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Índice

Capa

Política

Caderno Especial

As vocações e desafios do Nordeste Na edição de aniversário da Revista NORDESTE economistas, sociólogos e cientistas traçam um painel sobre a realidade econômica, social e tecnológica da região

Geopolítica do Nordeste expõe caras novas e progressistas Análise aponta como novos nomes da política do Nordeste, com vínculos partidários à esquerda, têm desenvolvido seus governos. Do Maranhão à Bahia governadores expõem nova forma e mentalidade de lidar com a administração pública

60 anos de avanços Matéria especial conta a história da UFPB, aponta avanços e desafios e traz entrevista exclusiva da reitora Margareth Diniz

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Cultura

Entrevista Governo manterá o foco na regionalização da mídia Em entrevista exclusiva ministro das comunicações, Edinho Silva, explica como funciona a distribuição das verbas de mídia do Governo Federal

22 Um ano sem Eduardo Campos Homenagem ao nascimento e morte do ex-governador de Pernambuco leva líderes da oposição e situação a fazem ato político

Chico Salles canta Rosil do Brasil Entrevista exclusiva com o cantor e compositor Chico Salles que fala sobre o seu novo CD

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6. Leitor 7. Imagem Brasil 14. Plugado Walter Santos 16. Opinião Flávio Dino 28. Opinião Torquato Neto 34. Opinião Ipojuca Pontes


Editorial

POLÍTICA A volta por cima de Dilma A presidenta Dilma Rousseff consegue ampliar apoios entre empresários, sindicalistas e partidos e isolar Eduardo Cunha

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Hora de bom senso e Governabilidade

A

Democracia brasileira se mantém firme no seu propósito de seguir o rumo histórico abrigando diferenças e até conflitos de ideias e interesses entres setores nacionais, mesmo assim sem se afastar da lógica racional de que, apesar de tudo, precisamos respeitar as regras do jogo democrático. Esta é a essência do papel que devem jogar todos os Poderes e representações da sociedade civil ou militar, porque, do contrário, seria retroceder na mais importante conquista recente que foi a redemocratização. É importante que as manifestações possam ganhar as ruas, como os atos públicos dos dias 16 e 20 de agosto. O primeiro já mostrando um certo esvaziamento do movimento pautado pela oposição. Entretanto, qualquer que seja o grau de exposição dos interesses sociais nada pode interromper o ciclo gerado pela disputa presidencial do ano passado. Ao que tudo indica, cada vez mais continuada, importantes setores da sociedade resolveram se manifestar também focando na necessidade de superação da crise política que tem sido motor para artificialização do problema na área econômica. Ao Governo Federal, como aos partidos políticos incluindo os de Oposição, resta o cumprimento legal de cada missão oferecida pelo processo democrático fazendo existir normas e/ou iniciativas para a superação da crise, já que sua manutenção só interessa aos que

estão contra o país. Chegou a hora! Mesmo com tempo estendido da crise desde o inicio do ano, chegou a hora da retomada dos procedimentos normais nos vários planos de representação da sociedade. Cabe ao governo Dilma o papel de estimular o diálogo com todos, bem como a efetivação, de comum acordo com o Congresso Nacional, das medidas que possam fazer com que a economia brasileira retome o seu curso natural. Walter Santos Diretor Presidente da Revista NORDESTE ws@revistanordeste.com.br Agosto/2015

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Leitor Eu quero dar os parabéns a vocês. Primeiro os parabéns a você (Walter Santos) pela sua coragem nesses nove anos. Pela sua coragem e determinação e construir um veículo de comunicação que divulgue e mostre o Nordeste brasileiro, pois assim é um veículo importante para o nosso país. Certamente vemos com bons olhos, com muita alegria o Nordeste ter um veículo de credibilidade que dialogue com as instituições e com o povo nordestino

Ano 9 | Número 105 | Agosto | 2015 Diretor Presidente Walter Santos Diretora Administrativa/Financeira Ana Carla Uchôa Santos Diretor Comercial Pablo Forlan Santos Diretor de Marketing Vinícius Paiva C. Santos Logística Yvana Lemos

Edinho Silva Ministro das Comunicações do Brasil

COMERCIAL Gerente Comercial Marcos Paulo REPRESENTANTE Pernambuco Gil Sabino g.sabino@uol.com.br - Fone: (81) 9739-6489

“Fui tomado de um sentimento de que tem ações no mundo editorial de alto valor como é o caso de vossa publicação. Fantástica!

REDAÇÃO Editor Paulo Dantas Repórter Luan Matias e Pedro Callado Direção de Arte, Editoração Eletrônica e Edição de Imagens Luciano Pereira Capa Vinícius Paiva C. Santos Projeto Visual Nordeste Comunicação

Carlos Torres Sociólogo

ATENDIMENTO/ FINANCEIRO Supervisora e Contas a Pagar e Contas a Receber Milton Carvalho Contabilidade Big Consultoria

É preciso apoiar iniciativas vanguardistas como da revista

ASSINATURAS (83) 3041-3777 Segunda a sexta, das 8 às 18 horas www.revistanordeste.com.br/assinatura

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Sugestões de pauta ou matérias podem ser enviadas para: redacao@revistanordeste.com.br Agradecemos a sua participação. NORDESTE On-line Facebook: Revista Nordeste Twitter: @RevistaNordeste E-mail: faleconosco@revistanordeste.com.br Site:www.revistanordeste.com.br

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Obrigado por esclarecer sobre a doença de Pompe na matéria “Mal Genético”. Se possível gostaria de saber onde procurar tratamento em caso de suspeitas

Gostaria que vocês abordassem sobre as dificuldades de acesso dos novos escritores do nordeste a publicação de livros de ficção. Hoje, grande parte dos investimentos das editoras está no sul/sudeste Cláudio Henriques Vendedor Maceió/AL

A entrevista com o ministro do Turismo na edição de Julho foi muito boa. Sabemos do alcance e da importância da Revista NORDESTE Darse Júnior Assessor de imprensa Ministério do Turismo

João de Albuquerque Aposentado Juazeiro/BA

A violência no Brasil é algo que assombra. A matéria “A Barbárie no Nordeste” traça um painel ao mesmo tempo triste e pavoroso da situação. O problema não é só investimento do estado, é conjuntural. Ótima matéria Anita de Castro Professora Fortaleza/CE

Capa da Edição 104/Julho


Imagem BRASIL

O personagem do bom senso

Em São Paulo tem sido comentado o posicionamento do presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, como um dos primeiros que advertiram os partidos políticos, sociedade organizada e a grande mídia, para dar um basta nesta crise política.

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Entrevista edinho silva, ministro da comunicação

Governo manterá o foco na regionalização da mídia Por WALTER SANTOS

O

atual ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom) Edinho Silva é sociólogo e professor. Filiado ao Partido dos Trabalhadores, o ministro já foi vereador, deputado estadual e prefeito

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de Araraquara. Foi tesoureiro da campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2014. Na função desde junho, o ministro tem enfrentando um verdadeiro furacão que vem sendo estabelecido no país, com manchetes quase diárias sobre uma crise econômica e política, inclusive com

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pedidos de impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT). Boa parte da crise, segundo setores do próprio PT, partem do que seria uma mídia comprometida com a oposição e com o desejo explícito de destruir as chances do PT se manter no poder com uma possível candidatura de Lula em 2018. Na entrevista concedida com exclusividade à Revista NORDESTE, o ministro vai noutra vertente e nega que o país esteja vivendo uma crise política. Silva considera normal a expressão de posições divergentes, apesar de reconhecer que existem veículos da grande mídia, TVs, revistas e jornais, que optaram por uma posição de ataque, refletindo o que chama de posições hegemônicas da oposição. Entretanto, o ministro nega que essa mudança tenha se dado por conta de algum corte em verbas de publicidade federal feito a partir do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aos veículos tradicionais da mídia brasileira. Silva garante que a distribuição das verbas para publicidade do Governo Federal obedecem critérios técnicos, mas admite que esse formato tem sofrido mudanças ao longo dos anos, pela própria dinâmica dos novos tempos. O ministro também garante que não faz parte das prioridades do governo uma regulação da Imprensa no Brasil. O foco agora é agenda positiva, pós Ajuste econômico. Confiram!


Revista NORDESTE: O Brasil vive uma realidade em que existem dois cenários em evidência. Uma crise política exposta em setores do Congresso Nacional contra o governo e outra que é baseada na postura da mídia no trato dessa crise econômica e política. Quando o governo vai ter um diálogo com a mídia para evitar essa artificialização da crise? Edinho Silva: Primeiro eu penso que do ponto de vista político nós não estamos vivendo uma crise. É natural num regime democrático, como o regime brasileiro, que é uma das maiores e mais robustas democracias do planeta, é natural que você tenha o contraditório e posições divergentes. É natural que você possa ter no cotidiano a expressão de pensamentos que tenham uma concepção diferente de país e de nação. Portanto, o governo vê com naturalidade que essas divergências possam se expressar. Claro que nós gostaríamos que muitas vezes aqueles que pensam diferentes colocassem em primeiro plano os interesses nacionais. Que pudessem fazer oposição, mas com maturidade. Que pudessem fazer oposição sem estar buscando a todo momento criar instabilidade. Nós gostaríamos, portanto, que a oposição fosse dura, de debate de ideias, que expressasse as divergências, mas que fosse uma oposição que entendesse a importância do país fortalecer a democracia, fortalecendo as suas relações instituições. Mas do ponto de vista econômico o Brasil... Em 2008 nós tivemos o início de uma crise internacional. Já naquela época nós dizíamos que para que a economia mundial retomasse o crescimento, retomasse uma dinâmica onde o mundo voltasse a crescer de forma homogênea, o Brasil tomou todas as medidas necessárias naquele período para que a nossa economia não fosse arrastada para o centro dessa crise. Nós fortalecemos as relações econômicas internas, es-

“na história brasileira não tivemos um governo que enxergasse o nordeste com tanta dignidade” timulamos para que o Brasil tivesse uma capacidade de geração e distribuição de riquezas muito estruturado nas nossas relações econômicas internas. Portanto, o Brasil naquele momento investiu muito, irrigou o crédito e fortaleceu o sistema produtivo para que nós não fôssemos arrastados para o centro da crise. Neste momento que nós estamos iniciando hoje o mundo ainda não retomou o seu crescimento. Nós estamos vendo a dificuldade da economia americana de responder a crise. Nós estamos vendo a economia chinesa passando por dificuldades gravíssimas. Mesmo nos BRICS, certamente o Brasil tem um dos melhores posicionamentos Fotos: Divulgação

dentro dos BRICS. Portanto, o Brasil por mais que mundo esteja passando por dificuldades e nós tenhamos que nesse momento fazermos ajustes para que possamos retomar o crescimento econômico. Mesmo assim, se nós compararmos a situação brasileira ela é muito mais favorável que muitos países, inclusive países que estão no mesmo estágio, do momento econômico que o Brasil. Evidente que é um momento de dificuldades, mas é um momento que o Brasil está tomando as medidas corretas, para que o país possa, num curto espaço de tempo, retomar o crescimento econômico como geração de emprego e distribuição de renda.

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NORDESTE: Mas setores da mídia tem um posicionamento que às vezes coincide, ou aparenta, estar tomando o papel de partidos políticos da oposição. O senhor não identifica isso? Silva: Sim. Tem setores da mídia que acabam se deixando hegemonizar por posições político-partidárias. Isso não é bom. Isso é ruim. O ideal é que nós possamos ter a mídia analisando fatos, divulgando fatos. Abrindo espaço, inclusive, para as contradições de pensamento. Muitas vezes nós presenciamos matérias que são divulgadas onde não têm lastro em fatos e muitas vezes elas são unilaterais, porque não há o direito do debate de ideias. Portanto, não tem o pensamento, nem a posição divergente. Na mídia você não tem o outro lado, que é um dos princípios da Imprensa. A Imprensa democrática sempre tem o outro lado. Infelizmente, muitas vezes além das matérias não terem o lastro em fatos reais, elas não proporcionam o outro lado. Mas eu repito, no meu entender é um setor minoritário da Imprensa brasileira e nós acreditamos muito que vamos superar esse nível de embate interno que nós estamos vivenciando com muito diálogo e muita capacidade de fortalecer os nossos instrumentos democráticos. NORDESTE: Desde o primeiro ano do governo Lula que o governo petista reclama desse tratamento desigual. Como os senhores tratam esses setores que continuam fazendo um posicionamento editorial que não é plural, como é o caso de alguns veículos como a Veja, fazendo uma oposição direta e sistemática ao governo? Silva: Encaramos com naturalidade. Claro que numa democracia, eu penso que você tem que lidar com todas as posições de imprensa, inclusive aquelas, como eu já 10

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disse, que se deixam hegemonizar por posições político-partidárias. O governo tem que lidar com naturalidade e cada vez mais acreditar que a melhor forma de retorno que possa existir é o senso crítico. É a capacidade das pessoas raciocinarem, refletirem, e intenderem o que é uma matéria séria, jornalística e o que é uma matéria que na verdade expressa uma posição político-partidária. Eu penso que o leitor, o ouvinte, as pessoas que se informam por meio da televisão e por meio da internet, cada vez mais elas vão aprimorando o senso crítico e vão certamente conseguindo fazer a di-

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ferença entre o que é notícia e o que é luta político-partidária. NORDESTE: O senhor conversa com a Veja, a Rede Globo... Com os veículos que em determinado momento tomam posição contra o governo? Silva: Eu tenho conversado com todos, com os editores do Blogs, com editoria das grandes revistas, das revistas regionais, com os órgãos de Imprensa. Já reuni aqui todas as entidades representativas dos jornais regionais, dos jornais do interior como eles gostam de ser chamados. E também dialogo com a grande Imprensa. Com as revistas, TVs e rádios mais


tradicionais. Eu penso que o papel do governo é estar aberto ao diálogo com todos os veículos de comunicação, sejam regionais ou de grande circulação. NORDESTE: A Secom trabalha com recursos volumosos e que antes do governo Lula se destinavam aos grandes veículos do sudeste, praticamente. A partir da era Lula houve uma descentralização, embora o critério técnico esteja prevalecendo. O senhor acha que esse é um dos fatores que tem gerado a crise entre os governo e as empresas de

Comunicação? Silva: Eu não consigo enxergar um fato que seja originário no caso dessa Imprensa que infelizmente fez uma opção político-partidária. Eu repito, o governo não enxerga isso como problema nenhum e acreditamos que o principal vetor é o senso crítico. Acreditamos muito que a sociedade tenha amadurecido muito a sua capacidade de ponderação e de leitura dos fatos. Quando falamos em critério técnicos, o governo trabalha com critério que são normatizados. Portanto, não é aqui a vontade do ministro que estabelece para onde os recursos vão. Tem uma normatização com amparo legal.

“A regulação não está neste momento na agenda. Estamos prestes a superar o Ajuste para que possamos entrar na agenda da retomada do crescimento econômico” Evidente, que essa é uma normatização que pode ser mudada, como eu penso que ela pode ser mudada e adequada a todo o momento, porque a mídia tem mudado muito. O peso dos veículos e dos modais têm sido alterados a todo o momento. Mas nós temos uma normatização. O que é bom, porque você foge da subjetividade. Aqui nenhum gestor escolhe um veículo pela sua vontade. Pela sua subjetividade para destinar recursos. Tem uma normatização que é técnica e nós a seguimos. O que nós temos feito e vamos continuar fazendo, é investir muito na regionalização. Por quê? O Brasil é um país com uma diversidade social, econômica e política muito grande. Portanto, quanto mais nós regionalizarmos respeitando essa diversidade, mais eficiente será a nossa comunicação. Então eu quero continuar defendendo a regionalização, trabalhando pela regionalização, para que nós possamos ter cada vez mais uma eficiência no alcance do nosso objetivo que é fazer com que a informação do governo chegue ao conjunto da sociedade brasileira. NORDESTE: Tem uma palavra quase sinônima de normatização que é regulação. Esse aspecto têm deixado alguns veículos de comunicação assanhados que contra-argumentam que vêm aí uma perspectiva de censura. Como o senhor encara esse discurso e quando o governo vai colocar em discussão a regulação econômica do setor? Silva: A normatização que eu estou dizendo é a normatização na distribuição de recursos, ou seja, o gover-

no hoje segue, e não é de hoje, uma norma. Ela é muito antiga. Ela se remete a outros governos e que vem seguindo o aprimoramento. Essa norma técnica se estabelece com um volume de recursos. Nenhum governo pode ter dogma, portanto ele não tem que deixar de debater nenhum tema. Mas evidente que neste momento, por mais que se debata, essa não é uma questão que está na agenda do governo neste momento. NORDESTE: A regulação não está? Silva: Neste momento não. O governo tem enfrentado a questão econômica. Nós temos que continuar com a aprovação do Ajuste. Estamos prestes a superar a agenda do Ajuste para que possamos entrar na agenda da retomada do crescimento econômico. Nós lançamos agora o Plano Safra, o Plano do Programa de Investimento em Logística, lançamos o Programa de Apoio as Exportações, o Programa de Apoio a Agricultora Familiar. O governo melhorou a regulamentação das relações de trabalho para as empregadas domésticas. Respondeu de forma muito coerente a crise vivenciada pelos caminhoneiros. É um governo que renovou a sua política do salário mínimo, mexeu na tabela do Imposto de Renda favoravelmente. É um governo que enfrentou um debate ouvindo os trabalhadores, mas com muita responsabilidade administrativa, o debate do Fator Previdenciário. É um governo que em breve entra numa agenda de lançar mais uma fase do Minha Casa, Minha Vida. É um governo que lança ainda neste semestre o programa da Banda Larga. É um

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governo que tem uma preocupação nos investimentos do Brasil, nós temos aí quase R$ 200 bilhões de reais em investimentos em infraestrutura. Claro que essa é a agenda! A agenda prioritária do governo é a retomada do crescimento econômico, geração de emprego e nós continuarmos fazendo com que o Brasil cresça com distribuição de renda. Nós tivemos agora um balanço de 5 milhões de microempreendedores individuais. Devemos fazer um balanço no próximo período, extremamente positivo, do Mais Médicos. Então tem uma agenda que neste momento toma conta dos esforços do Governo Federal. NORDESTE: O Nordeste tem sido decisivo na trajetória da presidenta, na sua eleição. No início da crise os governadores se reuniram a apoiando e houve outro gesto nessa direção, recentemente. O que a presidenta sinaliza, após esse Ajuste Fiscal, no alinhamento do apoio que os governos do Nordeste têm dado a ela ao longo desse tempo? Silva: Olha, na história brasileira não tivemos um governo que enxergasse o nordeste com tanta dignidade como os governos do presidente Lula e da presidenta Dilma. O que foi investido no Nordeste é histórico. São governos que mudaram respectivamente a vida do povo nordestino e não só com as ajudas emergenciais que são importantes. Mas mudou enxergando o nordeste como um região com capacidade de desenvolvimento econômico. Com capacidade de ancorar cadeias produtivas importantes para o nosso país. Um governo que enxergou o nordeste como porta de saída para as exportações brasileiras. Um governo que investiu pesado levando universidades, escolas técnicas, infraestrutura. Portanto, são governos que efetivamente mudaram a vida do povo nor12

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“eu penso que do ponto de vista político nós não estamos vivendo uma crise” destino. E essa vai continuar sendo a lógica desse governo até 2018. NORDESTE: Como fica a relação com o presidente da Câmara, após o rompimento com Governo, depois que ele foi alvo de denúncias feitas pela Operação Lava Jato da Polícia Federal? Silva: Eu penso que nós não podemos entrar nessa dinâmica. A posição do governo é o seguinte: Nós entendemos que o presidente Eduardo Campos vive um momento difícil. A posição do governo é que todo mundo que recebe uma acusação tem o direito de defesa. Esse é o princípio da democracia. É o respeito dos pila-

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res do estado democrático de direito. O governo espera que o presidente da casa possa o mais rápido possível elaborar a sua defesa e exercer o seu direito de defesa. E nós vamos continuar, enquanto governo, construindo uma agenda de governo. Uma agenda onde a presidenta Dilma possa viajar pelo país mostrando tudo aquilo que está sendo feito no Brasil. A presidenta vai continuar dialogando com o Legislativo Brasileiro, tanto com a Câmara, quanto com o Senado. Portanto, vai continuar trabalhando. E esperamos que o presidente Eduardo Cunha supere o mais rápido possível esse momento que ele está enfrentando.



Plugado com Walter SANTOS

Bornhausen em Recife

Chamou a atenção o fato do ex-senador do D EM / SC, Jorge Bornhausen, ter estado como convidado especial na cerimônia que marcou a lembrança da morte de 1 ano, em Recife, do ex-governador Eduardo Campos. É que, o perfil ideológico do político catarinense se conflita com os ideários do socialismo praticado pelo PSB Brasileiro, que passa a ter um líder de Direito numa legenda à Esquerda.

BC e Cooperativismo

Quem resolveu ampliar as ações de instruir e qualificar o segmento de Cooperativas no Brasil, em particular no Nordeste, foi o Banco Central oferecendo palestras permanentes nas diversas. O BC entende que o mercado está aberto, sobretudo na área de cooperativismo de crédito, favorecendo à expansão dos negócios no Nordeste, onde há registro de forte crescimento. Só a Unicred faturou R$ 3 Bi. 14

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PSB: embora SP resista, Ricardo Coutinho é novidade Os últimos meses do Partido Socialista Brasileiro (PSB) sob a presidência do veterano Carlos Siqueira têm sido de negociações, ora querendo levar a legenda aos braços do PSDB, ora buscando a fusão com o PPS – condição esta anunciada mas implodida, a partir da reação do governador Ricardo Coutinho, da Paraíba, único chefe de executivo estadual com mandato renovado e contestador da posição do PSB contra o Governo Dilma Rousseff na mesma linha de postura contrária a uma composição com Roberto Freire. Embora os diretórios de São Paulo e Rio Grande do Sul, através de Márcio França e Beto Albuquerque, se movimentem para uma composição com os tucanos em torno do governador Geraldo Alckmin, este cenário pró -PSDB acaba não reconhecendo o fato real de que, no partido, o líder em ascensão nacional até na condição de porta-voz dos governadores do Nordeste é Ricardo Coutinho. O processo de crescimento de imagem do governador paraibano tem a ver também com o vazio causado pela morte do ex-governador Eduardo Campos sem que seus sucessores, governador Paulo Câmara e o prefeito de Recife,Geraldo Júlio, e ainda o senador Fernando Bezerra Coelho, tenham tido capacidade de ocupar o espaço. Como os fatos mostram, sem os Gomes (Cid e Ciro) no PSB e as derrotas de Beto Albuquerque e Casagrande no Espirito Santo, a legenda não consegue construir outro nome, senão o líder socialista da Paraíba, ultimamente crescendo com seus posicionamentos nacionais pro-governabilidade de Dilma e o saldo de sua gestão no Estado de forma surpreendente e positiva, apesar da crise econômica. Seja qual for a resistência, Ricardo Coutinho é a bola da vez.

Novidade nas Relações Internacionais

Quem acaba de assumir a titularidade da Secretaria de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo é o expert Vicente Trevas, experiente curinga do Serviço Público, posto que já esteve em diversas missões diferentes no Governo Federal, na Caixa Econômica Federal e recentemente a PSP. Vicente Trevas foi perseguido político exilando-se em Paris, onde teve sua formação intelectual. Agosto/2015


A “guerra” pelo novo HUB da LATAN

Debate no Nordeste

Nos bastidores das negociações são registrados a cada semana lances especiais promovidos pelos Governos do Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte para atrair a opção da LATAN visando implantar na Capital de um desses estados a base ampliada do novo HUB da empresa aérea abrigando até voos internacionais. Diretores da companhia chileno-brasileira têm estado com frequência nas três capitais avaliando dados para tomada da decisão.

Nordeste, o livro

Tudo pronto para a edição do livro A influência do Nordeste - a relação com o Brasil e o mundo, da Editora Patmus registrando as principais análises de Delfim Netto, Tânia Barcelar, Ipojuca Pontes e Carlos Roberto de Oliveira.

Usinas em crise

Não precisa ser especialista no setor para identificar uma fase de muita dificuldade registrada ao longo dos últimos tempos no segmento sulcroalcooleiro. Passa já de 40 o número de usinas de cana-de-açúcar em condição pre-falimentar sem conseguir superar as dificuldades e queda de faturamento.

Jaques Wagner na defesa Embora sejam muitos os comentários nos bastidores no sentido de apontar o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, como futuro chefe da Casa Civil do Governo Dilma, esta hipótese inexiste porque a presidenta não mexerá nesta Pasta, apesar do desejo de muitos petistas. O atual ministro da Defesa cumpre um papel de articulação maduro e consequente junto às diversas Armas.

A volta de Jarbas?

Em Recife, onde se tem como certa a candidatura à reeleição do prefeito Geraldo Júlio, cresce a cada dia os comentários de que o deputado federal Jarbas Vasconcelos é nome certo para disputar a Prefeitura da cidade nas eleições de 2016.

João Azevedo em João Pessoa

A cada dia cresce a projeção de que o Secretário de Ciência, Tecnologia, Infraestrutura e Recursos Hidricos, João Azevedo, será candidato a prefeito de João Pessoa pelo PSB. Há chances.

JCPM, agora no vinho O empresário João Carlos Paes Mendonça está em festa com a sua nova atividade empresarial, agora voltada para o ramo de vinhos, já que há tempo adquiriu uma Quinta na região do Douro, em Portugal, e está com novo lançamento no mercado. Imperdível.

O Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro, decidiu fazer encontros com empresários em todas as Capitais nordestinas para avançar no Pós-ajuste.

A Bahia em Brasília

Quem chega à Capital federal e busca informações ou adoção de projetos de interesse da Bahia convive com a agilidade do chefe do Escritório em BSB, Jonas Paulo, com resultados a curto prazo já merecendo repercussão.

Disputa em Natal

P e l o menos nas pesquisas o prefeito Carlos Eduardo se mantém com alto índice de aprovação levando-o ao patamar de pré-candidato com chances na capital norte-riograndense. A decisão do governador Robinson Faria afetará a escolha.

DNOCS mira 105 anos

O Departamento mais famoso no trato e convivência com a prolongada estiagem no Nordeste está se preparando para comemorar 105 anos de serviços indispensáveis, segundo o diretor geral Walter Sousa. Fotos: Divulgação

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Opinião

Flávio DINO GOVERNADOR DO MARANHÃO

Mais produção e alimentos

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a atual conjuntura, não tenho dúvidas de que a produção agropecuária é a principal estratégia para incremento das atividades econômicas do nosso Estado, considerando a nossa tradição no setor, nossos recursos naturais e a capacidade de o segmento gerar resultados rapidamente, com um tempo mais curto de maturação dos empreendimentos. Além disso, tenho como essencial a aptidão que o setor possui de gerar trabalho e renda para milhões de pessoas, quando há uma política agrícola correta, levando aos pequenos produtores o acesso à terra e ao crédito, assistência técnica e apoio à comercialização. Desde o começo do governo, avançamos muito em direção à valorização do setor agropecuário. Criamos a Secretaria da Agricultura Familiar, que na semana passada foi fortalecida com a criação da Secretaria Adjunta de Extrativismo, reivindicada pelas quebradeiras de côco e outros segmentos. Estamos contratando mais 90 técnicos para AGERP (assistência técnica) e 70 para o ITERMA (regularização fundiária). Temos apoiado todos os eventos da agropecuária já realizados no sul do Estado e na região tocantina. Distribuímos sementes e equipamentos agrícolas para milhares de produtores. A vacinação contra febre aftosa obteve o grande sucesso de mais de 99% do rebanho alcançado. E poderia falar mais, muito mais, a exemplo dos incentivos fiscais à avicultura, que inauguram uma fase nova para tais empreendimentos. Nesse conjunto de realizações, sublinho a relevância da criação do Sistema Estadual de Produção e Abastecimento, instrumento de planejamento e de concentração de esforços governamentais para crescimento da agropecuária, pesca e aquicultura no Maranhão. Nas reuniões até aqui realizadas, definimos como prioritários para o Maranhão, além dos já bem-sucedidos segmentos da soja e do milho, os da produção do arroz, do feijão, da mandioca, do mel, do leite, de camarões e pescados, ovinos, caprinos, bovinos, hortaliças e frutas. Agora, com intenso diálogo com os produtores, vamos 16

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“Para vencer essa quadra difícil, precisamos de múltiplos esforços, um deles reside na crença de dias melhores PARA A NOSSA NAÇÃO ” lutar para viabilizar o crescimento de cada segmento, removendo obstáculos e fortalecendo aspectos virtuosos já identificados. Outra grande novidade nesse segundo semestre será a realização de quatro Feiras Tecnológicas da Agricultura Familiar nos municípios de São Bento, Açailândia, Caxias e Bacabal, que levarão mais conhecimento para aumentar a produtividade e promoverão a comercialização dos produtos oriundos das pequenas unidades de produção. A tais Feiras, se agregarão mais 20, destinadas exclusivamente à ligação direta entre produtores e consumidores. A propósito desses projetos, agradeço a parceria da FETAEMA, dos sindicatos, do SEBRAE e da EMBRAPA, além das prefeituras municipais. Temos boas condições naturais e uma posição geográfica estratégica, fatores que aliados à garra e a força trabalhadora de nossa gente, são garantidores de que programas como o Mais Produção e o Mais Empresas levarão a resultados crescentes, apesar da terrível crise econômica e da recessão que infelizmente se instalaram no Brasil. Para vencer essa quadra difícil, precisamos de múltiplos esforços, um deles reside na crença revolucionária de dias melhores para a nossa Nação, em que bons exemplos proliferem e sejam exaltados. Tenho certeza de que entre tais sucessos estará o dos produtores maranhenses.



Política

A “volta por cima”

Presidenta recompõe forças para manter mandato com apoio de empresários, governadores e de parte do PMDB, isolando Eduardo Cunha e amenizando pacote econômico. Agenda cada vez mais está voltada para ações positivas Por WALTER SANTOS

A

ntes do recesso parlamentar, as projeções políticas produzidas por setores da classe política, da Grande Mídia e de empresários eram de que agosto chegaria com a carga fatal para tirar de tempo e do Governo a presidenta Dilma Rousseff (PT). Os ensaios produzidos antes pelo presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB), constituindo CPIs a toque de caixa e aprovando medidas de impacto econômico no Executivo, além dos discursos ásperos de lideres da Oposição como Aécio Neves, de fato indicavam a possibilidade de um tempo negro, algo que não se consolidou. Ao contrário, permitiu os primeiros grandes atos políticos conduzidas pela presidenta. Depois da viagem feita aos Estados Unidos, Rússia e Itália, Dilma Rousseff se viu sem alternativa, a não ser encarar a grande articulação de setores organizados para apeá-la do Go18

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Dilma em lançamento de programa que prevê R$ 186 bilhões para expansão da geração elétrica no país


de Dilma Rousseff

Dilma em ações em Juazeiro na Bahia, com Jaques Wagner e Rui Costa, e no Maranhão com Flávio Dino. Ao lado, PMDB tenta enquadrar Eduardo Cunha e Fierj, que soltaram notas públicas de apoio à superação da conjuntura. O papel exercido por Michel Temer na articulação fez com que agentes da Oposição vissem neste jogo a hipótese de ungir o nome do vice-presidente numa hipótese, até então inexistente, de saída de Dilma do poder.

verno, através de manobras junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) e Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sequenciadas na Câmara Federal. Posto o cenário à vista, ela passou a costurar encontros e entendimentos a partir da base aliada no Congresso tendo como um dos principais articuladores o vice-presidente Michel Temer (PMDB) tratado por oposicionistas como nome para suceder a presidenta numa hipótese de afastamento, algo que só criou corpo nas

mentes dos que esnobam a capacidade de Dilma fazer política – eis aí o primeiro elemento da transformação e/ou virada de jogo. ACIMA DA INTRIGA Os primeiros dias de agosto permitiram novos acordos dela com o setor produtivo nacional chamando muitos dos principais empresários para a construção de um Pacto de governabilidade. As tratativas levaram até aos presidentes do BRADESCO, Fiesp Fotos: Fotospublicas

RECOMPONDO A BASE Com a fragilidade continuada de Eduardo Cunha tido como nome certo na lista de Rodrigo Janot como envolvido em desvios de recursos da Petrobras, restou ao núcleo político de Dilma costurar diferenças internas no PT, como se dava na relação entre o Ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assim se estabelecendo com os demais partidos, em especial o PMDB enfraquecendo o presidente na Câmara. Neste sentido, Dilma foi ágil ao

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Governabilidade, Dilma se reúne com os governadores do Brasil no Palácio e Lula conversa com a alta cúpula do PMDB chamar o presidente do Senado, Renan Calheiro (PMDB), para uma série de conversas celebrando a superação de crise de relacionamento entre eles como se deu durante o primeiro semestre do ano. Com este novo cenário, foi possível avançar em entendimentos com os Ministros da área econômica visando atenuar o Pacote de Ajustes abrigando sugestões do líder do PMDB no Senado. Passo seguinte, coube à presidenta convocar todos os senadores para um jantar no Palácio do Planalto, cuja pauta central foi consolidar uma estratégia de barrar os exageros cometidos pela Câmara Federal de onerar as responsabilidades do Executivo com aumentos graciosos e sem amparo orçamentário para diversas categorias dos vários Poderes. 20

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O PAPEL DECISIVO DOS GOVERNADORES A reunião entre a presidenta e os 25 governadores não resultou em dividendos nem em anúncio de medidas fortalecedoras de uma revisão do Pacto Federativo, mesmo assim serviu para distinguir o papel dos 9 governadores do Nordeste capitaneado pela provocação do governador Ricardo Coutinho (PSB), da

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Paraiba, porta-voz dos lideres nordestinos, nos encontros com Dilma Rousseff. Outro que se credenciou também foi o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), responsável pela agenda do meio de agosto recebendo a presidenta com diversas ações de programas sociais fortalecendo a imagem de Dilma e as críticas contra as tentativas de afastamento dela.


