Atualmente existe uma imensa variedade de fragrâncias e formas de aplicação no automóvel. Os fabricantes automotivos às vezes revelam em seus projetos a influência do gosto feminino na determinação de muitos aspectos do automóvel. O interior do veículo pode receber até mesmo um lugar exclusivo para uma bela flor, como já aconteceu quando do lançamento do New Beetle. Os diversos porta–objetos são muito bem–vindos pelo público feminino. O novo Peugeot 208 tem a opção de cabide cromado. Nada de amassar a roupa e ainda por cima, muito bem organizada. As facilidades dos sensores de estacionamento na hora de manobrar o veículo e as películas de proteção também são bastante considerados pelo público feminino. 


Materiais Verdes

ENTENDA ALGUNS TIPOS DE ESSENCIAS BEM FEMININAS 1 Florais baseada nas flores, YlangYlang, jasmim, neroli de grasse e outras. Proporcionam graça, feminilidade e romantismo a uma fragrância.

Pavillon

2 Frutais todas as frutas (exceto as cítricas). Dão um toque de modernidade à criação.

2

lavanda baseada no cheiro da flor de lavanda, lembra tradição e natureza.

3 Citrícas notas leves e frescas (limão, ber-

gamota, petitgrain). Transmitem a sensação de juventude e refrescância ao perfume.

4 Herbais trazem sensação de frescor e

natureza. Têm conotação de “folhas molhadas, cortadas”. Representam os campos e florestas.

Familia Adesivo Carro

5 Orientais trabalhadas em combinações de

baunilha com musks, madeiras e especiarias (canela, cravo,etc ). São envolventes e transmitem uma sensação de calor e um certo erotismo.

Tapetes Oncinha

6 A madeirados as notas ‘chypradas’ mis-

Principais itens, temos as almofadas, bruxinhas aromatizadas, capa de volante, capa para encosto de cabeça, cílios para faróis, enfeite para antena, lixeira e porta–documentos.

Acessórios

Cílios

turam vários odores, como o de musgo que se forma no carvalho, de madeiras, cítricos, florais, nuances de couro e frutas. Tudo isso dá à criação uma sensação de riqueza e sensualidade. São notas de fundo.

Capa Volante

Porta–Objetos


Humor

BIONE Bione com a coleção dos primeiros 300 números do Papa–Figo

Jornal o PAPA–FIGO Do tempo em que “Comunista comia fígado de criancinha!” Por Luciana Araújo

C

Número Um

No dia das mãe

s...

ostuma–se dizer que a Austregésilo. Foi lançado o “Papa–Figo na TV”, na função do narrador é programação da TV Jornal. O programa, produzido contar a história que por Bione em parceria com Sérgio Gusmão, consistia toda gente conhece, em filmetes de um minuto. Paralelamente, o “Papa” mostrando uma arte de papel continuava no velho formato A4 e com produzida a partir quatro páginas, como é até hoje. Além da versão do real, como forma impressa, desde o final de 2005 o Papa–Figo ganhou de contribuição, mesmo que sutil, á versão na internet. sociedade. O jornal pernambucano de Em entrevista exclusiva à revista Jurema Bione humor, de crítica e sátira, fundado na que é fundador, sócio, editor e office boy, fala época da ditadura, no ano de 1984, um pouco dessa história de humor que perdura por Manoel Bione, Ral e José Teles, o até os tempos atuais. Papa–Figo é uma instituição sem fins REVISTA JUREMA: Você é criador do Papa–Figo e lucrativos, que tem como proposta ser já foi homenageado pelo conjunto da obra, no um jornal irreverente, de notícias non projeto Memória das Artes Gráficas, na Biblioteca sense, mas com a linha ideológica dos Municipal de SP e Instituto HQMix. Mas quem donos. Por isso, adota o lema: “não é o verdadeiro Bione? O jornalista, o humorista, o receber o dinheiro de ninguém para psiquiatra, ou isso tudo, junto e misturado? poder falar mal de todo mundo”. Por BIONE: Um homem não é um só, são muitos, tá meio do humor escrachado, o sema- sério, né? logo, dentro de mim tem muitos Biones. nário, de duas páginas de tamanho O psiquiatra, o cartunista, o humorista, etc. Quem A4, apareceu para colocar o dedo nas me conhece de perto sabe dessa minha multifaceta. feridas do país. Meus pacientes sempre estranharam quando descoConsiderado um marco da imprensa briam que eu sou o Bione do Papa–Figo. alternativa do estado, seu sucesso foi E meus leitores sempre estranham quando descotão grande, que chegou a ser inserido brem que eu sou psiquiatra. Eu sempre fui o no contexto do Pasquim no período médico e o monstro, ou melhor, o médico e o de três anos. Com o fim do Pasquim papa–figo. e convidado pela editora Raiz, o perió- RJ: Em junho de 2010 você lançou uma edição dico virou tablóide e passou a circular especial retrospectiva, com praticamente todos os com oito páginas durante oito números. 300 números do Papa–Figo. Foram encadernados em Nessa época, Ral e Teles saíram da edição, dois livros, dez pôsteres do cartunista Miguel e um tornando–­­se colaboradores. Bione, então, DVD com depoimentos de fundadores, admiradores assumiu sozinho o jornal. Passados pou- e colaboradores como Jaguar, Nani, RAL, Samuca, cos anos, o Papa–Figo ganhou programa Paulo Bruscky, Tarcísio Sete, Jomard Muniz de Brito na televisão, por convite da José Mário e o cantor Falcão. Quando tudo começou? 


