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Roque Aloisio Weschenfelder

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Valéria Barbosa

Valéria Barbosa

Roque Aloisio Weschenfelder Santa Rosa/RS

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Jugo da Arte

Era uma vez um poeta pintor com seus versos impressos com tinta numa tela.

Não, não estou trazendo uma história de final feliz, começando com era uma vez. Trago olhos abertos para a cena da vida onde a criança é artista natural e o adulto escreve poesia que tenta publicar em livro, mas só ganhará parabéns dos amigos e ninguém adquire a obra.

Arte e sorte, as duas com R terminando a primeira sílaba, são o momento. Tendo sorte, o artista ganha a mídia e o apreço do público. Sem a sorte, a arte vai à busca de um norte dado por algum interessado, seja diretor teatral, de editora, seja patrocinador de evento, de edição, seja promotor de festival, de feira, ou seja, um momento qualquer de promoção.

Lá vem o cronista trazer à tona seu texto num site, lá vem o músico tocar em praça pública, o repentista trovar numa estação de rádio. Ali, logo adiante, tem um teatro de entidade em que se apresenta o grupo de uma escola, dirigido por professora voluntária, crente na força da melhora do mundo pela arte. Já é tempo de nascer o pintor do sete na calçada em frente à casa de um grande poeta do passado. Ainda resta a esperança de que sétima arte volte ao brilho de tempos passados.

De repente, uma flor na lapela. Só pode ser um doente mental, ou um ator de teatro. Subitamente, um convite para um lançamento de livro, mas quem disse que fulano é escritor?

A arte não prescinde de recursos. Para ela, chamada integrante da cultura, os governos destinam migalhas. É que não sabem que a arte cura com muito mais eficiência do que todos os remédios dados aos doentes, todos os gastos com tratamentos hospitalares. Faltam casas de espetáculos e sobram postos de saúde. Faltam incentivos para incluir no orçamento familiar a compra de livros, de quadros pintados, de entradas para teatro e cinema, de ingressos para

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apresentações musicais – shows, dizemos para pensarmos americanamente – e enriquecemos as multinacionais das drogas chamadas remédios.

De uma hora para a outra nasceu o vale-cultura, mas parece que dorme o sono dos mil anos, igual à Bela Adormecida. Alardes, meros alardes e pouco ou nada acontece em prol de quem poderia viver de música, de poesia, de pintura, de encenação...

Os sonhos são sempre uma arte da mente dormente.

A arte está nas crianças pequenas e é amortecida, aos poucos, pelas regras sociais de que a escola se encarrega com o nome educação, mesmo que se saiba que educar é uma arte de que muito menos pessoas, do que se presume, entendem direito. O aluno artista vira um palhaço que, a toda hora, é incriminado. Os palhaços são aqueles que ainda não entenderam que a arte é que salva o ser humano da depressão a que as muitas obrigações o levam. Por falta da arte na vida, o ser humano vira ganancioso e mata o próprio filho –Bernardo – rouba o dinheiro público – Lava Jato – até desvia a pouca verba destinada à cultura.

Arte, não aquela de roubar a cena, superfaturar construções governamentais, mas toda a demonstração diferente dos muitos padrões impostos ao ser humano, esta arte sofre. Por causa disso, poucos conseguem escapar da neurose de ter dinheiro, dinheiro, seja em decorrência do sofrimento de quem que seja. Quando a arte receber o devido respeito das autoridades, estas precisarão ser em número muito menor, pois os escritores se organizam, os pintores se associam, as companhias de teatro se programam, o cinema se esquematiza. Todos os tipos de arte apenas querem melhorar o mundo, e a própria educação ocorre por intermédio das artes. Muita matemática, ciências todas, linguagens as mais variadas tudo pode ser ensinado pela arte.

Ao artista cabe apenas ser ator, atriz, escritor, poeta, pintor, desenhista, escultor e ter-se-á professor, cientista, construtor, advogado, médico e toda profissão necessária para mulheres e homens serem mais humanos.

Criem-se mais casas de espetáculos e será desnecessário construir mais presídios e manicômios.

Em vez de “o pão nosso de cada dia dai-nos hoje” reze-se: “A Arte nossa de cada dia permita-nos sempre” e o mundo será menos cruel e mais pitoresco.

Livrai-nos de todo mal, ou Ensinai-nos com toda a Arte?

www.facebook.com/roquealoisio.weschenfelder

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