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É o Governo Federal trabalhando para o Brasil avançar.

PREVINA-SE, FAÇA O TESTE DO HIV/AIDS E SIGA EM FRENTE


ÍNDICE CAPA

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Uma agenda positiva contra a cassação Dilma implementa ações de impacto dentro e fora do Brasil para afastar fantasma da cassação

POLÍTICA

ECONOMIA

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Aécio e a insistência em cassar Dilma Aécio Neves é reeleito presidente do PSDB e encabeça movimento próafastamento de Dilma com apoio de Serra e FHC

Um novo “cerrado” Última fronteira agrícola em expansão do mundo, Matopiba envolve três estados nordestinos e Tocantins e cresce 20% ao ano

GERAL ENTREVISTA

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Como o Rio Grande do Norte age para superar a crise Governador Robinson Faria detalha plano para superar crise no estado e expressa visão política sobre atual momento do Brasil

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A reinvenção do PT Partido apoia política econômica de Dilma, reclama de “sórdida campanha de difamação” da mídia e começa campanha de arrecadação online

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Em defesa do governo Presidente do PT, Rui Falcão, garante: o partido defenderá o governo de Dilma Rousseff e irá ajudá-lo a avançar

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A fórmula da discórdia Veto parcial à fórmula 85/95 acirra ânimos entre Congresso e Palácio do Planalto

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Barbárie no Nordeste Quatro casos de estupros e assassinatos em 35 dias chocam o país


SAÚDE

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“O SUS só tem perspectiva se o povo for para a rua” Presidente do Conselho Nacional de Saúde, Maria do Socorro, revela desigualdades no investimento para o Norte e Nordeste

TURISMO

CULTURA

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Turismo com foco para superar crise nacional Ministro Henrique Alves quer abolir vistos de turistas em mercados estratégicos do Brasil

Vertente negra Bandas “Lucas e Orelha” e “Dois Africanos” despontam no cenário nacional após sucesso em apresentações de reality show

COLUNAS

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Mal genético Doença de Pompe afeta músculos e respiração e pode levar crianças e adultos a perda de locomoção e a morte

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GEAP aposta na expansão com qualidade Fundação de Seguridade Social completa 70 anos, amplia rede e promete novidades em 2015

ESPORTE

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Fifa: Corrupção Endêmica Escândalo envolvendo a FIFA e principais dirigentes da América Latina

62

Escândalo da Fifa e futuro das olimpíadas Denúncias abrem oportunidades para mudança no futebol. Brasil ficará entre 10 maiores nas Olimpíadas de 2016

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Cartas e E-mails

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Plugado | Walter Santos

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Carlos Roberto

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Flávio Dino

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Gaudêncio Torquato

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Ipojuca Pontes


NORDESTE revistanordeste.com.br

EDITORIAL

Ano 9 | Número 104 | Julho | 2015 Diretor Presidente Walter Santos Diretora Administrativa/Financeira Ana Carla Uchôa Santos Diretor Comercial Pablo Forlan Santos Diretor de Marketing Vinícius Paiva C. Santos Logística Yvana Lemos COMERCIAL Gerente Comercial Marcos Paulo Atendimento Comercial Jone Falcão REPRESENTANTES Pernambuco Gil Sabino g.sabino@uol.com.br - Fone: (81) 9739-6489 REDAÇÃO Editor Paulo Dantas Repórter Antônio Cavalcante Fabrícia Oliveira Direção de Arte e Editoração Eletrônica Luciano Pereira Capa Vinícius Paiva C. Santos Projeto Visual Néctar Comunicação ATENDIMENTO/ FINANCEIRO Supervisora e Contas a Pagar Kelly Magna Pimenta Contas a Receber Milton Carvalho Contabilidade Big Consultoria ASSINATURAS (83) 3041-3777 Segunda a sexta, das 8 às 18 horas www.revistanordeste.com.br/assinatura CARTAS PARA REDAÇÃO faleconosco@revistanordeste.com.br

JULHO / 2015

PARA ANUNCIAR Ligue: (83) 3041-3777 comercial@revistanordeste.com.br SEDE Pça. Dom Ulrico, 16 - Anexo - Centro - João Pessoa / PB Cep 58010-740 / Tel/Fax: (83) 3041-3777 Impressão Gráfica JB - Av. Mons. Walfredo Leal, 681 - Tambiá - João Pessoa / PB - Fone: (83) 3015-7200 Circulação DPA Consultores Editorias Ltda dpacon@uol.com.br - Fone: (11) 3935 5524 Distribuição FC Comercial

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A Revista NORDESTE é editada pela Nordeste Comunicação, Editora e Serviços Ltda-ME CNPJ: 19.658.268/0001-43

Não ao Retrocesso Nos últimos dias tem ganhado corpo a insistência liderada pelo PSDB de querer pautar no Congresso Nacional o movimento de cassação do mandato da presidenta Dilma Rousseff, em face de presumidas reprovações de contas no TCU e TSE, instâncias que têm em pauta processos relativos à gestão 2014 da presidenta e sua prestação de contas das eleições passadas. A previsão nefasta dos tucanos se baseia na hipótese do TCU reprovar as contas, em face do que se denominou “Pedaladas” – artifício fiscal utilizado desde os tempos do Governo FHC – neste último caso sem qualquer implicação por parte do Tribunal, mas que agora se ensaia diante desta possibilidade, embora o Governo tenha apresentado documentos que arrefecem o desejo de implicar a gestão Dilma. A outra hipótese moribunda diz respeito ao depoimento que o empresário da UTC, Ricardo Pessoa, fará ao TSE, uma vez que os Tucanos consideram-no em condições de implicar a campanha de Dilma. Eles trabalham com o argumento de que ao invés de doação legal, como se pressupõe, se tratou de propinas. Estes, em tese, são os argumentos levantados pelo ex-candidato Aécio Neves empunhando a bandeira da cassação do mandato da presidenta. O PSDB, aí leia-se Aécio Neves, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os senadores José Serra e Aloysio Nunes, trabalha numa sintonia fina, em conjunto com o DEM de Demostenes Torres e Ronaldo Caiado e o PPS de Roberto Freire. Os tucanos também tem conseguido afinidade com alguns integrantes do

TCU, TSE, PF, MPF. Isso é o que é possível notar em face do posicionamento desses órgãos em favor de estratégias contra os governos do PT, mas poupando os governos tucanos, inclusive o próprio Aécio. Vale ressaltar que o presidenciável tucano é acusado de ter recebido propina, através de Furnas, e ainda verba das empreiteiras de Ricardo Pessoa durante a campanha do ano passado. Entretanto, as instituições de fiscalização têm lhe poupado de acusações na Justiça. Nos tempos de crise econômica mundial e convivendo com ajustes fiscais em busca da retomada de políticas e do desenvolvimento econômico do país, que também está sendo afetado com dificuldade existentes na China e nos EUA, admitir o instrumento da cassação sem o abrigo plausível de fatos concretos é conviver com o atraso inaceitável para a jovem democracia brasileira. O PSDB e seus líderes, mesmo ressaltando a posição contrária dos governadores Geraldo Alckmin e Marconi Perillo, dão demonstração clara de que não estão preocupados com os rumos sócio – econômicos do Brasil,que deverá retomar seu eixo de crescimento, porque aderiram ao golpismo barato e bancado pelo capital internacional.

Walter Santos

Diretor Presidente da Revista NORDESTE ws@revistanordeste.com.br


CARTAS E E-MAILS “É muito bom saber que existe no Brasil quem produza uma Imprensa plural e abrangente. A Revista NORDESTE cumpre esse papel” Luis Saraiva Neves diretor executivo da GEAP Brasilia/DF

Sem dúvidas, a abordagem da revista aos temos do Nordeste têm credenciado-a a novos saltos”

Robson Paz Secretário de Comunicação do Governo São Luiz/MA

Gustavo Nogueira Secretário de Planejamento do Governo do Rio Grande do Norte Natal/RN

Adorei a revista de junho a entrevista como ministro Jaques Wagner está show. O ex-governador sabe o que está fazendo "

A cobertura política sobre a crise nacional tem tornado a NORDESTE uma referência de leitura pela pluralidade de informação e opinião”

Maria das Graças da Silva Professora Bahia/BA

Luiz Moreti Brasilia/DF

Nota da Redação: Sugestões de pauta ou matérias podem ser enviadas para o endereço eletrônico do editor: paulo.dantas@revistanordeste.com.br Agradecemos a sua participação. NORDESTE On-line Facebook Revista Nordeste Twitter @RevistaNordeste E-mail faleconosco@revistanordeste.com.br Site www.revistanordeste.com.br

Desde há muito que acompanhamos a Revista NORDESTE sempre focada nos assuntos econômicos, culturais e políticos do país, pois agora é chegada a hora de cuidar também do setor de Comércio e Serviços” Marcelo Maia Economista – Secretário de Comércio e de Serviços do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços Brasília/DF

REVISTA NORDESTE N.º 103 Obrigado pela publicação de nossa entrevista na revista Nordeste. Gostei demais. Veremos o que dizer às pessoas e espero estar profundamente equivocado sobre a ventilação de uma Terceira Guerra mundial proveniente do Oriente Médio”. Abraços”

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Maria Bethania Navarro Empresária João Pessoa/PB

É sempre bem-vinda a iniciativa de acompanhar os fatos do Nordeste, em particular do Maranhão”

Carlos Torres Sociólogo Milão/Itália 7

Gostaria de registrar nossa satisfação de ver a edição de matérias tão especiais, como a que trata de nosso empreendimento SOLAR Tambaú”


Entrevista robinson faria / governador DE ESTADO

Como o Rio Grande do Norte age para superar a crise Por Walter Santos ws@revistanordeste.com.br

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obinson Faria está vivendo um momento delicado a frente do governo do Rio Grande do Norte, com crises abertas em várias frentes. Na Segurança, especialmente na administração penitenciária; no setor hídrico, com uma das piores secas dos últimos anos e problemas para ajustar o caixa à máquina pública. Faria culpa as gestões anteriores, que, segundo ele, fizeram apenas ações paliativas ao invés de investirem realmente para resolver os problemas. Na entrevista que foi concedida com exclusividade para a Revista NORDESTE, o governador fala dos avanços do governo até então, com apenas seis meses de gestão, e dos desafios que ainda estão por vir. Evita dar dicas sobre se há no horizonte alguma mudança nas secretarias de Estado e garante que o Rio Grande do Nor te tem chances reais de conseguir atrair o novo HUB da Latam. Em relação a crise entre Planalto e Congresso, o governador acredita que “é preciso pensar primeiramente no Brasil, e deixar as questões políticas de lado. O que temos visto é que, embora haja diferenças ainda sendo administradas entre o Executivo e o Legislativo, o ajuste fiscal tem caminhado com poucas dificuldades no Congresso”.


Fotos: Rayane Mainara

trabalhando também para consolidar o Rio Grande do Norte como sede do HUB da Latam no Brasil. Todos os esforços estão sendo feitos neste sentido por que o HUB representa investimento privado de R$ 5 bilhões e 12 mil empregos diretos apenas na sua fase inicial de funcionamento. Iniciamos o saneamento da capital do Estado e vamos chegar a 100 por cento até o final da administração. Isso representa melhorias na saúde pública, mais qualidade de vida para a população e menos custos na saúde, já que o saneamento previne várias doenças e evita contaminação do lençol freático. No que se refere à geração de emprego e renda, temos um governo que oferece maior segurança jurídica às empresas que se instalam no nosso estado. Neste primeiro semestre, implantamos o licenciamento eletrônico e já concedemos 2 mil licenças ambientais

Equilibramos as contas públicas, estamos pagando a folha dos servidores em dia, melhoramos a arrecadação, que, nos primeiros quatro meses do ano foi a única a crescer em todo o Nordeste”

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Robinson Faria: Nós recebemos o Governo do Estado com um déficit de quase R$ 900 milhões. Todos os Estados e o país passam por uma forte crise, mas isso não nos intimidou. Pelo contrário, isso nos estimulou a buscar soluções, estamos trabalhando para transformar essa realidade de dificuldades, superar os obstáculos. Sou um otimista. Equilibramos as contas públicas, estamos pagando a folha dos servidores em dia, melhoramos a arrecadação, que, nos primeiros quatro meses do ano foi a única a crescer em todo o Nordeste e atingiu o segundo lugar em crescimento em todo o Brasil. Na área da saúde, conseguimos reabastecer os hospitais em 85%, estamos atuando firmemente para acabar com os atendimento nos corredores no maior hospital de Natal, um problema crônico que persistiu por vários governos. Na educação, passamos a pagar o piso nacional dos professores, na segurança pública promovemos de uma vez só 1.300 policiais militares – a maior promoção já concedida em toda a história do Rio Grande do Norte. Também na segurança adquirimos veículos e equipamentos, pagamos em dia as diárias operacionais – o que não vinha sendo feito – e vamos implantar em breve o Ronda Cidadã, um programa que vai levar o policiamento aos bairros, que é a polícia de proximidade, atendendo ao clamor por maior policiamento e segurança. Na área do turismo, reduzimos o ICMS do querosene de aviação, o que já proporcionou a duplicação da demanda por Natal como destino turístico e criou quatro novos voos para a nossa capital partindo de São Paulo, Campinas, Belo Horizonte e Buenos Aires. E nos próximos meses vamos ter novos voos partindo de Milão, na Itália e de Cabo Verde, na África. Reiniciamos as obras do acesso norte ao Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, composto por novas estradas e viadutos, que vamos concluir até o final deste ano. Estamos

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Revista NORDESTE: Como o senhor avalia o primeiro semestre de 2015 pela ótica da realidade pública herdada e assumida?


Nosso governo pensa no hoje e no futuro do Estado. Planejamos, temos metas, motivação e capacidade de superação. É claro que temos deficiências e muito a fazer, mas eu avalio hoje a nossa administração numa escala de 1 a 10 – com nota 8” a novos empreendimentos. Essas licenças permitirão a abertura de novos negócios que projetam a geração de 40 mil novos empregos. Essa movimentação da economia tem sido uma de nossas prioridades.

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NORDESTE: Passados seis meses, o que o senhor identificaria como maiores problemas ainda a perturbar seu governo? Robinson: Em seis meses fizemos muito. Mas é preciso fazer muito mais. Sabemos disso e vamos continuar planejando e investindo na segurança, na saúde, na educação, no turismo, na atração de investimentos, geração de empregos e renda. Na área dos recursos hídricos, por exemplo, vivemos hoje uma das piores crises da nossa história, com o quarto ano consecutivo de seca. Nossos reservatórios estão com capacidade em níveis críticos. Isso é resultado da falta de políticas públicas de combate à seca ao longo de décadas. Por muito tempo, no Rio Grande do

Norte, se investiu apenas em políticas de governo, ações imediatistas para entregar obras paliativas para atender apenas as necessidades de momento, não visando o crescimento da população, da atividade econômica, a melhoria efetiva e duradoura da qualidade de vida. Nosso governo tem um programa de enfrentamento à estiagem. Em apenas seis meses reiniciamos as obras da Barragem de Oiticica, que vai garantir o abastecimento de água da região do Seridó. Assinei a ordem de serviço para reinício das obras da Barragem de Pau dos Ferros, que vai abastecer aquele município e outras 12 cidades do seu entorno. Hoje, ressalto, quatro destes 12 municípios estão gravemente afetados pela falta de água, sendo abastecidos por carros pipa. Vamos recuperar e instalar poços já perfurados e perfurar centenas de novos poços. Na segurança, apesar dos avanços que mostram a redução da violência e a redução dos casos de assassinato em 15% em apenas seis meses – quando a meta da ONU é reduzir 5% ao ano -, e reduzimos em 10% o número de roubos e assaltos, temos ainda problemas muito graves. A Polícia Militar do RN deveria ter hoje 15 mil homens em seus quadros. Temos menos de 9 mil. Por isso, uma de nossas medidas foi convocar os policiais cedidos a outros poderes e instituições, para incrementar o policiamento das ruas. Na saúde temos mais de 20 hospitais regionais que não funcionam a contento e não cumprem sua função. Na região do Trairi e em São Paulo do Potengi, no Agreste, já demos início ao processo de cogestão municipal que irá alavancar os hospitais regionais. Esse programa se estenderá paulatinamente pelo estado todo. E em Natal não temos ainda um hospital específico para o atendimento de traumas. Mas estamos trabalhando para dar uma resposta, em breve, para essa situação. NORDESTE: Mas deve haver algo positivo nesse processo. O que seria? Robinson: Os resultados já alcançados são altamente positivos. E estimulantes. Uma pesquisa recente, feita pela Federação das Indústrias do Rio Gran-

de do Norte (Fiern) no mês de junho, mostra que a população do Rio Grande do Norte aprova a nossa administração com grande índice percentual – 71,8%. Nosso governo pensa no hoje e no futuro do Estado. Planejamos, temos metas, motivação e capacidade de superação. É claro que temos deficiências e muito a fazer, mas eu avalio hoje a nossa administração – numa escala de 1 a 10 – com nota 8. Este número sintetiza esse espírito de motivação, superação, planejamento e alcance de metas que estamos conseguindo imprimir no governo do Rio Grande do Norte. Tenho certeza que nosso Governo vai dar certo, vamos transformar a realidade que encontramos e vamos fazer do Rio Grande do Norte, se não o melhor, um dos melhores estados do país para se viver. NORDESTE: Qual a avaliação o senhor faz de sua equipe de assessores? Pretende mudar peças? Robinson: Escolhemos uma equipe técnica, cumprindo nosso compromisso de campanha, de formar um secretariado composto por pessoas tecnicamente reconhecidas em suas áreas de atuação, sem compromissos políticos. Esse grupo tem se mostrado empenhado, motivado e disposto a responder ao desafio de realizarmos um grande governo. NORDESTE: A propósito, como a realidade restritiva orçamentariamente pode atrapalhar as pretensões do Estado para captar o HUB da Latam, em face do acesso ao aeroporto de São Gonçalo do Amarante, ainda precisar ser resolvido? Robinson: Vivemos um momento difícil em termos financeiros e orçamentários, mas isso não irá prejudicar as ações para a captação do HUB da Latam. Estamos convictos de que temos as melhores condições técnicas para receber o Hub, por fatores que incluem tanto as vantagens tributárias, com a desoneração do Querosene de Aviação (QAV), iniciativa do nosso Governo, quanto a indiscutível localização geográfica favorável de Natal. Temos ainda


Robinson: Fui recebido em audiência pelo ministro do Turismo, Henrique

NORDESTE: O Rio Grande do Norte construiu ao longo dos tempos diálogos econômicos com países da Península Ibérica, sobretudo Portugal e Espanha. Como andam os investimentos desses países no seu estado? Robinson: No segmento de energia eólica temos empresas espanholas já instaladas no estado, e no setor de cerâmica, a indústria espanhola Pamesa está em fase de aprovação de instalações no Rio Grande do Norte. Sua vinda para o estado prevê investimentos da ordem de R$ 135 milhões, movimentando a economia local. NORDESTE: Voltando à questão nacional, qual sua leitura atual? O senhor se posiciona da mesma forma que o seu partido, o PSD? Ainda acredita na criação do PL?

Robinson Faria: O PSD está atuando como um partido aliado do Brasil, um partido de comportamento novo, bastante republicano, e muito bem conduzido pelo seu presidente, o ministro Gilberto Kassab. Quanto ao PL, acredito e torço pela criação da legenda. NORDESTE: Que tem achado dos itens da Reforma Política votada na Câmara sob o comando do presidente Eduardo Cunha? O que aprova e não? Robinson: O primeiro ponto da reforma política que me chama a atenção é a necessidade de se garantir a eleição para o candidato, de fato, mais votado. Não é justo que um parlamentar muito bem votado perca a vaga para outro de votação bem inferior, como tem acontecido em toda eleição proporcional. Essa regra existente atualmente não representa o desejo da sociedade e é contra a democracia. Também sou a favor do voto distrital, para que as regiões tenham uma representatividade equilibrada, e ainda

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NORDESTE: Como o senhor costura os apoios políticos até de adversários, como o Ministro do Turismo, Henrique Alves, para este e outros grandes projetos estruturantes?

Alves, acompanhado da bancada federal. Repassamos a ele todos os projetos importantes para o desenvolvimento do Turismo no nosso estado.

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um aeroporto privado e já projetado para ser Hub, o que nos coloca em uma posição vantajosa. Fomos hub dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, e acredito firmemente que seremos agora, novamente, com a Latam. No que se refere aos acessos ao aeroporto, o acesso norte já está com obras avançadas, com conclusão prevista para o final deste ano, com um investimento de R$ 10,6 milhões. O acesso sul, que inclui um anel viário será entregue até dezembro de 2016. Esse cronograma foi apresentado em reuniões técnicas com a Tam, em que explicamos que será possível cumpri-lo à risca. Não teremos problemas com os acessos.


Dilma está conduzindo o Brasil em meio a uma crise, antes internacional, mas agora, especialmente, nacional. O momento é de dificuldades, mas ela conta com uma equipe técnica, com destaque para o ministro Joaquim Levy, que tem condições de reverter a situação” do fim da reeleição e da coincidência de mandatos, com mandatos de cinco anos. NORDESTE: Como vai a politica partidária em seu estado? Vai ter candidato a prefeito de Natal?

