Verão Quente pra Cachorro - MDB 7ª edição

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Ano II - nº 7 abr/mai 2014 facebook.com/revistamundodosbichos

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

VERÃO QUENTE

PRA CACHORRO O calor excessivo não incomoda apenas os humanos. Conheça os riscos do verão e as alternativas para garantir o bem-estar do seu melhor amigo

CARDUMES A estratégia ambiental dos peixes maria-vaicom-as-outras

FELINOS Dicas sobre comportamento que podem salvar seu convívio com os gatos

GENÉTICA A manipulação de espécies permite desenvolver novos tipos de plantas e animais facebook.com/RevistaMundodosBichos

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EDITORIAL Artigo

No calor do momento Edição bimestral - ANO II - Nº 7 abr/mai 2014 Tiragem: 5 mil exemplares Distribuição gratuita

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A

h, o verão! O período mais iluminado do ano traz descontração e entusiasmo para todo mundo, certo? Errado! O verão é a estação do lazer e da diversão, mas também é a estação das doenças de pele e da desidratação. O mês de fevereiro foi um dos mais quentes das últimas décadas, quebrando recordes de temperaturas e causando problemas de saúde a humanos e bichos. Com base nisso, a matéria de capa desta edição trata sobre os efeitos do calor sobre os cachorros, animais que sofrem mais com as altas temperatura do que os humanos. Ouvimos veterinários, biólogos e profissionais da área, e criamos uma matéria cheia de dicas e cuidados importantes para que você e seu parceiro animal curtam o calor sem traumas. E já que falamos em parceria, a MDB agora conta com dois novos parceiros para desenvolver o conteúdo da revista, a bióloga Valéria Zukauskas e o físico Marcio Bortoloti, especialistas que chegaram com a maior empolgação e já contribuíram com duas matérias quentinhas. Zukauskas, que atua com etologia, traz um artigo sobre o comportamento dos felinos domésticos, sua área de pesquisa. Bortoloti, que é professor, concebeu uma nova seção para a revista, que promete explicar o funcionamento da física no mundo dos animais de maneira leve e acessível. O resultado você confere agora. Boa leitura!

Dacyo Cavalcante Editor facebook.com/RevistaMundodosBichos

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RECHEIO

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9 INSETOS As contribuições ambientais, econômicas e científicas desses organismos

PEIXES Nadando juntos, eles confundem predadores, se reproduzem mais e ainda caçam melhor

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FELINOS Entenda seu bichano e se relacione melhor com ele

Répteis: Saiba por que a espécie humana é um problema para os quelônios

31 GENÉTICA Os segredos da hibridização

EXPEDIENTE

DIRETOR EXECUTIVO - Marcelo de Almeida "Quén" - marceloquen@revistamundodosbichos.com.br DIRETOR ADMINISTRATIVO - Diogo Oliveira - diogo@revistamundodosbichos.com.br EDITOR - Dacyo Cavalcante - dacyo@ revistamundodosbichos.com.br JORNALISTA RESPONSÁVEL - Danilo Cesar Paulino Mtb 57439/SP REPORTAGEM Andréa Mourão / Gabriel Bochini / Maria Eduarda Senna / Marcio Bortoloti / Pedro Junqueira / Sarah Teodoro / Sabrina Fernandes / Vitor Haddad / Valéria Zukauskas DESIGN EDITORIAL - Marcelo Quén / Mayara Julia Laurindo / Maria Fernanda F. Queiroz ILUSTRAÇÃO - Mayara Julia Laurindo GERENTE DE CONTAS - Cacau Bezerra - cacau@revistamundodosbichos. com.br ANALISTA DE MARKETING DIGITAL - Vitor Haddad - vitor@revistamundodosbichos.com.br LOGÍSTICA - Gerson Mendes ARTICULISTAS - Kdu Oliveira / Maurício Fregonesi CONSULTORES Jaquelini Fiochi - Médica Veterinária / Vagner José Mendonça - Biólogo / Heitor Francischini - Biólogo 4

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CÃES A importância do passeio

EXÓTICOS Uma serpente para chamar de sua

18 CAPA

O calor pode ser um problema sério para os cães

34 CIÊNCIA Os animais e sua sensibilidade aos sons

/revistamundodosbichos

TODA EDIÇÃO 35 Mundo 37 Artigo 38 Crônica 39 Bichos curiosos

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edúaS

PEIXES

UM POR TODOS,

TODOS POR UM A união de seres pode formar um grande espetáculo e ainda ser uma tática para evitar os predadores. Assim se manifestam os cardumes: a força do "todos contra um" TextoSabrina Q. Fernandes, Maria E. Senna DesignMayara Laurindo

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ais do que um simples conjunto de peixes da mesma espécie que nadam de maneira sincronizada, os cardumes são um tipo de agrupamento extraordinário, que se articula em uma malha altamente organizada e consegue se mover como se fosse um único organismo vivo. Esse comportamento pode ser considerado uma adaptação evolutiva, pois mantém um grande número de indivíduos numa região com melhores condições de vida, desfrutando de uma boa temperatura e alimentação. Por outro lado, em momentos de tensão, o cardume pode se reunir para demonstrar um tamanho maior e confundir o predador, ou ainda envolvê-lo em uma massa homogênea e dificultar seu ataque. Afinal, diante de um maior número de presas em potencial, é muito mais complicado para o predador focalizar uma única presa. Para ilustrar o fenômeno, os ictiólogos (ver Box ao lado) costumam utilizar o seguinte exemplo. Uma pessoa, situada no canto de uma sala, atira bolinhas de papel em direção a outra pessoa (situada na outra extremidade), que deve agarrar essas bolinhas. Imagine que, no começo, seja atirada apenas uma bola. Assim fica fácil de agarrar, certo? O foco do pegador está apenas em uma “vítima”. Aos poucos, o número de bolinhas vai aumentando: de uma para duas (ainda continua fácil), de duas para três (já começou a complicar), de três para qua6

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tro (e o foco do pegador já está confuso). E se fossem atiradas centenas de bolinhas ao mesmo tempo? É isso o que ocorre com os predadores diante dos cardumes. Quando um animal focaliza uma vítima dentro do cardume, centenas de peixes começam a se mover rapidamente e confundem seu foco. Essa resposta impressionante só é possível por conta de uma estrutura conhecida como linha lateral, que consiste em um sistema de canais localizados sob as escamas dos peixes. Nas paredes internas desses canais, que se estendem da cabeça até a cauda do animal (em ambos os lados), existem células que captam vibrações na água. À medida que os peixes nadam, a água entra pelos canais e percorre todo o corpo, ativando as células da região. Assim, o deslocamento do predador movimenta a água e ativa algumas células da linha lateral mais intensamente do que outras, “avisando” cada peixe do cardume sobre o lado de que o perigo se aproxima. Como o cardume se comporta como um único organismo, a vibração é recebida por todos os indivíduos e a reação é praticamente instantânea. O grupo então reage a esse estímulo dinâmico de maneira sincronizada, transformando-se em um mosaico vivo. O cardume funciona como um grupo cooperativo, no qual ninguém lidera ninguém – é tudo na base do Maria-vai-com-as-outras. No entanto, existe uma relação de sacrifício recíproco, na


ICTIOLOGIA (ictio = peixes / logia = estudo) é o nome dado ao ramo da biologia que estuda os peixes. Portanto, ictiólogo é a pessoa que se dedica a esse estudo. Nesse campo, estão inclusos os peixes com ossos, os peixes cartilaginosos (como os tubarões e as arraias) e os peixes sem mandíbula. É uma área de estudo incrivelmente grande, pois se conclui que o número de espécies de peixes equivale ao de todos os outros animais vertebrados juntos.

