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Bruno Black

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Valéria Barbosa

Valéria Barbosa

Bruno Black Fumacê/Realengo/RJ

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Cala a boca trabalhador

O sol nasce Os pipocos na favela comem Comem nossos ouvidos Comem nossas forças E o medo nos invade Mas o que fazer? Temos que trabalhar Para trazer o pão de cada dia para casa! O sol continua se pondo Só os tiros parecem iluminar o céu Policiais, inexistentes E o trabalhador começa a sonhar com a trégua da guerra Que não é no Iraque Para então não perder a fonte de cidadania Que o faz alimentar sua família. A trégua aconteceu Mas apenas por um minuto E quem ficou Ficou

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Ficou à deriva de balas que procuram vingar as dores de vagabundos E fica quicando de um lado para o outro Quicando sem parar Sem parar até furar alguém. O sol vai embora E o trabalhador agora briga com o tempo E pede outra trégua Para pode chegar em casa Ele corre entre brilhos agitados Ele corre para salvar a própria carne E quando chega em casa Encontra a sua parece furada Seus filhos estraçalhados Sua mulher morta e com a cabeça arrebentada E o pão sobre a mesa à sua espera Em silêncio E as escuras Ele junta suas forças E vela a morte dos seus Como se ele fosse um padre. Nada mais ele podia fazer Quem iria chamar? Os cúmplices? Os assassinos? Quem? Então a voz da razão disse: Cala a boca trabalhador!

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