Na pauta econômica, a busca da estabilidade Ministro Eduardo Braga no lançamento do progrma de expansão eletríca. Ao lado, Joaquim Levy, agenda econômica mais amena

A agenda de Dilma passou a cons- sumidor se ele está pagando mais caro tar de viagens mais frequentes pelos pela energia. Estados, em especial o Nordeste, bem Apesar da melhora do nível dos como o anúnreservatórios, cio da melhoainda não ra na situação está prevista hídrica nos mudança da reservatórios bandeira verbrasileiros demelha para a vendo resultar amarela, inem uma reduformou o mição entre 15% nistro de Mie 20% no valor nas e Eneradicional pago gia, Eduardo Eduardo Braga pela energia Braga, duMinistro das Minas e Energia elétrica. rante o lanDe acordo com lançamento em çamento do Programa de InvestiBrasília, o valor adicional é indica- mento em Energia Elétrica (PIEE). do pelas bandeiras verde, amarela e A redução dos valores será possível vermelha, mecanismo adotado nas graças ao desligamento de 21 usinas contas de luz para informar ao con- termelétricas que produziam cerca

“Para o consumidor, o que pode acontecer é o valor da tarifa vermelha baixar dos atuais R$ 5,5 para R$ 5 ou R$ 4,5”

Fotos: Fotospublicas

de 2 mil megawatts (MW) médios de energia a um custo alto. "Tenho certeza de que agora estamos numa situação bem melhor, e esse encarecimento do fornecimento de luz começará a ser progressivamente revertido", disse a presidenta, ao lembrar que, no último sábado (09/08), algumas termelétricas começaram a ser desligadas. De acordo com a presidenta, tal cenário vai permitir a redução de até 20% do custo dentro da bandeira vermelha. “Mas isso é uma estimativa”, destacou Dilma. O ministro Eduardo Braga informou que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) vai abrir audiências públicas para definir de quanto será essa redução da bandeira vermelha. “(A situação atual dos reservatórios) abre oportunidade para que a Aneel possa, a partir desta semana, abrir discussão sobre novo valor par a bandeira vermelha. Todos os estudos apontam para uma redução de 15% a 20 % e que o novo valor da bandeira impacte nas contas a partir de setembro”, disse Braga. “Para o consumidor, o que pode acontecer é o valor da tarifa vermelha baixar dos atuais R$ 5,5 (por 100MW consumidos) para R$ 5 ou R$ 4,5. Essa é a nossa expectativa.”

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Política

Geopolítica do Nordeste expõe caras novas e progressistas

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Maioria dos governadores é jovem com vínculos partidários à Esquerda e gestões mais ousadas diante de máquinas problemáticas Por WALTER SANTOS

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ano de 2015 começou expondo um novo quadro de lideranças nos nove estados do Nordeste reluzindo mudanças expressivas no comando das diversas unidades federativas e, além das caras novas, consolidando um sopro de governos à esquerda em sua maioria. De todos, somente os governadores Ricardo Coutinho (PSB), da Paraíba, e Jackson Barreto (PMDB), de Sergipe, foram reeleitos. De todos, seis são filiados a partidos progressistas (3 ao PT, 2 ao PSB e um

Governadores tem se reunido com frequência para elencar prioridades junto ao Governo Federal ao PC do B), dois ao PMDB e um ao PSD, com parte deles derrotando figuras carimbadas do jogo político nordestino, a exemplo do Maranhão, Bahia e Rio Grande do Norte onde José Sarney, Paulo Souto e Henrique Alves disputaram o poder como candidatos diretos, ou apoiando alguém. Ao final dos sete primeiros meses de Governo, é fácil identificar que a retração da economia afetou os estados criando problemas de caixa para pagar compromissos básicos diante da redução dos aportes orçamentáFotos: Divulgação

rios advindos do FPE, ICMS, etc., sem contar os dramas sociais provocados pelo prolongamento da estiagem no semiárido. Nem mesmo os estados mais fortes, a exemplo da Bahia – maior PIB, Ceará e Pernambuco conseguiram deslanchar no mesmo ritmo de antes, sobretudo o estado do ex-governador Eduardo Campos, apesar dos esforços do governador Paulo Câmara para atrair dinheiro novo, algo não possível de se repetir na mesma escala de antes.

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Bahia e o governo Rui Costa Um dos estados de maior enfrentamento entre o governo do PT e Oposição – esta comandada por ACM Neto (DEM) e Geddel Vieira Lima (PMDB) – é exatamente a Bahia, onde o atual governador Rui Costa (PT) amplia projetos e ações do Governo passado, anteriormente comandado por Jaques Wagner. Apesar dos enfrentamentos, Costa convive com civilidade com prefeito de Salvador, o próprio ACM Neto – nome que deve concorrer junto com o petista pelo Palácio Rio Banco, nas eleições de 2018. Rui Costa conduz o Governo com equilíbrio das contas, até porque era secretário do governo Wagner, e conhecia de perto toda a geopolítica baiana e, em especial, os programas de ação no campo da infraestrutura e social. Com base na realidade presente, o governador atende à expectativa de aprovação.

Ceará de resultados O maior problema do governador Camilo Santana (PT) é um só: conseguir manter o mesmo pique de atratividade de recursos e obras produzidos pelo antecessor, o ex-governador Cid Gomes (PROS), sem dúvidas um reformulador de resultados na cena político – administrativa do Ceará. Camilo Santana foi escolhido pelo seu desempenho como secretário de Governo e, agora, diante de uma conjuntura conhecida de retração econômica faz de tudo para assegurar um saldo de gestão à altura de seu principal aliado, mesmo ele estando no PT e Cid no PROS. No campo político-partidário, o governador convive com seu adversário de disputa, senador Eunicio Oliveira (PMDB), com muito prestigio junto ao Governo Federal tanto que indicou o presidente do BNB, da mesma forma que com o senador tucano, Tasso Jereissati (PSDB). Por vários fatores, a luta do governador é no mínimo manter o alto nível de investimentos da fase Gomes. E trabalha firme para isso.

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Robinson, ação no Rio Grande do Norte Esta não é a realidade do Rio Grande do Norte, onde o governador Robinson Faria (PSD) encontrou a gestão estadual destroçada, ou seja, com muitos compromissos atrasados e uma estrutura de serviço público tomada de deficiências. Não foi à toa que no Estado foram registrados inúmeros e graves problemas nos presídios levando o governo a passar semanas ocupado de conter a crise penitenciária. Com base nos dados do governador, além da retração dos recursos ainda se agravaram os efeitos da seca continuada no semiárido potiguar. No plano político, ele se mantém na base da presidenta Dilma Rousseff tendo que conviver com seu adversário Henrique Alves (PMDB) ocupando espaços no Ministério do Turismo rivalizando prestigio com o Governo Federal. Como tem produzido respostas e gestão de resultados sua performance no quadro das pesquisas é de aprovação expressiva (70%).

Ricardo ‘reina’ na Paraíba Embora seja considerado um governador reformista, Ricardo Coutinho (PSB) trouxe para a segunda gestão à frente da Paraíba o saldo de um líder político que destronou todas as demais lideranças estaduais, em particular o senador Cássio Cunha Lima (PSDB), pela primeira vez derrotado em disputa eleitoral. O líder socialista desbancou também o ex-governador José Maranhão (PMDB) e o ex-senador Vital do Rego Filho (PMDB). O socialista promove um governo com repercussão nos vários níveis e apresenta um conjunto de obras em setores como infraestrutura, moradia, equipamentos de alta expressividade, a exemplo do Centro de Convenções de João Pessoa, hospitais em médias cidades, rodovias, etc. A pauta do governador agora se estende para fora do estado. A perspectivas é promover sua imagem no Sudeste e Centro Sul. A ideia é construir a possibilidade de até ser candidato a presidente da República, algo ainda embrionário. Fotos: Divulgação

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Flávio Dino e a nova fase no Maranhão Quem chega à Capital São Luís, como de sorte às cidades de médio porte do Maranhão, se depara com um cenário político – administrativo inteiramente diferente do que era até 2014 com o predomínio total da família Sarney. Sete meses depois de assumir o poder, Flávio Dino dá demonstração de controle e de resultados no governo maranhense mudando paradigmas políticos. Além de buscar dominar a máquina, o governador expande ações pelo território do estado por inteiro, mesmo com sérias dificuldades advindas da crise financeira, por isso parte para a inovação de políticas segurando o dinheiro maximamente. Dino também tem se projetado como uma espécie ao marcar presença em ações pró-Dilma Rousseff (PT) e contra o impeachment. Todavia, no campo da política, não dá para ignorar a Familia Sarney como o principal núcleo inimigo.

A luta de Paulo Câmara

Alagoas: saldo d

Eleito pelo saldo da importância política de Eduardo Campos, o governador Paulo Câmara (PSB) tem convivido com dificuldades continuadas diante da crise econômica do país afetando fortemente o nível de grandes investimentos em Pernambuco. Mesmo podendo concluir e entregar diversas obras deixadas pelo governador João Lyra, Paulo Câmara não perde tempo em buscar alternativas de fora, mas como é óbvio admitir, o cenário econômico externo não ajuda. Politicamente, ele convive com problemas internos no PSB com o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB) por

Em Alagoas, o governador Renan Filho (PMDB) tem conseguido implantar programas ante crise se fixando em ações no interior do estado. A impressão é de que a herança encontrada pelo chefe do executivo alagoano não se traduziu em “casa destroçada”, por isso faz uma gestão com

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não seguir sua orientação, bem como com o Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comercio, Armando Monteiro (PTB), que acaba promovendo ações paralelas e de disputa com o governador pernambucano. Isto, sem contar com o senador Humberto Costa (PT) e agora o superintendente da

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Welington Dias e as mudanças no Piauí

e gestão resultados a lhe granjear aprovação popular, segundo pesquisas. O fato de ser filho do presidente do Senado Federal também contribuiu para, apesar da seca de recursos, ainda granjear parcos dividendos federais. Segundo dados desta fase do ano, Renan Filho não encontra dificuldades para governar diante da Oposição. Apesar disso, contingenciamento de recursos do Governo Federal tem afetado projetos importantes do estado, como os de mobilidade urbana e o Canal do Sertão. Renan já cogita prorrogar em dez dias o pagamento da folha de servidores.

O segundo mandato do governador Wellington Dias (PT) lhe expõe com ritmo de iniciante em gestão estadual, o que não é o seu caso. Dias sempre esteve mais afeito ao Executivo do que ao Legislativo na condição de senador, cargo que já exerceu. Wellington Dias usa de seu prestigio pessoal com a presidenta Dilma Rousseff (PT) para aplainar projetos e ações que mantenham o Estado em ritmo de desenvolvimento sustentável elevado, saindo dos péssimos índices de exclusão social quando antes dele assumir pela primeira vez. O Piauí, por exemplo, tem se destacado no ensino público e em bases econômicas, como acontece no Sul do Estado, onde floresce desenvolvimento com o plantio e exportação de grãos, em especial a soja. Na política, ele convive bem com o prefeito do PSDB, Firmino Filho, e se mantém soberano com o olhar crítico do deputado federal Heráclito Fortes (PSB).

Sergipe com problemas Embora seja governador reeleito, Jackson Barreto (PMDB) não conseguiu eliminar na fase do governo passado os déficits orçamentários que têm feito ele amargar sérios problemas para honrar compromissos básicos, como o de pagamento de pessoal, bem como as condições de funcionamento dos serviços de saúde, educação, entre outros. O governador sergipano não poupa oportunidades em entrevistas ou espaços públicos para reclamar das dificuldades e, para atenuar os problemas, busca construir alternativas a Fotos: Divulgação

exemplo da pressão que faz à Petrobras por mais recursos diante de nova jazida de petróleo no Estado. Esses problemas fazem seus adversários, em especial o senador Eduardo Amorim, do PSC, seu concorrente na disputa governamental, a tentar tirar proveito político deste difícil.

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Opinião

Gaudêncio TORQUATO

JORNALISTA, PROFESSOR TITULAR DA USP, CONSULTOR POLÍTICO E DE COMUNICAÇÃO

O teatro da guerra

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general Jesus Baquedano, que participou das guerras contra a Confederação Peru-Bolívia e do Pacífico, nas revoluções da década de 1850, adotava diante do inimigo uma única estratégia, que gritava a plenos pulmões: “Atacar”. Impetuoso e considerado por seus compatriotas homem de coragem suicida, dizia que seu método, mesmo à custa de milhares de mortos, economizava tempo. O militar chileno era adepto da estratégia direta, amparada na ação frontal, um contra o outro, que tem como principal formulador Carl Von Clausewitz, o general prussiano que escreveu Da Guerra (1832), livro apreciado por Hitler. Ao oferecer continuados conselhos à Dilma, todos na direção de correr o país, mostrar serviço e deixar de responder questões sobre a Operação Lava Jato, o ex-presidente Lula sugere à pupila que pense com a cabeça e arremeta com o coração, evitando a síndrome do touro que faz exatamente o contrário. Ou seja, que escolha a estratégia indireta, a do toureiro, que dá voltas ao redor do animal até fazê-lo cansar. Ele mesmo vai seguir este caminho. Dessa forma, evitará o confronto direto, estilo Baquedano, fará rodeios pelo país, amortecendo o tiroteio que procura abatê-la. Com o tempo, poderia recuperar seu vetor de força, mesmo sob as larvas do vulcão econômico e da borrasca política. O Brasil vive tempos de acirrados conflitos. O aparato que se formou no entorno da Operação Lava Jato é uma complexa engenharia de guerra, nos termos da definição clássica de Clausewitz: “a guerra não é só um ato político, como um autêntico instrumento político, uma continuação do comércio político, um modo de levar o mesmo a cabo, mas por outros meios”. A teoria de guerra conserva semelhança com a teoria política. Ambas trabalham com eixos comuns, como estratégia e tática; fricção entre atores; interdependência (a eficácia de um jogador depende das jogadas do outro); força como conceito não apenas mecânico, na medida em que abriga valores morais como autoridade, paixão, motivação e coragem, dos quais o exemplo é Gandhi.

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Dito isto, vejamos como é nossa guerra política. Os principais exércitos na paisagem dos conflitos são: os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário; o Ministério Público; os grupos de negócios privados; e os intermediários. Para ganhar a guerra, cada qual possui um arsenal composto por acusações/defesas, hipóteses/ teses, argumentos/contra-argumentos, delações, versões, percepções. Predomina, porém, o sentimento de que os atores que encarnam a luta do Bem contra o Mal levarão a melhor. O Mal, neste caso, é interpretado pelos indiciados na Operação Lava Jato. O juiz Sérgio Moro, os jovens procuradores do MP e os delegados da PF, sob a guarida das altas Cortes, saem-se bem como mocinhos e xerifes dos velhos faroestes. Na guerra política, como no conflito militar, vale o princípio maquiavélico: “os meios justificam os fins.” Nesse caso, a propina foi o meio para se alcançar um fim. É o que dizem, agora, os delatores, cuja estratégia é a de confessar o crime para ter reduzida a pena, o que não o torna necessariamente um “herege arrependido”, eis que continua a usar armamento pesado para atacar ex-aliados e combatentes de exércitos até então coligados. Ocorre uma inversão de papéis. Ao mudar de lado, o delator promove tiroteio entre advogados. Para alguns, importa garantir a liberdade provisória, mesmo sob o aperto de uma tornozeleira eletrônica. Nas praças de guerra de Curitiba e Brasília, a palavra continua a ser a principal arma. É usada para desvendar a guerra iniciada há anos, quando um grupo de combatentes começou a cercar a fortaleza da Petrobras, utilizando armas leves que, ao longo do tempo, ganharam maior calibre. Os recursos – doações, propinas – enchiam cofres de uma poderosa rede de mando. Conquistas foram alcançadas, suprindo, na vanguarda, campanhas políticas e, na retaguarda, cabos eleitorais e exércitos intermediários. As batalhas, ao se aproximarem dos Senhores da Guerra, chegaram a uma intensidade nunca d’antes vista. Na paisagem devastada, alguns chefes de exércitos usam estratégias diferentes.



Política

UM ANO SEM Eduardo Campos

Cheio de políticos da oposição e situação, homenagem ao ex-governador de Pernambuco, ganha declarações emocionadas e tom político em Recife Por LUAN MATIAS

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onsiderado por muitos analistas políticos como um dos nomes mais promissores da nova geração de líderes políticos brasileiros, Eduardo Campos teve sua vida subitamente interrompida em agosto do ano passado. Então candidato à presidência da república, faleceu em um trágico acidente aéreo, no litoral paulista. Na segunda-feira (10), um evento realizado no Recife, em memória do ex-governador de Pernambuco, envolveu a viúva Renata Campos, os filhos e vários políticos brasileiros, como o ministro da Defesa, Jaques Wagner (PT); o presidente do PSDB, senador Aécio Neves; a exsenadora Marina Silva (PSB); além dos governadores Geraldo Alckmin (PSDB-SP), Paulo Câmara (PSB -PE) e Ricardo Coutinho (PSB-PB). Várias homenagens estão sendo realizadas no mês que não apenas marca um ano da morte de Eduardo, mas celebraria os seus 50 anos. A intenção da família Campos é não dar ênfase a trágica morte. “Os eventos são para marcar a trajetória de um homem de 49 anos que fez tudo o que ele fez. O importante é dizer que estamos pensando no que Eduardo fez e no que ele faria se tivesse entre nós”, disse o jornalista Evaldo Costa, presidente estadual da Fundação 30

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João Mangabeira, entidade ligada ao PSB e responsável pelo calendário de atividades. Conhecida por ser bastante ativa nos bastidores da vida política do marido, Renata Campos fez um emocionante discurso no evento que abriu as homenagens. “Ele tinha uma grande vontade de transformar a vida das pessoas, de fazer de Pernambuco um bom lugar para trabalhar, mas ainda melhor para viver“, disse. Ela ainda acrescentou que Eduardo “faria diferença na construção do novo Brasil que ele tanto sonhava”, pois tinha grande “capacidade de diálogo e de realizar”. O governador Ricardo Coutinho também destacou a capacidade gestora de Eduardo e a importância

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Família recebe busto do exgovernador. Abaixo, Marina Silva discursa em solenidade


Homenagem a Eduardo Campos reuniu Alckmin, Aécio e Jaques Wagner no mesmo espaço ainda presente de suas ações. “Ele semeou uma visão estratégica de gestão, uma perspectiva diferenciada de se fazer política e fez muito bem a Paraíba”. Coutinho também frisou a necessidade do PSB superar a perda da sua maior liderança. Como não poderia ser diferente, a presença de representantes de partidos rivais trouxe aos discursos um tom político, que variou entre críticas e defesas ao Governo Federal. Embora em tom mais ameno do que costumeiramente tem adotado, o senador Aécio Neves não deixou de criticar o atual momento do Brasil. “Os governos são circunstanciais, efêmeros, passageiros. Por maior ou menor tempo, eles se vão. Mas o Brasil não, ele está aí para ser construído,

e será construído quando nós todos tivermos capacidade de olhar para o futuro, e não apenas para o dia de hoje”, declarou. Já o ministro Jaques Wagner utilizou a história de Eduardo Campos para defender o trabalho do governo. “Eduardo também enfrentou derrotas e vitórias, mas nunca desistiu porque quem trabalha por um ideal não desiste nunca. E por isso a frase dele de que não vamos desistir do Brasil, porque nós temos um trabalho”, disse o petista. Além dos discursos emocionados e os políticos, a cerimônia contou com poesias, música e um vídeo que narrou a história pessoal e política de Eduardo. “Celebrar seus 50 anos sem a sua presença física é muito doído. A Fotos: Divulgação

saudade é enorme. Mas saber que sua vida, suas ideias, suas bandeiras, sua história nos trazem até aqui, nos mantêm unidos e vivos”, discursou Renata. No dia 11/08, o prefeito do Recife, Geraldo Júlio, assinou três projetos de Lei que nomeiam o Centro Comunitário da Paz - Compaz do Alto da Terezinha, a Creche-Escola da UR-5 e a Upa 24 Horas da Mangabeira/ Bomba como “Governador Eduardo Campos”. A solenidade aconteceu na obra do Compaz e contou com a participação de Paulo Câmara e familiares de Eduardo. As homenagens ao ex-governador vão até o final do mês de agosto e as programações acontecem não só na capital pernambucana, mas também no interior do estado e em Brasília.

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Benefícios reembolsáveis e sociais: Mútua sempre ao lado do profissional Os profissionais com registro nos Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia (Creas) de todo o País, que buscam oportunidades de crescimento na carreira e segurança para eles próprios e suas famílias, encontram na Mútua (Caixa de Assistência dos Profissionais) a parceira ideal. A Instituição oferece soluções em benefícios diferenciados que proporcionam melhor qualidade de vida e ajudam os profissionais a alcançarem seus objetivos, seja um carro novo, uma viagem, uma pós-graduação, um upgrade no seu empreendimento, ou outros. Na Paraíba, a sede da Mútua fica localizada na Av. Pedro I, 827 – Centro. São quase mil associados, mas a Regional tem o objetivo de ampliar o número de profissionais inscritos, que poderão usufruir dos serviços disponibilizados pela Caixa de Assistência. Diretor Geral da Mútua na Paraíba, o engenheiro Antônio da Cunha Cavalcanti, destaca que está sendo feito um trabalho de divulgação entre os profissionais e isso acontece através da participação em eventos, palestras em instituições de ensino e, também, com ações desenvolvidas em parceria com o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Paraíba (Crea-PB). “São muitas as vantagens em ser sócio da Mútua. Disponibilizamos onze benefícios reembolsáveis (linhas de crédito), com taxas de juros especiais, voltados a atender as diversas necessidades do profissional e seus dependentes. Eles têm à disposição os benefícios Ajuda Mútua, Garante Saúde, Equipa Bem, Férias Mais, Apoio Flex, Construa Já, Família Maior, Educação, Veículos, Empreendedorismo e Agropecuário”, elenca. Além disso, a Caixa de Assistência está ao lado dos associados com o amparo necessário nas horas difíceis. A Mútua oferece benefícios sociais, de caráter não reembolsável, para os associados carentes de recursos por meio de ajuda de custo mensal e, em casos de falecimento do associado, o Auxílio Pecúlio por morte garante indenização a seus dependentes e também um auxílio para despesas com funeral e encargos. Na área de planos de saúde, o contrato da Mútua com a Qualicorp garante os melhores convênios do Estado. O Diretor Geral da Mútua na Paraíba enfatiza ainda, que além dos benefícios reembolsáveis e sociais, os mutualistas podem contratar um plano de previdência complementar e, assim, garantir um futuro tranquilo com estabilidade financeira. Ganhar descontos em produtos e serviços é outra vantagem assegurada aos sócios da Mútua, através de convênios firmados com diversas empresas, dos mais variados ramos, como hotelaria e educação. Para ser um mutualista, o profissional com registro no Crea-PB pode ir até a sede da Mútua ou acessar o site da Caixa de Assistência (www.mutua-pb.com.br) e efetuar o cadastro. Outras informações podem ser obtidas através dos telefones (83) 3241-5233 ou 0800 61 0003.


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CONHEÇA ALGUNS DOS BENEFÍCIOS OFERECIDOS AOS ASSOCIADOS DA MÚTUA Família Maior Recursos para custeio de despesas provenientes de gestação, adoção, matrimônio e núpcias. Educação Auxílio financeiro para a realização de cursos técnicos, aperfeiçoamento, graduação, especialização, extensão, mestrado, doutorado, oferecidos por instituições de ensino legalmente habilitadas para tal, visando promover uma melhor capacitação do associado. Empreendedorismo Linha de financiamento para utilização em investimentos fixos e capital de giro no intuito de colaborar com sua atividade microempreendedora. Veículos Para o associado e dependentes na aquisição de veículos a serem utilizados para deslocamentos pessoais ou profissionais. Garante Saúde Assistência médica, hospitalar, odontológica e para aquisição de medicamentos. Ajuda Mútua Conceder, sob a forma de empréstimo, auxílio financeiro mensal ao associado, quando este encontrar-se desempregado temporariamente, se for profissional liberal com falta eventual de trabalho ou ainda em casos de invalidez temporária. Construa já Recursos financeiros para construção, reforma ou ampliação de residência ou escritório, pagamento de mão de obra, aquisição de equipamentos, móveis planejados e materiais.

Mútua de Assistência dos Profissionais do Crea-PB Av. Dom Pedro I nº 827 – Centro www.mutua-pb.com.br / (83) 3241-5233 ou 0800 61 0003 Atendimento ao público: Seg. a Sex. / 8h às 16h30


Opinião

Ipojuca PONTES ESCRITOR E CINEASTA

Inversão burlesca

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omo o Palhares, personagem de Nelson Rodrigues, Lula é o político que, por vezes, incorpora a má fé cínica que faz praça da obtusidade córnea. (Na crônica do dramaturgo pernambucano, Palhares, certa feita, quando se viu sozinho num corredor de hospital, beijou a cunhada, enquanto a esposa, no leito da enfermaria, exalava os últimos suspiros de uma doença terminal – o câncer). Já Leonel Brizola, o fogoso centauro dos pampas (metade homem, metade cavalo), enfrentando Lula em eleições presidências ordenadas pelos métodos de foice e martelo empregados pelo PT, não pestanejou em definir o oponente como um “sapo barbudo”, o sujeito que, para chegar ao poder, “seria capaz de pisar o pescoço da própria mãe”. E olha que em matéria de eleições cavadas e baixa politicalha, o cultor do “socialismo moreno” tinha atingido um grau de excelência. De fato, o Lula é espeto. Agora mesmo, quando se vê acossado por acusações de que o seu Instituto Lula e a empresa de Eventos e Palestras Lils (iniciais de Luiz Inácio Lula da Silva) teriam recebido dinheiro de empreiteiras que espoliaram a Petrobras em mais de R$ 7 bilhões - o que faz o vosso líder carismático? Ele faz o seguinte: no bunker do Instituto Lula, em São Paulo, cercado pela platéia cativa de sindicalistas aliados, vocifera, enfático, que a encalacrada facção do PT comunista “está sendo perseguida como os judeus pelos nazistas”. Nesta afirmação enganosa, a obtusidade córnea atinge seu ponto crítico. De fato, mesmo levando em conta que Lula se mostra incapacitado para enfrentar a leitura de compêndio histórico mais complexo, nunca será demais lembrar que a inversão burlesca dos fatos tem seus limites. Como denunciam inúmeros historiadores isentos, a violência nazista, levada adiante pelo Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, tem suas raízes fincadas nas práticas encetadas pelo Partido Comunista soviético, antes e depois da revolução Bolchevique de 1917. Em essência, Hitler copiou literalmente os métodos criminosos aplicados contra o povo russo por Lenin e sua camarilha vermelha para tomar e manter o poder na extinta URSS.

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(Paul Johnson, no enciclopédico “Tempos Modernos”, considera que, em matéria de perseguição, as diferenças entre nazismo e comunismo são basicamente as trocas do burguês pelo judeu e a substituição do símbolo da foice e martelo pela cruz suástica). Os nazistas perseguiram, saquearam, isolaram os judeus em campos de concentração e, pela adoção da “Solução Final”, asfixiaram em câmaras de gás mais de seis milhões de prisioneiros. Ora, no Brasil, com os comunistas do PT, dá-se justamente o contrário. Aqui, basta olhar em redor para constatar que a vasta nomenclatura petista vive atrelada aos empregos públicos das estatais, ongs e boquinhas ministeriais, abusando do uso de cartões corporativos, das mordomias palacianas e, o que é pior, impondo sua sanha revolucionária, impunemente, nos campos e nas cidades. O próprio Lula, de operário ascendeu à condição de burguês fidalgo, com casa de campo e apartamento (triplex) em balneário de luxo, nutrido em boas refeições e ternos da moda, deitando o seu falatório agressivo contra a realidade dos fatos, No momento, temeroso das possíveis consequências, o líder petista recorreu ao Ministério Público pedindo a suspensão do procedimento investigativo criminal aberto para apurar sua conduta no questionado caso de tráfico de influência, no exterior, em favor da Odebrecht. (Como é público, a poderosa empreiteira fez do líder petista agente estratégico para facilitar negócios em Cuba, Venezuela, República Dominicana e países da África). A Corregedoria negou. E enquanto o país desanda numa crise política e econômica grave, com inflação de dois dígitos pelo desacerto de um governo perdulário que fala muito em “ajuste fiscal”, um novo escândalo estoura na praça: a Polícia Federal e o Ministério Público estão investigando as obras do “Museu Lula”, orçadas em R$ 14.5 milhões, mas cuja licitação o Tribunal de Contas do Estado julgou irregular. O museu tem por objetivo realçar a figura do “Príncipe Moderno” (imagem de Gramsci), mas a construção está navegando em banho-maria, pois seus executores querem mais R$ 3 milhões da Viúva.


CADERNO ESPECIAL

Universidade Federal da Paraíba

60 anos dE AVANÇOS HISTÓRIA, desafios e perspectivas Formação socioeconômica da Paraíba deve à UFPB as bases educativas e intelectuais. De José Américo a Margareth Diniz, processo histórico constata crescimento continuado com necessidade de mais conquistas na Graduação, Pós-Graduação e Extensão. Este é o desafio Por Onivaldo Júnior Fotos Oriel e Arion Farias


Caderno Especial

UFPB SE CONSOLIDA NA FORMAÇÃO DA PARAÍBA

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á seis décadas, muito antes de existirem programas como Sisu, Prouni ou Ciência Sem Fronteiras, eram poucas as oportunidades de se ter acesso a um curso superior no Brasil. O país vivia um contexto de ensino tecnicista, voltado para a mão de obra, e pouco valor era dado à pesquisa científica. Criada no dia 02 de dezembro de 1955, como resultado da junção de algumas escolas superiores, a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) tem muito a contar sobre essa transformação no ensino desde a década de 50 até os dias de hoje. No ano em que comemora 60 anos de fundação, a Revista NORDESTE buscou conhecer os principais fatores que levaram a esta evolução quantitativa e qualitativa no ensino superior oferecido atualmente pela instituição. Hoje expandida em quatro Campi – João Pessoa, Areia, Bananeiras, Litoral Norte, única com esse formato na federação, a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) conta com mais de 37 mil alunos em 139 cursos de graduação, 15 de especialização, 57 de mestrado e 34 de doutorado. A instituição tem 47% dos cursos com conceito 4 e 25% com conceito 5 pela Capes, confirmando a excelência no ensino. O corpo funcional também revela a grandiosidade do órgão, são 2.665 docentes e 3.586 técnicos adminis-

Reitora Margareth Diniz em evento de lançamento da marca dos 60 anos da UFPB 36

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trativos. Por esses e outros motivos, foram capacitados de 2014 a 2015 a UFPB tem desenvolvido papel cerca de 14 mil educadores. importante no desenvolvimento A interação da UFPB com a do ensino e no fomento à pesquisa sociedade ao longo dos anos tem científica no estado e no país. avançado em três frentes: o incenA atual reitora da Universidade tivo ao ensino, a pesquisa e produFederal da Paraíba, a professora ção científica, três pilares caros à Margareth Diniz, ressalta a imporinstituição observados desde a sua tância da instituição: “A UFPB vem fundação e que têm sido ampliados colaborando com o desenvolvimencom o passar dos anos. Para comto do Brasil e, em particular, com preender melhor como se deu esse o da Paraíba com contribuições crescimento e avanço, é preciso ao ensino e à pesquisa, formando estabelecer uma relação entre as profissionais e pesquisadores de mudanças ocorridas na História alto nível, há quase 60 do Brasil e da Paraíba anos”. (veja matéria nesta ediSegundo a reitora, ção), que influenciaessa colaboração pode ram ou foram acompa37 mil ser percebida em como nhadas pela evolução Alunos a universidade buscou da Universidade. e apresentou propostas Desde sua criação 139 de soluções objetivas e ao longo de toda Cursos para problemas regiosua história, a UFPB nais feitas pelos pesvem cumprindo um 73 quisadores do órgão. papel fundamental na Programas No quesito educação, promoção do ensino, Pós-graduação Margareth explica que da pesquisa e da exa UFPB tem contritensão. Outro aspecto 103 Cursos de buído para atender as onde o peso da univerPós-graduação demandas da educação sidade é inegável vem básica na Paraíba. de seu orçamento de 4.500 Entre os projetos em mais de R$ 1,2 bilhão. Pós-graduandos nos execução, está o ProValores que configucursos de mestrado ram o segundo maior grama de Melhoria e doutorado da Educação Básica – orçamento do estado, Promeb, que tem por atrás apenas do da Cafinalidade contribuir pital, João Pessoa. para o aumento da qualidade de enAlém da contribuição financeisino da Educação Básica - Infantil, ra, há o investimento na esfera da Fundamental e Médio - e Superior educação superior, naturalmente no estado. O programa visa a mefazendo parte da missão da instituilhoria do processo de ensino e de ção. Através de todas essas frentes, aprendizagem aos alunos das escoa UFPB pode ver hoje o reconhecilas públicas, além de proporcionar mento social como resultado de sua aos estudantes universitários dos histórica contribuição, tanto para o cursos de Licenciatura a prática avanço científico e tecnológico repedagógica. A instituição coordena gional, quanto para a formação de ainda Programas do MEC, em parquadros profissionais de excelência ceria com a Secretaria da Educação para o Estado da Paraíba e para o dos estados e municípios, onde já restante do país.

