JANELA ÚNICA ELECTRÓNICA
Uma solução pertinente Rogério Samo Gudo, PCA da MCNet
Governo não cumpre a regra da preferência doméstica Agostinho Vuma, Presidente da FME
Há falta de liquidez no mercado Anastácio Langa, DG da Clean Africa
www.revistanegocios.co.mz ■ N.º2 ■ Maio Junho 2016 ■ 100 MT
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SÍNTESE TEMA DE FUNDO
JUE favorece ambiente de negócios no país Entrevista com Rogério Samo Gudo, PCA da MCNet
P10 CONSTRUÇÃO CIVIL
AMBIENTE DE NEGÓCIOS
Projectos não promovem crescimento inclusivo
Sector empresarial acusa falta de liquidez no mercado
P24
P40
BANCA E FINANÇAS P8 BOLSAS P12 SEGUROS P16 INVESTIMENTO P22 TECNOLOGIAS P42 ESTILO DE VIDA P45
ANÁLISE
FACTO P47
O sonâmbulo das dívidas. Jaime Langa P20
MARCAS P48
Luta contra a Pobreza. Gabriel Muthisse P33 Desempenho das Janelas de Operações. Eduardo Sengo P37 Conversa de balneáreo. Elísio Macamo P43
CULTURA P50 MERCADOS P52
Propriedade e Edição Directora Editorial Jelissa Abdula Colaboradores Jaime Langa, Gabriel Muthisse, Eduardo Sengo Fotografia Mauro Vumbe Design XMU - Consultoria em Comunicação e Design, lda Impressão Minerva Print Tiragem 5000 exemplares Registo 01/GABINFO-DEC/2012 Distribuição Mabuko
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PUBLICIDADE & SERVIÇOS
Av. 25 de Setembro, n.º1147 tel. +258 21 32 0 735 fax +258 21 02 0 433 cell +258 82 412 70 21 email: publicidade@revistanegocios.co.mz
CARTA DA EDITORA
Da economia à vida das pessoas
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ela primeira vez nos ventos democráticos, o país aprimorou consensos a nível de todos os partidos políticos e sociedade civil no geral de que a situação económica do país não está nada bem. A falta de financiamento à economia está a gerar consequências degradantes, sendo que a recuperação irá exigir do Governo muita criatividade a curto prazo. Com efeito, já começam a faltar divisas no mercado, o que, de certa forma, inviabiliza o desenvolvimento normal das actividades das empresas, com enfoque para as importações, e o Estado não consegue honrar os compromissos firmados com as empresas. Enquanto isso, como agravante, as agências de rating continuam a rever em baixa a notação de risco de Moçambique, o que vai complicar a recuperação da imagem do país nos mercados financeiros e conseguir financiamento para a economia. No entanto, a auto-estima dos moçambicanos mantém-se e aumentam apelos para o incremento da produção com vista à substituição gradual das importações, e o país deve encontrar formas alternativas de financiamento interno, priorizando a austeridade, a expansão da sua base tributária para incrementar a colecta de receitas, o combate à corrupção e o aprimoramento dos mecanismos de funcionamento à administração pública. No mesmo esforço, a revista “Negócios”, nesta sua segunda edição, apresenta, em tema de fundo, o parceiro estratégico da Autoridade de Tributária de Moçambique, a Mozambique Community Network (MCNet), cujo principal objectivo é prover as Alfândegas de Moçambique de ferramentas para a facilitação do comércio e melhoria do ambiente de negócios, com soluções inovadoras
Jelissa Abdula jelissa.abdula@revistanegocios.co.mz
...a auto-estima dos moçambicanos mantém-se e aumentam-se os apelos ao incremento da produção com vista à substituição gradual das importações... concebidas para facilitar o comércio internacional. As tarefas-chave da MCNet são o desenho, implementação e garantia da operacionalização da Janela Única Electrónica em Moçambique (JUE), uma solução completa de facilitação do comércio que inclui todas as infra-estruturas e recursos necessários para o estabelecimento duma operação eficiente, eficaz e sustentável e com crescimento contínuo para o desembaraço aduaneiro de mercadorias e sua monitorização. É caso para dizer bem-haja à JUE e, porque em Dezembro deste ano completa cinco anos de existência, a revista “Negócios” endereça sinceros parabéns e deseja sucessos no desenvolvimento das suas actividades!
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BANCA E FINANÇAS
Millennium bim atinge 1.5 milhão de clientes O Millennium bim, a maior instituição financeira do país, anunciou há dias ter atingido a marca de um milhão e meio de clientes, feito que representa mais uma importante etapa da estratégia do banco e reforça o seu posicionamento como líder das preferências dos moçambicanos.
P
ara José Reino da Costa, Presidente da Comissão Executiva do Millennium bim, “este marco é o reflexo do contributo do banco para o desenvolvimento socioeconómico do país, que ao longo de mais de 20 anos tem promovido activamente a bancarização da população em todas as províncias do país”. O banco conta hoje com 169 balcões distribuídos do Rovuma ao Maputo, 458 ATM e mais de 7250 POS. Por outro lado, o Millennium bim tem realizado um forte investimento no desenvolvimento tecnológico de novos serviços, como por exemplo as soluções de “mobile banking” - IZI e Smart IZI. Quanto à expansão do banco, o plano para 2016 prevê a abertura de 18 novos balcões, atingir os 300 agentes autorizados e, ainda, o desenvolvimento da parceria com os Correios de Moçambique, que levará à abertura de novos balcões ou
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o estabelecimento de agentes em edifícios dos Correios. O Millennium bim pretende, pois, continuar a desenvolver a sua estratégia de crescimento, contribuindo para o desenvolvimento do sistema bancário nacional e inclusão financeira das populações. Refira-se que o Millennium bim, o maior grupo financeiro moçambicano, tem marcado o ritmo do crescimento do sector bancário. No processo de bancarização da economia moçambicana, o bim está presente em todas as províncias do país e conta hoje com uma vasta rede de balcões, uma das maiores redes de ATM e POS, e com o contributo dos seus 2500 colaboradores que servem mais de 1.5 milhão de clientes. O Millennium bim é o único banco moçambicano presente no “ranking” dos 100 Maiores Bancos de África, ocupando a 55.ª posição.
BANCA E FINANÇAS
Metical em queda Dados divulgados recentemente pelo Banco de Moçambique indicam que a moeda moçambicana, o metical, continua a derrapar face ao dólar, principal moeda norte-americana, e ao rand da África do Sul.
A
título de exemplo, na primeira metade de Abril, o metical depreciou 2,12% no Mercado Cambial Interbancário (MCI), fixando a unidade da moeda americana nos 51,62 meticais. Nos bancos comerciais, um dólar correspondia a 53,02 meticais e 57,24 nas casas de câmbio. No mesmo período, o comportamento das taxas de câmbio, conjugado com o enfraquecimento do dólar no mercado internacional, resultou ainda em quedas do metical de 2,91% face à moeda sul-africana, o rand, e de 1,09% em relação ao euro, a moeda europeia. A depreciação do metical foi extensiva aos restantes segmentos do mercado cambial interno, nomeadamente 3,43% na taxa média dos bancos comerciais e 3,79% nas casas de câmbio. O diferencial entre o câmbio médio MZN/USD nos bancos comerciais e no MCI aumentou em 131 pontos
base (pb), para 2,71%, sendo que no MCI um dólar correspondia a 53,49 meticais. Face aos problemas que a economia moçambicana enfrenta, economistas nacionais têm estado a alertar para uma depreciação ainda mais acentuada da moeda nacional em relação ao dólar, o que a acontecer poderá agravar ainda mais o custo de vida, visto que a depreciação da moeda encarece as importações. Sem avançar números, o Banco de Moçambique refere que, do acompanhamento efectuado aos preços de bens e serviços, constatou-se uma tendência de aumento na cidade de Maputo. Entretanto, a capital moçambicana registou redução de preços de produtos básicos em 0.31%, segundo o INE, embora as evidências tenham mostrado que vários produtos ficaram mais caros.
Associação de Pequenas e Médias Empresas Av. 25 de Setembro nº 1147 BPartner Business Center Telefax: +258 82 41 94 125 Maputo - Moçambique
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BANCA E FINANÇAS
A seca em Moçambique contribui para o abrandamento da economia da África Subsaariana
Simon Allison
Economia da África Subsaariana abranda para 3% Face ao abrandamento do crescimento económico, o FMI defende um reposicionamento das políticas económicas na África Subsaariana.
“A
actividade económica na África Subsaariana tem abrandado de forma marcada mas, como de costume, com uma grande variação de acordo com as circunstâncias de cada país”, aponta o Fundo Monetário Internacional (FMI) num relatório divulgado recentemente em Washington. “O crescimento na região como um todo cai para 3,5% em 2015, e deve abrandar para 3% este ano, bem abaixo dos 5 a 7% que registou durante a última década”, afirma o relatório citado pela agência Lusa. O forte declínio no preço das matérias-primas afectou significativamente países como Angola ou a Nigéria, os dois maiores produtores da região, mas o abrandamento económico foi também re-
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sultado de epidemias como o Ébola e de problemas naturais como a seca em Moçambique. “Ao mesmo tempo, vários outros países continuam a registar crescimentos robustos”, principalmente os importadores de petróleo que beneficiam da descida dos preços, o que explica o crescimento acima de 5% em países como a Costa do Marfim, o Quénia ou o Senegal. Para potenciar o crescimento económico, é preciso, segundo o FMI, reposicionar as políticas: “As respostas políticas entre muitos dos exportadores de matérias-primas ao historicamente grande choque no comércio têm estado geralmente ‘atrás da curva’”, dizem os peritos. Fonte: OJE.PT
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BOLSAS
BVM com desempenho satisfatório O actual valor da capitalização bolsista ascende a 55.217,76 milhões de meticais, cerca de 8% do PIB nacional. O desempenho da Bolsa de Valores de Moçambique (BVM) fechou assim o exercício económico de 2015 com um desempenho satisfatório.
