Revista Leaf #1

Page 1




quem fez

mais

equipe

participaram

de produção

dessa edição

Idealizadores Bernardo Silva Elenay Oliveira Fernando Augusto

Capa Marcel Mello

Editores Bernardo Silva Fernando Augusto Projeto Gráfico Odde Estúdio de Design Leaf Online Bernardo Silva Elenay Oliveira Comercial Elenay Oliveira Jornalista Responsável Érica Brasil MTB 54.085-SP Editora-Chefe e Revisão Érica Brasil

agradecimentos Adolfo Morandini, Alessandro Camara, Anderson Villela, Daniel Campos, Daniele Zandoná, Daniele Teixeira, Damien Levaton, Eduardo Alves, Felipe Arantes, Giana Lorenzini, Ivan Mizanzuk, J.C. Roxo, Jair Augusto, Jaum Godoy, Jéssica Caroline, JP Piragibe, Marcos Beccari, Mônica Fuchshuber, Patricia Thiemy, Raphael Fernandes, Regina Mizuno, Talitha Andrade, Yumi Shimada e a todos aqueles que contribuíram para esse projeto.

Colunistas Aníbal Folco Auresnede Stephan . Prof. Eddy Christiane Wagner Débora Gigli Buonano Luciano Palma Maria Renata Morales Tamara Alves Tatiana Camilo Colaboradores Andy Montoya Camilla Navarro Erick Teixeira Guilherme Sebastiany Ilustração Andy Montoya Erick Teixeira Marcel Mello Marcos Cintra . Deathsign Nika Fadul

Exemplares www.revistaleaf.com.br www.editora2ab.com.br Atendimento ao Leitor leitor@revistaleaf.com.br Publicidade comercial@revistaleaf.com.br Redação redacao@revistaleaf.com.br +55 11 2254 0203 www.revistaleaf.com.br twitter.com/revistaleaf facebook.com/revistaleaf issuu.com/revistaleaf Tiragem: 2.000 Exemplares Impressão: Vox Editora Os artigos publicados não refletem a opinião da revista. É proibida a reprodução total ou parcial sem a autorização prévia da revista.

Fotografia Francine de Mattos Fernando Augusto Estudantes Amanda Coelho Danielli Felicetti Larissa Oliveira Náthalie Siqueira Renato Scopacasa

Leaf é marca registrada ®. Todos os direitos são propriedade de Odde Estúdio de Design Ltda.


editorial É com grande prazer que apresentamos a você o projeto da Leaf, que nasceu para ser uma caixa, um abrigo, um mundo, um local onde o conhecimento e as ideias pudessem ser guardados e encontrados por aqueles que têm mais fome de saber, aqueles que precisam de uma oportunidade: os jovens. Esta é uma publicação com o objetivo de apresentar o mundo do Design de forma clara e didática. Com a colaboração de profissionais e estudantes, reunimos conteúdo sobre 6 temas principais: Comportamento, Mercado, Referências Visuais, Projetos, Internet e Tecnologia. Ao longo das páginas, estes assuntos se desdobram nas matérias, entrevista e nas colunas de branding, tipografia, técnicas de ilustração e fotografia, história, cinema, tecnologia, projeto, mídias sociais, design internacional e comportamento.

Chegamos à primeira edição impressa e, por isso, resolvemos tratar de temas que surgem logo no início da faculdade. Questões sobre a carreira, qual caminho seguir e como enfrentar o mercado quando a formação chegar são pontos tratados em nossa matéria principal com texto de Andy Montoya, além da velha e boa discussão sobre os limites entre arte e design tratada por Erick Teixeira. E para completar, uma bela entrevista com dois Antidesigners, Ivan Mizanzuk do Anticast e, Marcos Beccari do Filosofia do Design. Conheça os trabalhos de Marcel Mello, que trouxe suas ilustrações para a revista e foi responsável pela capa desta edição. Isso e muito mais você vai encontrar ao longo desta publicação. Então, vamos lá, vire a página e uma ótima leitura.

Idealizadores

Bernardo Silva

Editora-Chefe

Elenay Oliveira

Fernando Agusto

Érica Brasil


sumário

comportamento

design . referências

internet

mercado

design . projeto

tecnologia

36 Muitos caminhos,

uma só certeza

Começar uma carreira é sempre difícil, mas saber por onde começar já é um grande passo. Ao terminar a graduação, é inevitável ficar um pouco perdido e na dúvida sobre o que fazer para deslanchar a carreira, até mesmo saber se é isso o que você quer pra sua vida, já que a parte teórica e acadêmica é muito diferente do cotidiano da profissão e a cobrança será grande.

inspire-se 16

28

Curvas e cores intensas

A Alemanha pelos olhos de Fritz Lang

Conheça os pensamentos e alguns trabalhos do ilustrador que criou a capa desta edição.

Quando a maioria dos filmes da época mostrava um romance, Fritz Lang foca no suspense.

32

46

Gestão de Marca X Identidade Visual A marca é um universo cultural e sua identidade deverá simbolizar, através do seu design gráfico, todos os atributos da mesma.

Fotografe uma ideia! Um site com conteúdo para todos os tipos de fotógrafos.

experimente 12

14

Ética e tendências no mundo das marcas

Fotografar ou filmar? Faça os dois!

Nesta edição o Guilherme Sebastiany respondeu duas questões: uma sobre artifícios para captar a percepção dos clientes e a outra sobre minimalismo nos logos.

Para quem gosta de fotografia e nunca usou uma câmera DSLR, é bom saber que ela vem com um modo completamente automático: basta apontar e clicar.

24

42

Tempo e memória das marcas

AntiCast

A identidade estilística é recebida como herança, uma estratégia que visa perenizar a própria marca.

Nessa edição, Leaf entrevista os antidesigners Ivan Mizanzuk e Marcos Beccari, do AntiCast.


8

fórum

96

De(ath)sign As desgraças da nossa profissão com humor (e ódio).

Este espaço será utilizado para divulgar novidades.

74 Quando o graffiti se torna arte

54 Arte x Design Arte e design caminham de mãos dadas desde muito antes do que imaginamos. Antes de tudo, vale exaltar que artistas, ilustradores e designers têm um valor de contribuição imensurável para a sociedade e sua evolução.

A arte do graffiti saiu das ruas e foi para o Museu Brasileiro da Escultura (MuBE) em uma exposição que ocorreu em julho deste ano com 20 artistas.

crie 58

66

Projeto Aquatiku’s

Antes do projeto: manual básico de sobrevivência

O briefing que norteou o projeto tratava do desenvolvimento de embalagens para produtos infantis.

Não podemos nos esquecer que cada elemento na sua criação tem um significado e um motivo.

82

86

70

78

Só seis? A intimidade em manipular os caracteres e seus desenhos já existe há muito tempo e, ainda assim, alguns tipos de letras são demasiadamente utilizados.

90

Portfólio fantasma O desafio: criar uma marca e elementos para um refrigerante que seria chamado de Leaf.

94

Desconectados

Paris e São Paulo, vice-versa... Mídias Sociais: Não sabe o que fazer? Comece pelo que NÃO fazer!

Na cultura visual, o sentido da arte e suas intervenções são importantes para a sociedade e sua evolução.

Nossa relação com as pessoas está se tornando cada vez mais frágil e criamos uma ilusão de que aquelas, que só nos deram “oi” uma vez, estão perto de nós, separadas apenas por uma conexão banda larga.

Música, tecnologia e games Descubra como é a rotina de Camilla Navarro fora da Internet.


Fórum

experimente

Capa da edição piloto ilustrada por Adolfo Morandini.

Olá leitor da Revista Leaf! Seja bem-vindo ao fórum. Este espaço será utilizado para divulgar novidades para as futuras edições da Leaf e também mostrar um pouco do que se passou até esta publicação.

O Mundo sem Design Como seria o mundo se não houvesse Design? Essa foi uma questão abordada na nossa edição piloto lançada no mês de maio e que obteve até o mês de setembro mais de 3 mil visualizações, entre leituras online e downloads. Ao mesmo tempo, colocamos no ar o nosso blog, que conta com a colaboração de profissionais e estudantes que escrevem em suas colunas assuntos de áreas específicas do design.

A revista vem crescendo a cada dia e se tornando parte da rotina dos estudantes que visitam nosso site e redes sociais, que compartilham e interagem com a equipe. Prova disso é que a revista toma corpo e agora passa ter a sua primeira edição impressa. É um trabalho árduo e delicado para melhorar o projeto; por essa razão, estamos em uma busca constante de parceiros para tornar a Leaf algo único para o Design nacional.

Dúvidas?

revistaleaf.com.br

8

Todo designer, no início da faculdade, possui muitas dúvidas e incertezas. Por isso, temos um canal aberto nas nossas redes sociais e também por email. Mande suas dúvidas, críticas ou sugestões para nossa equipe. Todas serão respondidas e algumas poderão até ser publicadas.

Você na Revista Um dos objetivos da Leaf é mostrar o jovem estudante de design para o mercado - por isso, nossas publicações estão abertas para você! Acompanhe a Revista Leaf pela internet para saber das oportunidades que surgirem. Projetos acadêmicos: Se você fez um grande projeto na faculdade ou tem um trabalho legal, aqui você encontra a chance de exibir o resultado de sua criação.


Portfólio: A Leaf abre espaço para pessoas de talento que precisam de uma chance para divulgar seu portfólio. Infelizmente, não há espaço para todos ao mesmo tempo, mas gradativamente publicaremos no blog, redes sociais e aqui na revista. Temos como desafio trazer grandes profissionais para dividir suas experiências e principalmente seu conhecimento. Então, não perca a oportunidade de mostrar seu talento para o mercado.

Ilustrações de Nika Fadul publicadas no Blog da revista. (www.nikafadul.com)

Ilustradores: As matérias e colunas da revista esperam por você! Mostre seu trabalho para nossa equipe e ganhe a oportunidade de ilustrar na revista.

Seja um colaborador

Se, ao final dessa edição, você gostar do que viu, não deixe de mostrar aos seus amigos de faculdade e trabalho. Visite nosso site, faça parte das nossas redes no Facebook e no Twitter. leitor@revistaleaf.com.br facebook.com/revistaleaf @revistaleaf feeds.feedburner.com/revistaleaf issuu.com/revistaleaf

9 leaf

Quer dividir o seu conhecimento com todos? Entre em contato e colabore com dicas de pauta, produção de textos, matérias, fotografias e ilustrações para a revista ou para o blog.


Realização

CONFERÊNCIA INTERNACIONAL + FEIRA DE ARTE E DESIGN + EXPOSIÇÕES + FEIRA + PRÊMIOS + BRINDES + PALESTRAS + PAINEL DE ILUSTRAÇÃO E GRAFFITI + FESTIVAL DE MOTION HELLOHIKIMORI MOTION (FRA)

JEREMYVILLE ILUSTRAÇÃO (AUS)

Conhecido pelo uso de tecnologia de ponta, o estúdio de criação interdisciplinar, fundado em 2004 por Nathalie Melato e David Ronhel, apresenta seus trabalhos nas áreas de design gráfico, motion graphics e design digital.

Um dos ilustradores mais consagrados de sua geração, o australiano Jeremyville traz a sua arte marcante. Com tanta experiência, o artista promete animar as cabeças criativas que estarão no evento.

STEPHANE HALLEUX TOY ART (BEL)

PUNGA DESIGN & MOTION (ARG)

O belga, criador de incríveis esculturas com visual steampunk, marca presença, compartilhando com o público seus curiosos toys, famosos em todo o mundo pela estética impecável e inusitada.

Conhecido como Tomi, o diretor argentino Tomás Dieguez, já trabalhou em agência de publicidade e hoje comanda o estúdio Punga, um lugar onde arte, design, direção, histórias se unem para criar comerciais. Um espaço que é referência na área audiovisual.

MATHIAS VERHASSELT CONCEPT ART (EUA) O artista francês de Concept Art possui oito anos de experiência na indústria do entretenimento e tem no currículo ilustrações digitais para games, como Diablo III, além de diferentes episódios da série World of Warcraft.

FEIRA DE ARTE E DESIGN

ENTRADA GRATUITA

EVENTOS PARALELOS

+ LIVE PAINTING + DR. SKETCHY’S ANTI ART SCHOOL + FESTIVAL DE MOTION + PAINEL DE ILUSTRAÇÃO E GRAFFITI + WORKSHOPS + EXPOSIÇÕES


INGRESSOS

ANTECIPADOS A PARTIR DE R$ 120,00

VAGAS LIMITADAS SÃO PAULO

SÃO PAULO SP DIAS 15 & 16 DE OUTUBRO 2011 LOCAL: FECOMERCIO GABRIEL WICKBOLD FOTOGRAFIA (BRA)

MARCELO CAMPOS & CONVIDADOS

HQ (BRA)

O fotógrafo paulista, criador da incrível série Sexual Color, vem ganhando cada vez mais destaque com seus trabalhos marcados pela estética do choque. Sua arte já foi exposta em Nova York, Londres e Milão e estará agora no Pixel Show.

Criador do personagem QuebraQueixo, Marcelo Campos é um dos maiores nomes dos quadrinhos brasileiros. Já trabalhou em gigantes do mercado, como DC Comics e Marvel. Campos chega ao Pixel com mais dois nomes de peso dos comics: Renato Guedes e Ig Guara.

TATIL DESIGN DESIGN GRÁFICO (BRA)

GALERIA VERMELHO GALERIA (BRA)

Com escritório no RJ e em SP, a Tátil Design é a empresa de design e branding responsável pelo desenvolvimento do logo das Olimpíadas 2016 no Brasil. Com uma lista de cliente como Natura, Brastemp, Nokia e TIM, já possui diversos prêmios em seu portfolio.

Idealizada por Eliana Finkelstein e Eduardo Brandão, foi inaugurada em 2002 e é hoje um dos pontos culturais mais efervescentes de São Paulo, divulgando o que há de mais recente e inovador relacionado às artes.

VETOR ZERO PRODUTORA (BRA)

PIANOFUZZ DESIGN GRÁFICO (BRASIL)

Com quase duas décadas de vida, a Vetor Zero é um estúdio pioneiro em 3D no Brasil, produzindo peças comerciais e animações para agências de publicidade e clientes de vários países.

O estúdio de design gráfico tem como prioridade a representação visual inusitada e inteligente, seja no meio impresso ou digital. Sua formação atual conta com os designers Maikon Nery, Edmarlon Semprebom e Rafael Botti.

WWW.TWITTER.COM/ZUPI WWW.FACEBOOK.COM/PIXELSHOW WWW.FLICKR.COM/ZUPIDESIGN

Media Sponsor:

7ª EDIÇÃO

WWW.PIXELSHOW.COM.BR INFO@PIXELSHOW.COM.BR CONTATOS: (11) 3926.0174


experimente Guilherme Sebastiany responde

Ética e tendências

A cada edição um profissional responderá as suas dúvidas de acordo com a área em que ele atua. Você pode mandar sua pergunta através de nossas redes sociais ou pelo e-mail: leitor@revistaleaf.com.br

Guilherme Sebastiany é diretor de projetos da Sebastiany Branding, já lecionou sobre estratégia e criação de marcas em diferentes universidades, mas ainda tem muito que aprender. Definitivamente, não é o dono da verdade.

revistaleaf.com.br

12

Daniele Zandoná: Até onde ir no uso de artifícios para captar a percepção dos clientes e fidelizá-los sem esbarrar na ética? É ético estimular os brand lovers a qualquer custo?

Gostei de você ter usado a palavra “artifícios”, Daniele, pois justamente lembra algo “artificial” e, portanto, nada verdadeiro. Se você não é verdadeiro na sua promessa de marca, seja com o seu cliente ou consigo, alguma coisa está errada.

que ocorreu com a BP após o vazamento de petróleo no golfo do México no ano passado. Neste contexto, usar de artifício não é apenas antiético, mas é também uma estratégia burra para cultivar os fãs da sua marca.