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PEIXES

qual os peixes se arriscam pela proteção do grupo. Quando um predador se aproxima, é provável que os indivíduos que estão na parte mais externa sejam as vítimas, por estarem mais expostos e cansados. Por isso, é feito um revezamento dentro do próprio cardume, e os animais da borda trocam de lugar com os do miolo, dividindo os riscos e os benefícios da formação. A reprodução nos cardumes também é favorecida, já que é muito mais fácil encontrar um parceiro para a reprodução dentro de um grande grupo, onde um maior número de óvulos podem ser fecundados. Além disso, movimentar-se em grandes agrupamentos é muito mais prático,

já que o corpo de cada indivíduo libera um líquido que diminui o atrito com a água e permite nadar com menos esforço e maior agilidade. Outro benefício importante dos cardumes é a vantagem na hora de caçar. Da mesma forma que os peixes formam um grande organismo para fugir do ataque de animais maiores, eles também se agrupam para obter mais êxito como caçadores, já que conseguem localizar mais facilmente as presas e se deslocar com mais rapidez dessa forma. Entre associações benéficas e agrupamentos instintivos, os cardumes se constituem em uma maravilhosa demonstração da força da união na natureza.

"Eles também se agrupam para obter mais êxito como caçadores, já que conseguem localizar mais facilmente as presas e se deslocar com mais rapidez dessa forma."

CARDUMES CASEIROS Você sabia que existem peixes que formam cardumes dentro de aquários? Pensando nisso, muitas pessoas compram duas ou mais espécies diferentes, com a intenção de obter cardumes mais exóticos. No entanto, essa prática deve ser evitada, já que os peixes se relacionam melhor em grupos formados por indivíduos da mesma espécie. Muitos dos pequenos peixes de cardume são ideais para aquários, incluindo o Nuvem Branca (também chamado de falso Neon), que gera um aspecto de leveza, além de alguns das espécies Danios e Rasboras e a maior parte dos Barbos. No caso de aquários maiores, os peixes Arco-Íris são ótimos pela distribuição de cores.

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INSETOS

INSETOS:

VILÕES X HERÓIS? Esses organismos minúsculos têm uma gigantesca importância ecológica

TextoGabriel Bochini* DesignMayara Laurindo

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uando se ouve falar em insetos, o que costuma vir à mente são animais “nojentos” e “asquerosos”, como baratas, moscas e pernilongos, e as coisas ruins associadas a eles, como sujeira e inúmeras doenças. De certa forma, eles fazem jus a essa reputação, pois trazem muitos danos à população, seja como transmissores de doenças como dengue, leishmaniose, malária, febre amarela e elefantíase, seja causando sérios danos à agricultura. A pecuária também sofre, por exemplo, com a mosca-do-berne, que é um inseto que põe seus ovos na pele de mamíferos e aves, causando feridas que os deixam fracos e podem até ocasionar sua morte. Estima-se que o prejuízo na agricultura e na pecuária atinja a casa dos cinco bilhões de dólares por ano. Por outro lado, quando nos referimos aos insetos, estamos falando do mais diverso grupo de organismos na história do planeta. Calcula-se que existam mais de um milhão de espécies descritas e distribuídas nos dife-

rentes ecossistemas. E segundo as estimativas, é possível que ainda existam entre 2,5 e 10 milhões de espécies a serem descobertas. Além disso, registros fósseis apontam que os insetos surgiram há mais de 380 milhões de anos (no Período Carbonífero), indicando que eles estão entre as primeiras formas de vida terrestre. Apesar da maior atenção aos prejuízos que os insetos causam, a maioria das espécies é benéfica para o homem e extremamente importante ao meio ambiente. Os insetos não são os "vilões" da história. Muito pelo contrário. Se retirássemos todos os vertebrados (anfíbios, répteis, aves e mamíferos) do planeta, os ecossistemas continuariam a funcionar. Entretanto, isso não aconteceria sem os insetos, pois a sobrevivência dos diferentes ecossistemas, e até dos humanos, depende das inúmeras funções desempenhadas por eles. * Gabriel Bochini: doutorando pela Unesp Botucatu e trabalha com crustáceos no LABCAM (laboratório de camarões marinhos e de água doce) da Unesp Bauru

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Artigo

INSETOS

Produção de seda Produção de mel O aroma, paladar, e demais propriedades do mel estão relacionadas ao néctar que o originou e à espécie de abelha que o produziu. Alguns estudos demonstram que o mel possui propriedades antimicrobianas, antivirais, antiparasitárias, anti-inflamatórias, antioxidantes e anticarcinogênicas.

O bicho-da-seda é uma larva de mariposa (Bombyx mori) usada na produção de fios de seda. Essas mariposas foram domesticadas há cerca de 3.000 anos a.C, e por isso não conseguem voar nem sobreviver no ambiente natural. Vivem apenas criadas pelo homem, de quem dependem para se alimentar. Essa mariposa apresenta glândulas salivares modificadas que produzem o casulo para depositar seus ovos, e é essa seda a que se utiliza na fabricação de tecidos.

infográfico

PAU PRA TODA OBRA Decomposição orgânica

Conheça os principais benefícios desses pequenos agentes ecológicos

Algumas larvas de insetos se alimentam de matéria orgânica em decomposição. Besouros e moscas são necrófagos, ou seja, alimentam-se de fezes e animais mortos. Formigas e cupins atuam sobre plantas mortas ou fungos, contribuindo para a incorporação de nutrientes e fertilidade do solo. Até as baratas são importantes, pois aproveitam quase todos os detritos orgânicos na alimentação e assim realizam a reciclagem dos nutrientes.

Cadeia alimentar Muitas espécies de pássaros, mamíferos, peixes, anfíbios e répteis se alimentam dos insetos. Até seres humanos se alimentam deles há milhares de anos, e acredita-se que a prática ainda esteja presente em mais de 100 países. Atualmente, a ONU divulgou um estudo afirmando que os insetos podem ajudar a combater a fome mundial. Os insetos são altamente nutritivos e se reproduzem facilmente.

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Controle biológico Controle biológico significa regular o número de plantas e animais, como as pragas, utilizando inimigos naturais. Isso acontece o tempo todo nos sistemas agrícolas de forma natural, independentemente da ação do homem, quando os insetos se alimentam naturalmente de outras espécies. Em alguns casos, porém, a interferência do homem é necessária.


Polinização das plantas A polinização é um fenômeno essencial para a manutenção da biodiversidade. Das 250 mil espécies de plantas com flores, 90% são polinizadas por animais, especialmente insetos como abelhas, vespas e besouros. A produção de 2/3 da alimentação humana depende direta ou indiretamente da polinização por insetos.

