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“Ser Médico em Portugal”
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Uma visão da Medicina portuguesa
Texto Catarina Ferreira › Fotografia Medesign 30 profissionais foram desafiados a partilhar como sentem e perspetivam o seu presente e futuro, num testemunho partilhado no livro “Ser Médico em Portugal”. A obra coordenada por Álvaro Carvalho, Germano de Sousa e Jaime Branco, faz um retrato da profissão e do estado da saúde no país através das reflexões de médicos de várias gerações e especialidades, com experiência no exercício da profissão dentro e fora de Portugal, no setor público e no setor privado.
“Considerando a realidade atual do sistema de Saúde, é essencial perceber como perspetivam e sentem os médicos, o seu presente e o seu futuro”. Foi este o objetivo que presidiu à escrita do livro “Ser Médico em Portugal”, apresentado no dia 7 de dezembro na Sala Braga do Centro de Cultura e Congressos da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos (SRNOM). “Este conjunto de textos aqui publicados, escritos por médicos de várias especialidades, refletem a sua experiência pessoal, e apontam caminhos para uma reforma do sistema que devolva a liderança do mesmo aos médicos, e coloque, de novo, o doente no seu centro”, pode ler-se na sinopse da obra.
REFLEXÕES COM PROPOSTAS A obra, coordenada por Álvaro Carvalho, Germano de Sousa e Jaime Branco, faz um retrato da profissão e do estado da saúde no país através das reflexões de médicos de várias gerações e especialidades, com experiência no exercício da profissão dentro e fora de Portugal, no setor público e no setor privado. Entre as propostas apresentadas no livro estão a necessidade de reformular os centros de saúde e a criação de concursos em permanência para recrutamento de médicos, colmatando as necessidades em especialidades e regiões problemáticas. Reflete-se ainda sobre a premente necessidade de salvaguardar a experiência no SNS, que se poderá perder com a aposentação de profissionais
ou a sua saída por outros motivos, assegurando a formação de jovens médicos nos serviços. A apresentação do livro ficou a cargo de Altamiro da Costa Pereira, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), que elogiou o “contributo específico” dos autores sobre o tema. “É um livro que se lê com muita facilidade e tem uma panóplia de perspetivas sobre o estado atual da Medicina em Portugal, desde a humanização, a tecnologia, a relação médico-doente, o desânimo na profissão, as diferenças entre as várias gerações, entre outros temas. Até porque esta questão da crise no SNS não está separada do que se passa no país, é transversal a outros países da Europa com que partilhamos circunstâncias comuns, como o envelhecimento da população, literacia em saúde e formação”, completou. Para o diretor da FMUP, enquanto os médicos mais experientes falam de um “passado dourado” e de condições atrativas que “deixaram de existir”, os mais novos “estão a fugir e tentam encontrar outras saídas, seja no privado ou estrangeiro, oportunidades de crescimento técnico e humano que já não descobrem aqui”. Assumindo que não é um livro que nos deixe reconfortados, antes preocupados, Altamiro da Costa Pereira considera este “um excelente contributo para um diagnóstico mais amplo e claro, com perspetivas complementares, sem grandes divergências. O que está a faltar são dirigentes políticos e uma sociedade civil que se empenhe na implementação e execução de reformas na saúde. Para que se devolva a alma ao sistema de saúde nacional e à profissão”, concluiu.
ATUAL SITUAÇÃO DA FIGURA DO MÉDICO Nesta sessão, os coordenadores da obra fizeram vários agradecimentos aos autores presentes e explicaram como foi concebida. “Qual é o papel do médico hoje em Portugal?”, “Qual é o papel social do médico?”, “Como a sociedade vê o médico?” e “Como o médico vê a sociedade?” foram as principais questões que serviram de “Para melhor refletir sobre as possíveis perspectivas de futuro dos médicos numa desejada e urgente reforma da saúde [surge] esta coletânea de textos que, escritos por médicas e médicos de todo o país, nos dão essa visão.”
Germano de Sousa, do Prefácio
“Nestes mais de 40 anos, a função social e ética da Medicina manteve-se. Mas perpetuar estruturas inalteráveis não é garante de que nos próximos anos se cumpra aquilo que nós, médicos, desejamos, quer para a nossa profissão, quer para a qualidade da assistência médica que devemos exigir para Portugal.”
Jaime Branco, em «As Exigências para ser Médico em Portugal, hoje»
ponto de partida de cada testemunho. “Este livro é como uma radiografia da atual situação da figura do médico em Portugal. Uma realidade complicada e triste, em que o orgulho que tanto temos na nossa profissão é colocado em causa. Mais do que uma profissão, é uma forma de ser e, infelizmente, têm-nos deixado cada vez mais de lado. Por isso, ou o sistema dá uma grande volta ou não seremos capazes de continuar a cumprir os códigos deontológicos e de ética, os únicos que neste momento nos fazem continuar com esforço e resiliência. Mas que apesar disso, não é um papel reconhecido. Considero que é altura de dizer basta e este livro reforça isso, uma vez que fez uma auscultação à classe médica”, revelou Germano de Sousa, antigo bastonário da Ordem dos Médicos e autor do prefácio. Também Álvaro Carvalho, especialista em Medicina Interna e escritor, partilhou a sua experiência na coordenação e revisão da obra e revelou que ficou satisfeito com os resultados e qualidade dos textos, que revelam a preocupação dos autores. “Mostram uma visão da Medicina em Portugal hoje, e há duas preocupações comuns: a degradação dos cuidados assistenciais e a desvalorização do papel do médico”, resumiu. Para Jaime Branco, especialista em Reumatologia e candidato a bastonário da Ordem dos Médicos, o livro tem ainda “perspetivas para o futuro e pode ser lido por médicos e não médicos”, concluiu.
ÁLVARO CARVALHO: Especialista em Medicina Interna. Presidente da Fundação Álvaro Carvalho e membro do Conselho Nacional de Ética e Deontologia da Ordem dos Médicos. Licenciado pela Faculdade de Medicina da Universidade Clássica de Lisboa em 1975.
GERMANO DE SOUSA: Ex-Bastonário da Ordem dos Médicos. Professor Universitário e Director de Serviço Hospitalar.
JAIME BRANCO: Assistente Hospitalar Graduado Sénior de Reumatologia do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE (CHLO) e Professor Catedrático da Universidade Nova de Lisboa (UNL). Diretor do Serviço de Reumatologia do CHLO, no Hospital de Egas Moniz e prática de Clínica privada. Regente das unidades Curriculares de Saúde Pública e Epidemiologia e de Dor (opcional) do Mestrado Integrado em Medicina; investigador Principal do CHRC - Comprehensive Health Research Centre e membro do Conselho Cientifico da NOVA Medical School, UNL. Membro do Conselho Geral da UNL. Licencido pela Faculdade de Medicina da Universidade Clássica de Lisboa, em 1978. n