Desenho: Bira Dantas

Capa Contrav

érbios

B: Eu sou muito irrequieto. Sempre fiz coisas alternativas. Já na faculdade de medicina, fazia panfletos contra a ditadura militar. A ponto de eu e alguns colegas que fariam psiquiatria termos sido proibidos de entrar na faculdade aos sábados. Íamos lá para estudar Freud. O diretor devia estar achando que a gente estava se reunindo para tramar contra o governo. RJ: Mas fale do início do Papa–Figo e sua trajetória até seus quase 30 anos de existência. B: Veja bem. Eu estou mais rodado do que velocímetro de taxi–girl da Domingos Ferreira. Mesmo na faculdade, já era cartunista do Jornal da Semana, Jornal da Cidade, Jornal do Commercio, Diário da Noite, etc. Em 1979, me mudei para São Paulo a fim de terminar minha residência. E trabalhei pra cacete. Como médico e como jornalista. Morei em Santos, e lá, além de hospitais de São Vicente, Santos e Guarujá, atuava em jornais como Cidade de Santos, Preto–no–Branco e Jornal de Mesa — esses dois últimos ajudei a criar. E outros órgãos de sindicatos ligados à Cooperativa dos Jornalistas de Santos — que eu também ajudei a criar. RJ: O Papa–Figo aparece depois de sua volta... B: Exatamente. Embalado por aquele ritmo de trabalho, achei Recife muito paradão — com todo respeito, que adoro esta cidade. No início, me juntei com colegas, como Clériston, Paulo Santos, Geneton Moraes Neto, Manuel Costa — que Deus o tenha — e Amin Steple... e criamos o Rei da Notícia. Ele durou três números. Pois, como diria Raul Seixas, era muita estrela para pouca constelação. Depois Paulo Santos e Clériston ainda tocaram o jornal por alguns números, mas eu não gostaria de entrar nesses detalhes, que não fazem parte da entrevista. RJ: É aí que entra o Papa–Figo... B: Exatamente. Foi aí que eu caí em si — como diria Dedeu. Então resolvi criar um jornal onde eu fosse fundador, editor e office–boy. E pensei no Papa–Figo. Levei o projeto, inclusive com o número zero, pra Tarcísio Pereira, dono da Livro 7, então a maior livraria do Brasil. Ele topou bancar o Papa–Figo na hora! Mas meu coração é mole e gosto de trabalhar em grupo. Então liguei para RAL — Romildo Araújo Lima, um do maiores cartunista do Brasil. Ele se entusiasmou com a história e indicou um cara, autor de um livrinho de trocadilhos que RAL estava ilustrando. Ele se chama José Teles, que, à época, colocava vírgula entre sujeito e predicado. (brincadeirinha, Teles!). Bom, para resumir, são 343 números e 29 anos no ar. RJ: Qual o seu maior desejo hoje com o Papa–Figo? B: Continuarmos vivos. Eu e o Papa–Figo. Primeiro eu. RJ: Você acha que novas mídias podem fazer com que personagens se tornem reais? Fala um pouco do Papa–Figo o filme... B: Não gostaria que um lobisomem ou um vampiro se tornassem reais. Pincipalmente porque eu moro num sítio e não gostaria de encontrar um deles numa noite de lua cheia. Quanto ao Papa–Figo, ele está prestes a se tornar real. Mas só no cinema. Em parceria com o cineasta Antônio Carrilho, acabei de escrever o roteiro do longa metragem do ficção “O Papa–Figo contra–ataca”, cujo argumento foi aprovado pelo Funcultura e agora está em fase de captação de recursos. Trata–se da primeira comédia política brasileira. Falta de modéstia à parte, acho que vai arrebentar as catracas dos cinemas. Segundo o grande cartunista, escritor e redator de humor, Ernani Lucas, o Nani, vai ser um filme satírico–anárquico–documentário–histórico da porra! Quem viver, rirá. 

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Homenagem

DÉBORA ALBUQUERQUE

O que diz

A LEI Direito do(a) Consumidor(a)

N Fotos: Studio Jurema

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“MULHERES. ELAS MANDAM NO CONSUMO, MAS AINDA NÃO SÃO REPRESENTADAS COMO DEVERIAM NO SISTEMA DE DEFESA...”

JUREMA

Por Luciana Araújo

o controle de 70% do gasto mundial dos consumidores, segundo dados do Boston Consulting Group, as mulheres exercem um papel fundamental no movimento em defesa dos direitos desses cidadãos mundo afora. No Brasil, o movimento das donas de casas teve importância decisiva na luta por direitos antes mesmo da promulgação do Código de Defesa do Consumidor (CDC) e atualmente é de uma mulher a titularidade da Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor, do Ministério da Justiça. Mas esse poder de compra não se reflete, na mesma proporção, na ocupação de cargos de liderança. As deturpações que encontramos no mundo corporativo, em que elas ocupam apenas um em cada cinco cargos executivos, se repetem no mundo consumerista. A afirmação é de Marilena Lazzarini, uma das mais proeminentes representantes brasileiras no tema, presidente emérita da Consumers International (CI) e presidente do conselho do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Primeira presidente de defesa do consumidor, em Jaboatão dos Guararapes a pernambucana Débora Albuquerque, se enquadra perfeitamente no perfil traçado acima, aliada a profissionalismo. Com alguns anos de dedicação ao tema, Débora reforça a atuação histórica das mulheres em diferentes frentes do sistema de defesa do consumidor. DÉBORA ALBUQUERQUE: As mulheres estão na liderança de procons, são promotoras de Justiça, procuradoras da República, defensoras públicas. Devemos destacar uma mulher brasileira, a Marilena que preside a maior associação da sociedade civil do mundo, a CI. Enfim, trata–se de um trabalho sério, competente e de liderança. A mulher é sempre muito consciente e comprometida com suas causas, espero ter cada mais mulheres atuando na defesa dos direitos dos consumidores seja no sistema de defesa seja no dia a dia como consumidoras. 


REVISTA JUREMA: Alguns economistas falam C e D, houve também um acréscimo nas reclamaque a crise econômica vivenciada na Europa, em ções junto ao Procon? parte, foi por culpa dos próprios consumidores. DA: Naturalmente. Cresce o poder aquisitivo, cresce A população contrata empréstimos que não pode também os problemas na relação de consumo. Telefopagar. Você acha que os consumidores podem ser nia é um ótimo exemplo desse fato. Antigamente uma linha telefônica fixa era parte do patrimônio familiar, responsabilizados? DA: Não, acho que os governos e as empresas hoje não custa nada. Tempos atrás telefone celular era têm que ter responsabilidade com o estímulo ao coisa para as classes mais abastadas, hoje, felizmente, superindividamento e ao consumismo desenfreado, quase todas as pessoas podem ter um celular e aí alguinconsequente, sem responsabilidade. Os órgãos de mas operadoras não cumprem o que oferecem na hora defesa do consumidor têm dedicado muita atenção da venda e muito menos oferecem um serviço de a esta questão porque o número de consumidores pós–venda satisfatório. Resultado: O setor de telefonia que desgovernam a vida devido a gastos excessivos é campeão de reclamações aqui no Procon. é alarmante. Estamos aqui no Procon de Jaboatão RJ: O que precisa melhorar para que a informação trabalhando na construção de ações sobre este tema chegue a esses novos consumidores? para consumidores da chamada melhor idade e RJ: Olha, poderia pontuar que os orgãos de defesa para a juventude também. Hoje, os jovens de 17 dos consumidores devem promover mais campanhas ou 18 anos já têm condições de adquirir cartão educativas, políticas públicas de direitos do consude credito, seja universitário, seja dependente dos midor, pois seriam excelentes parceiros nessa questão. pais, e os idosos são constantemente enganados, de Mas o consumidor tem que cobrar isso às gestões uma vulnerabilidade econômica enorme, por isso públicas, apesar de que se nota claramente que o nível entendemos que devemos agir logo com orientações de consciência dos consumidores aumentou bastante. a alertas para criarmos uma geração de consumi- RJ: A forma como as informações são transmitidas dores conscientes. aos novos consumidores deve ser diferenciadas? RJ: Com o aumento do poder aquisitivo das classes DA: Sim, pois temos diferentes níveis de escolaridade,