Artifícios são realmente viáveis para compor uma promessa de marca. Mas não são suficientes para garantir uma entrega ou mesmo sustentar-se por muito tempo. No final, quem sua marca realmente é acaba transparecendo em suas ações e decisões; afinal, nenhuma “mentira” pode ser sustentada por muito tempo. Um bom exemplo disso foi o

Por outro lado, da mesma forma que em um jogo de sedução, é válido você mostrar e enaltecer o que tem de melhor, e, quem sabe, até florear um pouco (não muito). Nenhuma empresa é perfeita, mas é legítimo, sim, mostrar o que se tem de melhor. Neste sentido, ser verdadeiro, autêntico e fazer o que é certo atrairá também “brand lovers” qualificados.


no mundo das marcas

Oi Rodolpho, tudo bem? Sério que você tem notado isso? Sinceramente, o que percebo é o contrário. Durante as décadas de 50, 60 e 70, o design de marcas (ou logos) gerava desenhos bem mais sintéticos, até mesmo porque a dificuldade de aplicação das marcas demandava mesmo desenhos mais simples e fáceis de reproduzir. Com a introdução da computação gráfica na década de 1980, houve até um período de excessos, onde a profusão de detalhes, recursos e efeitos foi tão exagerada que na década seguinte houve até uma retração, na busca de um maior equilíbrio. Ainda vemos excessos ilustrativos muito presentes nas coletâneas de logos atuais em livros como os da série “los logos”. Mas, se falarmos hoje de internet e rede sociais, consigo perceber, sim, um pouco do que você está falando. Não como uma “tendência” geral no design de marcas, mas como mais uma vertente. Da mesma forma como ocorreu na metade

do século passado, acredito que o motivo agora é novamente técnico. Eu explico. A aplicação da marca, nas suas formas digitais menores, como favicons, avatares e ícones de aplicativos (todos em quadrados de poucos pixels), passou a ser importante principalmente para logos de redes sociais, sites e aplicativos móveis, bem como para as demais marcas com forte presença digital. Isso provavelmente (não se pode ter certeza) foi o que levou muitos designers a proporem formas mais sintéticas. Como estão muito em evidência, não seria estranho de se notar que essas novas marcas digitais influenciassem também outros projetos fora deste universo. Mas quer uma dica final? Se apegue mais às necessidades de cada projeto e não às “tendências”, até mesmo porque se forem passageiras, não serão úteis para uma marca que queira durar.

13 leaf

Rodolpho Pacolla: Tenho notado que os logos têm cada vez menos detalhes, estão mais simples. É uma tendência esse “minimalismo” nos logos? Há uma explicação mercadológica para isso?


descomplica

experimente

Fotografar ou filmar?

revistaleaf.com.br

14

Faça os dois!

Quem já fotografou com uma câmera DSLR próximo de qualquer pessoa leiga sabe que a primeira pergunta é: “Essa câmera também filma?”. Até pouco tempo atrás, a sua resposta só poderia ser negativa e a expressão de decepção/pena da pessoa era inevitável (afinal de contas, a sua com certeza custou muito mais caro que a dele, que além de ter zilhões de megapixels, ainda filma, tem super zoom, jogos, TV digital, mp3, mp4, mp5, mp… Só não fotografa direito. Mas, enfim, esse é assunto para outro artigo). Pois bem, a Canon decidiu mudar isso e seus recentes lançamentos incluem a filmagem – e muito boa, por sinal.

Um deles é a Canon EOS 600D (nos Estados Unidos comercializada como EOS Rebel T3i). Lançada em fevereiro desse ano, é considerada uma DSLR de entrada para uso semiprofissional (aqui no Brasil, devido aos preços, esse tipo de câmera também acaba sendo usado profissionalmente). Para quem gosta de fotografia e nunca usou uma câmera DSLR, é bom saber que ela vem com um modo completamente automático: basta apontar e clicar. Ela ainda permite o intercâmbio de lentes e uso de flash externo. E se a dificuldade for “capturar o momento”, use o modo sequencial, que bate 3,7 fotos por segundo. Aprenda a usar o modo manual da câmera e descubra todas as possibilidades da fotografia.

Kit com Canon EOS 600D + lente EF-S 18-55mm f/3.5-5.6 IS II R$ 2.600,00 (Brasil) US$ 850,00 (Estados Unidos)


Confira algumas características: - Sensor CMOS de 18 megapixels - Slot para cartão de memória SD/SDHC/ SDXC - Visor LCD articulável de 3 polegadas - Sensibilidade ISO 100 até ISO 6400 - Filmagem Full HD (1920 x 1080 px / 30 fps) - Compatível com todas as lentes EF e EF-S da Canon - Flash embutido

15 leaf

Nas câmeras DSLR (digital single-lens reflex ou reflex monobjetiva digital), a imagem que aparece no visor da câmera é exatamente a mesma “vista” pela lente. Ela é refletida por um pentaprisma e gravada por um sensor ótico. A diferença básica para as câmeras analógicas (SLR) é na gravação das imagens: nas analógicas, a luz é gravada nos grãos de prata do filme e nas digitais, essa gravação é feita por um sensor CMOS ou CCD. A quantidade de pontos sensíveis à luz nesse sensor é que vai determinar a resolução (megapixels).


revistaleaf.com.br

tĂŠcnicas: cor e contorno

inspire-se

Curvas e cores

16

intensas


Marcel Mello, pernambucano, desde 2001 morando em São Paulo, traba-

17

Depois que está pronto esse rascunho, defino para qual saída vou fazer. Se vai ser simplesmente uma imagem em alta definição ou mesmo se vou reproduzir à mão sobre uma tela ou outra superficie. Acho que já deu pra notar que o que deve ser pensado é o conceito e não o formato de saída, pois isso acaba limitando a nossa capacidade criativa. Quanto ao tempo de produção, isso é relativo, pois às vezes tenho coisas mais “lights” que não dispendem de tanta pesquisa ou requinte de detalhes na composição da peça. Mas independente de tudo, o acabamento tem sempre que ser o melhor que eu possa fazer, assim procuro sempre melhorar e daí abrir novas oportunidades no meu trabalho.

leaf

lhou como diretor de arte e ilustrador em várias agencias de publicidade. Procurando sempre passar algo alegre para as pessoas, utilizando formas curvilíneas e cores intensas. Podemos definir como algo pop o seu ambiente lúdico, por onde caminhamos desde a mitologia antiga até o folclore brasileiro. Assim como em tantas outras profissões, ser designer pra mim é antes de tudo, ter uma visão diferente das coisas. Não somente achar algo “bonitinho” mas ler nas entrelinhas o que cada objeto, imagem ou cenário tem a passar para cada um de nós. Pensar como designer, primeiramente e descobrir qual a sensação que queremos ou temos de transmitir para os outros. A minha por exemplo é trazer diante de um mundo tão cinza e tão acelerado, um pouco mais de cor e alegria para o público. Apesar das imagens serem vibrantes e otimistas, não são simplesmente feitas ao acaso. Todas tem uma legenda embutida. Posso dizer que é como se cada trabalho meu fosse como um biscoito chinês, que traz para cada pessoa uma mensagem diferente. Antes de ficar na frente do computador por horas, começo sempre rascunhando no papel, buscando o formato ideal, seja para uma ilustração, logotipo ou qualquer que venha a ser o trabalho a realizar. Esse momento é o mais importante, pois ele transporta a ideia que está na sua cabeça para o mundo real. O computador apenas refina (ou não) esse material. Como eu faço várias coisas ao mesmo tempo, uso o recurso digital para agilizar processos. Depois que tenho o rascunho finalizado, jogo na tela e faço ali o teste de cores e assim definir como será o arquivo finalizado.


revistaleaf.com.br

18

tĂŠcnicas: cor e contorno

inspire-se


leaf

19




revistaleaf.com.br

22

tĂŠcnicas: cor e contorno

inspire-se


leaf

23


Tempo e memória

fundamentos

experimente

das marcas

revistaleaf.com.br

24

Muitos países europeus fundaram nos séculos 17 e 18 manufaturas reais para a fabricação de determinados produtos de luxo, como lou-

Débora Gigli Buonano é Mestre em Educação, Artes e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Professora de História do Design no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, Universidade São Judas Tadeu e conservadora do muBA - Museu Belas Artes de São Paulo.

ças, têxteis e móveis. Este artigo propõe, portanto, o estudo de algumas delas e a relação existente entre arte e design; tempo e memória. O que ainda está presente nestas marcas, que em pleno século XXI continuam com o glamour de sempre? Uma das primeiras manufaturas foi a companhia de cristais Baccarat, fundada em 1764, na província de Lorraine, leste da França. A partir de então, a marca Baccarat representa charme e opulência, sobrevivendo às guerras e revoluções. Pioneira na relação tecnologia e design, marcou a história por produzir frascos de cristal para perfume, substituindo a porcelana e o vidro. Baccarat procurou, no decorrer de sua história, unir arte e sociedade francesa. Juntou gosto e qualidade na busca desta perfeição e contratou designers que traduzissem este desejo nas mais belas peças. Seguindo esta prática nos séculos XX e XXI, contrata os serviços do francês

Philippe Starck, designer com desenhos arrojados que propôs releituras das peças mais clássicas, assumindo, assim, aspectos inusitados das tendências de tal maneira que a produção Baccarat passa a se alinhar dentro das propostas da contemporaneidade, sem perder seus princípios básicos de arte e design. Da mesma maneira, a marca Lalique é sinônimo de luxo desde 1885, quando René Jules Lalique tornou-se o conhecido e respeitado criador do estilo Art Nouveau, facilmente identificado nas linhas sinuosas e o alongamento das formas florais inspiradas diretamente na natureza, bem como do Art Déco, cujas formas eram de referências estilísticas de um eclético leque de fontes, incluindo civilização egípcia, surrealismo, futurismo, cubismo, construtivismo, cultura popular e movimento moderno, exprimindo assim, nas mais estilizadas formas, seus objetos de luxo como vasos, taças, estátuas, jarros, perfumes e joias. Tais produtos refletem o modo artístico e artesanal da marca, exibindo, muitas vezes, seus trabalhos nas exposições de Paris.


O que ainda está presente nestas marcas, que em pleno século XXI continuam com o glamour de sempre? inicialmente em suas peças o simplificado estilo Jugendstil. Contudo, por volta de 1905 e 1907, os objetos sofrem a reforma da Deustcher Werkbund. Com o passar do tempo, foram assumindo diferentes formatos e a Rosenthal passa a receber projetos de muitos designers, como é o caso de Raymond Loewy. O que garante a longa vida destas marcas é, sem sombra de dúvida, a sintonia com os códigos artísticos e, sobretudo, a harmonia com as épocas. Assumem a atualidade; porém, a identidade – que é o que lhe dá o reconhecimento – é legível com projetos criativos coerentes no tempo e no espaço, recorrentes, quase sempre, aos elementos do passado, às características estilísticas formais, como Art Nouveau e o Art Déco. Mesmo sendo elas totalmente atualizadas, carregam, ainda, como referências de memória, características destes estilos, o que lhes garantem o sucesso com o fiel público, que busca encontrar a qualidade, bem como as formas que asseguram a elas à unidade estilística, a estética própria. Estas marcas permanecem presentes na história do design, pois remetem ao

25 leaf

Também reunindo arte e design, encontramos a marca Christofle, de 1830, dedicando sua produção ao domínio da técnica de transformar prata e ouro em objetos como talheres e bandejas, revolucionando a ourivesaria francesa. Devido à sua qualidade, foi fornecedor oficial da corte francesa em 1855. Também acompanhando os estilos de época, uniu a técnica à arte, orientando sua produção às tendências do Art Déco francês. As mais novas marcas, da mesma maneira que as antigas, unem em seus trabalhos arte e design, como a Versace. Os objetos da marca Versace carregam os conceitos e elementos da arte. Em seus vasos, a união das folhagens dos capitéis greco-romanos, meandros, elementos decorativos dos vasos gregos, as fortes referências da mitologia ao barroco com resgate de ornamentos renascentistas, criou códigos de memória da cultura italiana, mantendo uma identidade estilística. Dentro desde mesmo processo, a Rosenthal, fundada em 1879 na Alemanha por Philipp Rosenthal e especializada na decoração de porcelana, foi transformada em fábrica a partir de 1891 e aplicava


fundamentos revistaleaf.com.br

26

seu público consumidor benefícios simbólicos e suas imagens estão arquivadas na memória do consumidor. A identidade estilística é recebida como herança, uma estratégia que visa perenizar a própria marca. As diferentes épocas culturais são absorvidas por estas marcas, atualizando a linguagem formal dos objetos e inserindo novas técnicas, aspectos esses de um mundo contemporâneo globalizado, onde a sociedade de consumo está em constante mutação. A aquisição de uma peça como um Baccarat ou Lalique e demais, é sempre acompanhada pelo fator da sedução e emoção que estão implícitas no objeto, gerando a felicidade no consumidor, sendo protagonista a identidade da marca. O resgate da memória para as marcas, como as citadas acima, é fundamental para a produção no presente e no futuro,

pois sem a preservação da mesma, há a perda de referências, e são estas referências que mantêm o vigor das marcas em plena pós-modernidade. Ao propor novas releituras a partir das memórias projetuais, Versace, Rosenthal, Cristofle e Lalique propõem ao consumidor um tempo fora do tempo, onde passado e presente assumem sempre a força das marcas, tornando-as um mercado de luxo necessário – sempre atual e presente.



