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Clarice De Assis Rosa
Clarice De Assis Rosa Ituiutaba/MG
À e s pe ra do f ut uro p ro m e t i do
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Quando crescer, terei uma vida próspera, com estabilidade financeira e emocional; conseguirei obter os bens materiais que almejo e hoje não posso comprar.
Quando crescer, terei uma vida plena, uma família que será o meu alicerce, nas horas de angústias e incertezas. Não me sentirei sozinha e desamparada.
Quando crescer, os meus medos pueris desvanecer-se-ão; olharei para o passado e sorrirei envergonhada, por ter dado elevada importância a fatos que não mereciam mais que um minuto de aflição.
Quando crescer, serei cercada de amigos sinceros, conquistados graças à minha forma genuína de relacionar-me, arrancando-lhes sorrisos fugazes.
Assim eu ouvi da minha mãe, cada vez que começavam as minhas crises infantis. E ela ia além: - Tenha calma, isso não é duradouro, falta-lhe maturidade e discernimento para lidar com as suas emoções. Quando você crescer, tudo vai passar. - Ninguém gosta de mim. Estou com medo de ficar sozinha – eu dizia à minha mãe. - Quando você crescer, tudo passará. Você tem uma vida inteira para tornarse uma pessoa de boa índole, capaz de conquistar os outros com seu carisma e dedicação. Tudo vai passar. - Estou com medo do escuro, acende a luz – eu dizia. - Filha, isso não passa de um medo bobo pelo fato de você ainda ser uma criança.
Assim eu ouvi sempre e, hoje, muitos anos depois, eu me pergunto: “Quando eu vou crescer? Quando tudo o que me foi dito tornar-se-á um fato?”.
Eu ouvia que tudo iria passar.
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Ninguém me disse que, por mais que eu me esforçasse para ser uma pessoa digna, moldando o meu caráter baseado na boa educação que tive em casa, conquistaria mais inimizades que afetos. Ninguém me disse que seria tão difícil sobreviver em um mundo em que observamos as pessoas desonestas progredirem mais que as honestas.
Ninguém me disse, então eu espero as boas novas, que certamente ainda não chegaram porque não cresci o suficiente. Acredito em minha mãe.
Não me disseram que a família constituída poderia ser tão facilmente esfacelada, que ser uma pessoa boa não garantiria êxito; casamentos findam-se, os filhos vão embora, podemos deixar de ser interessantes, assim que deixamos de ser úteis. Eu não tinha esse olhar absorto, frio, aspecto cansado, como se estivesse prestes a desistir. Eu não quero abdicar do que espero. Minha mãe não mente. Embora ela já tenha cumprido a sua jornada na terra, suas palavras ainda ecoam em minha mente: “Tudo vai passar...quando você crescer” Assim ela me dizia, e assim eu acreditava.
As pessoas foram embora, continuo com medo do escuro, no entanto, a cada novo amanhecer, sinto que o futuro prometido está mais próximo de mim.
Taciturnamente, decido que preciso encontrar minha mãe. Somente ela poderia revelar-me quando começaria a usufruir da satisfação de viver tudo o que me fora prometido.