ENSINO

Números da excelência No ensino de graduação, de 2005 para 2011, o número de cursos aumentou de 50 para 104. O número de estudantes matriculados aumentou de 18.759 para 29.629, hoje chega a 37 mil. No ensino de pós-graduação, o número de cursos de mestrado aumentou de 32 para 50 e os de doutorado de 470 para 1.290. A melhoria acadêmica da UFPB ao longo dos anos é incontestável. Nas avaliações do ensino superior, o MEC utiliza o Índice Geral de Cursos Avaliados da Instituição (IGC), que vai de 1 a 5. A UFPB tem IGC igual a 4. Na pós-graduação, mais de 60% dos cursos obtiveram conceitos do sistema MEC/CAPES acima da nota média. A pesquisa e a produção científica da UFPB são muito bem referidas nacional e internacionalmente. Na Extensão, a UFPB também é referência atuando em oito áreas temáticas: Comunicação, Cultura, Direitos Humanos, Educação, Meio Ambiente, Saúde, Tecnologia e Trabalho. A instituição oferece o Programa de Bolsas de Extensão (PROBEX) para estudantes de graduação. As fontes de financiamento da extensão vêm de recursos da própria UFPB, de editais do Ministério da Educação(MEC), a exemplo do PROEXT, além de incentivos da Petrobrás e Banco do Nordeste. São 11 programas de Pósgraduação desenvolvidos em associação com outras Instituições de Ensino no Brasil. “Graças ao esforço empreendido, não só na Administração Central, mas em todos os Centros, o trabalho que vem sendo realizado já apresenta indicadores acadêmicos de qualidade, o que coloca a UFPB no lugar de destaque que merece”, pontua a reitora, garantindo que um trabalho coletivo e articulado.

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principais dirigentes do Estado estudaram na ufpb

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ara celebrar os 60 anos da inspromotora do desenvolvimento do tituição, uma parte das ativiestado”, considerou. dades comemorativas resgatará um passado da UFPB, que atingiu, Comemorações direta ou indiretamente, todas as A comissão organizadora das famílias da Paraíba. “A Universidacomemorações de 60 anos da UFPB de sempre foi aliada na busca de soconta com representantes de todos lução para este quadro crônico (do os 16 centros e dos quatro Campi Nordeste). Se nós acompanharmos da instituição. Rabenhorst destaca esses 60 anos, a UFPB formou os que nem todas as atividades proprincipais quadros digramadas acontecerão rigentes do Estado em dentro do espaço físico todos os níveis: Execudos Campi. tivo, Legislativo, JudiA programação de2.665 ciário e nos quadros do finida por esta comisDocentes setor privado. Ela tem são comportará evenum papel decisivo na tos diversos, de cunho 3.586 construção do Estado científico, artístico, Técnicos da Paraíba. A História cultural, com exposiadministrativos da UFPB se confunção de material fotode com a História da gráfico, de obras doa52% De técnicos Paraíba no Século XX, das pelo artista plásadministrativos e neste primeiro motico Hermano José, e têm especialização, mento do Século XXI”, também do acervo da mestrado e destaca o vice-reitor pinacoteca da UFPB, doutorado Eduardo Rabenhorst. O concertos musicais vice-reitor coordena o com a Orquestra Sinfô70% evento comemorativo nica (OSUFPB), Coral Dos docentes dos 60 anos e prepara Universitário Gazzi de são doutores, o uma série de atividaSá, o grupo Camena, o que permitirá o des acadêmicas e culQuarteto de Trombocredenciamento turais alusivas à data. nes, o Rubacão Jazz da UFPB no As atividades começam Tordesilhas, formado entre outros. por renomadas no mês de julho e prosAinda fazendo paruniversidades do seguem até dezembro. te das comemorações, mundo “É um momento exa Editora Universitária tremamente importanestará lançando 70 te, porque a data é, por livros, alguns específidemais, significativa. São 60 anos cos à comemoração da UFPB. de criação da Universidade Federal O calendário já existente de da Paraíba. De lá pra cá, a UFPB tem eventos programados será adaptado desempenhado um papel importanpara abrigar as atividades alusivas, tíssimo. Ela é um motor do desencomo a Semana do Servidor, na úlvolvimento econômico, cultural, em tima semana de outubro, que aprotodos os sentidos, uma instância veitará a ocasião para homenagear

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“UFPB formou os dirigentes do Estado em todos os níveis: Executivo, Legislativo, Judiciário e nos quadros do setor privado. Ela tem um papel decisivo na construção do Estado da Paraíba” Eduardo Rabenhorst Vice-reitor da UFPB os servidores ativos e inativos, por exemplo. Além da participação de todos os Campi e centros, os festejos também terão participação direta dos diversos segmentos humanos da UFPB: alunos, docentes e servidores. Representantes do corpo estudantil, dos sindicatos dos servidores técnicos e docentes, que construirão atividades que tenham a ver com sua particularidade. “É uma festa colaborativa”, sintetiza Eduardo Rabenhorst.


Galeria dos Reitores Durmeval Bartolomeu Trigueiro Mendes 1955 a 1956

Mário Moacyr Porto 1960 a 1964

Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque 1976 a 1980

José Jackson Carneiro de Carvalho 1984 a 1988

Jader Nunes de Oliveira 1996 a 2004

José Américo de Almeida 1956 a 1957

João Toscano Gonçalves de Medeiros 1957 a 1960

Guilardo Martins Alves 1964 a 1971

Milton Ferreira de Paiva 1980

Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega 1971 a 1975

Berilo Ramos Borba 1980 a 1984

Antônio de Souza Sobrinho 1988 a 1992

Neroaldo Pontes de Azevedo 1992 a 1996

Margareth de Fátima Formiga Melo Diniz Desde 2012

Rômulo Soares Polari 2004 a 2012

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NO DECORRER DOS ANOS, FATOS MARCAM HISTÓRIA

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ano era 1955. A educação brasileira, influenciada pelo modelo do presidente Juscelino Kubitschek, era impulsionada pelas necessidades de desenvolvimento e valorização do ensino profissionalizante. Educar para o trabalho. A essa altura, metade da população brasileira não tinha domínio sobre o processo de leitura e escrita. É em meio a esse panorama que o governador José Américo de Almeida, funda a Universidade da Paraíba, a partir do curso de Agronomia, um dos primeiros a ser oferecidos no estado, pela Escola Agronômica do Nordeste, que, desde a década de 1930, funcionava no município de Areia, a 130 km da capital, João Pessoa. Após reunir outros dez cursos, a Universidade se fortaleceu e, em 1960, a partir da lei federal Nº 3.835, concretizou a sua federalização, ganhando o nome de Universidade Federal da Paraíba. A partir de sua federalização, a UFPB desenvolveu uma crescente estrutura multicampi, distinguindo-se, nesse aspecto, das demais universidades federais do sistema de ensino superior do país que, em geral, têm suas atividades concentradas num só espaço urbano. Essa singularidade expressou-se por sua atuação em sete campi implantados nas cidades de João Pessoa, Campina Grande, Areia, Bananeiras, Patos, Sousa e Cajazeiras, até 2002. A historiadora Solange Aparecida Zotti relata que, entre 1961 e 1964, houve um aumento de 5,93% nos investimentos destinados à educação, o que desencadeara uma série de decretos que redireciona40

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Diretores da Universidade da Paraíba inspecionam obras do Campus ram o ensino superior, o secundário e o ensino profissionalizante; porém, essa reforma não conseguiu efetivar a renovação cientifica da educação brasileira. Esse foi o período marcado por constantes desafios, entre eles, o de acompanhar uma transformação na História do Brasil que afetaria, significativamente, o comportamento da comunidade estudantil: a Ditadura Militar. O Ato Institucional nº 5 instituiu o banimento do livre-arbítrio por parte da imprensa e reduziu a liberdade de explanação, o que levou muitos professores, cientistas e artistas brasileiros a deixarem o país por causa da perseguição política que proibia qualquer manifestação em universidades. O Estado atingiu o mais alto grau de autonomia, onde muitas pessoas foram desaparecidas, torturadas, presas e assassinadas. A UFPB, no entanto, resistiu a este cenário, tendo em seu corpo docente e entre os alunos e servidores muitos militantes da luta contra a ditadura. Os anos 70 foram de muita

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Governador Flávio Ribeiro Coutinho, à esquerda. Ao centro o ex-governador José Américo de Almeida e a direita Durmeval Trigueiro Mendes, reitor da Universidade da Paraíba

Abaixo, construção do Hospital Universitário da UFPB

Ginásio de Esportes inicia trabalhos para sua construção

produtividade e criação de novos cursos no ambiente acadêmico, sobretudo no Campus I, em João Pessoa, onde surgiram os cursos de Licenciatura em Educação Artística e de Bacharelado em Música, por exemplo. O início da década de 1980 viu a derrubada da ditadura e o surgimento da democracia, a partir da aprovação das eleições diretas para presidente. A partir das décadas de 1970 e 1980, com modificações nas matrizes curriculares da educação básica, o ensino médio – então conhecido como “2º Grau” – passou a priorizar um ensino voltado a preparar os alunos para o ingresso nas universidades, por meio do concurso vestibular. Foi uma época de intensificação de cursos supletivos, também preparatórios para o ensino superior. A procura pelos cursos de graduação ganhou maior importância, sobretudo a partir do seu objetivo voltado à pesquisa, apesar de ainda serem poucas, na ocasião, as ofertas pela pós-graduação. Esse foi o panorama do ensino na UFPB até a década de 1990, após a qual aconteceu uma redução no número de campi. Em 2002, a UFPB passou pelo desmembramento de quatro dos seus sete campi com a criação da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). A partir de então, a UFPB ficou composta legalmente pelos campi de João Pessoa (capital), Areia e Bananeiras. Em 2005, já na gestão de Rômulo Soares Polari, mais um campus foi implantado no Litoral Norte do Estado, abrangendo os municípios de Mamanguape e Rio Tinto. Em 2012, a UFPB elegeu a primeira mulher a assumir o cargo de reitora. Trata-se da professora Margareth de Fátima Formiga Melo Diniz, ex-diretora do Centro de Ciências da Saúde do Campus I.

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Caderno Especial

Gestão atual supera desafios

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comemoração dos 60 anos de fundação da UFPB encontra a instituição buscando superar alguns obstáculos, como obras inacabadas deixadas por gestões anteriores e a ampliação da pesquisa. “Nos deparamos com problemas de toda ordem. Entretanto, o nosso compromisso com a UFPB é maior que o passivo recebido de administrações anteriores”, lembra a reitora Margareth Diniz. A gestora destaca, por exemplo, o que classifica como mau planejamento e má execução do Plano de Reestruturação e Expansão das Universidade (Reuni) feito pela gestão anterior. O Reuni possibilitou a construção de novos prédios para o Campus da UFPB, mas as obras sofreram atrasos por diversos motivos, entre eles a substituição de algumas construtoras. “Com os recursos deste Programa do governo federal, a UFPB quase que dobrou de tamanho. No entanto, o fato é que crescemos quantitativamente, porém, o subdimensionamento ocorrido na elaboração dos projetos e a ineficiência constatada na execução do Plano, não permitiu que esse momento de bonança fosse transformado em reciprocidade qualitativa”, explica Margareth, acrescentando que está trabalhando para concluir as obras do Reuni. “É preciso definir todos os projetos

complementares, além das licenças. Essa é uma tarefa extremamente difícil, considerando que temos de buscar novos recursos para concluirmos essas obras”, completou. Entre as obras paralisadas, a reitora lembra que uma delas está localizada exatamente na entrada do prédio onde funciona a Reitoria da UFPB. “Não é fácil entrar na reitoria e ver da janela do nosso gabinete de trabalho um prédio inacabado, considerando sua importância para as artes e a cultura, se estivesse em pleno funcionamento. Portanto, assim como os demais membros da comunidade universitária da UFPB, eu convivo diariamente com essa realidade”, conta. Atualmente, existem seis obras em andamento, 41 concluídas, 39 paralisadas e 19 a iniciar. A reitora, entretanto, se diz atenta à resolução do problema, e ordenou a elaboração de um inventário, com memorial descritivo, e dos projetos complementares - elétrico, hidrosanitário e de lógica. “Restabelecemos a interlocução com o Corpo de Bombeiros e a Prefeitura Municipal de João Pessoa, para realização de Termo de Ajustamento de Conduta, que garanta a obtenção dos instrumentos legais exigidos no início da realização de toda e qualquer obra”, assegurou.

combate à asma

mercado. A UFPB detém a patente sobre fabricação do medicamento. A previsão é de que no início de 2013 o chá medicinal esteja à venda. A pesquisa é feita pelo Instituto de Pesquisa em Fármacos e Medicamentos (IPEFARM) e faz parte do programa de PósGraduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos, Capes nível 6, único na área de farmácia do Norte/Nordeste e Centro-Oeste com este nível.

A UFPB desenvolve pesquisa com a Cissampelos sympodialis (também conhecida como Milona e Orelha de Onça). A planta está prestes a virar remédio e é utilizada no tratamento de asma, resfriados, bronquite e renite alérgica. Ela é encontrada no semiárido e consegue ser mais eficiente que alguns dos produtos químicos do 42

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Margareth conta que apresentou ao Ministério de Educação um minucioso levantamento de todas as obras existentes na instituição, com os respectivos percentuais que aferem as fases de cada uma delas. “Esta ação garantiu recursos no valor de R$ 5 milhões, reforço que irá contribuir, juntamente com as outras medidas adotadas, de forma definitiva, para a conclusão da maioria das construções em andamento”, garante Marga-

reth, afirmando que há possibilidade concreta de novo aporte financeiro do Ministério da Educação. Cortes no Orçamento A reitora vê com preocupação a possibilidade de cortes orçamentários pelo Governo Federal, e entende que os valores anunciados correspondem a redução de 10% de custeio e mais de 40% de capital, o que im-


mais OPORTUNIDADES CAPACITAÇÃO • Mais de 23% de servidores capacitados • Foram certificados mais de 1.500 servidores

Novos prédios da UFPB. Obras inacabadas deverão ser retomadas com aporte financeiro federal plica em impacto significativo no desenvolvimento do trabalho que a instituição está realizando. Entretanto, revela confiança no enfrentamento do problema. “Esta redução orçamentária que poderia inviabilizar o funcionamento das rotinas dos cursos de pós-graduação, como a realização de bancas de qualificação e de defesa, aquisição de insumos para a pesquisa, funcionamento de laboratórios, manutenção de equipamentos, entre outros, além de impactar no cumprimento das metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação (PNE) e no Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG), será suprida pela nossa gestão, que garantirá, com recursos do orçamento, igual valor dos recursos repassados pela CAPES”, adianta. “Trabalhamos para superar as dificuldades ocasionadas por esse momento do pais. Entendemos que esse fato não deve mudar a rota dos avanços científicos já conquistados”, completa.

Graduação • Aumento de vagas para bolsas-estágio e monitoria • Aumento no valor das bolsas de ensino • Programa de Licenciaturas foi ampliado de 762 em 2012 para mais de 1.200 bolsas • Programa de valorização da docência foi ampliado - 10 licenciaturas em 2012, hoje 19 • Será inaugurado núcleo interdisciplinar de ensino, pesquisa e extensão em Mangabeira • Instituição referência de Extensão no Brasil • UFPB foi a Instituição no Brasil que mais aprovou projetos no Programa de Extensão Universitária de 2013/2014 e 2014/2015 • No Mais Cultura nas Universidades foi aprovado projeto de mais de R$ 1 milhão (só 18 projetos foram contemplados) Ciência sem fronteiras • UFPB já concedeu 531 bolsas de estudo Iniciação Científica • Cerca de 70 % dos alunos vindos do programa migram para a pósgraduação • 3% dos alunos no ensino presencial (graduação) são bolsistas de iniciação cientifica - número 3 vezes maior que a média nacional, • de 1%. • Enquanto as bolsas do CNPq aumentaram em 0,6 % entre 2012 e 2014, as bolsas financiadas com recursos da UFPB aumentaram em quase 50% • Entre 2012-2014 houve incremento de 22% no número total de bolsas de Iniciação Científica • Foi criado o Programa Pró-PIBIC que financia itens de custeio indispensáveis à execução dos projetos pela atual gestão Biblioteca, TV e Editora • R$ 2 milhões para compra de livros para a Biblioteca da UFPB • Em 2013 e 2014 a Editora Universitária publicou 145 títulos • 70 títulos em processo de diagramação e editoração com lançamentos previstos para outubro como parte das comemorações dos 60 anos • Projeto para criação de uma livraria móvel • Comercialização de livros via site da editora • Previsão de posterior publicação de e-books. • TV UFPB passa por reestruturação e está sendo pleiteando ao Ministério das Comunicações concessão de rádio FM

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REITORA AVALIA CONJUNTURA, VÊ

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o tomar posse em 2012, a reitora Margareth Diniz fez questão de agradecer a presidenta Dilma Rousseff (PT) por tê-la empossado sem se deixar “dobrar a pressões nem a artifícios jurídicos”. A reitora estava conseguindo tomar a investidura do cargo após uma série de choques dentro instituição com a oposição, que até então estava no comando da UFPB, pedindo novas Revista NORDESTE: A senhora tem uma carreira acadêmica de reconhecido sucesso como professora, pesquisadora e orientadora de PósGraduação. Como é ser Reitora da UFPB, nessa condição? Margareth Diniz: Sou extremamente agraciada pelo fato de que a UFPB quis mudar o seu comando pelo viés da qualificação. Recebi a condição de Reitora como um gesto de confiança que me foi generosamente atribuído em parte pela minha história administrativa na Direção do Hospital Universitário Lauro Wanderley e na Direção do Centro de Ciências da Saúde. Mas, certamente foi muito mais no reconhecimento do trabalho docente meu, e do Vice-Reitor Professor Doutor Eduardo Rabenhorst, nas ações de ensino, pesquisa e extensão, que a comunidade universitária fez da autoridade acadêmica o requi-

“trabalhamos para esgotar um passivo descomunal que encontramos. Temos recebido o devido suporte da Advocacia Geral da União, que nesta gestão está sob nova orientação. Mas é um quadro gravoso, de difícil equacionamento” 44

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eleições, após amargar a derrota. A gestora encontrou uma instituição com obras paradas e estudantes descontentes. “Encontramos um passivo descomunal”, afirma a reitora ao se referir as dificuldades herdadas. Apesar disso, os números apresentados pela reitora mostram um avanço inequívoco e apontam para uma ação firma e equilibrada frente a crise econômica instalada no país.


AVANÇOS e garante concurso sito prevalecente para aqueles que seriam as autoridades máximas de uma instituição de ensino da natureza da UFPB. A nossa dedicação profissional foi e continua sendo exclusivamente para a UFPB. Resistimos a todos os convites para o exercício de atividades fora da UFPB. Exercemos esse papel com responsabilidade e amor à causa universitária. Nunca é demais lembrar a grandeza da nossa instituição, no contexto do nosso Estado. A UFPB agiganta a Paraíba oferecendo educação de qualidade, além de propiciar alternativas do melhor quilate para atender aos seus anseios sociais. NORDESTE: Como a senhora recebeu a UFPB? Margareth: Trabalhamos para esgotar um passivo descomunal que encontramos. Temos recebido o devido suporte da Advocacia Geral da União - AGU, através da nossa Procuradoria, que nesta gestão está sob nova orientação. Mas é um quadro gravoso, de difícil equacionamento. Não recebi uma universidade preparada ou aparelhada para contemplar as demandas inerentes a uma instituição como a nossa. Nestes dois anos e alguns meses de nossa gestão, repercutiu negativamente tal despreparo do passado. Essa falta de estruturação, visão e de perspectiva de atualização operacional e acadêmica, foi agravada pelo legado de crescimento desordenado físico pela sua expansão com as obras do Reuni, e pelos cursos criados sem o adequado planejamento de implantação comprometendo a qualidade. Com ousadia e coragem essa gestão tem trabalhado com atenção para superar todas as insuficiências e despreparos, acumulados na última

década. Estamos pagando o preço dessas ausências de planejamento e de visão de futuro. Estamos atualizando a UFPB para abrigar o nível de qualidade que nela se constrói todos os dias, pelo trabalho de todos, docentes, técnicos-administrativos e nossos estudantes. NORDESTE: Quais os avanços do ponto de vista administrativo que

Ranking

Tem conceito 5 e 6* • Pós-Graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos • Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema) • Agronomia • Física • Química • Ciências Biológicas • Zoologia • Ciências Jurídicas • Economia • Linguística • Psicologia Social • Administração 47% dos cursos possuem conceito 4 e 25% tem conceito 5 pela Capes *São atribuídas notas 6 e 7 aos cursos considerados de excelência

podem ser referidos pela sua gestão? Margareth: Do ponto de vista administrativo, avançamos quando reestruturamos os setores de modo a garantir maior eficiência e celeridade nas ações das Pró-Reitorias e suas Coordenações, com a implantação dos Sistemas SIGRH, SIPAC e SIGAA, que funcionam agora de forma integrada, nas áreas de gestão de

pessoas, patrimônio, administração e contratos, e gestão de atividades acadêmicas. A implantação efetiva do SIGA foi feita na nossa gestão. A UFPB tinha adquirido, há anos, mas não conseguia implantar o sistema de gestão acadêmico, o SIGAA, que inclusive não havia sido quitado. Tivemos que realizar pagamentos para a sua disponibilização completa. A parte mais complexa referente a Pró-Reitoria de Graduação, que corresponde a quase 80% do SIGAA, foi implantada e será plenamente operada até o final de 2015. No aprimoramento de procedimentos administrativos destaca-se o fato da UFPB integrar uma das primeiras adesões de todas as instituições federais ao Sistema de Concessão de Diárias e Passagens – SCDP, estando na vanguarda entre os órgãos do Governo Federal. Procedimentos de aquisição de passagens que permeava dias, resume-se a minutos, naturalmente após o cumprimento do rito processual. Estamos promovendo ações para a virtualização dos processos administrativos. Hoje, expedientes são gerados digitalmente, encaminhados instantaneamente em documento digital, evitando gasto desnecessário de papel e promovendo a celeridade processual. NORDESTE: Como está sendo trabalhada a questão dos servidores da instituição? Margareth: Foram implantados os módulos do Sistema Integrado de Gestão de Recursos Humanos - SIGRH, que asseguram a modernização dos procedimentos e rotinas de trabalho, através da otimização, racionalização e automação dos serviços que são prestados aos servidores professores e técnico-administratiAgosto/2015

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Caderno Especial vos, garantindo-lhes transparência, eficiência e eficácia. Investimos muito nos Cursos de Capacitação e Qualificação. Anualmente, são alocados recursos na ordem de um milhão e cem mil reais. Há um plano bianual, consolidado a partir do levantamento das necessidades de capacitação dos ambientes organizacionais, considerando as especificidades das unidades acadêmicas e administrativas da instituição. Em 2014, foram certificados mais de 1.500 servidores, em 60 ações de capacitação, o que representa mais de 23% do total de servidores. Ainda nesse campo, temos o Plano de Qualificação Institucional - PQITEC/UFPB, que visa a prospecção de vagas nos programas de Pós-Graduação stricto sensu, para formação de mestres e doutores na própria Instituição, como também o apoio à qualificação dos técnico-administrativos em instituições nacionais e estrangeiras. Em relação a qualidade de vida, saúde e segurança no trabalho, além das ações de promoção à saúde e vigilância aos ambientes e processos de trabalho, os exames médicos periódicos, que incluem exames laboratoriais, de imagem e clínico de todos os servidores técnico-administrativos e docentes, vêm sendo realizados na nossa gestão. Antes, os recursos destinados pelo Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão para este fim, no final do exercício eram devolvidos. Nesse campo ainda, o Centro de Referência de Atenção à Saúde (CRAS), criado na nossa gestão, é um órgão que tem por finalidade prestar assistência aos membros da comunidade acadêmica e aos seus dependentes, dando respostas às necessidades básicas de saúde, além de contribuir na formação de estudantes universitários e de profissionais que atuam na rede assistencial do SUS, através de uma equipe interdisciplinar de graduação e pós-graduação 46

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em Medicina, Psiquiatria, Psicologia, Serviço Social, Terapia Ocupacional e Medicina Alternativa, cobrindo, inclusive, consultas médica, odontológica, psicológica, de assistência social, de nutrição, de farmácia, de fisioterapia, de terapia ocupacional, de fonoaudióloga e de enfermagem. Reestruturamos o Quadro de Referência dos Servidores Técnico-Administrativo e os Bancos de Professor Equivalente do magistério superior e o de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, significando dizer, que os docentes poderão sair para realização de cursos

ORÇAMENTO

Fontes de recursos do tesouro e próprio, definido em Lei R$ 1.268.179.016,00

Pagamento de pessoal ativo, inativo, pensionista e outras ações correlatas* R$

1.022.250.184,00 Manutenção básica da Universidade

R$

173.584.082,00

Despesas de capital R$

72.344.750,00

*Auxílio transporte, auxílio alimentação, assistência médica e odontológica, sentenças judiciais e capacitação de servidores, dentre outras

de pós-graduação com a garantia de um professor substituto. Iremos realizar concurso para professor titular livre, tão logo o Ministério da Educação autorize o provimento das vagas disponíveis. NORDESTE: Quais os avanços registrados pelas ações da gestão na área dos cursos de Graduação? Margareth: Para o ensino de graduação, com vistas a equilibrar a relação

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entre ingressantes e diplomados, nossa gestão criou em 2014 o programa de tutoria (Protut) que tem por finalidade integrar estudantes com comprovada deficiência em conhecimentos prévios do ensino médio, repetentes ou com baixo índice de aproveitamento. O programa envolve 38 professores e 107 bolsistas. Os estudantes são pagos com recursos próprios da UFPB. Elevamos o valor das bolsas de ensino, além de termos aumentado o número de vagas para bolsa-estágio, monitoria, Prolicen que passaram de 762 em 2012 para mais de 1.200 bolsas, isso somente na graduação. Estimulamos programas, à exemplo do Prodocência, programa de consolidação das licenciaturas, que envolvia 10 licenciaturas em 2012 e hoje hoje está com 19, o que significa um crescimento de quase 100%. Praticamente triplicamos o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid). Em setembro, inauguraremos o núcleo interdisciplinar de ensino, pesquisa e extensão - Niepe, que funcionará no bairro de Mangabeira. Criado pela necessidade de ampliação de espaços voltados para o desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa e extensão dos cursos de graduação em licenciatura e pós-graduação na área de ensino da UFPB. O Niepe será também ambiente de convivência com professores e alunos da educação básica pública que envolva atividades de iniciação pedagógica, científica e tecnológica, contribuindo para a melhoria da qualidade de ensino da educação básica, infantil, fundamental e médio, do estado da Paraíba. No Niepe funcionarão laboratórios onde serão ministradas aulas para estudantes universitários e de ensino fundamental e médio. NORDESTE: Quais as principais ações da Pós-Graduação na UFPB, hoje?


Margareth: O maior desafio já nos primeiros meses de gestão foi reverter o arquivamento de importantes convênios com o MCTI/FINEP. Eram mais de 21 milhões em recursos para aquisição de equipamentos de médio e grande porte, além de algumas obras. Há um esforço, ainda, para recebermos estes e outros recursos da FINEP. Atuamos para consolidar a base de pesquisa com recursos internos, com ações como o Programa de Apoio aos Projetos de Iniciação Científica - PRÓ-PIBIC que tem como objetivo o financiamento de itens indispensáveis a execução dos projetos PIBIC. Trata-se de um Programa-Piloto inédito na UFPB e no país. Numa parceria da PRPG e Progep, foi criado o Programa de Qualificação Institucional – PQI/UFPB - que tem como objetivo primordial ampliar o número de servidores docentes e técnico-administrativos, da UFPB qualificados nos níveis de mestrado e doutorado. Para internacionalizar as atividades de pesquisa e pós-graduação da UFPB, implementamos o Programa de Tradução de Artigos através da contratação de uma das melhores empresas prestadoras deste tipo de serviço: a American Journal Experts - AJE, empresa de reconhecida competência internacional.

também de aprovar, no Edital Mais Cultura nas Universidades - MEC/ MinC, o nosso projeto institucional, concorrendo com 101 outras, com recursos na ordem de mais de 1 milhão de reais. Vale salientar que só 18 projetos foram contemplados e que cada Instituição só poderia enviar um único projeto. Hoje, somos a Instituição referência de Extensão no Brasil.