Impacto ambiental Os insetos são utilizados para a avaliação de impacto ambiental e de efeitos de fragmentação florestal. Além de responder à qualidade e quantidade de recursos disponíveis no ambiente, suas populações são altamente influenciadas pelas diferenças dentro de um mesmo habitat.

Bioindicador Os insetos são utilizados também como indicador biológico de qualidade da água, pois eles interagem com os vários poluentes e indicam a presença de contaminantes nem sempre detectados. Os insetos são eficientes bioindicadores, pois são abundantes em todos os tipos de sistemas aquáticos, possuem tolerância variada a diferentes tipos de poluição e um ciclo de vida longo.

Entomologia forense Esse é o nome da ciência que analisa o comportamento de insetos em cadáveres para auxiliar investigações médico-criminais. Embora seja uma área de pesquisa bem difundida em alguns países, ela pode ser considerada recente no Brasil. Estudos sobre moscasvarejeiras, insetos importantes como indicadores forenses, vêm sendo desenvolvidos há alguns anos pela Unesp de Rio Claro.

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CÃES

LIDERANDO a matilha Realizar passeios pode estreitar os laços com os cães e torná-los mais felizes TextoPedro Junqueira, Vitor Haddad DesignMayara Laurindo

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magine que você é uma criança cheia de energia e curiosidade. Mas, como não pode sair de casa sozinha, depende da boa vontade dos pais para explorar um universo de possibilidades. Agora imagine que você ainda não aprendeu a falar, seus pais quase nunca saem com você e sua única maneira de chamar a atenção é destruindo a casa. Parece uma situação bem sufocante, não? Se você tem um cão e não o leva para passear com frequência, é assim que ele está se sentindo agora. O instinto de explorador do cão está em seu DNA, e o passeio, além de ser uma necessidade fisiológica e psicológica, pode suprir uma carência existencial do cão, dando um sentido maior à sua vida. A caminhada diária é fundamental para a saúde dos cães. De acordo com a médica veterinária Gabriela Capriogli Oliveira, o exercício físico regular e moderado melhora as funções cardíacas e respiratórias dos animais, aumentando sua expectati-

va de vida. O passeio também ajuda no controle do peso, manutenção do colesterol em taxas saudáveis, controle de diabetes e prevenção de hipertensão arterial. Além disso, ainda auxilia no aumento da massa muscular e estimula a apuração do olfato e audição. O médico veterinário Julio da Cunha Rudge Furtado ressalta que, no caso dos cães machos, o passeio estimula a urinar várias vezes e isso previne cistites, uretrites e problemas de próstata. As fêmeas também urinam com mais frequência e isso evita as cistites de retenção e a hipertrofia da bexiga. Julio destaca que o passeio é a atividade lúdica preferida do cachorro, deixa o animal feliz, esperto e garante um sono profundo e relaxante. Além dos benefícios físicos, os passeios permitem o contato com uma série de estímulos sensoriais que mantêm os cães psicologicamente equilibrados, evitando comportamentos agressivos, estimulando sua socialização e favo-

recendo um temperamento mais carinhoso e obediente. A falta de passeio, por outro lado, pode deixar o animal estressado e levar a um comportamento hiperativo, destruidor, antissocial ou até mesmo depressivo.

Planejando o passeio Passear é um hábito indispensável para os cães, mas é preciso que os passeios tenham qualidade, com uma duração mínima e uma série de cuidados que o criador deve considerar antes, durante e depois da caminhada. Segundo o médico veterinário Henrique Meiroz de Souza Almeida, antes do passeio é importante levar o pet ao veterinário para verificar como está seu condicionamento físico. Henrique afirma que, no caso de animais jovens, é preciso que eles estejam com a vermifugação e a vacinação em dia, já que as chances de contato com diversas enfermidades aumentam na rua. facebook.com/RevistaMundodosBichos

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Artigo

CÃES

"O passeio se mostra vantajoso para todos, proporcionando condicionamento físico, novas experiências sensoriais e a aproximação entre o cão e seu dono."

Durante o passeio, o cão deve entender que o humano é o líder da “matilha” e que, portanto, deve andar atrás ou ao lado do criador. O animal nunca deve comandar o passeio, pois isso pode modificar seu comportamento ao longo do tempo, tornando-o rebelde e desobediente. É importante que os passeios sejam diários, para que se estabeleça uma rotina. A duração depende

do condicionamento, tipo físico e idade de cada animal, mas no geral os cães não toleram passeios com mais de 60 minutos de duração. Julio Furtado lembra ainda que não se deve passear com os cães em horários de calor excessivo, quando o chão está muito quente e pode causar lesões nas patas do pet. Depois de um bom passeio, o criador deve higienizar as patas do animal e verificar a presença de

parasitas, como pulgas e carrapatos. Após esses cuidados, o ideal é deixar o animal à vontade, pois tudo de que ele vai precisar é um pouco de descanso e água fresca. Além de garantir a saúde e o bem-estar do animal, a realização de passeios diários com os cães ainda traz benefícios à saúde do criador, já que a prática é frequentemente recomendada pelos médicos também aos humanos. O passeio se mostra vantajoso para todos, proporcionando condicionamento físico, novas experiências sensoriais e a aproximação entre o cão e seu dono. Mas se ainda assim, mesmo depois de conhecer todos esses benefícios, você realmente não tiver um tempo livre na agenda para passear com seu melhor amigo, sempre existe a possibilidade de contratar um profissional para fazer isso por você.

ANTES DE SAIR Existem muitos cuidados que o criador deve ter antes de sair para os passeios com seu amigo peludo, como não oferecer água ou comida em grande quantidade, para evitar congestões. O pet deve usar uma coleira com identificação, importante caso ele venha a se perder, e filtro solar específico para cães, caso o animal tenha pele clara. Além disso, o criador deve levar saquinhos para coletar as sujeiras do bicho durante o passeio e algum recipiente com água fresca para oferecer ao animal pelo menos a cada 30 minutos.

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SIGAm-ME OS BONS

O cachorro é um animal que tem a necessidade instintiva de seguir ordens. É assim que eles se relacionam na natureza, seguindo os passos e obedecendo ao líder do grupo. Quando são adotados por uma família humana, os cães entendem que aquele grupo é sua nova “matilha”, e por isso buscam logo reconhecer o chefe do bando, que deve se comportar como um líder firme e decidido. Essa liderança, exercida pelo humano, deve ficar evidente para o cachorro

em todos os momentos, inclusive na realização dos passeios diários. É por isso que o criador nunca pode permitir que o cachorro ande à sua frente nos passeios, ditando o ritmo e a direção da caminhada. Quando isso acontece, o cão entende que ele é o verdadeiro chefe do bando, e não deve obediência nem submissão aos humanos. Não é de se espantar que o animal se torne “rebelde” ou até agressivo em casa. Afinal, na sua cabeça, é ele quem manda no pedaço.

NÃO É ESSA A LEMBRANÇA QUE VOCÊ QUER DO SEU Cachorro.