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idade e classes sociais dentre os nossos novos potenciais consumidores. Cada um entenderia melhor a linguagem própria, não? RJ: Qual é o papel do estado para evitar problemas nas relações de consumo? DA: Para evitar problemas o que tem que ser feito, e temos procurado seriamente fazer, é orientação aos nossos consumidores. Mas o papel do Estado também tem que ser o de defender os consumidores e mediar essas relações de consumo de forma parcial, em prol do consumidor. Para isso temos, aqui no Procon, advogados conciliadores que diariamente exercem esse belo e importante papel. RJ: Quem consome mais, o homem ou a mulher? DA: Pelo relatório que temos aqui de Jaboatão, as mulheres são um pouco mais consumistas. Mas os homens não ficam muito atrás, não. Veja os dados que temos neste último mês de julho/13: 51% de reclamantes do sexo feminino e 49% de reclamantes do sexo masculino. RJ: De que forma são encaminhadas as reclamações no Procon de Jaboatão? DA: Atendemos os consumidores escutando o problema e tentando solucioná–lo em três canais de acesso aos fornecedores: o atendimento preliminar telefônico, a CIP Eletrônica (através de e–mail) ou a abertura direta de reclamação onde agendamos uma audiência entre consumidor e empresa dentro do nosso órgão. Os consumidores que se sentirem lesados podem vir registrar as suas queixas aqui na sede ou em uma das nossas unidades de procons que funcionam nas regionais de Jaboatão Centro, Cavaleiro e Curado. Em breve, estamos trabalhando para reativar o atendimento nas regionais Praias e Muribeca. RJ: A senhora foi nomeada primeira presidente mulher, do PROCON de Jaboatão. Poderia fazer um balanço com os pontos positivos e negativos? DA: Primeiro ponto positivo, pra mim, é que os espaços de comando ocupados por mulheres têm crescido cada vez mais e a mim, particularmente, isso toca muito, pois sou militante na questão de gênero, de igualdade de oportunidades, de valorização pela competência, comprometimento e não pelo sexo. Depois vem a sensibilidade, a firmeza sem perder a delicadeza, a familiaridade da mulher nas relações de consumo, o entendimento... Negativo é que demorou muito para que uma mulher ocupasse essa pasta. Só esse, rsrsrsrsrs. RJ: Qual a sua avaliação da criação do cadastro positivo? DA: Acho muito importante o cadastro positivo. Primeiro, porque vai garantir melhores condições de negociação e de compra para quem se preocupa em organizar o seu orçamento e as suas dívidas. E, num caráter didático, vai

JUREMA

incentivar as pessoas a se preocuparem mais com o controle de suas finanças e com o endividamento excessivo. RJ: Qual o problema que gera mais demanda no Procon de Jaboatão e qual a avaliação do PROCON em relação a esse problema? RJ: Os problemas que os consumidores mais reclamam e que nunca deixam de figurar no nosso cenário relacionam–se aos serviços essenciais (água e esgoto, telefonia e energia elétrica) que permanecem sempre nos primeiros lugares em nosso ranking. Outra preocupação enorme que temos gira em torno de problemas de vício em produtos, mas que são intimamente ligadas a lojas de eletrodomésticos locais que só pensam em vender a qualquer custo, e isso é uma bandeira combativa que levantamos dia–a–dia. RJ: Qual a sua Avaliação em relação à passividade do consumidor contemporâneo? DA: Primeiramente não concordo com a expressão “passividade do consumidor contemporâneo”. Ele não é passivo e sim vulnerável, e essa fragilidade passa não só pela condição econômica, mas também pela questão técnica, jurídica e até psicológica. Às vezes, esse consumidor se indigna, mas não sabe onde resolver o seu problema, isso é falta de informação e não passividade. Estou muito otimista com o trabalho que estamos desempenhando no Procon de Jaboatão os Guararapes, justamente porque nos preocupamos em fomentar a consciência dos consumidores a partir da oferta de mais informações sobre seus direitos. RJ: Como a senhora avalia o nível de informação do consumidor, hoje, em relação aos seus direitos e deveres? DA: O consumidor, apesar de carecer ainda de algumas informações, já está muito mais informado que cinco ou dez anos atrás. Graças ao trabalho que os Procons vem desempenhando e ainda graças a ajuda da mídia, que tem divulgado as ações dos procons e as questões que envolvem os direitos do consumidor, todos estão mais informados e exigentes. Temos um longo caminho a percorrer. Mas já avançamos muito e o consumidor hoje está mais esclarecido que alguns anos atrás. RJ: Que mensagem a senhora gostaria de deixar para o consumidor de Jaboatão? DA: Que ele fique atento e busque seus direitos quando se achar lesado seja por causa de um produto viciado (defeituoso) ou de outro que não corresponde às especificações ou por um serviço de má qualidade. Denuncie cada vez mais os abusos praticados pelas empresas que costumam infringir o Código de Defesa do Consumidor. E por fim, quero dizer que esse consumidor vai encontrar aqui no Procon de Jaboatão dos Guararapes, um órgão que está a sua disposição para ajudá–lo a resolver seu problema e garantir o exercício dos seus direitos. 


ReVISTA

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ANUNCIE | ASSINE JÁ! Chique e inteligente, com pe­riodicidade trimestral, a revista JUREMA é uma publicação sofisticada e informativa. Ela chega ao cenário pernambucano re­pleta de novidades e inovações. Assuntos como moda, cultura, artes, gastronomia, gente, saúde, decoração, turismo, estilo de vida e comportamento, com um enfoque diferenciado. Seu conteúdo, que tem por objetivo ser diferente das demais publicações do estado, aborda uma linguagem clara, objetiva e dinâmica, respeitando o nível de exi­gência do público feminino que pen­sa e decide. Tudo isso faz dessa publicação uma grande e importante vitrine para o mercado consumidor.

