2 minute read
Nercy Grabellos
Nercy Grabellos Rio de Janeiro/RJ O e s t ra n h o s o n h o da c ave r n a
Eu sonhei que vivia na pré-história, época de povos nômades sempre procurando alimentos baseados na coleta de nozes, sementes comestíveis e na caça de pequenos animais. Eu caminhava com minha tribo por trilhas abertas na mata, de vez em quando tínhamos que contornar elevações do terreno, pedras e ao longe as montanhas e o sol no horizonte. Eu caminhava devagar e com dificuldade. Apoiada num cajado ia ficando para trás, alguém teve pena de mim e veio me ajudar, havia bondade em seus olhos. Lembrei-me que antes de partir estávamos num belo lugar, vivíamos em choupanas feitas de arbustos e chão de pedra. No início a comida era farta e embora tivéssemos que andar muito para encontrá-la não faltava para ninguém, água era encontrada nas nascentes dos córregos e armazenada em potes de barro ou cuias de casca de árvores. Nós partimos, as pressas, porque fomos expulsos por invasores vindos de outros lugares em busca de alimentos, perdemos muitos dos nossos na luta. Notei que caminhava com cada vez mais dificuldade, não queria prejudicar meu acompanhante, recostei-me numa pedra que vi no caminho e fiz sinal para que fosse embora. Duas lágrimas rolaram no rosto dele. Estavam vestidos de peles, tinham cabelos longos e nos pés, sandálias de peles de animais. Assim que pararam e olharam para trás, deixaram algumas sementes, nozes e uma espécie de cuia com água, vi quando desapareceram numa curva do caminho e fiquei pensando quanto tempo iria passar até alguma fera vir me atacar. Tudo foi ficando escuro em minha volta e perdi a consciência. No meu sonho pré-histórico acordei numa caverna, algumas pessoas estavam presentes e caminhavam de
Advertisement
134
um lado para outro nos seus afazeres, muitos desenhavam, nas paredes da caverna, uma espécie de recados para os futuros habitantes da terra, outros faziam potes de barro, flechas improvisadas com pedras pontudas para caçar pequenos animais. O fogo estava acesso e assavam um animal que não soube identificar. Olharam para mim, trouxeram uma espécie de infusão de folhas dentro de uma cuia que bebi com sofreguidão. A fumaça saia por uma das aberturas naturais da pedra, onde também entrava a luz solar. Eu não entendia o que eles falavam, mas por gestos e mímicas percebi que a pedra, onde me recostei, era junto da entrada da caverna. Havia algumas tão camufladas por vegetação que só com muita sorte poderiam ser encontradas. Na minha aventura na antiguidade, comecei a sentir um torpor e adormeci, sonhei que caminhava por uma trilha repleta de flores, o sol brilhava e homens das cavernas sorriam para mim vestidos de luz. Acordei assustada no meu quarto, na TV passava um filme antigo sobre os primórdios da humanidade.