O
desempenho positivo da Bolsa de Valores de Moçambique em 2015 é provado pela evolução dos principais indicadores bolsistas, nomeadamente a capitalização bolsista, o volume de negócios, o número de títulos cotados e a liquidez do mercado. De acordo com dados disponibilizados pela
Bolsa de Valores de Moçambique, o principal indicador bolsista - a capitalização bolsista - teve um crescimento de 30,8%, o que traduz uma maior dimensão do mercado bolsista moçambicano como mecanismo alternativo de financiamento à economia. Houve ainda valorização do preço da cotação
Evolução dos principais indicadores 2014 - 2015 Indicadores Bolsistas
2014
2015
Variação
42.260,14
55.217,16
30,8 %
Volume de negócios (milhões de meticais)
4 607
14 863
222,6 %
Número de títulos cotados de 1999 a 2015
82
97
18,3 %
Número de títulos cotados na BVM
43
46
7,0 %
10,9 %
26,9 %
146,6 %
Capitalização bolsista (milhões de meticais)
Turnover (liquidez de mercado) Fonte: BVM
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Capitalização bolsista cresce
30,8%
dos títulos admitidos na BVM, principalmente os títulos da CDM (Cervejas de Moçambique), que passaram de 113,60 MT por acção em 2014 para 135,00 MT por acção em 2015, assim como da CMH (Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos), de 575,00 MT por acção em 2014 para 675,00 MT em 2015, que, embora não pareça significativo por apenas representar 4,36% da capitalização bolsista de 2015, é um valor elevado quando comparado com o valor deste indicador em outros mercados internacionais, representativo assim de uma maior robustez do mercado. Em termos comparativos, a evolução na variação da cotação, tanto para os títulos da CDM como da CMH de 2014 para 2015, situou-se em 18,84% e 17,39%, respectivamente. Entretanto, o volume de negócios e um outro indicador associado a este - o turnover - foram os indicadores bolsistas que apresentaram uma maior evolução no seu crescimento, de 222,6% e 148,3%, respectivamente, significando uma maior liquidez do mercado bolsista.
Por sua vez, o aumento do número total de títulos até agora admitidos à cotação na Bolsa de Valores, de 82 em 2014 para 97 títulos em 2015, em resultado da entrada em bolsa de 15 novos títulos, representa um crescimento de 18,3%. Recorde-se o Governo, no âmbito da sua política económica, criou a Bolsa de Valores através do Decreto n.º 49/1998, de 22 de Setembro, com a finalidade de diversificar as alternativas de financiamento então existentes e, também, de promover a captação da poupança e a sua conversão em investimento produtivo. A principal função da Bolsa de Valores é a organização, gestão e manutenção de um mercado centralizado de valores mobiliários, assim como a manutenção de meios e sistemas apropriados para o regular funcionamento desse mercado. Mais recentemente, a Bolsa de Valores também tem por competência a gestão da Central de Valores Mobiliários em Moçambique.
Variação do Valor da Cotação de Acções 2014 - 2015 Mercado Accionista CDM - Cervejas de Moçambique CMH - Comp. Moçambicana Hidrocarbonetos CETA - Construção e Serviços EMOSE - Empresa Moçambicana de Seguros
Quantidade de acções cotadas na BVM 121.770.258 593.412 17.500.000 15.700.000
Valor de Cotação (MT) 2014
2015
113,60 575,00 120,00 20,00
135,00 675,00 120,00 20,00
Variação % 2014/2015 18,84% 17,39% 0,00% 0,00%
Variação na Capitalização Bolsista (milhões MT) 2.605,88 59,34 0,00 0,00 2.665,22
Fonte: BVM
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SEGUROS
EMOSE cresce 26% A Empresa Moçambicana de Seguros (EMOSE) registou, em 2015, um crescimento de 26% em comparação com o exercício económico de 2014, de acordo com António Carrasco, Presidente do Conselho de Administração (PCA) daquela instituição de seguros.
N
uma altura em que a situação macroeconómica do país continua aquém das expectativas, notícias dando conta de encerramento desta ou daquela empresa continuam a fazer manchete de vários órgãos de informação no país. Entretanto, algumas empresas moçambicanas têm aproveitado esta crise para buscar oportunidades de crescimento. Das várias empresas que continuam a crescer no meio de uma crise sem previsão do término, o destaque vai para a Empresa Moçambicana de Seguros. Tal como fez saber o Presidente do Conselho de Administração daquela instituição do ramo das seguradoras, no ano passado registou um crescimento dos Prémios Processados Líquidos de Resseguros de cerca de 8%, enquanto os Prémios Processados Brutos cresceram cerca de 29%. “Com base nestes dados, podemos concluir que a EMOSE cresceu cerca de 26% durante o exercício das suas actividades no ano passado, quando compararmos com 2014”, disse Carrasco, para de seguida referir que se trata de um indicativo satisfatório, tendo em conta a actual conjuntura financeira do país. Para além deste crescimento, a EMOSE foi distinguida pela quarta vez consecutiva com o prémio de Melhor Marca de Companhia de Seguros em Moçambique. “Estes prémios conquistados constituem prova inequívoca do nosso comprometimento em melhor servir os nossos clientes. Nós estamos em todo o país, distritos e nas principais zonas fron-
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António Carrasco, PCA da Empresa Moçambicana de Seguros
A EMOSE foi distinguida pela quarta vez consecutiva com o prémio de Melhor Marca de Companhia de Seguros em Moçambique.
Estes prémios conquistados constituem prova inequívoca do nosso comprometimento em melhor servir os nossos clientes
teiriças deste nosso belo Moçambique”, frisou Carrasco. Nesta entrevista exclusiva concedida à revista “Negócios”, António Carrasco falou também dos planos que a empresa tem para os próximos anos. “No próximo ano vamos complementar 40 anos da nossa existência no país. Para além de ser um momento de festa, tratar-se-á de um momento de aproximação aos nossos clientes. Queremos divulgar ainda mais as nossas actividades e promover cada vez mais os nossos serviços, dar a conhecer aos clientes os diversos serviços de seguros oferecidos pela EMOSE”, disse Carrasco. “Quando se fala de seguros, as pessoas pensam em seguros de viaturas, mas existe uma série de seguros a que os cidadãos podem e devem aderir, por exemplo os seguros de vida, de saúde,
de viagem, de bens, entre outros”, revelou o PCA. Para além destes seguros, a EMOSE conta ainda com o seguro de acidentes pessoais, em que a seguradora garante cobertura a quaisquer riscos por acidente, dentro e fora do trabalho, quer provoque a morte ou invalidez permanente, total ou parcial; o seguro de acidentes de trabalho, acidentes sofridos no trajecto normal do local de residência para o local de trabalho e vice-versa, independentemente de o acidente ser ou não consequência de particular perigo do percurso normal ou de outras circunstâncias que tenham agravado o risco desse percurso; e o seguro de transportes e mercadorias, que cobre todos os riscos de perda ou dano sofrido pelo objecto seguro em consequência de acidente com o meio transportador.
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MARCAS
Qual a importância de uma marca? A marca é o principal elo entre o negócio e o cliente, pois é através dela que ele identifica o negócio e o diferencia dos demais. Com o passar do tempo, a marca passa a ser o referencial da qualidade daquele produto ou serviço. Para isso, é importante registar a marca, única forma de protegêla legalmente contra prováveis copiadores.
A
principal vantagem para a empresa que possui uma marca forte é o atalho que isso cria na hora da venda. Entender a marca talvez seja a coisa mais importante que qualquer empresa possa fazer porque, se todos os funcionários conseguirem entendê-la, eles vão saber como se comportar, serão mais consistentes e constantes no que fazem, e haverá muito menos possibilidade de que sejam cometidos erros. As marcas são as “representantes legais” de uma corporação ou instituição no mercado. São a síntese de seus valores, atributos e acções, pois espelham todos os esforços de comunicação, em todos os âmbitos, e também a simbiose com o seu público. Estamos a testemunhar o aumento da importância das marcas corporativas como alavanca do crescimento das empresas sob a óptica de longo prazo. Uma marca forte não apenas endossa produtos ou serviços de uma companhia, mas também, e principalmente, “traduz” a essência, os valores e a cultura da organização. Se correctamente gerenciadas, as marcas têm o grande poder de influenciar o consumidor a optar por este ou outro serviço, desde que esta o lembre de experiências positivas sobre a organização. As marcas também podem tornar-se bens
intangíveis incrivelmente valiosos para as empresas se forem trabalhadas correctamente e vistas pelos seus gestores como um capital que agrega valor à empresa e aos seus produtos/serviços.
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ANÁLISE
O Sonâmbulo das dívidas
T
ive uma conversa com kokwane Kalitche (depois vou apresentar-vos esta ilustre figura na minha vida). A conversa foi sobre o espírito da crise que se vive em Moçambique. Ele colocou-me questões e deixou para que, através das respostas que fosse deduzindo, elaborasse as minhas conclusões. O que kokwane Kalitche pressente não falha. Ele questiona-me e assim abre caminho para que eu sozinho encontre as respostas, mas essas, as minhas, podem estar erradas. A propósito, na minha tradição, aos filhos, antes de se atribuir o nome para efeitos de registo oficial de nascimento, é dado o nome principal da família. Um nome (xará) de um antepassado. Eu, por exemplo, sou Kalitche, avó do meu pai, por isso o meu pai chama-me por kokwane Kalitche (meu avô, na língua chopi). Um amigo meu de Madzucane, além de Gabriel, chama-se Lhambui, nome do avô do pai dele; outro amigo também de Mandlakazi, além de Júlio, é Gonsalvane; outro de Chidenguele, além de Pedro, é Nhahondo, etc. São muito poucos machangana e machope que não têm o primeiro nome, por sinal o principal no seio da família, com excepção de algumas famílias que professam igrejas protestantes como Nazareno, por exemplo. É através deste nome que se dialoga com os antepassados. Alguém perguntaria como é feito o diálogo. Muito simples. Para uma criança recém-nascida parar de chorar muito nas noites, a atribuição do nome de um antepassado pode ser uma solução. Porém, esta é uma tradição ainda muito discutida, pois é confundida com superstição, e algumas famílias tendem a abandoná-la com a adesão à (nova) civilização. Voltando à minha conversa com kokwane Kalitche, ele interpelou-me para me obrigar a fazer uma reflexão sobre a natureza da notícia que ver-
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Jaime Langa jaime.langa@revistanegocios.co.mz
... seria possível o FMI conceder qualquer que seja o financiamento a algum cliente sem apurar a capacidade de endividamento (...). A resposta é claramente NÃO. Então, o FMI sabia da dívida desde a sua concessão! sa sobre a dívida de Moçambique e os impactos que a confusão gerada pela notícia pode trazer para a economia do país e, consequentemente, para o desempenho do actual Governo, assim como para os interessados pela situação e o resultado esperado. Vovó Kalitche negou abordar a questão da origem da dívida: se houve ou não corrupção, para onde foi o dinheiro. É que ele
Quem é que o povo vai responsabilizar por mau desempenho? Guebuza? De quem será a cabeça a quem o povo vai exigir soluções para sair da crise? Que solução à força o povo impõe? “Impeachment”? E, a seguir, qual será o sentido de voto do povo ainda com sequelas do sofrimento?