A Alemanha pelos olhos

hasta la vista

inspire-se

de Fritz Lang

revistaleaf.com.br

28

Tamara Alves é estudante do curso de jornalismo na PUC-SP. Adora ler bons livros ouvindo boas músicas. Interessa-se por tudo que esteja relacionado à área cultural, principalmente a sétima arte. @tamaraalves

Peter Kürten já tinha um vasto currículo criminoso. Cresceu em uma família desestabilizada psicologicamente e, desde criança, já cometia crimes que iam de furtos a homicídios. Segundo o próprio Peter em depoimento, seu primeiro crime foi cometido quando aos nove anos de idade. Matou dois amigos afogados. Na época, as mortes foram tidas como acidentais. Mas foram os crimes cometidos a partir do ano de 1925 que tornaram Peter célebre. Ele matou um casal de crianças a facadas. Peter foi condenado e executado por decapitação em 2 de julho de 1931. A macabra história deu origem a um dos clássicos cinematográficos mais importantes do cinema alemão, o filme “M - eine Stadt sucht den Mörder” (M O Vampiro de Dusseldorf), dirigido pelo austríaco Fritz Lang. Para se entender a importância da obra, é necessário, em um primeiro momento, situá-la como um fenômeno cultural que representa uma sociedade em

um determinado período, e aqui se mostra a verdadeira genialidade do filme. Cinematograficamente falando, a Alemanha viveu um apogeu que começou com algumas obras esparsas às vésperas da 1° Guerra Mundial, mas ganhou força após o término desta. As obras tinham como base o expressionismo (se pararmos para observar, alguns filmes como “O gabinete do Dr. Caligari”, que inicia o movimento no cinema, parecem quadros expressionistas que ganharam vida). Uma frase que caracteriza o expressionismo é “O expressionista já não vê: tem visões”, escrita por Lotte H. Eisner. De fato, nesta estética, não importam os fatos, mas aquilo que eles evocam. E aqui entramos no panorama político da Alemanha pós 1° Guerra. Com a derrota, o povo alemão se encontrava em uma esfera de incertezas e de medo, o que garantiu que as idéias de Hitler ganhassem forças e o nazismo se instalasse. Toda crise era expressa na arte expressionista, com obras que davam vazão ao imaginário em contraponto à realidade, evocando temas fúnebres e repletos de horror. A dramaticidade se mostra nas atuações carregadas, na maquiagem excessiva, nos cenários estilizados e no clima de suspense. Diversos filmes marcaram essa fase do cinema alemão, entre eles “O Golem”, “Nosferatu” e “Metrópolis”. Em meados dos anos 30, Fritz Lang e sua mulher Thea von Harbou procuravam


Quando a maioria dos filmes da época mostrava um romance, Fritz Lang foca no suspense. atmosfera do filme. Logo na primeira cena, crianças cantam uma cantiga sobre um assassino com a sua machadinha, introduzindo o espectador à temática do longa. No encontro da pequena Elsie com Hans, vemos as sutilezas de Fritz na direção. A garota brinca jogando sua bola em um cartaz que reproduz uma notícia sobre duas crianças desaparecidas. E então vemos Hans se aproximar, não de uma maneira comum, mas pela sua sombra no cartaz. Em contrapartida, temos a mãe preocupada com a demora da filha. Percebemos a ausência de Elsie nos detalhes como a passagem do tempo no relógio cuco, a mesa do jantar vazia e o grito da mãe que ecoa por uma longa escadaria. Hans leva a menina para comprar um balão. Enquanto espera o troco, assobia uma canção. Neste ponto temos o momento da morte de Elsie. Não espere uma cena sangrenta e de gosto duvidoso. Fritz Lang, como disse anteriormente, prima pela sutileza. A alma deixando o corpo da criança é simbolizada pelo balão subindo ao céu. Quando as investigações sobre o caso começam, temos sequências rápidas

29 leaf

uma história sobre assassinos quando, por meio do Departamento de Homicídios de Berlim, se depararam com a história de Peter Kürten. A princípio, o nome do filme seria “Mörder unter uns” (O assassino está entre nós), mas o sugestivo título causou um efeito negativo em uma Alemanha onde o nazismo começava a se instalar. Para evitar confusões, o título foi modificado para “M”, inicial de Mörder, ou assassino em alemão. Quando a maioria dos filmes da época mostrava um romance, Fritz Lang foca no suspense sobre Hans Beckert (vivido pelo excelente Peter Lorre) e sua obsessão por crianças. É a primeira vez que um filme explora o lado psicológico de um vilão, no caso, um maníaco sexual. A história se passa na cidade de Dusseldorf, onde crianças somem causando uma onda de pânico. Tais crimes chamam a atenção da polícia, que promove uma caçada ao homicida. Entretanto, o envolvimento da polícia acaba atrapalhando o “trabalho” dos criminosos da região. Incomodados com a situação, os próprios decidem organizar uma investigação paralela do caso. São muitos os pontos a se ressaltar sobre o longa metragem de Fritz Lang. Suas preocupações com os detalhes e com os simbolismos dão um ar denso à


hasta la vista revistaleaf.com.br

30

de câmera. Segundo Fritz Lang, um filme policial é como um documentário. Sendo assim, não cabe o uso de longas sequências com enquadramentos mais artísticos. No trecho do filme quando os policiais estão de um lado e os criminosos de outro, se reunindo para discutir maneiras de encontrar o assassino, observamos que os dois grupos, além de se vestirem e se comunicarem de maneiras semelhantes, também estão envoltos em fumaça de cigarro. É uma das características de filmes noir, uma maneira de mostrar a ambiguidade dos personagens em seus aspectos psicológicos, como se a fumaça cobrisse suas intenções. Este foi o primeiro filme sonoro da Alemanha e, Fritz Lang, muito sabiamente, se apropriou do fato e utilizou o som para desvendar o mistério. A maneira encontrada pelos criminosos para descobrir quem é o assassino é colocar todos os mendigos da cidade em alerta. Um deles é o cego vendedor de balões que, ao ouvir novamente o assovio de Hans, lembra-se do dia em que Eslie desapareceu, liga os fatos e encontra o maníaco. Após uma longa perseguição, Hans é encurralado pelos criminosos que decidem julgá-lo segundo as suas leis. Nesta

parte, temos o ápice da interpretação de Peter Lorre, afirmando que ele não tem culpa do que acontece. Segundo o assassino, é como se algo tomasse conta do seu corpo. Vale lembrar que para saber o que acontece com pessoas com distúrbios psicológicos, Fritz visitou diversos manicômios. Os criminosos o condenam à morte, mas a polícia chega e o salva do seu trágico destino. Hans Becker, então, é julgado pela justiça comum. “M – O Vampiro de Dusseldorf” foi um dos últimos filmes da era de ouro do cinema alemão. Com a ascensão do nazismo, muitos artistas tiveram que abandonar a Alemanha, incluindo os atores Peter Lorre, que era judeu e o próprio Fritz Lang, meio judeu, que em 1933 mudou-se para os Estados Unidos, dando seguimento a sua carreira em Hollywood. A esposa de Fritz Lang, corroteirista de “M”, ficou na Alemanha e tornou-se membro do Partido Nazista.

Cartaz do filme.


leaf

31


inspire-se

Gestão de Marca X Identidade Visual

branding

Ainda que a marca seja o maior capital de uma empresa, notamos também que a sua gestão ainda mal começou na grande maioria das corporações. Somado a isso, obser-

revistaleaf.com.br

32

Auresnede Stephan Prof. Eddy Bacharel em Desenho Industrial pela FAAP. Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universiade Presbiteriana Mackenzie. Professor na FAAP, ESPM, Santa Marcelina e IED. Membro do Conselho do Museu da Casa Brasileira.

vamos também que existe uma falta de clareza por parte de muitos empresários e mesmo profissionais no mercado em distinguir a Gestão da Marca e o Programa de Identidade Visual. Quando definimos a necessidade de Gestão da Marca, precisamos entender inicialmente quais são suas funções, principalmente junto aos seus consumidores, quando produtos, e usuários, quando serviços. Assim, vamos aqui refletir sobre alguns itens de fundamental importância relacionados a estas funções:

1. De referência: Ver claramente, situar-se em relação à produção setorial, identificar rapidamente os produtos procurados.

2. De praticidade: Permitir ganho de tempo e de energia na recompra de produto idêntico pela fidelidade. 3. De garantia: Segurança de encontrar uma qualidade estável em todos os lugares e a todo instante. 4. De otimização: Segurança de comprar o melhor produto de sua categoria, com o melhor desempenho para um uso específico. 5. De personalização: Sentir-se reconfortado com sua autoimagem ou com a imagem que é passada aos outros. 6. De permanência: Satisfação com a familiaridade e a intimidade das ligações com uma marca que foi consumida durante anos e que ainda dura. 7. Hedonista: Satisfação ligada à estética da marca, seu design e suas comunicações. 8. Ética: Satisfação ligada ao comportamento responsável da marca nas suas relações com a sociedade (ecologia, emprego, cidadania, publicidade não chocante). No momento em que temos definidas as funções com clareza, vamos aqui definir a plataforma da marca que deverá levar em consideração alguns componentes:

1. Por que essa marca deve existir. O que faltaria aos consumidores caso a marca não existisse. 2. Ponto de vista. Em função de qual ponto de vista a marca se exprime. 3. Visão. Que visão a marca tem da categoria de produto.


animam.

5. Missão. Qual é a missão que a marca se atribui no mercado. 6. Conhecimento técnico. Qual o know-how específico da marca. 7. Território. Onde a marca é legítima para realizar sua missão (em que categorias de produto). 8. Produtos ou atos típicos. Que produtos ou que atos encarnam melhor esses valores e essa visão (quais são os melhores exemplos). 9. Estilo e linguagem. Quais elementos de estilo são típicos da marca. 10. Reflexo. A que destinatário nos endereçamos. Qual é a imagem que queremos passar do cliente. Este complexo universo acima descrito pode ser considerado um profundo checklist. Toda empresa que pretende adotar uma Gestão de Marca deve abordá-lo continuamente em suas reuniões e, com isso, efetivamente administrar sua empresa ou instituição. Tendo-se com clareza as informações e respondido pelo menos 70% dos dados acima, vamos ao passo seguinte: entender a complexidade da construção de uma identidade visual. Quando estudamos grupos sociais ou as minorias, falamos frequentemente de “identidade cultural”. Exatamente, precisamos entender que a empresa ou a instituição também vai precisar se comu-

A marca é um universo cultural e sua identidade deverá simbolizar, através do seu design gráfico, todos os atributos da mesma. nicar junto ao seu público utilizando “sua identidade visual”, que será a forma de estabelecer a comunicação com o seu grupo social de consumidores ou usuários. No contexto em que vivemos, com as mais variadas mídias, sejam impressas ou digitais entre outras, somos bombardeados com as mais diversas mensagens e, nesta selva de informações, grande parte das identidades visuais criadas não apresentam o devido impacto necessário, fazendo com que sejam ilustres desconhecidas. Uma estratégia precisa então passa a ser adotada inicialmente, no sentido de responder com clareza a quatro perguntas básicas: A identidade visual será criada por quê? Para quem? Para quando? Contra quem? Uma vez definidas as respostas com clareza e objetividade, vamos entender que: 1. Que a marca será construída por uma expressão visual de características objetivas. 2. A expressão gráfica da marca deverá traduzir a “personalidade” do empreendimento.

33 leaf

4. Valores. Quais os valores que nos


branding revistaleaf.com.br

34

3. A marca é um universo cultural e sua identidade deverá simbolizar, através do seu design gráfico, todos os atributos da mesma. 4. A marca é um reflexo dos seus conceitos, como por exemplo, sua missão, e que deverão ser traduzidos pela sua estrutura gráfica visual. 5. Um fator fundamental é o que diz respeito à mentalização, que através da associação simbólica da identidade visual, será o elo da empresa com seu consumidor e/ou usuário. Tendo-se todos esses fatores acima devidamente analisados de forma técnica, fica extremamente evidente que criar um logotipo exigirá a contratação de um profissional ou agência especializada – altamente capacitados a traduzir graficamente, através da tipografia e da simbologia, a solução gráfica adequada ao universo da empresa. Daí, o segundo passo será produzir o manual da identidade visual, treinar

toda a equipe de colaboradores a utilizá-lo de forma eficaz e implantar todo o sistema de comunicação de forma coordenada e técnica. Como exemplo de atitude profissional e empresarial, observe com atenção a forma de comunicação da Apple, com a configuração da sua maçã e suas aplicações nos produtos e pontos de venda, aliadas ao seu sistema de comunicação. Evidente que sua empresa pode não ser a Apple, mas ela merece, independente da sua dimensão ser micro, pequena, média ou grande empresa, um cuidado especial na sua gestão vinculado a um cuidadoso sistema de comunicação que atinja seu público alvo. Para se aprofundar mais neste empolgante tema, sugerimos a leitura do livro As Marcas, de Jean-Noël Kapferer, publicado pela Bookman Editores.


leaf leaf

35


experimente

Muitos caminhos, uma só certeza Começar uma carreira é sempre difícil, mas saber por onde começar já é um grande passo.

texto e ilustração Andy Montoya

revistaleaf.com.br

36

Quando se inicia como designer, um leque imenso de opções se abre. São tantos os caminhos, que fica difícil escolher qual seguir logo de cara. O bacana seria experimentar um pouco de tudo, mas fica quase impossível por conta do nosso ritmo de vida, sempre acelerado. Ao terminar a graduação, é inevitável ficar um pouco perdido e na dúvida sobre o que fazer para deslanchar a carreira, até mesmo saber se é isso o que você quer pra sua vida, já que a parte teórica e acadêmica é muito diferente do cotidiano da profissão e a cobrança será grande. Como disse o escritor inglês Thomas Fuller: “Tudo, antes de ser fácil, é difícil.” Particularmente, tive muita sorte no início da carreira. Comecei em uma agência full service (agência-faz-tudo) onde aprendi muito sobre os diversos tipos de mídia e todo o racional por trás de cada uma delas. Em 1999, parti pra uma agência especializada e me encantei com o mundo web, enxerguei muitas possibilidades e isso mudou minha vida:

quanto mais plural eu me tornava, mais trabalho, desejos e aspirações eu tinha. Com o tempo, ganhei uma visão mais global sobre a área e aos poucos consegui distinguir as oportunidades e armadilhas do mercado. Assim, posso hoje compartilhar algumas dicas de como começar, se desenvolver e construir um sólido plano de carreira!

Formação Com a lei de regulamentação da profissão de designer ainda em andamento, é complicado dizer exatamente qual dever ser a formação. Ao meu ver, esse assunto é bastante polêmico e existem discussões infinitas sobre isso por aí. Meu ponto de vista é bem prático e acredito que existem várias formações que te levam a ser tornar designer. É claro que cursos como desenho industrial são mais focados e mais completos para isso, mas nada impede que uma pessoa formada em artes plásticas venha a ser um excelente designer também. O que


leaf

37


carreira revistaleaf.com.br

38

vou falar aqui não é sobre a graduação e sim sobre os cursos complementares que podem fazer muita diferença no seu crescimento profissional. Chegar ao tão sonhado canudo não é sinônimo de ponto final! Pelo contrário, imagine que assim como você, muitos outros também o conseguiram e sendo assim, qual será o seu diferencial? Os cursos extracurriculares podem turbinar sua formação acadêmica e te dar grande vantagem na corrida por uma colocação no mercado. Alguns destes cursos já estão se tornando essenciais, como é o caso do idioma inglês; portanto, vamos aos mais técnicos e relevantes para uma largada digna do Ayrton Senna. As escolas brasileiras de design, influenciadas pela Bauhaus e Ulm, têm um alto nível de qualidade e estão entre as melhores do mundo. Acontece também de escolas renomadas no exterior desembarcarem por aqui, o que é ótimo para nós, pois assim temos mais opções e conhecemos o jeito de fazer design de outras culturas. Exemplos destas instituições são: Miami Ad School (EUA/UE) e Instituto Europeo di Design (Itália). Das nacionais que mais se destacam, posso citar de bate pronto a Belas Artes, Faap, Senac e Panamericana, além, é claro, das excelentes escolas públicas federais e estaduais como é o caso da Unesp de Bauru, que sempre teve seu curso de desenho industrial como referência nacional e altas notas nas avaliações do MEC. Para incrementar o CV, procure certificações voltadas ao cargo que espera desempenhar. Para designers gráficos, por exemplo, é indicado se aperfeiçoar na teoria das cores, tipografia, ilustração e diagramação. Já para designers voltados a motion/3D o foco é outro e o ideal é estudar mais sobre técnicas de modelagem,

texturização e renderização. Portanto, o caminho que pretende seguir será seu guia para a sua especialização. Costumo dizer que sou designer, apenas designer, pois gosto da ideia de poder criar qualquer coisa, de abajur a hotsites, de ilustrações a jornais, de marcas a toyart, enfim, liberar a imaginação e conhecimento em prol da criação. Mesmo não limitando o que posso ou não criar, procurei me especializar. Acredito ser importante fazer um pouco de tudo, o que torna você uma pessoa multidisciplinar, mas para o mercado, é importante que você seja completo e ainda atenda a todas as exigências do cargo, que em geral, são bem específicas. Portanto, no quesito formação, seja como uma esponja e absorva tudo sempre. Aprender te faz pensar, te faz mudar, todo conhecimento expande um pouquinho mais seus horizontes e te dá novos pontos de vista.

