MARCELO SOUSA
O VELHO INFANTE POESIA
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O VELHO INFANTE POESIA
MARCELO SOUSA
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DADOS INTERNACIONAIS PARA CATALOGAÇÃO (CIP)
O Velho Infante – POESIA Sousa, Marcelo – Rio de Janeiro, 2014. 1. Poesia brasileira. I. Poesia. II. Título. 2. Literatura infanto-juvenil.
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POEMAS
A TARTARUGA ........................................................................................................................................................ 10 O VELHO INFANTE.................................................................................................................................................. 11 BRINCO .................................................................................................................................................................... 12 OBOÉ........................................................................................................................................................................ 13 PALAVRÃO .............................................................................................................................................................. 14 TEMPESTADE .......................................................................................................................................................... 15 GIRAFA..................................................................................................................................................................... 16 A BORBOLETA ........................................................................................................................................................ 17 BOM DIA .................................................................................................................................................................. 18 O SAPO .................................................................................................................................................................... 19 COISAS DE MENINA ............................................................................................................................................... 20 COISAS DE MENINO ............................................................................................................................................... 21 O HOMEM DO LIXO................................................................................................................................................ 22 CARIMBO................................................................................................................................................................. 23 AS FORMIGAS ......................................................................................................................................................... 24 OCRE ........................................................................................................................................................................ 25 LEITE DE CAIXINHA ................................................................................................................................................ 26 O ABRAÇO ............................................................................................................................................................... 27 OLHOS AZUIS.......................................................................................................................................................... 28 NAMORADA ............................................................................................................................................................ 29 TODA PALAVRA ...................................................................................................................................................... 30 A GARÇA .................................................................................................................................................................. 31 AMARELO................................................................................................................................................................ 32 AZUL ........................................................................................................................................................................ 33
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Para vocĂŞ, Pedrinho. E para os seus, quando vocĂŞ crescer.
[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
Poesia não se explica. Muito menos pra crianças. Isso nós precisamos aprender. Disso elas já nascem sabendo.
[Que esse livrinho tão pequenino cresça dentro de cada um de nós.]
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[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
A TARTARUGA Vou te contar uma coisa que escutei no caminho: tartaruga é bicho esperto, traz a casa para a beira do mar ou sobe a montanha com seu castelo. No verão as tartaruguinhas comem alface. No inverno comem a flor do girassol e ficam com a língua amarela. Vou te contar uma coisa que escutei no caminho: as tartarugas falam com os olhos, quando piscam, estão conversando sem fazer nem um barulhinho. A tartaruga é o bicho que vai mais longe (na vida) porque vai devagar, bem devagarinho.
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[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
O VELHO INFANTE O que é um infante? Infante é quem está aprendendo a ser gente, a ser grande, a ser maior. Então infante é criança? Isso, criança. Menino. Mas infante é mais bonito por que é palavra antiga que tem sempre cara de nova. (Todo velhinho é, no fundo, um infante aprendendo na escolinha da vida a responder de um jeito diferente as perguntas da mesma prova.)
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[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
BRINCO Brinca de colocar na ponta da orelha um verso bonito, uma cantiga soprada pelo vento que entra pela janela. Brinca de catar no céu ou no mar estrelas e trazê-las pertinho dos ouvidos, uma de cada, pra deixar mais bonita quem já era a mais bela.
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[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
OBOÉ A moça sopra de olhos fechados mas sem fazer força. Parece o beija-flor nas azaleias. Parece pardal tomando banho na poça. Depois do sopro, ou junto dele a sala ficou feliz, as samambaias aplaudiram de pé. Aprendi num sonho que alguns anjinhos tocam harpa, mas outros gostam mais do oboé.
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[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
PALAVRÃO Meu vovô português dizia muitos palavrões. Aprendi todos depois desaprendi. Vovô me ensinou que as palavrinhas são melhores mesmo que nem sempre mais fáceis, ainda que nem sempre sejam doces, mostram que há sempre um sim escondido dentro de um não.
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[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
TEMPESTADE Em dia de chuva forte os trovões fazem festa no céu e as plantas da terra dizem amém. Engraçado é que minhas tias quando veem os raios e escutam os trovões fazem o sinal da cruz também.
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[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
GIRAFA A girafa dorme em pé mas nunca se cansa. Dizem que ela já era grande mesmo quando criança. As girafinhas, com seus pescoços longos vivem conversando com os passarinhos e descansam a cabeça nos ninhos como se fossem seus. As girafas mais velhas que tem o pescoço longuíssimo andam com a cabeça nas nuvens e passam os dias conversando com deus.
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[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
A BORBOLETA Uma borboleta coloca um ovo, que vira lagarta, que vira um casulo, que vira borboleta, e come莽a tudo de novo. De repente a vov贸 era uma borboleta que de menina foi ficando velhinha e precisou trocar a sua casca pra voar por outros caminhos.
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[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
BOM DIA Café com leite. Cafuné na cama. Pão quentinho. Correr de pijamas. O palhaço na televisão mandando escovar os dentes. A roupa da escola bem limpinha e na manhã fria um banho de água quente. A gente aprende cedinho que dar bom dia é fazer carinho. Todo bom dia é uma festa. Bom dia é bom como beijinho na testa.
