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Willian Fontana

Willian Fontana

Rio de Janeiro/RJ

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Conspirato!

Jorge Montegrande era um teórico da conspiração. Alto e magro, o caucasiano era do tipo que compartilhava com os radicais do islã a ideia que as mulheres era uma espécie diferente a do homem, criada como um apêndice do homem por seres demoníacos de outra dimensão, os mesmos que as fecundaram dando origem aos gigantes nefelins.

Muito ativo nos fóruns da dark web, ele disseminava seus relatos dos quais ao alegar ter supostamente participado de uma sociedade secreta teria visto Bento XVI participado de uma missa negra, canibalizando uma criança ao lado de Ronald Reagan. As pessoas do chat ao ficarem extasiadas com o frenesi passaram o aclamar, e os que viam nisso um absurdo generalizavam todos os quais acreditavam na possibilidade real de conluios governamentais e corporativistas por sociedades secretas. Sobretudo ele pregava que as pessoas que não concordavam ou o compreendiam eram por serem burras, e por isso deveriam ser perseguidas, excluídas, ocultadas e mortas. Sua palavra era o fato e seu desejo a lei.

Sobre o Papa dizia que isso era a prova de que o verdadeiro catolicismo havia sido fundado pelos Iluminantes que eram descendentes sobreviventes dos Atlantis que ao se misturarem pelo mundo, de um lado fundou o marxismo e de outro o nazismo. Eram nefelins que foram miniaturizados ao longos dos tempos e se introduziram no Brasil em todos setores, e estavam em contato direto com os humanos desde a sociedade Vrill.

Ele dizia que dentre o mais famoso Iluminante brasileiro estava Paulo Freire que empurrava a funesta agenda desses demônios de destruir a humanidade e escraviza–lá através da alfabetização e o conhecimento. Para Montegrande, o demoníaco Paulo Freire que teria feito pacto com o demônio e no fim da vida tinha contatos com a cientologia, assim

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como Marx sabia que a ética e a conscientização crítica da isenção e transparência da conduta cidadã responsável fora o que levou o cataclismo que culminou no fim da Atlântida. Por isso o verdadeiro conhecimento era reservado apenas aos membros dos iluminantes do qual era membro a dona Sônia que vendia hambúrguer na esquina e o Joaquim do picolé. Todos esses produtos com doses de toxinas venenosas que tornavam o cérebro incapaz de enxergar que eles eram iluminantes nefelins, filhos de demônios ao tornarem as pessoas burras em acreditar na grande bobagem de direitos individuais iguais, ética e respeito mútuo. Segundo ele a humanidade havia sido criada para a servidão e pregar o contrário era subverter sua natureza e destruí-la. Apenas o fascismo e totalitarismo era a salvação dos temíveis iluminantes! – Como sabe tanto das coisas que nem aparece na mídia, Jorge? – Indagou uma jovem no chat do fórum. – Pois todos que estão na mídia, na política, as autoridades são iluminantes, não há mais esperança, resta apenas cometermos crimes a bombas e ataques armados para iniciar uma insurgência!

Os jovens presentes no grupo, totalmente desiludidos com o mundo afundado numa crise econômica e de valores, ao verem o distanciamento de discursos ante a prática, na televisão, estavam carentes de confiabilidade e aquele sujeito supria a demanda com palavras aprazíveis sobre seus medos e anseios mais íntimos. Logo, viram-se entusiasmados com a possibilidade de planejar atentados a China, e ao canal RBT por falarem crueldades contra alguns "tinham visto a verdade". – Podemos fazer algum jornalista refém e cobrar dizerem a verdade! –Escreveu um mais exaltado. – Não, façamos uma bomba e ateamos fogo nos estúdios de jornalismo! – Falou o outro rindo quando Montegrande interrompeu. – Vocês tem que atacar os mantimentos das vacinas, pois ela modifica nossos genes para que os demônios possam melhor desenvolver sua espécie no mundo com cruzamentos. Temos que estuprar as mulheres burras que defendem e amam minorias como as

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experiências malogradas dos nefelins que resultaram no autismo. – É, isso mesmo! Elas devem ser vagabundas por gostar desses bastardos! – Conclamou o outro sujeito.

O papo rendeu várias horas vindo a evoluir a entrega de plantas de prédios e logística para os preparativos. Dinheiro fora arrecadado entre eles, pessoas pesquisaram por meses a fio até que uma data fora postulada, 9 de novembro, pois para Montegrande esse número selaria as portas dimensionais entre os demônios e o mundo.

E assim aconteceu quando chegou o dia, porém, por um grupo amador e mal preparado (apesar do estrago aos alvos) quatro dos jovens foram presos e um morreu em autos de resistência. Os presos tentaram entregar Jorge, mas sem provas por ser um chat anônimo da Deep Web. Obviamente ao encontrarem ele pelo nome, negou tudo dizendo se tratar de uma 'teoria da conspiração'.

Os jovens, por sua vez, foram dados como malucos. Liberado, Jorge retirouse hesitante ao abrir um sorriso sádico. Logo reuniu-se num lugar ermo e escuro com pessoas de capuz negro que os cumprimentaram. – Salve, ao irmão Jorge, logrou êxito em sua empresa pelos iluminantes! – Sim, nosso sublime deushomem a quem louvamos. Desde o fim oficial dos Iluminantes todos creem inexistir, tanto como nosso conluio!

Aqueles eram os iluminantes a elogiá-lo ao disseminar o engano, enaltecendo o poder deles a desacreditar os movimentos no qual estavam se infiltrando para promover corrupções como aquele grupo de conspiração. E ao usar um artefato chamado Giges passou a canalizar o que os crédulos lhes deram ouvidos para potencializar seu poder a fim de tentar tornar tudo aquilo verdade, enquanto a superfície eram vistos apenas como uma lenda urbana.

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