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Saul Cabral Gomes Júnior

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Saul Cabral Gomes Júnior São Paulo/SP

O o pe rá r i o i n s an o

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Quando o sol de pedra se levantava, quando os ventos transversais ruminavam, quando as mãos, ágeis e intáteis, marchavam, quando as manhãs punham-se em sacrifício, um operário saltou de seu ofício e lançou-se ao dia que se esquivava.

O couro, o giz, a madeira, o pincel, o esquadro, o alicate, o botão, o cinzel, a lã, o cimento, a tesoura, o serrote‚ o computador‚ o celular, o pacote: despiu-se do que sua mão abarcara, de tudo que, súbito, a subjugara.

Ao longe, avistou o reino dos labores múltiplos, febrilando em fabris cores insípidas, com perfis de mulheres. Estendeu os braços e tentou apalpar o místico mistério dos misteres mistos. Implodiu-se, por fracassar, em vastíssimo riso inocultável. Mesclou-se à grama de cor esquecida, abraçou a brisa nunca percebida, beijou a alameda em que nunca pisara, expeliu a voz de que já não lembrara, afagou o desejo outrora insondável.

Constatou, em seguida, já não haver gesto que coubesse em seu corpo. O que, de resto, oferecia-se à sua abastada vontade era uma sinuosa estrada, trilhos que o alçariam, em passos mudos, à adejante terra dos pés desnudos.

Mas, estando preste a calcar os trilhos, soaram os sorrisos de seus filhos e fulgurou o rosto de sua esposa. A demência, translúcida, perdeu suas longas asas de mariposa e o céu do Imaginário anoiteceu.

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