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EXĂ“TICOS

TextoPedro Junqueira DesignMayara Laurindo

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SERPENTES

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ara quem gosta de pets exóticos, nada melhor do que um bichinho que bota medo em meio mundo, como é o caso das serpentes. No entanto, antes de adotar um animal desses, é bom chegar a um consenso com todos que moram na casa. As serpentes podem viver mais de 24 anos quando bem cuidadas, e não é fácil arrumar um novo lar para elas caso o dono desista do pet. Esses animais requerem uma série de cuidados especiais dos criadores, e não adianta nem esperar por demonstrações de afeto e carinho em troca da atenção – o máximo que o bicho poderá fazer é demonstrar respeito ao humano por alimentá-la. As serpentes mais adotadas como “pet” no Brasil e no mundo são as espécies constritoras, como a píton, a jiboia e corn snake, por não possuírem veneno e serem menos agressivas. Recentemente, o IBAMA proibiu o comércio de espécies exóticas (isto é, naturais de outros territórios), como a píton e a corn snake, embora alguns criadouros e pet shops ainda possuam exemplares para venda. No caso das cobras nativas, como a jiboia, o comércio é permitido apenas por criadouros autorizados. As serpentes já vêm com documentação legal do IBAMA e com um microchip que identifica o seu proprietário, que é obrigado a assinar um termo de responsabilidade antes de adquirir o animal. Segundo o veterinário Julio da Cunha Rudge Furtado, as constritoras são preguiçosas e dormem a maior parte do tempo. O ambiente

TEMIDAS POR MUITOS, AMADAS POR POUCOS

Animal de sangue frio pode derreter seu coração ideal para criar uma delas é um terrário que simule seu habitat natural, com cerca de 4 m² de área, um substrato no solo que facilite sua locomoção, uma “toca” em que ela possa se esconder e alguns pedaços de galhos ou paus para se exercitar. Futado alerta que o ambiente necessita de uma fonte externa de calor, uma vez que as serpentes são animais de sangue frio e precisam de calor para manter seu metabolismo. Além da temperatura, o dono deve controlar a umidade do ambiente, que deve ficar em torno de 80% para facilitar a troca de pele (realizada de acordo com seu crescimento). A umidade pode ser mantida com um recipiente contendo água fresca e limpa, no qual ela irá se refrescar e matar a sede. Quando necessário, o tutor deve borrifar água no ambiente ou, em casos extremos, instalar um umidificador. Um fato que pode assustar os criadores inexperientes é a alimentação das serpentes. Apesar de aceitarem alimentos congelados ou bichos mortos, elas preferem se alimentar de presas ainda vivas, como camundongos ou pintinhos. O veterinário Thiago Navarro Vilalta destaca que elas devem ser alimentadas uma vez por semana ou a cada 30 dias, dependendo da espécie da cobra, do seu tamanho e da estação do ano. Esses animais não gostam de ser perturbados durante a digestão, que pode durar até uma semana. Além disso, deve-se estar sempre atento a indícios de fome no animal, como a realização de “passeios” pelo terrário.

Por sinal, essa é uma vantagem que as serpentes oferecem aos donos com pouco tempo para interagir com seu bichinho – passeios não são recomendados para cobras. Furtado afirma que, durante os passeios, as serpentes podem contrair doenças, e acabam ficando estressadas ou agressivas com a troca de ambiente. Seu transporte só deve ser feito quando necessário (por exemplo, para as visitas ao veterinário), em caixas escuras com pequenos orifícios para a entrada de ar. Outro cuidado importante é manter o terrário bem isolado, pois as serpentes são mestres em fugas. De acordo com o administrador de empresas Ricardo Cardenuto, que gosta de répteis desde criança, a convivência com esses seres tão temidos pode ser harmoniosa e agradável. Atualmente, Ricardo tem uma jiboia de quatro anos e um metro e meio de comprimento, que adquiriu, pela internet, de um criadouro autorizado do Mato Grosso. Ricardo ressalta que as duas únicas vezes em que foi mordido pela jiboia foram por descuido na hora de alimentar o bicho, mas que a mordida não é muito dolorida. Ele confessou que a serpente se mostra mansa e tranquila mesmo na presença de visitas, e até pousa para fotos nos braços de estranhos. Se você faz parte da minoria que não teme esses pets exóticos e tem condições de se dedicar a eles, vá em frente. Procure sites especializados no assunto e criadouros autorizados para, quem sabe, adquirir uma nova paixão de sangue frio. facebook.com/RevistaMundodosBichos

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CAPA

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O calor pode trazer diversão para a família, mas exige cuidados com nossos amigos peludos TextoPedro Junqueira DesignMayara Laurindo

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evido ao aquecimento global, o planeta vem enfrentando verões mais quentes a cada ano. E os seres humanos não são os únicos a sofrer com isso. Seu melhor amigo, o cão, sofre ainda mais, sobretudo em função de dois motivos. O primeiro é a pelagem que recobre boa parte do corpo do animal, o que equivale a vestir um casaco de inverno em pleno verão. O outro motivo é que, ao contrário do homem, o cão não possui glândulas específicas e é incapaz de perder calor por meio do suor – ao invés disso, o cachorro fica com a boca aberta para trocar calor com o ambiente e resfriar seu corpo. Essas características caninas exigem dos criadores cuidados redobrados com seus pets nas épocas mais quentes do ano. A primeira preocupação deve ser com a hidratação do animal. A médica veterinária Gabriela Capriogli Oliveira alerta que o calor excessivo faz com que os cães percam maiores quantidades de líquido, que deve ser reposto. É importante oferecer água em abundância durante o dia todo e trocá-la periodicamente, deixando a vasilha na sombra para que o líquido fique sempre fresco. Outro cuidado que se deve ter é com a exposição ao sol, principalmente em cães de pelagem mais clara, que podem chegar a desenvolver câncer de pele. Gabriela lembra que, para esses pets, recomenda-se o uso de protetor solar (próprio para animais) em

áreas mais expostas como focinho, patas e orelhas. Para os outros, ambientes bem arejados e com sombra são suficientes para evitar problemas com a exposição solar. Deve-se ficar alerta também para o aumento excessivo da temperatura corporal do cachorro, conhecida como hipertermia, que pode levar a óbito se o cão não receber os cuidados no momento certo. Os sinais de hipertermia são: respiração ofegante e acelerada, língua levemente arroxeada, vômitos e diarreia. Diante desses sinais, o criador deve tentar resfriar a temperatura corporal do bicho borrifando água sobre seu dorso, levando-o a um ambiente com ventilador ou ar-condicionado e até mesmo envolvendo seu corpo em uma toalha molhada com água fria. Caso os sintomas continuem, é necessário levar o cachorro ao veterinário o mais rápido possível. Uma medida importante para evitar problemas com o calor é a tosa do animal, caso a raça permita esse procedimento. Segundo o médico veterinário Henrique Meiroz de Souza Almeida, outra opção é aumentar a frequência dos banhos, porém sem exageros, pois o uso constante de shampoos e sabonetes podem causar irritações na pele do pet. Após os banhos, deve-se secar bem o animal, de preferência somente com toalha ou com o secador na temperatura fria, para evitar que a umidade e o calor favoreçam o aparecimento de fungos. facebook.com/RevistaMundodosBichos

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CAPA

Com o aumento da temperatura e da umidade, os carrapatos, pulgas, moscas, mosquitos e pernilongos se proliferam com mais facilidade, expondo os pets a um grande número de doenças. O médico veterinário Henrique Meiroz de Souza Almeida indica o uso de coleiras repelentes e remédios contra pulgas e carrapatos para evitar infestações de parasitas. Além disso, manter a grama bem cuidada e limpar sempre o quintal e a casa dificultam a proliferação desses organismos, evitando que o pet entre em contato com as doenças transmitidas pelos parasitas.

