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Saúde
from Mais Santos 27.09
by Mais Santos
Fase de escalonamento de produção teve início na Unicamp e expectativa é que testes em humanos comecem no início de 2021
Avança a elaboração de vacina spray nasal para Covid-19
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Por Liana Coll (*)
Cientistas da USP e da Unicamp esformulações de vacinas eficazes, publicadas e tão desenvolvendo uma vacina por em escala laboratorial. Mas nós sabemos que o spray nasal contra a Covid-19. A escalonamento nem sempre é viável e por esse vacina traz diversas vantagens em motivo diversas vacinas não são comercializadas, relação ao método injetável, incluinpor não serem escalonáveis”, elucida. do a atuação direta na mucosa nasal, que é uma A concepção da vacina da USP e da Unicamp, das principais portas de endiz Laura, desde o princípio, trada do novo coronavírus no incorporou a preocupação organismo humano. Dessa com uma formulação que forma, a perspectiva é que possa ser aplicável para a aconteça a eliminação do vípopulação. Para a pesquisarus já no canal de entrada. A dora, a experiência do líder da vacina está em fase de testes equipe, o professor da USP pré-clínicos, em camundonMarco Antonio Stephano, foi gos, e segue para a etapa de fundamental na concepção de escalonamento da produção, produção industrial. “Desde o realizada na Unicamp. começo, ele e a equipe estão
O escalonamento da proproduzindo uma formulação dução, conforme a professora que possa ser produzida de Laura de Oliveira NascimenProfessora Laura: população tem pressa maneira rápida e em larga to, da Faculdade de Ciências escala”, observa. Farmacêuticas da Unicamp, que encabeça esse O desafio nessa fase do escalonamento, seprocesso, é o momento em que se busca testar gundo a professora, é manter as características se a vacina, desenvolvida em escala laboratorial, físico-químicas da vacina, que utiliza uma formupode ser produzida em maior escala, processo lação baseada em polímeros nanoestruturados, que é essencial para um produto que se pretende ou seja, que têm uma faixa de tamanho específica lançar comercialmente. “Existem hoje diversas em escala nanométrica.
“Para que isso continue tanto em 10 ml, que processados, vão para o sistema imunológico e é quando fazemos uma escala laboratorial para produzem dois tipos de anticorpo: o IgG, que fica testar em camundongos, quanto em 10 litros, na circulação sanguínea, e IgA secretora que fica para que se possa manter as características físobre a mucosa”, explana o professor. sico-químicas dessa vacina é preciso estudar o escalonamento. E é isso que o time da Unicamp Vantagens da vacina por spray nasal vai ajudar: fazer com que essa vacina possa ser Uma das vantagens da vacina por spray, quanproduzida em maior quantidade, mantendo a quado comparada com as vacinas injetáveis, é juslidade que o professor Marco desenvolveu em tamente o fato de que elas estimulam também escala laboratorial”, explica. a produção da IgA secretora. Dessa maneira, protege-se assim o principal meio de entrada
Tecnologias aplicadas do vírus no corpo: as mucosas das vias aéreas. e etapas de produção Conforme estudo recente relativo à produção de
O imunologista e professor da Faculdade de outra vacina por spray nasal, viu-se que por esse Ciências Farmacêuticas da USP, Marco Antonio método elimina-se o RNA viral no nariz, o que não Stephano, coordena a equipe responsável pela foi observado na vacina injetável. formulação da vacina e pontua os passos no desenAssim, apesar de ambas as vacinas desse esvolvimento da mesma. A primeira etapa foi a protudo serem protetoras, segundo a professora Laudução do antígeno, que nesse ra, a vacina por spray nasal caso é uma molécula proteica teve a vantagem de eliminar que estimula o sistema imucompletamente o vírus, e já ne a combater o vírus. Após, na porta de entrada. “Foi deacontece o escalonamento da monstrada essa vantagem de produção dessa substância, proteger a pessoa na entrada para que seja possível desenviral, então você consegue volver a vacina. ter imunidade na mucosa
Para aumentar a entrega nasal, o que faz com que de antígenos da fórmula na se impeça a entrada viral e mucosa, os pesquisadores uma possível residência por utilizam a nanotecnologia. curto tempo do vírus, inibin“Com a nanotecnologia nós do contaminação de outras conseguimos aumentar a Dr. Stephano: ajuda da nanotecnologia pessoas”. concentração de antígenos A pesquisadora também associados as partículas carreadoras, pois quando observa que a vacina por spray é mais fácil de você diminui o diâmetro de uma circunferência, ser aplicada, dispensando treinamento específico. você aumenta a proporção da área superficial em Por não necessitar de agulha, também resolve relação ao volume dessa partícula e o número de possíveis problemas de fornecimento de material. partículas com a mesma quantidade de polímero. “Já fizeram cálculos de que se todos tivessem que Então você acaba aumentando a área superficial ser vacinados ao mesmo tempo, não teria agulha total que o antígeno pode se associar e ser expara fornecer para todos nós, então temos essa posto ao organismo”, afirma Marco Antonio. vantagem”, diz.
Além disso, como o polímero (molécula que Ela ainda destaca o fato de ser uma vacina compõe o antígeno) utilizado é muco-aderente, inovadora, viável economicamente e realizada ele fica por tempo suficiente nas mucosas nasais, com tecnologia 100% brasileira, reduzindo defazendo com que as células o levem para o sispendência de instituições de outros países. Por tema imunológico e o estimulem a produzir dois fim, observa Laura, muitas pessoas têm medo da tipos de anticorpos contra o novo coronavírus. aplicação injetável. Assim, na administração por “Essa propriedade muco-aderente do polímero via nasal, há mais adesão à vacinação. faz com que ele fique duas ou três horas depositado na mucosa, o que é suficiente para que os Perspectivas para a vacina macrófagos e as células especializadas capturem Uma das principais preocupações no contexto esses antígenos. Uma vez capturados, eles são da pandemia é a corrida para a disponibilização de
Testes para a vacina spray são promissores e reduzem custos
uma vacina. No caso da vacina por spray nasal, os professores explicam que os ensaios pré-clínicos - aqueles realizados com animais - devem ser repetidos em outubro. A perspectiva é que até o final de novembro os resultados sejam submetidos ao Comitê de Ética em Pesquisa, para que então sejam aprovados os testes clínicos em humanos e estes sejam iniciados em janeiro ou fevereiro.
Com os resultados clínicos, cabe à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinar se a vacina tem qualidade e se laboratórios tem condições técnicas de formular e fazer. “Isso acontece para qualquer vacina, seja as que estão chegando em estágio 3, seja a nossa que está sendo desenvolvida. A Anvisa é o órgão que protege o consumidor, não a indústria nem a universidade, então é muito importante ter essa segurança”, lembra Marco Antonio.
Após os testes em humanos, a ideia é que a tecnologia seja apoiada por uma empresa com capacidade de produção em larga escala. Para isso, o grupo estuda os parâmetros críticos de produção. “Queremos que a empresa possa realmente produzir e esse trabalho não simplesmente virar mais um artigo, como temos muitos artigos sobre vacina, que são importantes para ter embasamento científico, mas que não viram um produto que pode ajudar a população”, avalia o pesquisador.
Apesar das perspectivas, eles salientam que dependem de uma série de fatores e principalmente de como será a resposta imunológica dos testes em animais. “Tudo depende dos testes. Se os testes rapidamente nos derem uma resposta positiva, o cronograma será facilmente seguido”, conclui a professora Laura.
(*) Jornalista da Unicamp