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CARLOS ARINTO - Portugal/ Lisboa

CARLOS ARINTO - Portugal/ Lisboa Profissão liberal

FRUTO DOCE: O LADO POÉTICO DA VIDA

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Chove, faz algum frio e ao anoitecer aparece um nevoeiro que tudo cobre e oculta. As luzes dos candeeiros nas ruas, ficam baças e apenas se infiltram pela humidade que se espalha pela cidade para mostrarem as ruas, os edifícios e os jardins, no seu adormecimento noturno, com revérberos de cores multiplicadas pela fantasia do arco-íris. A noite de chuva miudinha, salpicada pelo nevoeiro é um lado, um dos lados possíveis, poético da vida, uma lembrança de muitos desejos, sonhos e aspirações. Olho da minha janela este lado poético da minha vida, e penso que nem a esperança morre, depois de todos terem desistido. Depois de eu me ter ido deitar e adormecido.

Dom Sebastião é o cavaleiro, o anjo e o salvador que nos virá resgatar do lado oposto, do sofrimento e da realidade, da dura vida, do dia-a-dia. O desejado e nunca alcançado, porque a poesia que se materializa, que se cristaliza em diamante é fugaz, inalcançável, interdita e utópica. Sob pena de não ser poesia.

Todos temos sonhos e sonhar é desejar o impossível. É talvez, uma ilusão ou um lado poético da nossa existência este fugir da dor, do martírio, da desgraça, do sentimento que nos obriga à insatisfação.

Impossível é não sonhar ou não ter lado poético na vida. Uma vez, às vezes quando nos abandonamos às delicias de um fim de tarde de verão, a um pôr-do-sol no horizonte do nosso descanso, a um mergulho nas águas geladas de um rio de areias e seixos limpos, somos a poesia que justifica a vida, anulando o errado, o prejudicial e o odioso.

Um amor, uma paixão, um filho, uma família, são condimentos da nossa poesia, tal como os amigos que nos fazem respirar melhor e sentir uteis, importantes, indispensáveis, deuses.

Sendo a definição do “lado poético da vida” diferente entre todos ela é comum no prazer, no bem-estar, na gratificação da serenidade que provoca. Até o circulo mais redondo possui lados, esquinas, arestas, norte, sul, oriente, ocidente, barlavento, sotavento e o mais que se queira chamar.

O aconchego de um lençol lavado, numa cama acabada de fazer, um abraço entre irmãos, dançar ao som de uma guitarra, ouvir um fado, chorar de emoção, olhar um quadro que nos fere a sensibilidade e nos provoca exaltação. O lado poético da vida está em nós! O lado poético da vida, somos nós!

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