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CLÁUDIO D'AMORIM - Rio De Janeiro, RJ

CLÁUDIO D'AMORIM - Rio De Janeiro, RJ Músico, cronista e poeta

"Vida, verso a verso". Erro não se copia; Morte não pede bis, Medo se esvai na pia: A regra é ser feliz”

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Cláudio D’Amorim VIDA, VERSO A VERSO

Tornamo-nos tão ocupados que o tempo passa mais rápido do que poderíamos medir e só nos damos conta disso quando alguém vê isso por nós. Meses atrás estava eu no terminal Alvorada esperando o expresso que levaria a mim e outras pessoas a Bienal do Livro quando um rapazote vendendo confeitos de amendoim se aproximou: _ Vai, vô? Compre aí, pra me ajudar.

Recusei, de modo evidente. Desde que passei a usar prótese dentária a iguaria saiu do meu cardápio. Ele foi então vender a outros.

Um espanto. Ele me chamou de “vô”. Não bastasse por décadas as moças se referirem a mim como “tio”, agora sou trocado de patamar. Por dentro eu me sinto tendo 15 anos. Nem filas de prioridade eu frequento. Aí se deu o estalo.

Aquilo não foi só um choque, foi uma puta trombada! Não me refiro ao meu despertar, mas ao veículo que abalroou o que eu esperava, obrigando-nos a aguardar o próximo, o que me permitiu minutos a mais de reflexão.

Dentro do pavilhão um mundo de jovens encantados e eufóricos igualava minha atividade cerebral, mas meus passos cadenciados lhes eram o oposto. À bem da verdade, e isso não é um achado, viver leva inexoravelmente à senilidade. Portanto não me amofinaria por causa de detalhes como esse. Aliás, não me amolei ao não poder mais lutar boxe: fiquei imbatível nas damas. Na rua D parei. Um stand exibia o calhamaço “Envelheça sorrindo” de Afonsim Primevo. Atraiu-me, sim. Comprei de imediato. Estou quase ao fim da leitura. Bem digerível. Uma delícia.

Agora que outro aniversário se aproxima relembro que não comemorei com frequência a data, salvo quando foi impossível escapar de amigos e familiares mais efusivos que eu, e os agradeço por isso. É que engolfado nos livros, cercado de palavras e rimas por todos os lados, contar os anos nunca foi meu forte. Concluo agora que a graça de todo o período foi nunca ter sedado a mente. Quando não pude mais fazer algo, por já ter realizado ou por mero desinteresse, parti sempre para outra proeza, a que estivesse ao meu alcance. É bom quando se pode partir em busca do que se gosta.

Ler muito e escrever outro tanto moldou o lado produtivo desta existência. A poesia

de minha vida foi escrita pelo tempo, verso por verso. Considero que tal prazo os veio enfileirando não em anos, mas por frases consoantes. O traquejo poético garantiu-me a fibra pelo feito dos 68. Fi-los em métricas. Com garbo.

Um exemplo é que hoje sem receio posso elogiar uma jovem sem que ela pense que estou lhe dando uma ‘cantada’. Sem figurar como ‘tiozão’ não propago segundas intenções e a autenticidade enternece o coração da distinta.

Todos os nossos tempos e desejos estão dentro de nós, basta escolher o que é prioritário e possível. Redescobrir certas práticas e emprega-las gratifica.

Do interessante livro tenho absorvido alguns conselhos, porém continuo longe do amendoim em carocinho. E não é que – devo dizer - redescobri a paçoca? Bem digerível. Uma delícia.

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