NORDESTE: E quanto a extensão? Margareth: No nosso reitorado, a extensão Universitária vem sendo tratada como um importante pilar da missão da Universidade. Equiparamos o valor da bolsa de extensão com as de pesquisa e elevamos o número de concessões. Conseguimos colocar a UFPB como a Instituição que mais aprovou projetos no Proext 2013/2014 e 2014/2015. Com isto, obtivemos o 1º lugar dentre todas as Instituições Públicas de Ensino Superior do Brasil. Estamos aguardando o resultado de 2015/2016. Acabamos

vestimentos na compra de livros, coordenados pela Direção da Biblioteca Central, em torno de dos dois milhões de reais nesses quase três anos e o trabalho realizado pela Editora Universitária. Em 2013 e 2014 a editora publicou 145 títulos, impressos já entregues aos autores, além da publicação do Edital Pró-Publicação em parceria com a PRPG, para atender a demanda dos professores vinculados aos programas de Pós-Graduação, totalizando 70 títulos em processo e diagramação e editoração com lançamentos

NORDESTE: Quais as outras áreas de atuação da atual gestão que podem ser destacadas? Margareth: Outros avanços que devem ser elencados são os in-

“O maior desafio já nos primeiros meses de gestão foi reverter o arquivamento de importantes convênios com o MCTI/ FINEP. Eram mais de 21 milhões em recursos para aquisição de equipamentos de médio e grande porte, além de algumas obras”

previstos para outubro como parte das comemorações dos 60 anos da UFPB. Ainda sobre a editora, estamos com projeto de criação de uma livraria móvel, para atender as demandas dos outros Campi. A proposta é customizar um caminhão que irá percorrer toda a UFPB, além de participar de feiras de livros da região, possibilitando a visibilidade da nossa produção acadêmica. Adotou-se ainda a comercialização de livros via site da editora. Para o futuro próximo, teremos a publicação de e-books. A nossa TV UFPB passa por reestruturação e estamos pleiteando, junto ao Ministério das Comunicações, uma concessão de rádio FM para ampliarmos nossos canais de comunicação com a sociedade, além de servir como laboratório primordial para os estudantes dos cursos de Jornalismo e Rádio e TV. Está em curso a execução de sólido plano de ação que vem sendo implementado na Superintendência da Tecnologia da Informação, base imprescindível para o pleno funcionamento das atividades meio e fins da instituição. NORDESTE: Como funciona atualmente a política de assistência estudantil? Margareth: Na assistência estudantil, em especial após a adesão ao SiSu/Mec, e com a inserção da Lei de Cotas, a UFPB criou e expandiu ações com vistas à permanência estudantil de forma qualificada, atuando pela primeira vez em todas os Campi e unidades acadêmicas. Os processos foram descentralizados e a seleção, hoje, acontece via coordenações de curso através do SIPAC, permitindo uma maior transparência, acompanhamento da tramitação, além da facilidade aos estudantes que não precisam mais esperar em longas filas nos corredores da Pró-Reitoria

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Caderno Especial por horas como no passado. Implantamos pela primeira vez, o auxílio creche para toda a UFPB, auxílio transporte para as unidades acadêmicas de Santa Rita e Mangabeira, um projeto piloto exitoso. Criamos nas unidades de Bananeiras e Areia o Auxílio Creche e o Auxílio Moradia. O aumento expressivo praticado no auxílio moradia, de 275 para mais de 780 alunos assistidos, reflete o nosso compromisso com uma maior inclusão. Mais de 600 novos alunos foram contemplados com o auxílio alimentação. Desenvolvemos ações de reestruturação física, de mobiliário e equipamentos para as residências universitárias com a inauguração de novas residências como a de Bananeiras, além do fomento de material esportivo em diversas modalidades para os residentes. A criação do Comitê de Inclusão e Acessibilidade (CIA), em 2013, permitiu a inclusão dos alunos com deficiência na instituição passando de 32 em 2012, para mais de 505 alunos em 2014. O projeto do Kit Acadêmico para os Centros Acadêmicos é outra ação aprovada pela comunidade, com mais de 42 diretórios estudantis contemplados em dois anos. Atualmente temos mais de 480 alunos inseridos no Programa Bolsa Permanência/Mec, criado em 2013, suporte psicológico e social na Pró-Reitoria, ampliação no número de vagas do Programa PEC-g para mais de 100, aumento na concessão de passagens aéreas e terrestres para eventos estudantis, além do sistema de restaurantes universitários totalmente gratuito em todos os Campi. Desenvolver uma assistência estudantil qualificada e inclusiva é o nosso propósito todos os dias. NORDESTE: Que outras ações além do eixo Ensino-Pesquisa e Extensão estão sendo desenvolvidas e que 48

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mereceriam também destaques? Margareth: Além das condições de instalações definitivas para a Ouvidoria e Serviço de Informação ao Cidadão – SIC que alocamos com destaque e toda infra-estrutura no Hall do Prédio da Reitoria, formamos uma Comissão nomeada Multicampi para dar suporte às demandas dos Campi do interior, a Comissão de Gestão Ambiental, Comissão de Bem-Estar Animal, Comissão de Inclusão e Acessibilidade, agora com espaço próprio, Comissão de Ética, Comissão Própria de Avaliação, Comissão Estatuinte e ampliamos o

“No início do nosso mandato existiam apenas 4 mestrados profissionais. Somente em nossa gestão foram criados 24 novos programas. Isto é, no nosso reitorado de dois anos e alguns meses, criamos mais de 32% dos atuais programas de pós-graduação” raio de atuação da Assessoria Internacional. Criamos a agência Inova para cuidar das patentes e invenções da UFPB e temos o IDEP- Instituto para o Desenvolvimento da Paraíba que somam uma frente voltada para viabilizar as iniciativas acadêmicas junto ao setores públicos e privados. Todas essas iniciativas incorporam novas linhas de ações que combinadas às convencionais de Ensino-Pesquisa-Extensão, trazem condições para realizações de nossos novos projetos para o melhor futuro acadêmico da UFPB. Implantamos o Plano

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de Desenvolvimento Institucional 2014/2018, visando a consolidação das linhas de ações na busca da excelência, da reciprocidade qualitativa, da inclusão, da acessibilidade; outro desastroso passivo recebido. Estamos construindo uma realidade acadêmica de peso qualitativo que a muito excede a estrutura física da pedra e do cal. NORDESTE: Qual o tamanho atual da UFPB, em termos de número de estudantes de graduação de pósgraduação, de docentes e técnicos administrativos? Margareth: Dados do Censo do Ensino Superior 2014 contabilizaram mais de 37 mil alunos de graduação, em 139 cursos de graduação, nas modalidades presencial e a distância, distribuídos em 4 campi; João Pessoa, Areia, Bananeiras, Litoral Norte. Temos 73 programas de pós-graduação, dos quais 11 são desenvolvidos em associação com outras Instituições. Estes programas correspondem a 103 cursos de pós-graduação entre mestrados acadêmicos e profissionais. No início do nosso mandato existiam apenas 4 mestrados profissionais. Somente em nossa gestão foram criados 24 novos programas. Isto é, no nosso reitorado de dois anos e alguns meses, criamos mais de 32% dos atuais programas de pós-graduação. Este ano enviamos à Capes mais 2 propostas de mestrados: Docência para a Educação Básica e Clínica Médica. Com relação ao número de alunos matriculados, temos mais de 4.500 pós-graduandos nos cursos de mestrado e doutorado. Entre 2012 e 2014 houve um aumento expressivo em termos de alunos matriculados na pós-graduação, sendo mais de 42% para o mestrado e mais de 24% para o doutorado. Esta evolução do número de matrículas reflete bem a


expansão dos cursos de mestrados e doutorados no período de 2012 a 2014. Elevamos também o conceito Capes da maioria dos cursos de pósgraduação. Com relação ao quadro de pessoal, a UFPB conta hoje com 2.665 docentes e 3.586 técnicos administrativos. Um fato relevante é que temos 52% de técnicos administrativos com especialização, mestrado e doutorado, e mais de 70% de docentes doutores, o que nos permitirá o credenciamento da UFPB a mais um grupo internacional, o Tordesilhas, formado por renomadas universidades do mundo.

brasileiras que têm mais trabalhos citados, segundo os dados do Google Acadêmico coletados na primeira semana de fevereiro de 2015, pelo Cybermetrics Lab. Nesta lista, figuram 30 pesquisadores da UFPB. Para a região nordeste, a UFPB e UFRN ocupam a 3ª colocação em número pesquisadores mencionados no ranking. Quanto a graduação, cerca de 25% dos nossos cursos estão entre os cursos com maior pontuação no ranking nacional. NORDESTE: Uma das reclamações da comunidade universitária diz

respeito as obras paralisadas na gestão passada. Esse problema foi sanado? Quantas obras estão em andamento? Margareth: Dentre os problemas encontrados, destacamos aqueles advindos do mal planejamento e má execução dos projetos viabilizados pelo Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades - Reuni. Com os recursos deste programa do governo federal, a UFPB quase que dobrou de tamanho. No entanto, o fato é que crescemos quantitativamente, porém, o subdimensionamento ocorrido na elaboração dos

NORDESTE: Qual a classificação da UFPB no ranking das universidades paraibanas e brasileiras? Margareth: No Ranking Internacional de Universidades publicado pela QS University Rankings: Latin America 2015, que leva em consideração parâmetros como reputação acadêmica da instituição, número de artigos publicados mundialmente, número de citações de artigos, inserção internacional de seu corpo docente, entre outros itens e quando foram analisadas cerca de 3000 instituições em todo o mundo, a Universidade Federal da Paraíba ocupa a 115o posição na América Latina. Se considerarmos apenas as universidades brasileiras, a UFPB se coloca como a 1a entre as universidades do estado da Paraíba, 4a universidade do Nordeste e 20a entre as universidades federais de todo o país. Desta forma em termos locais, regionais, nacionais e internacionais, a UFPB tem posição de destaque. Outro ranking que merece consideração é o de número de citações dos trabalhos publicados pelos pesquisadores da UFPB. O “Webometrics Ranking of World Universities” divulgou recentemente uma lista com os 3.000 pesquisadores de universidades Agosto/2015

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Caderno Especial projetos e a ineficiência constatada na execução do Plano, não permitiu que esse momento de bonança fosse transformado em reciprocidade qualitativa. Isto porque as obras previstas no Reuni não atendiam as mais básicas exigências técnicas de engenharia. Assim, houve um congestionamento de obras inconclusas e de péssima qualidade. Inclusive, muitas delas, à época, já haviam sido entregues à comunidade universitária. Desde o primeiro dia de nossa gestão estamos trabalhando para concluir as obras do Reuni. Para maioria delas é preciso elaborar todos os projetos complementares, além das licenças. Essa é uma tarefa extremamente difícil, considerando que temos de buscar novos recursos para concluirmos essas obras. Esse problema, de fato, existe e nos constrange cotidianamente. Não é fácil entrar no prédio da reitoria e ver da janela do nosso gabinete de trabalho um prédio inacabado, considerando sua importância para as artes e a cultura, se estivesse em pleno funcionamento. Assim como os demais membros da comunidade universitária da UFPB, eu convivo diariamente com essa realidade. Na verdade, a paralisação das obras, ocorrida na gestão anterior, foi um dos principais problemas que enfrentamos. É que, por incrível que pareça, a despeito da capacidade intelectual e técnica existente na instituição, essas obras foram iniciadas sem os projetos complementares, as imprescindíveis Licenças Ambientais e os Autos de Vistorias do Corpo de Bombeiros. Havia tão somente os projetos arquitetônicos. Esse fato, inclusive, fez brotar da inteligência da comunidade universitária a expressão “obras casca de ovo”, ou seja construções apenas com paredes e telhados. Então, para superar esse enorme 50

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passivo, um grande esforço foi e vem sendo realizado no sentido de corrigir essas graves falhas, que impediam a continuidade e conclusão das obras. Assim, foi elaborado inventário, com memorial descritivo para elaborarmos todos os projetos complementares: elétrico, hidrosanitário e de lógica. Em outra frente, reestabelecemos a interlocução com o Corpo de Bombeiros e a Prefeitura Municipal de João Pessoa, para realização de Termo de Ajustamento de Conduta, que garanta a obtenção dos instrumentos legais exigidos

“Estão disponibilizadas 156 vagas para as Classes E, D e C. cargos, denominados como de Níveis Superior, Médio e de Apoio, que irão integrar o quadro de servidores técnicoadministrativos nos quatro campi. No entanto, o número de vagas deverá aumentar” no início da realização de toda e qualquer obra. Além disso, apresentamos ao Ministério de Educação minucioso levantamento de todas as obras existentes na instituição, com os respectivos percentuais que aferem as fases de cada uma delas. Esta ação garantiu recursos no valor de cinco milhões de reais, reforço que irá contribuir, juntamente com as outras medidas adotadas, de forma definitiva, para a conclusão de parte das construções em andamento. Um novo aporte de recursos

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necessários para concluir a totalidade das obras, é ponto prioritário da nossa gestão e vem sendo tratado junto ao Ministério da Educação. Apesar de todas essas dificuldades, antes de completarmos os três anos de gestão, viabilizamos a conclusão de 43 obras, licitamos 19 novas e estamos adotando as providências para concluir mais 40. NORDESTE: Haverá concurso público para a UFPB? Quantas vagas serão disponibilizadas? Margareth: Sim. Inicialmente, estão disponibilizadas 156 vagas para as Classes E, D e C. Esses cargos, anteriormente denominados como de Níveis Superior, Médio e de Apoio, irão integrar o quadro de servidores técnico-administrativos nos quatro campi. No entanto, o número de vagas disponíveis para contratação deverá aumentar. Estamos trabalhando junto ao Ministério da Educação no sentido de que sejam liberadas mais 56 vagas para completar o quantitativo do Quadro de Referência de Servidores Técnico-Administrativos da Instituição. Além disso, a Pró -Reitoria de Gestão de Pessoas vem atualizando o número das vagas que ocorrem por aposentadoria, falecimento e exoneração, para serem disponibilizadas para o concurso, antes da publicação do edital. Outro fator importante é que antecedendo as nomeações, será aberto edital para remoção interna de servidores. Também igualmente relevante é o fato de que a definição das vagas para o concurso não ocorreu de forma automática, ou seja, para os mesmos cargos vagos. Solicitamos, com base nas demandas dos setores acadêmicos e administrativos, permuta de códigos de vagas ao Ministério da Educação de modo a adequar perfis às necessidades dos diversos ambientes organizacionais.



PUBLIEDITORAL

Sistema Confea/Crea e Mútua realiza a 72ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia Presidente do Crea-PB destaca a importância do evento para os profissionais da área Anualmente, engenheiros, agrônomos, meteorologistas, geólogos, geógrafos, técnicos e tecnólogos, dos quatro cantos do país, se reúnem para debater temas diretamente ligados ao desenvolvimento e à infraestrutura brasileira. É a Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia (Soea) que, em 2015, em sua 72ª edição, tem como tema “Sustentabilidade: água, energia e inovação tecnológica”. A 72ª Soea será realizada em Fortaleza (CE), de 15 a 18 de setembro, no Centro de Eventos do Ceará, sendo uma realização do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará (Crea-CE), e Mútua (Caixa de Assistência dos Profissionais). Este ano, a Soea deverá reunir mais de três mil pessoas, e se caracteriza como o maior evento da área tecnológica do Brasil. Dezenas de profissionais e estudantes da Paraíba já confirmaram presença, e a presidente do Crea-PB, a engenheira Giucélia Figueiredo, destaca a importância que a Soea representa para a categoria e para a sociedade: “Teremos a oportunidade de reunir diversos pensamentos, e todos focados no desenvolvimento do nosso país. O que existe de melhor em inovação tecnológica na área da engenharia e agronomia, nacional e internacional, estará em debate. É sempre um grande momento de interação para os engenheiros, como também para os estudantes”. Dentro da 72ª Soea acontecerá, pela primeira vez, a I Feira da Inovação Tecnológica (Fitec), uma feira com produtos tecnológicos que dará uma feição moderna à tradicional Semana, além do Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia (II Contecc), e a Exposição da Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia (ExpoSoea). Sobre o Contecc, desde 2014 o Congresso está inserido na Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia, e tem a finalidade de articular os profissionais da área, em todo o Brasil, com a inovação para o desenvolvimento e propor ambientes adequados para discussão e análise de oportunidades nas atividades voltadas à Engenharia e à Agronomia no crescimento do país. Entre os destaques da programação, está a participação de Pedro Doria Nehme, estudante de Engenharia Elétrica que ganhou uma viagem ao espaço em um concurso da companhia aérea KLM, além da realização de minicursos. Os participantes da 72ª Soea também terão acesso a Exposição da Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia (ExpoSoea), e entre os expositores está a Mútua (Caixa de Assistência dos Profissionais). Diretor Geral da Mútua na Paraíba, o engenheiro Antônio da Cunha 52

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Cavalcanti, enfatiza que a Mútua e o Sistema Confea/Crea possuem em vínculo muito forte, e com certeza a realização de um evento da magnitude da Soea só faz ampliar os conhecimentos dos participantes. “A Mútua é uma grande parceira dos engenheiros, e por isso não poderia deixar de participar ativamente de um evento como este. Inclusive, em seu stand na ExpoSoea, a Mútua estará apresentando todos os seus serviços, que vão desde auxílio para uma pós-graduação, até empréstimos para uma viagem de férias com a família”, enfatizou o engenheiro Antônio da Cunha Cavalcanti. A realização da 72ª Soea é a comprovação de que o Sistema Confea/Crea e Mútua está cada vez mais fortalecido e uníssono. Mais informações sobre o evento podem ser obtidas através do site www.soea. org.br . Os profissionais paraibanos poderão conferir a cobertura do evento através do site do Crea-PB (www.creapb.org.br) e sua fan page no facebook (facebook.com/creapb). Realização



CAPA/ MATÉRIA ESPECIAL

As vocações E DESAFIOS do Nordeste Em pleno ano de retração econômica, Estados nordestinos mostram avanços, mas ainda convivem com graves efeitos da estiagem prolongada no semiárido e precisam manter índices de crescimento para elevar o PIB e reduzir as desigualdades Por Paulo Dantas, Luan Matias e Pedro Callado

CONTEÚDO 1. O crescimento e atraso 2. A força econômica da região 3. Os desafios e as vocações 4. A transformação da paisagem • Muito além do preconceito 5. O papel da Sudene 6. Casos de sucesso 7. Softwares para o mundo

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pesar de apresentar crescimento constante acima do nacional, o Nordeste permanece atrasado em comparação ao Sul e Sudeste. A região até melhorou. Praticamente erradicou a miséria e elevou seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), avançou nas oportunidades de emprego e ensino. Uma parte desse mérito vem da força da própria região e outra parte foi possível graças aos programas e investimento do Governo Federal, principalmente a partir dos governo do PT. Contudo, a questão que se levanta é por que as desigualdades se mantém? Na sua edição de aniversário de 9 anos, a Revista NORDESTE busca traçar os vários aspectos econômicos da região, mostrar um pouco do crescimento, dos avanços, desafios e vocações. Para isto, ouviu economistas, cientistas e sociólogos. O resultado é um painel complexo, mas rico, de uma região cheia de contrastes.


Matéria Especial

CONJUNTURA ECONÔMICA I


As vocações E DESAFIOS do Nordeste

O CRESCIMENTO E ATRASO Apesar de ter crescido a quase taxas chinesas nos últimos anos, o Nordeste manteve o PIB da época do Império. Cenário só começa mudança de fato a partir do governo Lula

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omo já dizia Tom Jobim, quase 100 anos depois do fim do ciclo vez, o PIB per capita (a divisão das “o Brasil não é um país do café (historicamente o ciclo vai de riquezas pelo número de habitantes) para principiantes”. O 1800 a 1930). do Nordeste tem variado entre 38% mesmo pode ser dito do Conforme estimativas elaboradas a 48% do PIB per capita do Brasil no Nordeste, por isso não é uma tare- pelo professor Roberto Cavalcanti mesmo período. A média continua a fa simples encontrar as razões para de Albuquerque, com longa carreira mesma de 100 anos atrás. essa espécie de desenvolvimento tar- acadêmica e autor, dentre inúmeras Isso significa dizer que o PIB e o dio da região, nem para a ampliação obras do livro “O Desenvolvimento PIB per capita da região têm crescidas desigualdades do Nordeste em Social do Brasil”, que faz um balanço do, na verdade até cresceu bastante. relação a outras regiões, Mas acontece que como como o Sul e o Sudeste. o PIB do Brasil também “HISTORICAMENTE Mas o que se sabe está cresceu, foram mantidas ABANDONADO, A REGIÃO documentado em dados as disparidades. Isso fez oficiais e apontam para NORDESTE BUSCA ENCONTRAR com que desde a metauma tendência da União, de do século 20 até hoje, SUA REAL VOCAÇÃO após o fim do ciclo do os números (e parte da NA ECONOMIA” café, em privilegiar o Sul realidade) permaneçam e Sudeste, em detrimenpraticamente a mesma Ladislau Dowbor to do Nordeste. coisa. “A economia não Economista O argumento que diz estagnou, cresceu. Em ter sido o ciclo do café e o advento do quadro econômico e social do Bra- alguns períodos cresceu em ritmo da mão de obra assalariada que pro- sil de 1900 a 2010, o PIB do Nordeste acelerado até. É verdade que o PIB piciou o desenvolvimento do sul e su- cresceu aproximadamente 2.396% de gira em torno de 38% a 48% do PIB deste (veja matéria nesta edição) talvez 1940 a 2010, em termos reais. Algo do Brasil? É verdade! Mas também explique em parte porque a renda per assombroso, sem dúvida. O PIB per é verdade que o PIB cresceu. A ecocapita do Nordeste era 47% da média capita, por sua vez, incrementou-se nomia não ficou estagnada”, ameniza da renda per capita brasileira de mea- 581% nesse mesmo período. Apesar Airton Saboya, consultor do Escritódos do século XIX. Mas não justifica dessa expansão, o PIB do Nordeste rio Técnico do Nordeste (ETENE), porque o percentual continua prati- tem oscilado entre 12% a 16% do PIB vinculado ao Banco do Nordeste. camente inalterado ainda hoje (48%), brasileiro no mesmo período. Por sua Apesar de se constatar o cresFoto: Divulgação

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Matéria Especial

cimento do PIB, vale ressaltar que a região tem 28% da população do país e concentrava, em dezembro de 2014, 12,8% do saldo das operações de crédito no Brasil. Os números podem confundir o leitor, mas dados levantados pela Associação dos Funcionários do Banco do Nordeste do Brasil (AFBNB), apontam que a relação Crédito/PIB é extremamente desvantajosa para o Nordeste. Esse montante (12,8% das operações de crédito) corresponde a R$ 385 bilhões e representa 6,98% do PIB do Brasil (que em 2014 era de R$ 5,5 trilhões). Esses números não chegam nem na metade do que corresponde para o país a economia da região, que é 14% do PIB. Além disso, apesar desses números, de acordo com o IBGE, o Nordeste tem 9 milhões de pessoas na linha de pobreza. Isso significa 53,80% dos pobres do Brasil (dados de 2013). Ainda, tomando por base apenas os bancos públicos, a distribuição dos recursos para a região por meio do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) acaba sendo cinco vezes inferior ao que o Nordeste transfere de sua poupança para o financiamento do crescimento do Centro-Sul brasileiro, especialmente do Sudeste. Lembrando que o FNE tem como finalidade contribuir para o desenvolvimento econômico e social do Nordeste, mediante a execução de programas de financiamento aos setores produtivos (confira dados nas próximas páginas). A relação com os bancos privados pode ser pior ainda, revela Saboya. “Historicamente, os bancos, especialmente os privados, captam recursos 58

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A cidade e seus contrates. Ao lado, os economistas Fran Bezerra e Ladislau Dowbor (a baixo)

“A medida que os bancos aumentarem os investimentos no Nordeste é possível reverter a transferência de crédito” Fran Bezerra Economista

no Nordeste e transferem especialmente para o Sudeste. Isso tem ocorrido de forma sistemática e histórica”, pontua. Segundo o superintendente do ETENE, Fran Bezerra, a legislação do Brasil não obriga ao banco investir o que capta na mesma região. “O que pode reverter esse mecanismo, é fortalecer os bancos públicos de forma que apliquem em regiões menos desenvolvidas, a exemplo do Nordeste. A medida que os bancos, aumentarem os investimentos no Nordeste é possível reverter esse processo de transferência. Mas sabemos que para isso ocorrer a região também

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precisa apresentar dinamismo”, frisa. Apesar dessa tendência dos bancos públicos, de baixo investimento na região, esse quadro foi alterado em 2013 e 2014. A título de exemplo, o saldo de crédito das agências oficiais de fomento no Nordeste saltou de R$ 51,4 bilhões em 2005 para R$ 278,8 bilhões em 2014. Segundo Saboya, o ETENE vem acompanhado há bastante tempo essa transferência de crédito e isso nunca tinha acontecido antes. “Nos últimos 20 anos tinha se mantido a evasão”. Antes disso a evasão era a norma. Os economistas ressaltam que es-


As vocações E DESAFIOS do Nordeste

forte dependência de importação de insumos. O estado registrou um déficit em 2013 de R$ 11,451 bilhões ao comparar as compras e as vendas. Desta forma, parte importante da demanda gerada no Nordeste continua abastecida pela economia do Centro/Sul, em um processo de “vazamento” de renda que restringe a capacidade de geração de empregos na quantidade e qualidade necessárias. Os economistas acreditam que à medida que o setor produtivo do Nordeste se fortaleça, os chamados “vazamentos” econômicos e financeiros serão gradativamente reduzidos, mas o cálculo, onde os mais pobres financiam os mais ricos, parece soar realmente algo perverso.

DADOS melhoraram a partir de 2001

ses investimentos são importantes para que seja mantido o crescimento do PIB do Nordeste diminuindo as desigualdades. Segundo estudo do IPEA, o Nordeste precisaria crescer a uma taxa de 3% acima da média nacional por 16 anos para alcançar 75% do PIB per capita nacional, um indicador aceitável pela União Europeia para a distância entre suas regiões. “Isso somente será factível com a realização de elevados investimentos produtivos no Nordeste”, defendeu Fran Bezerra. Outro dado importante tem a ver com os insumos comprados pelo Nordeste de outras regiões. Números de 2009 apontam que o Nordeste adquiriu R$ 90 bilhões de insumos principalmente do Centro-Sul e vendeu R$ 82 bilhões para outras regiões, de forma que registrou um déficit de R$ 8 bilhões no comércio interestadual. Dados específicos da Paraíba, mais recentes, apontam uma

A ascensão de uma nova classe média no Brasil é uma das explicações econômicas do avanço e de uma atenção levemente melhorada para a região Nordeste. A transformação aconteceu principalmente durante o final do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e os anos de Luís Inácio Lula da Silva (PT) no Governo. O Atlas Brasil 2013, que reúne mais de 5 mil municípios do país e fotografa a evolução dessas cidades entre 1991 a 2010, aponta diversos exemplos de melhoras em todo país. É possível acompanhar a evolução de São Paulo no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), mas também de cidades como Recife, Fortaleza e João Pessoa, apenas para ficar em alguns exemplos. Para o economista e professor titular no departamento de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), L adislau Dowbor, esses avanços na verdade Fotos: Divulgação

ÍNDICES MELHORADOS Apesar de concentrar substancial parcela dos pobres brasileiros, o Nordeste tem reduzido números da desigualdade. Em 2001, 14,0% da população brasileira dispunha de renda domiciliar per capita de até US$ 1,25/dia. Em 2012, a extrema pobreza havia se reduzido para 3,5% da população. No Nordeste, a redução foi de 43,0% em 2001 para 11,1% em 2012. IDH em alta O IDH do Nordeste evoluiu de 0,405 para 0,666 de 1991 a 2010 (melhor quanto mais próximo de 1,0). O índice de Gini, que mede a concentração de renda, reduziu-se no Nordeste, de 0,626 para 0,537 (melhor quanto mais próximo de zero) de 2001 a 2012. Recife (PE) IDHM saiu de 0,576 em 91 para 0,776 em 2010. A dimensão que mais contribuiu para o IDHM do município foi longevidade, com índice de 0,825, seguida de renda, com índice de 0,798, e educação, com índice de 0,698. João Pessoa (PB) IDHM saiu de 0,551 em 1991 para 0,763 em 2010. A dimensão que mais contribui para o IDHM do município foi longevidade, com índice de 0,832, seguida de renda, com índice de 0,770, e de educação, com índice de 0,693. Fortaleza (ce) IDHM saiu de 0,546 em 1991 para 0,754 em 2010. A dimensão que mais contribuiu para o IDHM do município foi longevidade, com índice de 0,824, seguida de renda, com índice de 0,749, e educação, com índice de 0,695. Renda Domiciliar A renda domiciliar per capita no Nordeste, por sua vez, passou de R$ 431 para R$ 679 entre 2001 e 2012.

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Matéria Especial

Fábrica da Alpargatas em CG, impulso na indústria da Paraíba

NÚMEROS DESIGUAIS PIB do Nordeste em comparação com o do Brasil caiu de 16,9% em 1939 para 13,56% em 2012 O PIB nominal (dados de 2012) Nordeste 13,56% Sul 16,18% Sudeste 55,9% Centro-Oeste 9,8% Norte 5,27%

começaram com a Constituição de 1988, que estabeleceu regras claras do jogo econômico e jurídico do país. “Em 91 tínhamos 85% dos municípios classificados com IDHM muito baixo. Em 2010 foram 0,6%. Isto é, 32 municípios. Todos evoluíram para nível de IDHM médio, alto e muito alto. O nível muito baixo, abaixo de 0,5%, quase desapareceu”, ressalta. Outro ponto que corrobora a tese de Dowbor aponta justamente para o aumento da expectativa de vida. De 91 a 2010 o brasileiro saltou de 65 para 74 anos de vida. Incluindo aí dados de 2012, chega-se a um número redondo: em 2012 vivia-se 10 anos a mais que em 1991. “Incluir dez anos a mais na vida do brasileiro significa um resultado gigantesco. Isso revela um conjunto de tragédias reduzidas”. No entanto, ao se voltar os olhos para a região Nordeste ainda se verifica desigualdades profundas. Questionado sobre o por quê da manutenção da desigualdade entre a região Sudeste e o Nordeste, Dowbor argumenta: “Não é em 20 anos que se resolve isso. Estamos entre os 10 países mais desiguais do planeta. Os avanços são muito grandes nessas últimas décadas, mas o buraco continua imenso. O Brasil passou de um universo de 60

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13% dos jovens de 18 a 20 anos que tinham o secundário completo em 91, para 41% em 2010. O número é bom, só que 41% ainda é um desastre, teria que ser 80%.”, explica. Reafirmando estudos feitos pelo ETENE, o economista afirma que os bancos têm uma máquina de drenagem do dinheiro do Nordeste para Sul. “O crescimento estancou, mas o lucro dos bancos entre 2013 para 2014 aumentou entre 20% e 30%. Eles drenam esse dinheiro e aplicam em títulos do governo ou em paraísos fiscais no exterior”. Dowbor explica o processo de transferência de poupança. “O crediário cobra, por exemplo, 104% para ‘artigos do lar’ comprados a prazo. Acrescente os 238% do rotativo no cartão, os mais de 160% no cheque especial. Você tem mais da metade da capacidade de compra dos novos consumidores drenada, esterilizando grande parte da economia pelo lado da demanda”, acusa. No entender do economista, a relação desigual entre Sudeste e Nordeste continua, porque se há iniciativas dos estados do Nordeste tentando financiar atividades interessantes de microcrédito, os bancos visam sempre metas para extrair mais dinheiro do cliente.

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Enquanto o PIB per capita (dados de 2012) Nordeste R$ 11 mil Sul R$ 25,6 mil Sudeste R$ 29,7 mil Centro-Oeste R$ 29,8 mil Norte R$ 14,1 mil Repasse do FPE O TCU identificou R$ 190 bilhões não distribuídos aos fundos em decorrência da desoneração entre 2008 e 2012. Destes 35,7% do FPM e 52,5% do FPE Investimentos dos bancos oficiais no NE (ESTIMATIVA para 2015) BB + BNDES + CEF: Nordeste 16,61% Sudeste 45,83% Sul 22,01% Centro-Oeste 10,32% Norte 11,94% Dívida dos Estados Nordeste União R$ 19 bilhões – 4,64% Públicas* R$ 21,8 bilhões – 20,49% Privadas* R$ 26,7 milhões – 0,95% Total: R$ 41,8 bilhões - 7,75% Sul União R$ 65, 9 bilhões – 15,33% Públicas R$ 11,9 bilhões – 11,20% Privadas R$ 133 milhões – 4,73% Total: R$ 77,9 bilhões – 14,46% Sudeste União R$ 325,6 bilhões – 75,72% Públicas R$ 42,2 bilhões – 39,69% Privadas R$ 1,4 bilhão – 51,30% Total: R$ 369,3 – 68,48% *Instituições Financeiras Públicas e Privadas


As vocações E DESAFIOS do Nordeste

UM FOsso COM RAÍZES ESCRAVOCrATAS AV A L I A Ç Ã O

E C O N Ô M I C A

A

pesar de o Brasil ter começado no Nordeste, um começou a reduzir a sua importância relativa. O ciclo do lance do destino deslocou para o Sul e Sudeste ouro foi muito importante para o Rio e Minas, depois o o desenvolvimento do país. Afinal, o descobri- grande ciclo do café em São Paulo. Nesse período tinha mento se deu na Bahia, a primeira capitania surgiu na ilha um estado estruturado, com mão de obra assalariada, não de Fernando de Noronha e muitas das primeiras lutas dos mais escrava, que criou um mercado interno. Isso conportugueses foram travadas contra holandeses e franceses solidou o desenvolvimento. Depois eles (esses estados) na região. A economia inicial do país se expandiu a partir começaram a produzir internamente os produtos que do comércio da cana-de-açúcar, vigoroso no Nordeste. antes eram importados. Só a partir da consolidação do No império, o Nordeste era o motor do estado brasileiro, é que entra em imporBrasil e o comércio de exportação que tância o poder do Estado (em fomentar vigorava na época era o açúcar. Um dos o desenvolvimento) que teve um impulso marcos da mudança de foco do Nordeste muito grande com Getúlio Vargas e Juscepara o Sudeste no desenvolvimento foi a lino Kubistchek”, frisa. chegada da família real portuguesa, mas “A indústria a partir do século XX se connão só isso. solidou em torno desse mercado iniciado O estudioso Leonardo Guimarães, econo Sudeste, no Rio, São Paulo e a partir nomista e sócio diretor da Ceplan (Condai para outras regiões. As desigualdades sultoria Econômica e Planeregionais estão associadas em jamento), explica. “Naquela “a indústria começou grande parte aos ciclos exportaépoca, quem determinava o dores e suas dinâmicas. Isso está a partir do mercado bem descrito no livro de Celso crescimento da economia era o setor exportador. O NorFurtado, a “Formação Econômido café onde as deste exportava açúcar e foi ca do Brasil”. Ele percorre cada relações eram mais daí o grande crescimento que um desses setores exportadores e modernas” ocorreu. Depois as coisas foexplica como tiveram fases mais ram mudando com outros cidinâmicas e foram se arrefecenLeonardo Guimarães Neto clos exportadores, teve o ouro do e como a indústria saiu do Economista e depois o café. A coisa não mercado do café onde as relações foi apenas o fato da vinda da família real”. Guimarães eram mais modernas que a relação dos ciclos anteriores”, alerta que o próprio Celso Furtado aponta as mudanças assegura Guimarães. dos ciclos econômicos como a seara do desenvolvimento. Assim, segundo o economista, nasceu a semente da Por esta ótica, a dinâmica do desenvolvimento começou a grande diferença regional que existe hoje. Enquanto a mudar quando foi iniciado o ciclo do ouro. O novo ciclo economia do nordeste estava calcada no trabalho escraeconômico tirou a capital de Salvador e a levou para o Rio vo, ao invés do assalariado, e em culturas cada vez mais de Janeiro, cidade mais próxima de Minas Gerais – onde com menor valor agregado, no caso a cana-de-açúcar e se concentravam boa parte das minas. Contudo, segundo o a criação pecuária extensiva, o ciclo do café, a abolição professor, a força da economia do Sudeste advém do ciclo da escravatura e a chegada de imigrantes vindos da Eude café, que foi muito mais impulsionador. ropa propiciaram uma industrialização do país a partir “Daí saiu com mais facilidade o processo de indus- de uma economia cada vez mais pungente no sudeste. trialização. O Nordeste começou com grande impulso Uma economia muito mais dinâmica, e de mercado, que na economia do açúcar, depois essa economia do açúcar os setores anteriores fomentados no Nordeste.