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Robinson: Atualmente estou cuidando de organizar o estado, focando nos caminhos para o desenvolvimento da nossa economia, para a geração de empregos, para a recuperação da prestação de serviços. Ainda não estou tratando de 2016. NORDESTE: O senhor presidiu uma reunião dos governadores nordestinos dias atrás em Natal. O que concretamente já aconteceu como consequência? Robinson: As reivindicações da Carta de Natal no 3° Encontro de Governadores do Nordeste foram bastante ousadas. Não se esperava o

cumprimento imediato dos pedidos, até porque alguns possuem caráter programático. No que diz respeito à Reforma Tributária, três dos quatro estados que estavam fora do acordo entre RN, PE e CE (o outro estado é o Paraná) do Convênio ICMS 70/14, acordo buscado pelo Ministro Levy e o Governo Federal, resolveram apoiar os termos do convênio. Foi uma sinalização positiva de apoio do Nordeste que o Ministro levou de volta pra Brasília. O apoio integral da região ao Governo. A bola passou agora para o outro lado da rede e os estados aguardam a definição do Governo Federal acerca do fundo de compensação, previsto no convênio, que auxilie os Estados a lidar com a transição. Quanto ao programa Minha Casa, Minha Vida, que foi solicitado ao ministro que se retomasse as obras paralisadas, foi atendida essa solicitação e esse importante programa voltou a movimentar as economias nordestinas. NORDESTE: O que há de novo no segmento energético e na produção eólica do Rio grande do Norte? Robinson: No dia 5 de junho passado, dia mundial do meio ambiente, o Governo do Rio Grande do Norte anunciou a adesão ao Convênio ICMS 44/15 que isenta do ICMS a energia elétrica fornecida pela distribuidora ao micro ou minigerador. Esse é um incentivo fundamental para o desenvolvimento do uso de energia solar, porque reduz o tempo de retorno do investimento em placas solares. Essa medida abre caminho para o Rio Grande do Norte ser uma referência continental em energia limpa, pois hoje já somos referência brasileira da energia eólica. Os 2,02 gigawatts produzidos no RN superam vários países europeus como Grécia, Bélgica e Noruega, se equiparando aproximadamente à produção de Irlanda e Áustria. Sozinho, o RN supera também o montante de potência instalada de todos os países da América do Sul juntos, com exceção do Brasil. NORDESTE: Dentro de uma visão mais

nacional levando em conta a conjuntura econômica, o que o senhor acha do Governo Dilma? É refém do Congresso, já está com as rédeas do processo nas mãos? Robinson: A presidente Dilma está conduzindo o Brasil em meio a uma crise, antes internacional, mas agora, especialmente, nacional. O momento é de dificuldades, mas ela conta com uma equipe técnica, com destaque para o ministro Joaquim Levy, que tem condições de reverter a situação e elevar a posição do país. Com relação ao Congresso, é preciso pensar primeiramente no Brasil, e deixar as questões políticas de lado. O que temos visto é que, embora haja diferenças ainda sendo administradas entre o Executivo e o Legislativo, o ajuste fiscal tem caminhado com poucas dificuldades no Congresso, com a aprovação de medidas provisórias importantíssimas para o país. Os assuntos têm caminhado com o ritmo de discussão dentro da previsibilidade. NORDESTE: Como o senhor avalia a atuação do ministro Joaquim Levy e de que forma o Governo do Rio Grande do Norte anda afetado? Robinson: Tive alguns contatos com o ministro Joaquim Levy, e o que ele me passou foi que é bem intencionado, preparado tecnicamente e motivado na missão que recebeu. Em um dos encontros, quando estive com ele para conversar sobre a questão econômica e a necessidade de efetivação de um empréstimo do Banco do Brasil para o Rio Grande do Norte, ele expôs sua visão sobre o receituário econômico para esse período de crise e seu entendimento sobre a prioridade das obras de infraestrutura tocadas pelo Governo Federal como motivadoras da retomada econômica do país. É uma visão que acompanhamos, e mostramos como a realização de obras no Rio Grande do Norte, que tem a indústria do turismo e a geração de energia como vocações naturais, podem contribuir para o progresso do país. Vejo o ministro como um homem sensível a essas questões.


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Walter Santos ws@revistanordeste.com.br

O foco na vã deposição de Dilma e no desmantelamento da Economia Quando o senador Cássio Cunha Lima, Líder do PSDB, projetou o dia 14 de Julho - data do depoimento do empresário Ricardo Pessoa, da UTC, na CPI da Petrobras, como prazo fatal para o início do processo de afastamento legal da presidenta Dilma Rousseff do cargo, ele não falou à tôa nem fez avocações delirantes, apenas foi Porta Voz do que vem sendo montado há meses visando o intento real de tirar o PT do Poder Central. A esta altura do campeonato, o PSDB assumiu publicamente o papel de algoz principal do “grande esquema” com participação de outros partidos, em especial com chancela de setores influentes do PMDB, a

exemplo do presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, todos fechados na “grande estratégia” de legalizar o Golpe no processo democrático que

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A “grande meta” é deletar o PT Neste processo, não há espaços para se apurar e punir a todos os envolvidos em desvios a envolver todos os partidos, entretanto, o foco e a exposição se restringe ao PT sob conivência das instituições democráticas, com exceção à OAB, porque o PSDB e demais siglas ao seu redor estão atolados na recepção dos mesmos e mais recursos das empreiteiras, mas o noticiário exclui a todos porque o alvo é o PT e Lula na projeção futura. Na trama, com destaque estratégico, estão setores da Justiça Federal – esta gerando abusos do Direito em escala nunca visto e, por consequência, produzindo o desmantelamento de importantes empresas do Brasil com histórico de inserção brasileira no mercado internacional, sem falar também do abuso da PF de fazer escutas ilegais, conforme confissão recente, servindo-se todo este aparato, não para por em prática as correções e punições

devidas aos desvios, mas para fragilizar o Governo Dilma. Como é perceptível constatar, como "pano de fundo" da trama pós – maquiavélica porque tem um componente Capital de objetivo maior – diversos parlamentares do Congresso Nacional endossam todo esse contexto de "mais valia" sobre o respeito à soberania da Democracia reconstruída a duras penas no País. São Paulo é o motor deste intento que conduz ao retrocesso.

reelegou Dilma Rousseff. Pouco tem importado neste cenário pemedebista a deposição do seu maior líder, o vice-presidente Michel Temer, que vive espremido entre a legalidade e a arbitrariedade político - institucional. Pelo que tem sido construído e exposto à opinião pública com endosso e forte participação da Grande Midia capitaneada pela Rede Globo, os caminhos para o afastamento de Dilma passam por questões legais em diversos aparelhos institucionais, a exemplo do TCU com as tais “Pedaladas”, o TSE diante da votação das contas de campanha da presidenta e o MPF – denunciador do que existir para formalizar o Impeachment.

A “instabilidade criada” visa América Latina Guardadas as proporções, o cenário brasileiro está longe de ser um contexto exclusivo porque se incorpora à "grande estratégia" do Capital retomar o comando da economia na América Latina. Afinal, a expansão de governos socialistas deram outro rumo de inclusão social às diversas nações em desconformidade com a orientação de subserviência total aos EUA. O papel da oposição no Brasil com idêntico procedimento da Grande Midia, em especial as grandes Redes de TV, é o retrato fiel do que a Venezuela enfrentou anos atrás com rescaldo até hoje mantido para tirar o governo socialista do poder a qualquer preço, embora em terras de Hugo Chaves há reação dura com respaldo popular de tentar preservar seu legado. O PSDB incorpora esta estratégia sem mais despudor nem nenhum discurso de preservação de valores de soberania nacional afastando-se de vez de seus primados iniciais até por ter sido um partido criado a partir de lutas da redemocratização do Brasil.


O governador Wellington Dias confirmou em contato com a Coluna PLUGADO, que vai estar recepcionando os governadores do Nordeste no próximo dia 17 de Julho, em Teresina, para nova rodada de discussões sobre as pautas prioritárias dos nove estados. Eles devem discutir a conjuntura nacional diante da manutenção de anseios do PSDB de querer ver a presidenta Dilma Rousseff cassada. A pauta do impeachment é, algo que não conta com endosso dos chefes do Executivo no Nordeste. A pauta de maior fôlego será a econômica.

Câmara avalia a Cultura

Ciro para 2018? Ciro Gomes será a partir dos próximos dias a novidade na política com os entendimentos com o PDT. O partido dá como certo que os irmãos Ciro e Cid Gomes, ex-ministros e ex-governadores do Ceará, estão de malas prontas para deixar o Pros e entrar no PDT. A mudança seria em razão de desconforto observado entre eles e seu grupo político com o Pros. Mas há quem fale que principal fator da nova filiação é a possibilidade de ser costurada a candidatura de Ciro à presidência da República em 2018.

O governador Paulo Câmara e a primeira-dama Ana Luiza Câmara ofereceram dias atrás um almoço para convidados no Palácio do Campo das Princesas, em celebração ao sucesso da

Fenearte superando as expectativas da organização em vendas e visitação, pois mais de 160 mil pessoas haviam circulado pelos corredores do pavilhão do Centro de Convenções de Pernambuco (Cecon), para conferir as novidades da maior feira de artesanato da América Latina. Entre os convidados do almoço, os irmãos Campana - Fernando e Humberto, designers mundialmente conhecidos. A dupla visitou a capital pernambucana exclusivamente para conferir a Fenearte e já deixa a cidade hoje. Recentemente, os irmãos lançaram um coleção de cadeiras e poltronas em parceria com o artesão cearense Espedito Celeiro.

Ajustes no 2º Escalão Somente depois do recesso parlamentar iniciado em Julho é que o Governo Dilma Rousseff entabulará definitivamente as mudanças a serem anunciadas no Segundo escalão para azeitar a máquina administrativa dentro da lógica de negociação com os partidos aliados, mesmo parte do PMDB jogando dubiamente, ou seja, contra o Governo. Um dos nomes lembrados para cargo especial está o do ex-Secretário da Bahia, Robinson Almeida, atualmente na Secretaria Geral da Presidência da República.

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Em Brasília, o nome do ex-deputado federal João Paulo, também ex-prefeito de Recife, é considerado como definido para assumir em breve a Superintendência da SUDENE. No Ministério da Integração Nacional, por exemplo, há um clima apenas de aguardar a nomeação dele para deflagração de várias ações estratégicas no Nordeste.

Piaui é anfitrião dos Governadores

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Novo Superintendente da SUDENE


Capa Dilma Rousseff e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em encontro dos BRICS

Uma agenda

positiva PA R A O B R A S I L

jornal “Folha de São Paulo”, onde se disse vítima de uma oposição “um Dilma implementa ações de impacto tanto quanto golpista” e garantiu que dentro e fora do País para afastar não vai cair. “Eu não vou cair. Isso é moleza, isso é luta política. As pessoas fantasma da cassação. Viagem aos EUA caem quando estão dispostas a cair. e Rússia dão o tom do novo momento Não tem base para eu cair. E venha tentar. Se tem uma coisa que eu não país está dividido. Uma parte, condições de cumprir seu mandato tenho medo é disso. Não conte que eu ao que tudo indica guiada pela até o final, em 2018, e o PSDB estaria vou ficar nervosa, com medo. Não me grande mídia, está tomada pronto para assumir o cargo. A disaterrorizam. (...) Para tirar um presidenpor acusações de irregularidades do cussão sobre impeachment e golpe de te da República, tem que explicar por governo Dilma Rousseff (PT) e começa Estado acabou tomando o noticiário e que vai tirar. Confundiram seus desejos a levantar o coro do impeachment. A se tornou o princom a realidade, outra parte, olha para esse coro com escipal assunto do ou tem uma base tranheza e ao invés de ver um processo Congresso Nacioreal? Não acredirealmente sério onde estão apontadas nal. Aécio Neves to que tenha uma irregularidades, vislumbram mais um e o líder do PT no base real”. processo golpista. Senado, HumApesar dos Muito dessa onda se exacerbou berto Costa (PE), baixos índices de na Convenção Nacional do PSDB, bateram boca em popularidade, úlquando o presidente recém reeleito da plenário. tima pesquisa do IBOPE divulgada legenda, senador Aécio Neves (MG), e A presidenta no dia 01 de julho, o ex-presidente da república, Fernando respondeu às proHenrique Cardoso, puxaram o coro: a vocações do PSDB Edinho Silva introduziu estratégia pontuou 9% entre presidente Dilma Rousseff estaria sem em entrevista ao da agenda positiva os que consideram

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meio ambiente, em encontros com o presidente Barack Obama. A petista ainda se encontrou com executivos da Google e do Facebook para ampliar o acesso a internet no país. Nos Estados Unidos Dilma conseguiu emplacar pelo menos seis pontos de interesse do Brasil. No meio ambiente, os países se comprometeram a ampliar a participação de fontes renováveis em suas matrizes elétricas. O objetivo é que este índice, sem contar a geração hidráulica, chegue a mais de 20% até 2030. No comércio os governos anunciaram a intenção de assinar um memorando para harmonizar normas técnicas, o que deve facilitar a entrada de produtos brasileiros no mercado

americano. No setor pecuário, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos publicou a chamada "decisão final", um comunicado que reconhece o status sanitário do rebanho bovino brasileiro. Isso potencialmente abre as portas do mercado do país à carne in natura do Brasil, encerrando uma negociação de mais de 15 anos. Em relação a concessão de vistos, a tão desejada isenção de visto para turistas brasileiros ainda não foi alcançada, mas ambos os governos se comprometeram a tomar as medidas necessárias para que o Brasil entre no programa "Global Entry" até a primeira metade de 2016. Este programa dispensa viajantes frequentes de

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Dilma em reunião com líderes dos BRISCs (acima) e durante visita a EXPO Milão. Agenda intensa no exterior

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seu governo ótimo e bom, Dilma segue buscando implementar uma agenda positiva na mídia e nas redes sociais. A estratégia do Governo é contrabalançar a articulação da mídia e da oposição contra o seu governo com boas notícias dentro e fora do Brasil. Na Rússia, em encontro dos BRICS, reunida com os mandatários da China, Ìndia, África do Sul, e Rússia, a presidenta anunciou a criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, do inglês New Development Bank). A criação da nova instituição foi feita com a assinatura de cooperação entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outros bancos de desenvolvimento dos países que compõem o bloco. O documento foi firmado durante a 7ª reunião de cúpula dos BRICS, na cidade russa de Ufa, pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e os presidentes dos demais bancos de desenvolvimento, na presença dos chefes de Estado dos cinco países. O acordo estabelece as bases para que os bancos de desenvolvimento se relacionem com o NDB. Antes a presidenta já havia visitado os EUA e firmado diversos acordos para expansão e cooperação tecnológica, educacional, de comércio, turismo e


Dilma ao lado de Barack Obama em visita recente ao EUA. Acima, comitiva posa em frente a galeria do Brasil na EXPO Milão

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essa travessia e o seu governo, a presidenta saiu-se: "Não, querido, o meu mandato é, eu diria, mais firme que essa rede.". E, completou, enquanto explicava a técnica para a caminhada: "Eu não caí, mas a gente sempre, para não cair, precisa ser ajudada, né?". entrar em filas ao passar pelos postos de imigração na chegada aos Estados Unidos. Em relação a Defesa, dois acordos foram destaque, um de Cooperação em Defesa e outro de Segurança de Informações Militares, com foco no fluxo de informações, bens, serviços e tecnologias entre ambos os países. Há ainda cooperação na Previdência Social e na Educação. Brasil e Estados Unidos assinaram um memorando de entendimento para cooperar em educação técnica e profissionalizante, com aumento da colaboração entre instituições educacionais dos dois países. Entre essas agendas aconteceu um fato curioso na Itália, ao visitar a Expo Milão. Quando a presidenta avistou a principal atração do pavilhão brasileiro, uma enorme rede suspensa que representa a integração dos produtores de alimentos do país, ela quis atravessar a engenhoca. De calça e tênis pretos, e uma blusa de mangas curtas vermelhas, Dilma conseguiu subir na rede e apesar de dizer que não iria conseguir no início do trajeto, chegou até o fim com ajuda de um funcionário. Após isso, foi questionada se poderia ser feito uma paralelo entre

Agenda positiva também dentro do Brasil

alcançam R$ 187,7 bilhões no ano safra 2015/2016. O plano baseia-se no apoio aos médios produtores, garantia de elevado padrão tecnológico, fortalecimento do setor de florestas plantadas, da pecuária leiteira e de corte, melhoria do seguro rural A estratégia da chamada “agenda positiva” e sustentação de preços aos produtores já havia sido anunciada pelo ministro da por meio da Política de Garantia de Preços Comunicação Social, Edinho Silva. O objetivo Mínimos. O volume de recursos destinados era realmente dar visibilidade a ações que ao financiamento da agricultura teve alta de tenham repercussão favorável na mídia após 20% em relação ao período anterior, que foi a aprovação das medidas de ajuste fiscal. de R$ 156,1 bilhões. A presidenta Dilma Rousseff afirmou que Além do Plano Agrícola, entre as o governo trabalha para colocar o Brasil novidades já apresentadas na agenda na “trajetória do crescimento” no “menor positiva “dentro de casa” estão o Plano de tempo possível” e esclareceu a estratégia Concessões em Infraestrutura e Logística; do governo em dois eixos: O eixo do ajuste o Plano Nacional de Exportações; o Plano fiscal e o eixo da parceria com o setor Safra da Agricultura Familiar; e a terceira privado. “Com ações concretas, o Brasil, ao etapa do programa habitacional Minha Casa, mesmo tempo, faz o ajuste e, a partir dele, Minha Vida. cria a agenda clara de futuro”, afirmou. No plano de concessões a ideia é Entre os temas da agenda positiva estão dar sequência às parcerias com o setor um pacote de obras que seriam feitas em privado para ampliar a infraestrutura parceria com a China no valor de R$ 160 do país expandindo rodovias, ferrovias, bilhões, anunciado em maio. Em junho ao portos e aeroportos. No Plano Nacional participar do lançamento do Plano Agrícola de Exportações estão em foco ações para e Pecuário 2015-2016, a chefe do executivo desburocratizar e incentivar as exportações nacional detalhou pontos da agenda positiva no país. E na terceira etapa do Minha Casa, que o governo estava preparando com Minha Vida. Uma das principais bandeiras anúncios de novos programas. do governo que já contratou 3,7 milhões de Em relação ao Plano Agrícola e Pecuário, moradias, está prevista a contração de mais os recursos disponibilizados ao crédito rural 3 milhões de residências. Com as ações, para as operações de custeio, investimento Dilma quer mudar o foco em torno do seu e comercialização da agricultura empresarial governo.


Opinião

Com a chave do cofre na mão

Carlos Roberto de Oliveira Jornalista, consultor de Marketing e sócio da CLG

do próximo ano. As oposições – política e midiática – não querem, todavia, pagar para ver. Preferem jogar pesado, em todas as dimensões do campo político, apagando o resultado das urnas de 2014 e, já em 2016, disputar o poder com a chave do cofre na mão. CHIKUNGUNYA EMPLUMADA A preguiça e o cansaço provocado por essa prima da dengue, me levam a pedir-lhes paciência na leitura desta transcrição: “Assistimos atônitos a um festival de prisões arbitrárias, antecipatórias da final condenação, ao desprezo pelo instituto pra presunção de inocência, à submissão de réus a constrangimentos para que revelem crimes de outras pessoas, ao desrespeito flagrante às leis, ao abandono da boa prática da apuração e à correção das investigações que resultam em prova judiciária factual. Entronizou-se no nosso processo o boato, o “diz que”, o “suspeita-se que”, de delações obtidas sabe Deus a que meios, embora saibamos, seguramente, que não são meios de Deus. Processo com sigilo decretado (só para a defesa, é claro), então, tornou-se melancólica “mentira legal” quando se trata de “vazar” dados para se assassinarem reputações e se prepararem arbitrariedades. Assistimos a esse acinte diariamente no noticiário.” (...) Lavram os autos nos jornais, nas revistas e nas ruas, buscando apoio fora dos tribunais como chegou a pedir um procurador. Essas ilicitudes costumam prosperar em ambientes de decadência institucional e social, em que germinam disputas de fundo, praxe em conjunturas políticas turbulentas. (Trechos do artigo Curto-circuito no Direito, de José Roberto Batochio, advogado e ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, comentando a atuação do juiz Sérgio Moro na Operação Lava Jato).

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A fragilidade da oposição política, explicitada nos últimos anos, está sendo profusamente compensada pelo apoio desbragado e antiético da grande imprensa brasileira”

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ula confessa estar no volume morto e afirma ter Dilma em sua companhia. Desafia o PT a pensar menos em cargos e mais no projeto do partido. Os tucanos reunidos reelegem Aécio, para presidência do Diretório Nacional, e vestem-se de profetas ao anunciar que Dilma não concluirá o seu mandato. Um verdadeiro ato falho de quem está contaminado pela intenção golpista. A presidenta resolve sair da toca, deitar falação e desmente Lula. E numa entrevista mal copidescada, na Folha de São Paulo, desfila estranhas e angustiantes expressões como “eu não vou cair, não tem base para eu cair, venha tentar, venha tentar”. Na mesma entrevista, Dilma critica decisões do juiz Sérgio Moro que, segundo ela, vem prendendo preventivamente, a rodo, os investigados da operação Lava Jato, forçando-os a confissões e delações. O magistrado popstar, hoje uma réplica do que foi Joaquim Barbosa nos tempos de mensalão, não gostou e acusou Dilma de fazer comentários inapropriados e ofensivos ao Supremo Tribunal Federal (?). Em paralelo, o Congresso Nacional comandado pelos ressentidos Renan Calheiros e Eduardo Cunha, este uma revelação de pragmatismo mórbido na oposição ao governo, adota um ritmo alucinante de trabalho, produzindo e aprovando leis cuja linha de pensamento maior parece ser inviabilizar o governo petista. Somadas, as lideranças petistas e peemedebistas, leais a Dilma, entre elas o vice-presidente Michel Temer, não têm conseguido enfrentar os blindados de Cunha e Calheiros que desfilam vitoriosos e incólumes na Praça dos Três Poderes. Implantam no país uma versão tupiniquim de um parlamentarismo branco. A verdade é que a fragilidade da oposição política, explicitada nos últimos anos, está sendo profusamente compensada pelo apoio desbragado e antiético da grande imprensa brasileira que não tem mais limites para o seu engajamento político e a unilateralidade de opinião. Está valendo tudo para tentar expulsar o PT do poder, mesmo que as armas brandidas, entre elas o impeachment, por exemplo, não caibam juridicamente na situações criadas, segundo opinião de autoridades na matéria. Para inquietar e vulnerabilizar Dilma e o seu governo, os veículos de comunicação fazem um rodízio de acusações, a maioria delas repetida por dezenas de vezes, em tudo que é noticiário de TV e rádio. Afirma-se mais do que se insinua que o mandato de Dilma, conquistado nas urnas, terá vida curta por decisão do Congresso Nacional ou do Supremo Tribunal Federal. É a moda do “boato oficializado”, sinetado pelos que lutam para manipular a opinião pública. Aproveitando a onda, vândalos morais postam na internet imagens imorais (forjadas) de Dilma, num flagrante desrespeito à integridade moral da presidente, da mulher e da família brasileira. O desabafo de Lula e o convite a Dilma para que ela se aproxime do povo parecem ser a estratégia do desgastado PT para construir um novo caminho que levará às eleições municipais


Política

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Aécio E A Insistência Em CassaR Dilma Aécio Neves é reeleito presidente do PSDB, encabeça movimento pró-afastamento de Dilma com apoio de Serra e FHC. Mas sofre oposição interna de Geraldo Alckmin e Marconi Perillo. Governadores querem minar planos do tucano com vistas a candidatura nas eleições de 2018

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oposição insiste em disseminar um clima de instabilidade política sem nem mesmo ter um fato jurídico concreto para uma cassação ou impeachment, com isso conseguiu pautar negativamente a grande mídia do país. Tanto é assim que a própria Dilma Rousseff (PT) resolveu sair da letargia e garantir que “Não é Getúlio, Jango ou Collor. Não me suicido, faço acordo ou renuncio”. O clima complicou depois que alas do PMDB, comandadas pelo presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, começaram conversações abertas com o PSDB, com vistas a interrupção do mandado de Dilma. Junto a isso some-se que o Congresso Nacional realizado pelo PSDB no domingo 05/07 reconduziu à presidência do partido o senador Aécio Neves

com 99,34% dos votos. Aécio afirmou para uma plateia de 3 mil militantes presentes ao evento, que o PSDB pode ser minoria no Congresso, mas não se omite. Seja em discurso ou na coletiva de imprensa, Aécio pregou a intolerância e foi chamado de golpista por articulistas políticos, por falar em cassação e impeachment sem prova concreta contra Dilma. A verdade é que apesar de afirmar textualmente em sua fala que não era golpista, suas palavras davam a impressão do contrário. “Não cabe ao PSDB antecipar a saída de presidente da república. Nós não somos golpistas. O que existe hoje é uma ausência de governo e se a presidente não assume as suas responsabilidades, ela terceiriza, cada vez mais essa sensação de vácuo