Portfólio O portfólio, pra quem ainda não é familiarizado com o termo (que, aliás, pode ser escrito de várias formas), é um conjunto de trabalhos pré-selecionados pelo criador para se apresentar ao mercado. Esse agrupamento de peças pode ser de qualquer segmento de trabalho, seja de web, gráficos, tipos ou de ilustrações, vídeos, arte e fotografia. A mistura de tipos de projetos também é possível, desde que seja esse o perfil do profissional. Se você procura uma colocação como ilustrador, apresentar trabalhos de fotografia pode não contar muito a seu favor. Para se criar um bom portfólio é simples. Basta selecionar entre seus projetos os 15 que julgar serem os melhores. A grande questão é: melhores em quê? Dependendo do que se pretende,


Network Pra você que é designer (ou quase um) e quer trabalhar em agência, eu tenho uma boa notícia: sempre existem vagas! Sim, uma das principais características do setor é o alto turnover das equipes de criação por um simples e corriqueiro motivo; designers são inquietos e este comportamento é quase unânime entre os profissionais do setor, pois eles gostam de se aventurar, são curiosos e têm sempre um gás extra pra encarar um novo projeto, seja em casa ou no vizinho. Este tipo de atitude é excelente para o exercício da criatividade e todas essas

Canais de Comunicação

In

@

T

C F

mudanças incentivam o desenvolvimento e acumulam referências que exercem influência no seu trabalho. Para aproveitar toda essa abertura que o mercado permite, existe uma ferramenta perfeita – sua rede de relacionamento. Você ainda não tem uma? Pois então corra, suas chances de conseguir uma boa colocação estão drasticamente reduzidas sem ela. Grande parte das recolocações na área de criação acontece por conta de indicações dos próprios membros da equipe, porque desta forma se chega bem mais rápido em alguém qualificado e de confiança, já que o tempo é um item bem escasso no setor. A forma mais fácil de manter esse relacionamento com colegas de profissão é a internet. Faça proveito do poder das redes sociais, se cadastre naquelas focadas e mais profissionais como LinkedIn e Behance. Participe também de fóruns e blogs especializados, tenha uma lista matadora dos melhores feeds de design e se possível comente os posts e leia o que os outros estão dizendo sobre o assunto.

Be

39 leaf

as variáveis são grandes e podem ser determinantes numa contratação. Algumas vagas exigem grande valor criativo, outras requerem um pouco mais da produção e acabamento. Cabe ainda as agências que buscam um estilo muito específico, ou seja, se você errar na escolha estará fora do processo seletivo. O importante é tentar conhecer bem o que esperam do seu portfólio e adequá-lo sem perder sua identidade. A apresentação dos trabalhos pode acontecer em vários formatos e mídias. Há uns 10 anos, era comum se utilizar pastas em formato A3 com sacos plásticos onde eram colocados os trabalhos impressos em papel, mas esse processo é caro, trabalhoso e pouco prático, já que as peças precisam ser trocadas constantemente para manter o portfólio atualizado. Hoje em dia, se usa bastante os formatos eletrônicos como: PDF, apresentações PPT e a web (o meu preferido). A ideia é tornar o acesso o mais fácil possível sem perder a qualidade. Além disso, que seja de simples atualização. Para isso, o formato web é o mais indicado, democrático e abrangente.


Tudo isso vai te ajudar a criar senso crítico, conhecer pessoas interessantes e portfólios ainda mais.

carreira

Áreas de atuação

revistaleaf.com.br

40

A carreira de um designer pode seguir por muitos diferentes caminhos, da mesma forma que acontece com outras profissões como médicos, engenheiros ou advogados. A diferença é que nem sempre as distinções são claras e bem definidas – na verdade, as vertentes do design acabam se complementando e interagindo entre elas e a transição de profissionais entre estas vertentes também é muito comum. Os cinco grandes segmentos de design mais difundidos atualmente são: • Comunicação • Interação • Produto • Moda • Ambientes

Diversidade e oportunidade

Dentro de COMUNICAÇÃO estão os ilustradores, designers gráficos, web e de interface; portanto, é onde está a maioria das vagas. Se você se interessa por esse segmento, é provável que vá trabalhar em agências, mas também existem vagas dentro de comporações para trabalhar com comunicação institucional. É difícil dizer qual das opções é a melhor, pois cada uma delas tem suas peculiaridades e características. Independente de qual for a sua escolha, o que você precisa ter em mente é que às vezes esses cargos não tem o tal job description tão claro, principalmente nas pequenas empresas. Portanto, é provável que você precise fazer de tudo um pouco, o que no início de carreira é até bom: assim, você poderá aprender ainda mais. Na agência DM9DDB, por exemplo, os estagiários passam por todos os departamentos da empresa para depois poder escolher em qual gostariam de trabalhar. Essa vivência multidisciplinar é superinteressante e permite que os jovens descubram novas oportunidades e se identifiquem com mais certeza. Com o passar do tempo tudo vai ficando mais claro e simples – só a experiência vai te dar o suporte para poder escolher e direcionar sua carreira. Enquanto isso, aproveite e divirta-se com o novo!

Entrevista e dia-a-dia Depois de ter passado pela formação, construído seu network, montado portfólio e escolhido a área de atuação, o próximo passo é...? Se preparar para as entrevistas, pois elas virão e é muito importante estar pronto para responder à bateria de perguntas dos entrevistadores e conquistar seu batalhado espaço. Uma dica sempre válida é estudar bem o terreno onde está se metendo.


possível: uma calça jeans, camisa e sapato são sempre bem vistos. Após ter percorrido todo esse caminho e conquistado o tão esperado emprego, comece com o pé direito e adote a postura mais adequada possível. Nos primeiros dias siga o fluxo, ou seja, entenda como funciona seu departamento e acompanhe seus colegas de equipe sem exercer muita influência, pois a pior coisa a fazer é querer chegar mudando o mundo sem ter embasamento. Aprenda como as coisas funcionam, os processos, procedimentos e organização e tudo isso vai te ajudar a se situar e a partir daí tomar suas próprias decisões.

Conclusão Ser designer é incrivelmente complexo. Às vezes, nada parece fazer muito sentido, as incertezas se misturam com outras emoções e se tornam inspiração. Buscar o que se sonha é a única certeza que temos de que todos os caminhos no final valeram a pena.

Links Redes Sociais / Portfólios Online LinkedIn www.linkedin.com Behance www.behance.net Carbonmade www.carbonmade.com Coroflot www.coroflot.com Blogs Abduzeedo www.abduzeedo.com Smashing Magazine www.smashingmagazine.com SwissMiss www.swiss-miss.com

Graphic Exchange www.graphic-exchange.com Design Sponde www.designsponge.com Vagas Trampos www.twitter.com/trampos Publicijobs www.publicijobs.blogspot.com Monster Brasil www.monster.com.br Catho www.catho.com.br

41 leaf

Pesquise através da internet ou de amigos e levante todas as informações possíveis sobre a empresa/agência para saber se é isso mesmo que você procura e se você se identifica com os ideais dela. Antes mesmo da empresa te escolher, é preciso que você a tenha escolhido, pois irá passar boa parte do seu tempo trabalhando e se você não estiver feliz, sua produtividade e desempenho cairão. Você se tornará um profissional ineficiente ou até mesmo incompetente e isso não é bom pra nenhuma das partes; portanto, conhecer bem pra quem se manda o currículo é essencial. No dia “D” se apresente de forma coerente levando CV, portfólio e confiança. Vestir-se adequadamente é muito relativo, muito mesmo. Utilize seu bom senso pra avaliar o que usar – se você sabe que existe certa liberdade na empresa e que minissaia e piercing não vão chocar, ok. Assim você já poderá mostrar toda a sua personalidade e criatividade no modo de se vestir. Agora, se houver dúvida, siga a linha mais clean e neutra


experimente revistaleaf.com.br

42

AntiCast Nessa edição, Leaf entrevista os antidesigners Ivan Mizanzuk e Marcos Beccari, do AntiCast. Ivan Mizanzuk: Formei-me em Design Gráfico pela PUC-PR em 2007 e logo em seguida comecei um mestrado em Ciência da Religião. Engatei esse mestrado em uma área totalmente diferente, pois eu estava interessado desde a graduação em estudar psicologia junguiana e escola do imaginário. Em 2008, pintou a oportunidade de dar aulas no curso de Design Gráfico da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Defendi o mestrado em 2010, quando fui chamado para dar aulas em uma Universidade em Curitiba. Atualmente sou apenas professor-pesquisador e estou fazendo doutorado, dessa vez em Tecnologia com foco em Design, na Universidade Federal Tecnológica do Paraná. E a partir desse momento, comecei a usar as questões do imaginário dentro do Design. E fazendo uma merda de programa chamado AntiCast. Marcos Beccari: Nasci em São Paulo, capital. Sou formado em Design Gráfico pela UFPR e fiz mais 4 anos de Artes Gráficas no curso tecnológico da Universidade Federal Tecnológica do Paraná, mas não me formei. Nessa trajetória toda, acabei tendo uma certa experiência profissional com design mesmo, em artes gráficas e comunicação em geral, embora eu tenha trabalhado mais como freelancer na área de ilustração. Atualmente faço mestrado em Design na UFPR e meu maior interesse está focado em filosofia e Estudo do Imaginário,

As melhores aulas que eu tive foram nos corredores, conversando e discutindo com os professores. – Ivan influenciado pelo Ivan. Isso me levou a encarar o designer como sendo um articulador simbólico, seguindo a abordagem do psicanalista Carl Gustav Jung. Além do mestrado, sou responsável por um grupo de estudos sobre filosofia do design, embora no momento esteja parado. Participo do AntiCast e colaboro com 5 blogs. São eles: meu blog, o Filosofia do Design; IdeaFixa; Design Simples; Formas do Consumo e Universo Humanus. O que te levou a cursar Design Gráfico? Ivan: Leio HQs desde os meus 10-11 anos de idade e gosto até hoje. Eu dizia que meu sonho era desenhar HQs, então comecei a pensar que curso eu poderia fazer para virar desenhista. Um conhecido da minha família me indicou o curso de design, mas nunca avancei no desenho: sempre desenhei mal para caralho. Na minha graduação, pirava em trabalhos com colagens digitais. Inspirava-me muito em 3 designers: Dave McKean, David Carson e Storm Thorgenson. Claro que quando comecei a trabalhar em agência, fazendo estágio ou freela, esse estilo não era muito usado; então, acabei fazendo o básico de sempre, virei apenas um “clicador de mouse”. Foi aí que me bateu aquela decepção do terceiro ano. Nisso, descobri a área de Pesquisa Acadêmica por intermédio de alguns professores meus, que me mostraram que eu poderia trabalhar com Teoria em Design.


O que te levou a cursar Design Gráfico? Beccari: Eu era um daqueles caras que fugiam no recreio para jogar RPG. Gostava muito da construção de personagens, desenhava os cenários e a capas, etc. Sempre gostei de ilustrar e fazia aulas de desenho desde os 12, gostava de ver capas de livros. Tinha alguma coisa ali que me encantava. Entrei na

Universidade Federal do Paraná em Design de Produto, fiz 1 ano e enjoei. Já estava fazendo Artes Gráficas na UTFPR e mudei para Design Gráfico na UFPR. Meu plano era terminar as duas faculdades, mas antes de terminar eu acabei conhecendo o Ivan, o que foi um achado, pois de fato não tem gente no design que se interessa por filosofia. Sobre aquela crise do terceiro ano que o Ivan havia comentado, quando o conheci coincidentemente estava no terceiro ano e realmente estava revoltado com o mundo. Imaginava que não iria trabalhar com design após a formação, iria fazer retrato ou caricatura na rua, e ele me levou a lembrar o motivo de eu gostar de design. Foi quando eu comecei a me interessar por filosofia e questionamentos do design. Acabei me apaixonando novamente pelo Design e isso me levou a fazer o mestrado na área. Então você se considera um AntiDesigner? Beccari: Sim. Ivan: Nós, com o AntiCast e o Filosofia do Design, tentamos suprir a necessidade de referência teórica que o designer tem. Ele sai da faculdade e o máximo de teoria que ele tem, às vezes, é a leitura de alguma coisa (se leu) do Peirce ou da Lucia Santaella, e até pode sair sem ter lido o Décio Pignatari. O que a gente tentou fazer é mostrar para as pessoas que elas podem pensar design através de uma gama muito grande de autores, que na faculdade, infelizmente, por causa de um conteúdo que é voltado para a formação profissional, se perde. Então você tem que buscar por fora. Tem designer que está interessado em discutir literatura com outros designers. Para nós, se em um grupo de 200, um cara for para uma livraria, pegar um livro do Jung, ou do Eliade, já ficamos felizes para caralho.

43 leaf

Foi nesse período que você decidiu virar um AntiDesigner? Ivan: Isso, o AntiDesign começou nessa brincadeira. Eu e uma outra amiga, a Juliana Franklin (Djuly), que se formou comigo. Sentíamos falta de um maior aprofundamento em teorias na faculdade. O curso era muito voltado para o mercado, apesar de ter uma formação humanista, com aulas de filosofia. Quer ser um cara que só trabalha para o mercado? Faça um curso técnico e em 2 anos já está formado e vai embora, não precisa pensar muito. A universidade tem que ser o lugar em que você vai ter contato com pesquisa acadêmica. Quando eu fiz o meu mestrado foi um choque, pois eu via níveis de discussões teóricas que estavam muito além da melhor aula que eu já tive de Teoria em Design. E aí pensei: “se na minha sala eu sou o cara que mais lia, e estou sentindo dificuldades em um ambiente científico, imagina aquele cara que saiu da universidade sem ter entrado na biblioteca”. Percebi que tinha alguma coisa errada! Por isso decidimos montar um Manifesto AntiDesign, pensando o AntiDesign não como algo contra o mercado, mas sim como uma atitude acadêmica. “Se Design é isso que a gente está aprendendo na faculdade, essa dependência total do mercado, preso em um paradigma pragmático sem conseguir perceber que existem outras linhas de pensamento, nós não somos Designers, somos AntiDesigners, queremos estudar mais”.