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Perfil

CANTORA E DELEGADA

VIDA

EMBALADA

pela 70

MÚSICA

“Mesmo seguindo outros caminhos profissionais ela nunca deixou de lado o sonho de gravar um cd” Por Luciana Araújo

JUREMA


Foto: JoãoRogério Filho

TEREZA NOGUEIRA, A cantora que é delegada na vida real

REVISTA JUREMA: Quem é Tereza Nogueira? TEREZA NOGUEIRA: Nossa... como é difícil resumir em poucas linhas quem somos e pelo que passamos! Eu sou Tereza Nogueira e tenho uma história de vida repleta de lutas e dificuldades, mas também de vitórias, à semelhança do que acontece com a maioria dos brasileiros de hoje. Nasci em Petrolina, sertão do Estado de Pernambuco, onde tive uma infância alegre e regada de brincadeiras de roda, amarelinha e banhos de rio, sempre rodeada de primos, tios e de minha avó Maria, todos muito queridos. Sou a filha caçula de Thomaz Barbosa Nogueira e de uma mulher muito valente, Helena Barbosa Nogueira, que me ensinou quase tudo que aprendi nesta vida. Tenho dois irmãos guerreiros, Heliomásio e Márcia, verdadeiros exemplos de humildade, perseverança e fé, sem os quais, certamente, não seria quem hoje sou. Vivi no meu sertão até os doze anos, de onde saí, por ocasião da separação de meus pais, em companhia de minha mãe e de meus dois irmãos, exatamente como diz o uso popular “com uma mão na frente e outra atrás”, em busca de um

recomeço no litoral, que custou muito a acontecer. Diante das dificuldades extremas que a vida nos impôs, meu irmão abandonou seus estudos, seus sonhos e passou a trabalhar como garçom e minha mãe e irmã como cozinheiras, o que nos rendia apenas o pão de cada dia, nada mais. Inserida neste cenário de lutas e, ao mesmo tempo já almejando a um futuro melhor, passei a trabalhar, aos quatorze anos, como “faz tudo” numa pequena loja de galeria, ganhando quase nada também por isso. Durante toda minha adolescência, conciliei trabalho diurno com estudos noturnos, sempre em escolas públicas, vivenciando, à época, um cenário constante de greves quando já começava a nutrir o sonho de cursar universidade de música e cantar. Nos períodos grevistas, passava as noites em casa, lendo poesias, velhos livros de literatura e rabiscando frases soltas no papel, sem imaginar o quanto isso me serviria no futuro próximo. Todavia, no momento exato de decidir o que cursar numa possível universidade, optei, contraditoriamente, por fazer direito e tornar–me delegada de polícia. RJ: O que te levou a cantar e depois buscar outra profissão e trabalhar como delegada de polícia? TN: Esta foi, indubitavelmente, a decisão mais difícil que tomei na vida. Apesar de arriscar, na época, breves aparições públicas cantando com amigos, percebi, muito cedo, que a realidade dos cantores iniciantes no Brasil era tão dura quanto a minha e, foi aí, que me resolvi pela segurança financeira, optando pela minha segunda vocação: tornar–me delegada de polícia e, desta forma, poder dar uma vida digna à minha família, além de, através da profissão, ter a oportunidade de combater as injustiças e a violência de perto. Sempre acreditei que a polícia era o primeiro recurso estatal procurado pelos mais necessitados, principais vítimas de violência em nosso país, e acreditava que, como delegada, poderia desempenhar relevante função social, lutando de alguma forma contra isso. Apesar da minha acertada escolha, já na primeira semana de faculdade, percebi que seria mesmo difícil lutar contra a influência que a música exercia sobre mim, já que ela rapidamente voltou a me circundar. Tendo sido aprovada numa

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universidade particular, a Universidade Católica de Pernambuco, precisava eu urgentemente me incluir em algum programa que financiasse meu curso, qualquer que fosse ele, sob pena de mais uma vez tentar vestibular para a Federal. Arrisquei de tudo lá dentro, até que me deparei com o teste para cantores do famoso MPB — Unicap, um sonho quase inatingível para mim. Para orgulho da minha família e surpresa minha, diante de um auditório repleto de candidatos, subi pela primeira vez num palco e fui uma das poucas candidatas escolhidas. Daí em diante, garanti o custeio do meu curso e, paralelamente, fiz estágios, passei por aulas de canto, fiz coral e iniciei diversos trabalhos cantando como freelancer, a exemplo das bandas Folia Tropical (de músicas de carnaval) e Maria Fulô, além de diversas bandas bailes, através das quais sustentava minha família com a mesma simplicidade de sempre. Durante todo este período dedicado ao direito, as orações de minha mãe e irmãos foram no sentido de que, um dia, eu retomasse o meu primeiro e grande sonho. Neste período, segui cantando para amigos. RJ: “Sem deixar a vaidade de lado, as mulheres estão assumindo cargos importantes na polícia. As delegadas assumem os mesmos riscos de qualquer outro policial em qualquer operação realizada”. Como avalias esta afirmação? TN: Tenho orgulho de afirmar, sem medo de

JUREMA

errar, que as mulheres estão, de fato, ocupando cada vez mais funções de destaque nas diversas polícias antes ocupadas preponderantemente por homens. Por ocasião de minha academia, por exemplo, pude constatar isso, pois a esmagadora maioria da minha turma era composta por mulheres — solteiras, casadas, mães ou não — mas todas dignas de admiração, cada qual a sua maneira. Mulheres fortes, capazes e extremamente batalhadoras, das quais muito me orgulho! Tal fato é resultado de uma geração que rompeu preconceitos e decidiu, definitivamente, mudar os rumos da história. A par disto, posso dizer que a simples decisão de tornar–se delegada traz em seu próprio bojo uma gama de infinitos riscos, sejam eles de ordem profissional (decisões equivocadas que podem afetar diretamente sua equipe); pessoal (possibilidade de se ferir ou mesmo morrer numa operação); ou familiar (ameaças e perseguições), sem os quais não se será delegada de fato. A não consciência acerca desses riscos poderá ser fator determinante entre a vida e a morte, entre o sucesso ou fracasso de uma operação. Gerenciar policiais exige, destarte, responsabilidade, parceria e, acima de tudo, confiança. Logo, uma vez na rua, os riscos serão idênticos entre homens e mulheres policiais; porém, no tocante à função de delegada — cargo típico de chefia e liderança — posso afirmar que os riscos serão semelhantes, contudo, as responsabilidades, bem maiores. Uma decisão equivocada ou um passo em falso podem decidir sobre a vida ou morte de um membro de sua equipe e você terá que aprender a conviver firmemente com tamanha responsabilidade. RJ: Cada vez mais temos identificados policiais poetas, cantores, artistas plásticos, na sua avaliação, todo ser humano tem sua “porção” do bem, mesmo exercendo uma profissão difícil como é o caso do policial? TN: A função policial é das mais árduas, porque subtrai do policial o convívio familiar e os momentos de lazer, indispensáveis ao bem estar