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A DINÂMICA CONJUNTURAL


As vocações E DESAFIOS do Nordeste

A força econômica DOS ESTADOS Com instalação de indústrias petroquímicas, montadoras e crescimento constante acima do nacional, Nordeste revela celeiro de oportunidades que vai da indústria à agricultura

O

Nordeste tem crescido economicamente de forma expressiva nos últimos anos. Segundo o Banco Central, de 2003 a 2009 região cresceu em média 30%, enquanto a economia brasileira 28%. Esse crescimento foi possível devido a investimentos em indústrias, serviços e agricultura. No incremento do desenvolvimento industrial podem ser destacadas a instalação do Polo Industrial de Camaçari, na Bahia, com a indústria petroquímica e a montadora da Ford. Em Pernambuco há a montadora da Fiat/Chrisler, inaugurada em abril, antes dela o Complexo Industrial de Suape, que abrange a refinaria de Abreu e Lima já vem transformando a paisagem do estado. No Ceará, onde os serviços ainda são o carro chefe da economia, pode ser citado o distrito Industrial de Maracanaú, que emprega 16,5 mil pessoas, nas mais de 100 empresas instaladas no três polos industriais. A região nordeste também é a segunda maior do Brasil em produção de petróleo. A Bahia, com produção na bacia do recôncavo baiano, puxa a produção, seguido do Rio Grande do Norte, Sergipe, Maranhão, Alagoas. Segundo a Agência Nacional de Pe-

tróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a região produz mais de 70% de todo o petróleo extraído em terra do Brasil. Na pecuária, a região possui o maior rebanho de cabras do país. Na agricultura, destaca-se a região considerada o novo cerrado brasileiro, composta por parte da Bahia, Piauí, Maranhão e Tocantins. Comparando à safra passada, enquanto o IBGE registava aumento de 0,4% na região Norte, de 5,1% na região Sudeste e de 7,0% na região Sul, no Nordeste este crescimento alcançou 20,4%! Foram 18,9 milhões de toneladas. A região ainda é rica na produção de frutas tropicais (manga, abacaxi, caju, banana, acerola, goiaba, etc). Há também boa produção de mel, o Piauí tem se notabilizado como um dos grandes produtores do país. É evidente que o turismo também é uma importante fonte de renda. Milhares de turistas estrangeiros e de outras regiões do Brasil visitam anualmente o Nordeste. De acordo com levantamento do Ministério do Turismo e da Fundação Getúlio Vargas 77,4% das pessoas que pretendem viajar nos próximos seis meses preferem viajar para dentro do próprio país. O Nordeste é o destino preferido por quase metade dos turistas: Foto: Divulgação

30% pensam em escolher a região como destino para férias. Além disso, os viajantes de pelo menos seis países do continente ocupam lugares de destaque entre os estrangeiros que visitam destinos de sol e praia em cidades como Fortaleza, Natal, Recife, Porto Seguro, Salvador e João Pessoa. Dados do Banco Central apontam ainda aumento na oferta de crédito, no consumo de energia. Dados como estes atestam o vigor econômico da região. PIB da região Nordeste em 2012

R$ 595,3 bilhões PIB per capita em 2012

R$ 11.045 MIL Participação no PIB Nacional em 2012

13,6% Crescimento do Nordeste

2010 6,9%, 2011 3,2%, 2012 3%, 2013 2,7%, 2014 3,7% *Dados IBGE

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Maior PIB do Nordeste, Bahia, investe para fortalecer economia

No ano de 2002 a Ford instalou no Polo de Camaçari o Complexo Industrial Ford Nordeste, o maior investimento da montadora estadunidense em todo o mundo, com recursos estimados em 1,2 bilhões de dólares. A instalação da montadora atraiu várias empresas fornecedoras de equipamentos para produção automobilística. Dessa forma a concentração petroquímica da região foi reduzida e o Polo, que até então era chamado de Petroquímico, passou a ser conhecido como Polo Industrial de Camaçari (PIC). Hoje o PIC responde por 20% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado da Bahia. Foram mais de US$ 16 bilhões investidos até o momento, com mais US$ 6,2 bilhões de novos recursos para os próximos anos. A contribuição anual do Polo em ICMS ultrapassa R$ 1 bilhão ao ano. O Estado da Bahia tem o maior PIB do Nordeste correspondendo a 36% do PIB de toda a região. Além disso, é o 8º maior do Brasil, aparecendo logo atrás do Distrito Federal. 66

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Polo de Camaçari, atração de indústrias a partir do polo petroquímico da Petrobras Além da indústria que ganhou força nos últimos anos, um dos fatores prioritários na economia baiana é a pecuária. A Bahia tem o 6º maior rebanho de bovinos do país, o segundo maior de ovinos e o maior rebanho de caprinos. Segundo dados do IBGE de 2011, o rebanho de cabras da Bahia sofreu uma redução de 3% em relação ao ano anterior, mas ainda assim tem quase 1 milhão a mais de cabeças que o segundo colocado, que é Pernambuco. O Setor de Agropecuária contribuiu com R$ 10,6 bilhões do PIB baiano em 2012. Segundo números do IBGE para o ano de 2014, a Agropecuária apresentou crescimento de 12,5% A estimativa da Superintendência de Estudos Econômicos da Bahia (SEI) é de que o Produto Interno Bruto feche o ano de 2015 com um crescimento aproximado de 1%, o que colocaria o Estado acima do crescimento nacional.

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O setor da Agropecuária, principalmente na safra de grãos, apresentou resultados satisfatórios e impediram que a queda do PIB fosse acentuada. A Superintendência de Estudos Econômicos acredita que o estado irá retomar o crescimento econômico, com melhorias nas condições de trabalho e vida para o povo baiano. O Estado da Bahia está estabelecendo uma série de investimentos que visa alavancar o desenvolvimento do interior do estado. Elaborado pela Secretaria de Planejamento, o Programa de Manutenção da Hidrovia do São Francisco deve ser executado em quatro anos, com investimentos de R$ 150 milhões, e prevê intervenções em um trecho de 573 km, com o objetivo de restabelecer a navegação em escala comercial. Outra intervenção, essa no sistema viário do estado, deve afetar diretamente 45 municípios da Região Metropolitana de Salvador e outras regiões próximas, alcançando 4,4 milhões de habitantes e podendo gerar 100 mil empregos, diretos ou indiretos. A estimativa para o PIB de 2013 é R$ 190,2 bilhões e para 2014, R$ 194,7 bilhões. PIB em 2012

R$ 167,7 bilhões Participação no PIB brasileiro em 2012

3,9% Participação no PIB per capita em 2012

R$ 11.832 Mil *Dados IBGE


As vocações E DESAFIOS do Nordeste

Indústrias fortalecem o crescimento em Pernambuco Em uma pesquisa de 2008, encomendada pela MasterCard Worldwide, Recife aparece entre as 65 cidades do mundo com economia mais desenvolvida dos mercados emergentes. A capital pernambucana aparece na lista em 47º colocada, sendo a única nordestina. De lá para cá o Produto Interno Bruto do estado praticamente dobrou e Pernambuco recebeu inúmeros investimentos que alavancaram a economia. O Complexo Industrial Portuário de Suape, criado em 1978 para administrar o desenvolvimento de obras na região, hoje é um dos maiores portos do Brasil e já recebeu investimentos na ordem de R$ 26 bilhões. O Pólo é a âncora do desenvolvimento econômico de Pernambuco. A Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado aponta que a concentração de investimentos na Montadora da Fiat/Chrisler, mudando a paisagem da região metropolitana do Recife

região deve fazer com que a participação da indústria no PIB estadual suba de 24% para 30%. Diferente da média nacional e da maioria dos estados, a indústria cresceu no primeiro trimestre de 2015 com taxa de 1,7% em Pernambuco. Isso somado ao crescimento de 8% da Agropecuária contribuíram para que o estado fosse o único, ao lado do Ceará, a apresentar uma variação positiva (0,6%) do Produto Interno Bruto (PIB) nos primeiros meses de 2015. Com o segundo PIB da região e o 10º do Brasil, muitas empresas procuraram as terras pernambucanas para instalar seus empreendimentos. Uma dessas empresas foi a Petrobrás, que em 2005 lançou o projeto da Refinaria Abreu e Lima (RNEST) para ser instalada no Complexo de Suape. As obras atrasaram, mas no final de 2014 o primeiro conjunto de refino iniciou suas operações com a capacidade de processar 115 mil barris de petróleo por dia.

Com a inauguração do segundo conjunto, o processamento de barris deve dobrar. Outro empreendimento que ainda deve contribuir bastante para o crescimento da Indústria na economia pernambucana é o Polo Automotivo Jeep, fruto da fusão das duas grandes marcas Fiat e Chrysler, inaugurado em 28 de abril de 2015. Instalado no município de Goiana, a fábrica é a mais moderna do grupo no mundo e tem capacidade para produzir 250 mil veículos por ano. O empreendimento deve empregar até o final do ano mais de 9 mil trabalhadores, sendo 78% de Pernambuco. Desde 2008, Pernambuco apresentou crescimento acima da média do PIB nacional, e continua dessa forma. Mas com o desaquecimento da economia, a desaceleração do crescimento do Produto Interno Bruto tornouse inevitável. No ano passado o PIB pernambucano cresceu 2% segundo a Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas Condepe/Fidem. É o índice mais baixo desde 2003, mas ainda está acima da estagnação nacional que teve variação de 0,1%. A estimativa para o PIB de 2013 é R$ 130,7 bilhões e para 2014, R$ 140,2 bilhões. PIB em 2012

R$ 117,3 bilhões Participação no PIB brasileiro em 2012

2,7% Participação no PIB per capita em 2012

R$ 13.138 Mil *Dados IBGE

Fotos: Divulgação

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Ceará, nadando contra a maré Em 2002 foi inaugurado o Porto de Pecém no município de São Gonçalo do Amarante, região metropolitana de Fortaleza. O porto funcionou como âncora do Complexo Industrial e Portuário de Pecém (CIPP), que hoje conta com 11 empresas instaladas e mais 13 em implantação, incluindo a Companhia Siderúrgica de Pecém. A expectativa é de que quando o complexo estiver em pleno funcionamento chegue a dobrar o Produto Interno Bruto (PIB) do Ceará. O estado ainda conta com o distrito Industrial de Maracanaú, que emprega 16,5 mil pessoas, nas mais de 100 empresas instaladas no três polos industriais. O PIB do Ceará, segundo os últimos dados oficiais do IBGE referentes ao ano de 2012, é de R$ 90,1 bilhões, o terceiro maior do Nordeste, ficando atrás apenas de Bahia e Pernambuco. Em uma estimativa divulgada pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), o PIB do estado apresentou crescimento de 1,05% para o primeiro semestre de 2015. A indústria cearense teve queda de 1,87% em 2014, mas a economia do estado conseguiu se manter entre as que mais cresceram no país com uma variação de 4,86% no ano passado, segundo previsão do Ipece. O setor da Agropecuária teve um grande crescimento (20,31%) entre os meses de janeiro a março deste ano e superou o índice nacional em cinco vezes (4%), mas o segmento representa uma pequena fatia da economia cearense, apenas 3,4%, e o resultado, mesmo que bastante positivo, não afeta tanto a variação do PIB. A manutenção do crescimento da economia cearense se deve principalmente ao setor de Serviços, que teve acréscimo de 3,59% em 2014 68

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Porto de Pecém. A indústria e o Turismo são âncoras do crescimento cearense e representa 73,8% do PIB do estado. Esforços do governo cearense no segmento do turismo contribuíram para esse crescimento, resultando em acréscimo para a modalidade de transportes (0,93%) e alimentação e rede hoteleira (3,03%). Um grande investimento do Estado nessa área é a construção do Acquario Ceará, que foi apresentado em 2011 e hoje está com mais de 45% das obras concluídas. A previsão do Governo é de que a obra seja finalizada em julho de 2017, e que o Acquario receba, anualmente, 1,2 milhões de visitantes, gerando uma receita de R$ 21,5 milhões. O impacto no mercado de trabalho para a economia local será de 150 empregos diretos, 1.600 indiretos e 18 mil empregos na cadeia produtiva do turismo. Mas nem todas as obras no Ceará conseguem se manter com as adversidades. Após um acordo firmado em 2008, o estado deveria receber no Complexo Industrial Portuário de

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Pecém a refinaria Premium II, da Petrobras. Durante cinco anos o Estado investiu mais de R$ 500 milhões em obras de infraestrutura para a instalação do empreendimento. Em janeiro deste ano a Petrobrás anunciou o cancelamento do projeto, causando prejuízo para milhares de pessoas que esperavam pela oportunidade de trabalhar na região. Por outro lado, embalado pelos bons resultados dos anos passados, o Ceará tem uma expectativa de crescimento para 2015 de 2% na economia do estado, contra a previsão de recuo de 1% do PIB nacional. PIB em 2012

R$ 90,1 bilhões Participação no PIB brasileiro em 2012

2,1% Participação no PIB per capita em 2012

R$ 10.473 Mil *Dados IBGE


As vocações E DESAFIOS do Nordeste

Maranhão, potência em ascensão

Entre 1995 e 2012, o Maranhão apresentou um dos maiores crescimentos médios de todo o país, com 5,31% ao ano, o que é um ritmo acima da média da região Nordeste (3,63%) e também do Brasil, que cresceu 2,91% ao ano no mesmo intervalo. Em 2011 o estado deixou de ser o país mais pobre do país subindo uma posição no ranking do Produto Interno Bruto per capita. No mesmo ano o estado ganhou uma posição também no ranking do PIB por federação, subindo para a 16ª economia mais poderosa do Brasil com R$ 52,1 bilhões e se solidificando como a 4ª maior do Nordeste. No ano seguinte o PIB subiu para R$ 58,8 bilhões, segundo dados oficiais do IBGE. Entre as forças de impulsão do Maranhão está o Porto de Itaqui. Fundado em 1973, o porto é o quinto maior em movimentação do Brasil e o primeiro da região Norte/Nordeste. É responsável pela exportação de 60% dos bens produzidos nos estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia. De 2011 a 2013, o Itaqui bateu recorde histórico de movimentação de cargas, em 2012 fechou com 15,7 milhões de toneladas, sendo o porto público que mais cresceu, 12,8% enquanto a média nacional não chegou a 3%. Em 2013, recordes históricos foram alcançados como o quantitati-

vo para a soja, o fertilizante, o carvão, o etanol, o cobre e o clínquer. Esse e outros fatores tem ajudado ao estado a melhorar seus índices na economia nacional. Todavia, o Governo Federal voltou atrás de um investimento de peso, aquele que deveria ser a maior refinaria de petróleo do país, a Premium I. O empreendimento da Petrobras, que seria instalado em Bacabeira, deveria gerar 25 mil empregos diretos e indiretos quando pronto. Apesar das dificuldades, o PIB Industrial do estado tem se expandido na última década e, segundo o estudo do IBGE, tem crescido a uma razão de 0,2% entre 2001 e 2011, chegando a 15,6% das riquezas maranhenses. O setor da Agropecuária tem bastante força no Maranhão, em valores totais é o 2º maior do Nordeste, perdendo apenas para a Bahia. A criação pelo Governo Federal da região do Matopiba (Maranhão,Tocantins, Piauí e Bahia), área de cerrado forte na agricultura e o agronegócio, promete impulsionar ainda mais o estado. Apesar disso, com o desaquecimento industrial no país o estado precisa lutar para manter a taxa de crescimento do PIB. Uma pesquisa da Federação das Indústrias do Estado do Maranhão (FIEMA) divulgada em maio deste ano mostra que o setor Fotos: Divulgação

Porto de Itaqui, batendo recordes históricos de exportação industrial do Estado já enfrenta dificuldades no início de 2015. Segundo o estudo, o índice caiu 1,2% entre fevereiro e março deste ano e o estado ficou com resultados piores que as médias nacional e regional. Uma das principais autoridades em economia pública do país, a economista e socióloga Tânia Bacelar, afirmou durante uma palestra a convite do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Maranhão (Sebrae) que o estado enfrenta alguns desafios. Descentralizar o PIB é uma das metas. A capital São Luís concentra 15% da população do estado e 42% do Produto Interno Bruto. PIB em 2012

R$ 58,8 bilhões Participação no PIB brasileiro em 2012

1,4% Participação no PIB per capita em 2012

R$ 8.760 Mil *Dados IBGE

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Rio Grande do Norte, serviços alavancam economia

Nos últimos anos o Rio Grande do Norte acompanhou o crescimento da economia do Nordeste de forma modesta. Durante o governo do presidente Lula, o estado ficou entre sete federações que tiveram crescimento abaixo da média nacional. No ano passado uma estimativa do Banco Itaú apontou que a expectativa para a economia potiguar é uma média de avanço de 1,7% ao ano. A economia do RN ainda é muito dependente do setor público que, em números de 2011, correspondia a 28,3% do Produto Interno Bruto do Estado. A participação da administração pública está dentro da fatia de serviços, que corresponde a 72,8% da economia. A indústria do RN, neste ano, detinha 23,7% e a Agropecuária completa com apenas 3,7%. Apesar dos resultados menos expressivos, o Rio Grande do Norte se mantém como a 5ª maior potência econômica do Nordeste e busca novos investimentos. Um levantamento realizado pela Federação da Indústria e pelo Governo do Esta70

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Investimento eólico da Petrobras no Polo de Guamaré do aponta que é possível ampliar o Produto Interno Bruto do estado dos atuais R$ 39,5 bilhões para R$ 100 bilhões em 20 anos. Para isso, os investimentos precisam ser concentrados em educação, infraestrutura, empreendedorismo e gestão de recursos públicos. O estado recebeu nos últimos anos, com um investimento superior a R$ 215 milhões de dólares, um grande empreendimento da Petrobras, a Refinaria Potiguar Clara Camarão, localizada no Polo Industrial Petrobras de Guamaré. O equipamento produz diesel, nafta petroquímica, querosene de aviação e gasolina automotiva, o que tornou o Rio Grande do Norte o único estado do país autossuficiente na produção de todos os tipos de derivados do petróleo. Além de atender o próprio território, a refinaria também atende o sul do Ceará. Outro projeto que promete cres-

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cimento para a economia potiguar é o hub da Tam. Mas neste caso o Rio Grande do Norte está na disputa contra os estados do Ceará e Pernambuco. O hub é um centro de distribuição que é utilizado para racionalizar trajetos e economizar custos para as empresas. Natal leva vantagem sobre os estados vizinhos por ser o ponto mais próximo da Europa e África nas Américas. O escolhido da Tam será anunciado até o final do ano, se vencer, Natal receberá um investimento de R$ 4 bilhões. Não é só na aviação que o RN entra na disputa com Ceará e Pernambuco, mas também na navegação. O Estado apresentou em junho deste ano uma proposta de construção do Terminal Portuário do Potengi, um projeto orçado em R$ 6,98 bilhões. O Centro de Estratégia em Recursos Naturais e Energia afirma que o projeto inclui a construção de uma ponte e um corredor logístico de integração com outros modais e centros de distribuição do RN. Isso daria ao Terminal a possibilidade de receber indústrias que não poderiam ir para Pecém ou Suape, nos estados do Ceará e Pernambuco, respectivamente. PIB em 2012

R$ 39,5 bilhões Participação no PIB brasileiro em 2012

0,9% Participação no PIB per capita em 2012

R$ 12.249 Mil *Dados IBGE


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Paraíba, crescimento estável, sem desacelerar Enquanto a evolução do Produto Interno Bruto (PIB) nacional desacelerou nos últimos anos, a Paraíba conseguiu manter uma economia estável com crescimento acima da média nacional, especialmente nos anos mais recentes. Segundo dados do IBGE, entre 2003 e 2010, o estado paraibano teve crescimento médio anual de 4,8%, quase um ponto percentual acima da media nacional, que foi de 4,1% para o mesmo período. Já no último quadriênio (2011-2014), avalia-se que o crescimento médio do Brasil fique em apenas 1,6%, enquanto o da Paraíba manteve a média de 4,8% até 2012, subindo para 4,9% em 2013 e fechando 2014 com crescimento um pouco menor, de 3,2%, mas ainda bem melhor que o crescimento nacional, que ficou estagnado com 0,1%. Segundo estudo do Instituto de Desenvolvimento Municipal e Estadual (IDEME), o PIB da Paraíba deve evoluir para R$ 41,6 bilhões em 2013 e R$ 45,5 em 2014. O setor industrial da Paraíba cresceu 4,4% no ano passado e a Indústria passou a representar 22,8% da economia paraibana. O número de empresas industrias na Paraíba cresceu 12,2% no último ano e o estado está prestes a se tornar o segundo maior do Brasil na produção de cimento, ficando atrás apenas de Minas Gerais. Cinco novas fábricas começaram a se instalar na Paraíba e a produção deve saltar de quase 2,5 milhões para 10 milhões de toneladas, alimentando segmentos, como o de concretos e pré-moldados, construção civil e

Instalação de Polo Cimenteiro pode transformar Paraíba em segundo maior produtor do país residencial e mais todo o setor imobiliário. A inauguração, no primeiro semestre de 2015, do Polo Automotivo Jeep no estado de Pernambuco, próximo a divisa com a Paraíba, também atraiu mais empresas. No município de Caaporã, litoral sul do estado, será construído um condomínio logístico as margens da BR 230 que deve abrigar fábricas que darão apoio a montadora que pertence ao grupo da Fiat. Apesar do crescimento da Indústria, a Paraíba ainda tem uma grande parcela da economia ligada ao setor de serviços que representa 73,7% do PIB, sendo que dentre os serviços, só a administração pública ocupa 31,7%. Já o desempenho da agropecuária, que em 2011 era de 4,5%, caiu para Fotos: Divulgação

3,6% em 2012 devido a forte seca que atingiu a região. Embora o PIB da Paraíba ainda ocupe a 6ª colocação dentre as maiores economias do Nordeste, o estado ficou em 4º lugar em termos de crescimento, se observado o crescimento de cada uma das federações no último estudo oficial do IBGE, ficando a frente de estados como Ceará e Bahia. PIB em 2012

R$ 38,7 bilhões Participação no PIB brasileiro em 2012

0,9% Participação no PIB per capita em 2012

R$ 10.151 Mil *Dados IBGE

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Alagoas, crescimento acima da média nacional Nos últimos quatro anos Alagoas apresentou um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima da média nacional. A estimativa da economia para o ano de 2014 demonstra isso, quando Alagoas fechou o ano com aumento de 2,1% e o PIB nacional aparece estagnado, com crescimento de apenas 0,1%. Apesar disso o estado continua sendo um dos mais pobres do país. Segundo dados do IBGE, Alagoas ocupa a 25ª posição no ranking que compara o PIB per capita dos estados brasileiros, ficando a frente apenas de Maranhão e Piauí. Acompanhando a evolução da região do Nordeste, que deixou de ser um mercado majoritariamente voltado para o Turismo e passou a ser alvo de grandes empresas nos últimos anos, o estado de Alagoas viu em 2011 a oportunidade de instalar um estaleiro com previsão de gerar 10 mil empregos, mas até hoje o projeto não saiu do papel. A obra do grupo Synergy deve ter investimentos de R$ 2,2 bilhões para ser construído no município de Coruripe. A implantação do estaleiro vem sendo articulada desde 2011. Primeiramente idealizado para ser construído no Pontal de Coruripe, o estaleiro teve sua licença ambiental negada pelo Ibama em julho de 2013. A nova área escolhida, denominada 5D, também fica no município de Coruripe, na comunidade do Miaí de Cima. O crescimento nos setores de serviços (2,4%) e agropecuária (7,2%) contribuíram para a manutenção do variável positiva do PIB em 2014. Os números altos na agropecuária são um indicativo de recuperação do setor, que obteve um crescimento de 29,4%. No agronegócio, dados divulgados pela Companhia Nacional 72

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Alagoas, alvo de investimento de grande empresas, é a sexta maior produtora de açúcar de Abastecimento (Conab), de 2013, Alagoas é apontado como o sexto maior produtor do país de cana de açúcar, são mais de 441,25 mil hectares de área plantada. A produção gera divisas no setor sucroalcooleiro, voltado para o biocombustível. Outro indicativo positivo é que, em comparação com os estados vizinhos, Alagoas foi um dos que menos sofreu com os impactos da queda no setor industrial. O índice local ficou em 0,3%, enquanto Bahia e Ceará registraram queda de 1,9% e 1,87%, respectivamente. Apesar disso, a Federação das Indústrias de Alagoas (FIEA) estima que o PIB do estado irá cair de R$ 31,5 bilhões em 2014 para R$ 30,5 bilhões neste ano. Segundo previsão divulgada pela Secretaria de Planejamento e Gestão de Alagoas (Seplag), a economia do

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estado recuou em 2,2% nos três primeiros meses de 2015. De acordo com a Seplag, a divulgação do resultado trimestral serve para que os gestores administrem melhor as ações econômicas ao longo do ano. Cabe a Alagoas esperar que esses índices voltem a apontar a variação positiva que apresentava antes. A estimativa, divulgada pela FIEA, para o PIB de 2013 é R$ 31 bilhões, para 2014, R$ 31,5 bilhões e 2015 de R$ 30,5. PIB em 2012

R$ 29,5 bilhões Participação no PIB brasileiro em 2012

0,7% Participação no PIB per capita em 2012

R$ 9.333 Mil *Dados IBGE


As vocações E DESAFIOS do Nordeste

Sergipe, maior renda per capita da região O estado que tem um dos menores Produtos Internos Brutos (PIB) do Nordeste é também o mais rico de acordo com o ranking per capita, segundo os últimos dados oficiais do IBGE, referente ao ano de 2012. Com uma economia de R$ 27,8 bilhões, Sergipe tem um rendimento de R$ 13.180,00 por habitante, o que o coloca em 17º na comparação com todos os estados do país. O bom desempenho sergipano acontece devido ao crescimento do setor industrial, que em 2012 avançou 5,6% e chegou a 28,8% do PIB estadual. Para feito de comparação: a fatia que a indústria representa para o PIB do Nordeste é de 23,5%. O Sergipe deve isso a um crescimento acima da média ao longo de 10 anos, quando a economia do estado avançou mais que a nacional e a do Nordeste. O volume de exportação das empresas serve para demonstrar o avanço da indústria sergipana. No intervalo entre 2001 e 2006, Sergipe exportou US$290 milhões, já no intervalo entre 2007 e 2012 as exportações foram superiores a US$ 682 milhões. O crescimento sergipano atraiu muitos investimento para a região e nos últimos anos essa procura se expandiu. De 2013 para cá duas fábricas de cimento anunciaram ampliação no estado, enquanto outra anunciou a construção de uma nova fábrica. Além disso, uma indústria de vidros vai se instalar no estado e o grupo Yazaki, que desenvolve peças automotivas, vai implantar uma fábrica na cidade de Nossa Senhora do Socorro. Esses investimentos têm

uma produção voltada, não só para o estado do Sergipe, mas para o mercado nacional. Para o assessor econômico do governo do Estado e mestre em Economia, Ricardo Lacerda, Sergipe passou a avançar mais rápido que o Brasil ao se colocar de forma estratégica no momento em que a Região Nordeste passou a ser favorecida por políticas econômicas. “Sergipe buscou ter uma política bastante agressiva de atração de investimentos”. Dono da maior fatia do PIB sergipano, o setor de serviços cresceu 3% na última pesquisa oficial do IBGE com avanços de todas as atividades. Só o comércio teve um aumento de 6,4%. A Secretaria de Planejamento e Gestão do Governo credita esse avanço à formalização do mercado de trabalho e o crescimento da massa salarial. Apesar da Agropecuária ter uma parcela relativamente pequena na Fotos: Divulgação

Incremento na exportação tem alavancado economia de Sergipe economia de Sergipe (4,6%), o estado se destaca pela produção de milho, que no Nordeste só perde para o Estado da Bahia, que tem área de plantio muito superior. O estado prevê que em 2015 deve alcançar 792 mil toneladas do grão. PIB em 2012

R$ 27,8 bilhões Participação no PIB brasileiro em 2012

0,6% Participação no PIB per capita em 2012

R$ 13.180 Mil *Dados IBGE

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Piauí, taxa de crescimento maior que a nacional

O Piauí tem o 5º mais baixo Produto Interno Bruto (PIB) do país e o mais baixo do Nordeste (R$ 25,7 bilhões), segundo os últimos dados oficiais do IBGE de 2012. Além disso, é o estado mais pobre do país de acordo com o ranking das federações per capita. Mesmo assim os últimos anos foram bons para os piauenses e o estado hoje mostra uma taxa de crescimento maior do que a nacional e do Nordeste. Números mais recentes indicam que o PIB do estado subiu para R$ 29,3 bi em 2013 e que fechou 2014 com R$ 30,7 bilhões, apontando para um crescimento de 4,79% em relação ao ano anterior. Para efeito de comparação, a média do Nordeste foi de 3,7% e a nacional foi de 0,1%. Segundo a Fundação Centro de Pesquisa Econômicas e Sociais do Piauí (Cepro), a indústria já corresponde a 16,19% do PIB do estado. 74

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Nova fronteira agrícola, Piauí chegou a quintuplicar área ocupada pela agricultura Novos investidores e o apoio do Governo do Estado levaram a implantação, somente no ano de 2012, de 34 novas indústrias com capacidade de gerar até 8 mil empregos diretos e indiretos, com investimentos de R$ 223 milhões. No entanto, o agronegócio parece ser a bola da vez. Considerada a nova fronteira agrícola do Brasil, a região do Matopiba, que engloba o Piauí, tem sofrido uma profunda mudança em sua paisagem. A área ocupada pela agricultura praticamente quintuplicou no estado nos últimos dez anos. Projeções indicam que em 2022/23, Matopiba vai colher 18 milhões de toneladas de grãos. Com esses e outros investimento, o Governo quer ampliar o PIB do

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Fotos: Divulgação

Piauí, até 2022, para R$ 50,2 bilhões. O governo tem um plano, a gestão definiu o projeto de uma Vila Olímpica, cinco BRs e onze aeroportos regionais como prioridades. Todavia, segundo o IBGE, 28,68% da economia é sustentada pelo setor público, o comércio tem a segunda maior participação. Os dois respondem por mais de 70% da economia. PIB em 2012

R$ 25,7 bilhões Participação no PIB brasileiro em 2012

0,6% Participação no PIB per capita em 2012

R$ 8.137 Mil *Dados IBGE



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CONJUNTURA ECONÔMICA II


As vocações E DESAFIOS do Nordeste

Os desafios e as vocações Estados precisam encarar o desafio de melhorar educação e infraestrutura para poder avançar em vocação criativa

