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Anaí Bueno

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Valéria Barbosa

Valéria Barbosa

Anaí Bueno Rio Grande/RS

Culpa

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— Não, não diga isso. — Ah, não quer ouvir, é? Não tivesse feito … Bom, você sabe. — Eu não fiz mal algum. — Não é o que parece. — Mas eu … — Calada. — … — Ah, agora decide chorar? Lágrimas não vão trazer a criança de volta. — Eu sei. — Pois devia saber disso antes. — De verdade, eu não quis machucá—lo. — Caso não quisesse, ele não teria morrido por falta de ar. — Eu não vi isso acontecendo! Mas você vem aqui todos os dias, me acusa e não acredita em mim. — Você, não. Senhor. Já disse pra me chamar de senhor. — Não aguento mais. — Vai ter que aguentar até assumir a culpa; se não for por bem, vai ser por mal. — Não, pare! — Gente sem—vergonha merece apanhar! — Ai! — Assume! Eu já mandei você assumir! — Eu cuidei o quanto pude. Trabalhei e sustentei o meu filho recém—nascido. E sozinha. Pelo amor de Deus, não me bate de novo. — Devia ter cuidado mais, como uma mãe de verdade, entende? — Mas eu fui uma mãe de verdade. Eu sou. Tudo em que eu acreditava antes do nascimento dele tornou—se pequeno, medíocre. Então não vem falar sobre ser uma boa mãe, ainda mais você, uma pessoa incapaz de gerar a vida dentro de si. — Se fosse boa, ia ter ao menos a decência de não inventar essa história de que só viu o bebê morto pela manhã. — Mas foi isso. Quando adormeci ele estava vivo e … Não, por favor! — Não adianta pedir ajuda; vou insistir até você dizer que é culpada. — O meu bebê existiu, ainda que por poucos dias, mas eu o amo, não fiz nada de errado e não vai ser você a me convencer do contrário. Some daqui! Não vou mais tolerar as tuas investidas. — Patrícia muito bem. O seu bebê existiu. Você quer conversar sobre esse homem? – diz a psiquiatra.

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