revista eletr么nica de poesia & fotografia
coordenação editorial daniel moreira ju blasina
ideias e sacações vicente botti junelise pequeno martino
ano 1, nº1, abril-junho de 2013 pelotas, rs, brasil
jornalista reponsável ediane oliveira
ilustrações jairo tx
a revista eletrônica mandinga é uma publicação trimestral de poesia & fotografia, editada pelo grupo mandinga.
fotografias camila hein
poesia & fotografia
revisão duda keiber
contatos www.mandinga.art.br mandingaarteliteratura@gmail.com
cc
creative commons
conselho editorial daniel moreira duda keiber ediane oliveira jairo tx ju blasina junelise pequeno martino valder valeirão vicente botti
design editorial valder valeirão
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Nesta edição, as paisagens e as passagens do olhar da artista visual Camila Hein dialogam com a profundidade das linhas carregadas de alma na palavra viva e penetrante de Martim César. A poesia sedenta, amante e liberta de Daniel Moreira encontra, por entre as linhas desta mandinga, com a emoção latente e os desdobramentos profundos dos escritos de Ediane Oliveira. A sensibilidade poética nas palavras de cada poema e o cuidado nas formas e nas cores da arte de Valder Valeirão se misturam com a força visceral da poesia atraente de Ju Blasina e na inquietude urgente, avançadamente poética e sincera de Alvaro Barcellos. Esta mandinga ainda possui - de forma invisível, mas viva, a presença de Junelise Martino, inspirada pela memória, pela culinária e pelo afeto; e a arte expressionista e marcante do artista visual Jairo Tx. A cada edição, poemas e fotografias estarão expressos na revista virtual Mandinga. Com liberdade, sede, delicadeza e loucura, na busca do fortalecimento da arte e na compreensão das necessárias palavras de Gullar: “A arte existe porque a vida não basta”.
fotografias de Camila Hein Está artista visual, dedica-se a fotografar eventos culturais e tudo o que lhe interessa esteticamente; chão, céu, água, flores, gente, sapato, mãos... circula por mundos e fotografa aqui e ali. Gosta de trocar trabalhos e dedica-se ao fazimento de eventos ligados à cultura e educação.
poesias de Ju Blasina Cientista por formação, artista por vocação, Ju Blasina é natural de Porto Alegre, mas reside em Rio Grande há mais de meia vida. Atua como redatora web e administradora de redes sociais. Escreve de tudo um pouco para um punhado de 'e-lugares', raramente em papel. É ainda mulher de artista e mãe de duas gatas e de um menino cujo sorriso nenhum verso parece capaz de descrever.
Alvaro Barcellos É poeta e letrista – parceiro de Pedro Munhoz, Pery Souza, M. A. Vasconcellos, Raul Ellwanger, Ricardo Petrucci, entre inúmeros outros. Destaque em vários concursos e antologias nacionais, aguarda o lançamento de seu primeiro livro de poemas, Um céu de tantos remendos.
Martim César Natural de Jaguarão, fronteira com o Uruguai. Autor dos livros Poemas ameríndios e Poemas do baú do tempo, e da peça Don Quijote de la Mancha (adaptação da obra de Miguel de Cervantes) e Dez sonetos delirantes e um Quixote sem cavalo. Co-autor dos trabalhos discográficos Caminhos de si, Maria Conceição canta Martim César e Paulo Timm e Canções de a(r)mar e desa(r)mar. Daniel Moreira Nasceu em Caçapava do Sul e mudou-se para Pelotas no final de 1996. Publicou dois livros de poesias, Poemas Urbanos em 2009 e [Re]versos em 2012. É autor fixo da Revista Samizdat e colaborador dos blogs da Confraria dos Poetas de Jaguarão e Pandorgas no Paralelo 32°. Entusiasta Cultural, é um dos idealizadores do projeto Poesia no Bar.
Valder Valeirão Designer aficionado terminal por música ligado em artes miles davis fotografia por de sol literatura batata frita jazz outono fernando pessoa cinema tipologias dia de vento poesia ficar em casa pouco álcool chico buarque incensos dia de chuva chimarrão pink floyd composições noites tórridas mário quintana ruas vazias alamedas casas velhas sérgio sampaio papéis antigos pablo picasso dias de sol sonhos led zeppelin astrologia noites amenas coltraine dormir pouco e escrever. Ediane Oliveira Jornalista, colunista e produtora cultural. Apaixonada pela palavra, possui alguns poemas publicados em coletâneas nacionais. Diariamente se relaciona com a arte, através da produção em seu programa cultural de rádio. Mora em Pelotas. Prefere a noite para tudo. Inclusive para escrever.
O poeta é um sujeito estranho que sofre secretamente agradecendo à [má?] sorte que o leva a escrever algo maior que as pequenices vividas E ao concluir a árdua tarefa de lapidar dores em versos talhados para que pareçam piores ou melhores, mas sempre distantes da realidade ele expressa:
do poeta
Ju Blasina
"Eis um novo poema e isso é tudo o que mais (?) me importa (?) nesse mundo de merda" Se o poeta mente (?) sempre e mais para si mesmo não o faz por maldade talvez por indiferença Ou talvez ele apenas não saiba como suportar verdades tão fatais e alheias aos sonhos Por pior que sejam os poetas e os sonhos são ambos feitos da mesma matéria saibam eles ou queiram ou não.
