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“Folhas do Caminho”

LIVRO

'Folhas do Caminho'

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WALTER OSSWALD APRESENTOU O SEU MAIS RECENTE LIVRO NA SRNOM

“A Ética é o pilar da Medicina” e são pessoas como Walter Osswald que relembram a todos os médicos que não basta ciência e conhecimento para uma “vivência quotidiana plena ao avaliar e tratar doentes”, salientou António Araújo, na sessão de apresentação do mais recente livro do Professor Walter Osswald, “Folhas do Caminho”. O professor de Bioética mostrou-se agradecido e destacou a “autenticidade” do presidente do CRNOM.

“Ética e Vida”, “Saúde, Ciência e Medicina”, “Quando a velhice se alonga”, “Vidas Exemplares” e “Historietas”. É desta forma que se divide a mais recente obra de Walter Osswald. O Salão Nobre do Centro de Cultura e Congressos da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos (SRNOM) recebeu a sessão de apresentação, com uma plateia composta por familiares, amigos e admiradores do autor. “Folhas do Caminho” dá nome ao novo livro, apresentado no dia 1 de julho e dedicado à sua esposa Domingas, “leitora fiel e paciente, crítica atenta e indulgente – este livro já era seu antes de o ser”. O presidente da Direção Nacional do Centro de Estudos de Bioética da Universidade Católica Portuguesa, Carlos Costa Gomes, iniciou a sessão e agradeceu a confiança depositada pelo autor na editora Cápsula de Letras. “É fácil falar do professor Walter, e ao mesmo tempo muito difícil, as palavras são sempre poucas. Agradeço “Não há Medicina sem Ética” a amizade, o companheirismo que nos une, os momentos de partilha, os ensinamentos que foi transmitindo e, acima de tudo, por nos incitar a ser melhores pessoas e mais competentes no que fazemos”, adiantou o investigador. CONVITE TRAIÇOEIRO O desafio de apresentar uma “obra de excelência” esteve a cargo de António Araújo, que descreveu este convite por parte de Walter Osswald como “trai-

Texto Catarina Ferreira › Fotografia Medesign

çoeiro”. Assumindo-se como “cientista”, o presidente do CRNOM recordou a amizade de há vários anos e a altura em que os seus caminhos se cruzaram, para justificar que “não tenho a erudição e sapiência necessária para avaliar e transmitir-vos essa avaliação que a obra merecia”. Ainda assim, foi através de “algumas linhas singelas”, numa análise com discurso simples e “humilde pragmatismo” que levantou a ponta do véu, encetando com a ideia de que “não há Medicina sem Ética”. “Este livro é o espelho do seu percurso de vida, do pensamento constante, coerente, aprofundado, inovador, fruto de investigação sistemática que o autor desenvolveu ao longo do tempo. Pensamento que abarca crítica e de forma multidimensional as grandes áreas temáticas da ética: a vida e a morte, a ciência, a saúde e a medicina, o envelhecimento”, adiantou António Araújo. Durante a apresentação, o presidente do CRNOM salientou alguns aspetos que considerou mais pragmáticos, como a definição de Bioética de Walter Osswald. “É a reflexão, debate, escuta, procura de soluções convenientes para problemas que afetem a liberdade, a dignidade e o bem-estar dos seres humanos”, citou. O professor catedrático jubilado da FMUP tratou ainda assuntos como a eutanásia, temas atuais como a influência da pandemia na vida das pessoas, particularmente nas mais idosas, a saúde, a ciência e a cultura na perspetiva da bioética. “O capítulo ‘Saúde, Ciência e Medicina’ aborda o tema polémico da dicotomia entre a ciência e as humanidades e apresenta a sua visão esclarecida, dizendo que só a interdisciplinaridade nos pode salvar. E aborda ainda a relação médico-doente, as suas questões éticas, as implicações do progresso técnico e os problemas que o direito fundamental dos doentes, a sua autonomia, acarreta”. António Araújo elogiou ainda a coragem do autor em se “aventurar por um caminho difícil e atual, analisando a questão e propondo uma política para a terceira idade”, no capítulo que trata o envelhecimento. Já em “Vidas Exemplares”, o autor evoca figuras incontornáveis da bioética em Portugal, como Luís Archer, Jorge Biscaia, Daniel Serrão e João Lobo Antunes, entre outros, defendendo que “estes, porque alto viveram, continuam vivos”.

CONTADOR DE HISTÓRIAS A obra termina com um tema especial, designado “Historietas”, escritas durante a reclusão domiciliária imposta pela pandemia e que, nas palavras do autor, são “ilustrações ou variações dos temas abordados nas quatro partes que as antecedem, imbuídos numa mensagem transversal, no fundo, uma declaração de amor”. “São pequenas narrativas de ficção com tema ético. Estes contos mostram uma outra faceta do Prof. Walter, o contador de histórias. Muitas escritas em 1952 que se leem com natural prazer, revelam um potencial escritor de romances, cenários imaginários mas verosímeis e que não deixam de ter questões éticas, morais, subjacentes aos temas mais queridos do autor enquanto cientista. Estes ensaios mostram um autor versátil, que consegue discorrer desde o considerado romance histórico, sempre com uma mensagem bioética conexa e subjacente, que vai do suicídio ao envelhecimento, do amor à dignidade humana, da ciência ao abortamento, do divórcio à eutanásia”, descreveu António Araújo. O presidente do CRNOM admirou a índole “atual, profunda e corajosa” da obra e recomendou a sua leitura, porque “vale realmente a pena”. Foi com um enorme sentimento de “gratidão enternecida” que Walter Osswald iniciou a sua intervenção, dirigindo-se a todos os que compunham a plateia. Admitindo que é “penoso” ouvir falar bem de si nestas ocasiões, o autor considerou “exagerada a generosidade” de António Araújo pela sua “pobre obra”. “O meu convite talvez tenha sido ‘traiçoeiro’, mas foi muito bem pensado, como se comprovou. Eu conheço o professor António Araújo há largos anos, leio o que escreve e estou quase sempre de acordo com ele. Tem uma paixão pela verdade, por dizer o que pensa, sem qualquer cobardia ou hesitação. Nem mesmo por assumir o cargo de presidente do CRNOM. Por isso, sabia que seria a pessoa indicada para fazer esta apresentação, precisamente pelas suas qualidades: autenticidade, inteligência, fidelidade ao pensamento científico e humano. Como ele diz, “a Medicina não pode existir sem ética”. E ele diz e pratica isso na perfeição”, reforçou Walter Osswald. No final da sessão, o médico e professor catedrático jubilado assumiu ainda estar “inteiramente de acordo” com António Araújo quando este diz que alguns textos são declarações de amor. “É verdade, porque com a idade que tenho, continuo a amar as pessoas – amo a pessoa humana, acredito no seu valor e na sua nobreza, na bondade do homem e na semente que existe em todo o ser humano. Por isso, confirmo que o diagnóstico clínico cardiotorácico do Prof. António Araújo está certo, e que poderá ser ridículo que eu faça uma declaração de amor, pois como diz o poeta, todas as cartas de amor são ridículas”, declarou. Walter Osswald foi aplaudido de pé, num testemunho de admiração dos presentes. n

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