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Willian Fontana

Willian Fontana Rio de Janeiro/RJ

Submersores das emoções

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No breu absoluto das trevas soturnas podíamos sentir seus sussurros. Além aparelhos sensoriais enxergamos com os corações numa projeção empática que conectava a nós as dores e vítimas e ao sadismo dos algozes. A 'máquina dos profetas', como chamavam seus usuários, potencializava suas sensíveis empatias ao extrasensorial afim de detectar mediante conexões sentimentais pistas de meliantes sádicos e psicopatas, assim como suas vítimas. Era um perigoso mergulho no submundo do qual nas projeções da máquina as partes claras era o mundo ordinário dos quais pessoas viviam suas vidas, e as partes trevosas o submundo nebuloso de obscuridade. Quando este cruzava a linha zonas cinzas e choques maiores ocorriam. Como sombras o submundo não emergia na totalidade, ainda que rumores persistentes dentre todos usuários sentiam algo de um poder cruel do ódio e medo a jurar trazer as trevas definitivas ao mundo da superfície. Era como um Tor de volições para as camadas de valores civilizatórios inferiores, ainda que muitas vezes escondidos no alto do espaço comum e social, como elites com relações diretas ao submundo. Algo custoso e niilista que era fonte apenas de infelicidade e ausência de autoestima para nós.

Fora assim que numa de minhas viagens senti a presença de uma criança em sofrimento. Muitas vezes recebemos as emoções como recados de volições sem saber o remetente. Buscamos por informações volitivas, associações que identifiquem a transmissão emocional para que finalmente a identifiquemos e possamos saber onde está e o que lhe fazem. A menina de 12 anos pranteava, sentia ela clamar por seus país, ao dizer o nome deles soubemos se tratar de uma das inúmeras crianças, e pessoas desaparecidas de modo misterioso. Aquele sinal de volição aludia a outros semelhantes, e uma vez estabelecendo conexão empática com imagens, pertences e sons da vítima eu pareava com seus sentimentos, mesmo sendo bons. Alguns não conseguia sentir senão vítimas associadas, como se fosse um vão esses propulsores do medo e ódio é como fosse vazios de qualquer humanidade, apenas os ecos são sentidos.

Fora assim que descobri o paradeiro de Angelina Alves, tinha apenas 17 anos e estava num shopping abandonado na zona norte

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do Rio. Parecia estar sendo molestada entre outros crimes, por mais de uma pessoa. – Salve as vítimas, Professor Xavier. – ironizou o controlador ao ouvir de mim os dados.

Todavia, aqueles homens eram um agravo aos demais ao virem acompanhados da "A Voz" enquanto os oficiais da lei realizavam as buscas no lugar. Terminei meu trabalho e tive que me desconectar, o cancro sádico e psicopata era a própria maldição e ser exposto por tempo prolongado drenava a vitalidade mental de nós, usuários.

Aquela máquina de detecção de sofrimentos e aflições visava mapear no mundo real indivíduos do submundo, tanto quanto localizar vítimas e desaparecidos. O problema é que conectar-se ao submundo tem efeitos psicológicos graves a estes usuários que frequentemente sofrem sintomas de depressão e síndrome do pânico ao serem expostos a sentir focos de injustiça e sofrimento no mundo. Quando nós não nos matávamos erámos levados a enlouquecer, precisando de frequente terapia e medicamentos ante aposentadoria por insalubridade social ser breve.

O Sistema de Ressonâncias Volitivas, era uma espécie de radar das emoções negativas, tanto dos que sofrem aos que fazem sofrer. O medo e ódio afetam negativamente o caos intrínseco ao deteriorar as relações sociais.

Por isso precisamos frequentemente desconectar, mesmo que "A Voz" - como os usuários falavam - nós chamavam frequentemente à morte e de que apenas o submundo do qual habitava era real. Alguns diziam ser ecos emocionais ou sincronicidades emocionais de nossas mentes em reação a estes contatos, todavia sabia que se olharmos muito para o abismo este olharia de volta para nós. Submergir naquele charco de sensações negativas era como um pesadelo desperto.

Por isso, certo dia tal fato parecia se confirmar quando encontraria alguém semelhante a mim. Porém, sem as ferramentas da 'máquina da profecia' que a distância fazia leituras emocionais de nós, por onde rastreávamos tais elementos, o que me levantou suspeitas. Havia relatado a primeira vez que este localizou minha mente vagueando pelos corações alheios, era como se devolvesse os sentimentos transmitindo recados por meio de volições, ausente de palavras, apenas sentimentos. Era uma alma sofredora e igualmente atormentada pelo pesadelo do submundo que era um equivalente humano ao inferno.

Obviamente que o superior descartou tal hipótese considerando apenas hipotética ciência marginal da parapsicologia, afinal conflagrava um Fator X, um contato supostamente telepático, tanto quando dos relatos da funesta "A Voz".

Todavia, dessa vez ela estava mais intensa e parecia estar ressequida pelo ódio e medo, de que

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para este era uma colmeia coletiva do ódio e medo do submundo, algo que se alimentavam. Tentei indaga-lo sem boca e ouvi-lo sem ouvidos e assim senti. – A Voz me sitiou, ela invade outras mentes para trabalharem contra mim. Eles desejam destruir nossa autoconsciência afim de emergir uma consciência global junto "A Voz", disso levam pessoas a cometerem crimes ou a loucura, muitos deles são parte da Grande Escola dos Mistérios da Insanidade do qual acreditam que a loucura é a mais pura forma de contatar o deus deles, " A Voz" do qual a medida que traga mentes a sua utilidade se torna mais forte. – O que é "A Voz"? – Pensei pesaroso com ele. – Algo ancestral que carrega mentes do passado e geram as ilusões da reencarnação, podemos chamar de um demônio que possuem pessoas quando tomam controle de suas mentes ou as enlouquecem. O símbolo deles é uma tocha invertida, o qual o objetivo é trazer o pesadelo do submundo ao mundo ordinário. – Preciso te salvar, qual seu nome? Onde está? – Perguntei quando repentinamente a conexão do sistema fora cortada por meu superior. Saltei do divã volitivo e vociferei de supetão. – Havia encontrado o peregrino das mentes! Por qual motivo desligou? – Você perdeu a concentração! Os recursos do aparelho são caros e temos metas e objetivos que não foram cumpridos hoje!

