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LUIZA MOURA DE SOUZA AZEVEDO - Feira De Santana, BA
LUIZA MOURA DE SOUZA AZEVEDO - Feira De Santana, BA Enfermeira
HÁ POESIA DESDE A CIZÂNIA À FLOR DE LÓTUS
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Pensei sobre várias formas para falar sobre o lado poético da vida. Poderia mergulhar na literatura e explorar a contribuição deixada por tantos grandes poetas ou poderia esperar pelo nascer do sol de um domingo de descanso, mas estou aqui em um banco de praça em plena quarta-feira e até poderia descrever um lindo céu estrelado com uma lua bem cheia ou falar de um sol brilhante e do canto dos pássaros. Ninguém saberia que estamos mesmo às 17h e o barulho é de um trânsito bem turbulento. Observo então por um momento este cenário caótico e penso se aqui também teria espaço para a poesia.
Por um momento foi inevitável lembrar da Semana da Arte Moderna e, nem se preocupem pois não pretendo cansá-los com uma abordagem academicista, apenas trago aqui essa lembrança, pois justamente em 1922, cem anos após a “Independência” do nosso Brasil, se buscava, entre outras coisas, quebrar a formalidade e romper com o tradicionalismo. Oswald de Andrade traz reflexões bem subversivas sobre a poesia quando diz que:
“(...) Há poesia Na dor Na flor No beija-flor No elevador. ” Um pouco mais tarde Carlos Drummond de Andrade expande essa reflexão dizendo: “Se eu gosto de poesia? Gosto de gente, bichos, plantas, lugares, chocolate, vinho, papos amenos, amizade, amor.
Acho que a poesia está contida nisso tudo. ” Voltando aqui ao trânsito caótico e ao calor do momento, penso que o lindo pôr-dosol com tons alaranjados e vermelhos que tantos apreciam também escondem a poluição, falta de chuva e pouco vento. Quanto mais espetacularmente alaranjado, mais poluído. Então automaticamente vejo que até as coisas aparentemente mais horríveis escondem uma beleza particular.
Aqui nesse banco de praça não posso citar nesse instante uma paisagem bucólica e nem dizer que avisto o Monte Parnaso. Não vou falar de amores platônicos e o som das buzinas está longe de indicar a presença de um Trovador. Não pretendo explorar nada de místico, ou abusar de figuras de linguagem. Trago aqui um pequeno recorte da apreciação de um dia comum de uma quarta-feira em uma pequena cidade e afirmo que há bastante poesia aqui, muito além do que os olhos podem ver e talvez bem mais do que eu consiga descrever, porque o lado poético da vida está em tudo e em nada, está dentro dos que negam ver ou dos que ousam discorrer, está no grande e misterioso antagonismo da vida que desde que nascemos mais nos aproxima do morrer.