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Marco Antonio Rodrigues
Marco Antonio Rodrigues Niterói/RJ
Vício de viver
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Compulsão é como o tempo, depois de iniciada desconhece breque, recesso, semáforo escarlate... Respeita apenas o limite ortodoxo, o game over.
Quando ameaçado, o vício joga sujo: angústia, aflige, amedronta... Provoca overdose de insegurança em seus tutelados. Ele não mede esforços para mostrar o tamanho de sua baixeza e o controle de suas rédeas.
Há momentos em que desejo invadir o DP da empresa “vida”, atirar sobre a mesa minha carteira funcional e ordenar olhando fixamente nos olhos de quem estiver do outro lado. “Tô fora! Pode dar baixa!”. Mas o vício de viver não permite, ele me chama a ordem sussurrando baixinho em meu ouvido. “Seu maluco! Você tem medo até de injeção, porque cometeria o ato audaz de se atirar de arranha-céu, de pressionar gatilho contra os próprios miolos, de sorver cianureto...?”
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Ergamos um brinde com a água mais potável do planeta e saudemos o vício de viver!
Existir não basta! Figuração é pouco!
É preciso atuar, contribuir, sentir... Interagir com outras ideias, com conceitos opostos... Lidar com a contrariedade...
Vida vicia, dias são tragos. Mas apenas os alicerçados na lucidez.
Deixem-me em paz com meu vício! Sou eu quem vai se ferrar com as dores e limitações da velhice!
Aos que conseguiram se libertar dessa compulsão meus parabéns, ou melhor, meus pêsames. Espera um pouco! Pêsames também não, eles devem ser direcionados apenas aos existentes e aos viventes, nunca aos desistentes.
Existir é a primeira etapa do jogo, viver é um módulo mais avançado, requer expertise.
Ignorem minha dependência! Eu não importuno você que está aferrado ao “beckzinho” “recreativo”, que é subserviente aos prazeres momentâneos...
No começo a cerveja amarga, a cachaça queima, o cigarro faz engasgar e provoca tosse...
Viver de “cara limpa” também incomoda no início, mas depois se torna “muita onda”, talvez seja a maior de todas as “doideiras”.
Dê-me mais uma dose, só mais um dia.