de qualquer ser humano! A periculosidade típica do trabalho, a rotina estressante, o dia–a–dia do serviço público, muitas vezes caótico, são suficientes para transformar qualquer profissional dedicado em uma pessoa estressada ou mesmo incapaz de prestar um bom atendimento ao público. Dentro desse contexto, todas as manifestações artísticas — música, poesia, artesanato, dança, teatro, etc — servirão de escape, de eliminador de tensão, elevando a sensação de prazer e aliviando os grandes encargos da rotina policial. RJ: Como podemos avaliar a importância do trabalho de uma delegacia para mulheres devido à violência que a mulher sofre? TN: As delegacias especializadas no atendimento à mulher estão diretamente associadas à ideia de vulnerabilidade cultivada há milhares de gerações, na qual, infelizmente, a mulher se encontra inserida. Donde advém sua tamanha importância! Ser especializada, neste contexto, significa dizer que todo o atendimento estará capacitado a melhor atender a mulher, em todas as peculiaridades que lhe são intrínsecas. Inobstante os avanços sociais visíveis nas mais diversas áreas, nossa sociedade ainda carece de atendimento especializado às mulheres pelo simples fato de que ainda persiste, de maneira um tanto quanto arraigada, na visão de alguns homens, a ideia de que são detentores de suas mulheres. Proporcional à vulnerabilidade, residirá, portanto, a relevância dos serviços policiais prestados à figura feminina. RJ: Vencer os desafios diários de exercer a atividade policial de forma justa e ética, ser delegada exige responsabilidade, grande cautela e atitude, sem nunca prejudicar ninguém com injustiças. Como você consegue administrar duas funções tão antagônicas, uma que liberta que é a música e outra que prende? TN: Acredito que seja justamente neste aparente antagonismo que a delegada e a cantora se harmonizam tanto, esta impondo leveza àquela. Rsssssss! A música eleva a alma, não admite barreiras, rejeita preconceitos... Quem canta interpreta, coloca para fora sentimentos ruins, cultiva sentimentos positivos e, talvez por isso, a cantora

consiga tão bem acalentar a delegada. Não tenho dúvidas de que cantando me tornarei uma pessoa e uma profissional cada vez melhor! RJ: Você é vaidosa, qual o seu signo? TN: Sim, sou uma ariana vaidosa, mas sem exageros! Não jogo dinheiro fora com futilidades ou coisas sem qualquer utilidade. Compro o que desejo e, de fato, aprecio. RJ: Qual a lembrança mais remota de sua infância? TN: Brincando de pega–pega na chuva com meus primos, embaixo de um pé de figo, num lugarzinho lindo chamado Caldeirãozinho, sob os clamores de minha avó Maria para que saíssemos da chuva. RJ: O melhor lugar do mundo é: TN: O terraço de minha casa, em Gravatá, de frente para as montanhas, tomando um bom vinho com minha família e amigos, os grandes amores da minha vida. RJ: O que procura nos amigos? TN: Lealdade e Verdade sempre. RJ: Uma frase preferida: TN: “Costumo voltar atrás, sim. Não tenho

“Como delegada passei a fazer palestras antidrogas em escolas públicas, exercendo a função social para a qual me destinara, porém o sonho de cantar permaneceu em mim acalentado, fixado como tatuagem” compromisso com o erro” — frase atribuída a Juscelino Kubitschek. RJ:Uma mensagem que gostaria de deixar para o leitor da Jurema: TN: Mesmo sendo sonhadora como sou (e nunca me arrependi de sê–lo), aprendi na vida a manter meus olhos no futuro e meus pés fincados na realidade, razão pela qual sempre projetei caminhos difíceis (nunca escolhi os mais fáceis) e os trilhei com a convicção de que o sol sempre brilhará no novo dia, trazendo as mudanças necessárias advindas de Deus. Por isso, posso dizer ao leitor: Desistir de seus sonhos? JAMAIS, pois “sem eles você continuará a existir, mas deixará de viver”. (autor desconhecido) 

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Esportes

PERNAMBUCO NA

N 74

SELEÇÃO BRASILEIRA

RUSSO

Por Allan Reinhard RICARDO ROCHA

esses tempos de Copa do Mundo da FIFA de 2014, após o Brasil sagrar–se tetracampeão da Copa das Confederações, fomos buscar no distante passado, uma justificativa consistente e válida, para explicar essa simbiose apaixonada entre Pernambuco e o futebol. A Seleção Brasileira, num já distante ano de 1934, em preparação para a disputa do mundial da Itália daquele ano, fez uma escala em nosso estado. Na ocasião fez cinco jogos treinos em nossos campos e venceu, pela ordem, o Sport por 5 x 4, o Santa Cruz por 3 x 1, o Náutico por 8 x 2 e a seleção de Pernambuco por 5 x 2. Por conta de uma permanência imprevista, a comissão técnica do Brasil realizou mais um jogo, novamente contra o Santa Cruz e dessa vez o tricolor realizou um feito, até hoje, privilégio de poucos clubes, venceu a Seleção Brasileira por 3 x 2. Apenas mais 4 clubes conseguiram essa façanha: BRASIL 0 x 1 DUBLIN (Uruguai) em 27/01/1918, no campo do Botafogo carioca. ARSENAL (Inglaterra) 2 x 0 BRASIL em 16/11/1965, no Highbury Stadium de Londres. Nesse jogo a seleção contava apenas com jogadores que atuavam no Corinthians. BRASIL 1 x 2 ATLÉTICO MINEIRO em 03/09/1969 no Mineirão. O Atlético usou a camisa da seleção mineira, embora nenhum jogador atuasse por outro clube do estado. Teve também um BRASIL 0 x 2 FLAMENGO em 06/10/1976 no Maracanã. A façanha tricolor aconteceu no dia 10/10/1934, no antigo Campo da Avenida Malaquias, em Recife. O Brasil jogou com: Pedrosa, Rogério, Vicente, Ariel, Martim Silveira, Canalli, Átila, Waldemar de Brito, Leônidas da Silva, Armandinho e Patesko. O técnico era Carlito Rocha. Já o Santa Cruz foi a campo com: Dadá; Marcionilo, João Martins, Zezé, Furlan, Ernani; Valfrido, Lauro, Chinês, Sidinho e Estevam. O técnico era Ilo Just. Os gols foram marcados por Waldemar de Brito e Patesko para o Brasil e Zezé (2) e Sidinho para o Santa Cruz.