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"São as pequenas atitudes diárias e o acompanhamento veterinário que garantem o bem-estar dos peludos."

Segundo Almeida, algumas raças como São Bernardo, Bernesse, Border Collie e Chow Chow, originárias de regiões frias, são mais sensíveis ao calor e sofrem mais com as altas temperaturas, em decorrência da pelagem grossa e densa. Por esse motivo, muitos petshops oferecem a chamada “tosa verão”, que proporciona maior conforto térmico para esses animais. Outras raças que podem sofrer bastante com o calor são as chamadas “braquicefálicas”, ou “raças de focinho curto”, como Bulldog e Pug. Devido ao focinho menor, essas raças apresentam maior dificuldade de perder calor pela ofegação (principal forma canina de regulação térmica), levando ao aumento da temperatura corporal e podendo desencadear problemas sérios. Programar o passeio com os cães para os horários em que o sol está mais “baixo” no horizonte e o clima está mais ameno pode evitar queimaduras nas solas das patas do bicho e proporcionar uma caminhada mais agradável. Além desses cuidados básicos, são as pequenas atitudes diárias e o acompanhamento veterinário que garantem o bem-estar dos peludos. Tanto no verão como nas demais estações do ano.

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FELINOS

COMUNICAÇÃO SOCIAL EM Conhecer os gatos é imprescindível para um convívio saudável e harmonioso TextoValeria Zukauskas* DesignMayara Laurindo

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ssim como aconteceu com os cães, agora são os gatos que ganham cada vez mais espaço nas residências do mundo inteiro. A estimativa no Brasil é que a população de felinos em domicílios ultrapasse a de cães até 2020. Esse fato se deve à vida do homem atual – com seu tempo e espaço cada vez mais restritos –, além da urbanização das cidades e sua consequente verticalização. Demos “adeus” às casas com grandes quintais e ao tempo livre. Com esse aumento, cresceu também a necessidade de se entender melhor esse animal tão misterioso, ainda 24

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em processo de domesticação. O gato ainda conserva algumas características selvagens, o que confunde alguns proprietários. Pode-se dizer que o erro mais frequente está na interpretação dos sinais sociais que o felino doméstico apresenta nas situações do cotidiano. Com o tempo de convívio com o ser humano, os cães aprenderam a “ler” a nossa expressão facial, algo que ainda não aconteceu com os gatos. Para eles, não existe uma hierarquia linear como acontece nas matilhas caninas. O gato nos vê como um outro gato, nem acima e nem abaixo dele.

"Para eles, não existe uma hierarquia linear como acontece nas matilhas caninas. O gato nos vê como um outro gato, nem acima e nem abaixo dele."


VOCALIZAÇÃO A vocalização em felinos domésticos é um dos traços evolutivos da espécie.

Em vida livre e selvagem, os gatos miam apenas como forma de comunicação entre mãe e filhote. Mas seu convívio com o ser humano o fez entender que o ato de miar desperta um senso de urgência nos criadores. Vários estudos comprovam que os gatos domésticos modulam seu tom de voz de acordo com o que desejam.

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FELINOS

EXPRESSÃO CORPORAL A expressão corporal do gato também é um aspecto que deve ser levado em conta

Um exemplo clássico de gatos que estão sob uma situação estressante é dilatar as pupilas e permanecer acuados em um canto, embaixo de móveis ou em locais de difícil acesso.

Sua forma de comunicação é muito peculiar e seus sinais são muito sutis. Uma das provas disso é a forma como ele recebe o membro preferido da família quando este chega da rua. Um cão festejaria de forma esfuziante e com vigoroso abanar de cauda. Alguns gatos até encontram seus donos na porta, mas o mais frequente é continuar na mesma posição em que se encontram (normalmente sentados ou em decúbito ventral, como uma “esfinge”), e olhar seu humano preferido com os olhos semicerrados e suaves piscadelas – o chamado “beijo felino”. A melhor tradução para esse comportamento seria algo como “Eu te amo, seja bem-vindo de volta!”. Outra ideia errada ocorre quando o gato se esfrega nos humanos, geralmente nas pernas. Os gatos possuem glândulas de odor na face e na base da cauda. Esfregan-

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Orelhas posicionadas para trás significam um pré-ataque, quando somadas às vibrissas (bigodes) coladas ao longo da face e ao corpo em posição de impulso

Um gato deitado de forma relaxada, com olhos entreabertos e a cauda parada, indica contentamento

do-se, eles depositam seus odores na pessoa ou objeto. Pode-se então concluir que essa seria uma das formas de marcação de território. O ato de se esfregar em outro gato ou mesmo em uma pessoa da casa (allorubing) demonstra um ótimo convívio e simpatia com o indivíduo. Quando dois ou mais gatos convivem em uma casa dormindo juntos, mantendo contato físico e se limpando entre si (allogrooming), também se pode afirmar que há uma relação harmoniosa. Muitos proprietários acreditam que gatos que estão no mesmo cômodo, mas mantêm uma distância e apenas se entreolham, se gostam. Mas isso nem sempre é verdade. Muitas vezes, eles apenas se toleram. Em uma colônia de gatos, manter a distância física é a regra da boa vizinhança para evitar conflitos.


Ao contrário do que se pensa, fezes e urina também são uma forma de comunicação social entre os gatos. Há uma tendência de os machos de pelagem longa enterrarem seus excrementos em menor frequência, demonstrando sua presença naquele território. O ato de defecar e urinar em locais impróprios também pode demonstrar desaprovação de algo na casa, como, por exemplo, a chegada de outro animal, ou mesmo do novo bebê da família. Por outro lado, problemas de eliminação devem receber atenção especial do veterinário e de um especialista de comportamento de forma conjunta, pois o problema pode ser clínico ou comportamental. A análise do comportamento de felinos domésticos por meio de sua comunicação social é imprescindível para o bom convívio e a melhora da interação homem-animal, além de favorecer a prevenção de problemas gerados pelo erro de manejo. *Valéria Zukauskas: bióloga, consultora comportamental de felinos domésticos e membro da Sociedade Brasileira de Etologia

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RÉPTEIS

Tartaruga, cágado ou jabuti? Embora existam diferenças entre os quelônios, todos sofrem com a ação humana TextoSarah Teodoro*, Vitor Haddad DesignMayara Laurindo

O

jabuti, o cágado e a tartaruga são animais incluídos na ordem Chelonea, e por isso são chamados de quelônios. Pertencentes à classe dos répteis (assim como os jacarés e as cobras), esses três animais são frequentemente confundidos em função da grande semelhança que guardam entre si. No entanto, também existem diferenças entre eles. Todos os quelônios botam ovos (por isso são chamados de ovíparos) em buracos que cavam nas margens dos rios, lagoas ou nas praias. Possuem o corpo coberto por uma carapaça (também chamada de casco), e a pele das patas e a cabeça recoberta por escamas. Os quelônios surgiram no período Triássico, cerca de 230 milhões de anos atrás, e já existiam quando os primeiros dinossauros ganharam vida. Desde então, não sofreram grandes mudanças e continuam tendo como principal característica a presença do casco. Eles podem ser diferenciados pelo seu habitat (o meio em que vivem), pelas características das suas patas e pela forma do casco e do pescoço.