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[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
O SAPO A nuvem passou. A chuva passou. E quando fui fazer um poema sobre o sapo, ele pulou.
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[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
COISAS DE MENINA Domingo na feira, escolher morangos bonitos. Depois na praรงa, empinar papagaio com meu irmรฃo.
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[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
COISAS DE MENINO Domingo na feira, escolher morangos bonitos. Depois na praรงa, empinar papagaio com minha irmรฃ.
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[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
O HOMEM DO LIXO O moço que leva embora o lixo passa aqui na minha rua bem cedinho. Seu caminhão azul parece uma baleia devorando sacos grandes e pequenos de todas as cores que você possa imaginar. [Será que na barriga da baleia de metal o lixo vira outra coisa e deixa de cheirar mal?] O moço que leva embora o lixo passa aqui na minha rua bem cedinho. Seu caminhão azul sobe a ladeira e some, a barriga cheia de sacos grandes e pequenos de todas as cores que você possa imaginar. [Será que o moço que leva embora o lixo é o mesmo que pinta o arco-íris no céu?]
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[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
CARIMBO As meninas escaparam da escola e passaram batom no caminho do cinema. Os rapazes que assistiram ao filme puderam ser facilmente identificados. As garotas de boca pintada deixaram os guris todos carimbados.
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[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
AS FORMIGAS Elas andam em fila como soldados. Cada uma sabe seu lugar, e muito educadas, quando se encontram não esquecem de se cumprimentar. Mas houve uma formiga que desejou ver mais do mundo. Juntou um grão de açúcar, limpou as anteninhas, e pôs as perninhas a trabalhar pelo caminho. Foi longe, longe, a formiguinha. Viu coisas que suas amigas jamais verão. Dizem que entre suas colegas de batalhão sua lenda ainda é contada: a formiga que saiu da fila e descobriu o mundo tendo ela mesma se perdido. Pra sorte de algumas formigas certos soldados não fazem questão de fazer sentido.
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[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
OCRE Ocre é uma cor velha e bonita como o pôr do sol. Eu não nasci sabendo seu nome mas nem por isso o crepúsculo perdeu seu matiz. Aliás, crepúsculo e matiz eu aprendi agora. Matiz é cor. Crepúsculo é esse tempo em que o sol vai dormir. É por acaso o ocaso das horas. E ocaso é... Ah, nem vem ao caso contar. Mas ocre é palavra nova que define uma cor antiga que a gente nem sempre ouve falar. É como o sol posto. Não vemos mais seu rosto mas sabemos que está lá.
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[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
LEITE DE CAIXINHA Meu tio contou que no seu tempo de crianรงa o leite chegava sempre num saquinho. Passei o dia pensando nisso. Hoje, com o leite na caixa deve dar um trabalho imenso tirรก-lo de dentro da vaquinha.
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[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
O ABRAÇO Ganhei muitos abraços no meu aniversário. De todos os presentes acho que esses foram os melhores: os abraços. É que a roupa rasga, o brinquedo quebra, mas o abraço ensina. E eu aprendi. Abraços não se gastam nunca por que abraço se troca, não se pode reter. Na mesma hora que se ganha um abraço a gente tem que devolver.
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[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
OLHOS AZUIS Essa pergunta me apareceu num sonho: serĂĄ que a menina de olhos azuis enxerga o cĂŠu castanho?
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[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
NAMORADA Dar meia-volta na ciranda. Dizer que é branco o breu. Toda namorada primeira é metade inteira de amiga: foge, caça, beija e briga; sabe que ainda sou menino ainda que eu mesmo já nem saiba que menino ainda sou eu.
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[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
TODA PALAVRA Tem palavra que não sei, que não conheço. Tem palavra que não vi, nem sei seu preço. Mas toda palavra, eu sei que tenho, terei, posso, mereço. Porque toda palavra que ainda não aprendi já é minha, eu já conheço.
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[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
A GARÇA A garça com sua graça de ave de prata cinzenta diz baixinho que não trouxe os filhinhos dos homens. A garça diz com carinho o segredo que mamãe e papai queriam contar: todos os bebezinhos são trazidos ao mundo nas asas bonitas do milagre de amar.
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[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
AMARELO Quente (mas nem tanto) é a cor mais bonita que num espanto encontra o azul da lua que já se vai. Quente (mas nem tanto) é a mão que assim como um manto cobre a minha testa fria, enquanto sua voz morna me acorda, me puxa devagar dessa terra de sonhos, como uma corda puxa, repuxa, e ao rebocar meu sonho chama: filho, já é hora de acordar. Quente (mas nem tanto) é a cor do som mais belo quando o dia – todo dia – nasce e ela de mansinho aparece com seu sorriso franco ensinando que o sol, singelo está lá fora, chamando, lindo, imenso: amarelo!
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[ O Velho Infante, de Marcelo Sousa ]
AZUL A roupa do marinheiro é branca. Mas não é. A bandeira da paz é branca. Mas não é. O mar enorme e eterno tem espumas brancas, que brancas nem são. O céu, perene firmamento, tem nuvens de algodão. Só que não. Os pássaros azuis tem o canto mais bonito fora do tom. Saudade é um sentimento azul que parece ruim, mas é bom.
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