JUREMA

MANGA

ZEQUINHA

RILDO

GIVA

HERNANES

JUNINHO PERNAMBUCO


RIVALDO

ADEMIR MENEZES

VAVÁ

WENDELL

CARLOS ALBERTO BARBOSA

JOSUÉ

BIRO–BIRO

ZÉ DO CARMO

Desse dia em diante o estado criou um laço estreito com a Seleção ORLANDO e passou a fornecer grandes nomes para o escrete nacional, em PINGO DE OURO todas as posições, inclusive, se fosse possível reunir esses atletas num único time, a nossa seleção seria quase imbatível. A escalação desse esquadrão de pernambucanos seria: Titulares — Haílton Corrêa de Arruda, o grande Manga, no gol. Na lateral direita, Ricardo Soares Florêncio, mais conhecido como Russo. Na zaga, Ricardo Roberto Barreto da Rocha e José Ferreira Franco, o NADO grande Zequinha. Na lateral esquerda, Rildo da Costa Menezes, o Rildo do Santos de Pelé & Cia. O meio campo seria formado por Givanildo José de Oliveira, o Giva, do Santa Cruz. Anderson Hernanes de Carvalho Andrade Lima, um dos grande nomes da seleção de Felipão, ganhadora da Copa das Confederações, um nome quase certo na Copa de 2014. Antônio Augusto Ribeiro ALMIR Reis Junior (ninguém menos que Juninho Pernambucano) e PERNAMBUQUINHO Rivaldo Vitor Borba Ferreira, campeão em 2002 e o melhor jogador do mundo em 1999. No ataque Ademir Marques de Menezes (Ademir Menezes ou Ademir Queixada) o grande artilheiro da Copa de 1950 e Edvaldo Izidio Neto (Vavá) campeão do mundo no Chile em 1962, formariam uma máquina de fazer gols. No banco de reservas contaríamos com nomes de DJALMA peso como: Wendell Lucena Ramalho (goleiro).Carlos Alberto Barbosa, o tricolor, lateral direito. Josué Anunciado de Oliveira, Antônio José da Silva Filho, o folclórico Biro–Biro, José do Carmo Silva Filho, o Zé do Carmo tricolor e Orlando de Azevedo Viana, mais conhecido como Orlando Pingo de Ouro, todos para o meio de campo. José Rinaldo Tasso Lasalvia, mais conhecido ROBERTO como Nado, jogador alvirrubro. Almir Morais de Albuquerque CORAÇÃO DE LEÃO o Almir Pernambuquinho, respeitado por jogar com muita raça e vontade. Djalma Bezerra dos Santos (Djalma) joga“Anderson Hernanes de Carvalho dor rubro–negro da década Andrade Lima, um dos grandes de 1940. Roberto Almeida nomes da seleção de Felipão e um Nascimento, mais conhecido dos prováveis pernambucanos na como Roberto Coração de LULA copa de 2014” Leão, convocado em 1981, por Telê Santana e Luis Ribeiro Pinto Neto (Lula), todos atacantes de muito prestígio. Mais uma vez nosso povo foi chamado para escrever páginas importantes da nossa história. Uma moderna arena foi construída para que a nação pernambucana, representada por seus caboclos de lança, bacamarteiros, sertanejos, catadores de caranguejo, passistas de frevo, caboclinho e maracatu, promovam a maior “guerra” de paz, confraternização, hospitalidade, civilidade, cidadania e respeito de todas as sedes, “escravizando” e “enfeitiçando” os nossos visitantes com a nossa alegria e o nosso bom humor, oferecendo-lhes as nossas belezas naturais, para o deleite dos seus olhos, as nossas iguarias culinárias, para os prazeres das suas bocas e os nossos ritmos festivos, para o encantamento das suas almas.

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Internacional

ÍCONE CULTURAL Visual anos 70

40 Estrela de Bruce Lee na Calçada da Fama de Hollywood

ANOS SEM

“Não se limite a uma forma, adapte–se e construa a sua própria, e deixá–la crescer, ser como a água. Esvazie a sua mente, ser amorfo, sem forma — como a água. Se você colocar água num copo, ela se torna o copo; Se você coloca água numa garrafa ela se torna na garrafa; se colocá–la num bule de chá, ela torna–se o bule. A água pode fluir ou pode destruir. Seja água, meu amigo.”

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E

le nunca esteve tão na moda e além de seu tempo. Seus looks dos anos 70, arrasavam, era fera também em se vestir bem. Quando os“arrasa–quarteirão” estavam ainda nos sonhos dos magnatas de Hollywood, Bruce Lee deixava os espectadores em estado de puro êxtase com efeitos especiais realistas. Grande sacada de marketing visual que o pequeno dragão habilmente inventou. O que Bruce Lee fez foi coreografar cinematograficamente a precisão das suas explosivas porradas. A indústria do entretenimento fez o resto. A técnica que Lee criou e levou para as telas — O Jeet Kune Do — “caminho para interceptação dos punhos”. Ele unificou vários estilos de combate como nenhum outro. Sua arte ajudou a fazer a ponte entre o oriente e ocidente, em plena Guerra Fria.

JUREMA

Turistas, fãs de cinema ou lutadores de artes marciais e modalidades esportivas de combate, formam aglomerados cada vez mais numerosos junto à estátua de bronze do artista, na “Avenida das Estrelas”, em Kowloon, de frente para os arranha–céus de Hong Kong. “Este monumento contempla a memória de Bruce Lee e recorda–nos o sonho que tínhamos, em criança, de um mundo livre das forças maléficas pelos defensores da justiça”. De origem chinesa, Bruce Lee chegou ao mundo em 27 de novembro de 1940, ano do dragão no calendário chinês — e era chamado de Siu–Lung, que significa “Pequeno Dragão”. Nasceu em São Francisco (Califórnia), quando os pais viajavam em turnê com um circo oriental. Mas morou na China durante a complicada adolescência, em Foshan e na vizinha Hong Kong, cidades–chave na formação dele. Foi nesta última que seu grande mestre, Yip Man, o ensinou o wing chun (ou kung fu), a arte


Shannon Lee, filha do lutador e ator Bruce Lee, posa para os fotógrafos antes do início de uma exposição sobre seu pai no museu Heritage, em Hong Kong, na China