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poimentos de delatores, o dinheiro de propina na sua campanha eleitoral, isso está numa das delações mais recentes. Cabe a ela explicar porque no Brasil, e aí nós vamos estar vigilantes, a lei tem que valer para todos”, disse um Aécio Neves enfático. A questão é que ao falar que a presidenta descumpriu a Lei de Responsavai se espalhando pela sociedade brabilidade Fiscal, o tucano já considera sileira. (...) É preciso que a presidente que as famosas ‘pedaladas fiscais’, que estão sendo analisadas pelo Tributome as rédeas, se é que ela ainda nal de Contas da tem condições de União (TCU), fofazer isso, senão ram criminosas. nós não teremos o Apesar do TCU desfecho de 2018, já ter sinalizado ele poderá ser anirregularidades no tecipado. Mas recaso, o Tribunal pito, não por ação ainda está ouvindo do PSDB, mas por inúmeras frentes os ministros que que a presidente compõem a defesa do Governo e criou. Na verdatambém deve oude descumprindo vir Dilma. Aécio a Lei de Responnão cita que as tais sabilidade Fiscal, pedaladas também fraudando a presforam feitas pelo tação de contas, utilizando, segun- Jandira Feghali considera governo de Ferdo os últimos de- impeachment pauta inapropriada nando Henrique

Cardoso (FHC) desde 2001. Aécio diz que a presidenta fraudou a prestação de contas de campanha utilizando dinheiro de propina na sua campanha eleitoral, alegando que a informação foi dada “numas das delações mais recentes”. A delação a que o presidenciável se refere é a do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC. Pessoa citou em depoimento de delação premiada suposto repasse ilegal de R$ 3,6 milhões para o tesoureiro da campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010, José de Filippi, e para o ex-tesoureiro nacional do PT João Vaccari Neto. Pessoa teria detalhado repasses aos dois no valor total de R$ 7,5 milhões para ajudar a reeleger Dilma. No entanto, o que Aécio não comentou é que Pessoa também citou outros beneficiários do esquema, entre eles os senadores Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), candidato a vice na chapa de Aécio, o DEM, com nomes como os senadores Ronaldo Caiado (DEM/ GO), denunciado por caixa dois pelo ex-companheiro Demóstenes Torres, e Agripino Maia (DEM/RN) investigado no Supremo Tribunal Federal pelo recebimento de propinas de R$ 1,1 milhão. O dono da UTC/Constran implicou nada menos que 15 partidos ao falar de suas doações com recursos ilícitos. A líder do PCdoB, Jandira Feghali (RJ), considera a pauta do impeachment uma escalada golpista. Para

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Aécio Neves, José Serra e Fernando Henrique Cardoso, teses diferentes, mas todas favoráveis ao impeachment de Dilma


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ela o que existe hoje não passam de suposições. “Apura-se, acredita-se e ao mesmo tempo que apura-se e supõem-se, afirmam-se coisas inverídicas, porque não houve pedalada fiscal e os dados serão apresentados. Não há nenhuma base de sustentação para falar de crime de responsabilidade fiscal, toda a metodologia usada pelo governo é usada há 25 anos. Porque o Senado deixou de regulamentar a relação estado e bancos públicos. Então a metodologia é do Banco Central, isso é usado desde 1991. E depois da Lei de Responsabilidade Fiscal, há 14 anos, todos os governos usaram a mesma metodologia, inclusive o governo de Fernando Henrique Cardoso. Para a gente afirmar, como fez o PSDB na sua convenção “Dilma irá cair e nós estamos prontos a assumir”, quando ainda supõem-se e apura-se. Isso é nitidamente uma posição golpista. Não há base constitucional, nem provas para essa atitude. Além do que é importante dizer que há de fato desde a campanha eleitoral uma resistência ao resultado. Nunca o PSDB aceitou essa derrota, nunca. Entrou primeiro querendo recontar votos. Depois entrou com novos processos. Faz uma oposição na minha opinião irresponsável com o Brasil. Eu acho que tem que investigar, apurar, punir corrupto. Tem que fazer, mas a gente percebe nitidamente que os discursos e as ações são articuladas em todos os níveis das instituições”, frisa, negando logo em seguida que esteja acusado as instituições, mas pessoas dentro das instituições que estariam agindo de comum acordo com a oposição para articular a queda do governo.z As tentavas de tirar Dilma do Palácio do Planalto estão em curso desde dezembro. Os tucanos moveram ação

judicial no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no ano passado, pedindo a cassação do mandato da presidenta e seu vice sob o argumento de abuso de poder econômico e político durante a campanha. Na ação já foi ouvido o doleiro Alberto Yousseff , que negou que tenha repassado dinheiro para a campanha petista. Está previsto para o dia 14 de julho, depoimento do empreiteiro Ricardo Pessoa. A ação está em fase final de coleta de provas e deve ser julgada até agosto. A situação é delicada, e fica claro que a pauta da mídia no Brasil hoje é construída pelo Congresso Nacional, o Judiciário e a oposição. Para se defender Dilma agora precisa ser rápida, a fim de evitar o vácuo político e econômico. Mas há uma onde de ódio crescente contra a presidente e o PT. Torna-se cada vez mais fácil ver o brasileiro comum culpando o governo por todas as suas mazelas e a irritação coloca na mesma massa genérica tanto a violência nas ruas, quanto os buracos nas estradas e a falta de segurança. Tudo é culpa do PT. Lula já brincou com fato nas redes sociais ao rebater argumento de um articulista da Globo que alegou que a crise da Grécia era culpa de Lula e Dilma. Os últimos acontecimentos apontam para uma desordem em curso. Há realmente uma crise econômica e um certo vácuo político, que começa a ser preenchido pelo PT. o ambiente é propício para o surgimento de radicalismo. Um terreno mais que fértil para ver surgir os contornos de um movimentos fascistas. Não é a toa que é possível ver no país saudosos da ditadura militar, da tortura e da censura. Os mesmos que também, muitas vezes atacam gays, transexuais, negros e nordestinos.

Alckmin e Pe

Mas nem tudo é consenso dentro do PSDB. Os governadores Geraldo Alckmin (São Paulo) e Marconi Perillo (Goiás) torcem para que a presidenta Dilma Rousseff consiga se manter no poder, de preferência enfraquecida, até 2018. O motivo é claro: os dois ambicionam construír uma candidatura própria à presidência, tirando Aécio do caminho. Alckmin e Perillo entendem que um impeachment agora beneficiaria apenas a Aécio e tornaria inviáveis suas possíveis candidaturas. Assim, o partido vive uma disputa interna pelo poder. Até mesmo Cássio Cunha Lima, por isso, hoje líder do PSDB no a estratégia de Senado tem sido Aécio é apostar veemente na luta todas as fichas pelo impeachment num impeachment ainda neste ano, e não apenas da presidente Dilma Rousseff, mas também do vice Michel Temer (PMDB). Com a cassação dos dois assumiria o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que


rillo: POSIÇÕES DIVERGENTES

Acima Geraldo Akckmin e ao Lado Marconi Perillo, candidatos em 2018

ficaria no poder por três meses e convocaria novas eleições. O senador Aloysio Nunes, um dos tucanos mais ácidos em relação ao governo Dilma, afirma que "não tem dúvidas" de que o Partidos dos Trabalhadores está "inviabilizado no curto e no médio prazo". "Tem gente que quer abrir a barriga da presidente e enforcá-la com a tripa. Mas eu sou um homem pacífico", garante. Para Nunes nem Lula tem mais vez. O próprio Aécio já disse que não teme enfrentar Lula. O tucano se acosta em recente pesquisa do Datafolha que lhe deu 10 pontos Fotos: Divulgação

percentuais (35%) de liderança a frente do petista (25%). O senador José Serra aposta numa via diferente, com o impeachment apenas de Dilma e Michel Temer assumindo. Neste sentido, o caminho mais viável seria a cassação a partir das chamadas "pedaladas fiscais", que atingiriam Dilma, mas não Temer. Enquanto Alckmin, Perillo e Serra deixaram claras as suas posições, FHC preferiu um tom algo nebuloso. "Estamos prontos, sim (...), para assumir o que vier pela frente. Precisamos ir até o fim para que o Brasil seja passado a limpo. Seja qual for o caminho pelo qual tenhamos que passar, o PSDB e seus aliados terão um caminho”. O tucano afirmou que "o rumo foi perdido", "o Brasil foi quebrado pelo PT, pelo "'lulopetismo'". Em outro momento o tucano comparou o governo Dilma com o seu. "Eu perdi a popularidade algumas vezes. Popularidade se perde e se ganha. O que eu nunca perdi foi a minha credibilidade". Outros que se mostraram francamente favoráveis ao impeachment foram Cássio Cunha Lima, líder do PSDB no Senado, e Carlos Sampaio, líder na Câmara.

“pode vir Lula e quem quiser” Aloysio Nunes Senador pelo PSDB

O que são as ‘pedaladas fiscais’? São manobras contábeis que, segundo a oposição, teriam como objetivo melhorar o resultado das contas públicas - ou seja, ajudar o governo a fazer parecer que haveria um equilíbrio maior entre seus gastos e suas despesas. No caso, o governo Dilma é acusado de atrasar o repasse de recursos para benefícios sociais e subsídios pagos por meio da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil e do BNDES para passar a impressão de que as contas públicas estariam melhor do que realmente estavam. Teriam sido “segurados” um total de R$ 40 bilhões do seguro-desemprego, programa Minha Casa, Minha Vida, Bolsa Família, Programa de Sustentação do Investimento (PSI) e crédito agrícola, segundo o TCU. Como os desembolsos não foram efetuados, as contas do governo pareceram temporariamente mais equilibradas. Não houve atrasos no pagamento para seus beneficiários, porque os bancos públicos cobriram esse valor. Para o TCU, isto seria um “empréstimo” desses bancos para o Tesouro, o que seria proibido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Todavia, há quem refute essa tese.


Política

A reinvençã

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Partido dos Trabalhadores está em processo de transformação. Em parte foi esse o resultado do 5º Congresso Nacional do Partido realizado em Salvador entre os dias 11 e 13 de junho. "Todo o debate que foi feito revela que, depois desse Congresso, o PT vai ter que mudar mais. O PT não será mais o mesmo, seja nas suas relações internas, seja acentuando nossa autonomia de formular políticas públicas em relação ao nosso governo, que nós apoiamos, mas queremos que avance. Queremos dar sustentação, mas queremos empurrar também para que a gente não ingresse numa fase recessiva e para que nosso país volte à trajetória de desenvolvimento econômico", disse o presidente da legenda, Rui Falcão (confira entrevista com o presidente nas próximas páginas). Com a presença da presidenta Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que discursaram na

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Lula, Dilma e o presidente do PT, Rui Falcão, unidade no 5º Congresso do partido

Partido apoia política econômica de Dilma, reclama de “sórdida campanha de difamação” da mídia e começa campanha de arrecadação online abertura, o Congresso ratificou apoio a gestão do Palácio do Planalto e ao mesmo tempo sinalizou que PT precisa reencontrar seu próprio traçado. Foi nesse sentido que o partido lançou uma campanha para arrecadação online com desconto via cartão de crédito e manteve a decisão de não receber mais doações de empresas privadas. Apesar das hostilizações a Eduardo Cunha (PMDB) – foi possível ouvir gritos de “Fora Cunha” – os militantes preferiram reafirmar a decisão de manutenção da coalizão com o PMDB, não sem questionarem a direção do partido do por quê a articulação política do Planalto estava entregue nas mãos do vice-presidente Michel Temer (PMDB). Não houve uma resposta

objetiva, além das próprias dificuldades do governo no Congresso Nacional. Alas do partido fizeram sua análise crítica sobre o partido no atual momento brasileiro. 33 deputados (dos 63 parlamentares da legenda) na Câmara, encaminharam para o Congresso manifesto pedindo reformulação política e estrutural do PT. Em tom de mea culpa, o documento, listava medidas que deveriam ser adotadas, entre elas maior transparência das contas e combate “sem trégua” à corrupção. O manifesto destacou que o partido perdeu a capacidade de formular propostas de interesse social e criticou a dependência crescente do financiamento empresarial. Entre os principais erros do partido, segundo os deputados, está o fato de não ter dado


prioridade a uma reforma política profunda. Hostes do partido, ainda não se sente a vontade para resgatar uma postura dos seus primórdios quando arrecadava dinheiro para seu caixa com a venda de botons e camisetas e era crítico feroz das manobras politicas do PSDB, que pregava uma política de arrocho salarial e venda de estatais. A atual política implementada por Dilma Rousseff, ainda é considerada ácida por esses setores do PT. No entanto, o partido quer se reinventar. Para participar do evento, Dilma antecipou sua volta da Bélgica, para defender sua política econômica. A presidenta qualificou o Ajuste como uma das "ações táticas" necessárias ao PT e frisou que é preciso que o partido faça a leitura correta da conjuntura em que o país está vivendo. "O Pt é um partido preparado para entender que muitas vezes as circunstâncias impõem um movimento tático", declarou. Dilma pediu o apoio do partido e o obteve ao ver o Congresso, ao final do encontro, na Carta de Salvador, endossar sua política econômica. Fotos: Divulgação

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Lula discursa no Congresso do PT e lança campanha para doação de “Companheiros” ao partido

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o do PT

trocesso – na economia, na sociedade e até na democracia”. Para o ex-presidente, a agenda da oposição esta voltada para os seus próprios interesses e, de certa forma, desdenha da grande massa brasileira, levantando como bandeira a luta pelo financiamento empresarial dos partidos, “para manter a influência do poder econômico nas eleições”, pela redução da maioridade penal, “para mandar para a cadeia quem deveria estar na escola”; por acabar com o sistema de cotas, “para mandar os pobres e os negros de volta ao tempo onde não tinham oportunidades de estudar e ascender socialmente”. Para Lula a oposição tem uma lista imensa de interesses escusos. Além dos já descritos, ela quer promover a intolerância e sancionar o preconceito contra a população LGBT, perpetuar o oligopólio dos meios de comunicação, acabar com o sistema de partilha, entregar o pré-sal, destruir a Petrobrás, a indústria naval e a engenharia nacional. Ufa! Ao final do evento foram apresentadas dezenas de emendas. Algumas No seu discurso, Lula acusou a Imdelas flexibilizadas, como as que falavam prensa de ser tendenciosa. “Há dez anos sobre a política econômica. O Processo esses jornalistas anunciam a morte do de Eleição Direta Extraordinário (PED) PT, mas nós estamos aqui para mostrar foi mantido. que o PT continua A decisão anvivo e preparado "O PT é um partido terior sobre não para novos compreparado para aceitar o finanbates. Enfrentanentender que muitas ciamento empredo a mais sórdida campanha de di- vezes as circunstâncias sarial de campanhas também foi famação que um impõem um movimento ratificado, mas partido político já será remetida nosofreu neste país”, tático" vamente ao Direargumentou Lula. Dilma Rousseff tório Nacional. A Por isso mesmo, Presidente do Brasil legenda continuará no entender do exa não receber re-presidente, o PT cursos de empresas privadas. Todavia, precisa sempre estar vigilante, corriginos diretórios estaduais e/ou municipais do erros e mudando o que for preciso estão autorizados, de acordo com a lei, mudar. a receber recursos de empresas privadas. Falando diretamente para a oposição, A Carta de Salvador explicou ainda o petista lembrou as eleições de outubro defesas do partido a criação de uma lei de 2014. “Foi uma eleição tão disputada que venha a taxar as grandes fortunas que nossos adversários levaram alguns e heranças. Ao final, o PT conseguiu, meses para reconhecer que foram dermais uma vez, sair unido e começa a rotados nas urnas. E como perderam lançar as bases de uma mudança mais para o PT pela quarta vez consecutiva, profunda. tentam impor ao país a agenda do re-


Política

Em defesa do governo

Presidente do PT, Rui Falcão, garante: o partido defenderá o governo da presidenta Dilma Rousseff e irá ajudá-lo a avançar, mas quer ver implementadas medidas que beneficiem população de baixa renda Por Walter Santos ws@revistanordeste.com.br

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Revista NORDESTE: O que muda no PT e nas relações do partido com a sociedade, depois de concluído o Congresso de Salvador? Rui Falcão: O PT saiu muito fortalecido do 5º Congresso. Foi uma grande vitória da militância do PT, que pôde externar suas críticas e suas posições. Fizemos debates intensos, com uma representatividade muito grande de nossos mais de 1,7 milhão de filiados. Foram cerca de 400 encontros regionais, congressos estaduais preparatórios e,

ao final, saímos com uma unidade interna de fazer inveja a outros partidos. Ficou muito claro que a energia do PT segue no sentido de prosseguir com a mudança, de aperfeiçoar nossos mecanismos de participação não só com os filiados, mas com os movimentos sociais. Saímos de lá mais abertos à sociedade. Tanto que no último dia 25 nossa executiva autorizou a criação de cinco grupos de trabalho que visam defender reformas estruturais, resgatar o modo petista de governar, popularizar o Plano Nacional de Educação e ainda

criar uma agenda nacional de defesa do PT. O Congresso também revelou a disposição de defender mais o nosso governo e de ajuda-lo a avançar. É fundamental retomar o crescimento econômico, de fazer uma política monetária e cambial diferenciada. Na última reunião da Executiva, saudamos providências recentes do governo pela retomada do crescimento, mas advertimos sobre a necessidade de outras medidas, como a reversão da política de juros, a criação de um plano de proteção ao emprego e a taxação das


grandes fortunas. A política tributária brasileira é injusta, recaindo mais sobre os trabalhadores e a classe média. É preciso ter uma reforma tributária, taxando mais a classe alta. NORDESTE: No Congresso, ficou claro que setores do partido, a partir de representantes da Bancada Federal, estão contrários à Política Econômica do Governo Dilma em face dos encaminhamentos do Ministro Joaquim Levy. Como fica a relação com o Governo, que precisa aprovar diversas medidas no Congresso Nacional? Isto não é jogar contra o próprio projeto do partido? Falcão: Temos um governo de coalizão e é normal que o PT dispute suas posições no interior da coalizão. Sempre dissemos que nós não seremos linha auxiliar da oposição, mas também não seremos beija-mão da situação.

“PT não foi feito como muitos outros partidos. Nós começamos nossa história de 35 anos em tempos muito duros e nunca nos curvamos às intempéries financeiras. Não nos forjamos no capital, mas nas ideias, no nosso projeto para o Brasil”

NORDESTE: O PT vive a pior fase de sua história em termos financeiros. E agora, como resolver este sério problema defendendo o fim do financiamento privado, uma janela para a captação de meios financeiros? O senhor acredita que em tempo de crise haverá contribuição voluntária dos filiados?

NORDESTE: Fala-se muito em judiFotos: Divulgação

Falcão: Nós temos denunciado as tentativas de criminalizar e mesmo de inviabilizar o PT. Nosso tesoureiro, João Vaccari Neto, está preso sem que a PF, o MP ou a Justiça tenham apresentado qualquer prova contra ele. Ficamos preocupados com as afrontas ao Estado de Direito no Brasil e estamos lutando para esclarecer a

população. Essa farsa não poderá durar muito tempo. NORDESTE - São visíveis ações de setores da Justiça, do Ministério Público Federal, da Polícia Federal, buscando de todas as formas criminalizar o PT. Até quando os senhores vão ficar na retaguarda sem enfrentamento mais forte a esta situação? Falcão: Nós não desrespeitamos as leis. Mas não estamos na retaguarda. Temos nos defendido e denunciado

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cialização contra o PT nos diversos tribunais para inviabilizá-lo financeiramente até 2018. O que o senhor tem a dizer desse cenário judicante?

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Falcão: O PT não foi feito como muitos outros partidos. Nós começamos nossa história de 35 anos em tempos muito duros e nunca nos curvamos às intempéries financeiras. Não nos forjamos no capital, mas nas ideias, no nosso projeto para o Brasil. Essa sempre foi a nossa pedra de toque. Neste momento, com todos os ataques sofridos, o PT está de cabeça erguida, dando um grande exemplo político, apesar de toda a campanha pela nossa criminalização. Qual outro partido abriu mão de doações empresariais? O PT abriu mão e manteve essa posição em seu Congresso, remetendo para o Diretório Nacional uma decisão definitiva sobre o assunto. Lançamos uma campanha de arrecadação financeira e já estamos recebendo doações voluntárias de filiados e simpatizantes.


as ilegalidades. NORDESTE: O que será feito para dar curso normal à gestão da presidenta criando agenda positiva atualmente inexistente?

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Falcão: A presidenta Dilma está cuidando do governo e já começa a apresentar boas agendas para o Brasil. Nós confiamos na presidenta Dilma. NORDESTE: Tem ficado claro o interesse em desconstruir a imagem do ex-presidente Lula, nome mencionado para 2018. Esta seria uma das causas principais para o continuado clima de crise? Falcão: As elites brasileiras nunca engoliram o operário nordestino no poder. Antes retinham o poder pelas botas, hoje usam outras ferramentas, nem sempre sutis, como a grande mídia orquestrada. Nunca foi fácil para Lula ou para o PT, mas nós somos feitos de

uma massa diferente da deles e não nos curvamos. Há uma sabedoria muito grande na população brasileira, com a qual as elites nunca souberam lidar, porque a menosprezam profundamente. Lula continua sendo o grande líder de massas do Brasil e o PT continua sendo o grande partido popular que reúne o ideário de um Brasil mais justo. Antes de 2018 teremos as eleições de 2016. Nós já estamos nos mobilizando. O PT, realmente, depois de passar mais de 12 anos no poder, cometeu alguns erros, como temos repetido, pois ficamos mais acomodados, cochilamos um pouco, mas estamos acordados. O PT está se reorganizando, se voltando mais para suas bases, para os movimentos sociais, para os modos petistas de fazer política e de governar. NORDESTE: Quando o Governo e o PT vão sair da desvantagem no tratamento da mídia nacional. A propósito, como fica a normatização deste segmento tratado pelos adversários como meca-

nismo de censura, embora o foco seja econômico? Falcão: Olha, a maior parte da mídia nacional está a cada dia mais organizada em favor dos interesses da elite. Veja por exemplo como funciona o Instituto Millenium, que desde 2010 ampliou suas ações pela país. Foi quando seus representantes anunciaram que se a oposição partidária estava sendo ineficiente a própria imprensa faria este papel. Desde então essa ação organizada só cresce. Veja quem está por trás dessa associação e os seus objetivos assumidos como “liberais”. Os nossos governos nem nossos parlamentares nunca propuseram censurar essa imprensa, porque somos contrários à censura. Nós propusemos sempre regulamentar a Constituição e nunca tivemos maioria para isso. Essa mesma mídia barra esse debate, porque distorce sempre o que dizemos sobre a necessidade de democratização da mídia. Mas vamos insistir em nosso


“As elites brasileiras nunca engoliram o operário nordestino no poder. Antes retinham o poder pelas botas, hoje usam outras ferramentas, nem sempre sutis, como a grande mídia orquestrada. Nunca foi fácil para Lula ou para o PT, mas nós somos feitos de uma massa diferente da deles e não nos curvamos. Há uma sabedoria muito grande na população brasileira, com a qual as elites nunca souberam lidar, porque a menosprezam profundamente” projeto em conjunto com dezenas de entidades que defendem a ampliação da liberdade de expressão e o fim do monopólio dos meios de comunicação. NORDESTE: Os veículos de Rádio e TV são agentes dependentes de concessão pública. Se acaso, quando da renovação, chegar um pedido de não renovação, o Governo do PT teria coragem de endossar tal pedido? Falcão: Esta é uma questão afeta à competência do Ministério das Comunicações NORDESTE: Por fim, qual o papel dos nove estados do Nordeste na formatação de novos processos no Brasil e no PT? Falcão: Nossos governos conseguiram melhorar em muito o desenvolvimento do Nordeste e também do Norte. Vocês conhecem os dados e têm a memória de como eram essas regiões antes dos nossos governos. Para nós, continuar desenvolvendo o País para além do eixo Sudeste-Sul é uma prioridade.


