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FERNANDES, Fernando Roque

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Valéria Barbosa

Valéria Barbosa

FERNANDES, Fernando Roque Porto Velho/RO

Evas, vadios e moleques… Bêbados, malandros, artistas e rauls…

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Belém do Pará, Ver-o-Peso, Quarta-feira, Verão de 2017.

Trímmm… O copo caiu da mesa, quebrou... Pessoas gritam, dizem êh êh êh… Já passou das 18 horas. O sol se põe e o sinal já deu alerta. Gritam evas, vadios e moleques… Gritam bêbados, malandros, artistas e rauls… Grita a boemia, o Vero-Peso, o Porto de Belém, a Baía do Guajará… Só que não de desespero, mas como um sinal de que a noite está apenas começando. O velhinho chega, oferece pintas, bordas e jornais, lantejoulas, cornetas de carnavais. Diz que muitos deles já viveu. Pelo menos 70 em seus 77 anos… Diz que nunca um cigarro tragou, mas é só balela de vendedor. Me oferece uma caneta e toca meu coração. A oportunidade perfeita pra me fazer poeta em meio ao caos. Barganho preços como aprendiz de camelô: - Duas por cinco? Aí sim, doutor, negócio fechado! Vaise embora num repente, da mesma forma que chegou. Pago a conta, mas apenas para me sentir em dias. Logo peço mais, muito mais… Porque sei que dessas coisas tem à noite… A essa altura em Belém, no Ver-o-Peso, a situação está se armando… O copo caiu e quebrou, sinal das 18 horas… Gritam evas, vadios e moleques… Gritam bêbados, malandros, artistas e rauls dizendo: ˗ É hora de todos nós! A loirinha que veio do Rio Grande do Sul já se foi deste recinto. O coroa que se engraçou da moreninha se deu conta de que era melhor convidar pro reservado e o bêbado bamburrado, já sem dinheiro, se esvaiu do bar da esquina. Enquanto isso todos nós permanecemos aqui. Somos evas, vadios, moleques, bêbados, malandros, artistas e rauls subindo ao palco... A noite é nossa! Agora é nossa vez! O sol se pôs no Mercado de Ferro... O vento, ainda forte, bate contra o cais... Mas isso não importa, a noite é nossa!

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Estávamos aqui desde o almoço, esperando uma oportunidade. Vendemos cintos, copos, corpos, capas de jornal, dvd’s… Prontos a qualquer momento para qualquer freguês… Vivemos e revivemos a cada dia a profissão… Entramos pela noite loucos, desvairados, ensandecidos… Sem noção das notícias que circulam na internet ou na televisão e sem a mínima conexão com a globalização… Aqui, pode até não parecer, mas nossas vidas são menos caóticas ou, pelo menos acreditamos, imaginamos ser. Parece que aqui controlamos um certo espaço de poder… Aqui o bêbado compra fácil, a prima tem mais clientes para atender e o Raul tem mais ideias enquanto o dia não amanhecer… Se tiver dinheiro, tudo fica mais tranquilizado e otimizado pra mim e pra você. A noite é toda nossa e é assim que queremos viver: tomando um gole de cerveja e vendo um copo de cachaça e uma onça de tabaco ao lado do “pé inchado”... Olhando de meia em meia hora no relógio com os negócios em alta até alvorecer. Nossos vícios são bem específicos: sentir, cheirar o ar, beber, tragar, viver, sonhar... Alimentamos nossas consciências de várias vidas com porquês… Buquês? A vida para nós é um jardim! E quando a rosa encontra o cravo, seus espinhos se perdem no laço da centelha suicida da ponta de uma bagana de cigarro... E em nossos traços, em meio aos embaraços, um lenço de papel, rabiscado por uma caneta comprada de um velhinho de 77, se transforma em versos soltos e descompassados, transcrevendo relatos de um cotidiano representado em linhas tortas com algumas frases amorfas, quase mortas. Porque a noite é toda nossa, ela é de todos nós... Porque somos evas, vadios e moleques… Somos bêbados, malandros, artistas e rauls…

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