considera isso supérfluo para o alcance dos objectivos que os interessados almejam. A primeira questão que me vem à memória é se seria possível o FMI conceder qualquer que seja o financiamento a algum cliente sem apurar a capacidade de endividamento dele e, fundamentalmente, sem consultar, ou melhor, verificar na Agência Internacional de Classificação de Risco de Crédito e apurar se esse cliente tem ou não outras responsabilidades com outros bancos ou Estados, e em que condições esses financiamentos se encontram. A resposta é claramente NÃO. Então, o FMI sabia da dívida desde a sua concessão! Agora, se a dívida data desde os anos 2012 e seguintes e o FMI, os Estados doadores e outras fontes de financiamento de Moçambique sabiam, porque a notícia sobre existência desses créditos só tem valor agora? Porque se aplica tanto investimento na propagação da mesma? Com respostas a estas duas questões, a primeira conclusão a que chego é que o espírito da propagação da mensagem sobre dívidas ocultas não é a própria dívida, mas sim o impacto directo que o imbróglio vai criar para o país. Ora vejamos: sem financiamento dos bancos internacionais nem dos doadores, o que acontece com a nossa economia dependente? Esgotam-se as reservas do Banco de Moçambique por escassez do dólar no mercado; torna-se impossível realizar importações; haverá escassez de tudo; as empresas irão à falência; haverá muito desemprego; o Estado não terá dinheiro para cumprir com o seu contrato social e, no fim, o povo, infelizmente, vai revoltar-se. Quem é que o povo vai responsabilizar por mau desempenho? Guebuza? De quem será a cabeça a quem o povo vai exigir soluções para sair da crise? Que solução à força o povo impõe? “Im-
peachment”? E, a seguir, qual será o sentido de voto do povo ainda com sequelas do sofrimento? Confesso-vos que agora vou dormir para ver se o velho me aparece e traz uma mensagem de confiança e esperança. No mínimo garantir-me que use vias por ele julgadas convenientes na sociedade onde habita para transmitir ao Presidente Nyusi esta mensagem da necessidade de não se distrair do essencial. Nós, aqui em África, talvez por sermos pobres, aprendemos a desconfiar de tudo e de todos. Nos momentos de crise, nem todos os que chegam primeiro vêm para ajudar.
Aqui há gato escondido com rabo de fora. Será?
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INVESTIMENTO
PIB de Moçambique em queda A organização Britânica Economist Intelligence Unit (EIU) diz que o Produto Interno Bruto (PIB) moçambicano crescerá apenas 4,8% este ano, contra os 7% previstos pelo Executivo.
S
egundo a Economist Intelligence Unit, a redução do investimento bem como os impactos das condições climáticas na produção agrícola constituem alguns indicadores para tal situação. Recorde-se que o mais recente relatório do Standard Bank sobre a economia mundial indica que Moçambique poderá não atingir o nível de cobrança de receitas previsto no Orçamento Ge-
ral do Estado, que é de 176.4 biliões de meticais. De acordo com o relatório, o incumprimento da meta fiscal irá comprometer a execução da despesa orçamentada em 228.2 biliões de meticais, excluindo o reembolso de empréstimos, que resulta num défice de 51.8 biliões de meticais (em torno de um bilião de dólares), antes de donativos e empréstimos líquidos.
Projecções do PIB ao nível da CPLP ■ Moçambique: O crescimento do PIB vai reduzir para 4,8% este ano, um abrandamento jamais visto nos últimos 15 anos. Os esforços do Governo para apertar alavancas políticas devem moderar os riscos económicos a médio prazo. ■ Angola: O crescimento de Angola será em média de apenas 2,7 % ao ano até 2020. Recentemente, iniciaram as negociações com o FMI para se alavancar a economia
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daquele país de língua portuguesa. Enquanto isso, o ambiente de negócios vai continuar difícil e a dissuadir os investidores. ■ Brasil: O PIB do Brasil continuará a contrair em quase 4% novamente este ano. ■ Cabo Verde: A estabilidade política poderá prevalecer em Cabo Verde nos próximos dois anos, e espera um crescimento do PIB de 1,7% este
ano para 2,5% nos próximos dois anos. ■ Guiné-Bissau: A incerteza política bem como a falta de confiança por parte dos investidores sobre a economia guineense são indicadores para o fraco crescimento do PIB do país, estimado em 4 % nos próximos dois anos. ■ Guiné Equatorial: Mesmo sem
7% 4,8 % Projecções do PIB ao nível da SADC ■ África do Sul: Espera-se que o crescimento do PIB permaneça moderado em 2016, em 0,7%, retido por falta de energia e de água. Até 2020, a economia do país vai crescer na ordem de 2,2%. ■ Botswana: A previsão é que a conta corrente virá sob pressão e o déficit fiscal vai diminuir ao lado de uma base de receitas crescente.
PIB per capita em Moçambique (2013)
605,03 USD
dados estatísticos, o PIB daquele país vai continuar a contrair-se até 2020. ■ Portugal: Espera-se que o crescimento do PIB seja de 1% este ano e 1,7% por ano até 2020. ■ São Tomé e Príncipe: Em linha com a crescente ajuda e fluxos do Investimento Directo Estrangeiro (IDE), espera-se que o PIB acelere a 5% nos próximos dois anos.
■ RD Congo: O crescimento do PIB irá diminuir para menos de 5 % ao ano de 2016-2017. ■ Lesotho: O crescimento do PIB continuará a ser lento ao longo 2016-2017, apesar do apoio prestado pela construção da segunda fase do projecto LHWP II. ■ Madagáscar: Espera-se um crescimento do PIB à média de 2,7% em 2016-2017, constrangido por mau desempenho do sector agrícola. O crescimento das importações superior vai empurrar o déficit na conta corrente até uma média de 2 % do PIB em 2016-2017. ■ Malawi: O fraco apoio dos doadores, que suspenderam o apoio orçamental directo ao Governo após um grande escândalo de corrupção em 2013, continuará a pesar sobre o crescimento económico.
■ Maurícias: O crescimento do PIB das Maurícias vai acelerar ligeiramente para uma média de 3,8 % ao ano em 2016-2018. ■ Namíbia: O crescimento do PIB será a uma média de 5% de 2015 a 2020. ■ Seychelles: O crescimento do PIB deverá ser em média 3,8% em 2016-2017. ■ Suazilândia: A actividade económica será moderada em 2016-2017 devido ao impacto da seca, falta de competitividade no sector manufactureiro, assim como perda de acesso isento de direitos ao mercado dos EUA em Janeiro de 2015. ■ Tanzania: As perspectivas económicas a médio prazo permanecem fortes, com um crescimento acelerado impulsionado por uma indústria de serviços em crescimento e alto investimento privado. ■ Zimbabwe: A inflação média será de 5,1% por ano de 2016 a 2020, reflectindo as tendências dos preços das commodities e demandas salariais internas em curso. ■ Zâmbia: Incertezas relacionadas com as eleições, a escassez de energia persistente, os preços baixos do cobre, o fenómeno climático “El Niño” e a posição fiscal tensa do Governo vão pesar sobre o crescimento real do PIB em 2016.
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CONSTRUÇÃO CIVIL
Projectos não promovem crescimento inclusivo O volume de projectos em curso em Moçambique de 2015 a 2016, orçados em cerca de 2 biliões de dólares americanos, não tem promovido um crescimento inclusivo no país, assim o diz Agostinho Vuma, Presidente da Federação Moçambicana de Empreiteiros (FME).
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ara este paradoxo, Agostinho Vuma aponta várias razões, com destaque para o facto de o país financiador dos projectos condicionar a disponibilização de fundos à contratação de bens e serviços no seu país de origem. Vuma entende que a subcontratação de pequenas e médias empresas (PME) nacionais para fornecimento de bens e serviços seria uma forma de promoção do conteúdo local, promovendo capacidade financeira e técnica às PME e inclusividade do crescimento sectorial. “Em 2015, as importações registaram um valor de 7 090 milhões de dólares, contra 7 952 milhões do ano anterior, um decréscimo de 11%. Devido à relação positiva que existe entre o crescimento do sector da construção com as importações, a taxa de crescimento do sector caiu, saindo dos 36,5% de 2014 para 7,4% em 2015”, disse Agostinho Vuma, para de seguida acrescentar que “a perspectiva de crescimento do sector para 2016 é 7,9%. Considerando a política de redução das importações anunciadas pelo Banco de Moçambique e a relação positiva entre as importações e o crescimento do sector, pode-se perspectivar um desempenho pouco positivo da construção em 2016, podendo estar abaixo dos 7,9%”. Segundo Vuma, na análise da relação entre o crescimento do sector da construção e o défice da conta de construções na balança de pagamentos,
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Agostinho Vuma, Presidente da Federação Moçambicana de Empreiteiros
Nas contratações, o Governo não cumpre a regra da preferência doméstica.
nota-se que há uma relação positiva, o que revela que, à medida que o crescimento aumenta, o défice da conta de construção na balança de pagamentos aumenta. Esta situação significa que o crescimento da construção em Moçambique pressiona a saída de divisas, contribuindo para a depreciação cambial. Perante este facto, o Presidente da FME recomenda que as grandes obras incluam nos seus cadernos de encargos a componente do conteúdo local, baseado na subcontratação de empresas locais como forma de capacitá-las técnica e financeiramente, reduzindo assim a exportação de divisas. “Esta abordagem do conteúdo local pode ser controlada por uma equipa conjunta formada pela Federação Moçambicana de Empreiteiros e
pela entidade contratante. Esta seria uma forma de assegurar maior inclusividade do crescimento, enquanto não existe uma política de conteúdo local”, disse Vuma. Visivelmente agastado, Agostinho Vuma lamenta o facto de, 40 anos após a independência, não haver ainda uma política clara de protecção ao empresariado nacional. “Nas contratações, o Governo não cumpre a regra da preferência doméstica. Deste modo, a concorrência é mais que forte, é praticamente desleal, visto que, à partida, todos os grandes e pequenos concorrem até para a execução de obras pequenas e das mais simples, retirando as oportunidades de trabalho às pequenas empresas”, concluiu Vuma.
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RogĂŠrio Samo Gudo, PCA da MCNet
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TEMA DE FUNDO
JUE favorece ambiente de negócios no país O Presidente do Conselho de Administração da MCNet, Rogério Samo Gudo, defende que a Janela Única Electrónica (JUE) é uma plataforma fundamental na consolidação do ambiente de negócios no país. Nesta entrevista exclusiva concedida à revista “Negócios”, Samo Gudo faz uma radiografia exaustiva dos últimos cinco anos da implementação da JUE: a questão das infra-estruturas, formação do pessoal, as tecnologias, desafios e perspectivas, ou seja, tudo o que contribui para que os operadores do comércio internacional encontrem o sistema disponível em 100%. Acompanhe!
