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Obras na SRNOM

TRABALHOS DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO FEITOS AO ABRIGO DE UMA PARCERIA COM A ESCOLA DAS ARTES DA UNIVERSIDADE CATÓLICA, PORTO

Restauro dá nova vida a tetos da SRNOM

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Estuques do edifício sede da SRNOM e esculturas antigas dos jardins foram restaurados

O edifício sede da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos tem sido alvo de várias intervenções de melhoria. Durante este trimestre, foi a vez dos tetos dos gabinetes serem restaurados por alunos da licenciatura em Conservação e Restauro da Universidade Católica Portuguesa, no Porto. A Nortemédico acompanhou todo o processo, desde o início dos trabalhos até à observação do resultado final das intervenções. Fique a conhecer o antes e o depois e deixe-se surpreender.

Texto Catarina Ferreira › Fotografia Medesign

Cuidar, preservar e melhorar a estrutura e o património continua a ser uma prioridade para o Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos (CRNOM). Nesse sentido, durante este trimestre, levou a cabo, de forma empenhada, mais uma ação de renovação no edifício sede da SRNOM. “Os nossos tetos já tinham alguns sinais de degradação e estavam a precisar de uma intervenção cuidada, que desse garantias de conservação. O objetivo principal foi sempre preservar o património e a arte desta estrutura tão importante e valiosa”, relatou a diretora de serviços, Susana Borges. Conhecedora do trabalho de qualidade executado pela equipa responsável pela licenciatura em Conservação e Restauro da Escola das Artes da Universidade Católica, Porto, aquando da inauguração da exposição “Retratos de Médicos na obra de Abel Salazar”, promovida pelo Museu Maximiano Lemos da FMUP, em novembro de 2018, a SRNOM estabeleceu um protocolo com aquela escola. “Procuramos um serviço exemplar, de intervenção mínima, mas com garantias de qualidade e melhoria evidentes. E encontramos nesta equipa o parceiro ideal para colaborar connosco nesta missão de restauro. Este protocolo, estabelecido entre a SRNOM e a Escola das Artes da Universidade Católica, revela inúmeras vantagens para os alunos, que tiveram a oportunidade de receber formação prática num local como este, e também para o CRNOM que vê assim mais uma etapa concretizada com toda a dedicação”, assumiu Susana Borges. Em meados de outubro iniciou-se o processo de restauro. “Lancei o desafio aos alunos do 1º ano do curso de Conservação e Restauro, porque do ponto de vista técnico pareceu-me uma excelente oportunidade para conjugar a parte teórica e prática da formação”, começou por explicar a Prof.ª Eduarda Vieira, a docente que coordenou os trabalhos, em colaboração com as assistentes Cristina Basto e Joana Guerreiro, que acompanharam os alunos. Entre os meses de outubro e dezembro, os 24 estudantes foram divididos em três grupos e deram início ao restauro dos tetos de duas salas da SRNOM e das esculturas que se encontram no exterior.

ESTUQUES DE REVESTIMENTO E DE ORNATO MANTÊM-SE COMO HÁ 100 ANOS A recuperação dos tetos, de gramática romântica com elementos da Arte Nova, fazia parte do compromisso do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos (CRNOM) para este mandato. Em parceria com a Escola das Artes da Universidade Católica do Porto foi possível dar início ao processo, que contemplou duas salas do edifício Sede. O edifício data de 1912 e o programa original dos tetos recorda tons coloridos, que mais tarde foram uniformizados para cores mais neutras, mantendo os dourados e os traços do Romantismo. “Quando a SRNOM adquiriu a casa, os tetos já tinham esta decoração e nunca mais foram intervencionados. Quando começámos, fizemos uma janela de intervenção e descobrimos que esta tinta que está aqui é de um programa decorativo, à base de plástico, e foi

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“Lancei o desafio aos alunos do 1º ano (…) pareceume uma excelente oportunidade para conjugar a parte teórica e prática da formação”

PATOLOGIAS IDENTIFICADAS: A – Presença de partículas, sujidades e poeiras; B – Formação de fendas e pequenas fissuras; C – Destacamento parcial da camada cromática.

TRATAMENTO CURATIVO: 1 – Consolidação (aplicação de resinas de fixação) 2 – Limpeza (húmida, mecânica e química); 3 – Preenchimento de lacunas e reparação de fissuras (aplicação de massa de reintegração); 4 – Pintura (reintegração e uniformização cromática com recurso a tinta, guaches e cera para dourar).

A intervenção de conservação e restauro dos estuques foi realizada entre os dias 28 de outubro de 2021 e 13 de janeiro de 2022 por alunos do curso de Conservação e Restauro da Escola das Artes da Universidade Católica do Porto, sob orientação de Prof.a Eduarda Vieira, docente na instituição, em colaboração com as assistentes Cristina Basto e Joana Guerreiro.

