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“Vozes que (se) contam olhares cruzados sobre Cuidados Paliativos”
Doentes, cuidadores, profissionais de saúde, estudantes. Mais de 30 autores abraçaram este projeto com toda a sua “generosidade” e contribuíram para a obra “Vozes que (se) contam: olhares cruzados sobre Cuidados Paliativos”. O livro foi lançado no Salão Nobre da SRNOM no dia 24 de fevereiro pelas coordenadoras Elga Freire e Susana Magalhães e apresentado pelo representante do CRNOM, Carlos Mota Cardoso.
Texto Catarina Ferreira › Fotografia Medesign
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APRESENTAÇÃO DE LIVRO
“Trata-se de uma obra singular, composta por narrativas que revelam a importância da escuta atenta, da presença, da relação terapêutica em cuidados paliativos. Cada texto é uma janela, um ponto de partida para o conhecimento co-construído, para o lugar onde as humanidades e as ciências biomédicas se intersetam: a pessoa, que habita romances e poemas, filmes e pinturas, música e ensaios clínicos, arte e ciência. As Vozes que (se) contam são de profissionais de saúde, doentes e cuidadores, olhares que se cruzam para revelar a essência do cuidado”. É desta forma que as coordenadoras descrevem a obra publicada pela editora Parsifal com o apoio da Angelini Pharma e da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI).
OBJETIVO COMUM “Vozes que (se) contam: olhares cruzados sobre Cuidados Paliativos” dá nome à obra coordenada por Elga Freire, médica internista e coordenadora da equipa intra-hospitalar de suporte em Cuidados Paliativos do Centro Hospitalar e Universitário do Porto (CHUP), e Susana Magalhães, especialista em Bioética em Medicina Narrativa e coordenadora da Unidade de Conduta Responsável do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (I3S). Apresentado no dia 24 de fevereiro, no Salão Nobre da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos (SRNOM), o livro foi escrito
a várias mãos, mas com um objetivo comum: as pessoas e o ato de cuidar. “Tenho o privilégio de coordenar uma equipa de cuidados paliativos que diariamente vivencia histórias que não ficam registadas nos processos clínicos, mas deveriam. Portanto, desafiei a minha equipa, outros médicos internistas que trabalham em cuidados paliativos, doentes, cuidadores, alunos de Medicina a escreverem relatos do nosso dia-a-dia. E resultou num livro com testemunhos, não só de profissionais, como também de cuidadores e doentes”, adiantou Elga Freire.
O ATO DE CUIDAR
Para a coordenadora do Núcleo de Estudos de Medicina Paliativa (NEMPal) e professora auxiliar convidada do Instituto de Ciências
Biomédicas Abe Salazar (ICBAS), é muito “gratificante” trabalhar nesta área, em que os cuidados paliativos fazem “toda a diferença” e são reconhecidos por doentes e cuidadores. Atenta às “narrativas da doença, de quem adoece, cuida e dos profissionais”, também Susana Magalhães se associou ao projeto, tratando da organização da estrutura e do fio condutor da obra. “O resultado é elucidativo da riqueza dos Cuidados Paliativos que são prestados em Portugal. A obra tem uma visão ampla e tem experiências distintas, mas, no fundo, a mensagem é a mesma: nós só podemos cuidar se houver relação. Todas as métricas e evidência científica são importantes, mas sem relação não se cuida”, reforçou a coordenadora do Grupo de Estudos e Reflexão em Medicina Narrativa (GERMEN).
Na sessão de apresentação da obra,
Elga Freire agradeceu a “generosidade” dos cerca de 30 autores que deram o seu contributo e abraçaram o projeto, desde doentes e cuidadores a profissionais de saúde.
Entre os agradecimentos, destacou o apoio da SRNOM na cedência do espaço, constituindo um “orgulho” lançar o livro na “casa de todos os médicos”. Carlos Mota Cardoso, representante do CRNOM, aceitou o desafio de apresentar a obra, numa sessão que contou ainda com a presença de Lèlita Santos, presidente Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.
“MEDICINA É AMOR” “Embora pareça, este não é um livro simples. Em primeiro lugar, a obra está admiravelmente escrita. Todas as histórias se revelam de excelência. Impossível apreciar uma linha estética definida, pois autores tão diversos, ocupando tão longa escala etária e cultural, têm, naturalmente, estilos próprios e experiências de vida pessoal e clínica variadas. São mais de 30 autores que abrem ao mundo radiosas janelas de esperança e erguendo o Homem ao sublime patamar da transcendência. É aí que reside a verdadeira essência do amor e a Medicina também é amor. Porém, um eixo transversal liga todos estes autores. Honraram a essência da Medicina colocando os sofrentes no centro das suas preocupações”, começou por comentar Carlos Mota Cardoso. O médico psiquiatra analisou a “essência” do livro tendo em conta a sua forma e conteúdo, elogiando a “compaixão” e a “escrita humana”. Antes de terminar, o vogal do CRNOM considerou esta uma obra de “extrema utilidade” para a Medicina Paliativa e a Medicina em geral. “Mergulhar neste livro é mergulhar na essência dos cuidados de saúde. Na verdade, as narrativas deste livro manifestam que só há cuidado quando nós somos capazes de estar e de sermos presentes com quem, pela sua situação de vulnerabilidade, nos permite ser mais profundos. Encontrei, neste livro, a Medicina Narrativa em ação, ou seja, os testemunhos que estão aqui não são só representações do que se vive no contexto dos cuidados paliativos, mas são também ferramentas que alicerçam esses mesmos cuidados. Essas narrativas, que são contadas a várias vozes, concretizem os objetivos da Medicina Narrativa, que são a atenção ao outro, a representação do que nós experienciamos e testemunhamos, que são a construção de afiliação entre todos os intervenientes”, acrescentou Susana Magalhães. A autora do prefácio do livro abordou ainda a “humildade narrativa” dos autores, a importância dos cuidados paliativos como “pilares dos cuidados de saúde” e concluiu expressando o desejo de que a leitura destas páginas seja “uma oportunidade de encontro e sabedoria em tempos de incertezas e desafios”. n