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Os jabutis são exclusivamente terrestres e, dentre os quelônios, são os únicos que não vivem na água. O casco é bem alto e suas patas são cilíndricas como a de um elefante, além de apresentarem unhas. Seu pescoço é retraído verticalmente. Os jabutis machos possuem o plastrão (sua “barriga”) curvado, de forma que ele consegue se encaixar direitinho sobre a fêmea na hora da cópula. São animais muito lentos, podendo demorar cerca de 5 horas para percorrer 1 km. Podem comer de tudo (são onívoros), mas preferem vegetais.


São animais de água doce, mas que também podem viver no ambiente terrestre. São muito parecidos com as tartarugas. Suas patas possuem membranas interdigitais, ou seja, uma “película” entre os dedos que os ajuda a nadar. Também apresentam unhas, o que facilita a locomoção em terra. O casco dos cágados é mais achatado e hidrodinâmico se comparado ao dos jabutis, o que facilita o nado. Ao contrário deles, os cágados possuem longos pescoços que podem ser inclinados lateralmente como uma dobradiça. São muito ágeis dentro d’água, e podem deslizar rapidamente ao menor sinal de perigo. Eles gostam de tomar sol fora da água, na margem dos rios, e seu alimento preferido são os peixes.

casco de um, focinho do outro No geral, se não é cágado nem jabuti, podemos falar que é tartaruga. As tartarugas geralmente são marinhas, mas existem espécies de água doce também. Suas patas têm o formato de remo, o que ajuda muito na natação, já que são animais aquáticos e que só vão para a terra para botar ovos. Diferente dos cágados, as tartarugas não conseguem esconder seu pescoço lateralmente, que é bem mais curto. Gostam de comer moluscos, algas, crustáceos e peixes.

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Arquitetura e Natureza em per feita har monia

RÉPTEIS

Atualmente, existem cerca de ovos são incubados. Isso significa 300 espécies de quelônios no plane- que, conforme as temperaturas méta, mas boa parte delas se encontra dias aumentam (pelas mudanças seriamente ameaçada. Segundo Dr. climáticas, por exemplo), a proporSteve Mockford, pesquisador da ção entre os sexos de uma espécie Universidade Acadia, no Canadá, pode ser desviada” alerta Mockford. que estuda a genética de tartarugas Isso implica que, no futuro, possam de água doce, aproximadamen- surgir populações formadas apenas te a metade de todas as espécies por indivíduos do mesmo sexo, que existentes se encontra em risco serão incapazes de se reproduzir. A interferência humana ainda de extinção, o que equivale a 150 espécies de quelônios que podem afeta os quelônios de outras fordesaparecer do planeta em decor- mas, como por meio de sua caprência da intervenção do homem. tura para o comércio de animais e “As ameaças às tartarugas geral- do seu uso como fonte de alimenmente estão relacionadas ao de- to. Na Ásia, na América do Sul e senvolvimento humano. Isso inclui em regiões da América do Norte, perda e modificação do seu habitat alimentar-se de quelônios é prática conforme os homens modificam tradicional, que acaba ameaçando os ambientes divididos com a vida “Acredito que, enquanto a ciência é uma selvagem”, explica o cientista. grande fonte de informação para garantir os Um bom exemesforços de recuperação, é o público que plo dessa ameaça vai realmente conservar a vida selvagem.” é a construção de estradas. Quando as vias atravessam os habitats ou significativamente a preservação as rotas relacionados ao ciclo de de diversas espécies. Apesar do cenário crítico, ainda vida das tartarugas, é bastante comum que elas acabem atropeladas. existe esperança para as tartarugas, “E se a tartaruga é uma fêmea que graças ao trabalho e ao engajamenestá viajando para o local de fazer to de pesquisadores como Dr. Moseu ninho, acontece ainda a perda ckford. “Eu e meus alunos examinados seus ovos”, comenta Mockford. mos geneticamente populações que Uma ameaça secundária causada estão em maior risco de extinção. pela construção de estradas é que Nosso objetivo é entender as ameisso facilita o desenvolvimento hu- aças a essas espécies e usar esses mano e, por consequência, traz mais dados para fornecer informações ameaças às tartarugas, como a movi- para sua recuperação”, esclarece. Na opinião do cientista, porém, a vermentação de novos predadores. As mudanças climáticas também dadeira responsabilidade é das pespodem ter um impacto desastroso soas comuns, que detêm o poder de sobre os quelônios, maior até do que transformar a realidade. “Acredito sobre outros animais, em função da que, enquanto a ciência é uma granestrutura das suas populações. “Na de fonte de informação para garanmaioria das espécies de tartarugas, o tir os esforços de recuperação, é o sexo dos filhotes não é determinado público que vai realmente conservar geneticamente, como acontece nos a vida selvagem.” mamíferos. Em muitas espécies, o *Sarah Teodoro é doutoranda pela UNESP Bauru e que determina se serão machos ou pesquisadora no LABCAM(Laboratório de Biologia de Camarões Marinhos e de Água Doce) fêmeas é a temperatura em que os contato@lucianabar biero.com 30 facebook.com/RevistaMundodosBichos (16) 99773 2439 I C AU: A68962-9


GENÉTICA

TextoAndréa Mourão* DesignMayara Laurindo

híbridos Como os cruzamentos permitem ao homem criar novas espécies

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primeira hibridação (ou cruzamento) de espécies foi realizada, ainda sem total ciência disso, no século XVIII por Joseph Gottlieb Kölreuter, utilizando espécies de tabaco. O híbrido foi realizado por meio do cruzamento das espécies Nicotiana rustica e Nicotiana paniculata, e é considerado um estudo visionário, tanto para a botânica quanto para a genética. O estudo era de fato avançadíssimo, uma vez que, na época, era repugnante a ideia de que vegetais tivessem sexualidade e que pudessem realizar cruzamento. Mais tarde, com o avanço da pesquisa de Joseph e de outros estudiosos da área, chegou-se ao conceito de que híbrido é o indivíduo gerado a partir do cruzamento genético entre duas espécies vegetais ou animais distintas. Os híbridos muitas vezes são criados para fins comerciais, sobretudo no caso dos vegetais, que podem ter suas características melhoradas. Esse é o caso do maracujá roxo que é mais doce do que o fruto amarelo, do milho vermelho que é mais macio, da abóbora laranja que é mais gostosa e rica em betacaroteno, e do pomelo anão que é mais fácil de descascar e diminui o colesterol.