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avaliamos o estado da tinta, influenciada por alterações de temperatura e humidade, com destacamentos proeminentes em determinadas zonas. Então fizemos a fixação desse “destacamento” através de uma resina acrílica, que funciona como adesivo. Tudo em proporções muito subtis, mas de modo a tornar-se eficiente e aproveitar o que já existia. A nossa atuação enquanto restauradores preza pela intervenção mínima e somente naquilo que é realmente necessário, para se respeitar o material”, confirmou Gabriel Vasconcelos, um dos alunos envolvidos no projeto. Só após a estrutura estar consolidada, avançaram para a pintura, sempre com o objetivo de afinar o tom existente e uniformizar a cor, respeitando o jogo de claros e escuros. “São tetos muito detalhados e fizemos um grande Também as estatuetas em faiança espalhadas trabalho de retoque nos doupelo exterior (provenientes da histórica Fábrica de rados, com uma cera própria, S.to António de Vale da Piedade, fundada em 1784) aplicada com o dedo. É uma estão a ser restauradas. intervenção muito minuciosa, que requer sensibilidade e aplicada por cima da original, antes grande atenção”, acrescentou Joana da SRNOM ter adquirido a casa. Não Freitas, também estudante da licenarriscámos destacar toda esta tinta ciatura em Conservação e Restauro. porque não sabíamos o estado da tinta que estava por baixo nem o que iría- RESULTADO É MOTIVO DE mos encontrar. Este é um programa, ORGULHO do ponto de vista formal, típico do Manter a beleza e respeitar os traços século XIX, quando o estuque se in- dos tetos era uma das principais priodustrializa e torna-se possível fazer ridades do projeto. Para as orientadoelementos e ornatos fora para depois ras e alunos, a experiência não podecolar nos tetos. Ao tentarem aprovei- ria ter sido mais positiva, até porque tar o espaço, com as alterações que tiveram a oportunidade de a vivenciar fizeram no edifício, influenciaram as como “verdadeiros restauradores”. E artes integradas já existentes”, expli- perante o resultado final, também o cou a responsável do projeto. CRNOM demonstrou a sua gratidão pelo trabalho executado, que a todos RESPEITAR O MATERIAL E deixou surpreendidos. Já o restauro DEVOLVER A BELEZA ORIGINAL das esculturas do jardim, obras da Nesse sentido, o primeiro passo foi histórica Fábrica de Santo António avaliar os danos e estado de conserva- de Vale da Piedade, esse ainda contição, para elaborar um plano de ação. nua. As condições climatéricas e o esDepois de identificarem as fissuras e tado de conservação das obras exigiu outros defeitos, os alunos procederam mais algum tempo, mas tudo ficará à limpeza da estrutura. “De seguida pronto em breve.

Alçado posterior do edifício (CMP)

Fachada do edifício (CMP)

UM PALACETE DE ESTILO BEAUXARTIANO COM 100 ANOS DE HISTÓRIA

Adquirido em 1982 pelo CRNOM, o palacete da Quinta de Arca d’Água foi ainda nesse ano sujeito a obras de recuperação e adaptação por forma a reunir condições para a instalação da nova Sede da SRNOM. O imóvel, originalmente construído no início do séc. XX, pertenceu à família Riba d’Ave e, apesar dos seus mais de 100 anos de história, preserva ainda o seu projeto original, com poucas adaptações a nível estrutural. Tal como os estuques que decoram as paredes e tetos de algumas das salas do edifício que, apesar de assumirem atualmente tons cromáticos mais neutros, no essencial, mantêm a sua originalidade. São portanto estruturas ornamentais que devem ser interpretadas como parte integrante e indissociável da arquitetura e contexto artístico do próprio edifício. O palacete da Quinta de Arca d’Água, cuja licença de obra data de 1912, enquadra-se nas correntes artísticas de fácies eclética, muito em voga no Porto durante os princípios do século XX. No entanto, são sobretudo os modelos franceses, especialmente de gosto Beauxartiano, que melhor caracterizam este edifício. Através de referências encontradas na Memória de Projeto (“Os tectos serão estucados a gesso e ornamentados como é de uso em obras d’esta natureza” – [S.a.], 1912, p. 98), confirma-se que os tetos de estuque presentes no edifício sede da SRNOM resultam de um programa coevo à construção do próprio edifício e não de uma reforma posterior. Cada uma das salas do piano nobile apresenta estuques com diferentes complexidades e gramáticas decorativas, provavelmente em consonância com a função a que os espaços se destinavam. Do ponto de vista estilístico, oscilam entre o neorrococó e um classicismo de feição Beauxartiana, indo, em certa medida, de encontro à mesma linha arquitetónica do palacete. n

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