O sistema moderno para a facilitação do comércio internacional, a Janela Única Electrónica (JUE), completa, em Dezembro próximo, cinco anos após o seu lançamento oficial em 9 de Dezembro de 2011. Qual é o balanço que faz da sua implementação? Este é um ano comemorativo para nós. Foi no dia 9 de Dezembro de 2011 que o então Primeiro-ministro veio proceder à abertura da Janela Única Electrónica. Posso fazer uma análise em duas formas, uma sob ponto de vista da implementação do próprio projecto cinco anos depois. A outra é o projecto em si dentro da conjuntura actual caracterizada pela recessão económica e os desafios que estamos a ter decorrentes desse ambiente. Para
além da recessão económica, temos situações relacionadas com a seca e inundações nalgumas regiões do país, o impacto da instabilidade política na economia do país e na Janela Única Electrónica. Mas, concretamente, como é que olha para a Janela Única Electrónica actualmente? Devo dizer que foram vários os desafios ultrapassados em diferentes etapas da implementação do projecto, e há um grande mérito em relação a instituições que interagem connosco, como o nosso cliente que são as Alfândegas, pelo facto de logo no primeiro dia ter comprado a ideia de se poder fazer despacho de mercadorias dentro da instituição e, por aí, trazer um impacto positivo
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(...) nós transformámos a forma de trabalhar das nossas Alfândegas (...) o que significa que todos os processos deveriam ser transformados de papel para sistema electrónico
dentro da cadeia do comércio externo para Moçambique. Estamos a falar de exportação e importação de mercadorias, mesmo aquelas que estão em trânsito. Como foi transformar as Alfândegas numa instituição sem papel? A nível de infra-estruturas, houve uma enorme mudança, ou seja, nós transformámos a forma de trabalhar das nossas Alfândegas e viemos com uma filosofia muito simples, mas muito focada, que é de Alfandegas sem papel, o que significa que todos os processos deveriam ser transformados de papel para sistema electrónico, com todos os ganhos da transformação do processo manual para o digital. Tratando-se de um processo novo, que medidas foram ou estão sendo tomadas com vista a assegurar a transparência na implementação da JUE? A transparência é um dos ganhos principais, assim como a confiança que nós devolvemos às nossas instituições, sobretudo do sector privado para o Estado, isto porque não podemos olhar para a Janela Única de forma isolada. Ela é integrada, porque não só serve para a importação de mercadorias mas também por se tratar de uma instituição que colecta o imposto, que pela sua forma de estar como instituição pública se requer que seja exemplar.
Sabemos que todos aqueles que mexem com as finanças têm de ser exemplares, têm de parecer e serem sérios aos olhos de todas as pessoas. A transparência também é um dos factores importantes dentro do que foram os ganhos da Janela Única Electrónica.
FORMAÇÃO É FUNDAMENTAL A formação continua a ser um dos grandes desafios em várias instituições do país. Como é que a MCNet ultrapassou este desafio? Obviamente que é importante que as pessoas estejam preparadas para novas formas de trabalhar. Nos sistemas digitais, o processo é feito pelo computador, pelo que é preciso transformar
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as pessoas através da formação para esta nova forma de trabalhar. A formação dos nossos funcionários e não só, mas também de toda a cadeia ou de todas as instituições que utilizam a Janela Única Electrónica, trouxe uma grande valia não só para o próprio processo da JUE mas também para as próprias instituições.
o “stock” que levava 72 horas nos armazéns das Alfândegas agora leva apenas algumas horas, o que significa que há mais disponibilidade de “stock” da parte do operador.
Pode citar alguns ganhos? Uma pequenina empresa que fazia despacho manualmente tinha de ter três ou quatro pessoas que iam ao terreno atrás do expediente, mas hoje essas pessoas, treinadas, já não precisam ir ao campo porque o processo é feito pelo computador dentro da instituição, o que significa que podem atender muito mais clientes. Aliás, o tempo de desembaraço também redu-
ziu muito, estamos a falar de alguns casos de 72 horas ou mesmo para 7 ou 8 horas. Levam 24 horas aqueles processos que eventualmente estejam ligados a processos de autorização de pagamento que foi transferido de um outro banco até estar disponível na conta do despachante, para ele poder fazer o pagamento do despacho. De uma forma global, a formação permitiu uma grande transformação dentro das Alfândegas.
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Nas visitas presidenciais, nós conseguimos dar essa informação em tempo útil, aliás, a informação é online
JUE E A DISPONIBILIDADE DE INFORMAÇÃO Até que ponto a Janela Única Electrónica tem contribuído para a disponibilidade e fácil acesso à informação crucial sobre as transacções comerciais realizadas pelo país? Um dos ganhos da Janela Única Electrónica foi conseguir ter informação sobre o volume de pagamentos entre Moçambique e os países com que interage. Nas visitas presidenciais, nós conseguimos dar essa informação em tempo útil, aliás, a informação é online. Qual é o nível de cobertura da Janela Única Electrónica em Moçambique? Neste momento estamos com cinco postos aduaneiros. Naturalmente que não entra mercadoria neles todos os dias e estes postos permitem uma cobertura total do país. Estamos a falar em termos de presença física, mas também estamos presentes em termos de equipamento que permite que o sistema nesses cantos todos esteja disponível online. Estamos, sim, em todo o país mas, conforme disse, com todos os desafios, sabido que nem temos energia eléctrica em todos os cantos do país, sendo que por vezes temos de recorrer ao uso de geradores, com o custo de combustível que nós conhecemos. Eng.o Samo Gudo, como avalia o ambiente de negócios em Moçambique com a implementação da JUE? O “doing busineses”, que é uma ferramenta do Banco Mundial que é usada para medir o ambiente de negócios nos países, é um instrumento que o sector privado também usa para avaliar o nível das reformas que o Estado tem estado a implementar para facilitar o próprio ambiente de negócios e atrair mais investimento para as empresas poderem atrair mais negócios e de28
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senvolver-se. Obviamente que os resultados têm estado a trazer impactos positivos, as transacções são cada vez mais facilitadas, as mercadorias passaram das mãos do Estado para as mãos dos próprios operadores, ou seja, o “stock” que levava 72 horas nos armazéns das Alfândegas agora leva apenas algumas horas, o que significa que há mais disponibilidade de “stock” da parte do operador. Ele faz mais lucro do que fazia antes e é mais previsível a planificação agora do que antes. Em 2014, a MCNet revelou que a plataforma já contava com mais de 2660 utilizadores com diversos perfis. Com quantos utilizadores o sistema conta hoje? No início deste ano nós completámos um milhão de declarações no sistema, o que constitui um grande marco, pese embora ainda existam algumas dificuldades, por exemplo, relacionadas com o processo de licenciamento de mercadoria como os produtos de saúde pelo Ministério da Saúde e os produtos agrícolas pelo Ministério da Agricultura, ou seja, estas instituições devem estar interligadas no processo da Janela Única Electrónica, um desafio que esperamos ultrapassar nos próximos tempos. Muitos operadores concordam que a JUE foi criada para facilitar a importação e exportação de mercadorias. Porém, muitos empresários dizem que o sistema trouxe mais problemas do que soluções. Cinco anos depois, que avaliação pode ser feita? Quando iniciámos o processo da Janela Única Electrónica, sabíamos que teríamos alguma resistência; sabíamos que não seria fácil, mas havia certeza de que o projecto traria enormes be-
TEMA DE FUNDO Houve um relatório publicado pelo próprio Estado que apontava que os dois sectores mais corruptos eram as Alfândegas e a Polícia, e que era preciso fazer algo muito rapidamente para mudar essa opinião.
nefícios para os empresários, e colocámos uma série de medidas, uma das quais foi a formação e o acompanhamento dos empresários. Os primeiros que foram entrando no sistema viram que realmente não era algo difícil ou impossível de nele se alinhar, na medida em que eles iam entrando e sentiam que tinham muito mais ganhos usando a Janela Única do que não usando o sistema. Se agora lhes perguntar o que seria deles sem a Janela Única, certamente que dirão que é importante. É impossível trabalhar sem a Janela Única neste momento. É irreversível.
Se agora lhes perguntar o que seria deles sem a Janela Única, certamente que dirão que é importante. É impossível trabalhar sem a Janela Única neste momento. É irreversível.
No início da implementação do sistema, a maioria dos importadores e exportadores dizia que os funcionários aduaneiros não estavam suficientemente treinados e apontava casos de corrupção como o maior constrangimento do sistema. Hoje, volvidos cinco anos, qual é o ponto de situação em relação à formação? E o que é que está a ser feito para minimizar ou combater casos de corrupção? Houve um relatório publicado pelo próprio Estado que apontava que os dois sectores mais corruptos eram as Alfândegas e a Polícia, e que era preciso fazer algo muito rapidamente para mudar essa opinião. O Estado fez muito bem em termos de opção pelas Alfândegas, que hoje devolveram uma certa confiança ao sector privado, um ganho importantíssimo. Ao longo do ano teremos várias actividades com os nossos parceiros e no dia 9 de Dezembro deste ano vamos sentar com eles e juntos fazer balanço.
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NEGÓCIOS PME´S
PME contribuem com 28% para o PIB As Pequenas e Médias Empresas (PME) contribuem com 28% para o Produto Interno Bruto (PIB) em Moçambique, ou seja, um volume de negócios avaliado em 4,3 milhões de dólares norte-americanos.
