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L. S. Danielly Bass
L. S. Danielly Bass Marília/SP
Carta A Um Amigo:
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A Mais Valia Do Amor
Estimado amigo,
Marília, 02/08/2021 L. S. Danielly Bass
Foi um grande prazer ter recebido e lido a sua carta. É com ternura e saudades que respondo. A verdade é que faz um bom tempo que não nos encontramos e nem conversamos; sintome saudosa até mesmo daquele bolo horrível, nada bom mesmo, de cacau que me fez comer. Pensando bem, deve fazer mais tempo do que consigo recordar, eu diria que faz tanto tempo que você acabou por dizer coisas que não me cabem ou, se já me couberam, não me cabem mais. Se eu colocasse um título em minha resposta seria: “Não, eu não fujo do amor, eu fujo da mais valia do amor!”. Desculpe-me minha mania de pular para fim, oferecer prévias, talvez seja um vício acadêmico, talvez não, a certeza é que escrever sempre me prega peças.
Não lembro, meu amigo, se um dia o mundo esteve normal, efetivamente, eu não teria como saber, você bem sabe que eu desconheço o normal, para mim, foi sempre estranho, muito estranho. Todos andamos em linha torta, sem enxergar o que tem pela frente, uns mais que outros, mas, olha, não acho que haja no mundo alguém que viva de um modo não incerto. Qual é a diferença de nós, supostos filósofos, para eles? Sabemos que o chão que pisamos é movediço, sabemos que estamos sendo sugados e, a consciência, ah, ela é um fardo pesado se ativada e, depois de ativála, nunca mais se desliga. Mas o que podemos fazer? Agora? Nada! Arrependo-me? Não me arrependo! Penso que não pensar sendo um ser pensante nessa forma passageira é um desperdício de passagem, eu quero aproveitar a passagem.
Julgo ainda, meu querido, que discordamos em muito mais assuntos do que o amor, mas, em uma coisa está absolutamente certo, o amor é um assunto muito caro para mim. Lendo sua carta fiquei a me perguntar: o que você quer dizer quando afirma que o homem só encontra-se no amor? O homem está perdido? Mas se for isso, larguemos os pensamentos abstratos, pois ninguém ama melhor do que os homens que deixam a razão de lado. Mas o homem, enquanto ser pensante, só
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se encontra no pensar e, o amor, pode ser uma das formas mais avassaladoras do pensar, tão avassaladora que muitas vezes o destrói ou, ao menos, deixa-o embaçado, desnorteado, o amor é forte e precisa de muita razão para ser apaziguado.
Não duvide, o desejo de todos os homens é amor, é amar, é ser amado, sentir-se, como você mesmo indica, completo, mas, pergunto, o amor basta para sermos completos? Não sei, talvez, no entanto, os homens desde sempre andaram por aí incompletos... Às vezes, o ser mais incompleto ama e é amado, e o ser mais completo é deixado de lado. É fato, há amor em todos os seres humanos, mas ser amado é sorte, a sorte, a sorte, amigo, foge do campo razão. Ressalto, é triste, é verdade, pense comigo, não encontrar na vida, que é finita, um amor. Por isso, muitos de nós vivemos amargurados, vai dizer que estamos errados? Não acho, sinto mesmo que o amor tenha abandonado-me.
Aah, você, diz-me que busca fugir da alienação, mas quando fala de deixar de viver em si mesmo para viver no outro, esquece-se que a única maneira de deixar de viver em si mesmo é a alienação, por isso o amor é uma espécie de loucura, porque a razão não permite este tipo de alienação. É preciso que saiba que amar é alienar-se, pois a alienação está vinculada com a perda de algo e amar, amigo, é perder-se no outro. Agora, pergunto a você, se não nos encontramos nem em nós mesmos, como iremos nos encontrar no outro?
Já que mencionou os desejos, falemos dos desejos, ninguém, ninguém nunca negou o desejo, meu caro, você acha mesmo que alguém seria tão forte para negar amar e ser amado? Encontrarse no outro e ser encontrado? É claro que não! Esses homens que dizem negar o desejo, na verdade, não tiveram a sorte de encontrar alguém que os amassem e os fizessem amar, é mais fácil dizer que não quer algo quando você não consegue ter esse algo. Como podemos negar o desejo? Só podemos negar o desejo se pudéssemos parar de desejar, podemos alterar o desejo, desejar outra coisa, mas não podemos parar de desejar. E, claro, eu não pude deixar de notar a cisão que você coloca entre matéria e espírito, bobagem, uma grande ilusão, não há cisão alguma, já falei isso a você, há só matéria.
Por fim, você está errado, eu não fujo do amor, talvez, se fugisse, o tinha. Eu busco o amor, o amor real, o busco desesperadamente. O que é o amor que procuro? Eu não sei. Mas eu o busco com anseio, com tanto desejo que sempre parece que estou amando, e estou mesmo. Como eu te disse, o amor é alienar-se, amigo, eu não tenho medo disso! Contudo, para que eu não me perca totalmente, eu preciso que o outro que eu ame também me ame. Por quê? Eu te respondo, porque ao alienar-se de mim no outro que eu amo, eu o encontro e, como eu o amo, encontro o melhor dele, apresento-o seu eu, o qual já assimilei. Se ele me amar, significa que ele também perdeu-se em mim, ele também encontrou-me, ele assimilou o melhor de mim. Por consequência, eu, ao perder-me nele, encontrei-me, ele, ao perder-se em mim, encontrou-se! Completamo-nos, amamo-nos.
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Este é o amor real que busco, o amor real só pode ser recíproco! Infelizmente, amigo, não tive a sorte de o achar. Para falar sua língua, já que é um marxista, no amor real não há mais valia, há troca, no entanto, não há valor de troca, há apenas valor de uso e, este valor, tem de ser equivalente para ambos da relação, como disse mais acima, é um perder-se e encontrar-se, esvaziar-se e preencher-se. Caso contrário, apenas um lado aliena-se de si mesmo de forma brutal, de modo a não recuperar aquilo que perdeu, enquanto o outro apropria-se dessa perda, apropria-se do seu eu, consome o seu ser e aí, amigo, será difícil demais recuperar-se.
Para falar sua língua, meu estimado amigo, digo, eu não fujo do amor, eu fujo da mais valia do amor.
Abraços, meu caro, cuide-se!