Política

A fórmula da discórdia

Veto parcial de Dilma a fórmula 85/95 acirra ânimos entre Congresso e Palácio do Planalto. Sindicatos planejam contra-ataque e querem também aprovar Lei que amplia reajuste para aposentados que ganham além do mínimo

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s sindicatos e centrais sindicais estão buscando apoio em Brasília para derrubar o veto da presidente Dilma Rousseff (PT) à fórmula 85/95 que consta da MP664, aprovada no final de maio, mas só sancionada (em parte) dia 18 de junho. A Medida Provisória (MP) é considerada importante para o governo porque faz parte do Ajuste Fiscal e significa uma economia de R$ 1 bilhão ao ano com medidas que alteram o seguro por morte e o auxílio doença.

A batalha, agora, está sendo travada pelos sindicatos, alguns sob a batuta do deputado federal Paulo Pereira da Silva (SDD), o Paulinho da Força, e o senador Paulo Paim (PT). Os sindicalistas foram à Brasília no dia 30/06 e 01 de julho para pressionar o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB), e conseguir apoio não só para a derrubada do veto, mas também para uma emenda, de Ferreira, que obriga o governo a dar o mesmo reajuste do salário mínimo também

para os aposentados que ganham além do piso. “Hoje vieram todas as centrais sindicais dos aposentados, junto com Paim, Pereira da Silva... Viemos conversar com Renan para pedir a ajuda dele”, contou o presidente do Sindicato dos Aposentados, Pensionistas e Idosos, Carlos Andreu Ortiz. O sindicalista explicou que apesar do veto de Dilma, a fórmula 85/95 vale até o final de 2016 – a partir daí a cada ano a fórmula aumenta um pouco até chegar no 90/100. Um


Força Sindical fez vigília pela manutenção da fórmula 85/95 e planeja novas investidas no Congresso

Fotos: Divulgação

Paulo Paim (acima) apoia aposentados. Carlos Andreu Ortiz (abaixo), presidente do Sindicato dos Aposentados, Pensionistas e Idosos JULHO / 2015

que vai escalonando até chegar em 100, mas isso só se aplicaria para quem entrar na Previdência agora. Ortiz lembra que o governo acabou de criar um Fórum de discussão com os sindicatos sobre o tema e essas propostas devem ser todas apresentadas paulatinamente nas reuniões. No entanto, a luta pela fórmula 85/95, é apenas um dos capítulos em Brasília, os sindicatos querem ainda estender o reajuste do mínimo para todas as aposentadorias.

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dos argumentos contra a proposta do governo é que a perspectiva de vida do brasileiro não aumenta um ponto a cada ano, mas apenas alguns meses de um ano para o outro. Ortiz conta que os deputados devem apresentar algumas opções a ideia sancionada por Dilma. Primeiro uma emenda do Paulinho da Força que só aumenta a fórmula de três em três anos, isto é, daqui a três anos passaria para 86/96. Há uma outra ideia, proposta por Paulo Paim, onde a fórmula do governo,


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‘Indexação’ das aposentadorias “Viemos pedir para que o pessoal aprove o mesmo reajuste do salário mínimo para os aposentados que ganham além desse valor. O governo diz que vai gerar um rombo de mais de R$ 9 bilhões. Isso é tudo papo furado. O aumento nos próximos dois anos será insignificante. Queremos que se crie essa política de inserção do salário mínimo. Senão, vai chegar uma hora que todos vão estar ganhando o salário mínimo”, desabafa Ortiz. Segundo a Força Sindical, são cerca de 10 milhões de aposentados que recebem valores acima do piso. A emenda à medida provisória do salário mínimo, Renan Calheiros recebeu apresentada pelo deputado sindicalistas e se comprometeu Paulinho da Força prevê em seguir votação da Câmara o reajuste de todos os benefícios previdenciários acima da inflação. O dispositivo havia pelo Regime Geral de Previdência sido incluído na MP que prorroga até Social. “Acho que não é um bom 2019 o atual modelo de reajuste do momento para a discussão. Estamos mínimo. Para o texto virar lei, após discutindo o salário mínimo. O salário ser aprovado pelo Senado, tem que mínimo dos aposentados vai reajusser sancionado pela presidente Dilma tar. Mas estender para o salário dos aposentados (que ganham acima do Rousseff. Segundo Renan, a presidenta mínimo) tendo um ganho maior que irá vetar. a média da correção salarial dos ativos Pela proposta, os benefícios presignifica dar algo para o inativo maior videnciários serão reajustados pela que o do ativo”, ponderou Cunha. inflação, medida pelo Índice Nacional Apesar da parcial objeção de Cunha de Preços ao Consumidor (INPC) o reajuste das aposentadorias acabou do ano anterior, mais a variação do sendo aprovado na Câmara. E logo Produto Interno Bruto (PIB) dos dois depois no Senado. anos anteriores. O governo era contra A estratégia em relação a fórmula essa emenda, porque alegava que a 85/95, é não levá-la à plenário ainda. regra poderia comprometer as contas Ortiz revelou que se ela for para voprevidenciárias. Segundo o ministro tação agora é possível que os aposenda Previdência Social, Carlos Gabas, tados não consigam derrubar o veto. a emenda geraria R$ 9,2 bilhões em “Paim disse estamos desarticulados, gastos extras por ano – sendo R$ 4,6 é capaz de passar (como o governo bilhões em 2015. quer) e nós estamos ferrados”, avalia Antes do início da sessão que apreOrtiz. O sindicalista garante que a ciou a MP na Câmara, o presidente fórmula só deve ser votada depois do da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), recesso – que começa dia 18 de julho disse ser contra estender o reajuste do e vai até o dia 31. mínimo aos demais benefícios pagos

Como funciona o fator previdenciário sem a fórmula 85/95


Fator previdenciário tribuição mínima à Previdência continuaria sendo de 30 anos e só caso o candidato a aposentadoria resolvesse se aposentar antes do prazo receberia proporcional. Na avaliação do governo, a mudança vetada por Dilma inviabilizaria a Previdência, pois aumentaria os gastos, até 2060, A conta feita pelo Fator Previdenciário, uma intricada matemática que na prática diminuía cerca de 40% do valor recebido por quem estava na ativa no momento de se aposentar, foi colocada em xeque com a aprovação na Câmara e no Senador da Fórmula 85/95. O novo cálculo nascido a partir de acordo entre sindicatos e parlamentares, garantiria ao empregador se aposentar recebendo 100% do seu salário. A con-

em R$ 3,2 trilhões. A medida provisória que oficializa a proposta alternativa do governo à fórmula 85/95 já está em vigor como lei por até 120 dias, enquanto o parlamento analisa o texto. A Fórmula garante que poderá se aposentar com o valor integral quem somar tempo de contribuição e idade e obter 85 pontos (para as mulheres) e 95 pontos (para os homens). Na prática esse cálculo permite que alguém que contribuiu por 30 anos (no caso da mulher) e 35 anos (no caso do homem) possa se aposentar aos 55 anos (no caso da mulher) ou 60 anos (no caso do homem).

FATOR PREVIDENCIÁRIO SALÁRIO DE BENEFÍCIO

Média dos 80% maiores salários, corrigidos pela inflação desde jul.94, limitados ao teto do INSS, de R$ 4.663,75

Mecanismo continua valendo mesmo com o fator 85/95. O segurado poderá optar pelo que for mais vantajoso para ele. No entanto, o fator previdenciário só é vantajoso se for igual a 1 ou maior. A conta é feita da seguinte forma: Salário de Benefício X Fator Previdenciário = Valor da Aposentadoria

Leva em conta tempo de contribuição para a Previdência, idade do segurado e expectativa de sobrevida ao se aposentar

VALOR DA APOSENTADORIA O sindicato reclama que o objetivo do fator previdenciário é reduzir o valor das aposentadorias de quem se aposenta precocemente

TIRANDO DÚVIDAS

Fotos: Divulgação

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Não. A nova fórmula é simples e constitui-se da seguinte maneira: para atingir o tempo para a aposentadoria, basta Com a nova fórmula: somar o tempo mínimo de contribuição com a idade (30 Um homem poderá se aposentar com anos mulher e 35 homem). 60 anos se tiver contribuindo 35. Uma mulher poderá se aposentar com Ou seja: 55 se tiver contribuído Mulheres + Idade Tempo de 30 anos. contribuição = 85 Equipe econômica explica Homens + Idade Tempo de como fica a fórmula após Contribuição = 95 alterações feitas pelo Planalto

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Na nova regra as mulheres só se aposentarão com 85 anos e os homens 95?


Opinião

O caminho é pela Educação

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s melhores experiências propiciadas pelos caminhos que percorremos são os diálogos que travamos e que nos fazem refletir, amadurecer ideias e colocá-las em prática. Ao longo de tantas caminhadas pelo Maranhão, muitas vezes ouvi de mães a alegria de ter seu filho com acesso ao ensino profissionalizante e tecnológico através dos Institutos Federais (IFMA), ou relatos de outras famílias que mantém a esperança de que seus filhos ali ingressem. Hoje, o Maranhão infelizmente não possui uma rede estadual de escolas para ensino tecnológico aos nossos jovens, que muitas vezes saem de sua terra em busca de oportunidade fora do Estado. Essa realidade é exatamente o que nós queremos mudar. Mas como fazer isso diante de tantas dificuldades? Não é tarefa simples, mas finalmente demos os primeiros passos na implementação desse objetivo, com décadas de atraso em relação a outros Estados. Com políticas públicas voltadas para a inclusão social, o Governo do Estado começa a trilhar essa nova estrada, que tem como principal objetivo fazer com que as nossas riquezas promovam desenvolvimento para todos, meta essa que foi amplamente aprovada pelos maranhenses em outubro de 2014. Diversas experiências internacionais, como China, Canadá e Coreia do Sul, por exemplo, comprovam que a estratégia mais eficaz para a Justiça Social é a Educação. Na semana que passou, demos mais alguns passos significativos para termos mais aprendizagem nas escolas maranhenses. Editamos o Decreto que regulamenta o programa Mais Bolsa Família Escola, que foi lançado ao lado da ministra Tereza Campello, responsável pelo programa Bolsa Família no Brasil. Serão mais de 1 milhão de estudantes maranhenses que receberão, através de cartão magnético tipo débito, parcela anual de R$ 46 para compra exclusiva de material escolar. Com recursos oriundos do Fundo Maranhense de Combate à Pobreza, a Secretaria de Desenvolvimento Social vai transferir em janeiro de 2016, direto às famílias inscritas no CadÚnico do Governo Federal, esse valor, para que possam ter acesso, muitas delas pela primeira vez na vida, a fardamento ou calçado escolar, livro paradidático ou uma simples caixa de lápis de cor, com que poderão ver pela primeira vez seus sonhos coloridos no papel. Em outra frente, começamos a investir aproximadamente R$ 500 milhões em infraestrutura educacional em todo o Maranhão, através do programa Escola Digna gerenciado pela Secretaria de Educação. Além da fundamental tarefa de substituir escolas de taipa nos municípios e promover

Flávio Dino Governador do Maranhão

Mais de 1 milhão de estudantes maranhenses receberão, através de cartão magnético tipo débito, parcela anual de R$ 46 para compra exclusiva de material escolar”

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o ambiente escolar acolhedor para milhares de pequenos maranhenses, esse programa prevê também a efetivação da Educação em Tempo Integral através de 30 Núcleos nas maiores cidades do Maranhão e a qualificação dos professores – com formação continuada na docência. Vale lembrar que em 2015 também aplicamos R$ 250 milhões em valorização salarial e progressões profissionais aos professores estaduais. Apresentamos, portanto, um amplo cardápio de investimentos para que o processo de formação de nossos jovens seja cada vez mais qualificado. Este, sem dúvida, é o maior programa educacional da história do Maranhão, cujos efeitos serão claramente sentidos nos próximos 10 anos. E é exatamente por serem investimentos cujos frutos demoram algum tempo para serem colhidos que muitos governantes não os priorizam, mas eu não governo para fazer demagogia superficial, e sim para transformar de verdade a vida das pessoas. Essas não são decisões “frias” de um governo burocrático, mas sim decisões dotadas de coragem para ampliar direitos a quem sempre teve oportunidades negadas. Em vez de soluções equivocadas como a redução da maioridade penal, que infelizmente a Câmara aprovou de modo inconstitucional, o Maranhão propõe dar a todas as crianças e jovens o direito de sonhar com um futuro melhor. Sonhos esses que têm as cores de um Estado mais democrático, com mais desenvolvimento e mais justiça para todos.

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Economia Tratada pelo Governo como a última fronteira agrícola em expansão do mundo, a Matopiba que envolve três estados nordestinos e Tocantins cresce 20% ao ano e já representa 10% da produção nacional

um novo “cerrado” Por Luan Matias luanmatias@revistanordeste.com.br

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ma região de nome curioso, não encontrada em dicionários ou mapas geográficos, é considerada pelo Ministério da Agricultura a última fronteira agrícola em expansão no mundo. “Matopiba” é uma sigla criada a partir das primeiras sílabas dos estados que compõem a área: Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. No mês de maio, aconteceram os lançamentos da Agência de Desenvolvimento Agropecuário do Matopiba, responsável por operacionalizar de forma estratégica o desenvolvimento econômico da região, que deve acontecer de forma sustentável e capaz de integrar pequenos e grandes produtores. Durante a audiência pública de lança-

mento da Frente Parlamentar do Matopiba, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu, destacou justamente a importância da participação das pequenas propriedades no avanço econômico da região. “Cada estado será subdividido em uma microrregião para facilitar o atendimento proporcional dos produtores participantes do programa de ascensão da classe média rural”, salientou. A região, segundo o IBGE, engloba 337 municípios e uma população de 5,9 milhões de pessoas. São 324 mil estabelecimentos agrícolas e 31 microrregiões. A área total é de 73 milhões de hectares e tem importância vital na produção agrícola do Brasil. Apesar da famigerada crise econômica, a perspectiva é de crescimento. A região tem vocação para ser um novo cerrado brasileiro. Matopiba

deve ser responsável por 9,7% da produção nacional de grãos na safra 2014/2015 - é prevista a geração de 201,5 milhões de toneladas em todo o Brasil no biênio. “Enquanto no Brasil a produção cresce 5% ao ano, no Matopiba cresce 20% e hoje já representa 10% da produção nacional”, disse Kátia Abreu em Teresina. A Agência de Desenvolvimento Agropecuário do Matopiba, oficializada pela Presidente Dilma Rousseff durante o lançamento do Plano de Defesa Agropecuária, deverá contar com um escritório em cada estado. “Fiquei muito feliz em ver a presidente assinar o marco legal. Piauí, Maranhão, Tocantis e Bahia são regiões que mais crescem no Brasil desde 2001. É a que mais tem vocação Kátia Abreu em lançamento da nova fronteira agrícola


Governadores unem forças Governadores se reunem no Palácio de Karnak, no Piauí

para o crescimento no agronegócio. É um crescimento diversificado e que nos aponta a necessidade de um tratamento especial”, destacou o governador do Piauí, Wellington Dias (PT). Ainda serão definidos os detalhes de como o gerenciamento da Agência deverá acontecer. A criação de um consórcio público deverá ir à votação nas Assembleias Legislativas dos quatro estados e nas Câmaras Municipais das cidades que fazem parte da região. Kátia Abreu adiantou que a participação do Poder público não deverá acontecer de forma protecionista, mas oferecendo suporte em áreas como logística e infraestrutura. A possibilidade legal de abrir novas

áreas e o perfil empresarial dos produtores explicam o potencial já explorado do Matopiba. A utilização de tecnologias de alta produtividade é mais uma das características positivas da região, que tem na soja o seu principal grão destinado a exportação. Entre 2013 e 2015, a produção na Bahia deverá crescer 20,3%. No Piauí, a projeção é uma alta de 18,6%. Maranhão(16,4%) e Tocantins(13,5%) também devem registrar crescimentos consideráveis. Um outro dado importante é o crescimento das áreas destinadas aos grãos, que cresceu de 7,322 milhões para 7,642 milhões de hectares entre as safras 2013/2014 e 2014/2015. O clima favorável é outro fator importante no destaque da região e outras culturas, como milho e algodão sem caroço, já despontam.

No início do mês de junho, os Governadores dos estados que compõem o Matop iba se encontraram no Palácio de Karna k, em Teresina. Na opor tunidade, foram assinados dois protocolos de inten ções, que visam firmar parcerias para integração e o desenvolvimento su stentável da área. O Governador do Ma ranhão, Flávio Dino, alertou sobre a necessidade de investimentos na inf raestr utura, para facilitar o escoamen to da produção gerada. Marcelo Miranda, Go vernador do Tocantins, reivindic ou a construção de Eclusas, obras de engenharia que funcionam como de graus ou elevadores para navios e facilit am a alteração do nível da navegação. Um novo encontro está agendado para o mês de julho, desta vez em São Lu ís. A terceira reunião deve ocorrer no Tocantins.

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er Elmano Ferr orreu O senador oc o m o c a forma de PI) criticou ia c ên g A a to d o lançamen to Agropecuário do en Desenvolvim ora tenha reconhecido b m E ão do Matopiba. da elaboraç ia c ân rt u a falta de a impo ito c lamentar ar p o , to je pro relativos à amentários estradas recursos orç gião, como re a d ra u tr insfraes ormente, rica. Anteri ét el ia g er e en do ao avia solicita ação Elmano já h maior aplic a p ra b m E a d te a presiden quisas par dos das pes dos resulta a região. d produção a r ta en m au

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para recursos investimentos(PTB-


Opinião

O Papa e nós

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papa Francisco continua a fazer alertas e duras críticas ao capitalismo selvagem. Em sua passagem, nesta quinta feira, por Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, referiu-se ao capitalismo como fonte de “exclusão social e destruição da natureza”, pedindo mudanças estruturais: “os trabalhadores, os camponeses, a Mãe Terra não aguentam”. Antes, em sua Encíclica Laudato Si, cuja capa traz a imagem de São Francisco de Assis, prega uma “revolução corajosa” para salvar o planeta. Afinal de contas, o que defende o papa Francisco? Para começo de conversa, é inimaginável pensar no Chefe da Igreja Católica defendendo o marxismo-leninismo como alguns hermenêutas chegam a sugerir. Nada disso. Ele já chegou a dizer que “Marx não inventou nada” e que “os comunistas roubaram nossa bandeira”(Igreja Católica) O que está no foco das acusações do cardeal Bergoglio são os desvios e disfunções que se operam no bojo do sistema capitalista, como a especulação financeira, que desvia a função do capital na produção de bens a serviço da coletividade, nova forma de colonialismo. Ele é contra a opulência, a riqueza a ambição dos poderosos, a promiscuidade com os mais fortes e ricos. Trata-se de um humanista. Que conhece profundamente a realidade latino-americana. Em sua trajetória, conviveu com os mais carentes. Se fossemos creditar ao papa Francisco um escopo ideológico, este seria próximo aos valores de uma sociedade livre, abrigo dos direitos individuais e sociais, e sob a bandeira da igualdade dos cidadãos, todos tendo acesso aos mecanismos da justiça. Se a social-democracia respira por esses poros, o papa seria, então, um social-democrata. Atente-se: com uma visão profundamente religiosa e humana. Não seria adepto de uma “revolução socialista”, nos termos do socialismo utópico, nem defensor do “neocapitalismo opressor”. Seria o pregador por excelência de princípios doutrinários extraídos tanto do socialismo como do liberalismo, adaptados às características de cada Nação. Combinaria com o que pensam nossos atores políticos, partidos e representantes? Vejamos. Na década de 80, Darcy Ribeiro, senador e antropólogo, chegou a pintar a fusão de princípios, mostrando a Leonel Brizola um “socialismo moreno” como doutrina para o Brasil. O achado linguístico foi esquecido. Todos os nossos presidentes querem tocar nessa orquestra. Fernan­do Henrique dizia que o “autoritarismo burocrático com poder econômico-financeiro mina o espírito da democracia constitucional”. Era a acusação que jogava sobre o governo Lula. Os petistas e tucanos exibem, porém, traços de concordância em alguns aspectos. Suas gramáticas, ex­purgadas de exageros, descrevem abordagens semelhantes na forma de conceber o papel do Estado e a administração do governo. São parentes na concepção da social-democracia. Em 1989, o tucanato definiu no documento “Os desafios do Brasil e o PSDB” o papel do Estado na condução de programas econômicos e sociais. Em seu início, em 80, o PT considerou o sistema social-democrata inepto para vencer o “capitalismo imperialista”. Mesmo após a queda do Muro de Berlim, cultivou

Gaudêncio Torquato Jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação

Ele é contra a opulência, a ambição dos poderosos, a promiscuidade com os mais fortes e ricos” a velha utopia, até aceitar, não sem resistências in­ternas, a realidade imposta por novos paradigmas. O mundo deu uma guinada ideológica, integrando escopos do reformismo democrático, do realismo econômico e dos avanços do capitalismo. E aí o PT produziu, em junho de 2002, a “Carta ao Povo Bra­sileiro”, peça-chave para a vitória de Lula, pavimentando, assim, sua entrada no território da social-democracia. O documento foi decisivo no processo de descarte de dogmas que não resistiram aos ventos da modernidade. O socialismo utópico evaporou-se nos ares da abstração. As ideologias cederam lugar aos ismos da modernidade: pragmatismo, capitalismo (mesmo sob um Estado controlador) e liberalismo social. Os modelos de economias assentadas na solidariedade cedem lugar a programas reformistas, voltados para atender a demandas pontuais e urgentes. As autonomias nacionais passam a se impregnar de ares globaliza­dos. O crescimento desordenado e a qualquer preço é balizado por metas de inflação. Os programas de privatização, tão combatidos pelo PT, hoje fazem parte de suas bandeiras, agora sob a designação de “concessões”. O nacionalismo, bandeira recorrente na América Latina, abriu espaço para ingresso de capitais internacionais. Gastos a fundo perdido começam a ser regrados por normas de responsabilidade fiscal. O que significam tais reconfigurações? Um modelo de gestão responsável e eficaz, compro­metido com crescimento, preservação da estabilidade macroeconô­mica, atendimento às demandas sociais, enfim, administração equi­librada das relações entre Estado, mercado (capital) e sociedade. Esse é o eixo que o sistema social-democrata tenta aprofundar em seu berço, o continente europeu, sendo visto com sim­patia pela maioria dos atores políticos do mundo hodierno. Mas a modelagem continua a corroer alguns eixos, particularmente o peso do capital financeiro e as carências sociais. Este é o alerta do Papa Francisco. Portanto, senhores políticos, atentem para as palavras, cheias de bom senso, do modesto jesuíta argentino.


