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Edgar Borges

Edgar Borges Boa Vista/RR

Madrugadas e café

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Acordo 4h30, 5h30 ou 6h30 num bom dia de sono. Meus horários para levantar nunca foram jogados para tão cedo. Saudades de quando acordava às 7h, ficava um pouco lamentando não conseguir dormir mais e conseguia fazêlo em seguida. Hoje não tem disso, nem sequer aos domingos. Tudo começou quando o meu filho estava na escola no turno matutino. Todo mundo acordando no mesmo horário era sinônimo de estresse. Decidi abandonar a cama 15 minutos antes dele e da mãe; depois 20, depois 25... Por fim, percebendo que necessitava de mais tempo para acionar as baterias do corpo e da mente, programei meu alarme para tocar uma hora antes. Meia hora comendo e, depois de acordar o bebê e a mãe, meia hora para o banho e chegada na escola. Só não contava com a reprogramação perene de meu relógio biológico matutino, que passou a dispensar o uso do alarme e decidiu fazer suas próprias regras madrugadoras de segunda a domingo, incluindo todos os feriados. Mesmo assim, gosto. É um momento de solidão na casa, sem gentes, sem perguntas, apenas a sonolência e a Mikasa, minha cachorrinha, acompanhando-me para o cômodo que eu for. A primeira coisa é abrir as janelas, ver o céu e sentir fome. Já acordo sempre querendo comer, então não há espaço para momentos contemplativos longos. Estomago roncando, boto a chaleira para esquentar e alterno: um dia chá, noutro café. Durante o mestrado era muito mais café que chá. O engraçado é que eu nunca havia coado café na vida até os meus 40 anos. Sempre tive quem fizesse isso entre os colegas de trabalho e em casa não era minha prioridade consumir esta bebida. Preferia fazer cappuccino caseiro, misturando leite, café e achocolatado.

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Madrugar na época em que fazia o mestrado, precisando ficar bem ligado durante as manhãs, meu horário preferencial de produção acadêmica, gerou a mudança de costumes. Faço café à moda antiga, esquentando água na chaleira, passando no coador de pano, deixando repousar o coador mergulhado no café coado (eu não sei se isso é moda antiga, mas na minha cabeça traz maior aproveitamento). Dia sim, dia não, lembro de minha primeira coada, feita após puxar da memória todas as vezes em que vi alguém fazendo isso. Foi no Rio de Janeiro, na casa do Rodrigo, que me hospedava e disse “aí, se tu acordar mais cedo que eu amanhã, podes fazer o cafezinho. Valeu?”. Valeu, respondi, silenciando que nunca havia coado um (como se justifica isso na vida sem parecer um preguiçoso?). No outro dia, fui na lembrança e no instinto e deu certo, acho. Não parei mais. Café e mestrado se misturaram também numa conversa na universidade. A Vanessa falou, e eu lembrei de há muitos anos ter lido sobre isso, que não era bom deixar a água ferver muito, pois isso mata o gosto do café. Incorporei a dica aos meus hábitos. Mesmo que os cafés que compro não sejam os melhores, pelo menos mantêm o gosto, seja bom ou ruim. Talvez um dia chegue, mas não sei se quero, ao fascínio que o Timóteo tem por esta bebida. Em viagens que fizemos juntos, era sua praxe parar nas cafeterias para experimentar cafés feitos com grãos vindos de vários lugares do mundo. Em sua casa, ele mesmo mói os grãos especiais que compra e faz uma xícara por vez, sentindo profundamente o gosto. Acho bonito, mas ainda prefiro minha praticidade: nada como fazer uma garrafa cheia de café, deixá-la sobre a mesa e ir pegando conforme as horas forem passando. Ah, e cometendo o sacrilégio de botar açúcar, mesmo que seja pouco.

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