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Allan Fear
Allan Fear
O Túm ul o da Ci ga n a
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1
O rapaz solitário ajoelhou-se ante o túmulo de sua amada e depositou sobre o jazigo o buquê de rosas vermelhas, as favoritas de Zhora.
Era um fim de tarde sombrio, de céu encoberto por nuvens cinzentas e escuras, a grama bem aparada estava molhada da chuva de algumas horas, uma brisa fria soprava arrastando as folhas mortas ante as árvores que ladeavam o caminho pavimentado entre as sepulturas.
Lágrimas rolaram pela face pálida de Andy. Um buraco negro corrosivo machucava seu coração tamanha era a dor da perda de sua doce cigana.
Em sua mente conturbada pela perda recente de sua noiva, memórias de dias inesquecíveis lampejavam como os fogos que celebraram a virada de ano.
Andy se lembrava daquela bela morena de cabelos anelados soltos ao vento, correndo pela praia naquela noite de lua cheia.
Em sua mente ele podia ver seu olhar feitiço, a doçura de seu sorriso quando a alcançava e a envolvia num abraço apertado.
16
Zhora o enfeitiçara com seu carisma, sua beleza exótica, vestes sempre vermelhas e seu perfume de rosas.
Mas a pobre Zhora se foi na mais negra das noites quando a lua não veio para agraciar sua beleza com seu brilho. O maldito vírus Chinês ceifou a vida da cigana da praia, deixando seu noivo com o coração partido.
Enquanto lamentava, fascinado pelas lembranças fantasmais, uma presença ao seu lado trouxe Andy de volta a dura realidade.
Ele viu que ao seu lado estava uma bela loura estranhamente pálida de olhos muito verdes que usava um sensual vestido preto justo e carregava uma bolsinha de couro. -Também sofro a perda de meu amado, - Sussurrou a misteriosa mulher se aproximando de Andy e fitando-o com seus olhos tristes e suplicantes. –Ajudeme a acalentar essa dor que machuca meu coração!...
Ela pegou na mão de Andy, puxando-o carinhosamente para ela. Mas Andy hesitou, fazia apenas dois dias que sua amada Zhora morrera, seria tão errado se entregar a outra mulher...
Tão errado, mas tão necessário, ele estava confuso, as lágrimas não paravam de rolar queimando sua face. Ele precisava dizer não, sempre foi fiel à sua amada, mas...
2
“Desculpe-me Zhora.” Murmurou Andy puxando a mulher pela cintura e beijando-a loucamente, disposto a possuí-la ali mesmo naquele fim de tarde num cemitério praticamente deserto.
Andy a beijou com desespero, um beijo faminto e sentiu o gosto de vinho com cigarro em seus lábios. Seu coração sangrava, condenando-o de traição, mas aquilo era tão necessário...
Mas então a mulher se afastou do beijo, o batom em seus lábios estava borrado e uma das alças de seu vestido pendia em seu ombro. -O que foi? – Indagou Andy fitando a mulher que tinha lágrimas nos olhos, mas a tristeza havia dado lugar a uma fúria indizível.
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-Eu confiei em ti amore, - Falou a mulher porcamente, num tom acusador, erguendo sua mão e apontando o dedo na cara de Andy. –e você me traí com a primeira vagabunda que aparece bem em frente ao meu túmulo!! -O quê? Eu não entendo... -Ah! Andy, o que está enterrado neste túmulo é apenas meus despojos mortais, a vida continua... -Não pode ser... Zhora? Mas como?... Se isso for uma piada eu juro que...
Assustado ante a revelação Andy andou até a mulher, que rápida como o ataque de um felino, atacou-o, cortando sua garganta com uma pequena navalha que retirou da bolsinha que carregava. -Gasp! – Engasgou Andy aterrorizado e tentando estancar o sangue com suas mãos. -Eu possuí este corpo Andy, - Começou a mulher correndo para o rapaz que caiu sobre o túmulo com sua vida se esvaindo a medida que seu sangue vermelho-brilhante fluía por seu pescoço. –Queria testá-lo para saber se poderia confiar em você, mas vi que não posso, você jamais manteria sua promessa de fidelidade e cedo ou tarde criaria laços com outra mulher. -Eu vou libertar esse corpo e em alguns instantes estaremos juntos novamente no além-túmulo. – Disse Zhora enquanto segurava a cabeça de Andy sobre seu colo, acariciando seus cabelos pretos enquanto ele exalava seus últimos suspiros. –Juntos para sempre meu amor!...