O
ambiente de negócios para as PME moçambicanas está a registar melhorias significativas nos últimos anos, apesar de ainda existirem alguns desafios por ultrapassar. De acordo com o Director-geral do Instituto para a Promoção de Pequenas e Médias Empresas (IPEME), Claire Zimba, as PME representam cerca de 98,7% do total das 26.624 empresas registadas em Moçambique, empregando 42%, ou seja, 121.036 da força de trabalho formal total do país. Concretamente, o segmento das PME é maioritariamente constituído por microempresas, as quais, segundo Zimba, correspondem a 78,3%, enquanto as pequenas representam 19,4% e as médias empresas 1%. “As PME moçambicanas actuam em todos os sectores de actividade, nomeadamente primário, como agricultura, indústria extractiva e pesca; secundário, construção civil e obras públicas; e terciário, como saúde, educação, banca e seguros”, disse Zimba, para de seguida acrescentar que é a nível do comércio que as PME mais se destacam, com 55%, hotelaria (21%), manufactura (10%), agricultura (3%), construção civil (0,8%), transporte e comunicações 1,4%”. Em termos de volume de negócio, as pequenas empresas alcançaram o maior valor, mais de 68 mil milhões de meticais, cerca de 13 milhões de meticais por empresa. Para Zimba, o actual padrão de crescimento
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Percentagem de empresas por tamanho Médias
Grandes
1%
1,3 %
Pequenas 19,4 %
Micro
78,3 % Fonte:INE 2013
Categoria
Creitério 1: Número de trabalhadores
Critério 2: Volume de negócios
Micro
<4
<1.200.000
Pequena
5 a 49
1.200.000 a 14.700.000
Média
50 a 100
14.700.000 a 29.970.000
Grande
>100
>29.970.000
económico, embora significativo e consistente, ainda não é suficiente e inclusivo para o fortalecimento do sector das PME, aliado ao facto de continuarem a registar-se elevados índices de pobreza, cerca de 56.9%, especialmente nas zo-
Claire Zimba, Director-geral do Instituto para a Promoção de Pequenas e Médias Empresas
nas rurais, onde 70% da população moçambicana reside. Dada a conjuntura económica actual, o sector primário, o de comércio e serviços são identificados como tendo potencial para geração de emprego, enquanto os sectores agrícola e pesqueiro contribuem para a redução dos níveis de pobreza e indução do crescimento económico. Já a médio prazo, o maior impacto previsível encontra-se no sector da indústria extractiva, através da sua contribuição para as receitas fiscais. Neste sentido, os esforços devem incidir sobre os sectores com maior tendência de contribuição para o PIB, nomeadamente agricultura, indústria mineira, indústria extractiva, serviços e comércio. Entretanto, e segundo Zimba, o Governo tem vindo alocar fundos a vários segmentos empresariais com vista a consolidar o ambiente de negócios no país. Trata-se de fundos públicos de fomento e desenvolvimento, como o Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD), Fundo de Turismo (FUTUR), Fundo de Desenvolvimento Agrário (FDA), Fundo
Número de empresas (%) por sector de actividade (CAE) Outros 7%
Serviços 4%
Agricultura, produção animal, caça, floresta, pesca 3%
Indústria transformadora 10%
Comércio, reparação de automóveis e motos 55%
Alojamento, restauração 21%
Fonte: INE 2013
de Apoio à Iniciativa Juvenil (FAIJ), Programa Estratégico de Redução da Pobreza Urbana (PERPU), Fundo Empresarial de Cooperação Portuguesa (FECOP) e Linha de Garantia do Caju.
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ANÁLISE
Desempenho das Janelas de Operações
D
e Janeiro a Março de 2016, as Janelas de Operações, tanto da Facilidade Permanente de Cedência (FPC) como da Facilidade Permanente de Depósito (FPD), tiveram um desempenho em linha com o curso da política monetária, que foi marcadamente restritivo. Nesse sentido, o Banco de Moçambique absorveu 7 224,83 milhões de meticais através da Janela de Operações FPC e FPD no primeiro trimestre do corrente ano. Em comparação com o trimestre anterior, o quarto de 2015, isso representa uma inversão total, dado que naquele trimestre tinha havido uma injecção líquida de 114 361,37 milhões de meticais. Este nível de injecção poderá ter contribuído para que a inflação naquele período atingisse os dois dígitos, fora da meta do Banco de Moçambique. Conjugando o desempenho da Janela de Operações FPC e FPD com a janela de Reservas Obrigatórias, através da qual o Banco de Moçambique conseguiu absorver aproximadamente 84 350,72 milhões de meticais, o valor líquido injectado no último trimestre de 2015 seria de 30 010,37 milhões de meticais. Para o primeiro trimestre de 2016, na conjugação dos desempenhos da dinâmica de liquidez na FPC e FPD em comparação com a Reservas Obrigatórias, o resultado será, certamente, uma absorção da liquidez muito maior à injecção líquida de 30 010,37 milhões de meticais efectuada no quarto trimestre de 2015. Portanto, significa que o Banco de Moçambique, em linha com a sua política monetária restritiva, está cada vez mais agressivo na absorção da liquidez do sistema. Como resultado, as taxas de juro dos principais instrumentos do mercado estão a aumentar, sinalizando escassez dessa li-
Eduardo Sengo eduardsengo@yahoo.com.br
Figura 1: Resumo do desempenho da Janela de Operações FPC e FPD no I trimestre 2016 Injecções Líquidas Através das Janelas de Operações
Fonte: Adaptação de dados publicados pelo Banco de Moçambique nas várias edições do jornal “Notícias” e em http:// bancomoc.mz/fm_pgLink.aspx?id=15, com acesso a 17/4/16
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ANÁLISE
Figura 2: Desempenho da Permuta de Liquidez entre os bancos comerciais no primeiro trimestre de 2016
Figura 3: Desempenho da Prime Lending Rate (PLR) no primeiro trimestre de 2016
Fonte: Adaptação de dados publicados pelo Banco de Moçambique nas várias edições do jornal �Notícias�
Fonte: Adaptação de dados publicados pelo Banco de Moçambique em http://bancomoc.mz/fm_pgLink.aspx?id=15, com acesso a 17/4/16
quidez. O grande exemplo é o desempenho da Permuta de Liquidez entre os bancos comerciais no Mercado Monetário Interbancário (MMI), conforme a figura abaixo. A figura 2 mostra a tendência da subida da taxa de juro overnight aplicada na permuta de liquidez sem garantia entre os bancos comerciais intervenientes no MMI. Em média, a taxa de juro overnight situava-se em 4,01% no quarto trimestre de 2015, tendo atingido 7,09% no primeiro trimestre de 2016, uma subida em 3,08 pontos percentuais. Apesar da subida desta taxa de juro overnight no MMI, a Permuta de Liquidez aumentou dos 2 565,19 milhões de meticais no quarto trimestre de 2015 para 2 807,25 milhões de meticais no primeiro trimestre de 2016. Entretanto, a tendência da parte final do trimestre tem sido de queda dos valores da Permuta de Liquidez no MMI. A subida da taxa de juro verificada no MMI está a afectar a taxa de juro aplicada pelos bancos comerciais na concessão de empréstimos. Em média, conforme a figura 3, a Prime Lending Rate (PLR), que constitui a taxa base para a concessão de empréstimos, subiu dos 14,78% registados em Dezembro de 2015 para 16,57% em Fevereiro de 2016. É sobre esta taxa que os
bancos comerciais adicionam uma spread para conceder um empréstimo a um particular. Portanto, é uma taxa considerada livre de risco.
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DESEMPENHO DA TAXA DE CÂMBIO A taxa de câmbio metical por dólar americano, depois de ter experimentado uma recuperação no final do quarto trimestre de 2015, voltou a depreciar-se a partir de finais do mês de Janeiro. Esta depreciação cambial acontece numa altura em que as Reservas Internacionais Líquidas (RILs) continuam a reduzir, tendo atingido valores abaixo de 1,9 bilião de dólares em Fevereiro último. A corrosão das RILs é justificada, em grande parte, pelas vendas de divisas pelo Banco de Moçambique para atender à questão do serviço da dívida e comparticipação na importação de combustíveis, bem como pelas perdas cambiais. De referir que, em 2015, o Banco de Moçambique registou corrosão das RILs em 169,7 milhões de dólares só em perdas cambiais. Em 2016, as perdas cambiais totalizaram 26 milhões de dólares no período de Janeiro a Fevereiro. Olhando para o nível de desembolsos este ano, que totalizaram 80 milhões de dólares, pode-se inferir
Figura 4: Desempenho da taxa de câmbio metical/USD no quarto trimestre de 2015
Fonte: Adaptação de dados publicados pelo Banco de Moçambique em http://bancomoc.mz/fm_pgLink.aspx?id=15, com acesso a 17/4/16
Esta depreciação cambial acontece numa altura em que as Reservas Internacionais Líquidas (RILs) continuam a reduzir, tendo atingido valores abaixo de 1,9 bilião de dólares em Fevereiro último. A corrosão das RILs é justificada, em grande parte, pelas vendas de divisas pelo Banco de Moçambique para atender à questão do serviço da dívida e comparticipação na importação de combustíveis, bem como pelas perdas cambiais.
Figura 5: Desempenho das RILs e intervenções do BM no MCI no primeiro trimestre de 2016
Fonte: Adaptação de dados publicados pelo Banco de Moçambique em http://bancomoc.mz/fm_pgLink.aspx?id=15, com acesso a 17/4/16
que a fraqueza da reconstituição das RILs continua do lado das exportações. CONSIDERAÇÕES FINAIS O mercado monetário dá sinais de ressentir-se do pacote de medidas do Banco de Moçambique que incidiram na absorção da liquidez do mercado. O objectivo destas medidas é estabilizar o metical e controlar a inflação. Entretanto, o que se tem notado é que, no mercado cambial, o metical continua a depreciar-se, num contexto em que as RILs estão em queda livre. A absorção da liquidez do sistema não está a conduzir para provocar um excesso temporário ou imaginário da moeda externa no mercado e, por isso, provocar o fortalecimento da moeda doméstica. O grande problema é que estas medidas não foram acompanhadas por entradas adicionais de moeda externa, dando sinal de que as exportações continuam com desempenho enfraquecido. Se a situação prevalecer e o Banco de Moçambique optar pelo reforço das medidas de política monetária restritiva, o mais provável será a contínua subida da taxa de juro, com destaque para PLR, com efeitos perniciosos para a competitividade da produção interna, devido à subida do custo do capital.