Kato — O Besouro Verde

BRUCE LEE marcial que o tornaria vencedor naquelas ruas violentas e, mais tarde, no cinema mundial. Morreu no auge da fama, com apenas 32 anos, em 20 de julho de 1973. Mestre em artes marciais, Bruce Lee conheceu uma carreira breve, mas prolífica com filmes que se tornaram de culto como “Big Boss” (1972) ou “A fúria do Dragão” (do mesmo ano). Os seus filmes, porém, só mais tarde chegaram à República Popular da China, que na altura era um país muito fechado e vivia então em plena Revolução Cultural Proletária. Para assinalar o 40.º aniversário da sua morte, um “passeio Bruce Lee” leva os fãs sobre os passos do mestre em Hong Kong: as casas, a escola, ou mesmo um mosteiro, que aparece no filme “A fúria do Dragão”. A filha, Shannon Lee, inaugurou em julho, uma grande exposição no Hong Kong Heritage Museum, que inclui 600 itens que pertenceram ao ícone das artes marciais, incluindo livros, cadernos, e peças de roupa. Shannon Lee tinha quatro anos quando o pai morreu. “Eu conheço–o de uma forma diferente. Através das pessoas que o conheciam, dos seus amigos, da minha família, mas também através de suas próprias palavras, porque ele escreveu muito”, ao anotar todos os livros que lia, afirmou. 

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Imagens raras do pequeno Drag達o

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15 CURIOSIDADES SOBRE BRUCE LEE 1) BRUCE LEE É NORTE–AMERICANO Apesar de conhecido pelos filmes de artes marciais e de ter sido criado em Hong Kong, Bruce Lee não é chinês. O ator nasceu em San Francisco, na Califórnia, em 27 de novembro de 1940 e sua única cidadania foi a norte–americana. Além disso, possui ascendência alemã por parte de mãe. 2) NASCE O DRAGÃO Segundo a tradição chinesa, Bruce Lee nasceu na hora do dragão, entre as 6h e as 8h, no ano do dragão, 1940. A combinação dos sinais é vista como um bom presságio na tradição oriental. 3) LEE JUN FAN A mistura entre o ocidente e o oriente já está no nome do lutador. “Bruce” foi escolhido por uma enfermeira que estava atendendo no hospital em que nasceu. “Jun Fan” foi o nome dado por sua mãe e significa “despertar e fazer Fan (no caso os EUA) próspero” — ela sentia que, depois de crescido, Bruce iria retornar aos Estados Unidos. 4) APELIDO CARINHOSO A família de Bruce Lee o chamava pelo apelido de “Sai Fon”, nome feminino que significa “pequeno pavão”. Isso porque seus pais acreditavam que os deuses não queriam meninos na família (o primeiro filho do casal morreu ainda jovem). Assim, ao chamar o filho por um nome de menina eles esperavam enganar as forças do mal. 3) CURRÍCULO Ainda jovem, Bruce Lee não era um aluno exemplar . Aos 12 anos, em 1952, foi estudar na escola La Salle College, em Hong Kong — colégio de língua inglesa só para meninos. Devido ao fraco desempenho e um histórico de brigas e confusão, ele foi expulso depois de alguns anos. 6) KUNG FU OU GUNG FU? Bruce Lee sempre se referiu à sua arte marcial como gung fu em vez de kung fu. A explicação: as duas têm o mesmo significado, porém, quando escrita com “g”, a palavra faz referência à pronúncia em cantonês e, quando se usa o “k” — a forma mais conhecida —, é indicativo da pronúncia em mandarim. 7) MESTRE YIP MAN Foi aos 13 anos que Bruce Lee se tornou aluno do Mestre Yip Man, professor do estilo Wing Chun do gung fu. Mas, no começo de seu treino, o jovem usava sua força para derrotar seus adversários. Foi por meio dos ensinamentos de Yip Man que Lee entendeu que a arte marcial lhe dava a confiança necessária para não ter que defender sua honra por meio de lutas.

8) BRUCE LEE LUTAVA BOXE... Além de praticar artes marciais, Bruce Lee também era um ótimo boxeador. Em 1958, aos 18 anos, ele foi o campeão do Campeonato Interescolar de Boxe . Ele venceu a luta final por nocaute. 9)...E DANÇAVA CHA CHA. Também aos 18 anos, Bruce foi declarado vencedor do campeonato de cha cha de Hong Kong de 1958 . Ele treinava seus passos de dança com tanto empenho quando seus golpes de gung fu, e mantinha um caderno com mais de 108 movimentos de cha cha. 10) ATOR MIRIM As primeiras aparições de Bruce Lee na televisão aconteceram na infância. Seu primeiro papel foi ainda bebê, e aos 18 anos já tinha 20 filmes no currículo. Seu nome artístico era Li Xiaolong (“pequeno dragão”). 11) DE VOLTA AOS ESTADOS UNIDOS Bruce Lee voltou aos Estados Unidos em 1959, onde passou a morar em São Francisco, cidade onde nasceu. Porém, não foi o gung fu que o ajudou a se manter no novo país — e sim o cha cha. Seu primeiro trabalho foi como um instrutor de dança. 12) ALUNO DE FILOSOFIA Porém, Bruce Lee não ficou na Califórnia por muito tempo. Logo ele se mudou para Seattle, onde ingressou na Universidade de Washington. Graças a seu interesse por gung fu, ele escolheu filosofia como curso. Foram nos anos de faculdade que conheceu a mulher, Linda Emery, e criou o Instituto Jun Fan Gung de Fu — escola de artes marciais que o ajudou a pagar pelos estudos. 13) A ESTREIA NA TV AMERICANA O primeiro papel de Bruce Lee na TV americana foi na série “The Green Hornet” (“O Besouro Verde”), de 1966. Com apenas uma temporada o programa não foi um sucesso, mas Lee provou ser um bom ator quando, mesmo no papel coadjuvante, chamou mais atenção do que o protagonista (Van Williams). 14) ALUNOS FAMOSOS Como o começo da carreira de ator foi um pouco devagar, Lee dava aulas de gung fu para celebridades como forma de ganhar dinheiro. Steve McQueen, James Coburn e James Garner foram alguns de seus alunos. 15) OPERAÇÃO DRAGÃO Foi com o filme “Operação Dragão”, de 1973, que Lee alcançou o sucesso no mundo e virou uma lenda das artes marciais. Porém, o ator morreu apenas seis dias antes do lançamento do longa, no dia 26 de julho, em decorrência de um edema cerebral agudo. 

