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Marione Cristina Richter
Marione Cristina Richter Venâncio Aires/RS
N e m to do s o pro é de v i da
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Carlos levantou da cama e acionou o interruptor e nada aconteceu. Ainda era madrugada, então a escuridão era plena. Pegou o celular para iluminar o caminho e ele não ligou, e pensou que deveria ter acabado a bateria e esquecido de colocar para carregar, apesar de não se lembrar. O dia estava começando muito mal, pensou. Saiu tateando o seu entorno para pegar a roupa que sempre deixava pronto sobre uma cadeira no quarto e calçou, mesmo sem meias, os sapatos.
Conseguiu chegar até o banheiro onde lavou o rosto e por sorte não precisou fazer uso do vaso. Resolveu sair em jejum pois não ia conseguir achar nada para comer. Neste momento ficou feliz ao lembrar que a geladeira estava vazia pois havia esquecido de passar no mercado. Teria muito prejuízo com esta falta de energia.
Por baixo da porta de entrada uma luz vinda do corredor indicava o caminho. Será que só seu apartamento estava sem energia, pensou, e testou novamente o interruptor e nada. Abriu a porta e viu que era da luz de emergência que haviam instalado não fazia muito tempo.
Ao sair para o corredor ouviu barulho de água e percebeu que o corredor estava inundado e que a água corria em direção ao elevador. Nisso lembrou-se que teria que descer cinco andares pelas escadas e foi indo em sua direção e ao se aproximar do elevador, este abriu as portas sozinho, e ao olhar para dentro, Carlos percebeu que não havia elevador algum ali, apenas o fosso, para onde caía aquela água feito cachoeira.
Sentiu um vento em suas costas seguido de um calafrio na nuca e estranhou pois não havia janela naquele corredor e se virou para ver de onde vinha e nisso resvalou naquela água, perdeu o equilíbrio e caiu no fosso do elevador, e enquanto caía vislumbrava grandes olhos vermelhos, sombrios, da morte.
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Como quem sente o corpo desabar, Carlos acordou num susto, todo suado, apesar do ar-condicionado em vinte graus. Ainda era dia e a televisão do quarto estava ligada e passando um filme antigo pela enésima vez, talvez por isso tenha adormecido, além de seu estado febril e as muitas dosagens de remédio para a sua doença que não curava nunca.
No celular, mensagens não lidas de pessoas preocupadas com sua falta de notícias, e entre estas mensagens, a do laboratório com o resultado de seus exames que deveria mostrar para o médico na próxima semana.
Estava com a cabeça doendo e resolveu voltar a dormir. Desligou a televisão, tomou mais uma dose do seu remédio, e sentiu um vento soprar apesar da janela fechada, mas não deu importância. Deu um longo suspiro, fechou os olhos e adormeceu.