Entrevista entrevista: anticast revistaleaf.com.br

44

O AntiCast não tem pretensão de ser científico, muito menos filosófico: lá é um bate papo. Pegamos alguns temas que são científicos e tentamos destrinchar em um programa. Queremos mostrar que existe um mundo fora do simplesmente fechar arquivos para a gráfica. Beccari: Quando se está tentando construir conhecimento, a academia sempre vai perder, vai estar atrasada com relação à comunicação falada. Ou seja, acho que a informalidade é mais interessante para expressar minhas ideias do que a academia. Lá, você só vai ter uma opinião quando for, no mínimo, doutor. Na universidade você percebe o desinteresse dos alunos pela parte teórica, pelo questionamento? A universidade apoia o ensino da parte teórica em detrimento da parte prática? Como você se porta com relação a isso? Ivan: Vou deixar uma coisa bem clara: a universidade em momento algum é contra o aluno, pelo contrário, se hoje ela está muito mercadológica a culpa é do aluno – é ele quem chega lá dizendo que não tem matéria prática suficiente. Onde dou aulas, o curso é híbrido, aprende tanto produto, quanto gráfico, e eu já vejo gente reclamando que não tem design digital, reclamando que não tem web ou design de jogos, eu tenho vontade de dar uma bolacha na pessoa. Se você acha que a tua faculdade vai ser o determinante para o que você vai ser na vida, está fudido, desista desde já. Não precisa de faculdade para ser designer. Eu sei que é ruim falar isso. Quando você entra em uma faculdade, assumiu um compromisso: em qualquer país, você se torna parte da elite intelectual. Quando ganha noção dessa responsabilidade, daí você entende para que serve

uma universidade. O aluno tem que sair de lá como um ser pensante, como um cara que sabe pesquisar, um cara que corre atrás das coisas sozinho. Não é todo mundo que precisa de filosofia, de semiótica; tem gente que vai ser excelente no que faz sem isso. Pensando nisso, nas matérias teóricas que leciono, sempre tento deixar o mais interessante possível em nível de graduação. Tenho sido agraciado por alunos que estão se interessando por questões teóricas e correm atrás de mim, até com a ajuda do Beccari. Eu, graças a Deus, acho que levo jeito com alunos em matérias teóricas, dou análise de imagem, semiótica, teoria do design; na UEL, eu dava psicologia do usuário, que é uma matéria pesadíssima, mas os alunos adoraram (inclusive fui homenageado na formatura deles). Beccari: Os alunos têm o direito de não ter o interesse em teoria. O cara que curte música, balada, possui um tipo de inteligência também. Não tem motivo para impor o conhecimento. Mas a universidade dá uma responsabilidade com a sociedade e, principalmente na federal, não se pode desdenhar disso. Ivan: O importante é ter consciência de uma coisa: nunca vai existir um curso perfeito. Eu tento sempre trabalhar com o perfil do aluno. As melhores aulas que eu tive foram nos corredores, conversando e discutindo com os professores sobre assuntos que eu não concordava. Gerar o debate e saber confrontar pessoas com opiniões muito diferentes das suas é muito importante. Aí a universidade é um tesão e você nunca mais quer sair de lá. Em algum momento vocês estiveram no mercado de trabalho (agência, estúdio,


Ivan: Eu falo que ninguém precisa ler para ser designer. Contudo, sinto que designer que lê mais, que estuda mais (ou, se não gosta de ler, que vê filmes, curte música, viaja etc.) é mais criativo, por conta do repertório. Usando as palavras do Pondé, eu sinto por um tipo de pessoa que está aparecendo, que é vazia, é um pobre social. O que me chateia é a pessoa estar em uma universidade e não aproveitar. Ler muito não vai te fazer mal. Beccari: Esse hábito não te garante nada, mas a leitura te dá maior abertura à abstração, reflexão, diálogo, expressão. Como o jovem profissional ou formando vai lidar com essas inquietações do design na sua carreira? Com o chefe? Com os clientes? Ivan: No ambiente de trabalho sempre vai ter um idiota ao seu lado, e muitas vezes esse idiota é o seu chefe. Você tem que saber lidar com os idiotas, até porque você provavelmente é um. Você vai ser um bom profissional em qualquer área a partir do momento em que conseguir vincular as

Quando se está tentando construir conhecimento, a academia sempre vai perder. – Beccari coisas que tem paixão com o seu ganha-pão, mas isso não vai ser do dia para a noite. Beccari: Como digo em alguns textos meus, o designer é uma prostituta. Para mim, design é uma coisa que todo mundo pode fazer, pois é uma coisa essencialmente humana. Mais do que isso, fazer design é algo feminino. Citando Baudrillard, embora o mundo masculino tenha o poder relacionado à produção, o feminino tem a potência que antecede o poder, a potência da sedução, que é necessária ao poder. Ou seja, todo o tipo de produção está subordinado à sedução feminina. Design trabalha com sedução e não com produção. Trabalhamos com trocas simbólicas, é um jogo de aparências, o design lida com o desejo das pessoas. A dica que eu daria para o profissional é assumir o seu lado feminino. O designer não tem que simplesmente “abrir as pernas”, ele tem a possibilidade de, enquanto prostituta, seduzir o cliente. Se o cliente quer fazer no projeto coisas que vão totalmente contra o que você aprendeu, sua função não é convencê-lo do contrário, mas seduzi-lo. O design está entre a paixão romântica, humana, por satisfazer o desejo e o vício das pessoas em sempre desejar algo novo. Ou seja, o design tem que lidar com o vício de uma maneira apaixonada. É um dilema. A dica é: admita ser viciado. O vício pode ser uma coisa extremamente depressiva e chata; então, aprenda a gostar desse vício, aprenda a seduzir, aprenda a se apaixonar por ele.

45 leaf

gráfica, editora)? Em que momento as referências teóricas têm importância no mercado? Beccari: As pessoas aprendem que design é projeto, mas tem muitos autores que defendem que design não é projeto, e sim processo (compare opiniões conferindo a Leaf 00, seção Gestalt). Outros dizem que não é nem um nem outro, design é gestão, comunicação, inovação, etc. Eu e o Ivan encaramos o design como algo ontológico, ou seja, como uma função básica do ser humano. Agora, filosofar sobre isso não vai fazer diferença no seu trabalho, no mercado. O pensamento é um hábito, e o mercado, de certa forma, acaba censurando os designers desse hábito.


técnicas: luz e sombra

inspire-se

Fotografe

revistaleaf.com.br

46

uma ideia!

texto e fotografia Francine de Mattos

Sou uma moça do interior que sonha em sair pelo mundo com minha mochila, minha câmera e meus milhões de ideias. Conheci a Fotografia e fiz dela apenas um hobby, de início. Era a maneira de extravasar meus sentimentos profundos – fossem eles bons ou ruins. E assim, quase que por acaso, encontrei meu equilíbrio. Achei a peça perfeita, pela qual tanto procurei, e encaixei na minha vida. Fotografo por gosto e fotografo aquilo que sinto. Seja uma tarde linda de sol ou um dia chuvoso, sempre busco a imagem perfeita, que mostre a essência das minhas ideias – e de mim, também. Não me prendo a conceitos, moda e muito menos ligo para aquilo que o mundo diz ser certo ou errado; sigo meu instinto ao fotografar. Minha paixão me conduziu à criação do “Fotografe uma Ideia”, um site com

conteúdo para todos os tipos de fotógrafos. O incrível desse projeto é que valorizamos a Fotografia como Arte e não desprezamos nenhuma ideia. Afinal, como diria meu amigo Henrique Resende: “Se uma Fotografia parte de uma ideia, não se pode menosprezá-la, porque também não se pode menosprezar a ideia.” Outro resultado das minhas ideias foi a criação de outro projeto, o “Fotografia + Poesia”. Um tanto mais voltado à minha própria personalidade, apresento minhas imagens unidas a trechos de músicas e frases de escritores que admiro, como Clarice Lispector e Caio Fernando Abreu. Nesse projeto, consigo unir a fotografia, que é um estado de espírito, à poesia, que é um desabafo da minha alma. É assim que encontro uma sintonia objetiva da minha criatividade. Fotografia é minha vida. É a maneira com a qual vivo de forma equilibrada e feliz. E então, pergunto: Qual sua ideia hoje?


leaf

47




reeviist stal taleaaf.f.co com m..b brr



revistaleaf.com.br

52

tĂŠcnicas: luz e sombra

inspire-se


leaf

53


revistaleaf.com.br

54

Arte x Design texto e ilustração Erick Teixeira

Arte e design caminham de mãos dadas desde muito antes do que imaginamos. É fato que achados pré-históricos, como pinturas rupestres, sejam classificados como as primeiras manifestações “artísticas” do homem, na qual primitivos representavam o mundo ao seu redor nas paredes de grutas. Em outra vertente, mas contemporaneamente, utensílios de cerâmica rústica e pedra eram feitos (ou projetados?), como colheres e flechas. Ou seja, objetos com um propósito, ou uma palavra mais adequada: um desígnio.

Podemos chamá-las então de “as primeiras peças de design” da história do homem? É uma pergunta provocativa, apenas para começar a boa e velha discussão sobre o que é arte e o que entendemos como design.

Arte é expressão, Design é intenção Antes de tudo, vale exaltar que artistas, ilustradores e designers têm um valor de contribuição imensurável para a sociedade e sua evolução. São profissionais irmãos


envia uma diferente mensagem para cada um. Design envia a mesma mensagem para todos.”

O bom, o feio e o que funciona Vamos voltar a falar de história. No período da grande Revolução Industrial, em meados do século XIX, arte e técnica passam a coexistir de maneira mais natural, produtiva e rentável. Um passo sem volta. A técnica atrelada à funcionalidade e à arte agregando valor, diferencial de mercado e beleza ao produto resulta em uma disciplina complexa e incompreendida por muitos, chamada Design. Por estar ligado desde seu nascimento à grande família das artes visuais, o design, assim como toda peça de arte, é desafiado a atravessar a barreira do “ser/estar bonito”, um julgamento pessoal e único. A diferença é que peças de design estão acima deste gosto pessoal e não estão fadadas ao fracasso caso não estejam “bonitas” aos olhos de todas as pessoas. O design pode ser provocador ou bonito, mas está calçado por teorias de comunicação e tendências, bases para a peça atingir seu objetivo como transmissora de uma mensagem. O design, no sentido comercial, é interado num processo calculado, parte da equação que quer como resultado final o sucesso, e segue regras definidas para isso, seja pelo mercado, cliente, público, etc. Sua obrigação é gerenciar a expectativa de todas as partes envolvidas com o projeto a ser apresentado. Já o artista não segue necessariamente regras específicas, sua obrigação é a expressão e seu comprometimento pode estar ligado somente à arte.

Arte X Design X Estilo Dos designers mais conhecidos e cultuados atualmente, podemos considerar

55 leaf

que representam a classe criativa no mercado de trabalho. Talvez a diferença fundamental entre arte e design seja os seus diferentes propósitos, como no exemplo introdutório: as pinturas, até hoje, inspiram diferentes razões, não sabendo ao certo qual sua intenção na época pré-histórica. Já os utensílios não nos deixam margem a interpretações: Flechas para caçar, colheres para comer e ponto final. Mesmo tendo uma base de conhecimento compartilhada, onde muitos designers se consideram artistas e vice-versa, ambos têm razões diferentes para existirem. O artista cria para compartilhar ou despertar uma sensação em seus observadores, permite que as pessoas se relacionem com sua arte, gerando um sentimento e interpretação próprios, uma emoção única, de pessoa para pessoa. E mesmo que seu autor manifeste uma mensagem, não quer dizer que o ponto de vista ou a emoção despertada nas pessoas tenha um significado único, pois sua expressão atinge diversos níveis de entendimento e comparação, uma vez que depende da vivência, bagagem cultural e emocional de cada um. Na outra ponta, temos uma expressão artística – por que não chamá-la assim? Mas com uma diferença primordial, a intenção de existir. Para uma peça de design, há sempre um ponto de partida, algo a ser transmitido, que é antecedente à sua própria existência, seja ela uma mensagem, uma ideia, ação ou imagem que configura um briefing. Os projetos mais bem sucedidos são aqueles que conseguem transmitir esta mensagem de maneira eficaz, não dando margem a interpretações. Se um design pode ser interpretado na sua totalidade, ele falhou em seu propósito. “Arte


arte x design 56

A profissão Designer

revistaleaf.com.br

tão complexo que torna difícil à primeira vista ter ideia do quanto vale uma peça. Avaliar uma obra é uma tarefa difícil que exige conhecimentos técnicos e experiência em mercado nacional e internacional. Para tanto, se faz necessário considerar diversos fatores. O mais importante é a lei básica mercadológica da oferta e da procura, além de análises sobre autoria, técnica, período artístico e histórico em que se enquadra, dimensão, conservação e origem. Para o valor do design, existem associações que garantem uma boa referência de quanto vale cada peça, fruto de pesquisa mercadológica, além de ter um guia para a remuneração do profissional (mais claramente detalhada que um artista), que geralmente segue a hierarquia das profissões mais clássicas, divididas no geral entre estagiários, juniores, plenos e seniors.

aqueles com estilos próprios e muitas vezes vinculados a uma veia ilustrativa muito acentuada. Dentre eles, um designer pode se considerar um artista por criar peças tão visualmente agradáveis que as pessoas pendurassem na parede como quadros? A resposta vai de encontro à peça e não ao profissional, pois uma composição visual tem a intenção de comunicar, não importa o quão bonito – não é somente arte, mas também uma peça de comunicação. Peças de arte comunicam também, mas a mensagem é interpretada, diferente do que propõe o design.

Valor de mercado Arte e design diferem em tantos pontos que no fator financeiro não seria diferente. O valor monetário agregado às obras de arte é

Paul Rand explica que “design é uma disciplina que soluciona problemas”. Sendo assim, design não existe se não houver algo a ser solucionado, otimizado ou aperfeiçoado. E como no início de qualquer trabalho, deve-se ter o perfeito domínio do problema. Hoje o designer é reconhecido de maneira muito mais abrangente, se comparado com o século passado. Deixou de ser o desenhista industrial para atuar em áreas estratégicas de mercado, por conseguir conciliar em seu job description habilidades técnicas, artísticas e tecnológicas. Hoje atua em diversas frentes e segmentos e é essencial como estratégia de negócios para o crescimento corporativo. Inovar é obrigação para empresas que querem se manter num mercado exigente. O diferencial não está mais dentro da caixa, e sim agregado em valores pessoais, sociais, econômicos, sustentáveis, etc.


Esta discussão não abrange todos os pontos e também não acaba por aqui. O importante é saber que conhecimento nunca é demais e qualquer profissional pode e deve expandir seus horizontes e se aventurar em novas direções, sejam técnicas ou artísticas. Espero ter apontado uma direção para boas conversas!

57 leaf

O designer hoje ultrapassa o limite artístico. Design não é “arte pela arte”. É arte aplicada, concebida por uma necessidade, que transcende o óbvio e o trivial, que atinge um objetivo. É arte vinculada à tecnologia, buscando meios de transmitir sua mensagem ao mundo. É, acima de tudo, comunicação.


inspire-se projeto de faculdade revistaleaf.com.br

58

Projeto

Aquatiku’s O projeto surgiu inicialmente apenas como mais uma proposta acadêmica, mas ao final, se tornou muito mais importante, já que ultrapassou as expectativas do grupo. Foi um trabalho que permitiu explorar diversas possibilidades dentro do universo infantil e que desenvolveu um estilo original para contemplar o tema que foi dado. O briefing que norteou o projeto tratava do desenvolvimento de embalagens para produtos infantis. O grupo resolveu criar uma linha de produtos de higiene para crianças de 3 a 6 anos para a marca Johnson & Johnson. Essa ideia foi justificada devido ao fato de que a marca não possui uma linha específica para crianças dessa idade, sendo mais comum encontrar produtos desta marca direcionados para bebês ou, ainda, para mulheres adultas. A ideia era boa. Só restava saber se a execução seria bem sucedida e se tudo o que havia sido planejado anteriormente daria certo também. Ao longo da concepção do trabalho, foi possível perceber que a rotina do designer que deve cumprir prazos e manter

a qualidade é árdua. De certa forma, é romanceada a ideia de projetos que surgem em meio a eventuais devaneios, durante passeios num parque arborizado e de outras coisas que nos inspirem em nossas mais belas criações. A realidade é outra, e se torna uma corrida contra o tempo. Neste projeto, não bastou apenas desenvolver boas embalagens e personagens atraentes para o público infantil. O cuidado com os materiais utilizados segundo as normas da ANVISA, a questão da ergonomia, o estudo do produto disposto no PDV, o marketing a ser planejado para atingir o “target” e tantos outros detalhes que tivemos que pesquisar foram fatores que agregaram muito ao nosso pouco conhecimento na área. A liberdade de criação oferecida pelo professor e também orientador, Alessandro, foi fundamental para obtermos o resultado desejado. Agradecemos a ele pela oportunidade que tivemos de vivenciar a experiência do design sendo aplicado em algum segmento diferente daquele que adotamos para ser estudado em nosso cotidiano.


Amanda Coelho 20 anos, técnica em design gráfico e atualmente se graduando na área. Adora se manter antenada e está sempre perdida em música, cultura alternativa, redes sociais ou moda.

Danielle Felicetti Cursou um ano de design na Escola Panamericana de Artes, está atualmente no 4º semestre de Design gráfico na Belas Artes de São Paulo, pretende seguir a carreira de ilustradora e acredita que um bom designer deve viver de cultura em excesso. Larissa Oliveira Tem 19 anos e concluiu o ensino técnico em Comunicação Visual. Dedica-se atualmente à graduação em Design Gráfico. Escolheu essa área por acreditar na combinação entre palavras e imagens. Gosta de ler, escrever e fotografar.