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ANÁLISE
Luta contra a pobreza: entreter-se com o acessório, esquecer o fundamental
U
ma filósofa lá da minha aldeia, em Madzukane, a Mahupai Mandlate, costumava cantar durante a minha infância quando se sentisse inspirada por uns copinhos a mais: “Serás sempre pobre, se és pobre; a fortuna apenas é concedida aos ricos”. Sem concordar com esta perspectiva fatalista da história e das sociedades, difundida por aquela pensadora, todavia confesso que, de tanto ouvir aquela minha mentora, este tipo de questões sempre me interessou. E acreditei sempre que este é um desafio que pode ser vencido. Esperança vã? Não o creio. Moçambique e, quiçá, toda a África, mantêm, já há várias décadas, esta esperança de acabar com a pobreza. Esta expectativa de que, com muito trabalho, com muita persistência, poder-se-á, num futuro próximo, acabar com aquele flagelo é o que, provavelmente, mantém a viabilidade das nações. Talvez seja importante, a este respeito, prestar atenção ao que Jean-Paul Sartre, outro filósofo, mas desta vez francês, teria dito um dia: “A pobreza e a esperança são mãe e filha. Ao se entreter com a filha, esquece-se da mãe”. Não estaremos nós, em Moçambique e em África, a prestar mais atenção à filha que à mãe? Isto equivale a perguntar: será a pobreza apenas um fenómeno transitório, representando assim uma reduzida capacidade de produzir bens e serviços? Ou ela é, sobretudo, um fenómeno estrutural enformado por um modelo específico de produção e de troca? Quando se fala de luta contra a pobreza haverá que responder àquelas perguntas. Na verdade, as estratégias nacionais e internacionais para a eliminação ou redução da pobreza são uma
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Gabriel S. Muthisse gabriel.muthisse91@gmail.com
resposta implícita ao que se acredita serem os seus pressupostos. Se se pensar a pobreza como uma simples fase transitória do desenvolvimento, promovem-se políticas, planos de fomento, de incremento dos serviços sociais e de estímulo à produção e ao consumo. E espera-se que essas medidas lidem adequadamente com a pobreza. Não há dúvida que, em muitos casos, este tipo de medidas logra aliviar as manifestações mais degradantes da penúria humana, como o acesso à educação, acesso à água, acesso a serviços de saúde, posse de bens duráveis e outros. Mas não logra lidar com a percepção de atraso global de muitas nações em relação a outras. Vale, pois, dizer que a pobreza, num país como Moçambique, não pode ser vista apenas numa perspectiva fechada, como algo endógeno, que
Perante um persistente cenário de pobreza ao longo de décadas, as agências multilaterais, com destaque para o Banco Mundial, têm estado, de modo sistemático, a ajustar/alterar o seu receituário para acabar com a pobreza possa ser eliminado com base somente em medidas internas. Ela documenta uma relação de dependência entre países centrais e periféricos. Neste sentido, lutar contra a pobreza é, também, lutar por mudanças no paradigma de produção e de trocas a nível internacional. Ou, no mínimo, lutar por um posicionamento diferente de Moçambique na divisão internacional de produção e comércio. Perante um persistente cenário de pobreza ao longo de décadas, as agências multilaterais, com destaque para o Banco Mundial, têm estado, de modo sistemático, a ajustar/alterar o seu receituário para acabar com a pobreza. Em vários dos seus relatórios, o Banco Mundial assumiu não ter atingido as suas metas de redução da pobreza. Nos princípios do presente milénio, aquela instituição produziu a seguinte análise: “[...] nos anos 1950 e 1960, muitos consideravam os grandes investimentos em capital físico e infra-estrutura como a principal via de desenvolvimento. Nos anos 1970, aumentou a conscientização de que o capital físico não era suficiente: a saúde e a educação tinham pelo menos a mesma importância... Nos anos 1980, após a crise da dívida, recessão global e experiências contrastantes [...] a ênfase passou a ser atribuída à melhoria da gestão económica e liberação da força do mercado. Nos anos de 1990, o governo e as instituições passaram a ocupar o centro do debate, ao lado das questões de vulnerabilidade no âmbito local e nacional”. A estratégia do Banco Mundial de redução da pobreza (extrema), anteriormente baseada na oferta de trabalho e de assistência social, é modificada na década de 2000. Nesta fase de evolução das suas prescrições, o Banco Mundial defende que se trata de “[...] promover oportunidades, facilitar a autonomia e aumentar a segurança dos pobres” Parafraseando Eduardo Galeano, escritor e jornalista uruguaio, “a pobreza antes era considerada obra de injustiça. O mundo moderno considera a
pobreza incapacidade”. O Banco Mundial, do alto da sua infalibilidade, vai precisamente nesta última linha. Os seus consultores afirmam, peremptoriamente, com o dedo indicador pomposamente na fronte, que os maiores responsáveis pelo malogro das suas iniciativas de combate à pobreza seriam os Estados nacionais. Os governantes dos países pobres seriam elitistas, ineficientes, corruptos, frágeis, incapacitados, conforme se depreende do seguinte trecho: “Outra causa de vulnerabilidade é a incapacidade do Estado ou da comunidade em desenvolver mecanismos de redução ou alívio dos riscos que os pobres enfrentam”. Prossegue aquela instituição multilateral defendendo que “em muitos casos, os governos são mais sensíveis aos interesses da elite do que às necessidades de segmentos pobres”. Nenhum inimigo é pior do que um conselho inadequado. Ou, como se diz na minha aldeia, o conselho que damos com o ar mais convencido é aquele que não envolve a nossa própria responsabilidade com os resultados. Talvez derive daí o surgimento de uma nova estratégia do Banco Mundial, segundo a qual o Estado já não seria o agente fundamental na protecção das populações pobres. As próprias comunidades vulneráveis seriam as encarregues de mobilizar os seus recursos para alterar a sua situação de vulnerabilidade. Esta não será, com certeza, a última vez que aquela instituição multilateral nos brinda com novos, voláteis e muito sábios conselhos para acabar com a pobreza... Os sucessivos fracassos da estratégia do Banco Mundial no seu afã de aliviar a pobreza radicam, na verdade, na recusa em admitir que a pobreza não pode ser lida como um fenómeno isolado, distante do sistema/modelo de produção e troca. A pobreza não é, como se insiste em projectar, um mero resquício de sociedades pré-capitalistas atrasadas. Nem sequer é uma simples questão de desenvolvimento insuficiente. Ela é um produto inerente ao actual sistema mundial de produção.
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ESTILO DE VIDA
Utilização regular das redes sociais pode indiciar depressão Segundo um estudo realizado pela Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos da América, o uso recorrente das redes sociais é um sinal de depressão ou risco de desenvolver esta patologia do foro mental.
I
nvestigadores da Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh fizeram um estudo em 1787 jovens – com idades entre os 19 e os 32 anos – e concluíram que nos casos de utilização recorrente das redes sociais os riscos de depressão são superiores, em comparação com as pessoas que usam as redes com pouca frequência. Por outro lado, dedicar muito tempo ao Facebook ou Twitter poderá agravar a doença nas pessoas já diagnosticadas com o problema. Para além do Facebook e Twitter, os investigadores avaliaram outras plataformas como o YouTube, Linkedin, Instagram, Google Plus, Snapchat, Reddit, Tumblr, Pinterest e Vine. Os investigadores concluíram que, em média, os jovens dedicam 61 minutos por dia a uma ou mais redes sociais. Todas as semanas acedem às suas contas, em média, 30 vezes.
Um em cada quatro participantes no estudo mostrou risco elevado de desenvolver depressão, sendo que, quanto maior o risco, maior é a procura daqueles espaços virtuais. O estudo norte-americano teve em consideração a idade, dentro daqueles intervalos, mas também o género, a etnia, o nível financeiro, formação académica, entre outros factores relevantes. “É possível que as pessoas que já estão deprimidas utilizem as redes sociais na tentativa de preencher um vazio”, salienta Lui Yi Lin, co-autor do estudo e investigador daquela universidade. Por: Nuno Noronha –Lifestyle.sapo.co.mz
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AMBIENTE DE NEGOCIOS
Sector empresarial acusa falta de liquidez no mercado A falta de liquidez no mercado começa a preocupar o sector empresarial em Moçambique. De acordo com Anastácio Langa, Director-geral da Clean África, caso a situação prevaleça poderá comprometer o funcionamento normal das instituições no país.
S
egundo Anastácio Langa, a falta de liquidez no mercado faz com que as empresas falhem com os seus compromissos comer-
ciais. “Do nosso lado temos dívidas com fornecedores. Não conseguimos honrar com os compromissos comerciais, isto porque os nossos clientes, nomeadamente o Estado e algumas empresas do sector privado não nos pagam a tempo e a hora”, desabafou Langa, para de seguida lembrar que “nos anos passados só um simples e-mail bastava para os fornecedores mandarem os produtos, mas hoje a situação é diferente devido à nossa situação financeira”. Mas, quais são produtos que a Clean África importa e porque não os adquire internamente? Esta é uma pergunta que fizemos ao Director-geral desta empresa de limpeza, à qual respondeu nos seguintes termos: “Importamos a nossa matéria-prima da vizinha África do Sul e de alguns países da Europa, nomeadamente os detergentes usados nas limpezas, lavandaria e demais acessórios. Concretamente, a qualidade é que nos faz recorrer ao exterior. Os produtos
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que usamos na nossa empresa são de alta qualidade, dada a exigência dos nossos clientes”, revelou Langa. Entretanto, a Clean África pretende reduzir os custos de importação da matéria-prima e, para tal, desenhou um projecto de construção de uma fábrica na cidade da Matola, província de Maputo. “Temos um projecto esboçado e estamos numa fase de construção da nossa fábrica para a produção dos consumíveis que usamos nas nossas actividades”, revelou Langa, mas sublinhado que “não iremos produzir todos os detergentes, alguns teremos de continuar a trazer de fora, principalmente os detergentes usados nas nossas lavandarias”. Refira-se que a Clean África existe no mercado há mais de 12 anos e conta com vários prémios e com reconhecimento de instituições nacionais e estrangeiras pela qualidade e eficiência na prestação das suas actividades. Neste momento está presente em todo o país, prestando serviços de lavandaria, jardinagem, limpeza, fumigação e recolha de resíduos sólidos.
O Estado e algumas empresas do sector privado não nos pagam a tempo e a hora
Anastácio Langa, Director-geral da Clean África
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ANÁLISE
Conversa de balneáreo
U
m dia, depois do treino de basquetebol que faço todas as segundas-feiras, entrei numa conversa no balneário sobre a impugnação da Presidente brasileira. O que leva alguém a cometer a loucura de querer assumir um país com grandes problemas económicos? Boa pergunta. A resposta mais fácil é dizer que essa pessoa tem já uma solução. Na verdade, esta é a resposta que praticamente toda a gente daria. É preciso acreditar que podemos fazer melhor para assumirmos riscos. E não só. Muita gente que actua na política e na economia (negócios) parece ter um gene que distribui uma dopamina qualquer pelo corpo com a função de informar que pode tudo, pois, como diz o velho ditado, “quem não arrisca não petisca”. Há muito manual prático por aí – tipo “como ter sucesso nos negócios” – que não faz outra coisa senão difundir este tipo de mensagem. E é consumido religiosamente pelo pessoal que habita o mundo dos negócios (e da política). Não é loucura, mas pode ser ingenuidade. Tem a ver com um aspecto da condição humana ao qual prestamos pouca atenção. A tendência natural de qualquer um de nós é de exagerar o próprio mérito. Se eu sou PCA, ministro, director, professor, bom estudante, pastor ou padre, enfim, qualquer coisa com um certo estatuto – ou que seja bem vista – é muito difícil resistir à tentação de pensar que sou isso porque sou uma pessoa com qualidades excepcionais. Cheguei aonde cheguei, costuma ser a cantiga, porque trabalhei no duro. A divisa aqui não é só “quem não arrisca não petisca”. É também “quem não trabuca não manduca”. Pior ainda: esta atitude tem o seu lado inverso. Todos os outros que não estão onde nós estamos, ou não são aquilo que nós somos, não merecem. São preguiçosos, não se aplicam, desanimam logo, fazem tudo complicado, enfim, não são como nós. Repito: não é loucura. Mas pode ser ingenuidade.
