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Vini Borges
Vini Borges Niterói/RJ
Aço i te
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No açoite da noite, os gritos dos chicotes marcavam e tatuavam as agonizantes peles negras. A maldade era disseminada entre aqueles que achavam ser donos de uma verdade sem cor, sem amor. Instala-se o horror, o medo. Na senzala batida de um barro sofrido, um povo tinha um tempo curto de sono. Na insônia às vezes colorida, trabalhavam as mulheres suas abayomis, nos panos da costa, para esquentar o frio das crianças, e não haver choros e despedidas. A manhã chegava coberta de muitos trabalhos escravos e a remuneração, para alguns, era um sorriso falso, cheio de armadilhas em palavras e, muitas vezes, em surras. A poeira era levantada pelas danças, em súplica por tempos de liberdade. A agonia que os brancos lhes impingiam parecia eterna, e era entoada em tambores resistentes. Capatazes negros, respaldados pelo poder branco, utilizavam da inverdade de um querer nada legítimo. Não era engano, e emudecia um povo. Isso contou anos de sofrimento, mas a alforria tão esperada e longínqua era a esperança que movia os dentes no sorriso pálido de quem, açoitado, ainda pode e deve sonhar.
@viniborges1966