Náthalie Siqueira Quase designer. Na verdade, quase tudo. Quase geek, quase otaku, quase normal. Notívaga. Bagunceira, mas aquela bagunça em que se acha (ou se encaixa). Viciada em internet e redes sociais. Enfim...

Renato Scopacasa Cursando o quarto semestre de Design Gráfico da Belas Artes, tem uma paixão especial por fotografia e aprecia muito trabalhos que envolvem arte digital. komodopup.deviantart.com

leaf

59


Logotipo A criação do logotipo partiu da tipografia AkaDylan Play Original, usando uma ilustração no lugar na letra Q, com o intuito de aproximar a marca com o mundo infantil.

A cor da ilustração da marca muda de acordo com o personagem: foram criados 3 para a linha feminina e 3 para a masculina.

projeto de faculdade

Marca primária feminina.

Marca primária masculina.

revistaleaf.com.br

60

Slogan Foi criado o slogan “Um banho de aventuras” para enfatizar a ideia de que a

diversão não acaba quando os pais chamam as crianças para tomar banho, e sim, continua com novos amigos.

Marca completa, conforme será composto em todos os materiais.


Criação de Personagens terras, protegendo animais marinhos e os terouros encantados escondidos nas Ilhas, pertencentes a rainha das Águas. Já os piratas procuram entrar de qualquer jeito na Ilha, pois querem muito os tesouros. Estas características foram pensadas retratando a mesma divergência de interesses entre meninos (ação, heroísmo, aventura) e meninas (beleza, encantamento, emocional).

61 leaf

Foi criado um universo para os personagens, a TERRA DE AQUATIKU’S. Um planeta governado pela rainhas das Águas, onde os habitantes são seres do mar, e dentre diversas raças, nossos personagens, as Sereias Encantadas e os Piratas dos Mares do Sul. Sereias e piratas divergem quando o assunto são as Ilhas do Coral. As sereias moram no fundo do mar, abaixo destas


Brinquedos os modelos vêm com um pequeno resumo de suas principais características na parte de trás. A ideia é criar vínculo emocional com a criança (utilizando os conceitos de amizade e interação), tornar o banho divertido e atraí-las para que colecionem todos.

projeto de faculdade

As embalagens de shampoos, condicionadores, gel para cabelo e gel-creme para pentear trazem brinquedos dentro do produto. Assim que acaba, a criança pode retirar o brinquedo: um dos personagens da linha adesivado em um suporte de plástico não tóxico. Todos

revistaleaf.com.br

62

Brinquedos dos personagens principais.


leaf

63

Brinquedos dos personagens secundรกrios.


Embalagens estudo, foi realizada uma projeção da relação ergonômica das crianças com todas as embalagens dos produtos.

projeto de faculdade

Nos roughs (esboços) para o projeto das embalagens, foram usadas formas funcionais e ergonômicas para as crianças. No

Roughs da linha de embalagens.

revistaleaf.com.br

64

Ilustrações simulam as proporcões com base em medidas reais.


Linha completa (Kit Banho) embalagem com o intuito de facilitar a identificação na gôndola) e uma caixa para o kit com todos os produtos da linha.

Rendering dos produtos da linha feminina.

65 leaf

Foram criadas embalagens de gel (exclusivo para meninos), creme para pentear (exclusivo para meninas), sabonete, shampoo e condicionador (mesma

Rendering dos produtos da linha masculina.


Antes do projeto: crie

manual básico

gestalt

Vinicius Yagui

Cena típica: você está na sua mesa e de repente o atendimento literalmente se materializa ao seu lado.

revistaleaf.com.br

66

Maria Renata é pós-graduada em design gráfico, é diretora de arte. Também é editora do DesignFlakes. designflakes.com.br www.about.me/ mariarenata

Ele vem falar especialmente com você e te entrega folhas impressas. Sim, você recebeu um briefing. Lá, você vai ler e entender detalhadamente a solicitação do trabalho em questão. A partir disso, você já pode começar a levantar as mangas e iniciar o job. Antes de começar este assunto, é importante ressaltar que não existe uma receita de bolo ou um roteiro pré-estabelecido para saber por onde começar e por onde terminar. Com o passar do tempo, você verá que cada um tem um processo criativo individual. Mesmo assim, existem alguns pontos importantes que merecem ser ressaltados e que fazem parte do cotidiano de cada profissional. Vamos, portanto, a mais boas dicas.

1. Com quem eu falo? Entenda quem é o público-alvo do cliente. E acredite, no começo de sua carreira, você não irá fazer o tipo de arte que mais te agrada, logo não adianta fazer uma arte com os elementos que fazem parte do seu gosto pessoal. Por exemplo, não adianta você usar um corpo de texto pequeno se a peça se destina a idosos. O grande segredo é se colocar no lugar de

quem receberá a informação que você pretende transmitir, indo da escolha tipográfica às imagens. Tente pensar como o público-alvo, o que ele pensaria frente à arte que você criou? A mensagem é direta? Pode virar piada? Parece neura, mas é sempre bom evitar.

2. Cliente x Concorrente Quem mais está no segmento que seu cliente atende? Como é a cara das comunicações? Conheça o concorrente. Veja o que ele já andou fazendo em termos de logotipia, publicidade, internet. Com isso, você já pode destacar aspectos importantes, como por exemplo sua última abordagem numa campanha. Assim, você pode cobrir alguma falha na comunicação do concorrente e fazer seu cliente se destacar, além de entender o que não fazer e o que evitar para não parecer que foi copiado. Essa dica deixa o processo de criação mais certeiro. Outro ponto importante é você saber que nem sempre o que idealizou será aprovado. Por mais careta que possa soar, não se esqueça que é o seu cliente que entende do ramo o qual ele atende. Se ele reprovar uma arte que você fez, saiba lidar com isso. É duro de ouvir, mas é uma situação frequente.

Lorem ipsum dolor sit amet,


de sobrevivência Verifique se seu cliente possui um guide. Compreender como ele costuma trabalhar a sua comunicação já é meio caminho andado e evita que a arte que você criou seja barrada.

4. Hora do rafe Como já falei anteriormente, rascunhar é mais que importante, então solte o pulso. Dessa forma, você conseguirá organizar as suas ideias e ter noção de como distribuir os elementos que você pretende usar.

5. Tempestade de ideias Se você tem a oportunidade de trabalhar em equipe, converse. Nada como o bom e velho brainstorm. Trocar algumas palavras sobre o trabalho em questão faz a ideia amadurecer, mudar e evoluir, sem contar que você estará em contato com gente de diferentes níveis de experiência e a troca de informações será única. Não tenha medo de jogar ideias absurdas na mesa, porque sempre pode sair algo de útil de uma ideia que aparentemente é absurda.

6. Tendência Podemos dizer que, como ferramenta, a tendência pode ser considerada uma faca de dois gumes. Sim, porque ao passo que

Não podemos nos esquecer que cada elemento na sua criação tem um significado e um motivo. você se empenha para desenvolver um trabalho com uma cara atual, corre o risco de fazer apenas mais um layout entre tantos outros com a mesma linguagem. Observamos que isso ocorre com arcos, arabescos e agora com o estilo web 2.0, com o mesmo estilo de degradé, brilho e sombra nos vetores. Não quer dizer que seja ruim e que não funciona, mas como se trata de uma linguagem mais conhecida, procure sempre contar a história de uma forma diferente. Senão você terá desenvolvido apenas mais um logotipo com cara web 2.0.

67 leaf

3. A marca

7. Recursos Já que falamos sobre tendências, é válido tratarmos de recursos. Eles estão aí para enriquecer seu layout – degradés, sombra, transparência, etc. Percebia-se, algum tempo atrás, uma grande resistência por parte dos diretores de arte e designers contra o uso de degradé. Este recurso era usado em larga escala, e nem sempre

consectetur adipiscing elit.


aplicado da forma correta, o que o fez ser alvo de vista grossa. Não estou contando esta história em vão. É só para lembrar você que o uso de recursos deve sempre ser harmônico com os demais elementos, respeitando o ritmo e o equilíbrio de sua composição.

gestalt

8. Hierarquia Com a frase “O design é o esforço consciente de impor uma ordem significativa”, de autoria do designer austríaco Victor Papanek, não podemos nos esquecer que cada elemento na sua criação tem um significado e um motivo. Assim sendo, ele possui um sentido de leitura. Logo, você deve criar esse direcionamento, tendo em mente o que deve aparecer em primeiro lugar, depois em segundo e assim por diante. Conduza o entendimento da peça até o fim da mesma.

68

9. Esperando o texto

leaf.odde.com.br

tipos.ai

Você já tem em mente o que deseja layou1 31/08/ 12:20 tar, mas11depende de outra pessoa para te mandar o texto. Esperar pelos outros é

complicado, não é novidade, mas não se atenha a esse fato. Use texto de algum outro lugar somente para visualizar como seria a mancha tipográfica da arte até receber o final. Nesse caso, temos o bom e velho Lorem ipsum, texto em latim que hoje em dia serve para marcar a parte escrita. Você pode copiá-lo deste site: www. lipsum.org.

10. Acabamentos Antes de iniciar a sua criação, preste atenção no que o cliente realmente quer e como se dará a reprodução disso. Dessa maneira, você não se compromete a entregar algo cuja produção será complicada ou impossível. Atente para detalhes como faca, reserva de verniz e tipo de impressão para preparar seu arquivo já pensando na finalização do mesmo. Com o passar do tempo, você perceberá que determinadas ações se tornarão quase que mecânicas. Inspiração e transpiração contam muito, uma boa ideia nunca cai no colo. E não se esqueça nunca do velho ditado: a prática leva à perfeição.

The quick bro wn fox jumps over the lazy d og

The quick brow

n fox jumps ove

C

M

r the lazy dog

Y

M

Garamond ABCDEFG b

HIJKLMN

OPQRSTU

VW



crie

Só seis?

quick fox

Hoje a bibliografia sobre tipografia nas livrarias brasileiras é bastante expressiva e arrisco até a dizer que este

revistaleaf.com.br

70

Aníbal Folco é casado e tem uma filha. Graduado e pós-graduado em design gráfico na Belas Artes (BA). Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC. Trabalha com a coordenação dos cursos de design gráfico e produto na Belas Artes, onde também leciona.

deva ser o tema mais pesquisado, estudado e discutido nos editorias nacionais quando o assunto é o design gráfico. São tantos livros e autores apresentando novos olhares sobre o universo das letras que fica difícil escolher um que mais agrade. Durante muitos anos, a evolução do desenho de letra no Brasil segue um percurso lento e informal. Nas grandes metrópoles, a sinalização dos estabelecimentos comerciais e o material gráfico impresso desenvolvido demoram para obter uma forma característica brasileira e utilizam letras ainda importadas e diagramações em padrões estrangeiros até fins do século XX. O desenho de letras, assim como alguns outros elementos característicos do design gráfico brasileiro, é trazido de fora há algum tempo. Há décadas são importados dos Estados Unidos e Europa diversos tipos de letras e padrões gráficos de diagramação e planejamento visual gráfico que muitas vezes não se encaixam à realidade brasileira e, portanto, algum outro elemento criado aqui poderia surtir um melhor resultado visual. Nos últimos anos, aparentemente, a tipografia vem sendo cada vez mais observada, produzida e estudada. Algumas exposições e eventos voltados para o assunto, bem como o aumento nos números de publicações que abordam e discutem

tipografia, são responsáveis pelo início desta mudança. Frequentemente um aluno ou outro pergunta sobre regras de uso, de escolha ou construção de letras. A resposta é sempre igual: como proibir ou permitir o uso ou criação de um desenho? Como definir normas para utilizar e desenhar novos alfabetos? Aparentemente acompanhar as discussões em fóruns, analisar exemplos, ler as críticas publicadas, ir a todas as exposições e eventos que crescem a cada dia e, principalmente, se apoiar no desenvolvimento de um bom e rico repertório – não só relacionado e este mesmo assunto, mas sim um repertório amplo que contemple absolutamente tudo o que nos cerca, nos formando indivíduos possuidores de uma massa crítica indiscutível e incontestável – não basta. Ainda quando dentro da academia, na sala de aula, seguindo uma metodologia – momento em que existe uma série de diretrizes para o bom desenvolvimento projetual – é difícil estipular o certo e o errado com bases formalmente fundamentadas. Talvez seja por isso que toda essa produção de títulos também não possa ser capaz de inventar um manual de normas e regras tipográficas. Mas os diversos livros que tentam alcançar tal objetivo têm sido bastante prestativos. Contrariamente ao que se vê no impresso, as mídias digitais parecem ainda não ter tido tempo de diferenciar as suas


A intimidade em manipular os caracteres e seus desenhos já existe há muito tempo e, ainda assim, alguns tipos de letras são demasiadamente utilizados e por muitas vezes já não agradam mais nem mesmo ao próprio público que pretendiam atender. muito tempo e, ainda assim, alguns tipos de letras são demasiadamente utilizados e por muitas vezes já não agradam mais nem mesmo ao próprio público que pretendiam atender. Em 1932 foi criada a Times New Roman para o jornal londrino The Times e ela é muito utilizada até hoje para diversos trabalhos gráficos, ainda que não se trate de uma diagramação britânica ou qualquer tipo de publicação que use os recursos gráficos que a fonte, em seu desenvolvimento, pretendia atender originalmente.

Tabela periódica tipográfica de Cam Wilde.

71 leaf

soluções visuais entre as diferentes culturas. A maioria dos sites de vanguarda é muito próxima no mundo todo, como se esta tecnologia ainda não tivesse tido oportunidade de desenvolver uma resposta a cada cultura diferente que a utiliza como meio de comunicação. Se é que isso é possível. Neste caso, a similaridade entre as peças gráficas se dá devido ao pouco tempo de uso que os seus profissionais tiveram para conhecer a mídia. Em relação à tipografia, a intimidade em manipular os caracteres e seus desenhos já existe há


quick fox

Livro Design e Tipografia: 100 fundamentos do design com tipos.

revistaleaf.com.br

72

Mesmo que haja 100 fundamentos para o design com tipos – www.blucher.com. br/livro.asp?Codlivro=05357 – é importante entender que no desenho tudo é possível, e interpretação é meio dependente do processo de comunicação entre duas partes – emissor e receptor – que têm repertórios próprios e individualizados. Nessa extensa e crescente bibliografia, o que mais me chama atenção é o fundamento nº 80, em que Ina Saltz estipula que devemos trabalhar com o máximo de 6 tipos essenciais e distintos como leque de possibilidade para uso na peça gráfica. Garamond, Caslon, Baskerville, Helvetica, Futura e Gill Sans. As sugestões de Saltz para que tenhamos, não importa a peça, a escolha tipográfica garantida no projeto me parece bastante equilibrada. Talvez equilibrada demais. No texto ela relata que “alguns designers renomados e altamente respeitados têm manifestado o argumento de que, talvez, somente seis tipos podem ser o suficiente para todas as contingências do design.” (SALTZ, 2009, pág. 166). São três serifadas tradicionais e três não-serifadas igualmente importantes. Não se trata de uma questão pessoal, mas quem já pensou quais são os seis tipos essenciais no design

gráfico? Quais letras nunca poderiam deixar de existir e que, por isso, garantem o sucesso da peça gráfica? Eu arriscaria Trajan, Garamond e Bodoni para massas mais comportadas e textos que necessitam de uma leitura mais densa, com nuances e ritmos para uma leitura mais confortável. E, de maneira a se obter um pouco de contraste entre as formas, as versáteis Rotis, Frutiger e Helvetica, com as infinitas versões e variações que suas famílias possuem. Não é uma escolha fácil ou nem tampouco pessoal – não muito –, mas um olhar técnico e expressivo sobre a otimização e garantia de qualidade no uso da tipografia, se é que se pode estabelecer tais parâmetros. De qualquer maneira, é melhor continuar mantendo o bom senso, diversificando nossas referências, discutindo e refletindo o máximo sobre nossa própria produção tipográfica. Devemos buscar informação técnica precisa como os 10 mandamentos da tipografia de Jan Tschichold ou manter o bom humor como usando a tabela periódica tipográfica de Cam Wilde, mas sempre ampliando nosso repertório. Quais são os seus seis?

lv Ro Tr e s i n t H a m Livros o a j a R r c a s a i r t G d Ro nT n s i a o t j o a m R a rFr r is Tr t e a o g G i R d t s ti ru on o F R m r s a i r e t on a o g d i G o t d ru on niB F r o m e d a r g o i t B ica u i t Ga r e n F v r o l e od ge H i a t B i c i nT u n t r a o e j d v a l o iB He janTr a n c o i t d a e tisR r o v l Bo R T e s i n H ja Rot s i t etica Tra dG R

SALTZ, Ina. Design e Tipografia: 100 fundamentos do design com tipos. São Paulo: Ed. Blucher, 2009.