Os híbridos animais, por sua vez, são produzidos por razões diferentes. Costumam ocorrer ao acaso, pela interação natural de espécies distintas, ou pela interferência do homem, que busca reunir características de animais diferentes. A hibridização pode ocorrer ainda porque alguém simplesmente diz: “vamos cruzar para ver o que dá?”, e então cria animais como o javaporco, cruzamento entre porco e javali com características muito similares ao porco, porém com menor porcentagem de gordura em sua carne, tal qual o javali. No caso da intervenção humana, deve haver uma vantagem financeira para que os cruzamentos continuem a ser feitos. Um exemplo é o híbrido da abelha africana com a abelha europeia, produzido para se buscar um mel de boa qualidade (característica da abelha africana) e produzido por abelhas mais dóceis (característica da abelha europeia). Mas o resultado foi o contrário disso: um mel de baixa qualidade produzido por abelhas de difícil manejo. Por esse motivo, a reprodução deixou de ser realizada. Os híbridos criados pelos humanos são tidos como facebook.com/RevistaMundodosBichos

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GENÉTICA

"O interesse dos humanos por manipular geneticamente outros seres vivos é indiscutível, e talvez se explique por ser ele próprio, o homem, um produto híbrido."

um “melhoramento” genético, como é o caso do zebralo (zebra x cavalo), híbrido listrado mais forte do que o cavalo; do beefalo (boi x búfalo), híbrido mais resistente ao frio e a secas, e com teores mais baixos de gordura e colesterol em sua carne; do cama (lhama x dromedário), híbrido mais forte que a lhama e mais dócil que o camelo; e mesmo o ligre (leão x tigre), que possui comportamento social do leão e habilidades de natação do tigre, criado somente para apreciação. Também somente para apreciação está sendo “recriado” o mamute, paquiderme pré-histórico extinto há milhares de anos e que agora será hibridado com elefantes, inseminado artificialmente em fêmeas dessa espécie. Essa pesquisa é possível porque foi coletado sêmen de mamutes congelados em diversas partes do planeta. Embora a apreciação humana seja o motivo principal do cruzamento entre mamutes e elefantes, acredita-se que se esses animais tivessem convivido em um mesmo tempo-espaço, a chance de que eles se cruzassem não seria absurda, já que hibridação natural entre animais é mais comum do que se imagina. Existem, por exemplo, 32

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casos de híbridos naturais entre iguanas marinhas e terrestres; tigres de bengala e siberiano; coiotes, lobos, cães selvagens, chacais e cães domésticos; rinocerontes preto e branco; crocodilos marinho e siamês; e algumas espécies de tubarão. Até mesmo a mula e o burro são híbridos naturais. Acredita-se ainda que o próprio ser humano seja um híbrido de outras espécies. Essa hipótese se baseia na suposta convivência entre as espécies H. sapiens e H. neanderthalensis, que teriam vivido em regiões próximas. Tal convivência teria sido tão conturbada a ponto de culminar com a extinção dos neandertais. Porém, antes da extinção, teriam ocorrido diversas disputas de território e até estupros, produzindo filhotes híbridos entre as espécies. O interesse dos humanos por manipular geneticamente outros seres vivos é indiscutível, e talvez se explique por ser ele próprio, o homem, um produto híbrido. Entretanto, é necessário um controle da produção e utilização dos híbridos, uma vez que são escassos os estudos que tratam do assunto e, sem dúvida, sua utilização é no mínimo polêmica.


*Andrea Mourão - doutoranda pela UNESP Botucatu e pesquisadora no LAGENPE(Laboratório de Genética de Peixes)

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CIÊNCIA

A física nos animais As diferenças nas formas de captar os sons TextoMarcio Bortoloti* DesignMaria Fernanda Queiroz

O

som consiste da vibração das partículas que compõem o ar. Para existir som, é necessário que haja vibração, a variação de pressão no ar. No vácuo (na ausência de matéria), não é possível ouvirmos uma bela canção ou qualquer ruído que seja, já que não é possível transferir, partícula a partícula, a vibração do objeto que produz o som. Utilizamos como unidade de medida para essa vibração o Hertz (Hz), que significa repetições por segundo. Ou seja, uma frequência de 40.000 Hz indica que há repetição da vibração de 40.000 vezes por segundo. O interessante disso é perceber que há diferenças no modo em que cada ser vivo capta os ruídos a sua volta. Cada espécie desenvolveu um tipo de ouvido para receber essas vibrações, que possivelmente é o mais adequado à sua situação de vida. No quadro abaixo, há os limites de frequências audíveis ao homem e a mais alguns animais. Os limites da audição humana definem o infrassom (frequências abaixo de 20 Hz) e o ultrassom (frequências acima de 20.000 Hz). *Marcio Bortoloti é licenciado em física pela UFSCar e professor da rede estadual de ensino

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Infrassom

Som audível ao homem

Ultrassom

20 000 Hz

20 Hz

Humano

20 Hz

40 000 Hz

20 Hz

65 000 Hz 100 Hz

30 000 Hz

100 Hz 15 000 Hz

10 Hz

Gato Chimpanzé

160 000 Hz

20 Hz

40 Hz

Cachorro

Pássaro

80 000 Hz 10 000 Hz

Morcego

Baleia

Elefante

Quase todos os animais da lista apresentam capacidades auditivas diferentes das do homem. Por exemplo, cachorros e gatos percebem a chegada de seus donos bem antes do que qualquer pessoa na casa, pois são sensíveis a frequências de ultrassom que não ouvimos. As baleias e golfinhos se comunicam por frequências altas em relação aos demais animais. Os morcegos utilizam altas frequências para se locomover e perceber o espaço a sua volta. É esse o motivo de não ouvirmos os apitos de cães. Não é mágica, mas uma capacidade auditiva diferente da nossa. O apito emite frequências que somente eles ouvem.


MUNDO

Quem me dera

ser um peixe Tritão é como se chama a versão masculina das sereias, ou seja, a criatura fantástica que é metade peixe, metade homem. Com base nisso, cientistas coreanos batizaram seu mais novo invento, que permite ao homem respirar o oxigênio dissolvido na água, exatamente como os animais marinhos fazem. O Tritão utiliza uma tecnologia

denominada “artificial gill” (guelra artificial), que extrai o oxigênio da água através de um filtro composto por orifícios menores do que as moléculas de H²O. O oxigênio é armazenado na estrutura do aparelho e permite que os mergulhadores respirem confortavelmente abaixo da superfície dos oceanos, como se fossem peixes.

Mais informações no site: http://www. yankodesign. com/2014/01/03/ scuba-breath/

QI de fungo De acordo com pesquisadores ingleses, o bolor Physarum polycephalum demonstra algum tipo de inteligência. Esse fungo, conhecido por sempre encontrar o melhor caminho para chegar ao seu alimento, apresenta comportamentos que podem ser traduzidos em emoções. Os cientistas registraram os sinais elétricos que o organismo produz ao se movimentar, converteram esses dados e os compararam a padrões psicológicos humanos. O resultado foi “interpretado” por um modelo robótico que simula as expressões faciais do homem, reproduzindo as supostas emoções que o fungo intelectual experimenta.