Geral

Barbárie

no Nordeste Quatro casos de estupro e assassinatos, em um período de 35 dias, chocaram o país. Dados e a constatação de profissionais com a atuação na área mostram que não se tratam de casos isolados. A violência contra a mulher é uma preocupação mundial e está longe de ser erradicada

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Por Luan Matias luanmatias@revistanordeste.com.br


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ntre os incontáveis atos de crueldade que acontecem mundo afora e hoje são temas recorrentes nos noticiários, uma onda de casos de violência contra a mulher chamou a atenção do Brasil para o Nordeste entre maio, junho e julho. Histórias de horror, envolvendo meninas e mães de família, violentadas de forma brutal e assustadora. Os quatro casos, marcados por sequestro, tortura, estupro e assassinato, aconteceram em um período de apenas 35 dias. Seja por herança cultural, imposição física ou quaisquer outros motivos, alguns grupos são naturalmente mais vulneráveis à violência. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de um terço das mulheres do mundo é vítima de abusos físicos ou sexuais. As barbáries ocorridas nos estados do Piauí, Pernambuco, Paraíba e Ceará endossam uma preocupação global. A Asociación de la Encuesta Mundial de Valores levantou um dado preocupante: em 17 dos 41 países analisados, pelo menos um quarto da população acredita ser justificável um homem bater em sua esposa. Em 95% dos casos de violência praticada contra a mulher, um homem é o agressor. O Brasil está

entre os países com maior índice de homicídios de mulheres no mundo. De acordo com o 8º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, apresentado em 2014, 50.320 estupros foram registrados no ano de 2013. Apenas 35% das vítimas costumam denunciar os criminosos. O medo e o preconceito são os principais motivos da baixa porcentagem de denúncias e retratam um outro importante aspecto do problema: a culpabilização da vítima como justificativa dos casos. “Basicamente, o mecanismo de autojustificação de

várias instituições, principalmente aquelas que deveriam zelar pela segurança e pela proteção da mulher, coloca a vítima como culpada. A mulher é responsabilizada pela violência que sofre. Este tipo de postura institucional de tolerância e impunidade não só permite como incentiva o feminicídio”, avalia o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, responsável pelo Mapa da Violência, série de estudos publicados sobre o tema desde 1998. Os quatro recentes casos que seguem ilustram tristemente as estatísticas brasileiras.

Terror em quatro Atos NO PIAUÍ No dia 27 de maio, quatro adolescentes com idade entre 15 e 17 anos foram agredidas e estupradas por outros cinco jovens no município de Castelo do Piauí, a 180 km da capital Teresina. As amigas foram abordadas quando subiam o Morro do Garrote, ponto turístico da cidade. Os garotos usavam drogas ao lado de Adão José da Silva, 40 anos. “Ele já era procurado por roubo e agora é apontado pelos menores de ter sido o mentor do estupro coletivo", declarou o secre-

Adão José (à esquerda) já tinha um mandado de prisão por roubo. Os quatro adolescentes apreendidos apontam ele como mentor dos crimes

tário de Segurança do Estado, Fábio Abreu. As adolescentes* foram levadas até um local deserto, amordaças, amarradas a uma árvore, torturadas e estupradas por um período de duas horas. Após isso, foram jogadas de um penhasco. Não satisfeitos, dois dos jovens as apedrejaram. Elas foram encontradas por moradores da região. Uma das meninas, com o rosto completamente desfigurado, passou por um processo cirúrgico para a reconstrução da face; outra teve os bicos dos seios arrancados. A terceira precisou ser submetida a uma limpeza no organismo, devido aos fluidos estranhos encontrados em seu corpo; a quarta garota sofreu várias perfurações de faca. Onze dias após a barbárie, Danielly Rodrigues, de 17 anos, faleceu. Ela teve esmagamento da face e hemorragia interna devido às várias lesões. Todos os acusados foram encontrados. Os quatro adolescentes estão internados. Adão, que nega qualquer envolvimento no caso, se encontra preso. “A polícia agiu com total certeza de que ele tem participação no crime. “Não há dúvidas disto", disse o delegado Geral do estado, Riedel Batista. No início de julho, os menores foram condenados a três anos de internação, pena máxima. Eles vão ficar internados no Centro Educacional Masculino, em Teresina. Já Adão, foi denunciado por vários crimes e pode pegar até 151 anos de prisão.

*Para preservar a identidade das vítimas ainda em recuperação, não iremos revelar seus nomes

Fotos: Shutterstock / Divulgação


a polícia para fornecer informações sobre onde estava o corpo. Como não foi encontrado, ele mesmo decidiu voltar e indicar o local. O padrasto será indiciado por sequestro qualificado, estupro, homicídio qualificado por motivo torpe e ocultação de cadáver. "É um monstro, porque era uma pessoa que criou desde os quatro anos, tinha obrigação de cuidar dela. Alice estava buscando o futuro dela, um emprego, e encontrou esse monstro no meio do caminho", disse Gleide Ângelo, delegada responsável pela investigação.

As investigações apontam Ivan Pedro como o responsável pelos estupros e assassinato de Glória

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Gildo sendo preso (foto acima). O corpo de Maria Alice foi encontrado em Itapissuma - PE

Na Paraíba Um dia depois do desaparecimento de Maria Alice, duas mulheres e um bebê de apenas nove meses foram sequestrados em um bairro de classe média da cidade de João Pessoa. Caroline Teles Figueira, 31 anos, voltava da festa junina da creche do seu filho, ao lado da amiga Glória Silva, 42 anos. Elas estavam paradas dentro de um carro enquanto o bebê era amamentado. Dois homens em uma moto abordaram as vítimas – um deles entrou no automóvel e obrigou Glória a dirigir até a Mata da Usina Santa Tereza, no município de Goiana, já no estado de Pernambuco. Lá as mulheres foram despidas, espancadas e estupradas. Após os atos, um dos criminosos as atropelou e fugiu. O outro homem é suspeito da participação no roubo do veículo, não tendo envolvimento com os demais crimes. Glória não resistiu e faleceu. Carolina ficou jogada no local até que por volta das 11h do dia seguinte foi encontrada por vigilantes da Usina. O bebê foi resgatado a menos de 10 metros da mãe, com muitas picadas de insetos, mas obteve alta no mesmo dia. Caroline foi internada com politraumatismo e deixou a UTI no final do mês de junho. O corpo de Glória foi enterrado em Campo Formoso, norte da Bahia. Os acusados foram presos pela Polícia da Paraíba. Ivan Pedro da Silva, 43 anos, autor dos estupros e homicídios, possui um vasto currículo criminal. Leonardo José de Sousa, 22 anos, foi apreendido algumas vezes por roubo, ainda quando era menor.

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Em Pernambuco Três semanas depois do caso do Piauí, Maria Alice de Arruda Seabra, 19 anos, foi encontrada morta em um canavial na Região Metropolitana do Recife. Após cinco dias desaparecida, o corpo da jovem foi achado com a mão esquerda decepada e o rosto coberto por uma camisa. O assassino confesso era padrasto da vítima, que a criou desde os quatro anos de idade. Gildo da Silva Xavier, 34 anos, é operário de construção civil. Na tarde do dia 19 de junho, ele buscou Maria Alice em casa, em Recife, para uma suposta entrevista de emprego na cidade de Gravatá, onde ele trabalhava. O padrasto já havia planejado toda a ação. Primeiro pediu dinheiro ao patrão, alegando que a filha havia sido atropelada. Com a quantia em mãos, alugou um carro. Ainda na empresa onde trabalhava, pegou um frasco de Rupinol, tranquilizante comumente utilizado no golpe conhecido como “Boa noite, cinderela”. Já na capital, revestiu os vidros do carro com uma película escura e então seguiu para buscar a enteada. Quando ambos já estavam no carro, o padrasto deu um soco em Maria Alice, que fingiu estar desmaiada. Durante o trajeto, a mãe dela ligou para o marido, que atendeu. Foi quando a jovem gritou pedindo socorro. Ele desligou o telefone, começou a espancá-la, deu o remédio e começou a praticar o estupro. Quando percebeu que a moça sangrava muito e estava desfalecendo, Gildo seguiu em direção a um canavial, onde deixou a enteada amarrada. Dali ele seguiu em direção ao estado do Ceará. Em depoimento posterior, o homem revelou que planejava o estupro desde que Maria Alice tinha 16 anos de idade, época em que o corpo dela começou a mudar. O fato de a jovem ter feito uma tatuagem no punho com o nome do pai, já falecido, foi mencionado como a motivação final para o crime. Quando estava no interior do Ceará, Gildo acessou a internet e viu a comoção em torno do caso e entrou em contato com


No Ceará No dia 1 de julho, na cidade de Capistrano, interior do Ceará, duas adolescentes foram estupradas. Luciana Alves de Brito, de 17 anos, foi agredida a pauladas e jogada em um poço, onde foi encontrada morta. A outra menina, de 16 anos, conseguiu fugir do local e chegou ao hospital da cidade ainda com as mãos amarradas e várias marcas de agressão. As vítimas tinham saído com um grupo de rapazes. A sobrevivente disse que os jovens começaram a ficar violentos após consumir bebidas e drogas. No dia 3, a Polícia Militar do Ceará prendeu três adolescentes e dois homens suspeitos de envolvimento no caso.

Os cinco suspeitos estão à disposição da Justiça. Os adolescentes têm 14,15 e 16 anos

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Existe explicação? Não há como desassociar essa problemática de uma cultura historicamente preconceituosa e primordialmente machista. Ana Dilza Maria, coordenadora do Eixo de enfrentamento da violência contra a mulher do Coletivo Feminista Cunhã, destacou o fato de existirem vários avanços nos atendimentos feitos às mulheres violentadas, embora as medidas preventivas ainda sejam embrionárias. “Não adianta estarmos chorando e nos angustiando apenas quando a mídia revela sofrimentos extremos. Precisamos nos indignar com o sofrimento cotidiano: a mulher que ganha menos trabalhando o mesmo número de horas e na mesma função que os homens; a mulher espancada pelo meu vizinho diariamente e eu não me envolvo; as crianças que chegam com vários indícios de abuso”, exemplificou. Embora cada um dos casos tenha suas especificidades, alguns traços os aproximam. Em três deles os acusados tinham antecedentes criminais; em pelo menos dois (ainda há controvérsias no caso da Paraíba) os envolvidos estavam sob o efeito de drogas. O caso de Maria Alice Seabra foge um pouco ao padrão dos demais - havia uma relação próxima entre ela e o assassino, além do crime ter sido orquestrado há pelo menos três anos. As quatro histórias são marcadas por agressões,

torturas e extrema crueldade. Todos os réus disseram que não tinha a intenção prévia de matar suas vítimas. O psicólogo Luan de Assis, que atua com crianças vítimas de violência sexual, tentou traçar um perfil dos criminosos através de uma das correntes da Psicologia. “A Psicanálise enxerga o sujeito como fruto do seu desenvolvimento psicossexual. Em algum ponto de suas fases de desenvolvimento, houve uma falha em sua formação. Esse sujeito então tem uma visão distorcida sobre si mesmo e necessita do uso da força para ter seu objeto de desejo. Isso faz com que ele não lide bem com frustrações e decepções, canalizando muitas vezes em comportamentos agressivos”, explicou. Ele também fez questão de enfatizar a cultura machista como um agravante para os acontecimentos. A opinião de quem trabalha com o tema confirma os avanços no combate à violência de gênero. Ainda assim, os últimos casos amplificam a necessidade de mais ações contra essa problemática. Dados como o da OMS assustam ao revelarem que um terço das mulheres do mundo é vítima de abusos. O feminicídio tem formas variadas e situações extremas como as recentes histórias de terror na região são as últimas consequências de pequenos acontecimentos cotidianos.

Políticas Públicas e apoio Desde os anos 70 há avanços e conquistas dos movimentos que lutam por igualdade entre os gêneros. Hoje existem delegacias especializadas, abrigos, associações, ONGs e várias outras instituições com essa finalidade. O Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM), criado há pouco mais de uma década, busca através do diálogo com vários segmentos da sociedade, ratificar a autonomia e participação das mulheres em todos os âmbitos da vida, promover a igualdade e universalidade dos serviços e benefícios prestados pelo Estado. No dia 9 de março, a presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei do Feminicídio, que altera o código penal para prever casos de violência, menosprezo ou discriminação contra a condição de mulher como um tipo de homicídio qualificado, além de pontuar agravantes em casos de gestantes, menores de 14 e maiores de 60 anos e deficientes. A intenção é aumentar o rigor das punições em meio aos altos índices de violência contra as mulheres no Brasil. A Ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, destacou que a lei colocou o Brasil entre os 16 países da América Latina a tipificarem o crime contra as mulheres.


Opinião

Dom Helder, o santo do pau oco

Ipojuca Pontes Escritor e cineasta

branca surrada, o halo da falsa humildade, o sorriso forçado, o olhar súplice e, sobretudo, a voz adocicada. Ah, a voz de D. Helder! Seu tom floreado e macio encantava. Mas a cabo de minutos, além de aborrecer, pressentia-se que a usava como artifício para camuflar um orgulho doentio. A propósito, a tese infame de D. Helder era de que o sujeito nunca devia ser “orgulhoso de dentro para fora, mas de fora para dentro”. E acrescentava: “Para fora seja humilde, modesto. O orgulho interior Deus perdoa”. Depois daquele almoço o padre pegou um livro de sua autoria, “A Revolução Dentro da Paz”, e fez a dedicatória em forma de catequese: “Para o cineasta Ipojuca Pontes compreender o papel da justiça pela paz”. E de passagem, sem perder o tom melífluo, apanhou uma edição do jornal “Le Monde”. Encenando surpresa, comentou como se lesse aquilo pela primeira vez: - “Aqui diz que D. Helder foi indicado outra vez para receber o Prêmio Nobel da Paz”. O homem não conseguia esconder a vaidade mórbida. Em vida, o dramaturgo Nelson Rodrigues garantia que D. Helder só olhava para o céu para ver se levava ou não guarda-chuva. Para ele, o padre não tinha nenhum compromisso com o transcendental. Não passava de grotesco materialista que vivia para inocular na alma da pobre gente nordestina a crença fanática de que o regime da escassez planetária era um pecado estrutural do capitalismo. E, tudo, cegando criminosamente para a fome que até hoje se abate sobre o povo cubano, eterna vítima da ditadura comunista dos Castro.

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D. Helder não apenas cultivava a glória, mas queria o poder. De fato, um olhar atento veria que nele tudo era preconcebido”

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mídia amestrada noticia o deslanche do processo de canonização de D. Helder Câmara, antigo arcebispo de Olinda e Recife falecido em 1990. D. Helder, reconhecido urbi et orbi como o “Arcebispo Vermelho”, foi secretário-geral e um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB, uma espécie de ONG manipulada pelo comunismo internacional no seio da Igreja Católica para irradiar as propostas da decadente Teologia da Libertação, suprema pulha de apostatas declarados para subverter os valores espirituais do cristianismo. (Segundo documentos dos arquivos do Kremlin tornados públicos pelo dissidente russo Pavel Stroilov, a Teologia da Libertação é uma trama dos mentores da KGB, na Era Stalin, para infiltrar na Igreja Católica o vírus do velho materialismo histórico, este, por sua vez, uma mistificação do furunculoso Karl Marx. De todo modo, a Congregação para a Doutrina da Fé, instrumento da Santa Sé, representante central da Igreja, condenou a herética Teologia da Libertação e seus militantes pela pretensão descabida de eliminar a transcendência religiosa a partir do fomento à luta de classes). O atual arcebispo de Olinda e Recife, D, Fernando Saburito, outro militante da famigerada CNBB, empenhado até os ossos no processo de canonização, está nomeando uma comissão para ouvir pessoas que conviveram com o “Arcebispo Vermelho” e que possam falar de sua vida. “Tudo será bem-vindo” – diz Saburito – “para que possamos juntar esse material e enviá-lo para Roma”. (Com o festivo Francisco como Papa, é bem possível que D. Helder vire santo, o santo do pau oco) De minha parte, digo que convivi um pouco com D. Helder no final dos anos 1960. Em Recife, ele mostrou-se interessado em ver um dos meus documentários, “Os Homens do Caranguejo”, que abordava o tema da luta pela sobrevivência no Nordeste. Logo no primeiro contato, tomei um choque. Quando D. Helder chegou atrasado para ver o filme, mandou um assessor reiniciar a sessão. Em seguida, sob holofotes, assumindo poses de popstar, entrou na sala de projeção saudando a todos com acenos e riso escancarado - no que foi aplaudido por uma platéia constituída de estudantes. Depois da projeção, o arcebispo me levou para almoçar nos fundos da Igreja das Fronteiras, no Derby, transformada em sua residência particular. D. Helder era o que se pode chamar de “uma figura”. De início, associei-o ao “stariets” Zósima, o santo vivo de “Os Irmãos Karamazov”, de Dostoiéviski. Com o tempo, vi que estava enganado: D. Helder não apenas cultivava a glória, mas queria o poder. De fato, um olhar atento veria que nele tudo era preconcebido. A batina


Saúde

“O SUS só tem perspectiva se o povo for para a rua” Presidente do Conselho Nacional de Saúde, Maria do Socorro, conta sua impressão do SUS, como usuária, aponta potencialidades e dificuldades e revela desigualdades no investimento para o Norte e Nordeste Por Paulo Dantas paulo.dantas@revistanordeste.com.br

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presidente do Conselho Nacional de Saúde, Maria do Socorro de Souza, é uma grata novidade para o Sistema Único de Saúde (SUS). Em 77 anos de existência, é a primeira vez que o CNS tem uma representação dos usuários do SUS no seu comando. Além disso, é a primeira vez que alguém do nordeste e do movimento popular foi escolhido. Socorro é uma mulher, negra, usuária do SUS e sindicalista. A escolha se deu através de processo eleitoral em 2012, pela necessidade de dar um caráter mais popular ao Conselho. O trabalho do CNS não é pequeno, as atribuições vão desde participar da formulação da política de saúde, fazer o acompanhamento e avaliação dos serviços e ações de saúde, a fiscalização do orçamento e a base de financiamento do SUS, até contribuir para que o Sistema tenha conhecimento e inovação tecnológica para dar conta das necessidades da população. Na entrevista, a presidente aponta as desigualdades existentes no SUS, confirma preconceito na rede e ainda revela uma prática irregular dos médicos. “Eles estão ali para capturar o paciente para levar para dentro dos seus estabelecimentos privados”.


NORDESTE: Por que existe essa desigualdade?

O Norte e Nordeste terminaram sempre sendo considerados regiões de segunda classe no projeto nacional(...) A desigualdade existe porque tem muito mais capital, tem uma rede privada mais estruturada, nas regiões desenvolvidas.” Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Maria do Socorro: Eu acho que ela começa na política. Os grandes grupos políticos do país que definem a política nacional, estão concentrados no Sul e Sudeste pelo poder econômico e pelo poder também dos partidos. O poder político muito concentrado pelo capital e pela oligarquia nacional. Quem é dono do capital e quem é a grande oligarquia? Hoje é a grande base industrial do país. E a base industrial do país está concentrada no Sul e Sudeste. Ou a base agropecuária, com agronegócio. O agronegócio, de certa forma também está no Norte e Nordeste, mas muito mais crescente na região Centro-Oeste e Sul. Então, primeiro você tem uma desigualdade política da dimensão do poder. O Nordeste para ter poder na decisão da política regional tem que rebolar. Segundo. Eu acho que outra desigualdade tem a ver muito com a ocupação do território nacional. A ocupação Norte e Nordeste, por exemplo, vem com agropecuária, ocupação

que vem com sistema escravocrata. Assim, a gente terminou sempre sendo considerados pessoas e região de segunda classe no projeto nacional. Terceiro. A desigualdade existe porque tem muito mais capital, tem uma rede privada mais estruturada, um mercado pungente da saúde nas regiões desenvolvidas. Lá estão as maiores operadoras dos planos privados, as redes, os laboratórios, a indústria farmacêutica, têm um peso muito grande, mas do que na região Norte e Nordeste. E quarto, o perfil talvez da gestão pública. Acho que tem uma formação dos gestores que precisa ser considerada, o nível de informação, de politização e como o estado brasileiro chega na região Norte e Nordeste. A gente ainda é vista como uma região pobre, pouco desenvolvida. Qual é a presença do estado que nós temos hoje na região Norte e Nordeste nos municípios menores? Que eu acho que é outra coisa. Os nossos municípios muitas vezes são menores do que os municípios de outros estados de regiões mais desenvolvidas. Então você tem um cenário com uma dimensão bem complexa. NORDESTE: E como o estado chega, como o SUS chega no Nordeste efetivamente? Maria do Socorro: O Fundo de Participação Municipal, Estadual é uma forma primeira do Estado, a da União chegar nessas duas regiões menos desenvolvidas. Se não fosse essa forma de arrecadação, nós estaríamos com muito mais concentração de capital, tecnologia e decisão política do Centro-Oeste para baixo. Então a forma de arrecadação já tenta diminuir as desigualdades regionais. Outra forma do estado chegar é com as políticas sociais. Se você for olhar os últimos 15 anos, o que o Nordeste avançou e melhorou o padrão de qualidade de vida da população foi pelas políticas sociais. O Minha Casa, Minha Vida, o próprio SUS, que gera emprego, contrata muitas pessoas nos municípios menores. A própria educação que consegue ter uma boa parte

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Maria do S. de Souza: A visão da usuária é muito a partir do serviço da rede instalada no meu município, no meu território. É se você tem UPA perto de casa, se tem um posto de saúde que funciona, se numa situação de urgência e emergência a gente tem um atendimento. Às vezes, a gente é muito duro, porque isso não funciona da melhor forma que a gente necessita. Quando a gente ocupa um lugar deste, se compreende mais a política de saúde nacional como um todo, compreende

mais as dimensões de um sistema universal, a importância que o SUS tem como uma política social pública. Você passa a ter não apenas o olhar da queixa e da crítica, mas um olhar como conselheira de compreender os avanços que o Sistema tem, mas enfrentar as contradições, limitações e tal. O SUS se conforma de diferentes formas. Aqui na região Norte e Nordeste, por exemplo, o SUS ainda tem uma conformação muito desigual. Não consegue captar boa parte dos recursos, a média per capta também é bem mais baixa em relação aos estados do Sul e Sudeste. O investimento em produção conhecimento e tecnologia em relação ao Sul e Sudeste tem desigualdades. Neste lugar a gente consegue ter uma compreensão de como é muito mais explicita a desigualdade, mesmo sendo uma política que nós tentamos que ela seja uma política de estado e não de governo e mesmo sendo uma política com mais de 27 anos com a participação popular.