E quando entendemos tudo errado pretensiosamente "supondo que" não somos assim habilitados a saber das coisas dos outros entender o próprio erro seria um acerto não fosse apenas um novo tipo de pretensão.
das pretensões Ju Blasina
questão de referencial
Alvaro Barcellos
Para Ferreira Gullar Um ponto perdido na folha uma folha ao redor do ponto uma mesa ao redor da folha uma sala ao redor da mesa uma casa ao redor da sala uma rua ao redor da casa um bairro ao redor da rua uma cidade ao redor do bairro... E daí por diante todas as coisas assim: minúsculas em relação a certo referencial e enormes em relação a outro. Mas em vários pontos no meio da folha uma palavra de significado generoso – e razão da própria existência: justiça. E um mundo ao redor disposto a lutar em seu nome.
Rodem entre as feras sugere Bukowski com sua poesia corrosiva e depois de derrubar cinco ou seis taças de vinho vagabundo. Há de ter outro colorido o horizonte há de ter outras opções pras coisas do futuro. Não pode ser só isso o mundo não pode.
entre as feras Alvaro Barcellos
Não será decerto vencedor o tempo cinza e frio das máquinas e seus rugidos limpos e seu mundinho clean enquanto escorre a seiva da vida entre os corredores da morte e onde estouram as guerras cleans entre luzinhas laranjas e verdes qual um vídeogame – mas que atravessam 30 metros do solo que atingem: puuuum!!! Conheçam as senhas senhoras senhores e dancem e aprendam a rodar entre as feras. Antes que nos derrotem as investidas bárbaras e que comecem as maçãs a devorar de vez o coração dos homens.
Pasmem! Ontem morreu no Japão O único ser humano Que sobreviveu a duas bombas atômicas.
arma nuclear Martim César
Morreu de velhice! Isto quer dizer que o tempo, Essa grandeza invisível... quase imperceptível de tão sutil, É infinitamente mais potente (mais letal!) do que qualquer arma nuclear inventada pelo homem!
A poesia é o espelho entre um velho e um menino Essa vela que se acende... essa outra ainda acesa Uma tarde de verão: sombra fresca e sol a pino Uma llovizna de inverno acinzentando a natureza Muito mais que a voz, é essa alma que me pedes Muito além da escrita, é um algo mais profundo Balança em que não pesas; régua em que não medes Um fundo de poço... (mas de poço sem ter fundo!) Um poeta recitando, qual se fosse um Arquimedes: Deem-me um poema! Um só! E eu já moverei o mundo!
alavanca de arquimedes
A poesia é uma flecha por chegar ao seu destino Um tigre no instante de alcançar a sua presa Um equilibrista sobre a corda, entre a glória e o desatino Um rio de águas revoltas rebentando uma represa
Martim César
fusão No aço Do teu beijo Derreto-me Em pouco tempo E escorro pelo suor Do teu corpo Quando quase desapareço Refaço-me no chão Mas as tuas mãos São maiores do que eu Teu fogo Lentamente me consome Ainda não tem nome Essa Com Fusão.
Daniel Moreira
sem escolha
Se eu pudesse escolher Iria querer te ver Numa tarde de chuva Sob alguma marquise O coração palpitando Parecido com o meu Aí então... Eu não teria escolha.
Daniel Moreira
invento Cansado de inventar vidas como um ator que nunca morre e quanto mais o tempo lhe agoniza muito melhor o personagem cansado de derramar sonhos como cachoeira que nunca seca e quanto mais a ĂĄgua lhe inflama menos pedras lhe seguram cansado de crer e descrer no humano, na paz, no afeto como quem nasce e renasce liberto de tantas mortes.
Valder ValeirĂŁo
Para mim restou a palavra truncada, inaudita, imprecisa... e o silêncio de um calar insensato que se faz por dor ou cansaço de falar palavra que nada pode contra um sem fim de ouvidos desatentos em diálogos de pedra semeando escuridão palavra que se contorce quase sem força quase sem ar no descompasso cardíaco do existir palavra sem a pretensa razão balbuciada como reza bálsamo inefável aurora mágica de um plano inexplicável para mim restou a palavra translúcida, insípida, imprecisa... e o silêncio de um vazio que não cala. Valder Valeirão
Nada é mais seco do que a morte sede insaciada: interrupção pele sem sangue virando opaca paredes e muros surdos. Nada é mais consumidor do que a morte nem a navalha que rasga em segundos nem os crimes deste mundo nem a maldade dos egoístas nada mais consome. só a presença da morte.
certeza
Ediane Oliveira
Automáticos nos pedem para a jogarmos no concreto em caixas tijolos e madeiras nos pedem flores nos dão mármores e tempo-limite nos pedem assinaturas por causa da morte. A morte poderia ser um verbo sem futuro. A morte poderia evitar a morte das flores - que morrem por sua causa. Esmorecidos, lamentamos: nada é mais concreto que o concreto que resguarda um corpo Nada é mais morto que a morte.
No escuro desta noite infindável Me escondo do frio tácito e feroz, Recolho lembranças que sobraram Enquanto me vejo em espelho Despejando toda minha alma atroz. Pela cólera do passado e seus desacertos Pelos erros que a gente comete Pela necessidade de voltar e não crer Ainda assim, enfrentarei a minha face Como o escudo do meu ser Como meu eterno passe. Por mais que o mundo me devore Por mais que o sol nasça do outro lado Ainda tenho a mim por decreto Ainda me enfrentarei, por certo. Nada mais possuo Que poderia eu dar? Sobrou a mim apenas este meu corpo No vão da noite fria Tenho a mim e isto é tudo Meu coração é meu escudo.
escudo Ediane Oliveira
ar te literatura