Confira o vídeo do modelo robótico: https://www.youtube.com/watch?v=P0i-Df4w4KY

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ARTIGO

A vida in vitro

por Carlos Eduardo do Carmo Oliveira*

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os últimos vinte anos, vimos um progresso nas ciências ligadas às pesquisas sobre biotecnologia, biologia molecular e genética, que trouxeram inúmeras possibilidades de “manejarmos” a vida antes mesmo que ela aconteça. Institutos renomados por todo o mundo conquistaram feitos importantes para a saúde, a agricultura, a indústria e para a manipulação da vida animal em nosso mundo. Conseguimos controlar pragas, aumentar a produção de alimentos, criamos técnicas de manejo sustentável da terra e estamos mudando nossa relação com o planeta. Foram criadas também, nesse período, comissões de Bioética que são compostas de várias “ciências” e “cientistas” a fim de avaliar o impacto de novas descobertas e avanços que podem interferir de forma nociva na vida de

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todas as espécies na Terra. Estamos diante de obstáculos jamais pensados sobre até onde podemos avançar nessas descobertas e o quanto podemos interferir naquilo que a natureza construiu à sua forma durante toda a evolução. Estamos, sim, brincando de deuses! Talvez o fator mais ignorado por todos nós é que devemos estar atentos sobre a quem servirá tais avanços e quais são as reais intenções desses institutos que juram de pés juntos que avançar tecnologicamente em temas tão delicados e complexos pode melhorar significativamente a vida de todos. Ainda temos muitas dúvidas sobre os alimentos transgênicos, gostaríamos de respostas mais claras de vários governos mundiais que pagam bilhões de dólares às indústrias de insumos e não conseguem alimentar sua população. Se avançamos tanto, por que vacinas, me-

dicamentos e exames complexos de saúde não chegam a todos? Milhares e milhares de seres humanos morrem diariamente em decorrência de doenças tropicais que são ignoradas por grandes laboratórios de pesquisa que visam apenas ao mercado de consumidores que podem pagar um preço alto por tais medicamentos e descobertas. Não podemos nos calar, a ciência somente sobrevive com o dinheiro do povo! O tal progresso científico, antes de qualquer coisa, necessita de políticas públicas que clareiem a questão de a quem servirá os avanços e as conquistas. Devemos estar seguros que o direito aos avanços sirva apenas a um fim, acabar com as diferenças entre pobres, ricos e nações estupradas por milênios. * Carlos Eduardo do C. Oliveira é Psicólogo e Psicanalista | CRP:06/77717


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CRÔNICA

Assim é a vida, animal por Maurício Fregonesi Falleiros*

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jovem coruja, com um ar aflito, pousa ao lado do avô coruja e inicia a conversa: – Vô, preciso falar com o senhor! O coruja velho, olhando fixamente para algum ponto lá no horizonte, diz: – Pois fale... Agitado, o neto lança: – Qual é o sentido da vida? O coruja da terceira idade, ainda imóvel, responde: – Hum... Interrompendo o avô, o jovem continua: – Quer dizer, a vida é tão curta e ninguém tem certeza se existe alguma coisa depois dela... Então, pelo que nós devemos viver, vô? Devemos fazer só o que gostamos, deixar rolar, ou devemos ter um grande objetivo, um propósito, fazer da nossa existência uma busca por algo maior? Calmamente, o velho faz uma colocação: – Então... Tomando a palavra novamente, o neto coruja emenda: – Isso é muito sério. Estou pensando nisso há dias, aliás, só penso nisso há dias. E mesmo assim eu não sei o que faço. Que caminho eu devo tomar? Me fala, vô, me fala, pelamor de Deus. Os dias tão voando e eu tô sentindo que tô jogando todos eles fora. O avô, com uma postura sóbria, absorvendo a paisagem à sua frente, observa: – Filho... Já angustiado, o jovem coruja insiste: – E se eu fizer da minha vida uma esbórnia, mas ter um acesso de consciência no final dela e sentir que eu não passei de um peso morto pro mundo? Ou pior, e se eu botar como meta consertar o mundo, ser o salvador da pátria, o mártir, mas falhar miseravelmente e perceber que eu joguei uma vida inteira pelo ralo, sendo na verdade um belo de um tonto? Às vezes acho que era melhor nem ter nascido. Você também pensa assim, vô? Com um tom sereno, o velho pontua: - Olha... 38

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Em um acesso de ansiedade, o neto indaga: – Mas vô... Eis que, com um movimento ágil, quase ninja, o avô coruja enfia metade da asa dentro da boca do jovem, gira a cabeça em direção ao neto e questiona: – Quantos anos você tem, pequeno? – Quatro, vô. – Levando em conta que uma coruja vive uns vinte anos, vamos ver... Você é bem novo, não é? Um adolescente, praticamente. – É... Até que sou... – Então, manda a porcaria do sentido da vida para o raio que o parta e vai viver a vida, caramba! Retirando a asa do avô da boca, o jovem coruja se espanta: – Nossa, vô, esse é o melhor conselho que você pode me dar? Você, que é tão sábio, que fica o dia todo aí, paradinho, quietinho, observando o mundo, só filosofando... – Filosofando?! Você tá maluco?! Eu fico o dia todo é observando aquela corujona coroa tomando banho ali! Olha que beleza, quanta sabedoria adquirida com o tempo. Você devia tentar o mesmo, ao invés de ficar com essa frescura de entender o significado da vida. Só que com outra coruja, viu?! Essa já é minha. Atordoado, o coruja mais novo argumenta: – É que... Ao que o velho corta e fala: – Agora sai daqui antes que a corujona te ouça e pare de tomar banho. Xô, passa, vai aporrinhar seu pai, seu tio, sei lá. Só porque eu sou velho, todo mundo vem me pedir conselho. Sai fora! E finaliza o papo dando um empurrão no neto, que cai do telhado e não tem alternativa a não ser voar para outro canto para pensar na vida. Ou começar a vivê-la.

*Maurício Fregonesi é publicitário e escritor.


CURIOSOS

Colugo Desajeitado para andar e escalar, mamífero é um exímio “planador”

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ambém chamado de “lêmure voador”, esse animal extraordinário não é um lêmure. E nem voa. O colugo pertence à ordem Dermoptera (dérma = pele / pterón = asa), caracterizada por uma membrana (chamada patagium) que lhe permite planar entre as árvores ao longo de mais de 70 metros. E detalhe: seu desempenho nos ares é tão bom que o animal consegue “voar” transportando o filhote agarrado na barriga. Essa membrana é tão grande que o colugo não consegue caminhar direito, e precisa saltar mesmo quando no solo. O patagium se estende dos ombros até a ponta da cauda do animal, passando

pelas patas dianteiras e traseiras, e ligando até os espaços entre os dedos do bicho. Os colugos são herbívoros, medem entre 35 e 45 cm e têm olhos grandes que lhes permitem calcular a distância entre as árvores mesmo nos ambientes de pouca luz, já que são animais com hábitos noturnos. Eles vivem nas florestas do sudoeste asiático e se alimentam basicamente de folhas e seiva. São animais pouco conhecidos, que se encontram em risco de extinção por conta da destruição do seu habitat e da caça ilegal. Melhor seria se, em vez de "voar", eles pudessem se esconder do homem.

E aí, bicho? Qual é? Saindo das florestas e planando até não se sabe que local bizarro do planeta, a MDB encontrou essa criatura sem pé nem cabeça. E acredite, isso é um organismo vivo, e não uma escultura de bexiga. Na próxima edição a gente revela o nome do ser.

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