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Luís Amorim
Luís Amorim Oeiras, Portugal
A betoneira
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Altura de férias lhe sorria lá de cima pelos solares raios por detrás do monte verdejante e de aparentes saudáveis colheitas quando na chegada à longínqua aldeia, a dona do lugar ia recordando casas ali e mais por diante em como tudo estava na mesma quietude. Mas na aproximação à sua propriedade, casa de dois pisos mais sótão na terceira possibilidade de vista para terreno do seu cultivo, havia um veículo em frente ao portão de garagem. Era uma betoneira, usada para o fabrico de massa para qualquer construção que a pedisse. Mas não era uma máquina qualquer. Tinha assento e volante, qual tractor agrícola, quase se podendo dizer tratar-se de um tractor-betoneira ou o seu inverso ou até um veículo com aqueles dois substantivos em acrescento. A imponência de semelhante objecto ou figura objectiva de motorizada valência e mais algumas como os compartimentos que albergava para depósito de água, cimento e areia, permitia fazer com rapidez e melhor ainda, aplicá-la em destino que a solicitasse com igual celeridade e em quantidade vistosa. Depois de levadas as malas para dentro de casa e de um «Até à próxima» ao taxista, lá ficou sossegada como até esse dia, a imponente maquinaria. Estaria ali há bastante tempo? Nem mais. Uns dias depois, vizinho do fundo da rua, afirmou estar ali há cerca de mês e meio. Seria talvez da junta de freguesia por causa de trabalho pontual na via pública e até nova tarefa que preciso fosse, estacionamento ali mesmo em frente a portão de garagem, seria o mais adequado em termos de local e até de não incomodar pois que a casa estava desocupada fora do período de férias. Mas tal não poderia continuar por muito tempo adicional e, em conversa com representante da junta, a dona disse-lhe «Os meus filhos estão para chegar e trazem ambos o seu carro. E não vão chamar vizinho aqui ou acolá para tirar este
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monstro. O destino será a polícia para esta vir com o reboque.» «O reboque aqui não funciona» foi o que ele retorquiu. Mas a filha bem longe, na cidade, tinha outra resposta: «Mãe, vai à guarda na vila, mostras as fotografias que tiraste à betoneira para eles virem rebocá-la. E no dia seguinte, debaixo de chuva lá foi ela dar a saber o que se passava. O guarda de serviço nesse dia telefonou para a junta de freguesia em causa e disseram-lhe que já tinham tirado há muito o tal veículo. Mas o homem no seu posto de autoridade não desarmou: «Ou tiram ainda hoje ou então amanhã de manhã vamos até lá com o reboque.» Assim, descansada lá iniciou o regresso à aldeia a dona do lugar convencida que no dia seguinte iriam retirar a betoneira pois que chovia ainda bastante durante essa tarde. Mas não. Ao chegar a casa, a betoneira havia desaparecido. Depois o vizinho do fundo da rua contou-lhe que viu uma mulher a levá-la. «Depois de tantos dias de sol, com este temporal estava toda molhada a betoneira e mesmo debaixo de chuva e sem enxugar o assento, a mulher lá a levou cheia de pressa. Parecia estar a fugir de alguém!»
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