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Maria Eduarda dos Santos

Maria Eduarda dos Santos Uberlândia/MG

Cria(n)do em contornos

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Um ponto. Feito um ponto a partir de um lápis. A feitura desse ponto não se condiciona a uma parada, quando o lápis se encosta na pontinha esquerda da folha, não há quem o pare, contudo, não há também, quem o mova em uma condução ideal, mesmo ela sendo pelo eu preterida. Um esbarrão aqui, um escorregão ali e pronto, tá feito um contorno. Nesse contorno as primeiras inscrições que deram forma e lugar ao ponto são rememoradas, mas ele não é mais um ponto. Talvez, um ponto pode até ser sempre ou quase sempre, em alguns casos, um ponto, mas um contorno já não é um ponto, é um conjunto deles e vez ou outra esse conjunto de pontos, por uma esbarrada de lápis, encontra outro conjunto de pontos. Aquele bom e velho contorno não está mais só, um novo contorno nele foi criado. Agora, a pontilhada toda se alvoroça. O primeiro contorno, as vezes vê no segundo, algum ponto que lhe lembre aquele primeiro ponto que um dia foi seu e sempre tem no meio do outro contorno, o novo, algum ponto esquisito que é a um de seus pontos familiar ou que diz ao contorno primordial coisas ainda não sabidas sobre ele. Às vezes, por acaso, sorte, astros ou qualquer pretérito perfeito o lápis se distrai e rabisca por mais tempo que deveria as linhas desses dois (ou três ou quatro…) contornos diferentes, e juntos, eles, com seus pontos mil em consonância, formam na linha do tempo algo que chamamos de arte. Outras vezes o lápis não é tão generoso assim com o tempo e o contorno apenas dá uma nuance nova ao primeiro e ele segue sozinho contornado. Nessa grande e tortuosa “linharada” artística, o ponto segue sempre contornado pelos seus e pelos pontos do outro. O lápis é sempre contingente e quem o segura (ou o distrai) não somos nós.

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