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Revista NORDESTE: Qual a visão da usuária, antes da presidente, em relação ao SUS hoje?


de trabalhadores contratados para estar nas escolas. A economia local se dinamiza pela renda dos aposentados, pela renda dos pensionistas, pela transferência de renda com o Bolsa Família. Então você vê que tudo quanto é programa social dinamiza e mudou a cara da região Norte e Nordeste deste país. Mudou o IDHM, que é o Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios. Muitos municípios saíram da pobreza por conta dos programas sociais. Essa é a forma do estado chegar e realmente mudou a cara do Nordeste e acho que o Nordeste reconheceu isso e deu voto ao projeto que conseguiu fazer essa mudança histórica na região. Com todas as contradições que tem o governo Lula e Dilma, eles fizeram diferença para o Nordeste, portanto a gente não pode admitir retrocessos.

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NORDESTE: Os hospitais privados e os governos reclamam da falta de repasse ou atraso de repasso nos atendimentos do SUS. Quanto é repassado do SUS para a iniciativa privada e por que acontecem atrasos no repasse? Maria do Socorro: Essa política de repasses, fundo a fundo, do Governo Federal para os estados e municípios é importante que ela tenha uma certa agilidade, mas ela tem muitas injustiças e tem algumas contradições. O Governo Federal pactua no SUS um conjunto de compromissos (com a União, Estados e Municípios) e financia boa parte dessas ações e serviços que são pactuados. O que é prioridade na atenção básica, média e alta complexidade termina sendo tudo pactuado e isso define como vão ser destinados os recursos. Hoje, lamentavelmente, a média e alta complexidade consome a maior parte dos recursos da saúde brasileira. E lamentavelmente essa parte de média e alta complexidade está muito mais dominada pelo setor suplementar (o privado) com leitos, clínicas especializadas e laboratórios. A dependência que o SUS tem desses contratos com o setor privado, ele paga caro, contrata serviços e (esses serviços) terminam capturando boa parte do orçamento da saúde. Mesmo

Preconceito contra lésbicas, gays, travestis, trangêneros, contra população de rua, negros, ciganos, camponesas. Toda essa carga faz as pessoas ficarem doentes” as entidades filantrópicas não fazem nada de graça, é preciso que isso fique claro. Outra coisa, nessa questão dos repasses o que o Governo Federal repassa para o município, por exemplo, para o programa de saúde da família, da urgência e emergência, em média é 30% do custo que aquele serviço representa para a gestão municipal. Mas o restante com quem fica? Em geral a União está fazendo mais investimento (na estrutura), o custeio fica com o município. Nós temos hoje uma rede de atenção básica importante no país. Não é mais aquele postinho. Temos UPAS estruturadas, CAPS, que é o Centro de Atendimento Psicossocial, temos a rede de urgência e emergência

instaladas em muitos lugares do país, e isso foi investimento feito pelo Governo Federal, importantíssimo. Mas como você mantém esses serviços funcionando, quem paga o profissional? E o profissional é mais de 50%, 60% do custo que o município assume para o serviço funcionar. Essa é uma das grandes queixas que os gestores municipais trazem. O governo incentiva o serviço, financia boa parte do investimento na estrutura física, mas não garante a manutenção e os trabalhadores saem caro com o enquadramento da Lei de Responsabilidade Fiscal. NORDESTE: Quanto de investimento vem para o Nordeste?


Maria do Socorro: Na verdade é muito difícil você ter uma metodologia para mensurar isso. O que temos é uma tentativa de colocar o quanto a União, os Estados e Municípios investem em Saúde no país, e o quanto a população paga do bolso de forma direta, com planos privados de saúde, exames especializados por fora e com medicamentos. Os dados mostram que a União em 2014 gastou cerca de R$ 91 bilhões, os estados R$ 57 bilhões e os municípios R$ 67 bilhões. Quando a gente junta estados e municípios dá bem mais que a União, quase R$ 120 bilhões. Tanto é que os percentuais são os seguintes: A União 20% do orçamento, os estados 12%, os municípios 15%. Apesar disso, o que a gente desembolsa com os planos privados de saúde, medicamentos e outros gastos, por exemplo, um exame especializado, é muito mais do que o setor público investe. (A presidente apresentou dados que os gastos da população somam mais dos 50% investido pela União, Estado e Município. Mais de R$ 120 bilhões). NORDESTE: Recentes pesquisas têm apontado preconceito no SUS contra Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Maria do Socorro: No Brasil, a violência e o preconceito adoecem e matam. Nós temos uma marca muito forte da desigualdade na sociedade brasileira que também vem para dentro do SUS e em geral isso fica muito invisível e marginalizado. Preconceito contra lésbicas, gays, travestis, trangêneros, contra população de rua, negros, ciganos, camponesas. Toda essa carga de preconceito faz as pessoas ficarem doentes e até a população LGBT paga com a vida. Muitos trabalhadores rurais contaminados com agrotóxicos pagam com a vida. Muitas mulheres negras morrem na sala do parto, a mortalidade materna é muito alta em relação as mulheres negras. A anemia falciforme que pega muito a população negra. O Brasil é pluriétnico, não é só a raça negra, branca e povos indígenas. O Brasil tem uma dimensão étnica muito forte, na região sul do Brasil temos colônias alemãs, italianas, bolivianas na região norte. Essa coisa das diferentes étnicas não é compreendida. Isso termina motivando práticas discriminatórias. Tanto é que a reação com os médicos cubanos no Brasil foi expressão dessa discriminação que tem na área da Saúde. Médico cubano, negro, da América Central, socialista, comunista. O quanto ainda temos uma carga enorme de xenofobia, de racismo, sexismo. Um país onde tem quase 500 mil casos de estupro contra mulheres... o que significa isso? E o SUS é a primeira porta de entrada para a população. Quando uma mulher é violentada sexualmente, quando um trabalhador é acidentado numa rodovia de moto. O SUS é a primeira porta de entrada para a população ser socorrida, ser assistida, e o profissional não está preparado para isso. Trata isso como se fosse algo menos importante. NORDESTE: Algum programa está prevendo atacar esse problema? Maria do Socorro: Tem vários. Eles têm a politica de equidade para respeitar as necessidades e os direitos da população

negra, camponesa, LGBT, indígena, ciganos e tal. O problema é que fica a política meio que apartada da prática do serviço e da compreensão do profissional que atende aquela população e fica também apartada da responsabilidade do gestor entender que aquilo também é saúde. Então é uma geleia geral. O Ministério da Saúde formula a política, reconhece a especificidade, constrói com os movimentos populares, mas isso se dilui em nível de estados e municípios. Você pega uma gestão que tenha mais indígenas, que tenha ciganos ou quilombolas, qual é a diferença que o SUS está fazendo na vida dessas pessoas? Praticamente pouca iniciativa nesse sentido. Então não é um programa, é uma política de equidade, várias ações são importantes, mas não são compreendidas. A última ação que o Ministério fez foi uma campanha contra o racismo institucional e que gerou uma polêmica enorme com os médicos. Eles acharam que o Ministério da Saúde estava criminalizando os médicos pela discriminação aos negros. Para você ter uma ideia. Então tem uma reação muito grande também quando o Ministério toma uma posição mais radical nesse sentido. NORDESTE: Em relação ao Mais Médicos, os médicos dizem que têm profissionais suficientes no Brasil, mas os salários não são bons ou as condições de trabalho inadequadas. O governo afirma que precisa de mais médicos. Quem está com a razão? Maria do Socorro: Essa quebra de braço não pode ser colocada entre Governo Federal e Entidades Médicas. Essa quebra de braço tem que ser entre estado e sociedade. Tem que garantir o direito a saúde e um SUS que funcione. E de fato a distribuição de médicos no Brasil é muito desigual. A maioria fica concentrada onde tem mais uma rede privada que pode pagar mais caro pelo serviço prestado pelo médico. E é muito injusto isso porque a maioria dos médicos, os bons médicos, são formados nas universidades públicas federais ou estaduais. Para formar

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NORDESTE: Em termos de valores, quanto foi repassado nos últimos anos para o Nordeste?

negros, LGBTs e até a população pobre. Como reverter isso?

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Maria do Socorro: Aí tem que fazer uma média proporcional à população. Como o Nordeste tem muitas áreas dispersas, assim como a Amazônia tem muitas áreas dispersas. Então nós temos menos habitantes do que a região Centro-Oeste, Sul e Sudeste, a média per capita do Nordeste é cerca de R$ 23 reais por pessoa para investir em determinado período na saúde. Para o Sul e o Sudeste é o dobro. A distribuição de recursos é de acordo com a população. O Norte e o Nordeste saem perdendo em relação aos estados com populações mais densas. Esse critério populacional precisaria ser superado. Teria que ter outra forma de rateio. Pode ter menos gente na Amazônia e em algumas áreas do Nordeste, mas é exatamente ali que precisa de mais investimento.


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um médico no Brasil numa Universidade Pública o custo é em média R$ 800 mil e ele não tem um mínimo de responsabilidade social, de compromisso ético profissional com o SUS! Isso é muito ruim. O Mais Médico tenta corrigir essas distorções. Primeiro. Qual é a formação que a gente precisa? O médico deve ser formado para o mercado, com especialidades, ou o médico deve ser um clínico geral que dê conta das necessidades gerais da população em primeiro lugar. Segundo. Além de pensar qual é a formação que esses médicos têm que ter, é preciso questionar como eles fazem o processo da prática. As residências médicas devem estar também articuladas ao serviço. Ou seja, você deve fazer residência médica dentro da Rede SUS instalada. Antes não tina muito isso. Eu acho que o Mais Médico amplia também as residências médicas. Você tem que ser formado em médico praticando medicina. Se você não tem uma rede instalada, aquele estudante, futuro profissional, vai fazer prática aonde? Então tem que ir para dentro do SUS, tem que ter Rede SUS instalada onde abre universidade nesse país. Terceiro. Distribuir. Eu sou muito favorável ao Mais Médicos. O que é limitador é que o Congresso Nacional ataca porque isso fere também as entidades médicas que quiseram muito colocar dificuldades. Agora nessa última etapa os médicos brasileiros foram maioria em relação aos médicos estrangeiros. Por último. É preciso mais investimento na atenção básica. Eu acho que essa iniciativa do Mais Médicos é para fortalecer a atenção básica. Então estava correta a política do governo, tanto é que as entidades médicas deixaram de bater e agora estão mobilizando os estudantes, os médicos mais jovens, para se inscreverem no programa. NORDESTE: Como humanizar a atenção básica que é o primeiro atendimento à população? Maria do Socorro: A atenção básica tem que ser fortalecida. Tem que estar mais próxima da comunidade e do local de trabalho. Ela vai trabalhar

desde a questão da água, a qualidade dos alimentos, o ambiente de trabalho, a vigilância local dos medicamentos ofertados a população, até o incentivo de práticas tradicionais, como fitoterápicos e acupuntura. Ou seja, a atenção básica tem um campo fortíssimo, mas não dá dinheiro, não dá lucro. Então, em geral essa competência cabe à gestão pública, enquanto a média e alta complexidade, financiada com recursos públicos, termina privilegiado e fortalecendo o setor privado e capturando boa parte do dinheiro da saúde pública para o setor privado. São quase 70% (dos recursos repassados para o setor privado). Essa é a estimativa que se fala. A atenção básica é uma luta contra hegemônica ao modelo focado em médicos, hospitais e medicamentos. Por isso não é só o Mais Médicos, não é só a equipe de saúde da família, é mais do que isso. E essa luta está muito longa, muito distante ainda de transformar um SUS num sistema mais integral. O SUS ainda tem muitas contradições.

“Só tem perspectiva se de fato o povo for para a rua (...) Mais dinheiro para fazer o que o SUS faz é enxugar gelo”

NORDESTE: E essa questão do atendimento dos médicos. Os pacientes se queixam que o médico atende mal, rápido, não olha para o paciente... Maria do Socorro: A pouca humanização acontece porque nem os usuários, nem os trabalhadores reconhecem a importância do SUS. E ainda há uma prática muito grande, sobretudo dos médicos, achando que ele está fazendo um favor. Muitas vezes o médico do SUS está ali para abrir portas que beneficiem ele mesmo, que muitas vezes é dono de clínica e hospitais privados. Ele está ali para capturar o paciente para levar para dentro dos seus estabelecimentos privados, ou onde ele trabalha na rede privada. Tanto é que tem desvios de próteses, de órteses, tem cobrança por fora dos médicos. Essa questão é mais do que a falta de humanização, é respeito a vida, o respeito aos direitos humanos, ao ser humano. Dentro do SUS ainda tem as condições de trabalho que não são fáceis, com sobrecarga de trabalho, sobretudo o pessoal da enfermagem, que fica supervisionando, cuidado

daquilo que o médico encaminha. Nós temos uma sobrecarga muito grande e uma precariedade das condições de trabalho. E no Brasil nós temos uma estratificação social muito grande. Como a maioria que usa o SUS na assistência são pessoas de baixa renda é a expressão da estratificação social. Quem tem muita renda, que é médico, é formado, se sente melhor (na sua posição) do que muitas vezes o trabalhador da classe popular. Essa é uma contradição da nossa sociedade. Humanizar o SUS na verdade é humanizar a sociedade brasileira. NORDESTE: O que o governo tem feito para melhorar a marcação de consultas, outra grande reclamação?


Maria do Socorro: A regulação tem ônus e bônus. A regulação é importante para as cirurgias eletivas, urgências e emergências. Só que é uma forma de regular aquilo que é insuficiente para a população. Você regula leitos, cirurgias eletivas, órteses e próteses menos. É uma forma de dizer que temos pouco para muitas necessidades. Mas também é uma forma de criar regras, só que o poder de decisão das regras de regulação fica muito com a equipe médica. A população conhece pouco. Por que o SAMU não vai num assentamento ou acampamento rural? Por que não vai pegar um idoso de 90 anos num atendimento domiciliar? São coisas que a população não conhece... Por que uma pessoa passa dois Fotos: Pedro França/Agência Senado

Maria do Socorro: Com certeza. Eu estive em Cuba e El Salvador recentemente. Eu acho que o Brasil conseguiu fazer diferença na atenção básica nos últimos anos, estruturando, ampliando, equipando. Há hospitais importantes e bem estruturados. Mas há também pouco investimento nos planos de cargos e carreira e salário dos trabalhadores. A precarização dos trabalhadores do SUS é uma contradição que o Brasil não enfrentou. O financiamento também é insuficiente. Você pega Cuba e é 8% do PIB que investe na saúde. Em Cuba a cada mil pessoas tem uma policlínica que faz o atendimento até a média complexidade. Você pega El Salvador, que viveu 30 anos de guerra, o médico é da comunidade, ele está lá engajado e tudo mais. Dá para comparar em termos de financiamento. O Brasil investe cerca de 3% do PIB e países

NORDESTE: Quais as novas perspectivas e o que a gente pode esperar do SUS? Maria do Socorro: Eu acho que o SUS só tem perspectivas se o povo brasileiro de fato reconhecer a sua importância. Acho que os gestores estão muito tecnicistas, gerencialistas, fazendo pouca gestão política. A 15ª Conferência Nacional de Saúde (que será realizada de 1 a 4 de dezembro) quer ser esse espaço de mais participação popular. Quer trazer o cidadão comum para dentro das Conferências para discutir o SUS e o direito a saúde, até porque estamos enfrentando uma conjuntura muito dura. Basta ver o que o Congresso Nacional está fazendo, aprovando projetos de emenda a Constituição como o 451. Desconstruindo o SUS dizendo que a saída para o trabalhador é ter plano privado, a entrada do capital estrangeiro, o PL 4330 da terceirização. Então nós temos uma conjuntura muito difícil. Qual é a perspectiva? Só tem perspectiva se de fato o povo for para a rua, se de fato nós tivermos unidade em torno dessas agendas, financiamento, gestão, enfrentar o debate da reforma política, mas também tem que mudar o modelo de atenção a saúde. Mais dinheiro para fazer o que o SUS faz é enxugar gelo, é preciso alterar esse modelo de atenção a saúde, menos médicos, menos hospitais ou menos medicamentos, mas mais vigilância, mais promoção da saúde, mais autonomia nos processo também para enfrentar as mazelas. A sociedade brasileira tem fome, pobreza, desemprego, falta de saneamento básico, tem uma baixa escolaridade ainda e tudo isso determina a situação da saúde. Não fez reforma agrária, não fez reforma urbana. Então para novas perspectivas temos que enfrentar tudo isso, senão vamos ter dinheiro e dinheiro para saúde e não muda esse ambiente, essas condições.

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NORDESTE: Em termos de comparação, é possível fazer uma comparação do SUS com os sistemas de saúde de outros países?

como Cuba investem 8% do PIB. Isso é uma contradição muito grande para um país que quer atender 200 milhões de pessoas.

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anos numa filha esperando uma ressonância, um exame especializado ou uma cirurgia? Isso deixa a população muito indignada. Eu acho que a gente melhorou muito no tempo de acesso as consultas na atenção básica. O Mais Médico já tem pesquisas que colocam a redução do tempo na fila de espera para as consultas. Minhas netas estão sendo atendidas pela Equipe de Saúde da Família em Val Paraíso de Goiás, consultas de 20 minutos. A minha mãe de 96 anos teve atendimento domiciliar. Todas elas médicas cubanas. Você teve melhora nisso. Agora as filas da média e alta complexidade ela é ainda uma caixa hermética, fechada e que a população não entende as regras, que são as regras da regulação. E outra coisa, muitas vezes o pessoal vai lá para o Pronto Socorro, para um atendimento que deveria ser feito na atenção básica. Vai enfrentar fila! Pronto Socorro e UPA não é para atender coisas do cotidiano. Aí a fila aumenta num lugar que é para prestar um serviço de urgência e emergência.


Saúde

Mal genético Doença de Pompe afeta músculos, respiração e pode levar crianças e adultos a perda de locomoção e a morte Por Paulo Dantas paulo.dantas@revistanordeste.com.br

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Doença de Pompe é uma patologia rara, que afeta o tecido muscular e compromete, principalmente, os músculos da respiração e dos membros inferiores e nos bebês também o músculo cardíaco. A doença é progressiva, vai degenerando o tecido muscular. Não tem cura, mas existe tratamento. O problema também é conhecido como glicogenose tipo II. A patologia ocorre por uma deficiência da enzima alfa-glicosidase ácida, responsável pela quebra do glicogênio dentro das células, e a sua deficiência provoca acúmulo de glicogênio celular. O gene que é responsável por essa doença está localizado no cromossomo 17. O glicogênio - uma fonte rápida de energia para os músculos e corpo em geral - é composto por moléculas de glicose, formando uma molécula maior (o glicogênio), que se acumula nos tecidos do corpo, principalmente nos músculos e no coração. A doença quando afeta bebês até os três meses de idade pode levar ao óbito até o segundo ano de vida. 80% dos

Campanha nacional com ídolos do esporte procurou informar e tornar conhecida doença genética


porque eles ficam fraquinhos, molinhos, com cardiomiopatia. Nas crianças mais velhas, e adultos, suspeita-se quando há uma fraqueza muscular, dor muscular difusa, problemas de coluna, dificuldade respiratória. Eles acordam à noite com sensação de sufocamento e dificuldades respiratória”, contou a médica à Revista NORDESTE. Hollywood já tratou do tema no filme “Decisões Extremas”, produção (e atuação) de Harrison Ford, que mostra o drama de um executivo (Brendan Fraser) que é pai de duas crianças com Pompe e sua luta para salvar os filhos. A história é baseada em fatos reais. O filme é esclarecedor sobre o sofrimento que a doença causa aos portadores e aos familiares. Devastador é o mínimo que se pode dizer. “Decisões Extremas” é inspirado em história real de família americana (foto ao lado)

O paciente Benedito Eduardo Carneiro (foto), de Goiânia, tem 58 anos e foi diagnosticado aos 54 anos, mas garante que vem sentido os sintomas desde os 36 anos. Nascido na cidade de Divinolândia no interior de São Paulo, Carneiro conta que a descoberta da doença foi um misto de via crucix e sorte. Segundo Carneiro, ele tem a doença porque os pais são primos legítimos. “Eu comecei a procurar médicos por causa de uma dor nas costas, na região lombar. Doía demais, doía para levantar e andar. Fui investigando, mas nunca achei nada na coluna, fiz inúmeras radiografias, passei por inúmeros diagnósticos de doença. Nada melhorava minha dor”. Nesse tempo Carneiro saiu de São Paulo e foi morar em Goiás. Enquanto as dores continuaram e foram acrescidas de falta de ar. “Não conseguia dormir uma noite inteira deitado”. Fez tratamento com pneumologista, melhorou, mas acabou desmaiando numa das visitas que fez ao médico e acordou na UTI. Estava com pneumonia. Depois de toda essa saga foi que um médico desconfiou da Doença de Pompe.

na cardiopatia respiratória. Depois que começa a fazer o tratamento, os músculos respiratórios começam a funcionar e há uma melhora muscular, na força e no tempo de caminhada”, conta Anna Paranhos. Entretanto, só é possível conseguir o remédio com o auxílio do Ministério Público que provoca na justiça as secretarias das Saúdes tanto do Estado quanto do Município. “É complicado conseguir. São 33 mil dólares cada aplicação. Faço duas por mês, de 15 em 15 dias. Não é para qualquer um. Se eu não tivesse tido

auxilio do Ministério Público na compra do medicamento... eu ia definhar”, conta Carneiro. Fazendo a reposição da enzima já há dois anos, o paciente afirma que a melhora vai acontecendo aos poucos. “Hoje eu fico sentado tranquilo, ando, caminho, vou para a academia. Vou começar a fazer natação para desenvolver os músculos do peito e pulmão. Está melhorando”, conta. Todavia ele explica: “O que existe é uma paralisação da doença. Para de ter uma diminuição da fibra. O que estamos fazendo é manter a vida fluindo”.

