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LÁRIS VASQUES TAVIRA – Brasília, DF

LÁRIS VASQUES TAVIRA – Brasília, DF Escritora

LICENÇA POÉTICA

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Viver, literalmente, anunciou-se para mim como algo que se elabora com palavras. Para bem entendê-lo, melhor compreendê-lo, ao viver, preciso das palavras. São com elas que perfaço meu pensar. Se preciso das palavras, afim de contar qualquer coisa, meu pensar pode ousar também ser poético, tudo só depende de um critério estético. Quando me conto em mim num conto, vou de encontro ao meu eu-lírico, me sinto e me deparo com o encanto da poesia, pois nela também posso habitar. Eu perambulo em crônicas, versos e contos, dou-me por surpreendido em qualquer gênero literário, pois, literalmente me penso, no que sou, através das palavras. Por tanto que me pareça um saber de ordem revolucionária, esse de que posso me poetizar, não posso fazer desta descoberta uma tese. A poesia carrega em si uma verdade tão irrefutável que é impossível falseá-la. Não pode ser posta às provas de uma cientificidade. Eis sua miséria, pois, jamais se faria notar, poesia, na parca e fugaz presença de parágrafos rascunhados com o propósito de perscrutar verdades. Minha poesia é o registro do que sinto, vivo. Faço isso enquanto escrevo ou então escrevo enquanto faço isso, apenas registro o que sinto, vivo. Pedem que eu faça isso há anos: pois bem, cá estou eu, literalmente vivendo. Ninguém melhor do que eu para narrar-me desta forma, com esta vista privilegiada que tenho de mim, de sentir o que eu sinto e apenas registrar isso, literalmente apenas viver. Já não preciso mais de muito, apenas registro o que sinto, assim vivo. Escrevo. Deleitome, quando me dou uma escapada e consigo pensar-me em mim, num verso. É de um privilégio único sentir-se o poético, vivê-lo. Escrever revelou-se para mim, como o mais singelo gesto, de a vida conceder-me em mim uma licença poética.

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