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Turismo

MAPA TURÍSTICO DO RECIFE

A temporada de verão está se aproximando e os turistas que chegarem ao Recife receberão um novo mapa turístico da cidade (ao lado: detalhe do Centro do Recife). A Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Turismo e Lazer, já está distribuindo a nova versão do material, que traz 71 pontos turísticos e de lazer. O novo mapa está disponível em todos os Centros de Atendimento ao Turista (CAT), com versões em português/ inglês e português/espanhol. “O mapa também está sendo entregue nas ações de receptivos com os turistas, bem como em eventos fora da cidade, para divulgar o Recife como destino”, afirma o secretário Felipe Carreras.

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CENTRO

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01 — Marco Zero [E4] 02 — Parque de Esculturas de Francisco Brennand [E4] 03 — Casa de Banhos [D4] 04 — Centro de Artesanato de Pernambuco [E4] 05 — Instituto Santander Cultural [E4] 06 — Caixa Cultural Recife [E4] 07 — Rua do Bom Jesus — séc. XVIII / Feira Típica [aos domingos] [E4] 08 — Embaixada dos Bonecos Gigantes [E4] 09 — Sinagoga Kahal Zur Israel / Centro Cultural Judaico de PE [E4] 10 — Museu a Céu Aberto [E4] 11 — Praça do Arsenal / Informações Turísticas [E4] 12 — Torre Malakoff — 1853 [E4] 13 — Teatro Apolo [1839] e Teatro Hermilo Borba Filho [E4] 14 — Centro Cultural Correios [E4] 15 — Rua da Moeda [E4] 16 — Igreja Madre de Deus — 1709 [E4] 17 — Paço Alfândega — 1732 [E4] 18 — Terminal Marítimo de Passageiros [E4] 19 — Forte de Brum — 1629 / Museu Militar [E4] 20 — Prefeitura do Recife [E4] 21 — Praça da República [E4] 22 — Palácio do Campo das Princesas [E4] 23 — Teatro de Santa Isabel [E4] 24 — Palácio da Justiça [E4] 25 — Capela Dourada / Museu Franciscano de Arte Sacra [E4] 26 — Mercado de São josé [D4] 27 — Complexo Cultural Pátio de São Pedro [D4] 28 — Basílica de Nossa Senhora do Carmo [D4] 29 — Casa da Cultura de Pernambuco [D3] 30 — Pálacio Enéas Freire / Sede do Galo da Madrugada [D3] 31 — Forte das 5 Pontas / Museu da Cidade do Recife [D4] 32 — Passeio de Catamarã [D4] 33 — MAMAM — Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães [E3] 34 — Assembleia Legislativa de Pernambuco [E3] 35 — Ginásio Pernambucano / Museu Louis Jacques Brunet [E3] 36 — Faculdade de Direito [E3] 37 — Câmara Municipal [E3] 38 — Parque 13 de maio [E3] 39 — Praça Maciel Pinheiro [D3] 40 — Teatro do Parque [D3]

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FERNANDO PORTELA é escritor, jornalista e roteirista. Um dos fundadores do mítico Jornal da Tarde, de São Paulo, Fernando Portela é autor de boa parte das grandes reportagens que marcaram aquele jornal. Ainda como jornalista, foi o responsável pela comunicação da Fiat do Brasil, entre 1989 e 2008. O autor chegou ao seu 46 livro, entre ficção e jornalismo. Mantém o blog “Literatura de Fernando Portela”: http://fernandoportela.wordpress.com/

Crônica

Ilustração: Marguerita Bornstein

Insensibilidades

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s noites têm sido frias, mas prefiro essa temperatura. A gente não transpira, não se sente desconfortável e, sobretudo, não é obrigada a suportar a irritação de todo mundo. É incrível como os humores mudam quando faz calor. Pelo menos no meio da rua, mesmo que esses homens tenham saído de casa para se divertir. Os clientes têm achado graça da minha cadernetinha cor–de–rosa e da caneta da mesma cor que a acompanha, presa na lombada. Dizem as bobagens de sempre, que só gente como eu é que usa isso. Às vezes, essas coisas são ditas num tom agressivo, duro. Mas eu me acostumei tanto à minha função, que já não ouço nada. Assim como também nada sinto, fiquei anestesiada de vez depois do incidente no ano passado: corte na garganta, quatro pontos na cabeça, muito sangue. E foi o próprio cara que pagou o hospital, a plástica e a indenização de dois meses parada. Como as pessoas são estranhas: o monstro que me agrediu com tanta fúria é o mesmo que ainda me liga toda semana, que me manda flores, inclusive. É por causa dele que fiquei indiferente a tudo, até ao carinho verdadeiro. Sabe, os boyzinhos são meigos, inseguros, fazem nanã, dão beijinhos. Um deles me disse uma vez: “Queria tanto que você fosse a Heleninha”. Que graça! Eu lhe disse: “Querido, a Heleninha vai acabar dando bola pra você, hoje em dia é tão difícil o amor, alguém que goste de alguém... Se você gosta dela, tanto assim, ela não deixará de perceber.” Essa insensibilidade não é nada boa, não. Eu sou gente, e gente possui sentimentos... Como é difícil mentir o tempo todo! Dia desses, fui obrigada a pedir desculpas ao carinha, ele reclamou que eu estava fria. Ele disse: “Sei que faz parte, não vou querer que você goste de mim, mas você tem de fingir legal. Tem de ser atriz. Jogar o jogo”. Eu disse: “Cara, você tem razão, vou me esforçar...” Acho que ele saiu feliz daquela noite. Por outro lado, essa frieza, essa indiferença têm lá suas vantagens. Às vezes é difícil ser tão profissional. Mas gosto mesmo é quando aparece um contador de histórias... Não quero largá–lo! Cada uma... As coisas engraçadas que as pessoas fazem, meu Deus, sobretudo nas cidades do interior... Um causo melhor do que o outro! Eu me ligo mais nas histórias de assombração, o eco dos passos dos fantasmas dentro dos casarões, os mortos–vivos que saíam dos cemitérios para dar uma volta, as noivas brancas que matavam as pessoas de susto dentro das velhas igrejas. Melhor que novela de televisão! Agora, não tenho mais tempo de ouvir lorotas. Fico com o cliente uma hora, e pronto. Está dando certo. Hoje é dia vinte e um e já faturei mais do que em qualquer mês que me lembre. Aí os caras perguntam: “O que você está escrevendo na cadernetinha?” Eu respondo que não é nada, são umas coisas que lembrei de fazer em casa, quando voltar. Mas eu quero mesmo é ter o prazer de contar cada tostão que ganho, para sentir que estou cada vez mais perto de arrancar aqueles troços e virar mulher de uma vez.  Do livro ‘Allegro”, Editora Terceiro Nome, São Paulo, 2003

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