Me levantei ruborizado, peguei o copo de café e segui quando ao ver o superior dar as costas tinha o símbolo tatuado mencionado, uma tocha invertida.

Perplexo fui para o quarto e pesquisei notando se tratar de um símbolo de Hipnos. Fiquei estupefato, aquilo talvez explicaria o motivo destes frequentemente isolarem ruídos volitivos não desejados, demonstrando que no mínimo o sistema estava infiltrado por aqueles agentes da Escola dos Mistérios da Insanidade, uma agremiação secretista que promoviam toda sorte de doenças mentais e medos presentes no imaginário popular. Envolta em conluios, ainda que oficialmente diziam ser um grupo de amadores filósofos especulativos. Por esse motivo esperei terminar o expediente e ir até a máquina e me conectar, o que era arriscado sem técnicos e superiores especializados monitorando.

Vaguei a procura da mente em questão, sem resultado. Senti o ódio de uma mulher pega o marido a traindo, a de uma menina chorando a morte do pai e a de um estuprador desejando práticas sexuais repulsivas inomináveis (as mentes sãs) com uma celebridade. Porém, logo algo interrompeu, era o peregrino dos corações, como chamava. Um prisioneiro do qual apenas a mente e o coração eram livres. Como uma pessoa com tais habilidades inatas poderia existir, era como os profetas!

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– Tenho pouco tempo, preste atenção. A corporação que serve tem envolvimento em crimes e os usam para desviar o foco de mim que fui usado como cobaia, um mero rato de laboratório de maus ante quem tem as habilidades naturais para tornar possível a criação dessa máquina. Estou isolado para tentar usa-me para os próprios crimes que alegam combater. É um experimento que visa na verdade impor o controle total e absoluto sobre todas mentes para alimentar "A Voz". O DDV na verdade é uma empresa privada sob uma fachada governamental.

Como o Departamento de Detecção Volitiva poderia fazer tal coisa? Me indignei, porém, perguntei novamente. – Onde você está?

Ao perguntar isso este me surpreendeu ao sentir que ele estava mais próximo do que pensava, ligado diretamente ao máquina que utilizava. No porão, do subsolo, abaixo do piso o qual ao tirar a tampa da grade do ralo fitei uma cápsula com um homem conectado por cabos por toda cabeça. Seus músculos haviam atrofiado por estar sendo obrigado a vegetar num estado de coma induzido a fim de usar seus dons drenando lhe toda vitalidade. Era um experimento cuja hediondez mesquinha e funesta era uma insana profanação dos direitos naturais, constitucionais e mesmo bíblicos. A máquina explorava o cérebro dele até o âmago sendo nutrido apenas por canudos ligado a boca. Parecia uma figura artesanal presa dentro de uma garrafa.

Ao ver aquilo prantei ante tamanha crueldade e pegando um extintor de incêndio quebrei o vidro da cápsula. Puxei os cabos com ela ainda desacordado, estava pálido apesar de ser pardo. Uma barba espessa e desgrenhada tomava seu rosto enquanto sua boca entortada no canudo escorria uma baba. Era um crime, mesmo ante um estado de guerra.

O levei para cima e pus ele no piso onde parecia recobrar a consciência lentamente. Quando devagar abriu os olhos me fitou visivelmente enfraquecido e vulnerável, porém, num sussurro comentou. – Você, era você que sentia e me sentiu?

Assenti com a cabeça tendo os olhos mareados, e tirei um casaco e pus sobre ele. Peguei o telefone e liguei para a polícia. – O que acontecerá agora? – Eu não sei, mas sinto que eles estão nos vendo. O ódio deles está crescendo e se aproximando, é como a bússola deles ante nosso medo. Alguém deve ter acionado eles. Nunca consigo sentir o que seriam apenas seu exalar do ódio contínuo como sombras.

Perguntei a ele se conseguia andar, mas suas pernas flácidas estavam finas e fracas demais para correr. Consegui erguer ele quando atendia a ligação ante o flagrante crime. Ele caminhou trocando passos

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ao se apoiar em mim quando passei o cartão de segurança na área restrita.

O alarme soou, e luzes vermelhas piscavam dentro do edifício quando surgiu um homem desprovido de pelos no corpo, vestindo um alinhado terno preto. Seus olhos exalavam ódio e seus dentes cerravam o rosnado disso. Estava quase na saída do prédio quando vi a viatura flagrante vindo quando o meliante segurança empunhava a arma. O que se seguiu fora o óbvio ante olhos vistos, o inegável flagrante tornava o fato incontestável. Conseguimos fugir.

Todavia ante o incidente mesmo com ele em lugar seguro teve na poderosa equipe de direitos a tentativa de acordo nos oferecendo dinheiro em troca do silêncio jurídico. Eles achavam que poderiam comprar tudo e a gente apenas pagar. Porém, agora tínhamos provas inegáveis desses cães.

Ele havia sido sequestrado de sua casa e seus bens fraudados para que lançado na servidão todos seus dons fossem usados e abusados.

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