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Maria Pia Monda

Maria Pia Monda

Belo Horizonte/MG

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Porta fechada, porta aberta

Fechou a porta. Deu duas voltas na chave — se fosse possível, ela daria mais uma — para assegurar-se que ninguém entrasse. Quem quer que entre no meio da noite? Um ladrão, um assassino, um bandido. Certamente alguém com a intenção de me machucar.

Ela foi acordada por um barulho. — Tem alguém aí? Esperou, angustiada, por uma resposta que esperava não receber. De fato, apenas o silêncio ecoou sua pergunta. Ainda com medo, saiu do quarto e caminhou até a porta da frente. Deixou todas as luzes apagadas; a claridade filtrada pelas janelas era suficiente. Tateando nas sombras, ela se movia lentamente, acariciando as paredes e evitando os móveis e os objetos que apareciam à sua frente. Seu apartamento era pequeno, então o percurso não foi nem longo, nem difícil. Quando chegou à porta, primeiro tentou girar a chave no sentido horário, sem sucesso, pois a porta já estava trancada. Portanto, colocou o olho na vigia. A luz do patamar estava acesa. Isso conferia ao ambiente uma atmosfera sinistra. Não havia ninguém. Apenas um espaço iluminado e vazio, em torno do qual outras portas, rigorosamente fechadas, cortavam as paredes, como dentes distantes num sorriso malsão. E se houver alguém espreitando?

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Um calafrio correu pelas costas dela. Por mais estranho que pareça, não foi por medo que sua pele se arrepiou, mas sim pelo desejo de ter um motivo concreto para estar com medo. Fechou os olhos e inspirou profundamente, então, sem pensar muito, colocou a mão na maçaneta, girou a chave, desta vez no sentido antihorário, e abriu a porta. A luminosidade, em contraste com a escuridão a que seu olhar se acostumara, a fez lacrimejar e ela estava a ponto de dar um passo para trás e fechar, instintivamente, de novo, a porta, mas não o fez. Quando ela se acostumou com aquela intensidade luminosa, olhou em volta. Tudo estava silencioso, tudo estava tranquilo e, sobretudo, não havia ninguém. Assim, ela se moveu e caminhou até a porta do apartamento ao lado do dela. Desejou tocar a campainha, bater o punho, chamar quem estava lá dentro, mas apenas encostou o ouvido na superfície de madeira fria e muda, irritada com a impossibilidade de ouvir até mesmo o som de uma respiração. Sentiu e ouviu todas as outras portas, com o mesmo resultado — parecia que o mundo havia se tornado um planeta desabitado — e, quando foi a vez do elevador, parou na frente dele, admirando o reflexo da sua imagem distorcida. Estendeu a mão e acariciou o metal, que capturou suas impressões digitais sem lhe dar nada em troca. Desejou que o gesto bastasse para que o portal que levava para outros andares e lugares, seduzido pelo seu toque, se abrisse. Desejou que alguém aparecesse. Mas a porta do elevador, como todas as outras, permaneceu absolutamente fechada. Ela suspirou, desapontada, e voltou para seu apartamento. Fechou a porta. Deu duas voltas na chave, para que ninguém pudesse entrar. Mais uma vez, ela preferiu se mover no escuro, dirigindo-se para o quarto. Quem quer que entre no meio da noite? Ela ficou se perguntando, enquanto alcançava sua cama. Ninguém, absolutamente ninguém. Ela se repetia, deitada e ansiosa para ouvir outro ruído. Quando percebeu que nenhum outro barulho estranho, nem nada mais, iria perturbar sua insônia, irritada e triste, ela saiu da cama e caminhou até a porta novamente. Girou a chave duas vezes, na direção oposta da última vez. Afastou-se, pressionou o interruptor de luz e, sem mais a hesitação devida ao escuro, em plena luz, alcançou o sofá e afundou-se nele. Ela sabia que não iria dormir, tinha certeza de que outros tormentos sitiariam sua noite, mas, pelo menos, com a porta não trancada, a ideia de que alguém pudesse entrar, faria ela se sentir menos sozinha.

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