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África Gomes
África Gomes Luanda, Angola
Co m o g ua rda r um pã o q ue n e m c h e g o u à m e s a ?
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Não dá para reservar Algo que não temos Hoje a mesa está vazia Na memória Uma caixa Dos banquetes Quentes Que a noite Ou dia Nos deliciávamos Do vinho A água Da kissangua A Capuca (água do chefe) Fazia-se nossas vidas e refeições Como guardar um pão Que nem chegou à mesa E viver com a esperança no bolso E no olhar Mas, nessa guerra A mesa E as panelas Viajam nas sanzalas Fazem bagunça Com suas ondas Cordas Nódoas Escuras Da empoeirada Alma faminta Que da sobra de qualquer ceia Anseia Um pequeno pedaço De sorriso E abraço A sua alma Faminta. A fome aqui no gueto é sentida Com o cinto Apertar A respiração E o coração Da mãe Gira em torno Do pão Ainda sem futuro.