LiteraLivre Vl. 6 - nº 33 – Mai./Jun de 2022
Maria Eduarda dos Santos Uberlândia/MG
Cria(n)do em contornos Um ponto. Feito um ponto a partir de
aquele primeiro ponto que um dia foi
um lápis. A feitura desse ponto não se
seu e sempre tem no meio do outro
condiciona a uma parada, quando o lápis
contorno, o novo, algum ponto esqui-
se encosta na pontinha esquerda da fo-
sito que é a um de seus pontos fami-
lha, não há quem o pare, contudo, não
liar ou que diz ao contorno primordial
há também, quem o mova em uma con-
coisas ainda não sabidas sobre ele.
dução ideal, mesmo ela sendo pelo eu
Às vezes, por acaso, sorte, astros ou
preterida.
qualquer pretérito perfeito o lápis se
Um esbarrão aqui, um escorregão ali e
distrai e rabisca por mais tempo que
pronto, tá feito um contorno. Nesse con-
deveria as linhas desses dois (ou três
torno as primeiras inscrições que deram
ou quatro…) contornos diferentes, e
forma e lugar ao ponto são rememora-
juntos, eles, com seus pontos mil em
das, mas ele não é mais um ponto.
consonância, formam na linha do
Talvez, um ponto pode até ser sempre
tempo algo que chamamos de arte.
ou quase sempre, em alguns casos, um
Outras vezes o lápis não é tão gene-
ponto, mas um contorno já não é um
roso assim com o tempo e o contorno
ponto, é um conjunto deles e vez ou ou-
apenas dá uma nuance nova ao pri-
tra esse conjunto de pontos, por uma
meiro e ele segue sozinho contorna-
esbarrada de lápis, encontra outro con-
do.
junto de pontos. Aquele bom e velho
Nessa grande e tortuosa “linharada”
contorno não está mais só, um novo
artística, o ponto segue sempre con-
contorno nele foi criado. Agora, a ponti-
tornado pelos seus e pelos pontos do
lhada toda se alvoroça.
outro. O lápis é sempre contingente e
O primeiro contorno, as vezes vê no se-
quem o segura (ou o distrai) não so-
gundo, algum ponto que lhe lembre
mos nós.
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