Tratamento ONEROSO O tratamento é feito com a reposição da

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enzima alfa-glicosidase ácida, enviada por laboratórios da Holanda. A enzima é infundida a cada quinze dias, por aplicação endovenosa. Carneiro revela que toma 28 frascos em a cada aplicação. A medida é feita de acordo com o peso do corpo. O medicamento é diluído em soro e aplicado em bomba de infusão. A aplicação dura cerca de três há quatro horas. “A nossa experiência, no trabalho em Pernambuco é que os bebês têm melhora

História de vida

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bebês com o mal sofrem problemas de insuficiência cardiorrespiratória, com o músculo cardíaco apresentando fraquezas. Nos adultos a Doença de Pompe atinge principalmente a respiração. Os dados apontam um caso a cada 138 mil adultos. Nas crianças, após o primeiro ano a incidência é de um caso para cada 57 mil. O diagnóstico é feito com tanto com a observação dos sintomas, quanto com o teste de sangue. A neurologista Anna Paula Paranhos, que trabalha na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), acompanha tratamentos em 8 pacientes, já diagnosticados em Pernambuco. “Nos bebês ela é percebida

Fotos: Shutterstock / Divulgação


Saúde

GEAP

APOSTA NA

EXPANSÃO COM

QUALIDADE

Autogestão em saúde completa 70 anos, amplia rede e promete novidades nos próximos tempos Por Walter Santos ws@revistanordeste.com.br

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uiz Carlos Saraiva Neves, diretor executivo da GEAP - Autogestão em Saúde – revela em Entrevista Exclusiva à Revista NORDESTE a evolução do plano que atende servidores públicos em todo Brasil, cuja meta é atender 800 mil usuários. Prestes a completar 70 anos em setembro, a instituição de planos de saúde ampliou o número de prestadores de serviços incluindo mais de 2 mil nomes na rede e 3 mil hospitais superando os 600 mil usuários. Na entrevista, ele reclama um maior conhecimento de causa em relação aos juízes que julgam ações de usuários e garante que devido acordos judiciais a instituição já teve que entregar serviços que nem sequer estavam aprovados pela ANVISA. A um ano e seis meses a frente do órgão, depois de intervenção sofrida em 2013 pela Agência Nacional de Saúde, Saraiva garante que a comemoração dos 70 anos da entidade deve trazer inovações em termos de equipamento, assistência e governança. A intenção será mesmo recolocar a GEAP em posição de ator importante dentro do mercado.

“Ela (GEAP) atende os servidores públicos federais e seus familiares. Pretendemos ampliar esse arco de ação, oferecendo o plano também para os servidores estaduais e municipais”


NORDESTE: O que encarece? Saraiva Neves: Esses insumos são cotados em dólar. Então essa flutuação do dólar interfere muito, além de que nós temos a necessidade de exigir um controle maior no que se refere ao comércio, a compra e venda desses insumos internamente. Veja que nós temos hoje uma CPI as OPMES – (CPI da Máfia das Próteses e Órteses) órteses, próteses e materiais especiais. Por outro lado, a questão econômica tem seu impacto na gestão da saúde. As redes de prestadores de serviços buscam, nos seus modelos diversos de gestão, uma maneira de garantir suas margens de lucro dentro de uma situação complexa. Isso interfere também nos valores que são cobrados

Saraiva Neves: “mesmo sem foco no lucro vamos crescer” Fotos: Divulgação

NORDESTE: Como os senhores, diante dessa conjuntura que projeta a possibilidade do aumento a partir dos insumos, conseguem conviver com a judicialização, que ao obrigar determinadas operações e serviços, geram mais despesas para o setor? Saraiva Neves: No primeiro momento, há alguns anos, essa questão era muito complexa; não deixa de ser ainda. O processo de judicialização foi um caminho encontrado para também se conseguir garantir a margem de ganho. Infelizmente, os tribunais não estavam preparadas para fazer a discussão do que realmente estava de acordo com a proposta do procedimento em termos do uso de materiais, de insumos; por muitas vezes as determinações judiciais não avaliavam detalhadamente esses processos. Havia autorização por autorizar. A gente lida com algo importantíssimo para todos nós: saúde e vida. Muitas vezes os juízes expediam liminares e muitas vezes tínhamos que autorizar o uso de materiais que nem sequer estavam aprovados pela Anvisa. Com o aprofundamento dessa

discussão, os magistrados começaram a se preocupar mais e hoje a gente vem trabalhando de uma forma muito mais direta com eles, para que haja essa discussão técnica e mais apurada de que aquilo que está sendo imposto por uma possível liminar tem bases legais e científicas para ser utilizados, tanto no que se refere a medicação como aos materiais especiais, que são caros. Já tive oportunidade de ter um material utilizado em uma cirurgia a quase R$ 500 mil. Após dialogarmos, o material saiu aproximadamente por R$ 160 mil. É uma questão que precisa ser mais aprofundada junto ao judiciário. NORDESTE: Como está a GEAP no contexto de saúde suplementar no Brasil? Em que ranking? Qual o universo de público atendido e posicionamento da empresa levando em conta o segmento? Saraiva Neves: A GEAP está inserida no grupo das autogestões sem fins lucrativos. Ela atende os servidores públicos federais e seus familiares. Pretendemos ampliar esse arco de ação, oferecendo o plano também para os servidores estaduais e municipais. Ela é a segunda maior autogestão do país e vem crescendo no número de beneficiários, hoje temos cerca de 610 mil. A GEAP tem uma característica: onde tem servidor público tem GEAP. Imagine o que é atender toda essa população espalhada pelo território nacional. Temos uma concentração maior de beneficiários na faixa litorânea do país, onde ficam as principais capitais. Nossos planos têm um diferencial muito grande por acoplarem a área médica e odontológica. Oferecemos saúde hospitalar, assistência ambulatorial, promoção da saúde e odontologia. Uma característica marcante, que nos diferencia das outras operadoras e segmentos é a concentração alta de pessoas idosas.

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Luiz Carlos Saraiva Neves: A situação preocupa por conta da inserção no mercado da saúde suplementar e da saúde como um todo de insumos que, em grande parte, são importados. Queira ou não, nós temos um impacto dessa questão econômica muito forte dentro da logística, prestação de serviços e tudo que se refere ao uso desses insumos para garantir a saúde.

das operadoras de saúde, muitas vezes com propostas de majoração além do que a gente pode suportar. Isso também impacta nos valores das mensalidades cobradas dos beneficiários dos planos de saúde.

NORDESTE: Como a autogestão da GEAP consegue manter a sua estrutura crescendo, já que a demanda desse público idoso requer maiores investimentos?

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Revista NORDESTE: Como o senhor analisa hoje o segmento da saúde suplementar diante de uma conjuntura econômica de recessão no Brasil?


Saraiva Neves: Acolher qualquer beneficiário, seja idoso ou um recém-nascido. Não temos foco lucrativo. Tudo que é arrecadado é revertido em assistência à saúde. Temos como desafio para manter esse equilíbrio renovar o público, trazendo mais jovens e acolhendo idosos que chegam. A nossa sinistralidade está na faixa de 78% - a preconizada pela ANS gira em torno de 85%. O grande desafio é a negociação das tabelas e valores com os prestadores: a pontualidade e segurança de que o prestador vai receber garante boas negociações. Nosso pagamento está dentro do padrão da ANS. O prestador entrega a fatura hoje e eu tenho até 70 dias para pagar – nós estamos pagando entre 50 e 60 dias. Essa pontualidade e garantia faz com que consigamos boas negociações.

“O grande desafio é a negociação das tabelas e valores com os prestadores: a pontualidade e segurança de que o prestador vai receber garante boas negociações”

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NORDESTE: Qual a relação da GEAP com a ANS no sentido de atender as exigências rigorosas da Agência sempre cobrando mais qualidade? Saraiva Neves: Uma relação muito boa. Criamos diversos canais de diálogo com a ANS. Nós entendemos que ela é fundamental para regulamentar o mercado. Toda a equipe da GEAP busca cumprir as regulamentações. Nossa gestão tem 1 ano e 6 meses e nesse período conseguimos avançar bastante no cumprimento das regulamentações da ANS. Diminuímos cerca de 40% das reclamações, o nosso índice de desempenho vem crescendo. A nossa rede de prestadores vêm melhorando e de 2014 a julho de 2015 já incluímos mais de 2 mil novos prestadores na rede. Hoje são 3 mil hospitais e 18 mil prestadores. Estamos trazendo os melhores equipamentos para a GEAP, embora ainda existam serviços de alta complexidade que ainda não podemos cobrir, como os hospitais de ponta. Nosso objetivo é qualificar a rede.

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NORDESTE: Mesmo sem fins lucrativos, como manter a liderança num mercado de alta competitividade? Saraiva Neves: Há 69 anos cuidando

da saúde dos servidores e seus familiares, a GEAP é uma das maiores operadoras em autogestão de planos de saúde porque é sólida e, mesmo sem fins lucrativos, possui natureza solidária, onde jovem e idosos têm a mesma qualidade assistencial. Sem caráter comercial, seu modelo de gestão inibe práticas que discriminam grupos minotirários atendendo às necessidades e conveniências das instituições patrocinadoras, conforme suas próprias políticas e linhas de ação. Somos, portanto, quem vive buscando se renovar em métodos para melhorar cada vez mais o atendimento. NORDESTE: Em setembro a GEAP completa 70 anos. Ao longo desse tempo o saldo é positivo, embora tenham existido problemas. Quais são os desafios atuais da GEAP? Saraiva Neves: Hoje enfrentamos um problema por conta de uma cautelar do TCU e um questionamento da OAB ao STF em relação ao convênio único, que foi feito por decreto da Presidente Dilma, onde a relação da união com a GEAP se torna mais clara e transparen-

te. Infelizmente os nossos concorrentes entenderam isso como exclusividade, o que não era, pois o servidor escolhe o seu plano. NORDESTE: A expansão da GEAP tem metas estabelecidas? Saraiva Neves: Quando assumimos uma das primeiras ações que fizemos em conjunto com o conselho de administração foi implementar o nosso planejamento estratégico, que está em curso. Temos quatro objetivos fundamentais: a sustentabilidade e crescimento de beneficiários, onde queremos crescer até o final do ano em cerca de 800 mil assistidos. Isso tem uma dificuldade por causa da questão do STF. Estamos trabalhando com muita atenção nisso. Também temos o eixo da promoção e prevenção da saúde, onde podemos evitar que a porta de entrada do nosso sistema seja o pronto socorro. Temos o eixo da governança, no que se refere a organização da estrutura da nossa organização, que tem o conselho de administração, o conselho fiscal e a diretoria executiva – essa instância


máxima é composta por seis conselheiros titulares e seis suplentes; a representação é feita por servidores eleitos, três titulares e três suplentes; os conselheiros são indicados pela união; da mesma forma o conselho fiscal, que são quatro titulares e quatro suplentes. A diretoria é composta pela diretoria executiva e diretorias de áreas. Em cada estado temos um gerente regional. NORDESTE: Como serão as comemorações relativas aos 70 anos da GEAP? Saraiva Neves: A GEAP surgiu no pós-guerra. O Brasil passou por muita coisa nesses 70 anos. O mais importante na GEAP é a capacidade de acolher todos: ela não discrimina idosos

ou pessoas que já tenham doenças, ela acolhe a todos de forma igual. Evidentemente passamos por diversas situações difíceis. Tivemos uma intervenção em 2013. Eu era gerente estadual em Pernambuco e fui convocado para assessorar o interventor. Terminei sendo convocado novamente para assumir a diretoria executiva. Tenho 19 anos de casa. Em relação a comemoração, vamos valorizar a história, mas olhar para frente: garantir uma assistência cada vez melhor; implementar de vez a atenção primária da saúde; melhorar a rede assistencial; trazer inovações em termos de equipamento, assistência e governança, além de colocar a GEAP na sua posição de ator importante dentro do mercado. NORDESTE: Não há conflitos entre a diretoria executiva e o conselho da instituição? Saraiva Neves: Temos uma relação muito transparente com o conselho,

que tem trazido propostas e balizado muito o caminhar dos executores. O ambiente é bom, construtivo e propositivo. NORDESTE: O que o usuário pode esperar da GEAP daqui em diante? Saraiva Neves: Uma dedicação e empenho muito grande. Isso tem sido entendido pelos beneficiários quando olhamos os nossos indicadores. Nosso empenho é qualificar ainda mais a rede, implementar a atenção primária, transparência na governança, criar um canal direto com o usuário. Uma coisa fundamental é a atuação dos nossos gerentes estaduais: a GEAP acontece nos estados. Cada gerente precisa adequar aquilo que é apontado pela administração para a realidade do seu estado. Nós fazemos duas reuniões nacionais por ano e vídeo conferências permanentes. Nossa gestão deu uma autonomia muito grande aos gerentes estaduais.


Turismo

Turismo com foco

para superar crise nacional

Ministro Henrique Eduardo Alves analisa conjuntura política, quer abolir vistos de turistas em mercados estratégicos do Brasil durante ano olímpico e afirma que país precisa investir mais na sua imagem Por Walter Santos ws@revistanordeste.com.br

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atual ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, quando foi empossado disse que sua tarefa principal era fazer do turismo uma agenda cada vez mais econômica, social e política. Em tempos de crise econômica e com uma pasta com corte de R$ 1,3 bilhão, o ministro aposta em mais marketing. Alves também quer abolir a necessidade de vistos durante o ano olímpico para atrair mais turistas. Político experiente do PMDB, Alves foi presidente da Câmara de 2013 a 2015 e já avisou que também está disposto a ajudar o vice-presidente Michel Temer na articulação política do Executivo com o Legislativo. Na entrevista que segue, feita com exclusividade pela Revista NORDESTE, Alves aponta os números do turismo no Brasil e acredita que a crise econômica não deve afetar o setor, pelo contrário, pode dar novo fôlego. Alves ainda argumenta que a região Nordeste é um dos destinos mais atrativos do Brasil e que deve ser um polo atrativo durante as Olimpíadas. Para finalizar, o ministro fala sobre política, a pressão da oposição pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT) e a atuação de Michel Temer, na Articulação Política do Planalto, e de Eduardo Cunha na presidência da Câmara dos Deputados.

“Quero reformular o modelo de gestão da Embratur como um todo. Estamos na 124ª colocação no ranking do Fórum Econômico Mundial no quesito efetividade do marketing para atrair turistas internacionais. Esse dado acendeu uma luz vermelha. Mostrou que precisamos repensar todo o formato da autarquia”

Revista NORDESTE: Ministro, 2015 chegou como tempo amargo para a economia brasileira afetando o conjunto da sociedade. Na sua leitura, qual foi o tamanho do estrago, por ventura sentido pelo setor de Turismo do Brasil? Henrique Alves: Toda crise pode transformar-se em oportunidade. As dificuldades enfrentadas pelo Brasil no cenário macroeconômico são insumos para o turismo de lazer deslanchar no Brasil. Explico melhor: com o câmbio desfavorável, o gasto de brasileiros no exterior tem registrado sucessivas quedas. Em maio, a redução nas despesas foi de 37,38% em relação ao mesmo mês do 2014, menor valor registrado nos últimos cinco anos. É a chance dos destinos nacionais conquistarem esse público. Num contexto de incertezas, as pessoas tendem a deixar de fazer

grandes investimentos que gerem altas prestações e passam a privilegiar gastos menores que gerem um sentimento de bem-estar, como o turismo. NORDESTE – A propósito, qual a extensão dos cortes anunciados pela equipe econômica na estrutura do Ministério e seus efeitos no trade? Alves: O Ministério do Turismo sofreu um corte de R$ 1,3 bilhão. A partir dele, passamos a trabalhar em duas frentes. A primeira é ajustar o nosso custeio para minimizar ao máximo o impacto nos investimentos. A segunda é sensibilizar a equipe econômica sobre a importância do turismo para ajudar o Brasil a enfrentar um ano desafiador como o que vivemos. NORDESTE – Dentro de uma visão realista e pragmática, como o Ministério


num ranking de 141 países. Podemos muito mais se soubermos aproveitar as nossas vantagens comparativas.

Alves: O turismo impacta diretamente 52 atividades econômicas e, por isso, é o setor que melhor responde a estímulos. Atualmente respondemos por 3,1 milhões de empregos diretos e mais de 9% do PIB do Brasil se considerarmos os resultados diretos, indiretos e induzidos. Precisamos desatar alguns nós que travam o desenvolvimento do nosso setor e passar a encarar essa indústria com profissionalismo, para dar uma contribuição ainda mais efetiva para a retomada do desenvolvimento brasileiro. Tenho trabalhado, por exemplo, para eliminar a exigência de vistos para mercados estratégicos durante o ano olímpico e criar Áreas Especiais de Interesse Turístico. São duas medidas que têm tudo para

NORDESTE - O senhor tem reconhecido domínio estratégico de gestão, mas nunca fora identificado como expert na área. Qual sua avaliação do setor do Turismo do Brasil na correlação com os demais Destinos do Mundo?

NORDESTE – Como os ajustes devem ter afetado a EMBRATUR, que é o braço internacional do Ministério para atrair dividendos, ou seja, mais turismo ao Brasil?

Fotos: Divulgação

Alves: O Brasil tem um enorme potencial a ser explorado de maneira sustentável. Se compararmos, por exemplo, com o México, que interiorizou US$ 17 bilhões pelo turismo em 2014 na economia pelo turismo, os US$ 6,9 bilhões que o Brasil faturou com o turismo internacional no mesmo ano é uma quantia extremamente baixa. Para se ter uma ideia, estamos na 44ª colocação na lista de países que mais recebem turistas estrangeiros

Alves: Quero reformular o modelo de gestão da Embratur como um todo. Estamos na 124ª colocação no ranking do Fórum Econômico Mundial no quesito efetividade do marketing para atrair turistas internacionais. Esse dado acendeu uma luz vermelha. Mostrou que precisamos repensar todo o formato da autarquia. A ideia é transformá-la em agência, de maneira a garantir mais agilidade e permitir que parcerias com a iniciativa privada sejam construídas

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facilitar a atração de investimentos, turistas, divisas e consequentemente fomentar a geração de emprego.

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do Turismo pode ser um aliado das políticas de Governo para construir a retomada do desenvolvimento?


para aprimorar a busca pelo viajante internacional.

exemplo da Amazônia, Nordeste brasileiro, etc?

NORDESTE – O tempo tem passado numa velocidade impressionante e já estamos às vésperas das Olimpíadas de 2016. O que concretamente este evento representa para a conjuntura econômica do Brasil sabendo-se que trata-se de grande estrutura concentrada num mesmo Estado, o Rio de Janeiro? Como equiparar os efeitos tomando por base a Copa do Mundo?

Alves: A presidente Dilma anunciou recentemente as cidades por onde a tocha olímpica vai passar. O roteiro inclui todos os estados brasileiros e é uma importante oportunidade para os estados se promoverem interna e externamente. O mundo vai olhar para o Brasil e temos uma excelente oportunidade para mostrar porque somos considerados o número um em atrativos naturais pela terceira vez consecutiva de acordo com o Fórum Econômico Mundial. Nesse contexto, a Amazônia e o Nordeste brasileiro têm fundamental importância. Os ministérios do Turismo, da Cultura, das Relações Exteriores e a Secretaria de Comunicação da Presidência da República têm discutido uma campanha internacional para reposicionar o país no cenário global e usar a Olimpíada como plataforma efetiva não apenas do Rio de Janeiro, mas do Brasil.

Alves: Temos trabalhado para nacionalizar a Olimpíada e Paraolimpíada. A exemplo da Copa do Mundo, quando quase 479 cidades além das sedes foram visitadas, tenho certeza de que o turista dos jogos olímpicos vai circular pelo Brasil e distribuir os ganhos para outros destinos e estados além do Rio de Janeiro. No mundial de futebol, recebemos cerca de 18 mil profissionais da mídia. Para olimpíada, são esperados 25 mil. Uma oportunidade incrível para os destinos se promoverem.

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NORDESTE – Paralelamente às Olimpíadas, o que vem sendo feito para que o Turista possa identificar e consumir outras regiões importantes do País, a

NORDESTE – O senhor é um Ministro com identidade vinculada ao PMDB. Até onde vai a tensão e dificuldades de relacionamento entre líderes peemedebistas, a exemplo do presidente

da Câmara, Eduardo Cunha, e o Governo Federal? À quem interessa a instabilidade? Alves: O debate entre o Legislativo e o Executivo é natural num país democrático. Trabalhei como deputado federal nos últimos 44 anos, dois dos quais como presidente da Câmara dos Deputados. Entendo que o processo de discussão que existe é salutar. O PMDB é governo, comanda pastas estratégicas, e tem ajudado, por exemplo, na articulação política com a atuação do vice-presidente, Michel Temer. NORDESTE – Como o senhor avalia a performance do presidente da Câmara inserindo na pauta de alguma forma uma agenda conservadora nunca vista depois da Redemocratização? Alves: É preciso evitar a personalização do debate democrático. Temos que entender e respeitar as funções institucionais dos presidentes de cada um dos Poderes. Como prevê a Constituição Federal, deve existir uma relação independente e harmônica entre eles. Harmonia não significa passividade. Os assuntos colocados em pauta não necessariamente representam a vontade soberana do presidente da Câmara dos Deputados, mas são resultantes dos vetores das distintas forças que existem dentro daquela Casa. Nesse contexto, entendo que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, tem desempenhado o papel institucional que lhe cabe. NORDESTE – Na sua opinião, o vice-presidente M i c h e l Te m e r cumpre à altura a acumulação de missões como Vice e Ministro da


“O Nordeste é uma região extremamente importante para o turismo brasileiro. Pesquisa realizada pelo Ministério do Turismo mostra que aproximadamente quatro entre cada dez brasileiros, entre os que pretendem viajar pelo Brasil nos próximos seis meses, querem ir para algum DOS NOVE destinoS”

NORDESTE – Volta e meia a Oposição fala em Impeachment, agora advinda com as pedaladas no TCU. O senhor acredita que haja clima para afastamento de uma presidenta eleita pelo voto? Alves: Muito já se foi dito sobre desmontar os palanques. As eleições acabaram e é hora de todos trabalharem pelo Brasil. Quando a oposição é responsável, construtiva, ela é fundamental para o aprimoramento do governo. Defender a bandeira do impeachment por oportunismo e sem base legal não ajuda em nada o país e a democracia. NORDESTE – Qual o papel e/ou estratégia que seu mandato cumpre no trato de políticas voltadas aos 9 estados do Nordeste? O que o Rio Grande do Norte deve obter com sua inserção no comando do Ministério? Alves: O Nordeste é uma região extremamente importante para o turismo brasileiro. Pesquisa realizada pelo

Ministério do Turismo mostra que aproximadamente quatro entre cada dez brasileiros, entre os que pretendem viajar pelo Brasil nos próximos seis meses, querem ir para algum destino da região. Trata-se, portanto, de um conjunto de estados estratégicos e que merecem especial atenção. Esse fato pode ser medido em números. Desde a criação do Ministério do Turismo, a pasta destinou R$ 8,7 bilhões para obras de infraestrutura turística em todo o Brasil. Desse montante, R$ 4 bilhões foram para o Nordeste, grande parte graças ao esforço dos parlamentares da região, que entendem a importância do turismo e destinam as suas emendas para o setor. O Rio Grande do Norte tem diversos atributos que o credenciam a pleitear recursos no Turismo. Como ministro, tenho o compromisso de analisar todos os projetos que chegam à pasta com critério e atenção, sempre com foco no desenvolvimento regional. NORDESTE – Como os políticos de seu estado tratam a disputa pelo HUB da Latam? Tem unidade em torno desta conquista ou não? Alves: O HUB da Latam tem potencial

para mudar completamente o local onde ele for instalado. Vai gerar emprego e renda de forma rápida e inclusiva. Por isso, como não poderia deixar de ser, as lideranças de cada estado uniram forças para defender que o HUB seja construído na sua região. Como ministro, entendo que a decisão do local é técnica e cabe à companhia aérea. O importante é parabenizar a TAM pela escolha do Nordeste. Esse investimento é fundamental para a região como um todo. NORDESTE – Por fim, como é conviver com um governo em seu estado, não alinhado, e com posições políticas diferentes, antagônicas? Alves: Os homens públicos devem saber deixar as disputas pessoais de lado quando está em jogo o interesse maior da população. Mesmo que exista divergência no campo político, há consenso sobre a importância do turismo para o desenvolvimento econômico do Rio Grande do Norte. Prolongar as disputas eleitorais e prejudicar a administração pública não é uma postura republicana. Sempre vou trabalhar alinhado com os interesses legítimos do meu estado independente de quem ocupe o governo local.

