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Ana Paula Fernandes Pereira

Cizina Célia Fernandes Pereira Resstel e Ana Paula Fernandes Pereira Marília/SP São Carlos/SP

Enfermagem: Um olhar mais que especial

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Nesse atual cenário planetário, vivemos a experiência da destrutividade, em que a natureza responde à violência expressa em seu ambiente, na qual a imagem saudável está sendo desfigurada pelas mãos do homem, haja visto, o seu reflexo, como o desmatamento e as queimadas das florestas, o aquecimento global, os rios quase sem vida, a poluição exacerbada de toxicidade depositada no ar e a COVID-19 (CORONAVIRUS DISEASE, 2019) que alterou a saúde e o comportamento biopsicossocial das pessoas.

O mundo parou por conta da ameaça da COVID-19 e não tivemos que pedir para pará-lo, como fala a música “Pare o mundo que eu quero descer” de Silvio Brito, e desse jeito “tá tudo errado”, enquanto ficamos aqui parados, esperando algum modo de vida diferente. O velho cada vez mais se distancia de nós e o novo se torna imprevisível diante de nossos olhos, nessa guerra secular pela vida, em que o vírus invisível, carrega a carga letal, que é considerada a maior bomba desses últimos tempos contra a vida humana. Assim, vamos escrevendo a história da humanidade, pois sofremos intensamente e pagamos por tudo. Somos indivíduos endividados! Pagamos para nascer, viver e morrer, como diz Silvio Brito. Essa é a condensação de tributos que carregamos, dado a nós pela nossa existência. Sem segurança, o isolamento foi a estratégia posta como eficaz no controle para não disseminação da COVID19. Dessa maneira, causou-se uma ruptura da mobilidade humana, em que o homem social e em movimento, teve que se reinventar diante do caos. O contato com a alteridade se tornou uma ameaça real de morte.

O tempo é único em todos os instantes e a velocidade anda desacelerada, menos para alguns profissionais, em especiais, os da enfermagem e os técnicos. Esse é o outro palco da vida que segue acelerado, de quem cuida do infectado

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pelo vírus e muitas vezes esses profissionais, passam despercebidos aos nossos olhares, e de invisíveis ao esquecimento, assim faltam serem dignos de reconhecimento e de serem ovacionados pelos próprios hospitais, pelos políticos e pela sociedade.

A enfermagem e os técnicos são a força pulsante de vida do enfermo, como um conta-gotas, pois dia-a-dia vão restaurando o corpo doente através de seus cuidados. Cuidados que exigem o contato “pele a pele”, na atual circunstância do perigo da contaminação, arriscam suas próprias vidas e de seus familiares, na luta pela recuperação do paciente. Eles cuidam é de nossa gente!!!

A equipe representa a “pele protetora”, que segura as dores causadas pelos sofrimentos físicos e emocionais da doença, pois as mesmas mãos que cuidam, são as mesmas que alimentam, higienizam e banham de afeto o enfermo, e muitas vezes a única palavra dita e escutada no leito de um hospital, que consegue apaziguar a alma de quem sofre dentro (enfermo) e fora (familiares).

Em qualquer lugar, na urgência, na emergência, na unidade de terapia intensiva ou em outros, lá estão eles, dentro de uma rotina exaustiva, em que consta a visita aos leitos, coleta de exames, a evolução dos pacientes e a comunicação aos médicos. Ademais, a administração da medicação prescrita a cada paciente, está sob sua responsabilidade em cada jornada de trabalho.

A cada passagem de plantão, a enfermagem e os técnicos averiguam e discutem cada caso. Esse é mais um dia de trabalho, como todos os outros. A escala nem sempre é uniforme, às vezes o plantão cai em dias alternados e outros, são dias consecutivos, assim permanecendo sem o descanso suficientemente bom e necessário. A exaustão provocada pela sobrecarga e o estresse da profissão, leva embora as energias diárias, e sem poder recuperá-las a tempo de mais uma jornada de trabalho, a enfermagem e os técnicos estão sempre prontos para recomeçar outro plantão.