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Elisio Macamo
É ingénuo – e esta é a forma mais simpática de colocar o problema – porque não tem consciência do grande trabalho de repressão que acontece na mente para a pessoa se entregar de corpo e alma a essa tendência natural de exagerar o próprio mérito. Há um bichinho qualquer que vai carcomendo todas aquelas circunstâncias fortuitas que foram alisando o nosso caminho. Você formou-se numa altura em que havia poucos quadros, teve subida vertiginosa; você consegue falar com facilidade com sotaque brasileiro, apareceu aí a IURD, virou pastor e agora tem uma grande congregação a sacar bons dízimos. Você fez o seu bacharelato em Direito um pouco antes de a folia revolucionária fechar a Faculdade de Direito, foi subindo nos ministérios como jurista, e por isso também com acesso privilegiado a bolsas, foi acrescentando formações, liberalizou-se a economia e as empresas privadas precisavam de jurista e lá foi subindo. Você conhece gente que conhece gente que conhece gente. Você vem duma região que precisa
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NEG
Facto
É bem provável que o sucesso económico de Lula da Silva no Brasil tenha muito pouco a ver com ele; pela mesma medida, é mais do que certo que o insucesso de Dilma Rousseff também tem pouco a ver com ela.
insucesso de Dilma Rousseff também tem pouco de ser promovida agora. E por aí fora. Mérito? Sem a ver com ela. Para realmente conhecermos os dúvida! Só mérito? (tosse). seus méritos e deméritos relativos, tínhamos de A questão é a seguinte: o mundo não é justo. saber um pouco mais sobre a estrutura do acaso. É como aquela roleta lá no casino. Se não estiver Logo, a não ser que os promotores da impugnaviciada a seu favor, aquilo que você ganha lá é ção tenham estudado este assunto, eles não só mero produto do acaso. E, claro, é mais provável são loucos como também suicidas. Tudo indica que a roleta esteja viciada a seu favor do que o que são essas duas coisas. mundo. Mas se o mundo estiver viciado a seu faE para que a coisa não fique muito brasileira. vor – acontece –, então você tem menos mérito É o mesmo problema entre nós em Moçambique. ainda. Há quem, naturalmente, pense que o munA democracia tem esta coisa de fazer da procura do esteja viciado a favor dos que trabalham duro. de bodes expiatórios o instrumento privilegiado Só que aí voltamos à estaca zero. Portanto, sem de abordagem de crises. É inevitável. Em todo o querer diminuir o mérito, o empenho e dedicação, momento de crise vão aparecer pessoas que vão o brio profissional e a inteligência de seja quem O Prémio Nobel da Paz vai registar este ano um número recorde de 376 candidatos, que supera o sempre gritar “não disse, não disse?”, porque são for, é importante ter em mente que o sucesso em anterior registo de 278 aspirantes ao prestigiado galardão verificado em 2014, informou o Comité Nobel reféns desta crença nefasta na natureza justa do qualquer empreendimento é refém do acaso. E norueguês, que refere ainda que, do total de candidaturas para a edição deste ano, 228 são indivíduos e 148 mundo. Para essas pessoas, tudo o que é necesquanto mais forte for o campo de acção do acaorganizações. sário para que haja sucesso é que se faça a coisa so, menos mérito há naquilo que cada um de nós certa. Mal sabem que Jiménez; na maioro parte das vezes consegue. Quem certificar-se só sueco precisa da Colômbia e acordo com oquiser testamento do magnata (FARC), Timoleón ex-analista AlfredàNobel, criadorTodo dos centenários prémios, CIA, Edward Snowden; e os habitantes isso sódafunciona depois, quando a gente, com o de olhar sua volta. esse pessoal pavão informático podem seraínomeados galardão cate- e voluntários quedo ajudam refugiados nas pode ilhas grebenefício olharosretrospectivo, encher o que anda por é mesmoao melhor do da quePaz qualquer dráticos de faculdades de Direito, História e Ciên- gas. peito, abrir os ombros e aceitar aquelas um de nós? Trabalhou mais? Foi mais inteligente? cias Políticas, deputados, antigos laureados, Em 2015, o prémio foi atribuído ao Quarteto para opalmadinhas tãonaconfortáveis nas envolvimento costas. Infelizmente, Outras coisas, pá, como se diz entre membros de tribunais internacionais, entrenós. outros. diálogo nacional Tunísia, pelo seu na OEComité Nobelàlimita-se a divulgar o númeroÉtotal uma “democracia neste do só os de que não se saíramplural” bem na suapaís tentativa de voltamos conversa do balneário. bem construção de concorrentes, qualquer influência na de-da Magrebe e que esteve na origem é daque designada “Primapetiscarem, arriscando, conhecem a verdaprovável que osem sucesso económico desua Lula signação. Entre os aspirantes para 2016, incluem-se vera Árabe”. de. Mas ninguém procura a sua opinião. É gente Silva no Brasil tenha muito pouco a ver com ele; O Nobel o candidato à nomeação presidencial pelo Partido Reda Paz, que será anunciado em Outubro, à invisível. pela mesma medida,Unidos, é maisDonald do que certo que o semelhança publicano dos Estados Trump; o Papa dos restantes galardões, é o único a ser
Nobel da Paz 2016 bate recorde de candidatos
D
Francisco; o Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos; o líder das Forças Armadas Revolucionárias
entregue em Oslo e não em Estocolmo, por desejo expresso de Alfred Nobel.
CINE GROUP Produtora Audiovisual Av. 24 de Julho, n.º 2096 - Edifício 505/6 - 5.º andar Ed.Progresso - Moçambique / Tel: +258 21 300 800 WWW.R EVIS TANE GO C IO S .C O.MZ
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Março | Abril 2016 · NEGÓCIOS, Ed.01
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FACTO
Se você nasceu pobre não é seu erro, mas se você morre pobre o erro é seu. Bill Gates
William Henry Gates III, fundador da Microsoft, um dos homens mais ricos do mundo, com uma fortuna estimada em cerca de 76 biliões de dólares
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FACTO
As pessoas devem acordar de manhã e dizer: “Eu não sou um candidato a emprego , eu sou um criador de emprego”. Muhammad Yunus
Muhamad Yunus, Prémio Nobel da Paz, pioneiro dos conceitos de microcredito e microfinanças.
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CULTURA
Persistência e coerência Em 1975, o saxofonista moçambicano Otis trocou Inhambane por Maputo. Dez anos depois decidiu fixar residência em Lisboa. Tem oito discos e prepara mais um.
“S
e gostas de fazer alguma coisa, persiste. As coisas não são fáceis, sobretudo num sítio onde não nascemos,” diz, ao telefone, o saxofonista. A frase tem muito a ver com o seu percurso iniciado em Inhambane, sul de Moçambique, onde o seu pai era regente de uma orquestra municipal, antes da independência. Seguir a música não foi necessariamente uma opção, recorda Otis. O seu pai determinou. Mas manter a linha que abraça – mescla de soul, jazz e ritmos africanos – foi sua escolha. “Não alinhei muito nas mudanças. Tentei ser eu com a minha música, coerente com o que quero,” conta o artista, que aprendeu a soprar e a ler música com o pai, também sax-soprano, na década de 1960. Em Maputo, a capital de Moçambique, onde chegou com apenas 16 anos de idade, fez parte de legendárias formações como o Grupo Experimental N.º 1 e RM. Adolescente, partilhou palcos com figuras experientes como Alexandre Langa, João Paulo, Pedro Ben, entre outros. Pelo caminho, Otis largou um curso comercial. A intensa actividade musical, diz, não permitiu. Em 1985, Otis recebeu uma passagem das mãos do empresário musical moçambicano Alex Barbosa. Na sua bagagem, o objecto mais importante era um saxofone, também oferta de Barbosa. Fixa-se em Lisboa e em três meses já tocava em cabarés como o Ritz Club. Passados cerca de dez anos, em 1994, saiu o seu primeiro disco, “Influências”. Outros sete seguiram, sinal de aceitação. Entre trabalhos e exibições individuais, Otis colaborou durante mais de dez anos com estrelas portuguesas como Roberto Leal, Paulo de Carvalho, Dulce Pontes, Miguel e André. Colabora igualmente com artistas africanos como Mariza, Tito Paris e Bonga. Fonte: Voa
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CULTURA
Moreira Chonguiça no Conselho do Jazz O saxofonista moçambicano Moreira Chonguiça foi confirmado como representante internacional no Conselho Executivo da Associação Sul-africana de Educação do Jazz (SAJE).
O
seu mandato é de dois anos, a contar a partir de 2016, sendo que vai até 2018. A eleição teve lugar recentemente em Joanesburgo, durante a conferência bianual da SAJE realizada na Escola de Música da Universidade de Witwatersrand. Naquela instituição de Ensino Superior, Moreira também apresentou uma comunicação intitulada “The Economics of Jazz” (A Economia do Jazz). “Sinto-me profundamente honrado por ter sido eleito para esta posição e estou ansioso por representar a SAJE quando viajar. Também espero expandir o alcance da SAJE em África e criar uma maior reciprocidade entre Moçambique e África do Sul na educação do jazz”, disse Chonguiça. Fundada em 1992, a Associação Sul-africana de Educação do Jazz está focalizada na educação do jazz, investigação, empoderamento, habilidades e desenvolvimento de audiência. A SAJE apoia inúmeros projectos, incluindo o Festival Nacional de Escolas do Jazz (National Schools Jazz Festival), que se realiza anualmente em Grahamstown; o Festival do Jazz da SAJE, que se alterna nos anos de realização da conferência, bem como apoia vários artistas e seus projectos individuais. Fonte: Info Diário
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República de Moçambique Ministério da Indústria e Comércio
Assistência PME Resultados Alcançados
Nossos Serviços
Nossos Programas Elaboração de plano de Negócio; Promoção PME; Base de dados PME; Formação PME; Clinica PME; Financiamento PME; FIEI; Feira Mulher Empreendedora; Certificação PME.