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Revista NORDESTE e criado mais um fator desagregador as oportunidades que aparecem em solicitou a três econo- do que de desenvolvimento. um ambiente muito dinâmico”, avamistas que traçassem um Nos parágrafos e páginas que seguem lia Leonardo Guimarães. Segundo painel atual sobre os de- a NORDESTE compila o pensa- o economista, foi isto que, liderasafios e vocações da região. As respos- mento dos cientistas para explicar da por Celso Furtado, a região, fez tas apontam para uma situação difícil as várias diferenças e dificuldades num ambiente político e econômico de ser resolvida, apesar de inúmeros da região e suas vocações. Um pai- favorável do final dos anos 50, no avanços conseguidos até o momento. nel profundamente heteregênio, mas século passado, com uma articulaOs estudiosos são Marcos Formiga, também por isso incrivelmente rico ção dos governadores nordestinos e diretor do Centro Celso Furtado de de significados e potencialidades. de outras lideranças regionais, com Políticas para o Deseno apoio substancial do volvimento, sediado no presidente Juscelino O desenvolvimento no Rio de Janeiro; Nelson Kubitschek. O profesBrasil se deu de uma forma Rosas, professor emésor lembra que na ocarito da Universidade sião criou-se uma institão desequilibrada que no Federal da Paraíba e tuição responsável pela final você tem uma série de coordenador do Projecoordenação da polítito Globalização e Crise ca de desenvolvimenregiões diferentes na Economia Brasileira to regional (a Sudene) Nelson Rosas (Progeb), e Leonardo com participação dos Economista Guimarães Neto, diregovernadores e minisNo entender dos economistas há tros, elaboração de planos diretores tor técnico da Consultoria Econômica e Planejamento (Ceplan), em uma grande heterogeneidade de si- regionais que foram discutidos e vatuações nos estados nordestinos que lidados pelo Congresso Nacional. Pernambuco. Os três são unânimes em afirmar que torna difícil definir “vocações” esta“Na época, caracterizada por um é preciso uma união mais efetiva da duais. “O Brasil e o Nordeste são intenso processo de industrialização região e que é urgente que seja feito sociedades e economias heterogêneas do país, concentrado no Sudeste e em um novo pacto federativo para aca- que comportam vários caminhos no particular em São Paulo, o caminho bar de vez com a guerra fiscal, tática seu desenvolvimento e que devem para o desenvolvimento regional esque tem sido nefasta para os estados ter capacidade para bem aproveitar tava baseado na industrialização da Foto: Shutterstock

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região, na implantação de uma infraestrutura econômica e na reestruturação da atividade agrícola da Zona da Mata e do semiárido. Foi essa arquitetura institucional que durante alguns poucos anos deu substância a uma articulação política regional, que tinha nos governadores uma das bases de sustentação”, frisa. O professor Nelson Rosas corrobora com a visão de Leonardo Guimarães. “O desenvolvimento no Brasil se deu de uma forma tão desequilibrada que no final você tem uma série de regiões diferentes. O sistema tributário também não contribui para reduzir essas diferenças, e sim para aumentá -la. Falar numa vocação é complicado”, avalia Nelson Rosas. É verdade que realidade mudou em vários aspectos, mas passados mais de 50 anos, desde a fundação da Sudene, a participação do Nordeste na economia nacional não apresentou avanços significativos nas últimas décadas. Entre as mudanças e transformações que ocorreram na região está a implantação de grandes empresas e indústrias (confira análise nas matérias Crescimento e Atrasos e Transformação da Paisagem). Houve avanços, em vários estados na agricultura irrigada e no agronegócio. Foram realizados investimentos de grande e médio porte em novas cadeias produtivas (investimentos em petróleo e gás, na indústria naval e automobilística, na energia renovável). O economista Leonardo Guimarães lembra que na última década, enquanto durou a fase de expansão da economia nordestina, surgiram empreendimentos voltados para a demanda regional, sobretudo a do consumo (indústria de alimentos e bebidas, com fábricas instaladas na região). A questão hoje é que muitos desses investimentos necessitam ter seus esforços mantidos para reforçar as mudanças e transformações positivas. Entre esses esforços a intervenção do Estado talvez seja essencial. 78

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Vocação: Economia do Conhecimento Para Marcos Formiga, é difícil nomear uma vocação única para o Nordeste. “Há um Nordeste composto de vários nordestes. Uns com solidariedade regional e outros com pouco sentimento de região nordeste”. No entender do estudioso, a saída para o Nordeste seria abandonar a “velha fórmula da solução hídrica” já tentada com bastante insucesso, onde se acumula água, mas não sabe o que fazer com ela. Formiga lembra que vocação tem a ver com a junção da capacitação humana com a disponibilidade de recursos naturais, somando a isso a uma “capacidade criadora, criativa e inovativa”. O estudioso cita o economista

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As vocações E DESAFIOS do Nordeste

Juscelino Kubitschek: o primeiro Presidente do Brasil a tratar o Nordeste com políticas de solução socioeconômica

austríaco Joseral e permanente ph Schumpeter de reinventar e e sua “destruitestar o novo para ção criativa” dimanter o crescifundida no livro mento de for“Capitalismo, Soma permanente. cialismo e DemoPara o econocracia (1942)”. O mista, tudo isso livro descreve o tem muito a ver processo de inocom a ‘economia vação, que tem do conhecimenlugar numa ecoto e a criação’. nomia de merca“O nordeste tem do em que novos um povo criatiprodutos des- Professor Nelson Rosas, vo, além de muitroem empresas falar em vocação única para to trabalhador. A velhas e antigos o Nordeste é complicado deficiência existe modelos de neporque o governo gócios. Formiga explica que a com- e a sociedade não fizeram o seu debinação dos fatores de produção da ver de casa, educar o povo. Antes de economia clássica – trabalho, capital pensar em vocação tem que resolver financeiro, capacidade empresarial – o problema base, e o problema base se reestruturam e devem se recombi- é a educação”. nar, caso contrário a economia entra Entre os exemplos de “Economia em estagnação, desindustrialização, do Conhecimento” no Nordeste, Forou num desenvolvimento medíocre. miga cita o Porto Digital, em PerUm dos perigos do nordeste. nambuco; o trabalho que o estado do Trocando em miúdos, significa di- Ceará e o município de Sobral estão zer que existe uma necessidade natu- fazendo na área de alfabetização – que se tornou modelo nacional – e o esforço feito em capacitação profisOs primados do economista Celso Furtado de redução sional na região do porto de Itaqui, das desigualdades regionais em São Luís, uma área extremamente aplicando investimentos carente, mas que está instituído proem infraestrutura, como o jeto para qualificar cerca de 100 mil Estaleiro Atlântico Sul, foram pessoas afim de atender as demandas adotados pelo governo Lula de talento humano na região. “Isso gera uma correlação direta entre os investimentos financeiros e a necessidade de capital humano”, pontua Marcos Formiga. O diretor do Centro Celso Furtado acredita que a vocação do Nordeste Fotos: Divulgação

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Marcos Formiga, investimento em economia criativa é a saída para o Nordeste

aponta para seu processo criativo natural e sua cultura mais que efervescente. “Essa seria a saída para dar qualidade de vida às pessoas e aumentar o índice de felicidade. Aí é que eu venho com outros indicadores. Ao invés de renda per capita quero satisfação do povo. Ao invés de PIB alto eu quero respeito à natureza, sustentabilidade e qualidade de vida. É uma visão pouco ortodoxa para a linguagem do economista”. Cintando outro economista, Partha Dasgupta, Formiga avisa que o capital humano hoje está mais ligado a sociedade do conhecimento do que a números frios de per capita e PIB. Essa seria a ideia de economia criativa. “Na minha observação, nós temos de reverter essa métrica”. Partha Dasgupta é um doutor, professor emérito de economia da Universidade de Cambridge, que está trabalhando para a Unesco um novo tipo de indicador, onde se mede a riqueza inclusiva. “Estou replicando o modelo de Partha Dasgupta. Primeiro ativo: o capital humano. Segundo: o capital físico e produtivo. Terceiro: o capital natural. Com esses três ativos se tem uma ideia da riqueza inclusiva. Só para se ter uma ideia, o 80

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PIB do EUA quando eles fizeram o cálculo inicial estava numa faixa de 10 trilhões de dólares. Com o conceito da riqueza inclusiva ia para 118 trilhões de dólares. É uma revolução na quantificação dos indicadores, para ficar um pouco mais liberto da taxa de inflação, taxa de desemprego, juros, porque tem coisas mais interessantes que estão vindo ai, como essa da economia criativa a partir da matriz maior do mundo, a economia do conhecimento”. Para o economista, fica claro que o Nordeste pode pegar carona nessa nova onda planetária, mas precisa urgentemente investir na educação de seu povo e nos novos talentos que surgem.

Desafio 1 – Mais investimento do Estado

o turismo predatório e investir na qualificação de mão de obra especializada. Isso significaria criar estruturas para a instalação das indústrias. “A gente não pode pensar no nordeste sem tratar desses problemas”, frisa Formiga. Tudo isso esbarra em investimentos do Estado em infraestrutura. “As indústrias são atraídas pelo mercado, outra fonte que pode atrair qualquer tipo de indústria é a pro-

Todavia, é difícil pensar em vocação do nordeste sem olhar para o que há de mais elementar para o desenvolvimento. O próprio Marcos Formiga ressalta a questão da educação, que precisa de novos esforços para alcançar um novo patamar. Houve investimento em quantidade de vagas, mas falta melhorar a qualidade. No entanto, o desafio do Nordeste não é só melhorar a educação, mas também fomentar uma série de cadeias que vão desde melhorar transporte, irrigação, Infraestrutura fornecimento de necessário ao energia, fazer sacrescimento neamento básico, até combater

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As vocações E DESAFIOS do Nordeste

Sala de aula, educação precisa ser aprofundada. Ao lado, Fábrica da Fiat em PE, nova cadeia produtiva

ximidade da matéria prima. A existência de mão de obra com tradição operária é a terceira coisa. Eu não vejo interesse de indústria nenhuma se deslocar para uma área que não é fonte de matéria prima, não tem proletariado com experiência fabril, nem tem mercado em tamanho suficiente para atraí-la. Os empresários não virão. A gente vem pelejando desde a Sudene nessa guerra para atrair empresas. Não adianta. Os empresários

mesmo tempo pode ser um atrativo para a instalação das indústrias. “Se você liga uma região que não tem matéria prima, mão de obra, nem mercado de consumo, com bons meios de transportes, não só estradas, mas estradas de ferro e cabotagem, é possível atrair determinadas indústrias que vêm fugindo do congestionamento, da loucura de São Paulo”, indica Rosas. No entender do economista, ou o só vão para um lu“Antes de estado interfegar onde ele possa pensar em re para criar, não produzir com lufavores, mas criar cro. O que a gente vocação tem infraestrutura que tem feito: atrair via favores fiscais. Isso que resolver a possibilite o deslocamento das é um falso atratieducação” empresas para o vo”, opina Nelson MARCOS FORMIGA nordeste, ou elas Rosas. Economista não vêm. “Não é A questão dos função do estado transportes é, na verdade, um grande desafio, mas ao criar as fábricas, a gente já andou fazendo isso durante muito tempo e ultimamente está meio fora de moda. Não é que eu não concorde com isso, acho que em certas ocasiões o estado deve agir até mesmo diretamente, mas tudo bem. Estou aceitando a maré atual. Não é a função do Estado criar empresas. Mas é função do Estado criar condições que permitam a existência e instalação dessas empresas”, ressalta. Apesar de cobrar uma atuação mais efetiva do estado, Rosas diz que não acredita em mega obras. “A gente deveria mudar o foco e adotar o lema: Small is Beautiful”, filoso Fotos: Divulgação

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fa. O professor se refere a tese do economista norte-americano Ernst Schumacher, “Small is Beautiful: a study of economics as if people mattered”, publicada a partir de palestras proferidas durante a década de 60 e início de 70, que defendia a retomada do desenvolvimento econômico, após a crise do capital, sob bases mais humanistas. É preciso “adequar as atividades ao tamanho que nós temos e às condições que nós temos nesse momento. Não ficar com essa loucura de gigantescos projetos”, ressalta.

Desafio 2 – péssima articulação política Para os economistas um outro problema sério que precisa ser resolvido é a qualidade dos políticos na região. Há passividade e incompetência. “A sucessão de administradores, não diria desonestos, mas pelo menos medíocres, é muito grande. Se a gente não alterar esse grupo de pensadores, intelectuais e políticos que dirigem o estado vai ser difícil conseguir mexer nessas questões que são básicas, e que dependem da ação do estado que há muito tempo não estão sendo atacadas”, desabafa Nelson Rosas. “Há muito tempo que o Nordeste não apresenta liderança nacional. Nós não temos uma posição visível de liderança política, embora tenha uma força política muito grande. Se você somar as bancadas dos nove estados do nordeste somos capazes de fazer muitas coisas”, frisa Marcos Formiga. Segundo o estudioso, a região tem capacidade de pressionar desde que se articule. “O Celso me dizia nas minhas conversas e aconselhamentos com ele sobre a diferença do Nordeste que ele via recentemente, próximo dele morrer, na virada do século cada

Teoria da década de 60 prega modelo econômico mais humanista estado puxava a brasa para a sua sardinha. E no Nordeste da Sudene, que era uma invenção literal do Celso, o interesse da região estava acima dos interesses dos estados”, argumenta. Entre os pontos que tornam imprescindível uma articulação política está colocar um fim na guerra fiscal. “O comércio interestadual apresenta, sistematicamente, um déficit com relação ao Sul e Sudeste, voltadas com mais ênfase para São Paulo. Todavia, isto não ocorre somente em relação ao consumo, incluindo neste os bens de consumo duráveis. Tal déficit comercial tem importância, também, no que se refere aos insumos industriais, a máquinas ou equipamentos vol-

Reunião da bancada do Nordeste com governadores no Congresso Nacional 82

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tados para as atividades produtivas regionais, tanto agricultura, como indústria e serviços”, lembra Leonardo Guimarães reforçando a ideia da perda no comércio interestadual, principalmente para a região Sul/Sudeste. Essa queda de braço também acaba fazendo parte da dinâmica da guerra fiscal. O professor ainda lembra que num ambiente caracterizado pela ação isolada de cada governo estadual prevaleceu até aqui a competição voltada para o crescimento individual, fazendo com que os estados atuassem agressivamente na oferta de vantagens e incentivos às empresas. Entretanto, essa política acaba favorecendo o parasitismo, onde muitas empresas acabam se apropriando dos recursos dos estados dando em troca meia dúzia de empregos, mas a medida que esses benefícios fiscais são cortados a empresa vai embora. “Eu acho isso uma molecagem dos governos. Alias acho isso até um crime. Os estados vão concorrendo com a miséria”, desabafa Nelson Rosas. “Não vejo outro caminho (além de acabar com a guerra fiscal). Agora o que se faz para que os estado façam isso? A gente tem que cair na política e eleger pessoas que sejam capazes de ter essa ação”, defende.


As vocações E DESAFIOS do Nordeste

A defesa do direito de se rebelar AV A L I A Ç Ã O

E C O N Ô M I C A

O

s números da transferência de riqueza da região transformação do regime tributário “que castiga os estae dos (parcos) investimentos da União ao longo dos predominantemente consumidores ou prestadores dos anos, apontam para algo que o ministro de de serviços e fomenta uma guerra fiscal”, essa mudança Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, argumentou levaria consequentemente a um novo pacto federativo e em palestra para os oito governadores do nordeste du- uma revisão do marco legal e tributário. Também seria rante encontro realizado em Natal: “O Nordeste precisa necessário organizar uma espécie de “produtivismo inde rebelar”. cludente”, que obrigaria a uma reavaliação da real neces“Não há solução para o Brasil se não houver solução para sidade de grandes obras na região, e visaria a uma aposta o Nordeste. Não há solução para o Nordesmaior no “empreendedorismo vanguardista te se não houver solução para o semiárido”, da indústria e dos serviços”, nas palavras do a afirmação foi cunhada pela Associação ministro, se referendo a soluções inovadoras dos Funcionários do Bando do Nordeste do criadas e fomentadas por empresários, cienBrasil (AFBNB) ainda em 2008 e voltou tistas e estudiosos visionários que pipocam a ser pronunciada por Mangabeira Unger em vários estados da região. neste ano. O ministro defendeu um novo Unger afirma ainda que seria preciso tammodelo de desenvolvimento para o Brasil, bém uma reorientação da política social e onde o Nordeste teria um papel preponuma transformação radical na qualidade do derante. A defesa é para que ensino público. Contudo, no enhaja o desenvolvimento mais tender do ministro, esse novo “Ao rebelar-se igualitário, com ênfase num paradigma do desenvolvimento contra o modelo de recorte regional para o desendepende em sobre medida de volvimento harmônico do Brauma ação urgente do próprio desenvolvimento, o sil. Entre as ações propostas Nordeste falará pelo Nordeste. para melhorar as condições da Mangabeira Unger ressalta Brasil” região estão a ampliação do que ao dizer que “não há solução prazo para a União destinar às para o Brasil, sem solução para o Mangabeira Unger regiões Centro-Oeste e NorNordeste”, não é apenas porque Ministro de Assuntos Estratégicos deste percentuais mínimos dos mais de um quarto do povo brasirecursos destinados à irrigação. leiro vive no Nordeste, “é também porque o Nordeste tem A ideia de Unger é criar um modelo que democratize a muito das qualificações indispensáveis a essa obra (de um economia do lado da produção e oferta. E não mais apenas novo ciclo econômico). Inclusive a qualificação espiritual do lado do consumo e demanda. Isto é, a região deixaria decisiva da disposição de rebelar-se”. A argumentação de de ser mera consumidora dos bens produzidos no Sul e Unger aponta para uma espécie de levante do Nordeste, Sudeste. “Essa é uma tarefa urgente para o país, porque construindo uma estratégia que leve o governo e o resto só essa estratégia produtivista e capacitadora conseguirá do país na onda. Apesar de propor que muito do futuro elevar a produtividade da economia brasileira, tirar o país do desenvolvimento do país está numa proposta de deda estagnação econômica e financiar o acesso aos servi- senvolvimento da região, Unger acredita que nada disso ços públicos de educação, saúde e segurança que o povo vai acontecer sem luta. “Luta pacífica, luta dentro das brasileiro busca”, frisou Unger. leis, mas luta. O Brasil precisa de um Nordeste inquieto, Segundo o ministro, uma estratégia que contemple inconformado e desobediente. Nunca foi mais necessária o desenvolvimento do Nordeste pode ser uma linha de à nação a rebeldia nordestina. Ao rebelar-se contra o mofrente dessa nova era de desenvolvimento nacional. Os delo de desenvolvimento que nega braços, asas e olhos a pontos principais dessa nova estratégia apontam para a sua assombrosa vitalidade, o Nordeste falará pelo Brasil”.

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EFEITO SOCIAL


As vocações E DESAFIOS do Nordeste

A transformação da paisagem Programas sociais mudam a cara do semiárido e sertão nordestino e põem fim a mortes por fome, saques e imagens de retirantes da seca

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ão é fácil para uma Essa mudança vem acontecendo que mais sofriam com as privações, pessoa que nasceu no nos últimos anos através dos pro- segundo informações divulgadas no semiárido, castigado gramas sociais, que têm modificado início do ano pelo Ministério do Depelas secas, ‘pagar pe- a vida social e econômica no Brasil senvolvimento Social (MDS). dágio’ para ter acesso a qualquer bem, e, especialmente, na região nordeste. É inegável que a paisagem começou inclusive acesso a água ou qualquer Assim, a pobreza extrema, considera- a mudar com programas de transbenefício público”, reclama Roberto da em suas várias dimensões – edu- ferência de renda. Programas como Veras, professor de ciências sociais cação, trabalho, renda, saúde –, não o Bolsa Família, Prouni, Fies, Proda Universidade Federal da Paraíba apenas na baixa renda, caiu de 8,3% jovem, Pronatec, de Construção de (UFPB). O ‘pedágio’ seria uma es- da população, em 2002, para o equi- Cisternas, de acesso a Atenção Básica pécie de fidelidade e submissão pra- valente a 1,1% da população em 2013, a Saúde. Programas, na sua grande ticamente eternas. Veras lembra maioria, implantados ou amque a miséria nordestina estigpliados nos últimos anos, prin“Quando eles (os matiza e cria dependência das cipalmente durante o governo do mais pobres) vão se populações mais pobres em reex-presidente Luiz Inácio Lula colocar no mercado da Silva (PT) e Dilma Rousseff lação as elites, econômica, social hoje têm um poder de (PT). e política. O cientista pontua que parte da Apesar disso, a menor submisbarganha melhor” população mais pobre do interior são dos beneficiados pelos proroberto veras do nordeste mantinha relações degramas sociais tem sido alvo de Sociólogo pendentes e ligadas a esquemas de crítica. “Quando eles (os mais pofamílias, como reconhecimentos feitos segundo dados da última Pesquisa bres) vão se colocar no mercado hoje ao dono da terra. Uma relação muito Nacional por Amostra de Domicí- têm um poder de barganha melhor. parecida ao que era mantida ainda do lios (Pnad) do IBGE, com base em Não topam trabalhar por qualquer início do século passado. “Agora eles metodologia do Banco Mundial. É preço, e isso, muitas vezes, é tomado têm condições de barganhar num outro um avanço incontestável. Em pouco por preguiça, vagabundagem, depenpatamar seu trabalho, na medida em mais de dez anos, deixaram a situação dência dos recursos públicos. Agora que já têm uma renda garantida que de pobreza mais severa, sobretudo, as ele pode barganhar minimamente em supre muito minimante as suas neces- famílias com crianças, os negros e os torno do valor do seu trabalho e cria-se nordestinos, parcelas da população a base mínima para a construção de sidades”, avalia. Foto: Divulgação

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“Não houve aumento da mortalidade infantil e nem temos mais notícias de morte por causa da seca” LEONOR PACHECO Professora da UnB

um mercado de trabalho”, defende çado em 2011. Com as cisternas, as Veras. famílias conseguem água para beber Entre os programas de sucesso, es- e para seguir com suas plantações. tão o de construção de cisternas, uma Muitas vezes as hortaliças, grãos e solução simples para recolher água tubérculos cultivados incrementam a da chuva, utilizada para o alimento alimentação e ainda ajudam no orçae para a agriculmento familiar: tura, numa região são vendidos em onde os poços programas do goperfurados dão verno para suprir acesso a água sala merenda escogada, imprestável lar ou nas feiras para o consumo agroecológicas. ou irrigação. No A grande maiosemiárido norria dessas pessoas destino a consque apareciam trução de cisternas estatísticas nas mudou o ceda pobreza exLeonor Pachedo, da UnB, nário. Em pouco trema do IBGE percorreu Brasil de mais de três anos, hoje fazem parte 1977 a 1999 mais de 750 mil dos cerca de 14 cisternas foram instaladas na região, milhões de famílias beneficiárias do garantindo o acesso à água a quem, Bolsa Família e que, por meio da por vezes, tinha de buscá-la a horas inscrição no Cadastro Único, tiveram de distância de casa. Os dados são acesso a uma vida melhor (confira do Plano Brasil Sem Miséria, lan- História de Vida). Alguns já abriram 88

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Programas sociais reduziram a mortalidade infantil mão do pagamento do programa de transferência de renda. O MDS afirma que 2,8 milhões de famílias já deixaram o Bolsa Família porque melhoraram de vida. Destes, mais de 1,5 milhão fizeram cursos de qualificação do Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego). Veras revela que especificamente no caso do Nordeste a diferença que os programas sociais proporcionaram nos últimos 12 anos pintam um quadro geral de melhora na vida. O estudioso aponta um dos fatores que comprovam essa melhora no Nordeste: a seca, que hoje acomete a região e que já dura cerca de cinco anos. “O quadro de seca do Nordeste sempre foi um cenário de retirantes, de saques, um cenário de miséria e caos. A gente não tem vivenciado isso nos


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últimos tempos”, pontua. A fome deixou de ser uma presença na vida da população do semiárido graças não só ao Bolsa Família, mas também a outros programas como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), e o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), que ajudaram a evitar a mortalidade infantil. O PAA compra alimentos produzidos pela agricultura familiar, com dispensa de licitação, e os destina às pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional e àquelas atendidas pela rede socioassistencial dos governos estaduais e municipais. Assim, o Pronaf e o PAA estimulam a agricultura familiar, que combatem a fome e, ao mesmo tempo, ajudam na melhora da renda das famílias mais pobres que possuem algum pedaço de terra. Leonor Pacheco, pesquisadora e professora da UnB, que percorreu boa parte do Brasil entre 1977 e 1999, acompanhando principalmente crianças de zero a cinco anos de idade, lembra que, no final da década de 1980, a seca foi considerada um genocídio. “Famílias perdiam até três crianças”. Segundo ela, na última seca severa no Nordeste, em 2013, as mortes atingiram apenas o gado. “Não houve aumento da mortalidade infantil e nem temos mais notícias de morte por causa da seca”. Segundo a professora, a população em situação de insegurança viu a vida mudar não apenas por causa do benefício de transferência de renda, mas por um conjunto de políticas e programas implantados ao longo de pouco mais de uma década e por um período ininterrupto.

Duval com o cliente na barbearia de Pedra Branca, interior da PB

Histórias de vidas* “Quando eu era pequeno, muitas partir dos celulares. Pedra Branca, vezes só tinha o beiju para levar para como centenas e centenas de mua escola. Eu comia antes de chegar nicípios brasileiros, vive hoje uma lá, para não deixar que a criançada nova realidade, impulsionada pela ‘mangasse’ de mim. Tinha medo dos implantação de programas sociais do outros, passava vergonha”. A infor- governo federal, integrados e articumação é de Duval Pereira Lima, 65 lados entre si. anos, casado, pai Duval é taxade quatro filhos “O Bolsa Família tivo: “O Bolsa e morador há 60 Família é muito é muito bom. anos de Pedra bom. Não é muiNão é muito Branca, cidade to dinheiro, mas dinheiro, mas pobre e seca do aqui ajuda muito Vale do Piancó aqui ajuda muito o pessoal todo.” região do sertão o pessoal todo” Ele acredita que paraibano. Dutodo mês o Bolduval pereira val foi agricultor sa Família injeta Barbeiro toda a vida, como entre R$ 500 mil o pai e seus antecessores. Aposentou- e R$ 600 mil no comércio da cidade. se e montou uma pequena barbearia “Hoje ninguém vai mais embora daao lado da praça da igreja, onde cobra qui para procurar emprego”, reforça o R$ 1 ou R$ 2 pelo corte de cabelo. barbeiro. “Aqui tem trabalho”. BrinHoje todas as noites, os jovens se calhão, ele recorreu a algumas “tecencontram na praça para aproveitar nologias” para agradar os clientes: um a rede Wi-Fi grátis e se conectar “ar condicionado” improvisado, com ao mundo, por meio da internet, a um ventilador apontado para uma

*As histórias fazem parte da revista O Brasil Mudou, 2015, e foram cedidas pelo Ministério do Desenvolvimento Social

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Praça da cidade de Pedra Branca, wi fi grátis para a população

bacia cheia de água, e o borrifador cebem o benefício há nove anos: os para molhar os cabelos e refrescar atuais R$ 119 complementam a reno corpo, tanto de quem está tendo da da família. “O dinheiro sempre o cabelo cortado como para o dele ajudou muito. Um pouco para a feira, mesmo. Ele lembra a infância difícil, para comprar um chinelo, uma roupa, sofrida com a estiagem. “O primeiro um remédio às vezes, um livro que sapato que eu botei no pé foi com precisa para escola ou até para tirar 17 anos, emprestado de um vizinho”. xerox”, conta Ledriana. Há um ano, o Duval, seu pai e seus oito irmãos mui- casal montou uma horta no meio do tas vezes trabalhavam em troca de sertão, que recebe água de um poço milho ou feijão. perfurado por Uma realidade eles. Começaram “Meu menino parecida foi relaproduzindo cenunca precisou tada por Ivan de bolinha, que hoje pegar numa Souza, 38 anos, vendem para a enquanto o barprefeitura: R$ 60 enxada” beiro o atendia. por mês. “Vamos ivan de souza “Aos oito anos, começar a vender Agricultor eu já trabalhava para o PAA (Prona roça, com meu pai. Três dias na grama de Aquisição de Alimentos) nossa roça e três dias ‘alugados’. A também. Já tivemos a reunião na pregente cuidava do algodão dos donos feitura”, contou sorridente Ledriana, de terra. Eles nos pagavam em milho. prevendo um ganho de mais de R$ Nossa comida era milho com leite e 500 por mês. “Estamos ampliando”, pão com leite”. Sua família tem outra destacou Cícero. O produtor explica vida. Ele planta e trabalha numa ofi- que aprendeu muita coisa com o pai. cina de motos e bicicletas. A família “Ele sempre trabalhou pros outros e é beneficiária do Bolsa Família. Ivan me levava junto. Por isso, não estufaz questão de que os três filhos, de dei”, conta. O filho mais velho, diz 15, 11 e 8 anos, estudem. “Meu meni- com orgulho, acaba de entrar no curso no nunca precisou pegar numa enxa- de Administração da Universidade da”. O Bolsa Família também ajudou Federal da Paraíba, em João Pessoa. muito a família de Cícero e Maria “Passou, entre os colegas de escola, Ledriana Silva. Agricultores, eles re- em 1º lugar no Enem”, comemora. 90

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O FIM DA MISÉRIA: AÇÕES QUE VÊM MUDANDO O PERFIL DA REGIÃO Os programas sociais implementados pelo Governo Federal provocaram uma espécie de revolução no Nordeste brasileiro, principalmente na região semiárido. Famílias inteiras não só saíram da miséria como também já enveredam como produtores rurais, alimentando a cadeia produtiva das cidades. A reboque, os filhos desses primeiro beneficiados, têm acesso a educação e oportunidades a mais condições de trabalho e renda

MELHORIAS proporcionadas Pelos PROGRAMAS SOCIAIS • 301,6 mil (2011 a junho/2014) operações de aquisição de alimentos feitas por famílias do Bolsa Família • 4 milhões toneladas de produtos adquiridos da agricultura familiar • 388 mil de agricultores comercializaram para o PAA • 354 mil famílias brasileiras participam do Programa de Fomento às Atividades Rurais. Por meio da ação, os agricultores familiares em situação de extrema pobreza espalhados pelo país recebem assistência técnica e extensão rural, além de R$ 2,4 mil – em três parcelas – para investir em projetos produtivos


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Mulheres beneficiárias do Bolsa Família têm menos filhos Ao contrário do que é insinuado por alguns críticos, mulheres beneficiárias do Bolsa Família tem menos filhos. Dados dos censos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) de 2000 e 2010 apontam que o grupo de mulheres mais pobres apresentou queda de 30% no número médio de filhos, acima, portanto da média nacional, de 20,2% . As maiores reduções ocorreram nas regiões Nordeste (-23,4%) e Norte (-21,8), que são as localidades que mais recebem a transferência de renda

A permanência na escola • Estudantes de 6 a 15 anos de idade precisam assistir a pelo menos 85% das aulas e adolescentes de 16 e 17 anos, 75%. Quase 17 milhões de alunos beneficiários têm sua frequência escolar monitorada todos os meses pelo governo. • Os alunos do Bolsa Família estão presentes em 80% das escolas públicas de educação básica, o que representa aproximadamente 160 mil escolas e abrange cerca de 30% das matrículas. • O Censo Escolar de 2013 mostrou crescimento de 139% no número de estudantes matriculados em tempo integral: de 1,3 milhão em 2010 para 3,1 milhões em 2013

Sem fome Prevalência de baixa estatura (%) em crianças de cinco anos do Bolsa Família caiu de 16,8% em 2008 para 14,5% em 2012. Só em 2011, 9,1 milhões de crianças de seis a 59 meses tiveram suplementação com megadoses de vitamina A. Outras 402 mil receberam 1,2 milhão de frascos de sulfato ferroso nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), em 1.595 municípios brasileiros

Agricultura Familiar • Parte da produção da agricultura familiar reforçou a merenda oferecida nas escolas públicas do país a 43 milhões de crianças e jovens todos os dias. • Agricultores familiares pobres contaram com assistência técnica e acesso a crédito. • Em pouco mais de dez anos, 15,6 milhões de pessoas deixaram a condição de subalimentadas. • A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), tirou o país em 2014 do Mapa da Fome. • 89% foi a redução da extrema pobreza na faixa etária de 0 a 15 anos entre 2003 e 2014 • 301,6 mil (2011 a junho/2014) operações feitas por famílias do Cadastro Único no Programa de Aquisição de Alimentos.

Ações para a saúde Desde o início do Brasil Sem Miséria, em 2011, o aumento da cobertura das equipes de Saúde da Família nos municípios prioritários beneficiou mais de 4,8 milhões de pessoas

Mais água Cisternas 2003 a 2014 - 1 milhão de litros de água armazenados no Semiárido, 17 bilhões de cisternas para consumo entregue

Profissionalização • Mais de 1,5 milhão de matrículas em cursos de qualificação profissional. • Entre os beneficiários do Bolsa Família, mais de 400 mil tornaram-se microempreendedores individuais e contaram com crédito a juros mais baixos para produzir. • Em 2011, o Pronatec para o público do Brasil Sem Miséria, com mais de 620 cursos orientados à população inscrita no Cadastro Único, registrou mais de 1,5 milhão de matrículas, de Norte a Sul do país Agosto/2015

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QUANDO TODO MUNDO SE JUNTA, A EDUCAÇÃO MELHORA. O programa Educar para Transformar é um grande Pacto pela Educação que tem como meta principal elevar a qualidade do ensino público na Bahia. O Governo vai trabalhar muito, mas a educação vai precisar de todo mundo: famílias, prefeitos, estudantes, professores e empresários. Visite o site do programa, conheça os detalhes e descubra como fazer parte dessa iniciativa pelo futuro dos nossos jovens. Juntos chegaremos lá.