BRINGHURST, Robert. Elementos do estilo tipográfico – versão 3.0. São Paulo: COSACNAIFY, 2005.

LUPTON, Ellen. Pensar com tipos. São Paulo: Cosac & Naify 2006.

PELLANDA, Eduardo Campos. Pensamento em rede. In: PELLANDA, Nize Maria e PELLANDA, Eduardo Campos (Org.). Ciberespaço: um hipertexto com Pierre Levy. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2003. p. 140-146.


leaf

73


inspire-se

Quando o graffiti se torna arte No mês de julho o MuBE - Museu Brasileiro da Escultura apresentou os trabalhos de produção de arte de 20 grafiteiros com peças de seus acervos em diversos suportes. Quem Graffiti de Binho Ribeiro.

revistaleaf.com.br

74

foi até lá pôde conferir grandiosos painéis, telas e até esculturas 3D, representando as

diferentes tendências da arte urbana atual, usando a técnica base do graffiti: o spray. Com início nos anos 80, tem destacado artistas urbanos no mundo da arte contemporânea, fazendo o graffiti seguir em alta com artistas mais maduros e obras de maior qualidade técnica e conceitual.


John Howard, artista norteamericano conhecido como dinossauro do graffiti.

Binho Ribeiro desenvolve um apelo singular de expressão, dando vida a todos os elementos de sua criação. Possui obras expostas em diversos países como: Argentina, Chile, Peru, Equador, Estados Unidos, França, Japão, entre outras exposições. Não é à toa que seu estilo arrojado ilustrou as embalagens de Nescau, campanhas publicitárias do Ford, Brasil Telecom, Motorola, Red Bull, CowParade, Nike, Skol, Ecko, Antártica, Colorgin e outras.

75 leaf

Entre os artistas convidados estava Binho Ribeiro, curador do evento e um dos principais nomes do street art mundial – um dos pioneiros no Brasil e América Latina. Com 12 anos, o artista iniciou os estudos em desenho, pintura, arte final e aos 14 já trabalhava em estúdios de publicidade, ao mesmo tempo em que andava de skate e dançava break, onde teve contato com o graffiti e nunca mais parou.


graiti revistaleaf.com.br

76

Tenho duas linhas de trabalho, uma old school com características claras de graffiti tradicional com letreiros e outra com personagens que me acompanham por toda minha vida. – Binho Ribeiro


Graiti transformado em escultura.

leaf

77

Telas do artista Markone.


crie

Portfólio Fantasma

projeto

Nesta edição, a equipe da revista resolveu fazer uma brincadeira: mudar o logo da Leaf, mas também

revistaleaf.com.br

78

mudar o que ela é. Confuso? Então, vamos lá. A ideia era mostrar, de maneira resumida, padrões básicos de desenvolvimento de projeto, mas não explicá-los fase por fase, apenas mostrar o resultado de algumas delas. Por isso, deveria ser algo mais descontraído e solto. A solução mais interessante foi usar o nome da revista para batizar uma empresa fictícia de uma área de atuação totalmente diferente. Partindo disso, desenvolver uma identidade para esse projeto “fantasma”. Lançamos essa proposta nas nossas redes para que nossos leitores decidissem que tipo de empresa seria esta. Coisas muito diferentes surgiram, como marca de ventiladores, banda new age ou comida japonesa. No final, venceu o Refrigerante.

Esse era o desafio: criar uma marca e elementos para um refrigerante que seria chamado de Leaf. Para essa criação, desenvolvemos um pequeno briefing para descrever o produto, o que ele deveria transmitir e o que deveria ser criado. O resultado dessa brincadeira você já começa a ver por aqui. Algo muito importante é que projetos fantasmas como esse que fizemos podem ser executados por quem ainda não tem um portfólio. Então use aquelas horas vagas, que raramente surgem, para construir algo que você goste e que sirva para aprimorar suas habilidades.

Briefing Leaf é um refrigerante leve de baixa caloria e sem açúcar, que atua na área denominada pelo mercado como “águas saborizadas”. Mesmo sendo um refrigerante, é mais saudável e com menos produtos químicos que os concorrentes. Possui sabores diferenciados usando suco natural de frutas e suas vitaminas: Amora, Kiwi, Maçã, Maracujá e Pêssego. Destina-se ao público que tem a preocupação com uma vida saudável e leve, gosta de fazer exercícios mais calmos ao passear no parque ou pela praia, mas não abre mão de usufruir dos prazeres de uma bebida mais refrescante.


Conceitos Leveza: Leve, pouco espesso, pouco pesado, pouco maciço. Formas orgânicas e traços sinuosos.

Vitalidade: Vital, força de vida, energia, vigor. Formas gestuais e assimétricas.

leaf

79

Paleta de Cores maracujá

pêssego

maçã

amora

kiwi


Tipografias Primária: Família Raspoutine.

ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz 0123456789 Secundária: Família Myriad Pro.

ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz 0123456789

projeto

Marca

revistaleaf.com.br

80

Rótulo


leaf

81


experimente hashtag revistaleaf.com.br

82

Mídias Sociais:

Não sabe o que fazer? Dificilmente você encontrará alguma pessoa de marketing que dirá que não sabe como lidar com as mídias sociais. O mesmo acontece com

Luciano Palma Consultor Estratégico de Mídias Sociais. Palestrante do Social Media Week, Social Media Brasil, Web Expo Fórum, KM Brasil. Professor de pós-graduação no Senac. Engenheiro Eletrônico pela E.E.Mauá, concluindo MBA (FGV). Lpalma.com curso.midias-sociais.com

profissionais de RH e de outras áreas. No entanto, o modelo socialcast ainda gera muitas dúvidas dentro das empresas. E o que é socialcast? É um contraponto ao broadcast, modelo em que uma mensagem é formatada pelo emissor e recebida, passivamente, por uma enorme massa de receptores. TV, jornal, revista, panfleto e rádio são alguns exemplos de mídias que usam o modelo broadcast. No socialcast, a mensagem é fluida; não “pertence” mais a um único emissor. E como nas mídias sociais todos são potenciais emissores, o que se verifica é uma mensagem sendo formada colaborativamente, podendo ser questionada, refinada e complementada a cada interação. Esse modelo proporciona uma maior transparência ao sistema, porque elimina o controle centralizado, aproximando a mensagem da verdade e a verdade da mensagem. Enquanto o broadcast é uma ferramenta muito utilizada em ambientes

autocráticos, o socialcast é uma representação genuína de ambientes efetivamente democráticos. É por isso que as palavras “controle” e “mídias sociais” são tão antagônicas. A transição entre modelos não é trivial. Então, algumas sugestões podem ajudar a refletir sobre a adaptação ao socialcast. 1. Evite usar mídias socialcast como broadcast As mídiais sociais, como o nome já diz, funcionam baseadas em relacionamentos. E um relacionamento de verdade não é uma iniciativa de curto prazo. É necessário um certo tempo para criar e estabelecer um relacionamento. Não é porque a internet é rápida que a construção da confiança entre pessoas também será. Profissionais acostumados com as respostas praticamente imediatas do broadcast costumam projetar estas mesmas expectativas nas mídias sociais. A coisa fica ainda pior quando as técnicas de atração continuam sendo as mesmas das campanhas tradicionais: distribuição de brindes, sorteios e (sic) concursos culturais. Estes artifícios até podem ser utilizados para executar um bom


Comece pelo que

NÃO fazer!

2. Mídias sociais não são o negócio fim de sua empresa A menos que você seja uma agência, sua empresa não existe somente por conta das mídias sociais. Empresas têm objetivos de negócio bem claros, e enfrentarão graves problemas se não atingirem sucesso nesta esfera. Os resultados são atingidos através do faturamento da empresa durante a execução de sua estratégia de negócios, e não pelo “sucesso nas mídias sociais”. O tão falado ROI das mídias sociais, portanto, precisa ser calculado considerando o aumento do faturamento gerado pelas iniciativas nestas mídias. É uma correlação não muito simples de realizar, apesar de absolutamente possível. Não se

pode banalizar o ROI e alegar retorno baseado em número de pageviews, número de likes, número de seguidores, etc. ROI é uma medida financeira, mensurada em unidades monetárias. Não se deixe enganar! (Dica: experimente tentar pagar quem está oferecendo “ROI” em pageviews e afins na mesma moeda... com certeza sua proposta não será aceita, então porque você aceitaria?) 3. “Se você não é social no offline, não tente ser no online” Essa frase do @GlebeDuarte traz uma grande verdade embutida, que pode ser ilustrada com uma metáfora: só convide seus amigos para uma festa se sua casa estiver arrumada. Lembre-se que mídias sociais e o socialcast têm como característica intrínseca a transparência. Então, se a empresa tem algo a esconder, as mídias sociais poderão ser o caminho para encontrar. Além disso, a mensagem que é passada quando uma empresa anuncia sua presença nas mídias sociais é que ela está disposta a estabelecer uma con-

Tentar ludibriar o público nas mídias sociais é tão arriscado para sua empresa quanto é para uma criança negar que comeu um doce escondido sem perceber que está com a boca toda lambuzada.

83 leaf

plano estratégico, mas uma campanha em mídias sociais será pouco efetiva (e nada sustentável) se for baseada somente neles. Campanhas “com cabeça de broadcast” podem até atrair seguidores, likes e gerar RTs, porém uma pessoa que “dá um like” só para concorrer a um iPad (sic, sic) dificilmente estará construindo um relacionamento. Sorteada a prenda, o “relacionamento” acaba.


hashtag revistaleaf.com.br

84

versa e um relacionamento. Se o canal virar um broadcast, falando da empresa, enaltecendo seus produtos e dourando os seus serviços, esta expectativa será frustrada. Além disso, a credibilidade das comunicações de via única vem decrescendo. Ninguém quer ouvir de você que você é bom. Querem ouvir isso de outras pessoas - de pessoas que te conhecem e que tiveram experiências positivas com você. E querem também conhecer seus defeitos, suas características - porque ninguém mais acredita em príncipe encantado em cavalo branco. Desculpe se isso estraga o seu sonho, mas o estrago é ainda pior quando as promessas de príncipes feitas no broadcast são quebradas pela chegada de um príncipe não tão encantador montando um cavalo malhado de meia-idade... 4. Se você não é democrático, você não é democrático Tenho noção que ficou óbvio demais e até repetitivo, mas a ideia é ressaltar o óbvio mesmo: não tente ser democrático só para mostrar para os outros. Adotar mídias sociais vai bem além de pagar uma agência para manter sua conta no Twitter. Significa ver valor na interação dos seus funcionários com o groundswell. Significa viver um ambiente onde “estar no Facebook” não significa estar matando tempo, mas sim produzindo - prospectando clientes, trocando ideias, criando novos

laços que poderão gerar negócios futuros. Se os funcionários precisam ficar confinados, controlados e obedecendo a ordens, porque se eles tiverem acesso às mídias sociais eles ficarão “matando tempo”, então, o problema de liderança está da porta para dentro - confira o item anterior. Funcionários motivados e comprometidos de verdade não deixam de cumprir suas responsabilidades para ficar de tititi no Facebook. E se algum gerente alegar isto, ele pode estar simplesmente deixando escapar um reflexo do que ele faria, ou transparecendo o tipo de ambiente que ele mesmo instituiu durante a sua “gestão”. Mudanças internas fazem-se necessárias. Arrume sua casa para a festa. 5. Jamais tente enganar sua audiência É sempre importante lembrar que nas mídias sociais, ao contrário dos meios broadcast, o emissor não controla mais a mensagem. Tudo aquilo que for colocado nas mídias sociais está sujeito à análise dos leitores e eventuais opiniões contrárias podem surgir e se propagar. Com toda essa transparência, a verdade vem à tona. Tentar ludibriar o público nas mídias sociais é tão arriscado para sua empresa quanto é para uma criança negar que comeu um doce escondido sem perceber que está com a boca toda lambuzada: a bronca será em dobro e muito provavelmente, a mentira causará uma sanção mais severa do que a falha em si. Se a empresa falhou, assuma e corrija, mostrando para sua audiência que aprendeu com aquele erro e que tomará atitudes para que o mesmo não se repita. Atuar nas mídias sociais não precisa ser complicado. Só precisa ser transparente e genuíno. Se você concorda com esses termos, bem-vindo à festa!


leaf

85


Paris e São Paulo, experimente

vice-versa...

Nikolas W.B.

Na cultura visual, o sentido da arte e suas intervenções são importantes para a sociedade e sua evolução.

intercâmbio

Christiane Wagner faz doutorado na Université Paris-I Panthéon Sorbonne e na FAU-USP. É professora no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e autora dos livros: In Art invenção e artifício. Blucher, 2009; Imaginar para conhecer. Brasiliense, 2011; entre outros.

revistaleaf.com.br

86

Este fenômeno apresenta um percurso pleno de significados na história da civilização, na vida social, em relação às mudanças tecnológicas e aos objetivos do indivíduo em seu desenvolvimento nas grandes cidades. Observe-se em São Paulo a história do seu crescimento e desenvolvimento urbano e as principais características do que representa uma cidade do novo mundo em relação à inovação. Por outro lado, no velho mundo, na França, em Paris, muitas realizações e manifestações artísticas marcaram toda a sua existência. Principalmente em relação ao tempo e ao espaço de alguns períodos importantes para a transformação cultural

francesa, como o da sua Revolução (17891799), a queda da Monarquia e o advento da República. Assim sendo, verificam-se as possibilidades da arte contemporânea ganhar notoriedade pelos seus aspectos polêmicos com pretextos revolucionários de ordem cultural e estética na construção do imaginário social. Da França pela França, e dela para o mundo. Os espaços arquitetônicos do Château de Versailles são, deste modo, não só parte de um momento histórico mas um meio de contrapor valores culturais no desenvolvimento de novas formas de explorar o espaço. Consequentemente, apenas por um resultado transformador é que a arte contemporânea seria percebida como realidade cultural. Todas as questões do mundo fazem parte das culturas, em relação ao

Moyan Brenn

Château de Versailles na França.


