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Alessandra Cotting Baracho

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Alessandra Cotting Baracho Maceió/AL

U m ci s co

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A grandeza da vida sempre foi pauta constante em minhas reflexões. É instigante pensar como o tudo é quase nada e o vazio vira inteiro numa fração de segundos. Nesse insight, recordei de uma história que vivi ainda criança:

Quando eu era bem pequena, minha mãe abriu a porta pra atender minha madrinha; era Norma o nome dela. Lembro apenas do sorriso e do cabelo esvoaçante. Ela entrou e ajudou na arrumação da cama; cada uma numa ponta, esticava uma coberta. Eu ali, bem de pertinho, assistia o trabalho. Lembro de sentir o vento do sacode que elas deram e, num segundo, a escuridão. Lembro de acordar com medo numa cama de hospital. Minha mãe não disse nada, nem eu soube perguntar, mas ouvi da enfermeira que um cisco bem pequeno penetrou meu olho esquerdo, faria cirurgia pra tirar. Lembro do pavor que tive só de ouvir a tal palavra. Não sabia o que era, mas a cara afetada da minha mãe me fez pensar que era algo muito grave. Ela me pôs no seu colo e me abraçou com tanta força que sinto até hoje a sensação de esmagamento. Lembro da moça me levando pela mão num corredor frio e comprido. Lembro de olhar pra trás entortando o pescoço, procurando o abrigo daquele colo amoroso, e, foi no fim dessa estrada, quando dobramos a esquina que eu senti mais horror; estava sozinha, indefesa, indo sei lá para onde, com alguém que não conhecia.

Hoje, lembrando da história penso em como um cisco, uma coisa tão pequena, desmoronou o meu mundo. E, pensando na ironia, percebi que todo dia deixamos que os ciscos caiam. São essas coisas pequenas que a gente sempre ignora que vão tomando espaço e preenchendo as lacunas que são vazias em nós; são como folhas em branco na caderneta do tempo, onde cabe a cada escolha dar o retoque final. Lá, os nossos sentimentos, nossas dores e alegrias, vão se moldando do barro. Só cabe a nós escolher o que de fato merece virar forma e criar vida; sejam palavras pensadas que devem ou não ser faladas antes que se tornem texto, seja aquilo que ouvimos e sentimos na pele crua da alma. Às vezes, não vale apenas deixar que tudo penetre na nossa história de vida, vale pensar que o outro também tem medo e desgosto e que os ciscos da gente também caem como chuva na coberta de outro alguém.

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