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Charles Burck

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Valéria Barbosa

Valéria Barbosa

Charles Burck Rio de Janeiro/RJ

Carnadura

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Tomou-me como quem chega de um imenso abandono A boca seca sobre a minha fonte Descontrolada e sôfrega Antes que a morte consumisse tudo, antes que a vida das cinzas se tornasse chamas Tomou-me como dono, sem construir um alicerce sequer, sem um tijolo posto Do amor, a que nada servia, Operário, servente de pedreiro, engenheiro de porra nenhuma Enfiou-me os dedos na massa pronta e lambeu Ajeitou-se nos cômodos e esqueceu-se de mim, Nos glúteos, as sofrências, as marcas de flores arroxeadas, Tomadas floresceres de assomos dos jardins da decadência Se inocência já era daninha entre flores depravadas, fazia tempos que eu o desejava Os meus arpejos suspirados, aflorados em desesperos no corpo Rasgues então as minhas carnes, sorva todos os meus líquidos, devotada e embriagada que estou Deixe-me somente meio litro necessário para que eu não me vá da vida, toda... Entupa a minha boca, as minhas coxas, por outros fatos... De dormência, de solfejo, de carnadura Alimente-me de beijos, roubados do aberto ventre e exposto Das espremeduras dos seios, desconte-me em mim o tempo que eu não fui tua Mas nem precisava a demência, a sofreguidão dos marinheiros de mares revoltos Nem precisava que me pedisses porto, algum consolo, Ou qualquer rogativas minha posta de saudades Ou que me impusesses as tuas invasivas lembranças Ou me impetrasses tu, me penetrando o mastro da nau dos desesperados ou que eu implorasse a ti qualquer amparo tolo Ou ainda que tu, nada sentisses por mim, pois que a isso nada importasse Para quê? Se eu, na tua ausência, já era tua

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