A discussão dos antigos contra os modernos é invariavelmente um assunto constante sem grande originalidade na história da arte. também na urbanização dos grandes centros. Em São Paulo, por exemplo, conforme interpretação do Prof. Issao Minami da Universidade de São Paulo, FAU-USP, em relação às obras do artista Claudio Tozzi nos espaços públicos, observa-se a possibilidade de um novo olhar e uma nova forma de percepção, principalmente pelos painéis urbanos. Os territórios urbanos, a arquitetura, as cidades e suas múltiplas leituras, sempre foram predominantes no conjunto de sua obra em relação ao espaço e ao tempo no imaginário do cidadão paulistano em meio à realidade do cotidiano verticalizado da cidade de São Paulo. Mas outra realidade se encontra na arte contemporânea na França, com maior destaque em Paris,s, palco de grandes transformações sociais, ais, políticas e artísticas e referência para o mundo. Ainda

87 leaf

passado e à inovação. De modo que, na dimensão do mundo real, a realização e o espaço em relação às suas marcas históricas são o resultado da evolução tecnológica e social. Durante o século XX, muitos pesquisadores estudaram as consequências das inovações como importantes e necessárias nas áreas de culturas técnicas, políticas e materiais da vida cotidiana. Hoje, porém, a sociedade de consumo, a vida urbana, do ponto de vista do sociólogo Edgar Morin, se define pela ideia da relação entre passado, presente e futuro. Mas de tal modo, que condiciona a sociedade a questionar aonde este caminho nos levará, o que significa a atual crise e do que valem as velhas ideologias em face dos interesses do século XXI: invenções, inovações, criações, técnicas, culturas, ideologias que modificam a evolução ou revolucionam os princípios de evolução. Desse modo, encontra-se sentido no pensamento de Morin, uma análise deste assunto em inovação e criação como configuradoras de imagens, sendo estas exceções à regra comum, de certa forma, a arte contemporânea. Uma característica que se fortalece como tendência em artes visuais e que na sua relação com o cotidiano, pelas exposições, interferem

Groume

Conseil général des Yvelines

Esculturas de Bernar Venet na entrado do Château de Versailles.


intercâmbio revistaleaf.com.br

88

André Deak - Arte Fora do Museu

Obra do artirta Claudio Tozzi no acesso norte da estação de Metrô da Sé.

hoje, sempre fazendo parte dos principais temas no universo das artes, retomo o cenário do Château de Versailles como obra arquitetônica de grande importância histórica e a exposição das esculturas de Bernar Venet que compõem a atual imagem do castelo com duas fileiras de oito arcos de 22 metros de altura. O destaque é a obra instalada fora dos portões de entrada. Segundo Venet, a escultura não é um parêntese, mas um enquadramento da estátua equestre de Louis XIV em primeiro plano e do castelo ao fundo. O artista instalou seis obras de aço nos jardins, também com arcos de linhas indeterminadas ou verticais. Para saber mais, acesse o site do Château de Versailles e, veja também, a reportagem de Dominique Poiret para o jornal Liberation. A discussão dos antigos contra os modernos é invariavelmente um assunto constante sem grande originalidade na história da arte. A cada nova exposição ou nova imagem a ser especulada sob o antagonismo entre o velho e o novo, tradição e progresso não passam de uma simples imagem de aparências. Principalmente na arte contemporânea, como explica Marc Jimenez: “é o avatar do pós-moderno, e

além do simples jogo de dualidade entre o passado e o futuro, é também a terceira dimensão da miscigenação generalizada”, com referência a uma exposição anterior, também polêmica, no Château de Versailles, de Takashi Murakami, um dos stars da arte contemporânea japonesa - e não da temporalidade - deste show que há mais de 40 anos, mencionado por Guy Debord ainda segundo Jimenez como o momento em que as mercadorias ocupam o espaço da vida social. Durante a exposição de Murakami, o jornal Le Monde publicou sobre este assunto o ensaio de Marc Jimenez, filósofo em estética e germanista na Université Paris I Panthéon Sorbonne e autor de La Querelle de l’art contemporain (Gallimard, 2005), uma obra importante que esclarece o sentido da arte contemporânea em sua abrangência. Enfim, Versailles recebeu também, em suas instalações do Castelo, dois anos antes de Murakami, as obras de Jeff Koons para compor o cenário e conteúdo destes tão comuns assuntos explorados pelos media, de tempos em tempos, sobre a arte contemporânea, na França, em São Paulo ou mundo afora seguindo o standard da globalização.


leaf

89


experimente fica ligado! revistaleaf.com.br

90

Desconectados Escolhemos a profissão Designer, que talvez nossos pais nem soubessem que existia. Uma profissão que seus

Tatiana Camilo tem 21 anos e 2 tatuagens. Apaixonada por arte e desafios. Admiradora das coisas simples e criativas. Formada em Design Gráfico desde 2010. Entre tantas outras coisas, trabalha com criação e continua escrevendo em todas horas extras possíveis. @tatianacamilo

avós nunca irão entender. Alguns acham que decoramos casas porque existe um programa chamado DesignStar num canal de TV por assinatura. Alguns acham que fazemos gráficos. Outros acham que apenas desenhamos ou apenas fazemos cartões de visita. Já ouvi de tudo. E na hora de explicar, tenho a sensação que as pessoas só entendem a parte do computador. Já me perguntaram até se eu sei consertar. Não, eu faço diagramações. – Diagramação? O que é isso? – Ah, deixa pra lá. Muita gente acha que passamos o dia inteiro “mexendo” no computador (o que chega a ser engraçado, porque hoje em dia é difícil alguém que não “mexa” no computador, mesmo que seja só para jogar paciência).

Além da internet, bluetooth, wireless, entrada para USB, pen drives, softwares atualizados, tecnologias e acessórios cada vez mais avançados, que invadem nossa vida e fazem com que nos rendamos num piscar de olhos, as redes sociais também surgiram para facilitar nossa vida. Ou pelo menos, esse seria o propósito. Ficamos online e pronto: não estamos mais sozinhos (Será?). Em poucos minutos, temos um bocado de “amigos”. Imagens aleatórias de alguns gigabytes, com pixels estourados, ocupando pouco espaço e muito do nosso tempo. A internet nos faz interativos. Podemos curtir e comentar sobre tudo. Podemos expressar nossa opinião ou simplesmente passarmos opiniões alheias adiante. Não conseguimos mais nos imaginar sem esse poder, não conseguimos


Achamos a grama do vizinho mais verde, o twitter do famoso mais interessante, o celular do amigo mais moderno... Ficamos viciados em estereótipos. avós nos encontram, eles querem saber nosso estado civil, o que fazemos da vida, se ainda somos amigos do fulano, se fomos ao aniversário de ciclano. Enquanto nós, jovens práticos da geração Y, também chamada geração do milênio ou geração da Internet, acessamos profiles que nos respondem algumas perguntas. Quem é você? Do que você gosta? Quais lugares frequenta? Mesmo assim, muitas vezes nos enganamos. Essa persuasão com a qual manuseamos nosso trabalho – através da razão, emoção, ou os dois em uma única tacada – algumas vezes se volta contra nós. Nós acreditamos um pouquinho nas fotos sem defeitos, nas ilustrações da página e na vida diagramada das pessoas. E com isso, achamos a grama do vizinho mais verde, o twitter do famoso mais interessante, a cadeira do outro mais confortável, o celular do amigo mais moderno... Ficamos viciados em estereótipos.

91 leaf

mais nos imaginar sem essa luxúria que hoje é tão necessária e torna tudo tão mais veloz. Contudo, tenho a impressão de que o jovem de hoje possui dificuldades em se relacionar. Irônico? Pode até ser. Mas a realidade é que nem sempre somos tudo aquilo que postamos. O jovem atual é esperto, dinâmico, rápido e tímido. Por incrível que pareça, grande parte desses jovens – nos incluindo – está desconectada de si mesma e dos outros. Muitas vezes, optamos em manter relacionamentos à distância ao invés de jogar conversa fora com nosso vizinho. Observe. Os mais velhos possuem mais facilidade em iniciar uma conversa pessoal com um estranho que nós jovens, que preferimos manter contato com as pessoas já conhecidas através de um telefone celular, que pode nos conectar com o mundo. E digo mais. Não temos paciência para conhecer as pessoas. Quando nossos tios e


fica ligado!

Nossa relação com as pessoas está se tornando cada vez mais frágil e criamos uma ilusão de que aquelas, que só nos deram “oi” uma vez, estão perto de nós, separadas apenas por uma conexão banda larga.

revistaleaf.com.br

92

Quando minha mãe ainda não era acostumada com o fato deu precisar ficar horas na frente de um computador para fazer trabalhos da faculdade e meus trabalhos de gente grande, ela dizia: “Menina sai da frente disso, vai viver o mundo real, isso aí é tudo ilusão!”. Hoje ela entende melhor minha realidade de designer e eu até acho que ela tinha um pouco de razão quando me dava aquelas broncas. Entendi que ela não estava falando do Illustrator, Photoshop, InDesign, Dreamweaver, entre outros softwares que nos deixam loucos. Ela estava falando das redes sociais. Não vou negar: adoro Facebook e Twitter; Orkut, já nem tanto. Mas me pergunto se isso aproxima mesmo as pessoas. Se tudo aquilo não passa de uma disputa de quem é mais feliz, de quem grita “Cadê meu chip” mais alto (lembra disso?), de quem leva o maior susto, de quem faz o melhor remix da notícia, de quem tem mais amigos, de quem é mais engraçado e assim por diante. Quem pode ser mais? Alguém, por favor, me diga onde isso vai parar. Através do Youtube vem a possibilidade de se mostrar para o mundo. Nos anos 80, o jovem pertencia a alguma tribo para ser aceito. Nos anos 90, isso se enfraqueceu e o jovem começou a se chamar de normal para poder transitar em várias tribos. Atualmente, ser normal tornou-se chato quando é possível ser várias coisas ao mesmo tempo. Designer, skatista, mergulhador, DJ, mochileiro, professor, escritor, desenhista, ator... A consequência disso é uma grande ansiedade para

acompanhar as informações que se transformam a todo o momento e, ao mesmo tempo, o medo de se sentir perdido na multidão. Isso traz a necessidade de ser destacado, reconhecido, diferente, irreverente, ou, no mínimo, visualizado. Por que as pessoas publicam que vão tomar banho, dormir, que acordaram, que irão almoçar, que foram ao cinema, que estão cansadas? Que atire o primeiro mouse quem nunca escreveu algo do tipo. Mas não se culpe. Nós somos jovens e queremos abraçar o mundo. Nós queremos aproximar as pessoas. Porém, nossa relação com as pessoas e com o mundo está se tornando cada vez mais frágil e criamos uma ilusão de que até aquelas, que só nos deram “oi” uma vez na vida, estão perto de nós, separadas apenas por uma conexão banda larga. Por isso, hoje quero lhe dar um conselho, se não, fazer um convite. “Mexa” no computador o quanto quiser, afinal, não há quem duvide do quanto ele é útil em nossas vidas. Mas vamos usar a tecnologia a nosso favor ao invés de tentar nos camuflar. Vamos fazer mais amigos de verdade. Adicionar pessoas na nossa vida. Adicionar conhecimento, não apenas informações. Vamos compartilhar coisas mais importantes. Vamos ligar, visitar, abraçar, beijar, sentir o cheiro das coisas. Vamos cuidar da NOSSA vida como se ela fosse aquela fazendinha virtual. Vamos ser mais naturais. Sem querer ser rabugento ou engraçado demais. Vamos ser quem realmente somos, pois esse é o melhor jeito de sermos únicos.


leaf

93


É com imensa satisfação que escrevo aqui sobre a minha vida fora do blog, me senti até importante por ser convidada. Antes de tudo, já vou avisando que é difícil separar minha vida de dentro do blog da que tenho fora dele, os dois são bem parecidos, tirando o fato de que minha vida por fora é um pouco mais diversificada e atualizada. Quando tive a ideia de criar um blog, ou dois, três, foi simplesmente para compartilhar o que gosto, coisas que estavam presentes em meu dia a dia. Por isso, todos os blogs que escrevo são um reflexo do que mais gosto, tudo que vivo e escrevo se resume em tecnologia, qualidade, games, música, internet, esportes, animais e um pouco sobre coisas fora do mundo virtual. Desde muito pequena, sempre fui ligada em computadores e esta minha

Fernando Augusto

Música, tecnologia e games

experimente blog off revistaleaf.com.br

94

Camilla Navarro @MihNavarro playerc.com.br

paixão aliada aos games se tornou maior e fez-me tomar um rumo em minha vida. Hoje estou quase me formando em Ciência da Computação e trabalho na área de qualidade de software, com testes. Para mim, não há nada mais importante do que a satisfação do cliente e um software bem projetado. Penso que a qualidade é importante em todos os aspectos da vida, inclusive nas coisas que nos divertem. Por isso, meu plano no futuro é juntar o útil ao agradável e me tornar uma testadora de games. Por falar em games, desde o meu primeiro contato aos 6, 7 anos de idade com o Super Nintendo (SNES) me apaixonei. Lembro-me de horas e horas jogando “Super Mario” e “Aladdin” enquanto algumas crianças corriam pelo prédio... Apesar disso, não pensem que fui uma criança sedentária: eu também tinha vida social e sempre saía para jogar futebol, um dos esportes que mais amo, junto com natação, karatê e ciclismo. Pode parecer até estranho uma pessoa apaixonada por eventos geeks, games e estudos que envolvem números ainda assim amar esportes, mas sim, eu amo. Os meus 16 anos foram o topo da minha vida esportiva, fazia academia, futebol,


95 leaf

mais a letras. Gostando da letra, escuto e acabou, mas quando falo de melodias, dentre todas, a que mais amo é o som que sai do meu violino, mesmo não tão bem tocado. Em resumo, tenho uma vida simples, mas cheia de conexões, sejam virtuais ou reais. Divirto-me em cada momento, pode ser em um dia chuvoso, presa em casa lendo um livro, em um dia de sol com amigos ou em qualquer clima em frente ao computador. Claro que devo lembrar que, apesar de amar tecnologia, nem todas as minhas experiências com computador são boas. Existem algumas frustrações em minha vida, assim como lidar com o Photoshop e gravar DVD com menu. Nunca consegui, mas vou tentando; afinal, agora tenho a oportunidade de compartilhar e sugar conhecimentos dos meus amigos da Leaf.

revistaleaf.com.br/blog

kung fu, karatê e handball, e agora, bom, agora é bom eu falar mesmo de tecnologia. Hoje em dia busco nos games minha diversão, quando me sobra tempo. Sou um tipo de garota diferente, posso passar horas e horas em uma loja de games só observando e não ter paciência nenhuma para experimentar mais de dois sapatos quando vou fazer compras. Devo isso ao meu alto contato com as máquinas, mas estou evoluindo no quesito “coisas de menina”. Meus games favoritos sempre envolveram desafios e lógica. Gosto de games para pensar, tais como “Resident Evil 4”, “Tomb Raider”, “God of War” e os desafiadores jogos sociais do Facebook. Tenta ficar muito tempo longe de sua “CityVille” para ver como você precisa contar com seu dom de superação. Esses joguinhos sociais são realmente viciantes, estou me libertando aos poucos. A música também é uma grande motivação pra mim e quando estou fora do mundo virtual busco nela letras ou melodias que possam mexer com meus sentimentos. Sempre fui muito eclética quando se trata de ritmos, me apego


inspire-se humor revistaleaf.com.br

96

Criado em meados de 2004, o De(ath)sign nasceu como uma piada para desestressar e mandar para os

de trabalho, tentando encarar com humor (e ódio) as desgraças da nossa profissão.

amigos de faculdade. Hoje, ele é uma piada para desestressar e mandar para amigos

Curtiu? Dê um pulo no: www.deathsign.com.br!


leaf

97


revistaleaf.com.br

98

humor


leaf

99


a l e e r f r Se a s i c e r p . . . l não i c í f i d o ã t r e s

Nas melhores livrarias e em www.2ab.com.br


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.