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Alves: O vice -presidente Michel Temer é um político experiente. Presidiu a Câmara por três vezes. Desde que assumiu o comando da articulação política tem trabalhado bastante e conseguido resultados expressivos para o governo na relação não apenas com o PMDB, mas com os demais partidos da base aliada. A sensibilidade de Michel, não tenho dúvidas, agrega valor ao governo e ele cumpre à altura a acumulação das missões de vice-presidente e coordenador da área política.

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Relações Institucionais?


Esporte

Escândalo envolvendo a FIFA e principais dirigentes da América Latina expõe corrupção no futebol

Fifa: Corrupção endêmica

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A

Federação Internacional do Futebol (FIFA – da sigla Fédération Internationale de Football Association) parece viver seu inferno astral. Em maio uma operação deflagrada pelo FBI prendeu na Suíça sete executivos da Instituição. Todos acusados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos por corrupção. Foram presos José Maria Marin ex-presidente e atual vice da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o presidente da Confederação de Futebol das Américas do Norte, Central e do Caribe (Concacaf) e vice-presidente da Fifa, Jeffrey Webb, das Ilhas Cayman. Também foi preso o uruguaio Eugenio Figueredo, vice-presidente da Fifa e presidente interino da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), e os chefes das federações de futebol da Venezuela, Rafael Esquivel, e da Costa Rica, Eduardo Li.

Os tentáculos da corrupção também atingiram o campo do marketing do futebol, já que foram acusados executivos de três empresas líderes do setor na região: a brasileira Traffic e as argentinas Full Play Group e Torneos y Competencias. Com a deflagração do escândalo, o presidente da entidade, Sepp Blatter, anunciou sua renúncia ao cargo, pouco depois de ter tido mais uma vez ganho a eleição, mas só deixará o cargo quando houver uma nova eleição, provavelmente em dezembro. Algumas estrelas do esporte já se lançaram candidatos, entre elas os ex-jogadores Michel Platini, atual presidente da UEFA e Zico, atualmente técnico do FC GOA, time indiano. O desejo dos amantes do futebol é que o escândalo sirva para que haja uma profunda transformação na liderança do futebol, principalmente

FBI anuncia investigação e prisão de dirigentes da FIFA por envolvimento em corrupção


Manobra permite aprovação da MP mais dura em comissão especial

A Medida Provisória (MP) do governo que estabelece regras de responsabilidade fiscal e de refinanciamento da dívida dos clubes de futebol foi aprovada na Câmara Federal e agora segue para o Senado. A MP do Futebol trata do refinanciamento das dívidas fiscais e trabalhistas dos clubes de futebol profissional aos clubes que aderirem o cumprimento de critérios de responsabilidade fiscal e de gestão interna. Os clubes que adotarem a gestão transparente poderão parcelar dívidas em até 240 vezes, com redução de 70% das multas, de 40% dos juros e de 100% dos encargos legais.

CPI do Futebol A CPI do Futebol deve ser instalada antes do recesso parlamentar (dia 18 de julho), segundo promessa do presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB). A intenção é que a CPI troque informações com a PF, Ministério Público e Ministério da Justiça para aprofundar as investigações a respeito das denúncias de corrupção na CBF e da Fifa. Autor do pedido de criação da CPI, o senador Romário (PSB-RJ) é o organizador da reunião. O parlamentar se reuniu com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para pedir apoio da Procuradoria nas investigações.

Fotos: Divulgação

O texto aprovado na Câmara foi diferente do que saiu da Comissão Especial em junho. A bancada da bola articulou para derrubar o texto aprovado anteriormente, considerado mais duro. Houve negociação em torno de uma série de itens – basicamente, como a MP 671 propõe um refinanciamento das dívidas dos clubes brasileiros com a União, a discussão acontece em torno das contrapartidas que as agremiações teriam de oferecer para ter acesso a isso. As dívidas dos clubes brasileiros com a União estão estimadas em R$ 5 bilhões. Entre os pontos que a bancada da bola questionou no texto inicial estavam a exigência de Certidões Negativas de Débitos para participar de campeonatos, a obrigação de investimento em futebol feminino e controles restritos de contas, por exemplo. A questão é que, a despeito de serem intransigentes sobre as contrapartidas, os dois lados tinham urgência na aprovação da MP. Para os clubes, o refinanciamento de dívidas fiscais é nevrálgico na sobrevivência da gestão. Em contrapartida, parlamentares alinhados aos ideais do Bom Senso FC veem no mecanismo uma chance única de mudar conceitos de gestão no futebol nacional. A articulação política posterior à aprovação do texto na comissão mista conseguiu reduzir sensivelmente as contrapartidas por meio de medida aglutinativa. Havia ainda uma discussão em torno do colégio eleitoral da CBF, mas a entidade concordou com a inclusão de clubes da Série B e da Série C no processo.

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José Maria Marin, ex-presidente da CBF, foi preso na Suiça

MP do Futebol aprovada

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latino-americano. A presidente Dilma Rousseff (PT) acredita na mudança. Para Rousseff a investigação irá "beneficiar o Brasil" e contribuir para a profissionalização do futebol. O governo resolveu abrir na Polícia Federal sua própria investigação sobre corrupção no futebol. A investigação também deve ser feita por uma CPI mista no Congresso que já está colhendo assinaturas para sua abertura. Ao que tudo indica, o escândalo na Fifa é uma porta aberta para uma renovação no setor, hoje mais que comandado por cartolas brasileiros e internacionais.


Esporte

Escândalo da Fifa e

futuro das olimpíadas Ministro do Esporte, George Hilton, afirma que graves denúncias abrem oportunidades para mudança no futebol do país e garante: Brasil ficará entre 10 maiores nas Olimpíadas de 2016 Por Paulo Dantas paulo.dantas@revistanordeste.com.br

Revista NORDESTE: Esse escândalo com a FIFA muda alguma coisa no futebol brasileiro? George Hilton: O futebol brasileiro é um dos grandes patrimônios que nós temos. Somos pentacampeões e nós queremos aproveitar esse momento de crise mundial do futebol e darmos um exemplo de modernização do futebol através da MP que nós mandamos para o Congresso Nacional (MP 671). A crise é iminente, os clubes enfrentam dificuldades enormes, do ponto de vista financeiro, e a gente quer que todo esse clima sirva de inspiração para que o Congresso Nacional nos ajude a aprovar uma norma que vai definir para os clubes uma nova prática da gestão do futebol. NORDESTE: Essa MP tem como impedir a corrupção no futebol? Hilton: Ela tem como objetivo colocar, digamos assim, instrumentos que de certa forma vão obrigar os times a adotar práticas de boa gestão de governança e serem responsabilizados por gestão temerária. Isso é um grande combate e controle a corrupção.

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NORDESTE: Quais são os principais pontos da MP que precisam ser aprovados? Hilton: Os clubes vão ter acesso ao refinanciamento das dívidas (estimada em R$ 4 bilhões) até 240 meses, mas para isso, eles terão que adotar pontos importantes. Fair Play financeiro: vão ter que pagar os salários dos atletas e funcionários em dia. Fair Play Trabalhista: eles precisam pagar os impostos e encargos. O clube não pode comprometer mais do que 70% da sua receita no futebol profissional. O clube deverá também investir parte desses 30% no futebol de base e no futebol feminino.


Hilton: Quando nós elaboramos a proposta tivemos um debate muito amplo com todos esses segmentos. Desde a CBF, aos clube da série A, B, C e D. Conversamos também com o Bom Senso Futebol Clube. Conversamos com os presidentes das federações dos estados. Discutimos até com os cronistas esportivos. Foi um debate muito amplo. O texto que mandamos foi fruto de todas essas conversas. É claro que o parlamento tem legitimidade para fazer os aprimoramentos que achar necessário. Mas nós entendemos que a proposta vai mesmo ao encontro da necessidade dos clubes de ter o refinanciamento e de nós que queremos que nesses clubes não haja um quinto refinanciamento. O objetivo ao exigir essas contrapartidas é evitar que os clubes voltem a entrar naquele ciclo vicioso pela má gestão e acabem tendo a necessidade de fazer um outro refinanciamento. NORDESTE: O senhor já defendeu que o Campeonato Brasileiro deveria ser Fotos: Divulgação

disputado no sistema de ligas, como seria essa proposta? Hilton: A partir do momento que os clubes comecem a adotar essas práticas de boa governança e eles entenderem que o órgão maior, que é a CBF, está criando qualquer obstáculo... Hoje existe um debate muito grande no Congresso, que quando o texto da MP inclui a CBF para que ela tenha que cumprir essas contrapartidas, existe uma corrente de gente que acha que é uma interferência indevida do Estado na CBF. Então a gente propôs que os clubes que vão fazer parte do refinanciamento tenham também a liberdade de constituir uma liga para elaborar os campeonatos, tanto o brasileiro, quanto os regionais. NORDESTE: Isso tira força da CBF? Hilton: Não tira força... Eu defendo, inclusive, a exemplo do que acontece na Europa, que as confederações brasileiras cuidem da seleção brasileira. Os campeonatos seriam feitas por ligas nacionais. É um modelo que deu certo na Europa. Quer dizer, a CBF tem um protagonismo muito grande com a Copa do Mundo, Copa América, Copa das Confederações. Há uma cobrança, inclusive, de que a base que é feita

“O futebol brasileiro é um dos grandes patrimônios que nós temos. Somos pentacampeões e nós queremos aproveitar esse momento de crise mundial do futebol e darmos um exemplo de modernização do futebol através da MP” dentro do âmbito da Seleção Brasileira depois não é convocada para participar dos eventos. Então, eu acho que a CBF poderia ser um grande celeiro de craques, objetivando sempre os jogos da seleção. Uma liga nacional poderia ter um protagonismo muito maior e os clubes teriam muito mais entusiasmo. NORDESTE: O Zico anunciou nas redes sociais que ele seria um candidato possível para a Fifa. Como o senhor vê essa candidatura? Hilton: Seria excelente. O Zico é uma das maiores personalidades que temos no mundo do esporte, futebol, da política. Foi ministro do Esporte. Zico é um homem comprometido com a causa do futebol. Não teve a

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NORDESTE: A MP tem tido resistência da CBF de um lado, e por outro lado, o Bom Senso Futebol Clube queria ampliar as solicitações da MP. Como está sendo feito esse jogo no Congresso?

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Outra coisa é que os clubes não poderão comprometer receitas das novas gestões. Ou seja, um atual dirigente não pode comprometer receitas que são oriundas de direito de imagem, direito de fornecedores para gestão futura. Ele precisa fazer isso enquanto ele estiver na sua gestão, para que não comprometa a gestão do outro. Além das questões que envolvem a divulgação, tornar transparente através de balancete as movimentações financeiras, pagamento. Todas as prestações de contas terão que ser transparentes. E os clubes que não adotarem, não cumprirem essas contrapartidas sofrerão sanções, entre elas o rebaixamento.


alegria de ter ganhado uma Copa do Mundo, mas deixou um legado impressionante e tenho certeza que teria contribuições enormes para dar ao futebol mundial. NORDESTE: Mudando de assunto. O que podemos esperar das Olimpíadas de 2016?

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Hilton: Serão as maiores dos últimos anos. Pode ter certeza que vai superar Londres (17 medalhas), vai superar Pequim (15 medalhas), porque nós estamos muito focados. Existe hoje um investimento muito grande do governo federal na preparação dos atletas. Foi investido R$ 1 bilhão de reais na construção de centros de iniciação ao esporte, centro de formação olímpica, paraolímpica. Nós vamos entregar em São Paulo um centro de Formação Paraólimpica que é de excelência. Em Fortaleza vamos entregar o Centro de Formação Olímpica. Nós estamos com o programa Bolsa Atleta e dentro do Bolsa Atleta criamos o Bolsa Pódio, justamente

“Nós estamos com o programa Bolsa Atleta e dentro do Bolsa Atleta criamos o Bolsa Pódio, justamente para que esses atletas de alta performance tenham toda a preparação. existe uma equipe multidisciplinar, técnicos, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, dando toda a devida atenção e preparação para esses atletas e com isso nós acreditamos que o Brasil estará entre os 10 no pódio dos Jogos Olímpicos”

para que esses atletas de alta performance tenham toda a preparação... existe uma equipe multidisciplinar, técnicos, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, dando toda a devida atenção e preparação para esses atletas e com isso nós acreditamos que o Brasil estará entre os 10 no pódio dos Jogos Olímpicos e entre os cinco do Paraólimpico, já que o Paraolímpico tem tido um desempenho maior até que os Olímpicos (Nas Olimpíadas de Londres o Brasil ficou em 22º lugar no pódio geral, nas Paraolimpíadas ficou em 7º, com 43 medalhas). NORDESTE: De quanto é a Bolsa Pódio? Hilton: Ela começa em R$ 3,5 mil e pode chegar a R$ 15 mil. NORDESTE: Apenas para os atletas de ponta? Hilton: Somente para aqueles que têm chances reais de chegar ao pódio. NORDESTE: E o investimento para aqueles que estão começando? Hilton: O Bolsa Atleta hoje tem 7 mil atletas de todo país sendo treinados, com investimentos que começam no atleta de base, R$ 370 reais, e chega

até o atleta olímpico com R$ 3,5 mil. NORDESTE: Depois das Olimpíadas de Londres, o Brasil conseguiu aumentar o número de atletas com boa possibilidade de medalhas? Hilton: Tanto é que nós tivemos depois das Olimpíadas de Londres vários eventos internacionais e os nossos atletas têm tido um desempenho muito acima do esperado. O que nos leva a acreditar que vamos ter muitas surpresas. Principalmente no Handebol, que agora ganhou o Pan-Americano em cima dos cubanos. Nós estamos com uma expectativa muito grande na canoagem, que vem tendo um desempenho muito bom. O arco e flecha revelou o Marcos Vinícius, um menino que tem tido um desempenho muito grande. Além destes, temos o Vôlei, o Basquete, o Judô e a grande expectativa nossa que é que o futebol nos dê a primeira medalha de ouro. Tanto o futebol masculino, quanto o feminino. Então a gente tem tudo para ter um desempenho muito grande no próximo ano. NORDESTE: Quais as próximas perspectivas de investimento no esporte? Hilton: Nós temos o Sistema Nacional


NORDESTE: A grande reclamação dos atletas iniciantes é que eles precisam ter um emprego para se sustentar e não conseguem manter o treinamento para alcançar os índices mínimos. Esse Sistema vai conseguir, junto com o Bolsa Atleta, resolver essa questão? Hilton: O Sistema tem que definir também fontes de fomento, para que na iniciação o atleta não precisa abandonar a escola e não precise sair da sua cidade. Porque o que acontece hoje? Muitos são obrigados a sair das suas cidades porque não têm espaços adaptados, próprios, para a sua iniciação. Muitos garotos da Paraíba vão para o Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre. O que nós queremos é estabelecer essa rede nacional, que será parte desse legado, porque além do Sistema Nacional, você tem que ter também a Rede Nacional de Treinamento. Com esses equipamentos espalhados pelo país as chances do atleta se firmar na sua cidade, região, poder estudar, trabalhar, praticar e ter a iniciação será a base principal do sistema nacional. NORDESTE: Quando isso estará fun-

cionando efetivamente? Hilton: Já está sendo elaborada a proposta. Ela foi fruto de três conferências nacionais que o Ministério dos Esportes fez. Existe uma parceria com várias universidades federais de todo o país. Acadêmicos trabalham dia e noite elaborando o texto. Criamos agora um grupo de trabalho lá no Ministério que está elaborando e avaliando a minuta. Criamos uma comissão interministerial com o Ministério da Educação, já que vai tratar da educação física nas escolas, o ministro da educação Janine Ribeiro foi muito solícito. Eu quero entregar isso para o Congresso Nacional até setembro deste ano, justamente para a gente aproveitar esse momento do ciclo virtuoso do esporte no brasil. NORDESTE: Quer acrescentar mais algumas coisa? Hilton: Eu quero dizer que a Paraíba me surpreendeu. Eu vi nos paraibanos e vi também no governo do estado através da reforma do Ronaldão, do Almeidão e na Vila Olímpica, que é importante que a gente dê transversalidade a política do esporte. Ela não pode ser uma política de um governo, de um partido. Ela precisa ser uma política de estado e quero encontrar em outros estados aqui do Nordeste essa disposição dos governos de fazer parceria com a gente. Anunciamos agora recursos para compra de equipamentos. Ou seja, esporte tem que ser uma política de prevenção. Se ela for praticada com seriedade, com responsabilidade, serão menos crianças nas drogas, menos crianças com doenças provenientes da obesidade. Nós teremos uma sociedade mais tolerante, porque a prática esportiva disciplina. Torna o ser humano mais sociável, mais humano. Pensar no esporte não apenas como atividade de lazer e business, pensar no esporte como um grande indutor da formação do ser humano e também nas relações interpessoais. É isso que eu penso para o meu país e vou trabalhar toda a minha gestão para a gente tornar isso real e transversal em todo o país.

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de Esporte, que é uma Lei de Diretrizes e Bases que vai transformar definitivamente a prática esportiva no Brasil em algo perene. Não vai ficar dependendo de ciclos. Essa é uma lei importante porque vai seguir os mesmos moldes da educação. Você vai ter investimentos sendo administrados pela União, Estados e Municípios, no poder público. No setor privado, com as federações e clubes. Vamos definir também que a iniciação ao esporte se dará na escola, através da Educação Física obrigatória

em todas as escolas desse país. Isso vai desenvolver a cultura em nossos filhos, como era no passado em que você ia para escola, estudava e praticava educação física. Isso a médio e longo prazo vai transformar esse país numa nação que pratica o esporte de forma sustentável com planos decenais inclusive, há cada dez anos sendo votado no Congresso Nacional.

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“Nós temos o Sistema Nacional de Esporte, que é uma Lei de Diretrizes e Bases que vai transformar definitivamente a prática esportiva no Brasil em algo perene. Não vai ficar dependendo de ciclos. Essa é uma lei importante porque vai seguir os mesmos moldes da educação. Você vai ter investimentos sendo administrados pela União, Estados e Municípios, no poder público”


Cultura Bandas “Lucas e Orelha” e “Dois Africanos” despontam no cenário nacional após sucesso em apresentações de reality show

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O

cenário musical brasileiro é dinâmico. Este movimento permitiu que as bandas “Lucas e Orelha”, e “Dois Africanos”, saltassem, após 14 semanas de exposição na mídia, do quase total anonimato para o reconhecimento nacional. Liderada pelos dois integrantes mais jovens do reality musical SuperStar, Lucas, de 19 anos, e Rick (conhecido como Orelha), de 17, a banda “Lucas e Orelha” emocionou e divertiu boa parte do público ao longo da competição. O grupo de funk melody foi formado na Bahia em 2015 e, no Carnaval, chegou a se apresentar com Tuca Fernandes em Salvador. “Lucas e Orelha” acabou eleita a banda vencedora da segunda temporada do reality da Globo. Com uma pegada alegre e músicas autorais, os baianos superaram rivais, como as novas bandas integrantes do rock nacional, Scalene e Versalle, e o rap da banda “Dois Africanos”. Ivete Sangalo e Carlinhos Brown parabenizaram a dupla baiana após vitória no programa, que teve uma temporada com acusações de uso de playback. A história dos africanos é um pouco mais novelesca. Eles se conheceram em João Pessoa quando vieram fazer intercâmbio nas universidades da Paraíba e Ceará em 2012. Opai BigBig, natural do Benin, e Izy Mistura, do Togo, estudam na Universidade Federal da Paraíba e Universidade Federal do Ceará, respectivamente, mas passaram um tempo

Vertente negra “Lucas e Orelha” (acima) ganha reality, mas visibilidade atinge também “Dois Africanos”, que já tem álbum gravado

na capital paraibana em processo de adaptação da língua e da forma de vida. Vendo a desenvoltura melódica e carisma dos dois, uma professora sugeriu que eles poderiam montar uma banda. Assim, ao lado de músicos paraibanos, eles formaram a banda “Dois Africanos”. As roupas coloridas, a descontração e o swing, aliados a capacidade vocal, fizeram do grupo um das grandes atrações da programação dominical da “vênus platinada”. No entanto, antes de migrarem para o Brasil, BigBig e Izy já não se conheciam e tocavam em seus países. O estilo do grupo pode ser definido como World Hip-hop, influenciado por culturas e vertentes musicais de todo o mundo, uma mistura de rap, R&B e ritmos africanos. As origens dos vocalistas pode ser facilmente identificada nas letras feitas em inglês, francês, português e algumas línguas faladas na África - como Mina e Fon. No ano de 2013, a dupla lançou o clipe da música “Eu sou de lá”, gravada no Centro Histórico de João Pessoa,

principal acervo arquitetônico da Paraíba e marcado pelos casarões coloniais e construções com características barrocas, edificadas a partir da mão de obra de escravos africanos. A letra fala sobre as dificuldades e sonhos de quem vive além-mar. “Calor de um continente/ Trago lembranças pesadas na mente. Cada sonho tem um preço/ O meu me fez deixar minha terra, o meu lindo reino”, dizem dois trechos da canção.




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