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Muito além do preconceito Grupos neonazistas reforçam estereótipo nordestino de miserável e vagabundo. Para filósofo, a única forma de evitar guerra entre regiões é a implantação de fato do modelo federativo

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pós o resultado das elei- temporâneo, já veio a público falar ções de 2014 a internet e contra o que ele chamou de “idiota as redes sociais foram as- da aldeia”. “Normalmente, eles (os saltadas por uma onda de imbecis) eram imediatamente calapreconceito contra o nordestino. Até dos, mas agora eles têm o mesmo dia Wikipedia foi alvo desse preconcei- reito à palavra de um Prêmio Nobel”, to quando o termo “Região Nordeste” completou. Para Eco, antes das redes teve a sua descrição alterada na enci- sociais, os ‘’idiotas da aldeia’’ tinham clopédia livre: “A Região Bolsa Famí- direito à palavra “em um bar e depois lia foi uma de uma taça das poucas de vinho, “Está havendo regiões a elesem prejuum impulso ger uma didicar a comuito grande tadora boliletividade”. de movimentos variana cha‘’O drama mada Dilma da Interfascistas no país Rousseff ”, net é que inteiro” dizia a Wiela promoroberto romano kipedia que veu o idiota Filósofo pode receber da aldeia a edição livre, e trazia estampada a raiva portador da verdade”, frisou. de quem culpava a região pela vitória O filósofo Roberto Romano (Unipetista. camp), pensador do assunto, destaca Com a popularização da internet é ser enganoso dizer que somente o fácil encontrar críticos do Nordeste Sul e o Sudeste cultivam o ressentique acusam o povo de ser pregui- mento contra o Norte-Nordeste. O çoso, ignorante e de eleger políticos nordestino também acaba ficando corruptos. As opiniões jogadas na ressentido. Para Romano, existe sim internet tem sido um tema polêmico. esse preconceito contra o Nordeste Até Umberto Eco, pensador con- de Minas para baixo. Mas também 94

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é possível encontrar uma atitude radical em relação ao sul no próprio Nordeste. O professor lembra que no século XVI, com a invenção da Imprensa e o advento do livro impresso,

teve uma onda de pedantismo no mundo e foi feita uma sátira daqueles que liam tudo e não entendiam nada. Com a internet houve novamente uma elevação do pedantismo, “agora


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Para o filósofo Roberto Romano, origem do preconceito entre as regiões vem da época do Império a nível cósmico”, avalia Romano. “Essas pessoas se julgam superiores e manipulam informações que não têm”, frisa. Além disso, Romano alertar para uma expansão dos movimentos fascistas no Brasil. Seriam grupos de extrema direita que agem na internet e que, de certa forma, acabam aglutinando uma classe média urbana profundamente preconceituosa.

“Eu acho que está havendo um impulso muito grande de movimentos fascistas no país inteiro. Não apenas no sul, mas inclusive na Bahia. No nordeste se nota a emergência desses grupos e setores. A mídia não tem discutido isso e não tem levado a sério esse tipo de ameaça. No parlamento ainda há a presença de grupos autoritários, conservadores e reacionários que estão se potencializando sobre a capa da religião, principalmente através do fundamentalismo protestante. Eles querem mudar para pior. Acabar com o direito das mulheres, homossexuais, indígenas. Uma saudade dos governos autoritários”. Segundo o estudioso, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é o exemplo claro disso, assim como Fotos: Divulgação

o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) e correligionários afins. “Há uma perigo muito sério dessas classes urbanas médias que já são tradicionalmente reacionárias encontrarem uma canalização pior daquela que houve durante o período do integralismo. O integralismo circulou pelo país e chegou a ter milhões de aderentes.Tem uma coalizão de extrema direita no país que se liga a essa classe média”, conta Romano. Vale ressaltar que o integralismo foi um movimento vigente na década de 30 que deu suporte a Getúlio, mas depois tentou destituí-lo do poder através de um golpe malogrado. O movimento também fez forte campanha anticomunista contra Luiz Carlos Prestes e tinha tintas fascistas. Durante o governo getulista foi um dos responsáveis pela aproximação do governo com Hitler. O Brasil viria, depois, a decretar guerra contra Alemanha, após ver um dos seus navios bombardeados.

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Classe sem cultura Sobre o porquê essas “classe urbanas médias” têm sido usadas como massas de manobra dos movimentos reacionários, Romano aponta uma certa falta de cultura. “Essa classe média a que eu me refiro, foi profissionalizada de forma unilateral. Eles foram para a universidade, adquiriram diploma de engenheiro e médico, sem interesse (ou acesso) por uma ótica mais ampla. São engenheiros analfabetos, em termos de arte, política e tudo mais. Pensam apenas por setor. São vitimas de veiculação de slogans e ideais preconcebidas. É muito fácil ser desvirtuado para quem não tem uma cultura mais ampla”, frisa. Contudo, Romano entende que o preconceito contra a região é algo mais antigo. “Eu acho que o importante é verificar que essa onda de ódio e preconceito contra o nordeste é resultado e não premissa. Resultado de uma política que vem desde o século 19”. Pela ótica do filósofo existem paliativos para a situação, e eles estão na luta travada pelos municípios e estados por mais autonomia, e uma federalização de fato no pais. “Existem juristas que dizem que o Brasil ainda é o império do poder central. Se 70% do que é arrecadado (de impostos) vai para a União o que sobra é disputado numa guerra (entre os estados). Assim, entra a guerra fiscal e até o xingamento e a briga de lado a lado”. O jogo de ódio para ver quem fica com a parte do leão Ao refletir sobre a ideia de federação (onde os estados tem autonomia em relação ao poder central), Romano chega a conclusão que no Brasil não existe uma federação de fato. Para ele o poder central é como se fosse um invasor que cobra uma espécie de botim e fica com a parte do leão. No 96

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final das contas o que sobra é que os estados se digladiem entre si na chamada guerra fiscal. “Há uma manobra permanente do poder central para despossuir as regiões”. Romano explica que o que exite é um mando imperial do governo central e uma permanente forma de controle das regiões, justamente atendendo as exigências das varias oligarquias regionais. “É muito mais tranquilo em vez de questionar essa forma de dominação de classe, disfarçar isso com esse jogo de ódio de uma região contra outra”, avalia.

Duque de Caxias e Barão do Rio Branco, apoio às forças estabelecidas Tem que distinguir as necessidades e reivindicações das regiões com as oligarquias comprometidas com a federação. Neste quesito, o nordeste e o Brasil tem vários exemplos de famílias que dominam a política, a economia e os meios de comunicação. Na política, os Sarney, os Neves, os Cunha Lima, Magalhães, Calheiros, Alves, Maia, Bornhausen, Richa, Barbalho, Collor. São sobrenomes que se repetem, apenas para citar alguns exemplos que têm conseguido se perpetuar no poder ao longo das gerações. No entender do estudioso, interessa ao poder hegemônico do Brasil esse

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tipo de visão que uma região tem da outra. “Quem se aproveita são os oligarcas que estão no poder central, controlando essas imagens. O que acontece em termos históricos, é que o Brasil foi um império onde as forças armadas cumpriu um papel fundamental de todas as dominações populares. No Nordeste, no Norte e no Sul vemos o Exército de Duque de Caxias acabando com as rebeliões. E a desculpa é que o Brasil não poderia se tornar uma serie de republiquetas como as espanholas”, ensina Romano, que ainda lembra a diplomacia do barão do Rio Branco, que atuou ativamente nas questões de fronteiras e defendeu os interesses brasileiros contra a Argentina, Guiana Francesa e a Bolívia. Neste quesito ainda é possível enxergar a violência das Forças Armadas que culminou com duas ditaduras. Romano argumenta que o estado brasileiro foi construído numa espécie de guerra entre as regiões. “A coisa mais fácil é colocar uma região contra a outra. Divide e impera. Assim, se mantém para o sulista a ideia de um nordestino vagabundo e para o nordeste de um sulista arrogante”. O estudioso acredita que o grande medo do poder central é que regiões adquiriram a sua própria importância. “Cada região tem uma caudal de atribuições que não é respeitada no Brasil. Se tivesse uma federação de fato teria um respeito a cada região. As leis da educação e cultura são uniformes do Oiapoque ao Chuí. E isso leva a pobreza do pais. E como resultado da riqueza regional vemos a cultura da televisão, e da novela, que é feita cotidianamente, a tal ponto que se considera virtude que ela não tenha sotaque”, critica.


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Na educação aumentou a oferta, não a qualidade AV A L I A Ç Ã O

S O C I O L Ó G I C A

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ós tivemos uma melhora na quantidade da salta. Com os programas sociais, Veras afirma que houve educação em todos os níveis, inclusive no deslocamentos dessa situação. “No entanto, essa elevação nível superior. O ensino tecnológico, o aces- está provocando uma reação imensa de uma parcela da so a universidades públicas e privadas. Cidades pequenas, sociedade. O Bolsa Família virou alvo de imensas críticas. como Patos, no sertão paraibano, ou Santa Cruz do Ca- A elite não admite nenhum tipo de modificação!”. pibaribe, no agreste de Pernambuco, hoje têm duas, três Apesar das críticas, Veras acredita que as políticas sofaculdades particulares. Isso se sustenta porque houve um ciais precisam ser mantidas e defende que elas são como crescimento da economia, tem um fator pressão, atração, políticas de cotas. “Cotas não podem vir para ficar, são estímulo, inclusive por parte do governo. No ensino técnico políticas emergências, não são feitas para serem mantidas a oferta não tem comparação ao que existia há 10, 15 anos permanentemente. Elas precisam ser transitórias, claro atrás”, argumenta Roberto Veras, professor de que essa transição precisa ser calculada. Uma Ciências Sociais da Universidade Federal da saída exitosa, que não crie uma situação de Paraíba (UFPB). dependência. Enquanto o quadro for esse No entanto, apesar do boom da oferta do é preciso que essas políticas, com acesso a ensino técnico e superior, o que não melhoeducação e bens, possam ir criando condição rou foi a qualidade do ensino fundamental às gerações futuras para irem se inserindo na e médio. “As pessoas continuam chegando sociedade e no mercado de trabalho,”. com muitas deficiências. Mesmo as escolas O quadro pintado por Veras parece uma particulares continuam tendo lacunas muiengrenagem natural, o maior acesso a bens to grandes. É preciso melhorar e a educação aumentaria o nível muito o nível da escola no Brasil. de pressões vindas de setores de “A elite não admite Se compararmos a outros países, baixo da sociedade, essas presnenhum tipo de o Brasil está muito longe para sões criariam, por si só, o espaço modificação!” chegar numa boa qualidade do propício para negociações que ensino. É tudo ainda muito desdarão mais poder de barganha às roberto veras regulado. O jovem deixa a escola classes mais necessitadas. “Eles Sociólogo e vai para o trabalho, continua podem mudar a situação e atuar trabalhando e volta para a escola. Tudo isso compromete no sentido de melhorar esse quadro. É preciso criar esse muito. A qualidade da oferta do ensino não é das melho- lastro que vai ajudar a trazer mudanças mais substanciores. Até agora não fizemos um investimento adequado sas para frente. Neste momento, estão sendo feitos esses nessa área. Essa é uma das principais lacunas das politicas ajustes emergenciais. Mas é preciso agir sobre esses ponpúblicas no Brasil”, assevera o estudioso. tos. Senão elas continuarão se reproduzindo como estão Veras não nega que houve avanços em várias áreas, mas se reproduzindo até hoje. São 500 anos de história, muda o problema é que os déficits são muito grandes. Para o o cenário, mas o quadro permanece”. cientista, o Brasil ainda é uma sociedade marcada pela Veras explicou que a solução é mesmo uma maior desigualdade e pela extrema polarização entre pobreza consciência cidadã da população. “É a compreensão que e riqueza, onde as instituições são viciadas e as leis têm a sociedade é para todos. Uma compreensão da elite e das dois lados, tem um lado que dá a impressão de um estado classes populares. Os de baixo precisam saber que eles têm moderno, mas do outro lado reproduzem a pobreza e a direitos e precisam atuar para que esses direitos sejam desigualdade, replicando preconceito e discriminação. conquistas efetivas. Os de cima devem ter consciência “Como vamos nos entender como sociedade se os de que a sociedade só funciona, ou funciona melhor, se os baixo se veem como incapazes, sem condições de assu- de baixo tiverem direito. A educação ajuda muito, não só mir responsabilidades maiores no plano politico, e os de para possibilitar uma melhor colocação no mercado de cima veem os de baixo como desprezíveis? Que noção de trabalho, mas também para fortalecer uma consciência sociedade é essa? Somos uma sociedade fracionada”, res- cidadã. Todos têm direitos e deveres”. Agosto/2015

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O Porto do Pecém é um dos poucos terminais off-shore do Brasil e conta com uma retroárea de 13 mil hectares, composta por uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE), a futura Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), um Terminal Intermodal de Cargas, usinas termelétricas e um amplo parque industrial. Atualmente, o Porto do Pecém se prepara para ampliar a movimentação de carga e descarga no terminal com a construção de três novos berços (conclusão prevista para início de 2016). E com o novo Canal do Panamá, será um dos portos mais estratégicos do mundo, consolidando-se como uma referência em eficiência, competitividade e sustentabilidade. Com grandes investimentos, o Governo do Estado está colocando o Ceará definitivamente no mapa do setor logístico mundial.


DIFERENCIAIS COMPETITIVOS: • PORTO COM GRANDE PROFUNDIDADE DE CALADO MAIS PRÓXIMO DO CANAL DO PANAMÁ • LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA ESTRATÉGICA E CURTO TEMPO DE TRÂNSITO PARA EUROPA E ESTADOS UNIDOS • CAPACIDADE PARA RECEBER GRANDES NAVIOS PORTA-CONTÊINERES • PROGRAMAÇÃO ANTECIPADA PARA ATRACAÇÃO DE NAVIOS • RÁPIDA CARGA E DESCARGA DE NAVIOS ATRAVÉS DE MODERNOS PORTÊINERES • LOCALIZAÇÃO FORA DOS GRANDES CENTROS URBANOS • PORTO INSERIDO NO COMPLEXO INDUSTRIAL E PORTUÁRIO DO PECÉM (CIPP)

Porto do Pecém

Retroárea de 13 mil hectares

Companhia Siderúrgica do Pecém

Esplanada do Pecém, s/n - Pecém • São Gonçalo do Amarante - Ceará - CEP: 62.674-906 • + 55 85 3372.1500 www.cearaportos.ce.gov.br

slogan

O CEARÁ PREPARADO PARA OS GRANDES DESAFIOS DA LOGÍSTICA MUNDIAL.


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SÍMBOLO EM DECADÊNCIA


As vocações E DESAFIOS do Nordeste

O papel da Sudene Sem apoio na mesma dimensão de quando criada, Superintendência vive o esvaziamento político com Fórum dos Governadores do Nordeste. Novo Superintendente aposta na reversão deste quadro, embora conjuntura econômica atrapalhe

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gosto, mês de aniversário da Revista NORDESTE, começa com muitas expectativas no Brasil diante do enfrentamento político -partidário. Enfretamento que pode gerar crise continuada refletindo nas políticas de incremento da economia. Dentro desse contexto, há uma grande interrogação sobre o que será a gestão do novo superintendente da Sudene, o economista João Paulo Lima. Já à frente do principal órgão articulador do Nordeste, mas há anos em declínio pela perda da força e do poder de antes. João Paulo chega com gás de adolescente, motivado pela oportunidade singular que dispõe para operar estratégias e políticas que refaçam o conceito depreciativo desde quando o governo FHC desativou a Sudene e, anos depois, o governo Lula reativou o órgão. Entretanto, até a presente fase não há um redimensionamento à altura do que fora a instituição. O governo Dilma promete reto-

mar ações de impacto visando o desenvolvimento socioeconômico da entidade e do Nordeste, entretanto, a conjuntura econômica só fala em contingenciamento e neste particular está a Sudene. Mesmo assim, a presidenta diz que vai retomar as linhas de financiamento.

a decisão da Justiça, algo que coincide com articulações do superintendente junto ao SPU – Superintendência do Patrimônio Público solicitando, através do Ministério da Integração Nacional, que o equipamento seja devolvido à Sudene. Este é o primeiro embate formal.

PRIMEIROS PASSOS O ex-prefeito de Recife começou sua nova missão enfrentando um sério problema: a Justiça Federal resolveu simplesmente desativar o funcionamento do prédio central do Órgão, em Recife, alegando falta de condições básicas para abrigar os diversos setores do funcionalismo federal. De acordo com documento assinapelo juiz da 1ª Vara Federal, o prédio apresenta problemas na estrutura e no sistema de combate a incêndio. A decisão de desocupação do prédio atende a pedido da Associação de Magistrados da Justiça do Trabalho. Ato continuo, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região resolveu revogar

RETOMAR A FORÇA Reconhecido pelos demais governadores do Nordeste, o superintendente vai enfrentar como realidade adversa a existência do Fórum dos Governadores, rivalizando em termos de poder com o Conselho Deliberativo da Sudene, instância formada pelos governadores. A manutenção do Fórum se traduz em enfraquecimento do Conselho. Mas, a grande indagação futura é sobre como Dilma vai tratar o órgão. Afinal, mantendo-se a atual estrutura continuará o desprestigio. Falta decisão política do governo Dilma para refazer o tamanho da importância da Sudene.

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O apogeu e a decadência João Paulo Lima (PT) tomou posse no dia 28 de junho. A cerimônia que aconteceu na sede da Sudene, no Recife, contou com a presença de várias lideranças políticas da região, entre eles os governadores Paulo Câmara (PE), Ricardo Coutinho (PB) e Camilo Santana (CE), além do ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi. O novo superintendente tem um currículo extenso. Já foi prefeito do Recife, membro do Conselho Deliberativo da Sudene, presidente da Frente Nacional de Prefeito, vereador deputado estadual e federal. A vasta experiência será importante a João Paulo ao comandar um órgão onde pairam tantas expectativas. Juarez Farias, um dos diretores econômicos da primeira fase da superintendência, disse que não há como fazer comparações entre a proposta inicial do órgão e o momento atual. “A região mudou. Mesmo que tivesse continuado nas mesmas condições políticas do início do trabalho, hoje ela seria necessariamente diferente da minha época”. Para compreender as diferenças entre a Sudene de cinco décadas atrás e a de hoje, é preciso entender sob qual contexto ela surgiu. Fundada 1959, no Governo de Juscelino Kubitschek, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste foi um meio criado para amenizar a ascendente desigualdade social e econômica entre as regiões do país. Foi resultado do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste, implantado três anos antes sob a orientação do economista Celso Furtado, responsável por respaldar a criação através de uma análise de aspectos históricos, naturais, estruturais e sociais. Durante o período de estudos, foi necessário definir o que poderia ser 102

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compreendido como Nordeste para ser incluído nas ações governamentais. Para a Sudene, a área de ação Nordeste seria compreendia além dos nove estados nordestinos, alguns municípios de Minas Gerais e Espírito Santo, abrangendo 18% do território do Brasil e mais de 30% da população nacional. Apesar disso, a renda per capita da região não chegava a um terço da renda dos habitantes da região centro-sul. A Sudene foi criada como uma autarquia subordinada diretamente à Presidência da República e tinha como função coordenar as ações do governo no desenvolvimento regional. Os órgãos federais com atuação na região precisavam se submeter à superintendência. Os seus recursos nunca poderiam ser inferiores a 2% da receita tributária da União, estabelecidos na Constituição como fundo de auxílio ao Nordeste no combate às secas. “A Sudene original buscava consolidar, articular e integrar a região; fazer o mercado comum a todos os estados. A região se transformou e cresceu em uma taxa bem mais alta do que o centro-sul. Isso foi resultado do trabalho inicial”, disse Juarez Farias. O professor Marcos Formiga, diretor da Fundação Celso Furtado e também um dos ex-superintendentes da Sudene, destaca a primeira fase do órgão, que teve relação direta com o amplo desenvolvimento do Nordeste entre o final da década de 1950 e os primeiros anos da década de 1960. A partir de 1964, com o Golpe Militar, iniciou-se um processo de profundas mudanças estruturais na Sudene. Celso Furtado foi tirado O economista Celso Furtado, idealizador da Sudene e da noção do que seria Nordeste

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João Paulo em discurso de posse no prédio da Sudene. Evento mostra musculatura política do petista do comando e os seus sucessores não foram capazes de dar continuidade aos seus projetos. Com autonomia e recursos enfraquecidos, foi incorporada pelo Ministério do Interior, tendo suas funções restritas ao Fundo de Investimentos do Nordeste e a frentes de trabalho, como buscar soluções em grandes períodos de seca. Em 2001, no Governo de Fernando Henrique Cardoso, a Sudene foi fechada, após uma série de denúncias de corrupção e irregularidades em p ro j e t o s . Estima-se


As vocações E DESAFIOS do Nordeste

João Paulo, as metas do Superintendente

que os desvios no órgão tenham chegado a R$ 2,2 bilhões. No ano de 2007, no governo Lula, a autarquia foi recriada, com um novo modelo organizacional e vinculada ao Ministério da Integração Nacional. Apesar da expectativa criada, não houve uma retomada efetiva do projeto iniciado na década de 1950. “A Sudene é um simulacro. Acredito que ela teve e teria um papel coordenador, mas não se pode mais pensar na ilusão de voltar aos áureos tempos de Celso Furtado. Deixamos perder esse sucesso. Há órgãos em excesso atuando na região. Dnocs, Codevasf, Chesf e Banco do Nordeste… Quem se articula, quem coordena quem? Ninguém”, disse Marcos Formiga. Sem autonomia e com atuação limitada, o maior desafio de João Paulo Lima é fazer com que o órgão atenda as reais necessidades da região na atual conjuntura social e econômica. “Não há autoridade para a Sudene agir de maneira diferente. Ela não passa hoje de uma repartição pública que cuida de assuntos do Nordeste. Hoje ela teria que ter uma maior participação nas questões sociais e urbanas”, diz Farias.

Em seu discurso de posse, João Pau- com o Fundo de Desenvolvimento lo Lima enfatizou a inclusão social e do Nordeste - FDNE, que assegura gestão popular democrática nos go- recursos para investimentos em novas vernos do PT. “A retomada do cres- atividades produtivas, infraestrutura cimento do Brasil, na última década, e serviços públicos. O orçamento do beneficiou, em maior escala, as regiões FDNE para 2015 é de R$ 2 bilhões. mais pobres, diminuindo, na mesma “Nós vamos realizar a curto prazo uma proporção, as desigualdades regionais reunião preparatória para a retomada e sociais. Entre 2003 e 2011, o PIB do Conselho Deliberativo, que não se brasileiro aumentou 41% em termos reúne desde 2013. Estou aguardando a reais, enquanto o Nordeste 46%, acima agenda da presidente”, declarou. da média do País, ampliando seu peso Enquanto aguarda a presidenta Dilna geração da renda nacional”. ma, a intenção do petista é se enconJoão Paulo também foi incisivo trar com todos os governadores do quanto a extinção da autarquia no ano Nordeste. Para isso, uma equipe está de 2001, episódio ao qual tratou como sendo montada para elaborar e de“estratégia desintegradora”. “É preciso bater projetos de interesse comum a resgatar o prestígio político de maior toda região. Esta era uma reclamação intervenção no Nordeste. Podemos constante do ex-superintendente Paucumprir lo Fontana, um papel q u e n ão “É preciso resgatar o muito imconseguiu prestígio político de portante reunir os maior intervenção no governannos municípios e tes estaNordeste” articular duais. Para JOÃO PAULO lima com os goevitar esse Superintendente da Sudene ve r n a d o problema, res, tratar João Paulo da liberação de recursos. Precisamos deve ir pessoalmente até os estados, dar essa sacudida”, afirmou. visitar os governantes. “A primeira viO superintendente considera fun- sita vai ser feita ao governador Paulo damental a criação de um Plano de Câmara”, comentou. Desenvolvimento Regional para foO orçamento do órgão para 2015 mentar um planejamento estratégico, envolve R$ 2,7 milhões para projetos visando desenvolvimento integrado já aprovados e R$ 589 milhões para da região. João Paulo citou a econo- os ainda em aprovação. Entretanto, a mia criativa como um mecanismo re- liberação dos recursos não passa digional importante para o processo. retamente pelo gestor, que dispõe de “Sem esquecer a economia da cultura, uma cotação de R$ 25 milhões connotadamente agora, quando a ativida- dicionados a si, desconsiderando a de cultural já se inclui no estatuto da possibilidade de contingenciamento. microempresa e considerando a sua “Dificuldade se vence é com talento”, relevância na região nordestina". respondeu João Paulo em relação a Para viabilizar sua missão, João situação econômica e estrutural que Paulo conta com incentivos fiscais e encontrou no órgão. Fotos: Divulgação

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FORÇA EMPREENDEDORA


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CASOS DE SUCESSO Marcas e empresas de renome nacional e que fazem parte do dia a dia do brasileiro, mostram a força do empreendedorismo da região

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á não é novidade falar que o Nordeste entrou para a rota de grandes empresas. Base histórica do início da economia brasileira e região mais rica do país até meados do século XVIII, conviveu durante longo período com o ostracismo e desigualdade em relação ao centro-sul. Porém, desde o final da década de 2000, retomou a posição de vanguarda, crescendo acima da média nacional e atualmente gozando de um fortalecimento econômico histórico. Além da instalação de grandes empresas nacionais e internacionais no Nordeste, grande parte dessa retomada econômica é consequência do sucesso de grupos da própria região, sejam eles industriais, comerciais, financeiros ou do setor de serviços. Maior estado do Nordeste, a Bahia responde por 36% do PIB regional e mais da metade das exportações. Salvador é sede da Odebrecht, conglomerado brasileiro de capital fechado que atua em 21 países distribuídos por quatro continentes, atuando primordialmente nas áreas de engenharia, construção civil, energia e sanea-

mento. Ainda na Bahia é possível citar a indústria de óculos Master Glasses, forte no setor infantil e que domina no mercado nordestino. Outra que merece citação no estado é a Companhia de Ferro Ligas da Bahia – Ferbasa que exerce atividades nas áreas de mineração, metalurgia e de recursos florestais. Desenvolve produtos de alta qualidade, aliado a uma forte atuação socioambiental. Líder em produção de ferroligas e única produtora integrada de ferrocromo das Américas, a Ferbasa está entre as 10 maiores empresas da Bahia, com faturamento anual superior a US$ 500 milhões. No outro extremo da região podemos citar o Grupo Diniz, responsável pela rede de óticas do mesmo nome. Inaugurada no ano de 1992 em São Luís, é considerada a maior empresa do Brasil no seu segmento, estando presente em todo o território nacional. Um exemplo inusitado também vem do Maranhão, outra história de sucesso: o Guaraná Jesus. Considerado praticamente um símbolo cultural maranhense, foi comprado em 2001 Foto: Shutterstock

pela The Coca-Cola Company, já que superava em vendas no estado o refrigerante mais famoso do mundo. O artifício utilizado pela Coca-cola foi necessário para que a gigante norte-americana conseguisse, enfim, entrar no mercado maranhense com um significado relevante. No ramo alimentício, um grupo que não se limita ao mercado nordestino, mas mantém características regionais em seus produtos é a São Braz. Com sede na Região Metropolitana de João Pessoa e dona de uma unidade industrial em Itatiba, interior de São Paulo, a marca conta com mais de 200 itens produzidos. Hoje é considerada uma das principais empresas alimentícias das regiões Nordeste e Sudeste, além de ser a sexta maior em torrefação de café do Brasil. No pequeno município de Ribeirópolis, no interior de Sergipe, uma pequena loja de alimentos deu origem a marca Bompreço. Dono de uma das maiores bandeiras de cartão de crédito do Brasil e contando com supermercados e hipermercados em todo o Nordeste e no Espírito Santo, O Bompreço foi vendido a

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um grupo holandês e posteriormente a rede americana Wal-Mart. É considerada a terceira maior rede de supermercados do Brasil. O grupo que vendeu o Bompreço, hoje é conhecido como o JCPM. Um conglomerado de empresas com sede no Recife, capital de Pernambuco. Após ter criado a rede de supermercados e hipermercados Bompreço e o cartão de crédito Hipercard (hoje controlado pelo grupo Itaú Unibanco), o empresário sergipano radicado em Pernambuco João Carlos Paes Mendonça manteve investimentos diversificados em Comunição. É dono do Jornal do Comércio e de redes de shoppings pelo Brasil. A JCPM é reconhecida como uma das maiores redes de shoppings do país, com estabelecimentos em Pernambuco, Bahia, Sergipe, São Paulo e Ceará. Mais um caso de sucesso nacional com raízes nordestinas é o Grupo Guararapes, responsável pelas Lojas Riachuelo. Maior confecção de vestuário da América Latina, a empresa iniciou suas atividades em Natal. Responsável pela pesquisa, criação, desenvolvimento e distribuição de seus produtos, a Riachuelo hoje conta com 269 lojas por todo o Brasil e 22 milhões de clientes em seu cartão. De capital brasileiro e instalado no Ceará, o conhecido grupo de alimentos M. Dias Branco, comercializa as marcas Adria, Richester, Vitarella, Pilar e Fortaleza, todas conhecidas em toda a região e em várias partes do Brasil. Possui unidades industriais distribuídas pelo Nordeste e no inte108

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rior de São Paulo. Também de origem cearense, a rede de Farmácias Pague Menos é considerada a maior do setor farmacêutico do país. Fundada no início da década de 1980, hoje conta com mais de 700 lojas distribuídas por todo o território nacional. Investindo em educação, em Pernambuco há o grupo Ser Educacional, mantenedor da Uninassau e das Faculdades Maurício de Nassau. Atualmente o grupo está presente em 24 cidades e 12 estados do Brasil. Suas 35 unidades de ensino atendem a aproximadamente 160 mil alunos. Anualmente

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Empreendimentos fazem parte do dia a dia da vida dos brasileiros, e movimentam a economia do país

são formados milhares de alunos que ingressam no mercado de trabalho. O grupo foi construído pelo empresário paraibano José Janguiê Bezerra Diniz. O empresário, que é advogado, foi considerado um dos mais novos bilionários da Revista Forbes, que relaciona os homens mais ricos do mundo. Janguiê Diniz nasceu no município de Santana dos Garrotes, no Sertão paraibano, e na infância chegou a trabalhar como engraxate. O empresário é detentor de uma fortuna estimada em US$ 1,1 bilhão, conforme a Forbes. Também da Paraíba para o mundo existe o Grupo Caoa. Fotos: Divulgação

O empresário Carlos Alerto de Oliveira Andrade, mais conhecido como Caoa, iniciou no setor da automóveis no estado e distribui as marca Ford, Hyundai e Subaru pelo Brasil. O paraibano, idealizador do Grupo, é médico, tem 74 anos e se tornou um dos empresários mais poderosos da indústria automotiva mundial. Caoa garante que já chegou a faturar R$ 100 bilhões de reais nos últimos dez anos. Ele é dono de 132 concessionárias Hyundai, da americana Ford e da japonesa Subaru e de uma fábrica que produz para a Hyundai em Anápolis, no interior de Goiás. Outra marca conhecida é da do Armazém Paraíba. Os irmãos que utilizam a marca para fundar a loja matriz em Teresina, capital do Piauí, em 1968, talvez não imaginassem que chegariam tão longe. Hoje o Armazém Paraíba é uma das maiores redes do varejo brasileiro, com mais de 450 pontos de vendas espalhados pelos estados do Piauí, Maranhão, Ceará, Bahia, Paraíba Pernambuco e Tocantins. É evidente que essas páginas não abarcam toda a força do mercado e do empreendedorismo nordestino, mas são uma prova e exemplo de sua força e dinamismo, que pode alçar empreendedores à listas bilionárias. O sucesso desses e outros empreendimentos pelo nordeste apontam para um ciclo virtuoso da economia, mas também para a capacidade de se reinventar e construir de seu povo. Fazendo surgir, praticamente do nada, conglomerados que podem ganhar o mundo, literalmente.

