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Wellington Amancio da Silva
Wellington Amancio da Silva
Delmiro Gouveia/AL
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Dois cinepoemas
Uma cena de Almodóvar
Vermelho potente, no canto da sala Vermelho da saia, do laço, da xícara de chá Do batom da musa... vermelho... do manto do trágico Beijo de exculpação em rosto rubro — perdão! A vida aflora ao arredor, e vive. Ósculo de rubi A hesitação de um gesto que o outro anseia O rearranjar de forças à última investida dela para ser feliz. As mãos retornam cheias de novidades e o dedo mindinho em teu dorso, desenhar ensejos, desejos invisíveis. Percebes o respirar? E neste pequeno agora a vida se derrama, cabal Vê-se o verde bordear seu mundo — o perdão! Fortalecer a pequena palavra do vermelho do teu sangue E jamais resguardada, a alma, em plástico bolha, embalada E neste pequeno agora, um cardume de emoções A casa toda treliçada pelo corpo-mastro do amante E seus inquilinos? Um intento de amoldar-se, ao que de fato enche-te e reverbera em teu ardores
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Filme dublado
uma alegoria argilosa sobre o amálgama sertão —
a voz de johnny depp é a voz de george clooney
tim robbins e hugh grant em português
o dublador abraça a alma cinemática
e sopra o sopro de um deus nas narinas dessa gente feita de branca argila
na tela grande o movimento labial finge ignorar a sobreposição do português que o atravessa passa-lhe a perna e intenta possuí-lo (o inglês nem nota o lance)
que cor tem essa voz?