O perigo de contágio pela COVID-19 é iminente para os profissionais de saúde e essa é uma ameaça real, pois acompanha-os por todos os cantos, vivendo emocionalmente alarmados. A atenção da equipe deve ser de forma efetiva em sua integralidade, pois a enfermagem está defronte a guerra diária

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pela dupla sobrevivência (profissional e paciente) no campo de batalha, porém, ninguém sabe quem vai sobreviver ou quem vai morrer.

A Organização Pan Americana1 (OPAS) de saúde, divulgou em 02 de setembro de 2020, que aproximadamente 570 mil profissionais de saúde foram infectados e 2,5 mil perderem suas vidas pela COVID-19 nas Américas. A diretora da OPAS, colocou que os países devem combater essa vulnerabilidade e garantir a segurança desses profissionais de saúde no trabalho, como a manutenção suficiente dos equipamentos de proteção e de segurança individual (EPIs) e os treinamentos. Além disso, assegurar uma remuneração justa, pois a maioria assume dois empregos para completar o salário.

De acordo com o Conselho Federal de Enfermagem 2(COFEN, 2020), o Brasil registrou a maior taxa de mortes de enfermeiros do mundo pela COVID-19, da qual em 27 de maio, foram 157 profissionais que se sucumbiram por terem sido infectados. Os últimos resultados divulgados pelo Observatório da Enfermagem3, em 27 de setembro de 2020, o Brasil está respondendo por 30% de mortes e estão reportados 39.956 infectados, e o total de 434 óbitos dos profissionais de enfermagem, isto é, corresponde a 1,97% de letalidade pela COVID-19. A vida desses profissionais de saúde, se assemelha a um campo de guerra. Diante disso, nos remeteu ao passado, que vale relembrarmos das duas grandes pioneiras da enfermagem, a Florence Nightingale e Anna Nery que estiveram na guerra pela vida. A Florence Nightingale 4(1820 – 1910), nasceu na Itália, porque na época seus pais residiam no país. Ela fundou a primeira Escola de Enfermagem da Inglaterra, em Londres, no Hospital Saint Thomas. Durante uma viagem ao Egito, visitou hospitais e despertou o interesse vocacional para a profissão, que na época era vista como não digna. Florence Nightingale, com

1Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6270:cerca-de-570-milprofissionais-de-saude-se-infectaram-e-2-5-mil-morreram-por-covid-19-nas-americas&Itemid=812

2Disponível em: http://www.cofen.gov.br/brasil-e-o-pais-com-mais-mortes-de-enfermeiros-por-covid-19-no-mundo-dizementidades_80181.html 3 Disponível em: http://observatoriodaenfermagem.cofen.gov.br/ 4Disponível em: http://biblioteca.cofen.gov.br/florence-nightingale-historia-da-enfermagem/

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uma pequena equipe, cuidou dos soldados no hospital militar, reduzindo drasticamente o número de mortes. Era conhecida como “A Dama da Lâmpada”, por percorrer as enfermarias com uma lanterna na mão (BIBLIOTECA VIRTUAL, 2017). A outra grande personalidade é a brasileira, baiana, Ana Nery 5 (1814 1880). Teve 3 filhos, que eram militares. Anna Nery perdeu seu marido, CapitãoTenente, aos 43 anos, que foi morto a serviço da marinha. Com essa tragédia, foi para Guerra do Paraguai (1864 – 1870) com os dois filhos. Aprendeu a técnica dos cuidados de enfermagem no Rio Grande do Sul e foi posta na linha de frente, em que recebeu o título de “Mãe dos brasileiros” (FOLHA DE SÃO PAULO, 2020). Além disso, criou protocolos de cuidados dentro do hospital de campanha.

Nessa missão, a equipe de enfermagem é o soldado-salva-vidas nas linhas de frente da COVID 19. Eu, Ana Paula, enfermeira, faço plantão de 12 horas, numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A equipe de enfermagem permanece o tempo integral com os pacientes em seus leitos, aumentando ainda mais o risco de contágio pela COVID-19. Eu, Cizina Célia, coloco que a enfermagem merece um olhar mais que especial!

5Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/05/anna-nery-grande-simbolo-da-enfermagembrasileira-morreu-ha-120-anos.shtml

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