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TECNOLOGIA EM ALTA


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SOFTWAREs para o mundo Tecnologia desenvolvida em Pernambuco, Bahia, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte já fazem parte da vida de milhões de pessoas

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s ações voltadas para a tecnologia estão em alta no Nordeste. Estados de ponta na economia da região como Pernambuco, Ceará, Bahia, têm mostrado uma forte presença na área, sendo inclusive os principais captadores de investimentos concedidos pela Lei de Informática com subsídios do Governo Federal. Em quarto lugar vem a Paraíba, também forte na obtenção de subsídios/ investimentos. A chamada Lei da Informática foi editada em 1991 para garantir que companhias do setor não migrassem para a Zona Franca de Manaus, onde a produção destinada ao território nacional tem IPI zero. Hoje as empresas da região da Sudene têm um abatimento de 95% sobre o IPI. A concessão do abatimento tributário, pela Lei da Informática, é condicionada ao investimento de ao menos 5% do faturamento bruto em atividades de pesquisa e desenvolvimento em tecnologia da informação, no mercado interno. Durante encontro dos governadores do Nordeste no Piauí, o ministro da Ciência Tecnolo-

gia e Inovação (MCTI), Aldo Rebelo, apontou a importância dos investimentos em tecnologia no Nordeste. “Muitos programas importantes em curso no Brasil perpassam o Nordeste. Destacam-se apoio a institutos nacionais e unidades de pesquisa na região, sobressaindo nesse quesito o Instituto Nacional do Semiárido, Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste, Rede Nordestina de Biotecnologia, empresa Alcântara Cyclone Space, que participa do Centro de Lançamento de Alcântara (MA), Indústrias Nucleares do Brasil, com sede no Rio, mas explorando minas de urânio na Bahia e Ceará, Centro nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais e ainda outros”, frisa Rebelo. O ministro ainda revelou a existência de uma teia de plataformas do conhecimento que está se montando nos Parques Tecnológicos da Bahia, Paraíba, Pernambuco e Sergipe, e os faturamentos crescentes em tecnologia no Ceará e Rio Grande do Norte. Também os programas de inclusão digital que hoje cobrem vários estados. Nos últimos dez anos, o MCTI Foto: Divulgação

investiu R$ 4,5 bilhões no Nordeste. O dispêndio anual aumentou de R$ 195 milhões em 2004 para R$ 574,4 milhões em 2014. Vale ressaltar que grande parte dos parques tecnológicos nasceu e cresceu graças a Lei de Informática, que dá vantagens ao investimento na região, através de linhas d financiamento disponibilizadas pela Capes, CNpQ, Finep, entre outros. A Revista NORDESTE mapeai a seguir algumas das principais ilhas tecnológicas na região, que produzem tecnologia que já está ao alcance de milhões de pessoas. O foco está nos estados de Pernambuco, Ceará, Bahia, Paraíba e Rio Grande do Norte, os maiores captadores de recursos da Lei de Informática. Nos últimos dez anos, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação investiu no Nordeste

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Pernambuco, uma ilha de excelência Dois centros de informática têm peso em Pernambuco: o Porto Digital e o C.E.S.A.R. Os dois ficam no Recife Antigo. O C.E.S.A.R e o Porto Digital abrigam no seu interior instituto de pesquisa, incubadoras/ aceleradoras, empreendedores e visão global. Boa parte dos empreendedores do Porto Digital surgiram do C.E.S.A.R. O C.E.S.A.R Reconhecido internacionalmente por sua excelência, o C.E.S.A.R desenvolve soluções em todo o processo de geração de inovação com tecnologias da informação e comunicação - desde o desenvolvimento da ideia, passando pela concepção e prototipação, até a execução de projetos para empresas dos mais diversos setores, como: telecomunicações, eletroeletrônicos, defesa, automação comercial, financeiro, logística, energia, saúde e agronegócio. Contando com mais de 600 colaboradores, o instituto tem sede em Recife e está presente também nas regiões Sul, Sudeste e Norte, com filiais em Curitiba, Sorocaba e Manaus. Ligado à UFPE, o instituto tem foco em engenharia, educação e empreendedorismo. Entre seus principais projetos, o C.E.S.A.R é reconhecido pelo desenvolvimento de biossensores para detecção precoce do câncer de mama, pelo software que monitora informações de funcionamento dentro do carro e envia para a oficina, desen112

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Ambiente do CESAR e cientistas desenvolvendo produtos. Instituto criou programa para ajudar a agricultura irrigável volvido para a Troller e por criar uma forma de monitorar a maquinaria que irriga áreas de cultivo via tecnologia sem fio (GSM e Rádio), entre vários outros projetos. O instituto ainda atua diretamente em formação e capacitação de pessoas, com mais

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de 20 cursos de extensão e dois cursos de mestrado profissional já consolidados: Engenharia de Software e Design de Artefatos Digitais.

Gilherme Calheiros, do Porto Digital e as bicicletas do Itaú. Tecnologia pernambucana

Desenvolvedores do seriado Mister Plot. Ao lado, o Porto Digital no Recife Antigo e o carro eletríco. Projetos de sucesso

Fotos: Divulgação

O Porto Digital A atuação do Porto Digital tem ênfase nos segmentos de games, multimídia, cine-vídeo -animação, música, fotografia e design. Guilherme Calheiros, diretor de Inovação e Criatividade afirma que o Porto cria o ambiente e fomenta desenvolvimento de inovações, reunindo no mesmo espaço institutos, empresas, universidades, órgãos de fomento, que vão em busca de incentivos fiscais. Há quinze anos, o parque tecnológico era formado por três empresas e 46 pessoas, atualmente abriga 253 empresas que faturam mais de R$ 1 bilhão de reais e geram mais de 7.100 empregos diretos. Desde o final de 2014, o parque também opera nas cidades de Caruaru e Petrolina. Entre as tecnologias desenvolvidas pelo Porto Digital estão as bicicletas cor de laranja do Itaú, que usa tecnologia via celular. Um seriado desenvolvido por uma empresa que surgiu na incubadora do Porto Digital e hoje tem contratos com a Sony (Mister plot). “Vamos instalar também o Centro de Desenvolvimento da Fiat/ Chrysler. Esse centro vai atender a plataforma mundial da Fait, na área de software embarcado para o carro”, avisa. Neste ano será inaugurado ainda o L.O.U.C.O - o Laboratório de Objetos Urbanos Conectados. Um ambiente para experimentação, desenvolvimento, prototipagem e teste de soluções focadas no aumento do bem-estar nas cidades, utilizando sensores, atuadores, robótica, drones, relógios, óculos e tecidos inteligentes. Calheiros ressalta que a meta para os próximos anos é triplicar o número de empregos diretos, chegando a 20 mil.

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Bahia, investimento multinacional Iniciativas dos últimos anos mudaram um cenário de pouco investimento em tecnologia, com criação do Parque Tecnológico do Estado, localizado em Salvador. O Parque conta com empresas de peso, como a IBM, Indra Brasil e a Portugal Telecom. Outras iniciativas têm reforçado o desenvolvimento tecnológico no estado como a Jusbrasil que é hoje a maior empresa focada em busca dos diários oficiais dos governo. A força tecnológica da Bahia está na prestação de serviços de tecnologia.

mesmo nome. Entre os projetos desenvolvidos pela Fraunhofer está o RESCUER com foco em gestão em crises de emergência, seja desastre natural ou não. Carol Passos, diretora da Fraunhofer explica que o laboratório também desenvolve um projeto em parceria com o Ministério da Saúde para controle de transplante de órgãos. “O Projeto orienta o Ministério como resolver a fila de transplante e reorganizar os procedimentos”. O Instituto agora está fazendo um

modulo novo que avalia órgãos que podem ser armazenados para depois serem transplantados. Além de aporte do Governo Federal, os projetos são financiados pela União Europeia, UFBA e Senai. LSI-TEC nordeste O laboratório de Sistemas Integráveis Tecnológico tem filiais em Campina, Salvador e São Paulo. Foi criado por alguns professores da USP, e tem desenvolvido processa-

Instituto Fraunhofer do Brasil O Fraunhofer é um instituto de pesquisa, desenvolve tecnologia de mercado para aplicação imediata. É um centro de projeto criado a partir de um convenio entre a UFBA, a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado, e o Instituto alemão de

Acima, o Instituto Fraunhofer, na Alemanha. Carol Passos, diretora. Ao lado, teste com o programa Rescuer

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O LSI-TEC que fica no Parque Tecnológica de Salvador. Abaixo André Abreu, gerente de pesquisa do instituto

dores avançados. O laboratório é uma boa iniciativa dentro desse contexto. Com o Centro de projetos dentro da UFBA, o laboratório tem uma associação muito próxima com o Senai/Cimatec. Os projetos estão voltados para a engenharia de software, desde a concepção até a implantação. Uma das atividades é o desenvolvimento de microchip, igual ao da Intel, que permite que a maioria dos computadores possam rodar. “Fazemos o projetos e mandamos para uma fábrica produzi-lo. A LSI não faz comercialização do produto, apenas projeto de pesquisa e desenvolvimento”, conta o professor André Abreu, gerente da área pesquisa em desenvolvimento da LSI

Laboratório desenvolve projetos de mobilidade para pessoas que andam de cadeira de rodas e chips para ‘rodar’ programas TEC. O laboratório também tem projetos na área de mídia, TV, grupos de pesquisas, realidade virtual, mobilidade e acessibilidade com cadeira de rodas, além de segurança. A empresa tem aporte do Governo Federal e desenvolve um projeto junto com BNDES, e o Governo da Bahia (Projeto Mercúrio) para interFotos: Divulgação

net de banda larga para zonas rurais. A ideia é utilizar a faixa de TV, para transmitir sinais de internet. Há ainda um projeto que já está em funcionamento onde um sinalizador acusa onde ocorreu falha em linhas de transmissão de energia elétrica, diminuindo o tempo de busca das equipes de reparo. O laboratório desenvolve ainda projetos para empresas que fabricam celulares fazendo correções de bugs e adaptações para o Brasil. Faz desenvolvimento de soluções para plataformas de telecomunicações e teste radiofrequência com aparelhos de, plataforma Android, entre outros.

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Ceará, novo polo tecnológico No Ceará, a Empresa e Tecnologia de Informação (Etice) ocupou em boa parte a batuta do fomento à tecnologia. “Essa empresa nos últimos oito anos se encarregou dos projetos de tecnologia ligados ao Governo do Estado”, frisou Fernando Carvalho, que foi presidente do órgão durante oito anos. O principal projeto tocado pela Etice é o cinturão digital. Uma rede de fibra ótica de 3 mil quilômetros que envolve as 100 maiores cidades do estado. O projeto foi concluído em 2011 e hoje, segundo as ultimas estatísticas do governo, existem 2 milhões de pessoas conectadas à essa rede. O projeto também conectou todos os equipamentos do governo, entre eles escolas, hospitais e delegacias de 100 cidades. O investimento até momento foi de R$ 78 milhões, dividido entre estado, Banco Mundial e Governo Federal através de um convênio com o Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação. Todas as fibras óticas que chegam na América Latina aportam primeiro em Fortaleza, por uma questão geográfica. “Mas até hoje nós não nos beneficiamos com esse fato. Porque era só um ponto de pouso, agora o governo fechou alguns convênios para lançar novos cabos e ter um considerável conteúdo gerado aqui”, informa Carvalho, garantindo a instalção de um data center na Capital. Instituto Atlântico O Instituto Atlântico é uma instituição sem fins lucrativos, constituído pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), fundação sediada 116

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Francisco Moreto, presidente do Instituto Atlântico. Projetos desenvolvidos para HP, Sony e LG em Campinas, decorrente da Telebras Holding, o maior centro de desenvolvimento da América Latina, na época, com faturamento acima de R$ 300 milhões. Quando foi privatizada a Telebras adquiriu o formato de fundação e em 2001 o CPqD criou o Instituto Atlântico. O objetivo ao criar o Instituto no Nordeste era se beneficiar da Lei de Informática. Hoje o Atlântico, tem uma unidade em São Paulo com 100 pessoas onde é feito o serviço de auditoria em qualidade em software e os desenvolvedores no Ceará. O faturamento do Instituto está na ordem R$ 40 milhões, em grande parte por desenvolver projetos para a indústria de eletroeletrônica. “O nosso negócio é o que a gente chama de outsoft, pesquisa de desenvolvimento e inovação. As empresas

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nos contratam para desenvolver uma parte ou o todo de projeto voltado para novos produtos e inovação”, conta Francisco Moreto, presidente do Atlântico. O Instituto tem projetos desenvolvidos para empresas nacionais e multinacionais, como HP, Sonny, LG. Fora da Lei de Informática o Atlântico mantêm uma


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Pirambu Digital, forte atuação na filosofia de social business e formação de mão de obra qualificada trabalhando. Nos quase 14 anos já desenvolveu mais de 250 projetos.

parceria com a Universidade de São Carlos e uma empresa do Rio Grande do Sul para desenvolver um Raio X odontológico digital. Outro projeto, agora em parceria com uma empresa de Santa Catarina, é para o desenvolvimento de uma central de telecomunicação de pequeno porte. O Instituto tem cerca 200 pessoas

Pirambu Digital O Pirambu Digital é uma cooperativa que atua na filosofia de social business. Formalizando e formando pessoas e apoiando na inserção no mercado de trabalho. “É uma empresa de qualificação e alocação de mão de obra. Formalmente existimos há nove anos”, conta Fabrício Mendes, presidente da Pirambu. “Todos os nossos projetos hoje são visando a qualificação para que o cooperado possa se inserir no mercado de trabalho. Damos curso de montagem do computador, web designer. O jovem paga o curso participando de algum projeto social. ”, conta Mendes, explicando que um dos alunos identificou que algumas Fotos: Divulgação

Francisco Carvalho, ex-diretor do ETICE. Cinturão Digital foi o principal projeto tocado pelo estado pessoas do bairro ainda não sabiam ler e resolveu dar uma alfabetização básica para os idosos. Entre os projetos de sucesso do Pirambu, consta a Bila, realizado entre 2007 e 2008. Era uma biblioteca integrada a Lan House. Para a pessoa acessar a internet tinha que ler um livro durante uma hora.

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Paraíba em produção intensa Na Paraíba a força tecnológica tem sido fomentada pela Fundação de Apoio a Pesquisa do Estado (Fapesq). O investimento em tecnologia pode ser percebido nos projetos desenvolvidos e nas empresas encubadas pelo Parque Tecnológico de Campina Grande e pelos laboratórios de Aplicações de Vídeo Digital (Lavid), de Sistemas Distribuídos (LSD) e de Sistemas Embarcados e Computação Pervasiva (Embedded Lab), apenaspara citar alguns nome “A maioria das TVs digitais têm um software genuinamente paraibano produzido pelo laboratório vídeos digitais da UFPB (o Lavid)”, revela Claudio Furtado, presidente da Fapesq. A Fapesq é o braço do governo que financia pesquisa acadêmica, tecnológica e de inovação no estado. O governo também tem feito investimento em infraestrutura, como a pavimentação digital do estado, que terá 3 mil quilômetros de fibra ótica para 55 cidades. “Hoje já temos mais de 200 quilômetros de fibra e a ideia agora é estender para o resto

Percival Henriques, presidente do comitê gestor da ANID

do estado”, pontua. A soma total de investimentos do estado em fomento ao desenvolvimento de tecnologia fica em torno de R$ 100 milhões, desembolsados até 2017. ANID - Associação Nacional para Inclusão Digital A Anid é uma entidade que nasceu na Paraíba, mas já ganhou todo

Cláudio Furtado presidente da Fapesq. Investimento de R$ 100 milhões até 2017 na Paraíba 118

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o Brasil. “Estamos presentes de Belém do Pará ao Rio Grande do Sul”, afirma o presidente do Comitê Gestor do Orgão, Percival Henriques. O foco central da ANID é ajudar no desenvolvimento tecnologias para a promoção da inclusão digital. Entre os programas desenvolvidos pela instituição está um que investe na internet gratuita em locais de uso coletivo. Há o programa que leva o projeto de fibra óptica aos domicílios e ajuda na geração e distribuição de conteúdo regional audiovisual para Internet. A Anid ainda busca ampliar o acesso a economia digital e apoia às rádios e TVs comunitárias. Graças aos projetos desenvolvidos pela entidade cerca de 800 cidades e 400 mil usuários, principalmente nas periferias e cidades pequenas, têm acesso a internet. Parque Tecnológico de Campina Grande A Fundação está entre os mais antigos parques tecnológicos e incubadores de empresas em funcionamento no país. Criado em 1984, quando


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rão 60 milhões de brasileiros”, conta. Segundo Guido Lemos, o Lavid disputa em pé de igualdade com projetos desenvolvidos por japoneses e americanos em tecnologia de vídeo digital.

Lynaldo Cavalcanti milhões. A prede Albuquerque esvisão para 2015 tava na presidência está em mais de do CNPq. Cavalcanti um milhão. foi o responsável pelo lançamento de uma Lavid das primeiras políticas “Estamos trapúblicas em apoio aos balhando com parques tecnológicos e tecnologia para às incubadoras de emsuporte e arpresas. Na época cinco mazenamento, cidades brasileiras fotransmissão de ram selecionadas para vídeos de altísa experiência piloto, sima resolução, O projeto VLibras desenvolvido pelo dentre elas Campina que se aplica Lavid e Guido Lemos, Grande. para cinema dicoordenador do “No PaqTcPB, o emgital. Captura laboratório da UFPB preendedor tem o seu de cirurgias com negócio arquitetado padrão de cinenas cercanias de laboratórios de P&D ma”, explica Guido Lemos, coorde(Pesquisa e Desenvolvimento), inte- nador do Laboratório de Aplicações ragindo com pesquisadores vincula- de Vídeo Digital. No momento o lados a universidades e usufruindo de boratório está desenvolvendo projeto apoio institucional, tais como acesso para salas de cinema de baixo custo. O a fontes privilegiadas de fomento, financiamento é pela Rede Nacional assessoria em gestão, acesso a consul- de Ensino e Pesquisa (RNP). O outro torias especializadas e apoio técnico”, projeto forte do Lavid diz respeito a informou a diretora da Fundação, acessibilidade. O projeto se chama Francilene Procópio Garcia. VLibras para web, televisão e cinema. Entre os projetos desenvolvidos es- O financiamento é do Ministério da tão a elaboração de planos de sanea- Cultural, RNP, e do Ministério do mento para cidades, projeto eficiên- Planejamento. “Já temos cadastrados cia energética para uso sustentável 4 mil sinais”, revela Lemos. Atualde recursos florestais em indústrias, mente o laboratório trabalha com 60 suporte técnico ao monitoramento bolsistas e a intenção é chegar a 10 ambiental de áreas destinadas à ati- mil sinais. O coordenador informou vidade de mineração, pesquisa para ainda que o projeto prevê a elaboradesenvolvimento de projetos de In- ção de padrão para televisão digital ternet móvel. A receita com projetos em transmissão de libras. “O governo obtida pelo Parque Tecnológico, de vai comprar 14 milhões de receptores 2003 a 2014, chegou a quase R$ 50 para as famílias do Bolsa Família. SeFotos: Divulgação

LSD - Laboratório de Sistemas Distribuídos Sediado na Universidade Federal de Campina Grande, o LSD tem projetos que visam contribuir com o desenvolvimento do software Openstack, que serve para gerenciar os recursos computacionais de provedores de serviço que atuam no modelo de computação na nuvem. Através da atuação do LSD nesses projetos, a UFCG se tornou a Universidade que mais contribui, no mundo, com o desenvolvimento desse tipo de software. O Laboratório é coordenador pelo professor Francisco Brasileiro. Embedded Lab O Laboratório de Sistemas Embarcados e Computação Pervasiva (Embedded) tem como principais projetos tecnologias desenvolvidas para smartphones, tablets, smartwatches (relógios inteligentes), smartbands (pulseiras inteligentes) e smartglasses (óculos inteligentes). As aplicações são diversas, desde entretenimento até cuidados com a saúde. O laboratório é atualmente o maior em número de projetos de inovação tecnológica com empresas na UFCG.

Embedded desenvolve pulseiras inteligentes que sicronizam ao celular

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Rio Grande do Norte, investimento em jovens cientistas

No Rio Grande do Norte, a Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado (Fapern), coligada à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico (Sedec), tem ajudado a fomentar a pesquisa científica, tecnológica e de inovação no Estado através de convênios e acordos de cooperação assinados com os organismos federais. Nos últimos anos, segundo o diretor de inovação da Fapern, Ivanílson Maia o órgão conseguiu captar recursos da ordem de R$ 91,3 milhões. Desse total 27,1% corresponderam a recursos estaduais. Os projetos têm como objetivo o desenvolvimento científico e tecnológico em áreas como o agronegócio, a mineração, a carcinicultura e a inovação tecnológica nas micro e pequenas empresas do estado, mas também nas áreas de saúde, social e de ciências exatas. A partir desses investimentos do Estado o Rio Grande do Norte mantém alguns pontos estratégicos do desenvolvimento em tecnologia, entre eles o Instituto Me120

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O IMD (acima), o diretor Ivonildo Rego, e os aluno do Instituto em aula. Foco em novos talentos

trópole Digital, o Laboratório LAUT e o NatalNet. Metrópole Digital O Metrópole Digital é um instituto da UFRN na área de tecnologia da informação criado formalmente em 2011. O papel principal do Metrópole é contribuir para o estado no fomentar a criação de um Polo Tecnológico na área de tecnologia da informação. “O IMD tem forte atuação no desenvolvimento de jovens talentos”, conta o professor Ivonildo Rego, diretor do Instituto. Além de cursos técnicos, o Instituto também oferece graduação, um bacharelado em Tecnologia da Informação. No curso técnico, dois mil jovens já conseguiram titulações intermediárias. “Temos uma residência na área de

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As vocações E DESAFIOS do Nordeste

engenharia de software, onde o aluno desenvolve o projeto dentro da empresa”, ressalta. Além do ensino, o IMD tem 21 empresas incubadas. “Já graduamos a primeira empresa. Ela tem negócio em 16 estados e escritório em Brasília e São Paulo. São mais 20 empresas nas mais diferentes áreas, mídias digitais, advocacia, educação”. Outros projetos importantes do IMD é a implementação de uma rede de banda larga que vai conectar as 650 escolas púbicas nos 10 municípios da grande Natal, onde reside mais de 40% da população do estado. O investimento é de R$ 20 milhões em parceria com o Ministério da Educação e Secretaria da Educação.

tado para uma visão computacional e robótica educacional. “Ensinamos crianças a programar e montar robôs”, informa Aquiles Medeiros Burlamaqui, um dos coordenadores do Natalnet. O Natalnet está desenvolvendo um projeto direcionado para escolas públicas que visa a inclusão digital para ensinar os alunos a construírem um robô de baixo custo. O laboratório ainda tem projetos para construção de um drone que seria utilizado para fazer mapeamento de áreas, entre outros projetos.

Diretor de inovação da Fapern, Ivanílson Maia

Natalnet, equipe faz projetos para otimizar a produção de petróleo

Laboratório Natalnet-DCA O Natalnet é um laboratório multidisciplinar que existe desde 2003. Inicialmente começou com rede de computadores, mas hoje trabalha com realidade virtual e robótica, volNatalnet desenvolve projeto para crianças construirem um robô de baixo custo

Laut – Laboratório de Automação em Petróleo O Laut desenvolve tecnologia na área de automação em petróleo. O laboratório tem um software desenvolvido desde 2007, usado pela Petrobras para supervisão de postos terrestres, instalado em cerca de 7 mil postos em seis estados do país (RN, CE, AL, ES e BA). Também foram desenvolvidos pelo laboratório projetos de automação inteligente aplicada a plataforma do pré-sal. “O objetivo é aumentar a eficiência do processo, reduzir o número de paradas e diminuir o estresses dos equipamentos”, garante André Maitelli, coordenador do laboratório. Além disso, o Laut Fotos: Divulgação

também já desenvolveu dois sistemas mecânicos, entre eles uma unidade de bombeio inteligente e outra de bombeio mecânico de petróleo. “Desenvolvemos e patenteamos a unidade inteligente, que faz o balanceamento e ajuste de curso automático de uma unidade de bombeio”, frisa o coordenador. O laboratório foi formalizado em 2008 e desde o início já foram executados cerca de 30 projetos, entre projetos mecânicos e sistemas baseados em Software.

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FUNDAÇÃO PARQUE TECNOLÓGICO DA PARAÍBA 30 anos de experiência a serviço do empreendedorismo inovador no Estado da Paraíba

Criada em 1984, entre os quatro primeiros parques tecnológicos do país, a Fundação Parque Tecnológico da Paraíba tem sido uma espécie de pilar, para dar suporte a projetos e programas do setor de ciência, tecnologia, inovação e economia criativa. A instituição, há 30 anos em operação, atua com sua incubadora de empresas fazendo a ponte entre o mercado e os produtos, projetos, serviços e inovações desenvolvidas, quer seja disponibilizando ferramentas de apoio a projetos, produtos e/ou serviços inovadores, quer seja por meio de editais com recursos de subvenção, ou por meio de capacitações. Grande parte de seu prestígio é fruto dos resultados alcançados na sua atuação e das parcerias firmadas com parceiros estratégicos como o Centro de Tecnologia e Inovação Telmo Araújo – CITTA, as Universidades Federal de Campina Grande e Estadual da Paraíba, Sebrae, Fiep, Governos Federal, Estadual e Municipal, além de muitos outros, que vem contribuindo para amplificar a

Incubadora Tecnológica

de Empreendimentos Criativos e Inovadores

EDITAIS ABERTOS

inovação tecnológica e, com isso, promover o empreendedorismo inovador.

ITCG Campina Grande sedia uma das primeiras e mais experientes incubadoras de empresas do Brasil: a Incubadora Tecnológica de Campina Grande – ITCG. Criada em 1986, a ITCG já graduou cerca de 99 empresas e, atualmente, conta com 19 empreendimentos incubados. Além de oferecer um espaço propício para a troca de experiências e realização de networking com empresas do mesmo perfil, oferece ainda alguns benefícios com foco em seu aprimoramento e desenvolvimento

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QUAIS OS BENEFÍCIOS QUE SUA EMPRESA PODE TER? As ideias, projetos ou empresas apoiadas pela ITCG podem contar com alguns benefícios: - Desenvolvimento e Aprimoramento do Perfil Empreendedor; - Assessoria para Desenvolvimento da Estratégia e do Plano de Negócio; - Realização e apoio para participação em Feiras, Rodadas de Negócios e Workshops; - Suporte para elaboração de Projetos de Fomento; - Treinamento/aperfeiçoamento dos empreendedores; - Informações sobre oportunidades de negócios e investimento.


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A Feira de Tecnologia de Campina Grande - FETECh - nasceu em 1988 e se consolidou, nacionalmente, como uma exposição anual de ciência e tecnologia expondo produtos, invenções e pesquisas desenvolvidas em Campina

Áreas temáticas TIC´s Saúde Tecnologias Limpas Ciências Ambientais Sustentabilidade Tecnologia Social Agronegócio Economia Criativa

28 a 31 OUTUBRO

Grande e em outras partes do país. Ao longo da realização de suas doze versões, a FETECh tem se consolidado como um evento

que projetou a cidade como um polo de C&T promissor e buscou contribuir para uma sociedade mais justa e participativa. A FETECh representa o fortalecimento e consolidação das características mais fortes de Campina Grande: o pioneirismo e a inovação.

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Cultura Capa do novo CD lançando pelo selo Zeca Pagodiscos, “Rosil do Brasil”

Chico Salles canta ROSIL DO BRASIL Cantor e compositor paraibano, radicado no Rio de Janeiro, lança novo CD com músicas gravadas por Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga e Marinês

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hico Salles é o paraibano mais carioca do país. O cantor e compositor, famoso no Rio de Janeiro por xotes, baiões e por composições em sambas da Unidos da Tijuca está lançando o CD, “Rosil do Brasil”. O disco chega às lojas pelo selo Zeca Pagodiscos e vem ressaltar e registrar a obra musical do compositor pernambucano Rosil Cavalcanti, gravada originalmente nas décadas de 40, 50 e 60 pelos nordestinos Jackson do Pandeiro, Marinês, Genival Lacerda, Luiz Gonzaga e outros, que, até hoje, 124

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é composta de verdadeiros sucessos nacionais. Chico nasceu em Chabocão, em 1951, naquela época município de Sousa, no sertão da Paraíba. Cantor e compositor de Forró e cordelista. Transferiu-se, aos 18 anos, para o Rio de Janeiro no início dos anos 70, levando na bagagem influências musicais de Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga. Suas primeiras composições nasceram inspiradas nos xotes, xaxados e baiões que alegravam as noites do sertão paraibano e eram ouvidos nos bailes e forrós da região. Em seguida foi misturando no mesmo

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Fotos: Divulgação

caldeirão as raízes e as lições de mestres como Paulinho da Viola, Chico Buarque e Martinho da Vila - sua trilha musical dos tempos de universitário. Nos anos 80, já engenheiro civil, conheceu o trapalhão Mussum, que o levou aos mais tradicionais redutos do samba, como o “Buraco Quente da Mangueira” e o “Pagode do Cacique de Ramos”, frequentados por sambistas do quilate de Beth Carvalho e Jorge Aragão, entre outros. A amizade com Mussum, seu vizinho em Jacarepaguá, rendeu boas parcerias musicais. Além de fundarem o Bloco “Elas e Elas” em 1985, eles fizeram juntos muitos sambas, músicas de carnaval e até um xote. Na entrevista que segue, o cantor Chico Salles fala à NORDESTE sobre o novo disco e as perspectivas de futuro. Aproveitem!



Revista NORDESTE: O ano de 2015, lhe expôs com um CD com elogios da crítica dedicado à obra de Rosil Cavalcanti, principal parceiro de Jackson do Pandeiro, de alguma forma esquecido. Onde você quis chegar com o trabalho? Chico Salles: Apenas homenagear e relembrar o Mestre Rosil Cavalcanti. NORDESTE: Embora interprete grandes sucessos na voz de Jackson do Pandeiro, a impressão é de que sua performance não quis atrair o Rei do Ritmo para perto de si... Salles: Claro, cantei Rosil. O Grandioso Jackson é inigualável e inimitável. É a nossa matriz e referência no que se refere a ginga, ritmo, timbre e sotaque. Não me atrevo a imitá-lo. NORDESTE: Qual a receptividade nos vários cenários do Brasil? Salles: Surpreendente e impressionante a quantidade e qualidade das matérias editadas por críticos de todo país sobre este CD. Até o Juarez Fonseca, do Zero Hora, de Porto Alegre, fez excelente matéria. NORDESTE: Sua formação e performance se alinha ao estilo do Forró mais clássico, longe das derivações que o Ceará exportou com outra batida, levada...Que avaliação faz do forró estilizado? Salles: Não o conheço bem. Sei que ocupa importante espaço do nosso estilo mais tradicional, talvez por nossa culpa também, por não termos imprimidos um melhor controle de qualidade no conjunto do nosso estilo. Aí existe também um componente político e cultural que foge da nossa vontade. NORDESTE: Como foi atrair para o CD figuras como Chico César, Maciel Melo, etc? Salles: Sem dificuldades, pois já os conheço bem, somos amigos e esta126

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“Jackson é a nossa matriz e referência no que se refere a ginga, ritmo, timbre e sotaque. Não me atrevo a imitá-lo” Chico Salles

Cantor e Compositor mos com o mesmo propósito. Juntamente com Biliu de Campina, Josildo Sá e Silvério Pessoa, penso que formamos um excepcional grupo para cantar Rosil. NORDESTE: Tomando por base sua própria experiência, como é um ar-

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tista de estilo como o seu produzir e divulgar um CD diante de um mercado sempre voltado para o modismo? Salles: É muito complicado. É o osso do ofício. Um tijolo por dia. Com perseverança chegaremos lá. Dá um pouco de trabalho, mais a causa é justa. NORDESTE: E agora, diante de Rosil sobre seus ombros, quais as próximas etapas e desafios? Salles: Andar bastante ainda com Rosil. Estamos preparando shows em Fortaleza, Brasília, Belo Horizonte, Recife e São Paulo. NORDESTE: Na fase posterior, o que Chico Sales pretende ainda produzir? Salles: Penso em fazer um Projeto chamado “Samba Nordestino”. Tenho pensado nisso para 2016.



EU FAZER BONS NEGÓCIOS Os pequenos negócios fazem parte da história de todos os brasileiros. Geram empregos, fortalecem a economia local, impulsionam o desenvolvimento do país. E para valorizar as micro e pequenas empresas, vem aí o 5 de outubro, o Movimento Compre do Pequeno Negócio. Um dia para incentivar, fortalecer e comprar dos pequenos negócios. Acesse compredopequeno.com.br, faça seu cadastro e saiba mais.

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5 DE OUTUBRO M OV I M E N TO CO M P R E D O P EQ U E N O N EG Ó C I O E S S E N E G Ó C I O TA M B É M É S E U

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