Antes não sabia separar o dinheiro das vendas e do lucro .... Mas com o apoio do IPEME, já comsigo fazer o registo e controlo das vendas(fluxo de caixa). João Cossa pr eseidente da Associação Wapsala e beneficiário do projecto CaDUP
CaDUP; Gestão de Tecnologias de Produção; FECOP; 100 Melhores PME; Primavera Express; Base de dados PME; Revista PME; Informação PME; IEM.
Resultados da assistência do IPEME Antes
Onde estamos! ..importava adubo (cockpit) da África do sul para os meus viveiros e custava me caro no pagamento das taxas de importação. Hoje, graças a assistência técnica do IPEME, já consigo preparar o composto pessoalmente, usando a matéria–prima local. Isto contribuiu significativamente para a redução de custos e maior produtividade. Sra. Anita, Viveiros Caetano e beneficiário do projecto CaDUP no distrito da Manhiça.
COrE Pemba
COrE CO COrE rE Mocuba Cai COrE Barué
COrE Maputo Sessão de capacitação as PME’s
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Contatcte-nos, estamos na Av. 25 de Setembro, n° 1509, 1° andar, Tel: (+258) 21 305626, Fax: 21018356. Cell: (+258) 823562923
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Depois
Entrega de certificado
TECNOLOGIA
Zuckerberg anuncia o fim dos call-centers O Facebook quer passar de rede social a colosso global de telecomunicações e serviços. Mark Zuckerberg anunciou o plano megalómano da empresa para os próximos dez anos, em São Francisco.
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ark Zuckerberg quer toda a gente online. O fundador do Facebook revelou a intenção de ligar à Internet as três mil milhões de pessoas que em todo o mundo permanecem à margem. O plano a dez anos prevê a utilização de aviões solares não pilotados – com “uma envergadura de asas superior a um Boeing 737”, mas “um peso menor do que o de um automóvel” – para difundir o sinal de Internet em zonas do globo ainda não cobertas pela rede. Nos próximos dias, o Facebook conta lançar o seu primeiro satélite espacial para reforçar a cobertura de Internet na África Subsahariana. “Em vez de construir muros, podemos ajudar as pessoas a construir pontes”, declarou o CEO da rede social. O investimento na conectividade é apenas uma parte da visão a dez anos que Zuckerberg apresentou na abertura da conferência de programadores parceiros do Facebook. A médio prazo – Zuckerberg aponta para cinco anos –, o destaque vai para a progressiva transformação do Messen-
ger num ecossistema para aplicações com múltiplas finalidades para além da actual utilização como ferramenta de conversação. Através do desenvolvimento de bots (programas de conversação automatizada), o Facebook quer que o Messenger substitua os call-centers das empresas, possibilitando o apoio ao cliente e a venda de produtos através de comunicação escrita. “Nunca conheci ninguém que gostasse de telefonar a uma empresa”, disse Zuckerberg, que demonstrou o potencial da tecnologia com a encomenda de um ramo de flores pelo Messenger. Esta possibilidade não é inédita, mas a abertura por parte do Facebook de uma plataforma de bots para parceiros externos possibilita o acesso das marcas a um público potencial de 900 milhões de utilizadores. Zuckerberg revelou ainda que todos os dias são trocadas 60 mil milhões de mensagens em todo o mundo através do Messenger e do WhatsApp, outro serviço detido pelo Facebook – um volume três vezes superior ao das SMS.
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TECNOLOGIAS
UNITIVA gradua 267 estudantes A Universidade Wutivi (UNITIVA) graduou no seu campus, em Boane, 267 estudantes de diferentes áreas de formação, com destaque para Ciências de Comunicação, Gestão Turística, Marketing e Publicidade, Psicologia Social e do Trabalho, Gestão Financeira e Bancária e Gestão de Empresas.
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ara além destes cursos, a Universidade Wutivi lançou para o mercado de trabalho graduados dos cursos de Gestão de Recursos Humanos, Contabilidade e Auditoria, Economia Monetária e Seguros, Direito, Informática de Gestão e Gestão de Tecnologias de Construção. Dos 267 graduados, 189 são mulheres, o que representa 71%, e 78 estudantes do sexo masculino (29%). Desde a sua criação, a UNITIVA já graduou cerca de 570 estudantes. Intervindo na ocasião, o Reitor daquela instituição de ensino superior, Inocente Vasco Mutimucuio, lembrou aos estudantes que a cerimónia de graduação não é o fim mas, antes pelo contrário, o início de uma longa caminhada rumo à prosperidade. De acordo com Inocente Mutimucuio, a graduação daqueles estudantes acontece numa altura em que o país se encontra mergulhado numa crise financeira e em que todos os cidadãos são chamados a contribuir com vista a reverter esta situação. “A situação macroeconómica do país não está bem e exige das instituições de ensino superior contributo na busca de soluções em termos de formação de profissionais altamente qualificados, que possam cooperar no processo de desenvolvimento do país”, disse Mutimucuio. Por seu turno, o Ministro da Ciência e Tecnolo-
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Mesa de honra da cerimónia de graduação na UNITIVA
gia, Ensino Superior e Técnico-Profissional, Jorge Nhambiu, disse que os cursos ministrados pela Universidade Wutivi reflectem as prioridades e áreas estratégicas definidas pelo Governo. “O evento que testemunhámos satisfaz o que está plasmado no Plano Estratégico do Ensino Superior 2012-2020, designadamente promover a participação e acesso equitativo ao ensino superior; responder às necessidades do país de uma forma dinâmica, desenvolvendo o ensino,
Universidade Wutivi lançou para o mercado de trabalho 267 graduados dos cursos de Gestão de Recursos Humanos, Contabilidade e Auditoria, Economia Monetária e Seguros, Direito, Informática de Gestão e Gestão de Tecnologias de Construção.
investigação e extensão para o fortalecimento da capacidade intelectual, científica, tecnológica e cultural, num contexto de uma sociedade em crescimento”, disse Jorge Nhambiu. Ainda de acordo com Nhambiu, a educação é o maior investimento e activo na construção de uma nação próspera. Neste contexto, segundo o Ministro, o Governo tem promovido uma série de iniciativas para o incremento da qualidade do ensino superior no país. Das várias acções levadas a cabo pelo Governo, o destaque vai para a instalação de laboratórios, capacitação do corpo técnico-administrativo no uso e domínio das Tecnologias de Informação e Comunicação, acesso a financiamentos competitivos, através do Fundo de Desenvolvimento Institucional e Fundo Nacional de Investigação, entre outras. Nhambiu apelou aos gestores da UNITIVA, no limite do quadro legal, económico, financeiro e visionário, para expandirem a instituição pelo território nacional, para que mais concidadãos possam beneficiar-se de oportunidades de formação técnico-científico, social e cultural, filósofo e ético. Falando concretamente para os estudantes, o
É preciso olhar para as oportunidades que os distritos oferecem em termos de emprego e abertura para novas iniciativas empreendedoras”.
Ministro da Ciência e Tecnologia, Ensino Superior e Técnico-Profissional recordou que Moçambique é vasto, daí que os estudantes não se devem cingir apenas aos centros urbanos na procura de oportunidade de emprego. “É preciso olhar para as oportunidades que os distritos oferecem em termos de emprego e abertura para novas iniciativas empreendedoras”, concluiu Nhambiu.
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MERCADO
Melhores marcas de notebooks de 2016 A Apple é considerada a melhor marca de notebooks de 2016. De acordo com o site Tech Tube, a Apple tem-se destacado pela sua qualidade, capacidade e seu projecto de design.
O
s notebooks vieram para ficar. Mais versáteis e podendo ser tão poderosos quanto um desktop convencional, esses equipamentos conquistaram o seu espaço e hoje figuram como um dos produtos mais desejados entre os consumidores. Confira a lista das melhores marcas de notebooks para o ano 2016.
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1.
Apple: A Apple é uma das empresas mais valiosas do mundo e vem sendo considerada a melhor marca de notebooks e computadores pessoais nos últimos 5 anos. Os notebooks da Apple contam com um sistema operacional próprio, actualmente ele chama-se OS X El Capitan, que além de ser muito prático de ser usado, leve e muito bonito, ainda é extremamente seguro e muito resistente a vírus.
2.
Lenovo: A Lenovo é a antiga unidade de fabricação de notebooks da IBM e hoje funciona como uma organização separada, mas ainda é a marca indicada pela IBM para todos os clientes corporativos no mundo inteiro. Os notebooks Lenovo são reconhecidos pela sua qualidade, estabilidade e pelo seu suporte técnico confiável e de fácil acesso.
3.
ASUS: Os notebooks Asus são impressionantes tanto pela sua capacidade de processamento quanto pelo seu design inovador. Em geral, a qualidade do vídeo, corpo do notebook, teclado e touchpad são superiores aos seus concorrentes.
4.
DELL: Sem dúvida, a Dell é uma das empresas mais prestigiadas do mundo e seus notebooks possuem qualidade e suporte técnico primoroso. Comprar um notebook Dell é certeza de bom negócio. O design da maioria dos notebooks Dell não pode ser comparado com Apple ou mesmo HP, mas em geral seus produtos possuem óptimo acabamento e utilizam material de primeira qualidade.
5.
HP: Sempre pioneira, comprar um notebook HP é garantia de qualidade, suporte, e porque não dizer design? Além da sua linha de produtos corporativas que faz muito sucesso em empresas de todos os tamanhos, a HP conta com uma linha completa de notebooks para todos os bolsos.
Acreditamos na construção de um futuro melhor para as pessoas
O compromisso da Odebrecht com o desenvolvimento sustentável é uma realidade vivida e praticada pelas pessoas que integram a nossa empresa em Moçambique. Concluímos em 2015 as obras do Aeroporto Intenacional de Nacala e, brevemente, iniciaremos as obras do BRT (Bus Rapid Transit) – pioneiro no País e que promoverá a mobilidade urbana na capital, a Cidade de Maputo. Prestamos serviços de engenharia e construímos infraestrutura de transporte, saneamento, habitação,
EN 6 - Rodovia Inchope-Machipanda
energia, agroindústria e mineração em países de África, América Latina, Emirados Árabes e Portugal. Compreender as demandas de cada país e desenvolver projectos que respeitem a singularidade de culturas diferentes são os desafios assumidos por nós para a construção de um futuro melhor para as pessoas.
Porto da Beira Terminal de Carvão Cais 8
Projecto Carvão Moatize e Expansão
www.odebrecht.com
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