BEM-ME-QUER
SETE RECORTES DE AMOR E MÁGOA (PACTUM CELERIS)
MARCELO SOUSA
1.
A praça digital iluminada para os tolos venderem barato as suas (nossas) intimidades, enquanto abutres e ratos traficam pérolas, alugadas aos corvos ou dadas de graça aos porcos.
[Tudo vale. Menos o ouro enterrado em tua alma feita de carvão.]
2.
A fotografia desses dias intranquilos mostra uma paz de Pirro.
O circo pegará um fogo-fátuo de chamas azuis brilhantes. Respostas certas escorrerão pelos esgotos da boa intenção. Não há poesia no mingau que escorre pelos cantos da boca de cada anjinho caído deste céu sem estrelas.
[Todo silêncio é beneficiado por um estampido, um estalo. Todo amor sincero reside na ponta do chifre de qualquer cavalo.]
3.
Na falta de purpurina e celofane, usemos asas de barata. Tudo vale para alcançar aqueles céus de prata.
[Oremos.] 4.
Calcificaram nossas palavras, na esperança de capturar-nos a alma numa tela pouco iluminada.
Amar é recolher provas. Registrar contratos. Arregimentar testemunhas.
[Só é possível sentir-se completo tendo a carne do outro sob as unhas.]
5.
Relicários de mágoa, guardados com delicado zelo, como a fotografia de uma tela onde as tintas jamais deveriam estar.
[Tudo o que é concreto desfaz-se sem pressa no ar.] 6.
Hipopótamos dançam na cabeça de um alfinete. Não pergunte. A verdade não interessa. Intuir, imaginar... A conclusão precipitada nem sempre advém da pressa.
[Sapos viscosos sabem de tudo, na sua inteligência pegajosa de afirmar que é viva a mosca fluorescente que Deus ainda nem criou.]
7.
Mas o amor existe, resiste. Ou ao menos o amante subsiste na certeza de que estamos todos perdidos.
[Quando o incerto é vigente, perder-se é a única saída.]
Rio de Janeiro, 04 de Setembro de 2013. "Pacta sunt servanda."